• Nenhum resultado encontrado

Brasil : um projeto para o século XXI - o modelo de "especializações avançadas"

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Brasil : um projeto para o século XXI - o modelo de "especializações avançadas""

Copied!
64
0
0

Texto

(1)

Brasil: Um Projeto para o Século XXI - O

Modelo de "Especializações Avançadas"

1

João Paulo dos Reis

カ・ャQッウッセ@

Instituto Nacional de Altos Estudos - INAE

Rua Sete de Setembro, 71 - 17° andar

Centro - 20050-005 - Rio de Janeiro

Tel.: (021) 242-4025/224-1013

E-mail: inae_sup@rio.nutecnet.com.br

Agosto de 1998

199810 L2453

P!EPGE CERES TD

1-3

11111111111111111111111111111

1000085767

(2)

sUMÁRIo

o

DESAFIO: O BRASIL TEM UM PROBLEMA ESTRUTURAL DE

COMPETITIVIDADE. E A SOLUÇÃO PROPOSTA: O MODELO DE

Página

"ESPECIALIZAÇÕES AVANÇADAS." 03

AS ORIGENS HISTÓRICAS DAS DISTORÇÕES DO NOSSO

DESENVOLVTIKENTO: AS TRÊs TRADIÇÕES CULTURAIS E SUAS

RAÍZES POLÍTICAS 11

A primeira tradição cultural: inexistência, no projeto de desenvolvimento

da Independência e do Império, de papel relevante para a população pobre. 12 A segunda tradição cultural: o uso extensivo de recursos naturais,

geralmente com métodos primitivos.

A terceira tradição cultural: a pouca integração entre a Universidade e o desenvolvimento econômico e social

A CONSTRUÇÃO DO MODELO DE "ESPECIALIZAÇÕES AVANÇADAS"

20

27

E SEUS PROJETOS ESTRATÉGICOS 32

Desenvolvimento acelerado de capital humano 33

Desenvolvimento de recursos naturais, pela maior aplicação de Ciência

e Tecnologia (num contexto de desenvolvimento sustentável) 35

Maior domínio da tecnologia moderna, pela melhor integração entre Universidade e desenvolvimento

Significado do modelo proposto e suas repercussões sobre as vantagens comparativas dinâmicas do País

Pressupostos do modelo de "especializações avançadas" Viabilidade do modelo e instrumentos de execução

IMPLICAÇÕES DO MODELO E CONCLUSÃO

Implicações sociais e políticas Conclusão: uma visão humanista

38

43

48

51

54

56

58

2

(3)

---o

DESAFIO: O BRASIL TEM UM PROBLEMA ESTRUTURAL DE COMPETITIVIDADE. E A SOLUCÃO PROPOSTA:

O MODELO DE "ESPECIALIZACÕES AVANÇADAS."

o

presente trabalho apresenta uma proposta, que se pretende objetiva e

realista, de converter o Brasil, no espaço de cerca de duas décadas, da condição atual, de competidor internacional apenas razoável (na segunda divisão de competidores), em grande competidor (ascendendo à primeira divisão). Seria esta a melhor forma de preparar o País para os desafios do desenvolvimento no Século XXI.

Parte a proposta da constatação de ter o Brasil um problema estrutural de competitividade, que só se resolve no longo prazo. E por isso cabe considerá-lo em visão estratégica.

Ao longo da década de 90, tem-se realizado um esforço de resolver dois problemas fundamentais para o nosso desenvolvimento: a conquista e, agora, a consolidação da estabilidade de preços; e a construção de um modelo de economia internacionalmente competitiva. Trata-se de substituir o antigo modelo, da era "nacional-desenvolvimentista", que foi capaz de criar, entre 1930 e 1980, uma grande economia industrial , integrada e diversificada (embora com todas as distorções conhecidas), mas que se foi desmontando nos anos 80, e acabou superado pelas novas realidades do País e da economia mundial.

Tal economia internacionalmente competitiva destina-se a proporcionar ao Brasil uma estratégia capaz de, nas atuais condições da economia mundial (abertura econômica, globalização - e regionalização -, novo paradigma industrial e tecnológico), conduzir-nos a um novo ciclo longo de crescimento, estável e rápido, sem os riscos de estrangulamento externo que levaram ao colapso vários ciclos anteriores.

Para esse fim, a ênfase do atual estágio vem sendo em tomar mais

(4)

importações - ou capazes de substituí-las -, ou voltados para as exportações). Isso

pennitirá reduzir a níveis sustentáveis o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos (4,3% do PIB, em 1997), eliminando uma grande vulnerabilidade

atual do País. É parte desse esforço o atual programa do Governo, de dobrar as

exportações brasileiras até o ano 2002 (para atingir a ordem de US$ 100 bilhões por ano).

A esse propósito, faz-se oportuno recordar uma das lições (são tantas)

da recente crise da Ásia: apesar de serem modelos exportadores (ou seja, economias altamente orientadas para a competitividade internacional), tanto a

Coréia como os outros países mais afetados pela crise enfrentaram problemas de perda de competitividade, segundo reconhece o recente estudo do Banco Mundial sobre o tema 1

.

No caso da Coréia, conhecido relatóri02 (divulgado em outubro de 97)

refere-se a um "quebra-nozes competitivo" (competitive nutcracker): o país teria

ficado imprensado entre a forte competitividade das altas tecnologias do Japão e a ofensiva chinesa (à base de produtos intensivos em mão-de-obra não qualificada). Os demais países afetados também teriam tido perda de dinamismo nas exportações, por causa da competição japonesa e chinesa.

Se olharmos para a América Latina, o último relatório sobre a competitividade mundial (do Internacional Institute for Management Development

- IMD) classifica o Chile como o país mais competitivo da região (260 lugar, para o

370 lugar do Brasil). Efetivamente, nos últimos tempos, o Chile tem tido excelente

desempenho de balanço de pagamentos, convertendo-se em verdadeiro modelo exportador. Mas suas especializações são ainda limitadas, e pouco flexíveis:

cobre, frutas de clima temperado.

Essas duas constatações colocam a importância de ver o problema da competitividade do ponto de vista dinâmico, ou seja, ao longo do tempo. E de fazer a indagação: competitivo em quê? Em setores dinâmicos, com facilidade de

(5)

mudança nas linhas de produtos em que se tem competitividade? Pois é isso que

interessa.

Se exammarmos o desempenho recente brasileiro, vamos chegar à conclusão de haver dois principais tipos de dificuldade (do ponto de vista

estrutural) ao objetivo de um crescimento rápido e estável das exportações. De um lado, no Fórum Nacional de 1993, um conjunto de estudos3 revelou que a nossa

estrutura de exportações pouco se modificou, desde 1984, quando concluímos os

grandes programas de investimentos em tradeables do 11 PND (Insumos Básicos e

Bens de Capital, além de Energia). Isso mostra a lentidão (agravada pela crise dos

anos 80) com que modificamos as nossas especializações (vantagens comparativas dinâmicas). Chegou-se a dizer que o Brasil era o campeão da segunda divisão (ou

seja, éramos bastantes eficientes em commodities industriais, como Siderurgia e

CeluloselPapel). Mas estávamos fora da primeira divisão.

De outro, o Fórum de 1997 colocou em evidência o fato de estarmos

virtualmente fora do campo das exportações dinâmicas mundiais4 (digamos: numa lista de 100 produtos mais dinâmicos, estamos bem colocados em 5 deles). Daí se

vê a dificuldade atual de nos situarmos bem, particularmente no campo das novas tecnologias. (*)

Além disso, no tocante às importações, devemos prevenir-nos contra o risco de grandes saltos no seu coeficiente de penetração, como aconteceu em anos

recentes. A forma de fazê-lo é pela criação, no País, de configurações sustentáveis. Ou seja, de estruturas industriais capazes de competir com as importações, nos principais setores.

Já podemos, então, dizer o seguinte: é muito importante a reestruturação industrial que vimos fazendo, desde o início da abertura econômica, em 1990, e

(*) As principais linhas de exportações dinâmicas ou fazem jus a forte elasticidade - renda

da demanda ou se caracterizam por rápido progresso tecnológico, que permite o freqüente lançamento de novos produtos ou o grande crescimento da produtividade, com a conseqüente redução de custos e preços. Os segmentos mais importantes das novas tecnologias, não raro, reúnem duas ou três dessas condições.

(6)

particulannente nos últimos anos. Realizamos grandes ganhos de produtividade (com perda de emprego, é verdade), estamos tomando bem mais competitivos os nossos setores de tradeables e fortalecendo nossa capacidade de exportar em

Agroindústria, Indústrias Tradicionais, Insumos Básicos. Com isso, mantemos os industrializados com uma participação de 65 a 70010 das nossas exportações totais.

Entretanto, para dar sustentabilidade à abertura e dinamismo ao crescimento estável, será preciso, nas próximas décadas, expandir rapidamente nossas exportações, (a taxas de pelo menos 10% ao ano). E, para isso, teremos de atentar seriamente para duas questões: como renovar com freqüência nossa pauta de exportações (significando: desenvolver novas especializações) e como passar a exportar em nichos de altas tecnologias (como já fazemos em aviões pequenos e -poucas coisas mais). Ao mesmo tempo, não se deve descurar a outra frente: estar sempre mantendo a competitividade perante as importações, o que ainda estamos aprendendo a fazer.

E cabe salientar: essa problemática não se refere apenas

ª

situação atual. Trata-se de uma questão estrutural, de longo prazo, no desenvolvimento brasileiro, que provavelmente se tomará mais complexa no futuro, com o avanço da globalização, as novas reduções tarifárias, resultantes de acordos internacionais (Informática, Comunicações) e os desdobramentos das novas tecnologias.

Diante dessa verificação, de ter o País um problema estrutural de competitividade, em caráter duradouro, cabe examinar melhor a sua natureza.

Trata-se de questão recorrente.

Basta lembrar a nossa experiência histórica em matéria de vantagens comparativas (especializações).

De meados do século passado até a altura de 1963, exportávamos mais ou menos os mesmas coisas: café, açúcar, algodão, fumo (borracha, durante algum tempo) e outros produtos agrícolas. A partir dos anos 40, adicionamos à lista o

(7)

minério de ferro. Havia, às vezes, uma dança de cadeiras, mas o café estava sempre à frente.

Entre 1964 e 1980, realizou-se, com êxito, a experiência de passar a

exportar manufaturados, principalmente das Indústrias Tradicionais (Têxteis e Calçados) e um pouco de Indústria Automobilística (através de programa especial,

o BEFIEX), além de produtos primários não tradicionais: soja e minério de ferro em grande escala (inclusive sob a forma de pelotas).

Com a ênfase do 11 PND em Insumos Básicos (Siderurgia,

Petroquímica, CeluloselPapel, Metais Não Ferrosos) e Bens de Capital, passamos a exportadores líquidos (exportações superiores a importações) nessas duas

categorias, a partir de meados dos anos 80. Nessa mesma década, perdemos o bonde no tocante à Informática, ou seja, não tivemos sucesso no campo de novas tecnologias.

Em síntese, nossa estrutura de exportações tem mudado por saltos,

através principalmente de grandes programas de investimentos, lançados a intervalos (salvo variações menores).

E por quê? De um lado, existem os condicionamentos

macroeconômicos e a questão do sistema de incentivos, que não cabe aqui discutir.

Mas há também, em especial, o lado estrutural, ligado, além do perfil

industrial, ao fato de que nossas vantagens comparativas eram resultantes, tradicionalmente, das nossas dotações naturais de fatores de produção, em geral dotados de pouca versatilidade e não modernos (no sentido de terem baixa

intensidade em conhecimento). Trata-se principalmente de mão-de-obra não qualificada e recursos naturais, com baixo índice de transformação. Quer dizer,

não eram fatores "criados"', na terminologia atual.

A única evolução significativa, segundo visto, foi que, a partir da década passada, acrescentamos às nossas vantagens comparativas as commodities

(8)

base de recursos naturais, através de fábricas em escala econômica e com tecnologia atualizada (para os padrões do paradigma industrial anterior). E a elas incorporamos, igualmente, certas

linhas

de Bens de Capital sob encomenda e Construção Naval (setores esses que, praticamente, desativamos no início dos anos

90).

E assim ficamos, de 1984 até agora (salvo a conhecida exceção dos aviões da EMBRAER).

Não temos sequer tirado maior proveito, para fins de desenvolvimento de novas especializações, do fato de dispormos de massa crítica de mão-de-obra qualificada (pequena, como percentual da PEA, mas grande, em valor absoluto). Dela nos valemos apenas para as linhas de Bens de capital sob encomenda, já mencionadas, e experiências isoladas de exportações de engineering, por exemplo,

em plataformas de produção de petróleo (em associação com empresas estrangeiras).

Igualmente, não temos sabido utilizar adequadamente o potencial de pesquisa existente em nossos centros de excelência e institutos de pesquisa.

Suponhamos agora que venha a ter êxito o programa de dobrar as exportações até 2002. Com isso, acrescentaremos algumas novas linhas às nossas exportações, e durante alguns anos ficaremos com boa situação de balança comercial (se não houver explosão de importações). Terá tido êxito a reestruturação industrial ora em curso, e que vai continuar por algum tempo, resultando em maior competitividade internacional.

Mas, salvo se novo programa de exportações for lançado, nada impedirá a volta de dificuldades na balança comercial e na conta de Serviços não fatores (Turismo e Fretes, principalmente).

Porque o que se faz necessário é mudar os condicionamentos estruturais da nossa competitividade. E, para isso, temos de pensar estrategicamente sobre a nossa base de fatores de produção, para adequá-la ao mundo da "sociedade do conhecimento" .

(9)

Desta forma, cabe voltar à pergunta: como responder adequadamente

aos inevitáveis desafios do próximo século?

Ora, não nos parece possível prever o que V81 acontecer com as tendências econômicas, no século XXI, em termos, por exemplo, de novos

produtos e novas tecnologias. Tem-se apenas a noção geral de caminhar para a citada sociedade do conhecimento, que os países desenvolvidos já começam a visualizar. Mas é possível, em perspectiva de longo prazo, preparar o País para ter

condições estruturais de adequar-se às tendências que se forem configurando.

A presente proposta consubstancia, em caráter preliminar, a visão estratégica para alcançar esse objetivo.

A fim de evitar um supercongestionamento de agenda, já que ainda

estamos engajados em concluir a implantação da economia competitiva, com estabilidade de preços, o modelo que se propõe, objetiva e realisticamente, para o Século XXI, significa apenas um gasto público adicional de pequena monta, capaz

de ser absorvido dentro de níveis de poupança global que o País já alcançou em períodos anteriores.

A idéia fundamental desse modelo pode ser encontrada num ensaio que John Hicks publicou em um livro de 1959. Ao discutir o que chama de

desigualdade internacional "natural" (o desnível entre desenvolvidos e subdesenvolvidos), colocou ele uma idéia que se antecipava a toda a atual discussão do futuro dos NICs, em face do fenômeno das vantagens comparativas

"criadas" e do advento do novo paradigma industrial e tecnológico. Dizia Hicks:

"Porque uma vez que um país tenha alcançado um certo estágio de desenvolvimento, ele parece adquirir (ou ser capaz de adquirir) uma espécie

de plasticidade (resilience) contra mudanças em suas vantagens

(10)

o

que Hicks está discutindo é a questão dos condicionamentos estruturais da competitividade, no longo prazo.

Levando em conta essa constatação, vital para o futuro do nosso

desenvolvimento - de ser possível criar a capacidade de substituir uma vantagem

comparativa por outra, quando aquela perde substância -, a nossa proposta

consiste, essencialmente, numa visão estratégica para implantação no País, ao

longo de uma perspectiva de cerca de duas décadas (até 2 020, digamos), de um modelo de "especializações avançadas" (à la Hicks).

Desde logo, é importante esclarecer, em uma palavra, o que não é - e o

que é - esse modelo proposto, para evitar mal-entendidos.

Primeiro, alcançar o estágio de "especializações avançadas" - no sentido

aqui usado - não significa estarmos entre os países da vanguarda tecnológica

mundial. Significa dispormos de escopo mais amplo e de versatilidade, em matéria de vantagens comparativas. Ou seja, de termos condições de rapidamente, quando necessário, criar novas especializações, se uma ou algumas das de que dispomos estiverem ameaçadas. Claro, algumas dessas especializações poderão ser em

situação de vanguarda tecnológica. Mas não necessariamente.

Em segundo lugar, também não significa havermos chegado à condição de país desenvolvido. Seria irrealista pensar que, em duas décadas, o Brasil passe

da situação atual, de NIC (e NIC ainda não muito seguro, diante dos desafios colocados pela globalização e o novo paradigma industrial e tecnológico), para a de nação desenvolvida. Ser desenvolvido implica, economicamente, estar num

nível de renda per capita que não alcançaremos até 2 020, e ter capacidade de inovacão, ou seja, de gerar tecnologia, inclusive tecnologia de vanguarda, regularmente, tendo o completo domínio da tecnologia de produto e processo. Ser capaz de emulação com os Estados Unidos, Europa e Japão, nesse campo. Nós ainda seremos, em geral, importadores de tecnologia, desde que seja a melhor tecnologia disponível. E que possamos, em muitos casos, adaptá-la. Ou,

eventualmente, criá-la.

(11)

Além disso, ser desenvolvido significa ser moderno também social e politicamente. Isto é, ter uma sociedade moderna. E ainda estaremos longe disso.

o

passo seguinte é a definição do novo modelo, através dos projetos que irão constituí-lo.

Mas antes, para adquirir a perspectiva adequada, convém fazer um balanço da experiência anterior brasileira, no longo prazo, quanto ao uso dos principais fatores de produção, que condicionam fortemente a competitividade.

A experiência dos sucessivos modelos de desenvolvimento, no País, inclusive aquele implantado no período a partir de 1930, revela, a respeito, graves distorções, que poderíamos sintetizar da seguinte forma: negligenciamento de recursos humanos; desperdício - quando não

º

uso predatório - de recursos naturais; セ@ desperdício de conhecimento científico セ@ tecnológico, pela pouca

integracão entre

ª

Universidade セ@

º

desenvolvimento econômico セ@ social.

Trata-se de resultado típico de país em que o principal fator de produção foi sempre a acumulação de capital fisico (edificios, máquinas, equipamentos), inclusive como a principal forma de incorporação de novas tecnologias.

AS ORIGENS HISTÓRICAS DAS DISTORÇÕES: AS TRÊs

TRADIÇÕES CULTURAIS E SUAS RAÍZES POLÍTICAS

As distorções assinaladas decorrem, na verdade, de três tradições culturais, duas delas remontando à herança colonial brasileira, com raízes de natureza política.

(12)

A pnmerra tradição cultural: inexistência, no projeto de desenvolvimento da Independência セ@ do Império, de セ@ relevante para

ª

população pobre.

o

Relatório sobre o Desenvolvimento Humano de 1990, das Nações Unidas (PNUD), apresenta o Brasil como um caso de "oportunidade perdida de desenvolvimento humano" (enquanto a Coréia constituía um caso de "desenvolvimento humano sustentado"). 6

Essencialmente, nas últimas décadas, nós nos havíamos caracterizado como um país de crescimento rápido e de substancial dispêndio nos setores sociais, mas de baixo conteúdo de capital humano.

Segundo relatório do Banco Mundial7, o Brasil estava aplicando, na

segunda metade dos anos 80, cerca de 25% do PIB na área social, anualmente. Tal nível é satisfatório para países de renda média, e excede o percentual tanto do México como da Coréia. A despeito disso, nós nos encontrávamos, em 1990, em situação comparável à dos países latino-americanos mais pobres, no tocante a indicadores sociais básicos, como expectativa de vida ao nascer, mortalidade infantil e escolarização.

As origens desse descompasso devem ser procuradas nos padrões de desenvolvimento econômico e social adotados de longa data.

Num retrospecto histórico, tomaremos como ponto de partida as primeiras décadas do século XIX.

Na altura da Independência, a alta burocracia e as classes dominantes fizeram uma opção pela escravatura, como forma de organizar o trabalho, em particular na Agricultura de exportação (açúcar, fumo, algodão), que experimentou uma ressurgência, em fins do século XVIII e início do século XIX. Para os grandes comerciantes da praça do Rio de Janeiro (os "negociantes de grosso trato") e de Salvador, a escravidão era também importante por causa do tráfico de escravos provenientes da África, que eles controlavam, além de, freqüentemente, serem também senhores de terras. 8

(13)

Cabe aprofundar as razões dessa opção, pois havia claramente uma

alternativa de recrutamento de mão de obra: a população livre (na grande maioria,

pobre) representava, em 18199, entre 65 e 70% do total da população (estimada em

pouco mais de 3 milhões de habitantes).

A motivação básica da preferência pela escravidão residia no

preconceito contra a população livre pobre (crescentemente constituída de

libertos), que era considerada inapta para o trabalho disciplinado - a grande massa

dos "desclassificados" ou "desocupados". "Desclassificados", "em relação às necessidades da grande propriedade agroexportadora"lo.

Em decorrência da citada opção, o projeto de nação independente,

concebido em 1822 e 1823, terminou aceitando a continuação da escravatura. O

receio básico era que o novo país perdesse a unidade e a monarquia - dois valores

fundamentais para os líderes do projeto dominante -, como resultado de uma

"prematura" abolição da escravatura. Por isso, os projetos de país favoráveis à abolição (como o de José Bonifácio)1I foram derrotados na Constituinte de 1823.

É verdade que, em conseqüência das pressões da Inglaterra, houve a proibição do tráfico em 1831, mas só em 1850 realmente se estancou o fluxo de novos escravos vindos da África. E nesse intervalo de 20 anos houve uma

escalada da importação de escravos, em volume que permitiu suprir razoavelmente as necessidades mínimas da agroexportação do Centro-Sul (e principalmente da

cafeicultura), até tomar-se clara a inevitalidade da abolição.

Na altura de 1850, quando já se havia estabelecido o predomínio da cafeicultura, houve uma reafirmação da opção pela escravatura(*), no Centro-Sul, e,

(*) Se considerarmos o projeto de desenvolvimento implícito nas deliberações do Conselho de Estado, por volta daquela época, vamos verificar tratar-se de um projeto de modernização de caráter europeu, mas que continuava aceitando como alicerce da economia a Agroexportação, à base de grandes propriedades e da escravidão. Não se tratava de um projeto contra a Indústria, mas que a considerava secundária, voltada mais para o atendimento das necessidades da economia cafeeira 12. O projeto de

iョセオウエNイゥZuAコセャ ̄ッ@ e de capitalismo moderno de Mauá, por outro lado, era certamente mmontano.

(14)

particularmente, em São Paulo, a despeito da cessação do tráfico e do conseqüente aumento do preço dos escravos. Nas décadas seguintes, a região passou a importar escravos do Nordeste.

F oi somente pouco antes da Abolição que a cafeicultura de São Paulo (já agora estabelecida no Oeste do estado) resolveu apelar para a imigração em larga escala, como forma de substituir o braço escravo. Permanecia, pois, o preconceito contra a população pobre livre.

O resultado direto dessa opção reafirmada foi que, entre nós, a escravidão se tomou dominante no modelo econômico e teve prolongamento extemporâneo: Brasil e Cuba foram os dois últimos países do mundo europeu e europeizado a abolir a escravidão.

Esse duplo caráter da escravidão tomou-a o elemento definidor do tipo de economia (ficara viabilizada a agricultura exportadora, de grandes propriedades) e de sociedade (a sociedade patriarcal, prolongada indefinidamente),

em nosso País. (*)

Isso não significa que o escravo tenha sido reduzido à condição

reificada. Mesmo naquele regime hediondo e dominado por violência inata, a racionalidade do senhor passou a adquirir, crescentemente, sentido de

racionalidade política (e não estritamente econômicai4, à medida que o preço do

escravo se elevava e era necessário dele obter melhor rendimento e mais longa vida útil. Assim, o escravo passou a dispor de certos espaços de manobra e

sentidos de liberdade 1 5. Isso ocorreu de diversas formas: a permissão para operar

pedaço de terra próprio (a chamada "brecha camponesa"), a possibilidade de aprender oficios ou de exercer atividades de ganho (os "escravos de ganho" do Rio

(*) Muito diferente foi a situação dos Estados Unidos, onde a escravidão não foi

(15)

de JaneiroI6), as condições para comprar sua liberdade. Ou, em certos casos, a

rebelião. E crescentemente a fuga.

Diferentemente do escravo, como já dito, ao homem pobre livre não era atribuído papel definido no modelo econômico. E o preconceito já citado, que o relegava à condição de "desocupado", continuou ao longo de todo o século XIX.

Daí a famosa expressão de Couty, em seu livro sobre a escravidão brasileira: "O Brasil não tem povo". Ou seja: a maioria da população passava a não ter história.

Mas nada melhor que deixar o próprio Couty, em outro livro, de "esboços sociológicos", desnudar o seu preconceito. Como escreveu:

"... o Brasil não tem povo, ou melhor, o povo que lhe foi dado pelas misturas de raças e pelas alforrias não desempenha um papel ativo e útil .

...

"Esta mestiçagem biológica e social produziu muitos homens notáveis na política, na administração e até nas letras; e, como escrevemos a propósito da escravidão, as províncias onde havia maior número de pessoas de cor mais escura foram durante muito tempo as mais influentes na Nação. Mas, como todos reconhecem, essa mestiçagem não construiu um povo de trabalhadores constantes e econômicos .

...

"O trabalhador permanente, que comparece ao trabalho diário, quase não existe na população livre dos campos brasileiros".

Não é outra a idéia que um personagem de "Viva o povo brasileiro" apresenta como sua concepção de povo:

(16)

o

nosso povo é um de nós, ou seja, um como os próprios europeus. As

classes trabalhadoras não podem passar disso, não serão jamais povo". 18

Sem embargo, sabemos hoje, como tem mostrado a bibliografia

revisionistal9, que o Brasil era mais que uma economia de plantation

agroexportadora, tal como a sociedade era mais do que a dicotomia senhores e

escravos.

A população pobre livre soube encontrar, a seu modo, diferentes formas de inserção no mundo do trabalho. Claro, existia o problema do estigma que a escravidão colocava sobre o trabalho disciplinado, e principalmente o trabalho manual. Mas, em primeiro lugar, havia a inserção através da agricultura familiar,

espalhada por todas as regiões, embora sob o signo da precariedade. 20 Uma vez

que era negado o acesso à terra, com título de propriedade (as classes dominantes

procuravam monopolizar as terras públicas), o pequeno produtor usava os mais diferentes recursos e subterfúgios para poder lavrar o seu pedaço de terra (as diversas estratégias de sobrevivência), tirando proveito da abundância de terras

"não ocupadas ou apenas nominalmente apropriadas. ,,21

Tal atividade tinha considerável importância, se levarmos em conta a significação, principalmente para o Rio de Janeiro e outras cidades, da agricultura de abastecimento interno. Cabe, de passagem, lembrar o fato de terem sido desproporcionalmente grandes, para país pobre, as principais cidades brasileiras.

Mesmo reconhecendo o caráter eminentemente rural da economia brasileira, esse fato é inegável: em fins do século XVII, o Rio de Janeiro era provavelmente maior que Nova Y ork; Salvador era maior que qualquer cidade amencana, salvo Filadélfia, e maior que Bristol, Liverpool ou Manchester, na

Inglaterra. Recife era maior que Boston.22 A razão é que as cidades portuárias

desempenhavam funções muito importantes no modelo de agricultura de exportação.

(17)

décadas, a urbanização crescente e a industrialização em razoável escala. Seus modelos eram diferenciados. A pecuária do Sul dependia principalmente de grandes estâncias. Mas em Minas Gerais e demais regiões as culturas de alimentos eram desenvolvidas por um sistema misto, de propriedades maiores e agricultura familiar (sem falar nas colônias de imigrantes que estavam aparecendo no Sul).

Nas áreas urbanas, no final do século, a população pobre livre exercia as chamadas "profissões sem academia" (músicos ambulantes, trapeiros, selistas, "ratoeiros", "urubus", apanhadores de papel), além de vários tipos de artesanato.

Desta forma, os "desocupados" estavam quase sempre ocupados, no campo ou na cidade, de uma forma ou de outra.

Com o advento dos surtos industriais, a partir das duas últimas décadas do século, no Rio e em São Paulo, os homens livres imigrantes e - em menor proporção - também os nacionais começaram a inserir-se no trabalho organizado das fábricas.

Mas é precIso lembrar em que condição: a mão de obra era superabundante e não qualificada.

Por esta última razão, baixa era a sua produtividade. E, pelos dois motivos, muito baixos eram os salários. Desta forma, o trabalhador de fábrica, no Brasil, estava no exato oposto das condições da mão-de-obra na indústria americana. (*)

o

proletariado urbano vivia, em geraL em condições de

pauperização, embora não marginalizado, ou seja, sem o estigma que se aplicava

(0) Com efeito, a industrialização americana teve de consolidar-se, a partir de 1820 (após

os insucessos de tentativas anteriores, por causa da competição inglesa), em condições de custo tanto de mão de obra como de capital mais elevado que na Inglaterra. A saída encontrada foi realizar grandes ganhos de produtividade da mão de obra e operar de forma menos verticalizada, para tirar proveito de grandes escalas de produção. Dois fatores levaram ao rápido crescimento da produtividade: o alto nível de qualificação da mão de obra americana ("treinamento e educação") e a introdução de maior intensidade

(18)

ao restante da população pobre urbana, ainda sob a suspeição de ser inapta para o trabalho e indisciplinada. (*)

Podemos agora chegar às conclusões do retrospecto empreendido.

A primeira conseqüência grave dessa relação de descaso e, mesmo, desconfiança em relação à população pobre livre foi que faltou, no Brasil, o compromisso político com a qualificação dos seus recursos humanos, e, particularmente, com a Educação básica, a despeito da universalidade e gratuidade asseguradas na Constituição de 1823 (art. 179). Compromisso que também faltou no tocante aos seus direitos políticos e direitos civis.

Assim é que, de acordo com os censos, em 1872 somente 18,6% da população livre eram alfabetizados; e em 1890, apenas 15,8% da população total.25

A segunda conseqüência foi a criação de mecanismos de reprodução da pobreza em relação aos ex-escravos. A razão básica é que, como a eles não foi dada qualquer assistência - educacional ou de ocupação -, foram os libertos lançados na massa da população pobre, com o agravante do preconceito de cor.

o

resultado foi que a inserção dos ex-escravos no mercado de trabalho se verificou "nas regiões predominantemente agrárias e mais subdesenvolvidas do Brasil, onde as oportunidades econômicas e educacionais são muito menores.,,26 E, quando eles ficaram no eixo mais desenvolvido (Rio e São Paulo), foram alijados para trabalhos não qualificados: serviço doméstico, ocupações indefinidas e atividades extrativa, pastoril e agrícola.,,27 Foi tardia e lenta a sua incorporação ao setor industrial.

(0) Mesmo na última década do século passado e nas primeiras deste século, quando a

industrialização passou a adquirir importância no Rio e, depois, em São Paulo, persistia, aos olhos do empresariado e das classes dominantes, em geral, a dicotomia entre trabalhador de fábrica e pobre não operário, este último relegado à classe dos ''vadios',

quando não à "classe perigosa". 24

(19)

Tal situação de preconceito em relação à população pobre, e principalmente a negros e mulatos, na verdade só se foi modificar nos anos 20 e 30 deste século, como resultado da conjugação de três fatores: a redução drástica da imigração, a Lei dos 2/3 (de 1931), e a mudança do modelo econômico, após a crise de 29, convertendo a industrialização em motor do crescimento. A Indústria (seguida do Comércio) passou a exigir grandes contingentes de trabalhadores, e mecanismos como o SENAI e o SENAC (para treinamento dos empregados) foram estabelecidos.

Sem embargo, a era do "nacional-desenvolvimentismo", entre 30 e 80, seguida da longa década de crises e oportunidades perdidas, até recentemente, não trouxe, para o País, o desenvolvimento de seu capital humano. Tanto que o diagnóstico do Relatório sobre o Desenvolvimento humano da ONU (PNUD) foi o já citado: crescimento rápido, mas oportunidade perdida de desenvolvimento

humano.

A razão fundamental é que os modelos sociais implantados a partir dos anos 30 trouxeram uma grande expansão quantitativa do ensino (e do sistema de Saúde), mas acompanhada de distorções graves: falta de prioridade ao pobre, baixa qualidade da Educação, elevados custos e grande desperdício.

Tais modelos sociais baseavam-se em grandes programas nacionais (sob a responsabilidade da União, que tinha participação importante na execução), ligados a grandes burocracias, que permitiam a criação de grandes clientelas políticas. O patrimonialismo de Estado, no Brasil, manifestava-se principalmente nas áreas socuus.

(20)

da Educação, no início dos anos 70, fez um ensaio de cobrança de mensalidade dos alunos de alta renda, teve nas mãos uma gigantesca greve de estudantes.

Por outro lado, a gestão do ensino primário era muito sujeita ao clientelismo político, na escolha de diretores de escola, nomeação e movimentação de professores (ou funcionários). Isso afetava a qualidade do ensino e o seu custo. Além disso, os critérios de transferência voluntária de recursos do Ministério da Educação para os estados e municípios não eram objetivos. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) foi criado, com a Reforma Universitária de 1969, para dar origem a um sistema de financiamento de projetos, das universidades e dos programas de ensino das unidades federadas. Mas logo se converteu em simples complementação do orçamento do Ministério da Educação.

Por seu turno, a sociedade era muito ativa em reivindicar a expansão do ensino, principalmente superior (após a revolta estudantil de 68, as matrículas nas universidades federais passaram a crescer a taxas entre 15 e 20% ao ano). Mas se revelava pouco exigente em matéria de qualidade e custos: o sistema ficava livre para atuar dentro de sua lógica política perversa.

Claro, os últimos anos, em particular no atual Governo, vrram mudanças importantes, principalmente quanto ao ensino básico. E a opinião pública se conscientizou da necessidade de exigir qualidade na Educação. Começou a romper-se a lógica política perversa.

A segunda tradicão cultural: Q uso extensivo de recursos naturais, geralmente com métodos primitivos

É sintomático comparar dois padrões de desenvolvimento e tipos de inserção internacional, ambos baseados na intensidade de recursos naturais.

De um lado, temos o que poderíamos chamar de "modelo escandinavo" (Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia), característico de uma área que apresenta uma renda per capita de pelo menos cmco vezes aquela dos mais

prósperos países latino-americanos.

(21)

Área desenvolvida, com uma inserção internacional moderna, obtida através do desenvolvimento da infra-estrutura tecnológica, qualificação de recursos humanos, produtos, processos e equipamentos necessários ao processamento e industrialização de seus recursos naturais. Aspecto importante dessa inserção é a especialização em várias linhas de produtos ao longo de toda uma cadeia produtiva, desde a produção ou extração do bem agrícola, florestal ou mineral, até o produto final industrializado e os equipamentos necessários a todo o processo (assim como os respectivos componentes). Ou seja, múltiplas formas de aplicação do conhecimento científico e tecnológico ao desenvolvimento de recursos naturais. 28

De outro lado, temos o caso do Brasil, com renda per capita média e

inserção internacional baseada em exportações agrícolas e minerais, assim como

de produtos semimanufaturados e commodities industriais (produtos siderúrgicos

básicos, petroquímicos básicos, alumina-alumínio e celulose-papel). Nossas

especializações mais sofisticadas (as referidas commodities industriais), com

poucas exceções, remontam a 1984 (conclusão do II PND).

Embora não seja esse o único fator, é relevante assinalar que o Brasil está procurando superar uma tradição cultural econômica de longa data, baseada

em duas características. Primeiro, o uso extensivo de recursos naturais,

considerados superabundantes, geralmente por métodos primitivos. Em segundo

lugar, a baixa densidade econômica dos recursos naturais. Ambas as

características indicam baixa aplicação de conhecimento científico e tecnológico ao uso de tais recursos, significando, por isso, uma inserção muito menos sofisticada e um espectro de vantagens comparativas muito mais limitado e menos versátil que nos países escandinavos.

Por trás dessa nossa tradição cultural e econômica está a raiz política: a

(22)

Para entender melhor as conseqüências de tal tradição, cabe fazer um

retrospecto histórico, relativo principalmente à região da Mata Atlântica29, onde se

concentrou o desenvolvimento do País até poucas décadas atrás.

Vale a pena lembrar a diferença essencial entre a floresta tropical da

América do Sul (por exemplo) e as florestas temperadas e pouco diversificadas

-da América do Norte e -da Europa. A primeira constitui um ecossistema dotado de

incomparavelmente maior diversidade, complexidade e originalidade. Por isso, a sua destruição é um dano incalculável e irreversível. Ou seja, ela não pode ser

reconstituída (enquanto a floresta temperada, muito mais simples, pode sê-lo).

O complexo da Mata Atlântica, mais ou menos na época do Descobrimento, "interiorizava-se até cerca de cem quilômetros da costa, no norte, e alargava-se a mais de quinhentos quilômetros, no sul. No total, a floresta cobria cerca de 1 milhão de quilômetros quadrados". 30

Se considerarmos a nossa herança colonial, até fins do século XVIII as

necessidades de uso da Mata Atlântica foram poucas, mas devastadoras. Havia a atividade de extração, de pau-brasil ou madeira para construção naval (e outros

tipos de construção); a agricultura de mercado interno, itinerante e de base familiar; e, principalmente, a agricultura de exportação, à base da grande

propriedade (açúcar, algodão, fumo).

Como o método usado era geralmente de "derrubada e queimada" da

floresta, para muitos contemporâneos tratava-se de "agricultura bárbara". E, por isso, Saint Hilaire, no começo do século XIX, já falava da "necessidade imperiosa"

de modificar o regime agrícola.31

A emergência do predomínio da economia do café passou a significar demandas crescentes e múltiplas sobre a floresta.

De um lado, a própria economia do café se baseava numa agricultura de

grandes propriedades - em terras públicas, obtidas através de sesmarias ou sem

titulação -, predatória e itinerante. No estado do Rio, o café era plantado nas

22

(23)

---encostas cobertas pela Mata Atlântica, pois se julgava necessário solo coberto por floresta "virgem". Continuava a "derrubada e queimada".

Interessava apenas a quantidade produzida: produtividade ou qualidade não importavam. Por isso, o mercado de destino era principalmente o americano, onde havia menor concorrência.

Como é sabido, a ferrovia levou o café para o interior, e principalmente para o Oeste paulista.

De outro lado, manifestavam-se as demandas das atividades complementares: ferrovias (lenha para queimar e dormentes), indústria (combustível, construções), produção de alimentos (mais terras e mais derrubadas), urbanização (construção civil, carvão e lenha).

Isso não significa que não houvesse nenhuma corrente, por assim dizer, "conservacionista" no Brasil. Desde a vinda da família real portuguesa, e ao longo de todo o século XIX e início do século

xx,

destacou-se a atividades dos naturalistas, tanto estrangeiros como brasileiros(*). O apoio da coroa portuguesa tinha objetivo bem definido: descobrir novas culturas, que pudessem representar novas correntes de exportação. Por sua própria iniciativa, os naturalistas passaram a assumir posições conservacionistas. Mas isso não impediu que continuasse a tradição de uso extensivo e predatório dos recursos naturais.

Entre 1930 e 1980, segundo já referido, teve lugar a construção, no Brasil, de uma grande economia industrial, com aceleração do crescimento, principalmente a partir dos anos 50. Essa industrialização rápida verificar-se-á, a maior parte do tempo, ainda dentro dos padrões de utilização extensiva dos recursos naturais e de desatenção às conseqüências ambientais. F oi ela acompanhada de substancial expansão da Agropecuária, da Infra-estrutura (principalmente Energia e Transporte Rodoviário), explosão da urbanização e

(24)

explosão demográfica (a população passou de cerca de 35 milhões de habitantes em 1930 para 119 milhões em 1980).

E trouxe um salto nas múltiplas demandas exercidas sobre a floresta, os recursos naturais e o meio ambiente, em geral. Demandas principalmente em termos de energia e combustível (lenha e carvão vegetal, por várias décadas), matérias primas da floresta e da produção agropecuária e mineral, espaço para urbanização, área para plantio, exportação direta (de madeira e minérios).

Para citar algumas distorções: "Estima-se que, em 1948, lenha e carvão vegetal representavam WセQッ@ de toda a energia consumida no Brasil,,33 (a despeito do avanço da hidroeletricidade). O aumento da produção agrícola, até o início dos anos 60, foi essencialmente através da expansão de área, realizada por programas privados de colonização no Paraná e em Mato Grosso, e pela simples ocupação de terras, em todas as frentes de deslocamento da fronteira agrícola(·) , facilitada pela expansão do sistema rodoviário. A exportação de pinho acelerou grandemente a destruição da araucária nativa, no Paraná e Santa Catarina.

A partir de fins dos anos 50, a expansão da hidroeletricidade; juntamente com o aumento do consumo de petróleo, mudou a matriz energética, reduzindo o uso da madeira como fonte de energia. Depois de 64, e principalmente nos anos 70, manifestou-se, de diversas formas, certo aumento da aplicação de tecnologia (e ciência) ao uso dos recursos naturais.

De um lado, deslanchou o processo de modernização da Agricultura, que veio, nos estabelecimentos médios e grandes, a representar a afirmação do modelo de complexos agro-industriais. Foi ela intensa nas regiões Sudeste e Sul (e nos espaços de lavouras de exportação do Centro-Oeste e da Zona da Mata nordestina). Mas era muito desigual: "Em 1980, três quartos das unidades

(.) Mesmo após o avanço da modernização na Agricultura, continuou o aumento de área. Entre 1950 e 1980, a área dos estabelecimentos agrícolas praticamente dobrou (aumento

de 1,7 milhão de km2).

(25)

produtivas rurais do Brasil só dispunham de meios manuais de produção, como a

enxada, o facão, a foice e o machado". 34

Tal modernização permitiu a viabilização do cultivo racional da região dos "cerrados", em Goiás e Mato Grosso (calagem, fertilizantes), a partir dos anos 70.

Na mesma época, acelerou-se o crescimento do setor industrial de Insumos Básicos (Siderurgia, Petroquímica, Metais Não Ferrosos, Celulose e Papel), que veio a tomar-se a grande prioridade do Programa de Investimentos do II PND Guntamente com Energia e Bens de Capital), a partir de 1975, e a constituir a categoria de maior importância das nossas exportações, depois de meados dos anos 80.

Mas, ao mesmo tempo, passavam a tomar-se críticos os problemas ambientais trazidos pelo tradicional padrão de desenvolvimento, pelo menos até o início da década de 70.

Na Indústria, o problema principal era representado pelos escassos

elementos tecnológicos de tratamento, reciclagem e processamento. 34

N a Agricultura, certos aspectos ecológicos e ambientais não eram percebidos em toda a sua dimensão. "A utilização crescente de adubos químicos e agrotóxicos, a intensa e concentrada mecanização e as extensas monoculturas voltadas para o mercado externo causavam a erosão e a degradação de terras agrícolas, assim como sérios impactos sobre os recursos florestais, sobre os rios e os lagos, e sobre o equilíbrio biológico de pragas e doenças. Por último, em algumas áreas que foram alvo de programas públicos de irrigação, o manejo inadequado da tecnologia levou a sérios problemas ambientais, com destaque para

a lixiviação de produtos químicos e a salinização de solos agricultáveis. ,,34

o

ecossistema urbano foi o maior prejudicado pela Indústria,

concentrada nas regiões metropolitanas e principalmente na Grande São Paulo. Por outro lado, a acumulação da pobreza em guetos (favelas e outros aglomerados

(26)

subnormais), desprovidos de serviços de saneamento básico, tinha conseqüências

óbvias (poluição de mananciais, desmatamento).

Se considerarmos as regiões-problema, cabe destaque à Amazônia, que passou a sofrer os efeitos dos grandes projetos agropecuários incentivados e da

abertura da fronteira agrícola, facilitada pela construção de rodovias. O desmatamento conseqüente teve os efeitos negativos conhecidos: impacto de

chuvas torrenciais sobre as áreas desmatadas (lixiviação, erosão hídrica, perda de

materiais do solo); perda de biodiversidade; e contribuição para o processo de aquecimento global.

Tal situação provocou uma reação, no País, a partir do início dos anos 70, no bojo do movimento ambientalista mundial.

Na Conferência de Estocolmo (em 1972), a posição brasileira foi de reconhecimento da importância da questão ambiental, mas caracterizando a maior responsabilidade dos desenvolvidos pelo problema do aquecimento global, e

denunciando o fato de que, em países subdesenvolvidos, a pobreza, desassistida de serviços básicos, também constitui fonte de problemas ambientais.

Em 1974, 011 PND, explicitamente, definiu, pela primeira vez em plano de governo, no País, uma política de "desenvolvimento urbano (com prioridade

para transportes coletivos, uso de solo, zoneamento urbano, saneamento e outros equipamentos sociais), controle da poluição e preservação do meio-ambiente. ,,35

A Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) e o Instituto

Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (lBDF) puderam, a partir daí, dispor de instrumentos para coordenar uma ação nacional nas duas últimas áreas. Seguiu-se

a aprovação de legislações de controle da poluição em vários estados. E o governo federal, através de resolução do CDE, chegou a proibir qualquer órgão federal de aprovar projetos industriais para a Grande São Paulo.

A situação hoje apresenta aspectos favoráveis e desfavoráveis, após

(27)

A poluição urbana mudou de natureza: as indústrias com alto potencial poluidor (como Petroquímica e Celulose-Papel) passaram a observar requisitos satisfatórios de controle de poluição. Por isso, a maior responsabilidade pela poluição urbana passou a ser do uso do automóvel (veículos, em geral) e da carência de saneamento básico (principalmente rede de esgotos) e adequada disposição de lixo.

Permanece, em geral, a limitada aplicação de ciência e tecnologia ao desenvolvimento de recursos naturais, com objetivo de preservação e aumento da

densidade econômica, na linha de um "modelo escandinavo". Evidência disso é,

por exemplo, sermos ainda fracos na exportação de Indústrias Alimentícias.

Os problemas ambientais da Amazônia continuam a agravar-se, por estarem ainda fora de controle, a despeito dos esforços realizados pelo Governo, o desmatamento e a queimada. As políticas em curso não parecem revelar uma visão clara de saber-se o que fazer da Amazônia (assim como da região semi-árida do Nordeste).

A terceira tradicão cultural:

ª

pouca integrnção entre

ª

Universidade セ@

º

desenvolvimento econômico セ@ social.

A abertura econômica e a globalização tomaram imperativo que a

mmona das empresas, principalmente nos setores de tradeables, faça

permanentemente o acompanhamento da fronteira mundial de tecnologia. Do contrário, estão condenadas a perder participação de mercado e a verem desfazer-se sua capacidade competitiva.

Nas circunstâncias atuais, há dois obstáculos a superar, na situação brasileira.

(28)

interno): pouca atenção à tecnologia de processo, tecnologia de produto, design (para adaptar e melhorar a tecnologia adquirida).

Ou hesitantes ante as dificuldades para obter a tecnologia mais recente, principalmente em áreas de complexos industriais de novas tecnologias (como Eletrônica-Informática, Comunicações e Bens de Capital sofisticados). Dificuldades só superáveis, muitas vezes, através de alianças estratégicas ou investimentos na Europa e nos Estados Unidos (para participar de empresas de

venture capital ou adquirir pequenas empresas, detentoras de determinadas

tecnologias).

É também provável que, como ocorre em grande número de casos, as

empresas tenham pouca inclinação para recorrer a parcerias ou obter consultoria de institutos de pesquisa tecnológica, no País, ou, em geral, de universidades. Nosso sistema industrial tende a demandar pouco do sistema nacional de desenvolvimento científico e tecnológico.

De outro lado, o Governo realiza grande gasto na área de ciência e tecnologia (C&T): algo superior a 1% do Pffi (se consideradas as despesas com dedicação exclusiva de professores, nas universidades federais).36 Isso é bem mais

do que gasta a Coréia (0,3%, com recursos públicos).

Mas - e isso constitui o segundo obstáculo a superar -, salvo na área de Agricultura (com destaque para a EMBRAP A), as universidades públicas

brasileiras e os institutos de pesquisa (com certas exceções

i*)

não vinham, até

pouco tempo, mostrando tendência a muita receptividade às necessidades do nosso desenvolvimento econômico e social, e, em particular, a fazer parcerias ou dar consultoria a empresas industriais. Têm elas um grande número de centros de excelência (talvez uns 80), que geralmente fazem pesquisa. Mas seus programas,

(*) Bons exemplos são os Institutos de Tecnologia em setores de Infra-estrutura, na UFRJ, financiados por empresas estatais; o Centro de Tecnologia de Comunicações, junto à UNICAMP, financiado pela TELEBRÁS; o Instituto Paulista de Tecnologia; o Centro Tecnológico Aeroespacial, do Ministério da Aeronáutica; o Instituto Oswaldo Cruz, do Ministério da Saúde; e alguns outros.

(29)

freqüentemente, estão ligados a suas próprias prioridades, e muitas vezes não têm

foco, ou seja, são prioridades pouco definidas. E seus pesquisadores são proibidos,

pelos regulamentos universitários, de dar consulta às empresas, diferentemente da experiência dos Estados Unidos. Em síntese: a Universidade não tem maior

contato com as empresas e está sujeita a normas que não deixam que seus pesquisadores o tenham.

Para entender o fenômeno, temos de fazer uma certa reconstituição

histórica.

Na segunda metade do século XIX e primeiras duas décadas deste século, o Brasil ainda era um país sem universidades. E nas poucas faculdades que

havia, muito importantes para a formação de profissionais liberais, praticamente

não existia atividade de pesquisa. Por isso, talvez se possa falar em pesquisa para o desenvolvimento, naquele período, apenas a propósito do trabalho dos naturalistas (em instituições como o Jardim Botânico do Rio de Janeiro) e de

órgãos como o Instituto Oswaldo Cruz (Manguinhos).

No período citado, duas culturas se manifestaram, no País. De um lado,

a cultura mais bacharelesca e livresca (tradicionalmente tida como despreocupada com o país "real"), ligada principalmente aos egressos das faculdades de direito.

De outro, aquela resultante do "bando de idéias novas" (na expressão famosa), dominadas pelas tendências positivista e evolucionista, que surgiram na

segunda metade do século passado ("Positivismo, evolucionismo, darwinismo, crítica religiosa, naturalismo, cientificismo na poesia e no romance, folk-Iore,

novos processos de crítica e de história literária, transformação da intuição do

direito e da política, tudo então se agitou e o brado de alarme partiu da escola do Recife"i7. Ligava-se esta segunda cultura principalmente aos egressos da Escola

Militar e das faculdades de engenharia civil e de medicina.

(30)

(militares-engenheiros, engenheiros civis, engenheiros de minas, médicos). Mas delas não surgiu uma atividade de pesquisa significativa.

Talvez se deva fazer referência a uma linhagem especial de escritores, voltada para a interpretação do Brasil e o conhecimento de nossa realidade econômico-social-política. Linhagem que remonta a Tavares Bastos, Silvio Romero, Euclides da Cunha, Alberto Torres, Manoel Bonfim, Paulo Prado, Vicente Licínio Cardoso, Oliveira Vianna. E muitos outros. E que iria culminar, nos anos 30, com os "inventores do Brasil": Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior.

A partir dos anos 30, passou a estabelecer-se, no País, o grande sistema de universidades públicas (e privadas, como as PUCs), que, crescentemente, começaram a desenvolver atividades de pesquisa científica e tecnológica, nos centros de excelência e institutos de pesquisa. Grande impulso recebeu esse esforço, a partir dos anos 70, com a criação do sistema nacional de centros de pós-graduação e do Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (SNDCT).

Mas, a despeito desse progresso na área de pesquisa, o sistema de universidades públicas, que absorve de 75 a 80% do orçamento próprio do Ministério da Educação, tendeu a ficar condicionado a uma tradição cultural que -com as exceções referidas - não estimulava muito a articulação -com o mundo da produção industrial e com os problemas do desenvolvimento, em geral.

Era como se a autonomia universitária e a autonomia de pesquisa se sentissem ameaçadas por parcerias com empresas. Por isso, até hoje as

universidades públicas são financiadas em praticamente 100010 com recursos do

Tesouro. Não há, como nos Estados Unidos, grande número de projetos de interesse das empresas, ou do setor público, financiados com recursos de outras fontes.

(31)

Enquanto isso, desenvolvia-se rapidamente o outro sistema - o mundo

das empresas. Este, por sua vez, era também muito voltado para si mesmo, para

comprar tecnologia do Exterior (empresas nacionais) ou recebê-la de suas matrizes (subsidiárias de empresas estrangeiras).(*)

Era como se não confiasse muito na capacidade ou disposição do sistema universitário, de resolver seus problemas, ajudando na absorção e adaptação de tecnologia. Ou na transferência de tecnologia, em certos casos, quando o instituto de pesquisa estivesse mais conectado à matriz tecnológica internacional.

Esse quadro de limitada integração entre Universidade e Indústria mudou um pouco a partir de quando, nos anos 70, o Governo federal resolveu construir o referido SNDCT, constituído do CNPq (órgão central), FINEP (órgão

tinanciador) e institutos e centros de pesquisa das universidades. As exceções

aumentaram, mas a relação ainda não se modificou substancialmente, como já

explicado. É como se continuasse faltando um sistema de "extensão industrial".

Por isso, as dezenas de centros de excelência existentes nas universidades ainda não desempenham papel importante no desenvolvimento. E a maioria dos pós-graduados no Exterior vai para o governo e universidades, e apenas pequena parcela para as empresas (80/0, segundo levantamento da segunda metade da década passada).

Nos últimos anos, as COlsas começaram a modificar-se. Várias

iniciativas novas, com sentido de integração, passaram a ocorrer, por exemplo, na USP e outras universidades no estado de São Paulo. E o Ministério da Ciência e Tecnologia tem procurado envolver o SNDCT no problema do fortalecimento da competitividade da Indústria Nacional. Importante, igualmente, tem sido o esforço

(*) As empresas estatais é que revelavam certa disposição para fazer a ponte com a

(32)

da FINEP, de desenvolver o espírito de parceria, tanto do lado das instituições de pesquisa como do das empresas.

A CONSTRUÇÃO DO MODELO DE "ESPECIALIZAÇÕES AVANÇADAS" E SEUS PROJETOS ESTRATÉGICOS

o

retrospecto das distorções observadas nos anteriores modelos de desenvolvimento mostrou a falta de compromisso político com a valorização dos principais fatores de produção, como resultado de tradições culturais e econômicas, às vezes bastante antigas, ligadas a raízes políticas.

Para reverter tais tendências e permitir dotar o País de uma forte base de fatores de produção modernos(·) e versáteis, propôs-se uma visão estratégica de 20 anos, para construção de um MODELO DE "ESPECIALIZAÇÕES AVANÇADAS", na concepção de Hicks. Tal modelo permitiria ao Brasil tomar versáteis, e mais diversificadas, as suas vantagens comparativas dinâmicas, ou seja, ter condições de estar continuamente evoluindo para novos tipos de especializações. E, mais, adquirir competitividade em linhas de produtos que viabilizem significativa participação nas exportações dinâmicas mundiais.

Para efeito de implementação, o modelo pode ser desdobrado em três componentes básicos, a saber:

- Projeto estratégico I: Desenvolvimento acelerado de capital humano

- Projeto estratégico 11: Desenvolvimento de recursos naturais, pela maior aplicacão de Ciência セ@ Tecnologia (num contexto de desenvolvimento

sustentável).

- Projeto estratégico 111: Maior domínio da tecnologia moderna, pela melhor integração da Universidade com

º

desenvolvimento econômico セ@ social.

(*) Modernos porque impregnados de conhecimento.

(33)

Desenvolvimento acelerado do capital humano

o

objetivo básico desse Projeto I é dar ao desenvolvimento brasileiro alto conteúdo de capital humano, segundo a classificação do Relatório sobre Desenvolvimento Humano, da ONU (PNUD) (que, como visto, nos coloca atualmente entre os países de baixo desenvolvimento de capital humano, juntamente com as nações de mais baixo nível de renda per capita da América Latina). A conseqüência imediata é a elevada prioridade a ser conferida à Educação e Saúde-Saneamento.

Aquele alto conteúdo se toma indispensável, mesmo do ponto de vista econômico, pela centralidade do capital humano no desenvolvimento moderno. Principalmente por duas realidades.

A primeira é que, como sabido, o novo paradigma industrial e tecnológico (à base principalmente da Eletrônica-Informática e das Comunicações, apoiadas em novos métodos de management) exige que toda a força de trabalho

tenha agora um perfil educacional muito mais elevado, para absorver as aptidões representativas dos códigos da modernidade: capacidade de raciocinar, comunicar-se, resolver problemas, assumir iniciativas, reeducar-se permanentemente. A exclusão, de que tanto se fala a propósito da globalização, tem sido associada à não participação no "processo de inteligência coletiva,,38 (contato razoável com as tecnologias modernas).

A outra realidade é a tendência crescente, nas indústrias e seTV1ços modernos, à preponderância das atividades intensivas em conhecimento (o

soft ... tlare, em sentido lato) sobre o uso de máquinas e equipamentos (hardware)39.

O comando do processo produtivo é, cada vez mais, da elaboração intelectual, aplicada a todos os estágios (concepção do produto, design, marketing,

distribuição), e freqüentemente não incorporada ao capital fisico.

(34)

o

primeiro corresponde à elevacão do nível de escolaridade geral e, particulannente, do da População Economicamente Ativa (PEA).

No primeiro caso, ao longo das próximas duas décadas, deve-se evoluir do objetivo de universalizar o ensino fundamental (primeiros 8 anos) para universalizar até o nível do ensino médio (primeiros 11 anos). No tocante à PEA, a meta deverá ser de elevar o seu grau de escolarização média, dos atuais quatro anos para a ordem de 11 a 12 anos (nível atual dos desenvolvidos da faixa inferior).

o

segundo ponto refere-se à excelência da Educacão, em bases

internacionais modernas. Ou seja, o Brasil precisa ter não apenas uma Educação de boa qualidade, pelos nossos padrões, mas uma Educação de qualidade

comparável à dos países desenvolvidos. É a idéia do domínio do conhecimento

(creative catching-up), aplicada à Educação.

Isso implica a reforma do Modelo de Educação no Brasil - desde o pré-primário até o nível superior e de pós-graduação -, para ter garantia de dispor de uma Educação que nos prepare para os desafios do século XXI.

Em verdade, a Coréia, antes mesmo de tomar-se um país industrialmente avançado, fez sua revolução educacional, quantitativa e qualitativamente, em menos de 20 anos. Singapura funciona principalmente com indústrias de alta tecnologia. Há pouco tempo, a Costa Rica conseguiu desviar, do Brasil e México, para seu território, a opção da INTEL, de implantar um gigantesco projeto de produção de processadores, mostrando, entre outros fatores,

dispor de uma força de trabalho capaz de lidar com Informática. 40

Importa lembrar que aquela Educação moderna, de qualidade internacional, significa incorporar advertências no sentido de, no futuro, as escolas não poderem funcionar como linhas de produção - segundo acontece mesmo nos países desenvolvidos -, ministrando um ensino burocrático e repetitivo, desprovido dos códigos da modernidade antes referidos. Significa, igualmente,

(35)

que boa parte da Educação vai ocorrer fora da escola: na residência (ligada a redes de computadores) e na mídia (que não pode ser ignorada pelo sistema educacional). 41

o

terceiro ponto exige eficiência na Educação. Isso implica a mudança

do modelo de gestão no setor - mesmo nas escolas públicas -, do atual padrão burocrático, para um padrão gerencial: flexível, atento ao aluno, voltado para resultados, controle de custos, etc. E implica também a tendência a que Educação e Saúde sejam prestadas principalmente em novos tipos de instituições: organizações sociais (entidade públicas mas não governamentais), universidades autônomas (com o núcleo básico financiado pelo Estado, mas realizando parcerias com o setor privado), instituições sem finalidade lucrativa.

o

quarto ponto significa Educação com valores.

No chamado modelo neoplatônico de Educação, a preparação para a

vida ativa se situa num contexto filosófico global.42 Mais especificamente, numa

visão humanista moderna, que, partindo da origem Iluminista(·), realize a

integração da cultura da razão com a cultura da emoção e da sensibilidade. 43

Assim, quando falamos em capital humano, não estamos vendo os recursos humanos apenas como fator de produção, mas como um investimento realizado pelo País, no seu futuro econômico, social, político, cultural, ético, espiritual.

Desenvolvimento de recursos naturais, pela m8.1or aplicação de Ciência セ@

Tecnologia (num contexto de desenvolvimento sustentável).

o

objetivo fundamental do Projeto 11 é passar do padrão de uso

extensivo e predatório dos recursos naturais do País, considerados superabundantes, para um padrão semelhante ao dos países escandinavos.

Referências

Documentos relacionados

Corograpliiu, Col de Estados de Geografia Humana e Regional; Instituto de A lta C ultura; Centro da Estudos Geográficos da Faculdade de Letras de Lisboa.. RODRIGUES,

O padre veio para eles e abraçou-se também, subitamente perturbado por uma analogia, assim dissera o italiano, Deus ele próprio, Baltasar seu filho, Blimunda

[r]

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

Analysis of relief and toponymy of the landscape based on the interpretation of the military topographic survey: Altimetry, Hypsometry, Hydrography, Slopes, Solar orientation,

O segundo Beneficiário será designado pelo Segurado na Proposta de Adesão, podendo ser substituído a qualquer tempo, mediante solicitação formal assinada pelo próprio Segurado, para

Um outro sistema robótico do tipo rodas, figura 10, é utilizado para inspecionar e limpar a superfície interna de dutos de concreto (Saenz, Elkmann, Stuerze, Kutzner, &

Com o objetivo de compreender como se efetivou a participação das educadoras - Maria Zuíla e Silva Moraes; Minerva Diaz de Sá Barreto - na criação dos diversos