UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA
A OCUPAÇÃO URBANA DO ENTORNO DE ZONAS
DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE NATAL, SUAS
CONDIÇÕES DE SUSTENTABILIDADE E A
RELAÇÃO COM A OCORRÊNCIA DE INSETOS
VETORES
PAULO SÉRGIO FAGUNDES ARAÚJO
2009
Natal – RN
Paulo Sérgio Fagundes Araújo
A OCUPAÇÃO URBANA DO ENTORNO DE ZONAS
DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE NATAL, SUAS
CONDIÇÕES DE SUSTENTABILIDADE E A
RELAÇÃO COM A OCORRÊNCIA DE INSETOS
VETORES
Dissertação apresentada ao Programa Regional
de Pós-Graduação em Desenvolvimento e
Meio Ambiente, da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN),
como parte dos requisitos necessários para a
obtenção do título de Mestre.
Orientadora:
Profª. Drª. Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes
2009
Natal – RN
PAULO SÉRGIO FAGUNDES ARAÚJO
Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (PRODEMA/UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Aprovada em:
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________
Profa. Dra. Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)
______________________________________________
Prof. Dr. Luiz Antônio Cestaro
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)
_______________________________________________
AGRADECIMENTOS
Aos meus amigos e parceiros de laboratório, Marcos Pinheiro, Katrine Bezerra, Gláucia Fernandes, Vanessa Escóssia, Hilário Tavares, Rodrigo Lira e Edson Santana, pela ajuda e constante disponibilidade e simpatia.
Aos professores do Laboratório de Entomologia, Herbet Tadeu de Almeida Andrade e Ricardo Andreazze, pela orientação informal, sugestões e apoio.
À minha ex-esposa, Andréa Luísa de Almeida Cavalcanti, por me iniciar no universo da pesquisa científica.
Aos professores do PRODEMA, Raquel Franco de Souza Lima, Eliza Maria Xavier Freire, Fernando Bastos Costa, Daniel Durante Pereira Alves, Gesinaldo Ataíde Cândido, Magnólia Fernandes F. de Araújo e Edmilson Lopes Júnior.
Aos meus companheiros da turma Prodema-2008, que me acompanharam na surreal viagem ao Piauí para o Seminário Integrador II.
Às secretárias Érica Cristina e Lanna Dantas pela ajuda e paciência.
A todos os que tiveram boa vontade e disponibilidade ao ceder suas residências e locais de trabalho para as capturas.
Aos todos os funcionários do Centro de Controle de Zoonoses pela ajuda inestimável em consultoria e disponibilização dos dados.
Ao Superintendente de Infraestrutura da UFRN, Engenheiro Gustavo Fernandes Rosado Coelho pela sua compreensão durante o meu período de mestrado.
À minha mãe, Violeta Fagundes Araújo, pelo amor, carinho, orientação constante e apoio nos momentos de necessidade.
Aos meus irmãos, Walter Jr. e Nelson, pelo exemplo de caráter, competência e correção. Ao meu filho Marcelo “Teco” Cavalcanti Araújo, pelas tantas vezes que quisemos ficar juntos e não pudemos, pelo amor incondicional que me é dedicado (e é recíproco), e pela sua
tranqüilidade e compreensão infinitas em respeitar meus momentos de trabalho nesta pesquisa. À minha esposa Silvanete Dantas, pelo amor, tranqüilidade, paz , sabedoria, ajuda e
compreensão a mim dedicados.
À minha orientadora, professora Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes, professora no mais alto espírito da palavra, a qual todos os adjetivos positivos são dispensados, e a quem devo todo apoio e incentivo para realizar esta pesquisa.
RESUMO
Este estudo partiu da hipótese da existência de relação entre a natureza da ocupação urbana no que se refere às suas condições de sustentabilidade no entorno das Zonas de Proteção Ambiental (ZPA) e a ocorrência de espécies de insetos vetores em Natal, Rio Grande do Norte. A pesquisa, realizada com dados disponibilizados pelo Centro de Controle de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde e dados da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo do Município, do período 2006 a 2008, procurou caracterizar a área de estudo quanto à ocupação urbana, relacionando-a com seus aspectos urbanísticos e sócio-ambientais e com a ocorrência de insetos vetores. O estudo é apresentado em dois capítulos sob a forma de artigos, o primeiro relacionando a ocorrência de insetos vetores e indicadores de desenvolvimento sustentável e o segundo buscando uma correlação entre casos notificados de Dengue e Febre Hemorrágica da Dengue (FHD) e índices de infecção larvária de
Aedes aegypti, ambos em Natal, RN. No primeiro artigo, por meio da análise dos dados obtidos,
procurou-se correlacionar a ocorrência de insetos do gênero Aedes e de flebotomíneos com indicadores de desenvolvimento sustentável na dimensão ambiental e social. Estes indicadores foram selecionados a partir do indicador 36 do IDS-Brasil 2008, que relaciona doenças a um saneamento ambiental inadequado, e onde estão listadas zoonoses como a Dengue e as Leishmanioses Visceral e Tegumentar. Por meio de análise fatorial foi obtido um Índice de Desenvolvimento Sustentável por Bairros (ISB), tendo os bairros da Região Administrativa Norte do Município apresentado índices mais baixos de ISB, enquanto que Bairros da Região Administrativa Sul revelaram melhores condições de sustentabilidade. Relacionando estes índices com a ocorrência de insetos vetores nestes locais, observou-se correlação significativa entre o ISB e o Índice de Breteau em Aedes aegypti
(p=0,028) e com o índice de infestação domiciliar por flebotomíneos (p=0,01), revelando um padrão que permite associar as condições de sustentabilidade das áreas estudadas com a ocorrência destes insetos, confirmando a hipótese preestabelecida. O segundo artigo analisa a ocorrência do principal vetor da Dengue e FHD, o Aedes aegypti, e a relação de índices de infestação larvária deste inseto com casos relatados destas zoonoses. Através da análise estatística é possível observar uma discrepância entre o Índice de Breteau e a incidência de casos de Dengue e FHD, havendo uma tendência a ter maior número de casos de FHD onde há maior ocorrência de criadouros do inseto, fato que não se repete com casos de Dengue clássica.
ABSTRACT
This study started from the hypothesis of the existence of a relation between the type of the urban occupation concerning to the sustainability conditions at the proximity of Environment Protected Zones and the occurrence of vectors insects in Natal, Rio Grande do Norte, Brazil. This research, which used data available by the City Administration Health and Urbanization Secretaries (respectively SMS and SEMURB), in the time period of 2006 to 2008, aimed to characterize the study site in terms of urban occupation, relating it to social-environmental aspects of land occupation and the occurrence of vectors insects. This study is presented in two papers, the first one linking the occurrence of vectors insects and sustainable development indicators and the second relating the incidence of reported cases of Dengue and Dengue Hemorrhagic Fever (DHF) and the occurrence of larvae infection indexes of Aedes aegypti, in Natal, Rio Grande do Norte State. In the first paper, was made a correlation between Dengue Fever vectors and Visceral and Tegumentar Leishmaniasis vectors and sustainable development indicators, selected from IDS Brasil- 2008. Through factorial analysis a Sustainability Index (SI) was acquired for each region, the northern region of the municipality obtained lower numbers than southern region, which, in its turn, presented better sustainability conditions. Linking this index to vector infestation parameters shows a high significant correlation between the SI and the Breteau Index of Aedes aegypti (p=0,028) as well as with SI and sand flies infestation index (p=0,01). Higher rates in vectors infestation in regions with a lower Sustainable Development Index demonstrates that this index can be used to determine the increasing of probability of Aedes and sand flies occurrence in urban environment. The second paper analyzed the occurrence of the main vector of Dengue and DHF, the Aedes aegypti mosquito, and the relation between larvae infection indexes of this insect and reported cases of the diseases. This study revealed unexpected relation where areas with higher Breteau’s Indexes showed lower infection rates of Dengue Fever, although showing high incidence of DHF.
Key words: Urbanism, environment, insects, vectors, development, sustainability.
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 1 Página
Figura 1: Área de estudo. Adaptado do Anuário Natal 2009. SEMURB,
2009... 18
Figura 2: Análise de tendência do Índice de Breteau para A. aegypti em relação
ao Índice de Sustentabilidade do Bairro... 27
Figura 3: Análise de tendência do Índice de Infestação Domiciliar de
Flebotomíneos em relação ao Índice de Sustentabilidade do Bairro... 29
CAPÍTULO 2
Figura 1: Área de estudo. Adaptado do Anuário Natal 2009. SEMURB,
2009... 44
Figura 2: Índice médio de Breteau por Regiões Administrativas. Natal, RN,
2008... 47
Figura 3: Índice de Breteau, incidência de Dengue e FHD por Regiões
Administrativas, em Natal, RN, 2008... 50
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 1 Página
Tabela 1: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável por bairros – média 2006
a 2008... 23
Tabela 2: Matriz de correlação entre Indicadores de Desenvolvimento
Sustentável... 25
Tabela 3: Seleção do fator pelo Método dos Componentes Principais... 26
Tabela 4: Classificação dos bairros em estratos, segundo o Índice de
Sustentabilidade do Bairro... 26
Tabela 5: Evolução anual da captura de flebotomíneos em bairros adjacentes à
ZPA-9 – Índice de Infestação Domiciliar Médio Anual... 28
CAPÍTULO 2
Tabela 1: Índice de Breteau médio no ano de 2008 e casos de Dengue e FHD,
por Região Administrativa em Natal, RN... 47
Tabela 2: Tipos de criadouros predominantes por Região Administrativa em
Agradecimentos... i
Resumo... ii
Abstract... iii
Lista de figuras... iv
Lista de tabelas... iv
Página 1. INTRODUÇÃO GERAL... 01
1.1.Objetivos... 09
1.1.1. Objetivo geral... 09
1.1.2. Objetivos Específicos... 09
2. REFERÊNCIAS... 10
CAPÍTULO 1 Insetos vetores e sua relação com indicadores de desenvolvimento sustentável em Natal, RN, Nordeste do Brasil... 12
Resumo ... 12
Abstract ... 13
Introdução ... 14
Material e métodos ... 18
Área de estudo ... 18
Caracterização física e urbanística da área de estudo... 19
Ocorrência de insetos vetores nas áreas estudadas... 19
Indicadores de Desenvolvimento Sustentável... 20
Análise Fatorial – Criação do Índice de Sustentabilidade do Bairro... 20
Resultados e discussão... 21
a. Caracterização física e urbanística da área de estudo... 21
b. Seleção dos indicadores para construção do Índice de Sustentabilidade do Bairro... 23
c. Construção do Índice de Sustentabilidade... 25
d. Análise da ocorrência de Aedes aegypti pelo Índice de Breteau... 26
Considerações finais... 29
Referências ... 31
Agradecimentos... 35
Anexo I – Imagem aérea incluindo ZPA-9 e entorno... 36
Anexo II – Imagem aérea incluindo ZPA-5 e entorno... 37
Anexo III – Norma de submissão do artigo para a revista... 38
CAPÍTULO 2 Casos notificados de Dengue e Febre Hemorrágica da dengue e sua relação com índices de infestação larvária de Aedes aegypti em Natal, RN, Nordeste do Brasil... 39
Resumo... 39
Abstract... 40
Introdução... 41
Material e métodos... 44
Área de estudo... 44
Caracterização física e urbanística da área de estudo... 45
Ocorrência de insetos vetores nas áreas estudadas... 45
Ocorrência e tipos de criadouros nas áreas estudadas... 45
Incidência de Dengue Clássico e FHD em Natal, RN... 46
Análise Estatística... 46
Resultados e discussão... 47
a. Análise da ocorrência de Aedes aegypti pelo Índice de Breteau... 47
b. Análise da ocorrência e tipos de criadouros de Aedes aegypti nas áreas estudadas... 47
c. Incidência de Dengue Clássico e FHD no ano de 2008, em Natal, RN.... 49
Considerações finais... 50
Referências ... 52
INTRODUÇÃO GERAL
O processo de urbanização no Brasil é relativamente recente, relacionando-se com mudanças sócio-econômicas produzidas na terceira década do século 20. A partir da década de 70 esta situação revestiu-se de extrema importância quando dados oficiais revelaram que o número de habitantes das cidades sobrepujou o de residentes no campo. Este fato reproduz situação conhecida em países como Inglaterra, Estados Unidos e Japão, cuja tendência de migração campo-cidade elevou os índices de urbanização, que chegaram aos 95% (BRITO et al., 2005). De fato, na década de 80 houve a redução, em números absolutos, da população rural brasileira, sendo que no ano 2000 mais de 80% da população vivia em áreas urbanas (CUNHA, 2003).
Esta condição leva a uma situação onde são criados “os dois circuitos da economia urbana”, quando uma parcela da população teria acesso a recursos tecnológicos e aos seus benefícios enquanto outra parte ficaria segregada a uma situação de carência de infra-estrutura e habitações inadequadas (ALBUQUERQUE, 1993).
Determinados aspectos ligados ao desenvolvimento urbano devem, por isso, ser analisados quando do estudo de determinadas doenças. Dentre estes aspectos incluem-se condições de moradia, estando aí associados parâmetros determinantes de adequabilidade, como localização das residências, saneamento ambiental, acesso a rede de abastecimento d’água e índice educacional. Em países em desenvolvimento, a urbanização ultrapassa a capacidade administrativa e financeira das cidades, resultando na falha do provimento de serviços essenciais de infra-estrutura, afetando principalmente populações de baixa renda e gerando um impacto considerável na saúde pública (GOUVEIA, 1999).
população (CASTELLANOS, 1990). A relação entre o homem e a natureza e a sua conduta perante as diversas formas de interação possíveis tornam-se fatores determinantes no curso de uma doença.
As condições sócio-econômicas de ocupação do espaço urbano e a produção e manutenção de endemias vêm sendo discutidas e revelam uma relação intrínseca que merece ser estudada e levada em consideração quando se pretende propor um modelo de controle (KRAUZ, 1971). De maneira similar, a forma como se dá a ocupação do espaço urbano pode desempenhar importante papel, contribuindo assim para a perpetuação de zoonoses.
A lei municipal que institui o Plano Diretor de Natal criou dez Zonas de Proteção Ambiental (ZPAs) (a ZPA-8 divide-se em duas), objetivando a “preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental” (SEMURB, 2007). Nestas zonas a ocupação e uso do solo são restritos, e devem ser regulamentadas por leis municipais específicas. Até 2009 apenas as ZPAs 1 a 5 encontravam-se regulamentadas, estando as demais em processo de regulamentação.
Dispersas por todo o município, desde o seu norte até o extremo sul, as zonas de proteção estão cercadas por áreas urbanas com perfil sócio-econômico extremamente diversificado. A infra-estrutura urbana disponível também é extremamente variável, o que reflete diretamente na qualidade de vida da população que ocupa o seu entorno.
Esta situação é decorrente do próprio modelo de desenvolvimento brasileiro, que favoreceu a concentração da população em grandes centros urbanos, tendo como resultado um aumento de 400% da população urbana de 1960 a 1996 (MALHEIROS et al., 2008). Ainda segundo esses autores, este crescimento abrupto, sem planejamento e mal gerenciado pelo poder público, gerou graves problemas estruturais que se refletiram em uma progressiva degradação das condições de saúde e ambientais.
Analisando-se Natal sob a ótica da saúde pública, três zoonoses são objetos de importantes políticas municipais, com alto custo econômico e social, pelas suas características endêmicas: as Leishmanioses Visceral Americana e Tegumentar Americana e a Dengue (XIMENES et al., 2007; SMS, 2008).
A Leishmaniose Visceral Americana (LVA) foi primeiramente encontrada no
Sudeste da Ásia, Leste da África e Brasil. Hoje, se encontra globalmente distribuída, incluindo
Europa e Américas, embora a maior parte dos casos (cerca de 60%) ocorra na Índia, Bangladesh
e Nepal e os casos remanescentes na Etiópia, Quênia, Sudão e Brasil (ARIAS et al., 1996).
É causada por um protozoário do gênero Leishmania, pertencente ao complexo
Leishmania (Leishmania) donovani, e transmitida ao homem pela picada de mosquitos
flebotomíneos, também chamados de mosquitos-palha. O homem e alguns mamíferos são
considerados reservatórios da doença: em áreas urbanas, os cães são os principais reservatórios
do parasita; em áreas de mata, roedores e raposas fazem este papel.
No Brasil, o agente etiológico é identificado como Leishmania infantum chagasi
(Kinetoplastida: Trypanosomatidae) (MAURICIO et al., 1999), sendo uma doença de alta
letalidade (até 10%) quando não tratada em tempo hábil e reconhecida como infecção
oportunista em pacientes imunodeprimidos.
Todo indivíduo com febre e esplenomegalia, proveniente de área com ocorrência
de transmissão de LVA é considerado suspeito da doença, e deverá ser submetido a exame
ou superior a 65 anos, desnutridos ou com co-morbidades requerem atenção redobrada, devendo
ser tratados em hospitais, por ter maior probabilidade de evolução para situações de gravidade.
A doença está associada à ocupação desordenada do espaço urbano, que por sua
vez concorre para importantes modificações ambientais, e a condições sócio-econômicas
inadequadas da população exposta ao risco (DANTAS-TORRES, 2006).
A LVA é considerada endêmica em 19 estados, destacadamente no Nordeste, onde
o crescimento de cidades em áreas endêmicas da doença resultou na sua expansão. Esta
situação, associada à presença do seu vetor, Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae),
hospedeiros e à tradicional condição sócio-econômica desfavorável nestas regiões tem ajudado a
perpetuar o ciclo da doença que é cada vez mais comum em áreas urbanas e periurbanas
(XIMENES et al., 2007).
A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) está presente desde o sul dos
Estados Unidos até o norte da Argentina. À semelhança da Leishmaniose Visceral, é uma
doença infecciosa crônica, caracterizada pela formação de lesões ulcerosas cutâneas, e
transmitida pela picada de mosquitos da família Psychodidae e subfamília Phlebotominae. No
Brasil, a LTA é causada principalmente pela Leishmania brasiliensis, e é relatada em quatro das
cinco regiões do Brasil, com maior ocorrência em estados do Norte e Nordeste. A incidência da
doença no Rio Grande do Norte é baixa e restrita a uma das oito zonas geográficas do Estado
(XIMENES et al., 2007), tendo sido recentemente notificada na região metropolitana de Natal
pela Secretaria Estadual de Saúde.
Embora a Leishmaniose fosse considerada uma doença de ambiente essencialmente
rural (GOMES et al., 1990), hoje, talvez devido a alterações ambientais e antrópicas, o vetor
pode ser encontrado em ambiente urbano e periurbano (ARIAS et al., 1996). O controle desta
zoonose baseia-se no diagnóstico e tratamento precoce e, naturalmente, do controle dos
mosquitos transmissores (TAUIL, 2006). A identificação e eutanásia de cães infectados em
em regiões próximas a áreas de mata, onde a presença de reservatórios silvestres do parasita é
uma variável a se considerar.
A Dengue é uma arbovirose causada por vírus da família Flaviviridae com diferentes sorotipos (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4), que por terem padrões imunológicos diferenciados contribuem para manter os níveis de incidência desta doença (CÂMARA et al., 2007).
A doença é transmitida ao homem pela picada de mosquitos do gênero Aedes
infectados, causando um quadro viral com aproximadamente sete dias de duração, após um período de incubação de até quinze dias após a picada, e com sintomas inespecíficos como febre alta, anorexia, dores musculares e retro-oculares. O quadro pode evoluir para a febre hemorrágica da dengue (FHD) e síndrome de choque da dengue (SCD), com taxa de mortalidade de até 10% para pacientes hospitalizados e 30% para pacientes não tratados.
As primeiras epidemias relatadas de Dengue ocorreram entre 1779-1780 em três continentes – África, Ásia e América do Norte, o que demonstra a distribuição global do vírus e dos seus vetores (CDC, 2008).
Após a pandemia no sudeste da Ásia no final de 1945, a Dengue caracterizou-se como um problema de saúde pública mundial. A adaptabilidade dos seus vetores, a velocidade dos meios de transporte atuais e a citada existência de múltiplos sorotipos facilitaram o surgimento de sucessivas epidemias tornando susceptíveis populações de áreas tradicionalmente livres da doença (CDC, 2008).
Choque da Dengue (CÂMARA et al., 2007). Atualmente, a Dengue está presente em todos os estados brasileiros com os sorotipos DEN-1, DEN-2 e DEN-3, sendo responsável por 60% das notificações nas Américas (CÂMARA et al., 2007).
Em Natal, os primeiros casos de Dengue Clássica foram notificados em 1996, com surtos epidêmicos em anos alternados até 2004, quando o número de casos aumentou progressivamente, alcançando um total de 10.826 casos notificados em 2008. Neste mesmo ano, foram notificados 1.278 casos de Febre Hemorrágica da Dengue no município (SMS, 2008).
O Aedes aegypti é um mosquito de hábitos diurnos e alta adaptabilidade ao ambiente urbano e periurbano, o que torna o seu controle particularmente difícil, exigindo assim altos investimentos para o seu controle (CAIAFFA et al., 2005). Este controle depende, essencialmente, da eliminação de criadouros produzidos por ação antrópica e da eliminação dos mosquitos adultos, com uso de inseticidas (TAUIL, 2006).
Os vetores da Dengue, LVA e LTA, provavelmente são endêmicos das áreas naturais primitivas, incluindo-se entre estas as Zonas de Proteção Ambiental de Natal. Esta condição, aliada à ocupação associada a indicadores desfavoráveis de condição de vida, no entorno destas áreas, pode significar um aumento da sua ocorrência no ambiente urbano e das patologias a eles associadas. O estudo da ocorrência dos insetos vetores destas zoonoses é, assim, um importante instrumento na formulação de políticas públicas de controle, subsidiando o acompanhamento do progresso rumo ao desenvolvimento com sustentabilidade.
O modelo de desenvolvimento em curso na nossa sociedade é questionável na medida em que reforça as desigualdades socioambientais. O surgimento de uma consciência ética deve se apoiar em procedimentos centrados na coleta de dados e criação de indicadores que tornem transparentes a tomada de decisões no sentido de minimizar os déficits sociais e na alteração dos padrões de consumo, como forma de proporcionar uma melhoria na qualidade de vida e equilíbrio ambiental (JACOBI, 1999).
A importância da construção de indicadores de sustentabilidade a partir de problemas e situações reais é ressaltada por Malheiros e colaboradores (2008), criando assim as bases para a construção do desenvolvimento, integrando a saúde pública e a saúde ambiental em direção à sustentabilidade.
Os sistemas de informação baseados em indicadores de desenvolvimento sustentável têm sido utilizados principalmente na esfera municipal, sendo importantes ferramentas para a avaliação da situação local (TAYRA et al., 2006).
Uma série de ferramentas ou sistemas está disponível com o propósito de se avaliar graus de sustentabilidade do desenvolvimento, cada uma com as suas peculiaridades. Métodos como o Pegada Ecológica (Ecological Footprint Method) que analisa a sustentabilidade sob uma perspectiva biofísica, o Dashboard of Sustainability, onde o desempenho do sistema avaliado é mostrado de forma gráfica, e o Barometer of Sustainability ou Barômetro da Sustentabilidade, que pretende integrar indicadores biofísicos e da saúde social, de forma a avaliar o progresso rumo à sustentabilidade (BELLEN, 2004) teriam a sua aplicabilidade comprometida, no caso deste trabalho, devido tanto à indisponibilidade de dados específicos para cada método como às suas características metodológicas.
utilização. Em 2002, a partir deste estudo, o IBGE elaborou uma publicação listando um conjunto de indicadores adaptados à realidade brasileira. Em 2004 o número de indicadores foi ampliado para 59 e, em 2008 foram listados 60 indicadores, acompanhados de uma revisão dos indicadores existentes (IBGE, 2008).
Os fundamentos para o estudo das dimensões da sustentabilidade são propostas, em princípio, pela Agenda 21, e descritas, segundo o IBGE (2008) como a dimensão ambiental,
tratando da atmosfera, da terra, água doce, mares, oceanos, área costeira, biodiversidade e saneamento; a dimensão social tratando do trabalho e rendimento, saúde, educação, habitação e segurança; a dimensão econômica tratando do desempenho macroeconômico e financeiro e seus impactos no consumo de recursos materiais e uso de energia primária; e a dimensão institucional tratando da orientação política, capacidade e esforço usado para promover as mudanças necessárias ao desenvolvimento sustentável.
Embora as bases de dados ainda apresentem deficiências, a publicação do IBGE “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável” ou IDS Brasil, objetiva fornecer uma base de dados para a construção de indicadores específicos (TAYRA et al., 2006).
1.1.Objetivos
1.1.1. Objetivo Geral
Avaliar a relação entre o nível de sustentabilidade das áreas urbanizadas no entorno das ZPAs e a ocorrência de insetos vetores de zoonoses nestes locais.
1.1.2. Objetivos Específicos
1. Caracterizar as ZPAs pesquisadas quanto à ocupação urbana em suas áreas limítrofes e a proximidade das edificações com a vegetação nativa;
2. Levantamento da ocorrência, nos bairros adjacentes à ZPA-5 e ZPA-9, de espécies de culicídeos (Diptera: Culicidae) e flebotomíneos (Diptera: Psychodidae) potencialmente envolvidas com a transmissão de doenças no Nordeste do Brasil.
3. Caracterizar os aspectos urbanísticos e sócio-ambientais da ocupação do solo no entorno imediato (área limítrofe) das ZPAs em relação a Indicadores de Desenvolvimento Sustentável.
4. Propor um índice que expresse as condições de Desenvolvimento Sustentável das regiões estudadas.
5. Correlacionar as espécies vetoras encontradas com as características urbanísticas e sócio-ambientais das zonas estudadas através do índice proposto.
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20. SEMURB - Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. 2007. Plano Diretor de Natal. 68p.
21. SMS - Secretaria Municipal de Saúde. 2008. Boletim Semanal Dengue. Departamento de Vigilância à Saúde /Setor de Vigilância Epidemiológica /Núcleo de Geoprocessamento. Semana Epidemiológica 42 (12/10/08 a 18/10/08). Natal:SMS. 1(36):9p.
22. TAUIL, P.L. 2006. Perspectives of vector borne diseases control in Brazil. Rev. Soc. Bras. Med. 39(3):275-277.
23. TAYRA, F., RIBEIRO, H. 2006 . Modelos de indicadores de sustentabilidade: síntese e avaliação crítica das principais experiências. Saúde Soc., São Paulo, 15(1):84-95.
INSETOS VETORES E SUA RELAÇÃO COM INDICADORES DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM NATAL, RN,
NORDESTE DO BRASIL.
Paulo Sérgio Fagundes Araújo1, Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes2.
1. Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: psfaraujo@gmail.com. 2. Departamento de Microbiologia e Parasitologia/UFRN. E-mail: ximenes@cb.ufrn.br.
Resumo
Neste estudo procurou-se correlacionar indicadores de desenvolvimento sustentável com a ocorrência de mosquitos do gênero Aedes e flebotomíneos vetores de Leishmaniose Visceral Americana e Leishmaniose Tegumentar Americana, de forma a estabelecer uma relação entre os índices de infestação encontrados e a situação de sustentabilidade de bairros da zona sul e zona norte do município de Natal, adjacentes, respectivamente, às Zonas de Proteção Ambiental 5 e 9. Os dados sobre a ocorrência de criadouros de Aedes aegypti e A. albopictus e de capturas de flebotomíneos do gênero Lutzomyia na área de estudo durante o período de 2006 a 2008 foram obtidos junto à Secretaria Municipal de Saúde, através do Centro de Controle de Zoonoses, e correlacionados a indicadores ambientais e sociais. Através de Análise Fatorial, estes indicadores foram transformados num índice de sustentabilidade atribuído a cada um dos bairros estudados (Índice de Sustentabilidade do Bairro – ISB). Relacionando estes índices com a ocorrência de insetos vetores nestes locais, observou-se alta correlação positiva entre o ISB e o Índice de Breteau de A. aegypti (p=0,028) e com o índice de infestação domiciliar por flebotomíneos (p=0,01), revelando um padrão que permite associar as condições de sustentabilidade das áreas estudadas com a ocorrência destes insetos. As análises demonstram a ocorrência de maior número de criadouros de A. aegypti e de Índices de Infestação Domiciliar por flebotomíneos mais altosem bairros com Índices de Sustentabilidade piores.O conhecimento da relação entre Indicadores de Desenvolvimento Sustentável e a ocorrência de vetores de zoonoses poderá contribuir com os programas de saúde pública e com uma redefinição das políticas públicas nas áreas estudadas.
Abstract
This study aimed to correlate Sustainable Development Indicators to the occurence of Aedes and sand flies mosquitoes, vectors respectively of Dengue Fever and Visceral and Tegumentar Leishmaniasis, to establish a relationship between the infestation indexes found and the situation of sustainability of regions at the proximity of Environment Protected Zones (EPZs) number 5, in south and number 9, in north of Natal. Data about the occurrence of the vectors at the study site was obtained at Secretaria Municipal de Saúde – Cento de Conrole de Zoonoses, during the years of 2006 to 2008, and correlated to environmental indicators such as access to safe drinking water, sanitation, drainage, garbage collection and personal income. Factorial analysis was used to transform these indicators in a Region Sustainability Index (RSI), to each of the studied regions. Linking this index to vector infestation parameters shows a high significant correlation between the SI and Aedes aegypti’s Breteau Index (p=0,028) as well as with SI and sand flies infestation index (p=0,01). The results demonstrate higher rates of infestation by Aedes aegypti and sand flies in areas with lower SIs, thus demonstrating that this index can be used to determine the increasing of probability of Aedes and sand flies occurrence in urban environment. The knowledge of the relation between Sustainable Development Indicators and the occurrence of zoonosis vectors justifies the research as a contribution to government health programs and vector controls, leading to a health policy restructuring at studied sites.
Introdução
O movimento migratório campo-cidade, provocado principalmente pela busca de
melhores alternativas econômicas, tem causado um importante problema social na medida em
que as administrações municipais se mostram incapazes de prover toda a população de serviços
como rede de abastecimento d’água, esgotamento sanitário e tratamento do esgoto coletado e
coleta urbana e destino do lixo, criando uma situação de degradação ambiental que favorece o
aparecimento ou aumento de ocorrência de doenças transmitidas por insetos. (1) A expansão de algumas zoonoses transmitidas por insetos também se relaciona com o contexto sócio-ambiental
e diferenças intra-urbanas, que podem favorecer a sobrevivência do vetor, a despeito das
medidas de controle implementadas. (2)
O alto índice de urbanização da população brasileira, com mais de 80% dos
habitantes vivendo em cidades, aliada ao fato de que este processo se deu de forma rápida e
desordenada, levou a uma condição em que cerca de 20% dos moradores de áreas urbanas
encontram-se instalados de forma precária, em áreas carentes de infra-estrutura básica. (3)
A expansão urbana em áreas circunvizinhas a regiões de cobertura vegetal original
favorece a ocorrência de zoonoses, podendo aumentar a incidência de doenças infecciosas
transmitidas por insetos vetores endêmicos destas áreas, gerando desta forma um importante
problema de saúde pública. Esta ocupação cria um desequilíbrio ambiental considerável, pois
aumenta a possibilidade de contato entre vetores e hospedeiros, introduzindo o homem no ciclo
de desenvolvimento de doenças infecciosas. Em 1981, a epidemia de Leishmaniose Visceral em
Teresina, no Piauí, teve a maior parte dos seus casos procedentes de bairros novos, de
assentamento de migrantes, levando um ano para atingir bairros onde a ocupação urbana já
estava consolidada. (4) Na região metropolitana de Belo horizonte, sudeste do Brasil, a presença de animais e de áreas com características de transição de ambiente rural para urbano foram
A Dengue é uma zoonose causada por um arbovírus e transmitida através da picada
de insetos vetores do gênero Aedes, e seu recrudescimento é decorrente da reinfestação do
território nacional pelo Aedes aegypti. (6) (7) O Aedes albopictus, à parte a sua predileção pelo ambiente silvestre, também é considerado vetor da doença e responsável pela epidemia de
dengue no Hawaii em 2001-02,(8) e, estando presente em uma região, deve ser objeto de programas de controle, também pelo fato de ser transmissor do vírus que causa a febre amarela.
O controle do A. aegypti é objeto da maior campanha de saúde pública hoje em
andamento no País. Este controle concentra-se no único elo vulnerável da sua cadeia de
transmissão, que é o vetor, valorizando a eliminação de criadouros, aspecto que depende de
fornecimento de estrutura sanitária eficiente, com a melhoria do abastecimento d’água, coleta de
lixo regular, melhores condições de moradia e educação da população. (9) Além disso, esse mosquito é responsável pela transmissão da febre amarela urbana, que no Brasil ainda se
encontra restrita a áreas de mata, causando epizootias em macacos e casos em pessoas que
adentram essas áreas.
A Dengue ocorre no Brasil em todos os Estados e em 3.794 municípios, sendo o
Brasil responsável por cerca de 60% das notificações nas Américas. Incide tipicamente nos
meses mais quentes, com diferenças quantitativas importantes por região, estando o Nordeste e
Sudeste na liderança quanto ao número de notificações de casos. (10)
A existência de quatro sorotipos antigenicamente distintos favorece a sua
disseminação e dificulta o seu controle, já que a infecção por um dos sorotipos promove
imunidade específica, deixando o indivíduo susceptível a novas infecções. (11) A doença é considerada relacionada ao saneamento ambiental inadequado. (12)
Desde 1996 são notificados casos de Dengue no Rio Grande do Norte. A partir de
então, a doença apresenta surtos epidêmicos em anos alternados, com pico no ano de 2001, com
A Febre Hemorrágica da Dengue, manifestação mais grave da doença, teve os
primeiros casos confirmados a partir de 1997, inclusive com a ocorrência de óbitos. O número
de casos manteve-se em ascensão até 2008, permanecendo um problema de saúde pública, pela
manutenção de fatores que dificultam o seu controle.
A Leishmaniose Visceral Americana (LVA) tem como agente etiológico a
Leishmania (L.) infantum chagasi Nicolle (Kinetoplastida: Trypanosomatidae) e como vetor
Lutzomyialongipalpis Lutz & Neiva (Diptera: Psychodidae), sendo considerada até meados da
década de 70 uma zoonose tipicamente rural. (14) (15) Atualmente esta doença, juntamente com a Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), tem revelado um aumento de incidência no
ambiente urbano e periurbano de diversas cidades brasileiras, principalmente na região
Nordeste.
Embora a presença de animais domésticos e mamíferos silvestres esteja associada
ao aumento da ocorrência de L. longipalpis,(16) a proximidade de áreas de mata e fatores sócio-ambientais como coleta de lixo urbano deficiente, baixo índice nutricional e falta de saneamento
básico são aspectos de relevância a serem considerados no controle da LVA e LTA.
Na já citada epidemia de LVA em 1981, no Estado do Piauí, Nordeste do Brasil,
relaciona-se o aparecimento de casos da doença com o período de seca que atingiu o Ceará e
Piauí entre os anos 1978 e 1983, quando grandes contingentes populacionais migraram para a
capital do Estado, fixando-se em assentamentos precários na sua periferia. Estes grupos de
migrantes, naturalmente mais suscetíveis à doença pelo seu baixo índice nutricional, foram
oriundos de áreas endêmicas de L. chagasi, o que permite determinar o seu papel na introdução
do parasita na região metropolitana de Teresina. (17)
A problemática relaciona-se, portanto, com a qualidade ambiental e fatores
sócio-ambientais do espaço analisado, onde devem existir locais adequados para o desenvolvimento
dos insetos vetores da doença. Sob este aspecto, variáveis como coleta de lixo, abastecimento
d’água, esgotamento sanitário podem favorecer a ocorrência destes insetos. O acesso a estes
considere-se ainda que a falta de infra-estrutura urbana é um importante fator de vulnerabilidade
em se tratando de saúde dos habitantes de uma determinada região. (18) Neste trabalho foram utilizados Indicadores de Desenvolvimento Sustentável de forma a parametrizar estes fatores e
relacioná-los à ocorrência de vetores destas zoonoses.
O conceito de desenvolvimento sustentável, como definido no Relatório
Brundtland, em 1987, mostrou a importância de se considerar, em se tratando de
desenvolvimento, as questões ambientais, socioeconômicas e ecológicas, entre outras. Portanto,
indicadores de sustentabilidade auxiliam na compreensão de condições que a partir de
determinado grau podem, por exemplo, ser desencadeadoras de importantes problemas de saúde
pública. Naturalmente, muitas vezes os indicadores não são capazes de definir com precisão
determinado grau de degradação ambiental - ou de insustentabilidade. Mas, correlacionando-se
parâmetros sociais, ambientais e econômicos, estes se tornam ferramentas importantes para
auxiliar políticas públicas no sentido de provocar uma organização social e uma resposta
política para determinadas questões. (19)
O papel das administrações na promoção e gerenciamento de políticas públicas de
promoção à saúde e a potencialização destas políticas com a utilização de indicadores de
desenvolvimento sustentável como referência representa fator central no ajuste da trajetória
planejada rumo à sustentabilidade. Experiências bem sucedidas de ações governamentais
promovidas por administrações municipais demonstram a viabilidade de políticas e programas
cujas ações, baseadas em princípios de sustentabilidade ambiental, resultam em benefícios
econômicos e sociais. (20) (21) (22)
Segundo Vlahov (23) e Kjellstrom, (24) fatores demográficos, físicos e sociais tais como idade e gênero, acesso a abastecimento de água e esgoto, drenagem pluvial e coleta de
lixo e renda são fatores relevantes no que diz respeito à saúde da população.
O conhecimento da relação entre Indicadores de Desenvolvimento Sustentável e a
ocorrência de vetores das doenças pode contribuir para programas de saúde pública e a uma
pretendeu-se estabelecer uma relação entre Indicadores de Desenvolvimento Sustentável e a
ocorrência de vetores da Dengue, LVA e LTA, em bairros situados na Região Sul e Região
Norte de Natal.
Material e métodos:
Área de estudo:
O trabalho foi realizado no município de Natal, que está inserido na Zona
Homogênea do Litoral Oriental do Rio Grande do Norte, Sub-zona de Natal, com coordenadas
geográficas 05º47’42” de Latitude Sul e 35º12’34” de Longitude Oeste, nos bairros de Capim
Macio, Ponta Negra e Neópolis, adjacentes à Zona de Proteção Ambiental identificada como
ZPA-5/Associação de Dunas e Lagoas do bairro de Ponta Negra – Região de Lagoinha,
denominada Região Sul, e nos bairros Lagoa Azul, Pajuçara e Redinha, adjacentes à Zona de
Proteção Ambiental identificada como ZPA-9/Complexo de Lagoas e Dunas ao longo do Rio
Doce, denominada Região Norte (Figura 1).
Caracterização física e urbanística da área de estudo:
Os dados físicos (área, população, densidade demográfica, coleta de lixo
doméstico, domicílios atendidos por rede de água e/ou esgoto, taxa de alfabetização e renda per
capita), das regiões a serem estudadas foram obtidos através do Anuário Natal – anos 2006,
2007 e 2009, este último publicado em 2009, com dados relativos a 2008, (25) (26) (27). A ocupação e o adensamento urbano no interior das ZPAs foi mensurado pelo software AutoCAD 2010,
com o uso da análise de imagens de satélite disponibilizadas pela Secretaria Municipal de Meio
Ambiente e Urbanismo.
Ocorrência dos insetos vetores nas áreas estudadas
Os números que expressam a ocorrência de criadouros de Aedes aegypti e Aedes
albopictus e de flebotomíneos encontrados nos domicílios adjacentes à ZPA-5 (bairros de Ponta
Negra, Neópolis e Capim Macio) e ZPA-9 (bairros de Redinha, Pajuçara e Lagoa Nova) foram
obtidos juntamente à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e Centro de Controle de Zoonoses
(CCZ). Devido à metodologia própria de coleta do CCZ, os bairros de Capim Macio e Neópolis
foram agrupados.
A ocorrência de criadouros de aedinos foi calculada a partir do Levantamento de
Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa), realizado em Natal durante o período de 2006 a 2008.
Os casos positivos foram agrupados segundo os índices de infestação predial e Índice de
Breteau (número de recipientes habitados por formas imaturas de mosquitos em relação ao
número de casas examinadas para o encontro de criadouros). (28) O Índice de Breteau foi selecionado para a análise estatística por revelar mais sensível poder de detecção de positividade
para o mosquito. (29)
Os dados sobre a ocorrência de flebotomíneos foram obtidos a partir de pesquisa de
investigação entomológica realizada pelo CCZ, nos bairros de Redinha, Pajuçara e Lagoa Azul,
com periodicidade mensal durante o período de 2006 a 2008, utilizando-se armadilhas tipo CDC
espécimes encontrados foram contados, identificados e organizados segundo endereços de
captura. Foi então calculado o índice de infestação domiciliar, definido como a razão entre os
domicílios positivos em relação ao número de domicílios investigados. (28)
Indicadores de Desenvolvimento Sustentável
Os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável são agrupados segundo o marco
ordenador proposto pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável - CDS, das Nações Unidas,
que os organiza em quatro dimensões: Ambiental, Social, Econômica e Institucional. Foram
selecionados indicadores que fossem relevantes para a problemática do trabalho, adaptados para
as regiões estudadas (bairros adjacentes às ZPAs 5 e 9) nas dimensões Ambiental (acesso a
serviço de coleta de lixo doméstico, acesso a sistema de abastecimento d’água e acesso a
esgotamento sanitário) e Social (renda familiar per capita e taxa de Alfabetização), a partir do
IDS-Brasil 2008, com dados disponíveis nos Anuário Natal 2006, 2007 e 2009 da SEMURB.
Foi realizado corte transversal nos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável
listados no IDS-Brasil 2008 relacionados ao indicador 36 - Doenças Relacionadas ao
Saneamento Ambiental Inadequado – tendo sido selecionados indicadores na Dimensão
Ambiental, no Tema Saneamento (Acesso a serviço de coleta de lixo doméstico, Acesso a
sistema de abastecimento d’água e Acesso a esgotamento sanitário), e na Dimensão Social, nos
Temas Trabalho e Rendimento (Renda familiar per capita) e Educação (Taxa de alfabetização).
Este corte justifica-se por serem as zoonoses estudadas neste trabalho doenças que “podem estar
associadas ao abastecimento de água deficiente, ao esgotamento sanitário inadequado, à
contaminação por resíduos sólidos ou às condições precárias de moradia”. (30)
Os valores encontrados para os Indicadores no intervalo dos anos do estudo (2006
a 2008) foram transformados em valores médios para a análise estatística.
Análise Fatorial – Criação do Índice de Sustentabilidade do Bairro
Para os bairros considerados realizou-se uma análise fatorial, utilizando-se
para uma definição do número de fatores. De acordo com Johnson, (31) é recomendável a utilização de ambos os métodos para verificar se as duas metodologias distintas reproduzem os
mesmos fatores. Foi utilizado o software STATISTICA®, versão 7.0 para os cálculos.
Através dessa análise obteve-se o número de um fator, que pelo método de
componentes principais explica 87,6% da variância total. Encontrado o vetor de dados,
correspondente aos escores fatoriais, multiplicou-se essa coluna pela respectiva estimativa da
variância do fator, nesse caso dada pelo correspondente autovalor da matriz de correlações
amostrais. Depois de ordenada de forma crescente, essa coluna foi utilizada como definidora de
índices, criando um Índice de Sustentabilidade de cada um dos bairros estudados e separando-os
em dois extratos, baixo e elevado.
Para análise de correlação foi utilizado o coeficiente de correlação linear de
Pearson com nível de significância menor ou igual a 5% (p≤0,05).
Resultados e discussão:
a. Caracterização física e urbanística da área de estudo
As ZPAs 5 e 9 possuem características físicas distintas. A ZPA-5 ocupa área de
cerca de 193 ha, situa-se no extremo sul do município (limite Natal/Parnamirim), encontra-se
regulamentada por lei complementar e é circundada por bairros de maior poder aquisitivo. A
ZPA-9, por sua vez, localiza-se no norte de Natal, no limite Natal/Extremoz, possui área de
cerca de 734 ha, não possui regulamentação específica e os bairros adjacentes à mesma são
habitados por população com situação econômica menos favorecida (SEMURB, 2009).
A ZPA-5 encontra-se em área densamente urbanizada, com predominância de
imóveis residenciais. O interior da ZPA é relativamente bem preservado (88,8%), pouco
urbanizado, com uma área de aproximadamente 4% ocupada por residências esparsas e um
condomínio horizontal ocupando cerca de 7,2% da área protegida. No entorno da ZPA
localizam-se os bairros de Capim Macio, com 438 ha, Neópolis com 408 ha e Ponta Negra com
A ZPA-9 possui um alto índice de ocupação no seu interior, sendo 20,2% da área
dentro do Município de Natal ocupada por imóveis predominantemente residenciais e
aproximadamente 15,5% ocupada por imóveis relacionados à pequena agricultura, restando
cerca de 64,3% de área preservada. A área adjacente à esta ZPA dentro do município de Natal é
totalmente urbanizada, dividida entre os bairros de Lagoa Azul, com 1.043 ha, Pajuçara, com
776 ha e Redinha, com 787 ha (SEMURB, 2009).
A densidade demográfica média para os anos estudados é semelhante nas duas
regiões estudadas, sendo de 47,69 habitantes por hectare na Região Sul e de 46,79 habitantes
por hectare na Região Norte.
Sendo a ocupação do solo legalmente permitida nos limites externos das ZPAs e,
em alguns casos, através de regulamentação própria por lei complementar, no seu interior,
associada à crescente valorização dos terrenos nas proximidades de algumas destas áreas,
observa-se um considerável incremento de construções na sua vizinhança. Além disso, é fato
conhecido que a migração a partir de áreas rurais caracteriza uma tendência de ocupação de
áreas não urbanizadas e sem infra-estrutura, notadamente nas proximidades de matas nativas.
Desta forma, em regiões menos valorizadas do município é possível observar um aumento na
ocupação do entorno das ZPAs inseridas nestas regiões, provocado por populações oriundas de
movimentos migratórios, principalmente de áreas rurais do interior do Estado. (32)
Mesmo considerando a adoção de medidas de controle pelo município, a
proximidade das matas nativas também proporciona habitats naturais para insetos vetores,
permitindo-lhes uma indesejável interação com a população residente no seu entorno. (33) (34) Estudo de Medeiros e colaboradores (35) na ZPA-2 (Parque das Dunas, Natal) relata coleta, na mata nativa próximo a área densamente urbanizada, exemplares das espécies Aedes albopictus e
Haemagogus leucocelaenus, ambos vetores de arboviroses, havendo relato recente de H.
leucocelaenus encontrado infectado pelo vírus da Febre Amarela no sul do País.
A existência de insetos vetores nas ZPAs e a proximidade das habitações
ou manutenção dos casos de zoonoses como a Dengue, (36) (37) (38) a Leishmaniose Visceral Americana (LVA), a Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) e a Febre Amarela, (39) determinando assim mudanças nos níveis endêmico ou epidêmico destas doenças. (40) (41) (42)
b. Seleção dos indicadores para construção do Índice de Sustentabilidade do Bairro:
Os resultados mostram Indicadores de Desenvolvimento Sustentável mais
favoráveis nos bairros situados nas proximidades da ZPA-5 (Zona Sul), e, em oposição,
indicadores piores nos bairros do entorno da ZPA-9 (Zona Norte) (Tabela 1). Apesar dos bairros
estudados terem como característica comum a proximidade de Zonas de Proteção Ambiental o
que, em princípio, pode favorecer a ocorrência de zoonoses como a Dengue ou Leishmaniose,
suas características urbanísticas e sócio-ambientais podem representar um diferencial em
números percentuais de casos da doença.
Tabela 1 - Indicadores de Desenvolvimento Sustentável por bairros – média 2006 a 2008.
Bairros
INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
ZPA
% de coleta de lixo doméstico
% de domicílios Atendidos por
Rede de água
% de domicílios Atendidos por Rede de esgoto
Taxa de Alfabetização (%) Renda Per Capita (em salários mínimos)
ZPA-5 Ponta Negra 98 89 86 90 9,43
Capim Macio/Neópolis 99 97 96 97 11,89
Redinha 94 77 53 74 2,60
ZPA-9 Pajuçara 96 79 77 84 2,82
Lagoa Azul 97 82 68 81 2,35
Na dimensão ambiental, o Acesso a coleta de lixo doméstico (IDS-Brasil 2008 -
Indicador 19), “apresenta a parcela da população atendida pelos serviços de coleta de lixo
doméstico em determinado território e tempo”, e se constitui na razão, em percentual, entre a
população atendida pelos serviços de coleta de lixo e o total desta população. Este indicador
pode ser associado à saúde da população, pois resíduos não coletados ou depositados em locais
inadequados podem favorecer a proliferação de vetores de doenças. Este indicador mostrou
Capim Macio/Neópolis como o melhor resultado e 93,5% no bairro de Redinha como resultado
mais desfavorável.
O Acesso a sistema de abastecimento d’água (IDS-Brasil 2008 - Indicador 21),
“expressa a parcela da população com acesso a abastecimento d’água por rede geral” e se
constitui na razão, em percentual, entre a população com acesso a água por rede geral e o total
da população em domicílios particulares permanentes. Constitui-se um indicador fundamental
para a caracterização da qualidade de vida da população, possibilitando o acompanhamento de
políticas de saneamento básico e ambiental, e, quando associado a informações ambientais e
socioeconômicas como saneamento e renda, é um indicador universal de desenvolvimento
sustentável. A Redinha mostrou o pior resultado em termos de abastecimento de água, com 77%
dos domicílios conectados à rede pública, enquanto Capim Macio/Neópolis teve 97% dos
domicílios atendidos.
O Acesso a esgotamento sanitário (IDS-Brasil 2008 - Indicador 22), “expressa a
relação entre a população atendida por sistema de esgotamento sanitário e o conjunto da
população residente em domicílios particulares permanentes de um território”. O indicador é a
razão, expressa em percentual, entre a população com acesso a esgotamento sanitário (por rede
geral de esgoto ou fossa séptica) e o total da população. Este indicador demonstrou a mesma
tendência que os anteriores, com a Redinha apresentando novamente o pior resultado (53% de
atendimento) enquanto Capim Macio/Neópolis teve 96% dos domicílios atendidos.
Na dimensão social, o Rendimento familiar per capita apresenta a distribuição
percentual de famílias por classes de rendimento médio mensal per capita (RMM). As variáveis
utilizadas são o número total de famílias residentes e domicílios particulares permanentes e o
rendimento mensal familiar per capita discriminado por classes de rendimento em salário
mínimo. Ainda neste indicador, Capim Macio/Neópolis obteve o melhor desempenho, com
A Taxa de Alfabetização representa a população alfabetizada com 5 anos ou mais
de idade. Capim Macio/Neópolis mantém o padrão descrito anteriormente com o melhor valor
neste indicador, 97%, com a Redinha mostrando o pior indicador, com 74%.
c. Construção do Índice de Sustentabilidade
Analisando a Tabela 2 é possível observar que tanto Lixo como Renda são muito
correlacionadas com as variáveis Água, Esgoto e Alfabetização.
Tabela 2 – Matriz de correlação entre Indicadores de Desenvolvimento Sustentável
Variáveis Lixo Água Esgoto Alfabetização Renda
Lixo
Água 0,894
p=0,041
Esgoto 0,8857 0,9002
p=0,046 p=0,037
Alfabetização 0,8962 0,9483 0,9908
p=0,040 p=0,014 p=0,001
Renda 0,752 0,9547 0,8595 0,9067
p=0,143 p=0,011 p=0,062 p=0,034
Assim, para a construção do Índice de Sustentabilidade dos bairros estudados
foram selecionadas as variáveis Lixo e Renda, cuja correlação não é estatisticamente
significativa.
Para uma definição do número de fatores foram utilizados os métodos de
“Componentes Principais” e de “Máxima Verossimilhança”, ou seja, obtém-se uma mesma
seleção de fatores por ambos os métodos quando o número desses é igual a um. O método de
componentes principais explica 87,6% da variância total, enquanto que o da máxima
verossimilhança explica 75,2%. A Tabela 3 apresenta o autovalor, porcentagem da variância
Tabela 3 - Seleção do fator pelo Método de Componentes Principais
Fator Variáveis definidoras
Cargas
fatoriais Autovalor
Porcentagem da variância explicada
Conceito expresso pelo
fator
1
Renda 0,94
1,75 87,60 Índice
sócio-ambiental Lixo 0,94
Da coluna definidora de índices é determinada a mediana destes, possibilitando a
divisão dos bairros em dois grupos. Estes grupos foram hierarquizados em Índices de
Sustentabilidade do Bairro (ISB) por estrato (Tabela 4), sendo os mesmos classificados em
baixo (índices ≤ mediana) e elevado (índices > mediana).
Tabela 4 - Classificação dos bairros em estratos, segundo o Índice de Sustentabilidade do
Bairro (ISB)
ZPA Bairros Breteau ISB Estrato Breteau
(Média)
Redinha 4,8 -2,07
Baixo 3,97
ZPA-9 Pajuçara 3,7 -1,03
Lagoa Azul 3,4 -0,42
ZPA-5 Ponta Negra 2,7 1,23 Elevado 2,75
Capim Macio/Neópolis 2,8 2,29
A utilização de indicadores permite compreender a complexidade do sistema, sem
reduzir a importância de cada um dos seus componentes, auxiliando a implementação de
modelos de desenvolvimento que promovam o benefício de políticas de desenvolvimento
ambiental e social a parcelas significativas da população. (43)
d. Análise da ocorrência de Aedes aegypti pelo Índice de Breteau
Analisando-se a correlação entre o Índice de Breteau e o Índice de Sustentabilidade
dos Bairros (ISB) pesquisados observa-se uma correlação negativa significativa de -0,92
(p=0,028), o que possibilita estabelecer uma relação entre o Índice de Breteau e os estratos
A comparação dos dados obtidos revela um padrão que permite associar as
condições ambientais e socioeconômicas das áreas estudadas, segundo indicadores do
IDS-Brasil 2008 adaptados para os bairros escolhidos, com o Índice de Breteau, que determina o
índice de infestação destes bairros pelo A. aegypti.
Logo, é possível concluir que bairros com piores indicadores mostram uma
tendência a apresentar um maior número de criadouros de A. aegypti (Tabela 4). Desta forma,
bairros com piores condições de esgotamento sanitário, menor acesso a sistemas de coleta de
lixo domiciliar e rede de abastecimento d’água e renda familiar per capita mais baixa seriam
mais susceptíveis a ocorrência deste vetor (Figura 2).
Figura 2 – Análise de tendência do Índice de Breteau para A. aegypti em relação ao Índice de Sustentabilidade do Bairro (ISB).
e. Análise da ocorrência de Aedes albopictus pelo Índice de Breteau
Embora a proximidade de uma área de mata nativa, caso das Zonas de Proteção
Ambiental, em princípio favoreça a presença de insetos vetores de habitat predominantemente
silvestre como o Aedes albopictus, não foi observada ocorrência significativa de criadouros
deste inseto no ambiente urbano e periurbano nas áreas estudadas. O pequeno número de casos
positivos (Índice de Breteau ≤ 0,2) não permitiu análise estatística em relação ao Índice de
Sustentabilidade obtido. Breteau; 4,8
Breteau; 3,7 Breteau; 3,4
Breteau; 2,7 Breteau; 2,8
2,07 1,03 0,42 1,23 2,29 3,0 2,0 1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 Breteau ISB
Linear (Breteau)
Linear (ISB)
1
2
3
4 5
ZPA 5 4 Ponta Negra
5 Capim Macio/Neópolis
1 2 3 4 5 ZPA 9 1 Redinha 2 Pajuçara 3 Lagoa Azul
f. Análise da ocorrência de flebotomíneos pelo Índice de Infestação Domiciliar
A ocorrência de flebotomíneos nas áreas estudadas foi analisada a partir do Índice
de Infestação Domiciliar, expresso pela razão entre o número de domicílios com capturas
positivas e o número de domicílios pesquisados (Tabela 5). Devido à inexistência de dados no
CCZ relativos a capturas de flebotomíneos em bairros adjacentes à ZPA-5 foram consideradas
nesta análise as capturas realizadas nos bairros de Redinha, Pajuçara e Lagoa Azul.
Tabela 5 - Evolução anual da captura de flebotomíneos em bairros adjacentes à ZPA-9 - Índice de Infestação Domiciliar Médio Anual
Bairros Ano Média Anual
2006 (%) 2007 (%) 2008 (%)
Redinha 56 64 25 48,33%
Pajuçara 29 35 43 35,67%
Lagoa Azul 33 49 32 38,00%
A matriz de correlação entre o Índice de Infestação Domiciliar por Flebotomíneos e
o Índice de Sustentabilidade dos Bairros (ISB) pesquisados revela uma correlação negativa
significativa entre estas variáveis, com valor de -0,96 e p=0,01.
O estudo da ocorrência de flebotomíneos reafirma a tendência de uma maior
presença de vetores das zoonoses pesquisadas em bairros com indicadores de desenvolvimento
sustentável mais negativos (Figura 3). Observa-se uma média anual 22% menor (13 pontos
percentuais) no índice de infestação domiciliar no bairro de Lagoa Azul, que tem o melhor ISB
entre os três bairros analisados, em relação à Redinha, que apresenta o pior índice de
sustentabilidade do estudo.
A comparação dos dados obtidos revela um padrão que permite associar o Índice
de Sustentabilidade do Bairro encontrado, que expressa as condições urbanísticas, ambientais e
sócio-econômicas das áreas estudadas segundo indicadores do IDS Brasil 2008, com a
ocorrência de insetos vetores de Dengue, LVA e LTA, onde bairros com piores indicadores
Figura 3 - Análise de tendência do Índice de Infestação Domiciliar de Flebotomíneosem
relação ao ISB.
Considerações finais:
A presença de vetores de arboviroses como A. aegypti, A. albopictus e H.
leucocelaenus (44) e de outras zoonoses, como L. Longipalpis e L. evandroi (45) em áreas de vegetação nativa próximas a ambientes densamente urbanizados deve ser motivo de
preocupação, pelo alto risco potencial que a presença destes insetos representa e objeto de
políticas de controle ambiental direcionadas a melhorar os parâmetros de sustentabilidade nestas
regiões.
O oferecimento de serviços de infra-estrutura eficientes como coleta de lixo
periódica, saneamento básico e rede de água potável de qualidade, associados a melhores
indicadores sócio-econômicos como renda per capita elevada e um mais alto índice de
alfabetização parece estar associado a uma diminuição da densidade de insetos vetores em uma
determinada região.
Os resultados demonstram que o conhecimento das condições urbanísticas e
sócio-ambientais de regiões afetadas por endemias, mais do que das condições sócio-econômicas Média Anual; 48,33%
Média Anual; 35,67% Média Anual; 38,00%
2,07
1,03
0,42
2,50 2,00 1,50 1,00 0,50 0,00 0,50 1,00
Média Anual ISB
Linear (Média Anual) Linear (ISB)
1
2
3
isoladamente, é importante parâmetro a ser considerado quando se pretende conhecer causas e
estruturar ou redirecionar políticas de controle das endemias às quais os vetores estudados estão
Referências:
1. BOS, R. 1992. New approaches to disease vector control in the context of sustainable
development. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 8(3):240-248.
2. OLIVEIRA, C.D.L., MORAIS, M.H.F., MACHADO-COELHO, G.L.L. 2008. Visceral
leishmaniasis in large Brazilian cities: challenges for control. Cad. Saúde Pública, Rio
de Janeiro, 24(12):2953-2958.
3. TAUIL, P.L. 2006. Perspectives of vector borne diseases control in Brazil. Rev. Soc.
Bras. Med. 39(3):275-277.
4. COSTA, C.H.N., PEREIRA, H.F., ARAÚJO, M.V. 1990. Epidemia de Leishmaniose
Visceral no estado do Piauí, Brasil, 1980-1986. Rev. Saúde Publ. São Paulo, 24(5):
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5. Ver referência 2.
6. FORATTINI, O.P.; BRITO, M. 2003. Household reservoirs and control of Aedes
aegypti. Rev. Saúde Públ. São Paulo, 37(5):676-7.
7. GUBLER, D. J. 1997. Dengue and dengue hemorrhagic fever: Its history and
ressurgence as a global health problem. In: GUBLER D.J, KUNO G., editors. Dengue
and dengue hemorrhagic fever. New York: CAB international; 1-22.
8. CDC - CENTER FOR DISEASE CONTROL. 2008. – Dengue history.
http://www.cdc.gov/ncidod/dvbid/dengue/#history. Consultado em 10 de junho de
2009.
9. Ver referência 3.
10. CÂMARA F.P., THEOPHILO, R.L.G, SANTOS G.T., PEREIRA S.R.F.G, CÂMARA
D.C.P., MATOS R.R.C. 2007. Estudo retrospectivo (histórico) da dengue no Brasil:
características regionais e dinâmicas. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 40(2):192-196.
11. CORDEIRO M.T., SCHATZMAYR H.G., NOGUEIRA R.M.R., OLIVEIRA V.F.,
MELO W.T., CARVALHO E.F. 2007. Dengue e febre hemorrágica do dengue no