A partir de um percurso de pesquisa com os ambulatórios do SUS, passando pela construção da assistência clínica e política no território, desconstrui-se a ideia de que o sofrimento psíquico da população em situação de rua advém das drogas. A simples posição metodológica da escuta psicanalítica produz uma ruptura com o compromisso a priori de uma “clínica de uso e abuso de drogas”.
O véu ideológico e a cegueira
É aquilo que não pode ser designado, que formou um corpo caracterizado por outro, formou os “oásis de prazer” – zonas erógenas –, a dimensão do real do corpo. O excesso de gozo que alguns mantêm como ‘privilégio’ que gera esta equação não é mantido por nós.
Política e Território
De um momento para outro, como se fosse natural, começamos a procurar um triturador de lixo para descartar as embalagens de bala ou “bitucas” de cigarro que consumimos, coisa que poucos de nós faríamos no Centro. Abrimos um primeiro contato com a população em situação de rua através de uma intervenção artística proposta por Jonas Correa com a população daquele local, após esse período permanecemos no campo: este pesquisador e uma redução de danos e atualmente trabalhamos como um projeto de universidade extensão na Universidade Federal de Mato Grosso. Esses quilombos tiveram uma força extraordinária, particularmente influenciados pela existência do quilombo Quariterê, quilombo liderado pela heroína Teresa de Benguela, que resistiu bravamente à invasão imperial por mais de 20 anos, e pelo 25 de Julho para ter sua honra instalada. como dia nacional de Teresa de Benguela e da mulher negra.
São o resultado de um trabalho de lapidar e ficcionalizar uma neutralidade moral, da qual é investida a sua autoridade. O sistema de justiça criminal utiliza um meio civilizado, racional e burocrático na produção de uma verdade jurídica que viabilize a ideia de violência de acordo com a lei, baseada na violência qualificada por decisões de agentes públicos respeitados, conhecida como lei do servidor público . É através do Estado de Exceção que o capitalismo contemporâneo manterá um totalitarismo do capital, criará formas de fazer o que quiser, e se justificará através de uma “exceção” em nome de uma guerra que aos poucos será regulada, e despojará aqueles legalmente jurado proteger.
Estas taxas, (..), são o resultado de uma política que criminaliza a pobreza e a indiferença social num “genocídio silenciado” que muitas vezes fica impune.
Mutação nas ciências e uma interpretação do campo social
Quando S2 se torna um agente, a consequência óbvia é que a sua produção é aleatória, e tal aleatoriedade envolve a produção de laços sociais – o que é em si um paradoxo. Este objeto, a droga, representa a ligação entre todos os homens e mulheres “permanentes” ou “em trânsito” que se reúnem no local. A monetização dá esse aspecto falso que obscurece o ponto de origem das instituições de valor e atribui a cada mercadoria um “valor em si”, o que seria uma supressão da instituição de valor, de sua origem ou de sua “determinação reflexiva”, como chamou Marx. .
Nesse tempo que estava além da “corrida” – droga/dinheiro – aconteceu um tempo de rememoração da vida, uma narrativa de existência, um tempo que não pode ser quantificado, mas também aquele de mais-valia que não pode ser contado. . Apud (ELIA, 2004, p. 1) (grifo nosso); o que significa que neste momento, além da luta e da ideologia mascararem e apagarem as diferenças de classe, ainda existe um Estado que dirige literalmente o projecto neoliberal. Esse “foco histórico” que o autor destaca é o processo de desterritorialização jurídica, e através de sua compreensão percebe-se a ligação ideológica/jurídica do que é o processo de desapropriação do território regional.
Em seu texto “Proposta de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista escolar”, lembremos do “deslocamento dos grupos sociais pela ciência” sobre o qual Lacan já nos alertava, estabelecendo a segregação como apontamos em O instante do olhar (página 22 de esta tese).
A política que não desgruda da clínica
Ele diz que os policiais são treinados para serem pit bulls, para odiar “essa gente” e que isso não resolve nada. É necessário que a investigação continue, experimentando qual é aquela “unidade funcional mínima” que contribuirá eficientemente para que possamos construir um espaço clínico que possa fornecer ancoragem para esta população ser tratada pela psicanálise. O superego possui uma parte inconsciente, que é anterior a Édipo e sua queda e que “viu” as fantasias, desejos do sujeito, reagindo mesmo fora do campo simbólico contra “o que” viu.
Lacan nos alerta que é precisamente naquilo que é inexplicável, no difícil, no “sem sentido” que a existência da lei perdura e garante a existência de uma lei. Lacan nos dirá que o superego aparece na fala do sujeito como um 'você' mantendo uma presença velada, com o 'eu' aparecendo como intermediário. Este primeiro nível diz respeito a um superego ao qual o sujeito está petrificado, um “superego mediador” que é produzido por ele.
Permitir que o sujeito busque as próprias respostas “exceto aquelas para as quais apoiou o motivo do seu retorno (..)” (CAMPOS, 2015, p. 199); abrindo espaço para a reestruturação do sujeito diante de sua castração.
A Clínica propriamente dita
Boris
Bóris, nome fictício, morador de rua que já atendemos no Consultório na Rua junto ao SUS e que reencontramos no Steeg: “Tem momentos que eu fico tão chapado. Estou vivo ou estou morto?” Onde é possível afirmar minha existência como objeto no mundo. Lá no cu do mundo ele existe, ele reconhece sua existência como um objeto fedorento.
Um sujeito desprovido de todas as suas referências imaginárias e simbólicas, que se reduz a esse verdadeiro ponto de prazer. Num estado próximo a Bóris, no Beco, desde o primeiro dia de nossa ida ao campo, conhecemos “Cheirosa”, uma menina que morava nesse coletivo de moradores do Casarão. Essa forma de chegar e se aproximar de “Ângelas” e “Marias” é comum, esse tipo de atitude é muito comum entre as meninas do beco.
Roubar na frente das câmeras de vigilância e depois expor seu roubo para que sua culpa fique clara e eles sejam punidos, uma cena de beco encarnada no Negro Drama.
Drama
Drama fala da própria mãe como se ela fosse uma guerreira, uma mulher muito trabalhadora, uma mulher que deu sangue, suor e lágrimas para criá-lo e a quem ele ama muito. A última coisa que ele me disse quando estávamos juntos foi que não poderia voltar para a casa da mãe. O nome do pai naquilo que ele é na sua dimensão da realidade do sujeito, o pai do nome, é a expressão de um verdadeiro pai que cuidou da criação do filho e deixou sua marca com o apoio de um diálogo básico em que ele envia uma "carta" ao filho, a.
Ele também acenou e disse ao analista para ir numa direção e ele na outra (de onde estávamos há dois caminhos para Pastorale). A penitência por este pecado está no sacrifício corporal, no roubo e no roubo, nos golpes que recebe da polícia e deste “animal” que o oprime, oprime e silencia. A gente se vê desde aquele dia, tia.." - o psicanalista diz: "Já faz dois anos, Drama" ele responde: "Sim, tia, dois anos.
Ele fala sobre seu desejo de reforma em sua vida, “reforma de Deus”, que ele acha que virá da prisão.
Professor
Este fragmento clínico nos fala sobre a posição subjetiva desse homem, onde a relação com a droga/mulher o envolve completamente no prazer que parece preso nesse cachimbo que ele me oferece para cheirar. Um objeto anal que ele mesmo fez porque fez do lixo (uma tampa de esmalte e uma antena de carro) e que ele modelou com as mãos e fica nessa preocupação obsessiva de limpeza, e no final ele me pede para cheirar : posição regressiva do neurótico obsessivo à defesa anal insegura contra a ingestão oral de droga/mulher. O sujeito interrompido com “cachimbos”, como disse Lacan, é de uma regressão topológica que estamos tratando, o encontro sexual com uma mulher/droga está na ordem da permissividade do gozo perverso polimórfico.
A compulsão às drogas, neste mesmo objeto, que produz um estado alterado de consciência – a narcose – faz com que o conflito do sujeito cesse diante do superego. Como diz Bittencourt (1994), é como uma “narcose do desejo”, como uma ruptura com a ordem fálica que esse objeto droga parece reforçar o próprio mecanismo pulsional. Somente na medida em que ele sabe o que é o desejo, mas não sabe o que quer esse sujeito com quem embarcou numa aventura analítica, ele está em condições de ter esse desejo dentro de si, o objeto.
Maldita senhora" que é um possível nome para o superego entre outros como "A mulher" ou "O diabo", como dizia Drama.
Danila
Diana
Estamos diante de uma clínica das neuroses e suas transições para a ação, seus desdobramentos: o sujeito neurótico e seus distúrbios. Fiquei ao lado dela de um lado para o outro, de uma ponta a outra, enquanto ela chorava de dor. Considerando a dificuldade de compreensão da fala, e a semelhança com a experiência de ser confrontado com uma língua estrangeira, próxima mas diferente, encontramos uma dificuldade na ferramenta analítica da área.
Durante o tempo de trabalho no Bec e na rua, chegamos a uma clareza radical: estamos lidando com uma língua estrangeira. É sobretudo uma obra que lançou as bases para a possibilidade da psicanálise na rua, traçou o caminho que levará a ela. A manutenção do desejo do analista nesta área deve ser acompanhada de um esforço para aprender um novo idioma.
Este campo revelou uma complexidade da ordem de outra língua, o que nos coloca diante do que Jorge Broide e Emília Stivalet chamaram de “escuta territorial”.
A angústia do analista
Você é fedorento!" E ele disse: "É, eu sei que não tomei banho, mas gosto de abraçar assim para ver quem gosta de mim. E ele diz que saiu do buraco porque Deus lhe disse que "ele" era quem tinha. O analista (eu) foi enviado para dizer que não o levaria para Rondonópolis, para suportar a agonia e continuar desvendando nosso tropeços, nossas idas e vindas nesta construção de uma Psicanálise na rua, para pessoas em situação de rua.
Acessado em 3 2017, disponível em http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/uma-nova-classe-trabalho-por-marilena-chaui. Fonte: Governo do Brasil: http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2011/10/centro-de-referencia-specialized-de-assistencia-social-creas. Fonte: Super Interessante: http://super.abril.com.br/ciencia/obesidade-ja-mata- mais-gente-do-que-fome.
Indigno de vida: a forma jurídica de extermínio de inimigos na cidade do Rio de Janeiro.
