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O processo de construção da identidade do profissional Perito Criminal Federal

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Academic year: 2017

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O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO

PROFISSIONAL PERITO CRIMINAL FEDERAL

Dissertação para obtenção do grau de mestre apresentada à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE/FGV)

Orientador:

Prof.Dr.Ricardo Lopes Cardoso

Co-Orientador:

Prof. Dr. Vicente Riccio

RIO DE JANEIRO

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MÁRCIA AlI(O TSUNODA

GETULIO VARGAS

o PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA IJ)I�NTIJ)ADI<: 1)0 I'ROFISSIONAL

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Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração Pllblica da Escola Brasileira de Administração I>ública c ele Empresas para obtenção do grau de Mestre em Administração Pública.

I)ata da delesa: 29/12/20 II

Aprovada cm: 29/12/20 II

ASSINATURA DOS MI�MBR()S IM HANCA I�XAMINAI)ORA

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Ricardo Lopcs Cardoso

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Pela presença de Deus em meu coração, acalentando-me nos momentos mais difíceis.

Aos meus pais, pelo amor, força e incentivo incondicionais, e pelo ensinamento primordial, de que a educação, o conhecimento, é a maior herança que poderiam me deixar.

Ao Perito Criminal Federal Dr. Hélvio Pereira Peixoto, visionário e desbravador, que vislumbrou para os Peritos Criminais a oportunidade, e incentivou-nos à realização desta empreitada acadêmica.

Ao Professor Dr. Vicente Riccio, pela sábia orientação, atuando com toda sua capacidade e visão para viabilizar esta pesquisa. Sem a sua orientação e otimismo, este trabalho não teria sido concluído.

Ao Perito Criminal Federal Felipe Gonçalves Murga, pelo apoio e pela contribuição extremamente agregadora.

Aos meus irmãos e a todos meus amigos e amigas mais próximos, pelo apoio psicológico, logístico, pelas sugestões, e principalmente pelo companheirismo e amor.

Aos meus amigos de curso, pelas tão divertidas aulas, eventos, corridas de kart e emails, cujo carinho e alegria dispensados foram imensamente

importantes na superação das adversidades do mestrado.

A todo o corpo docente, por toda paciência e pelos ensinamentos transmitidos, que contribuíram para o nosso enriquecimento intelectual e profissional.

A todos os funcionários da EBAPE/FGV, que cuidadosamente nos apoiaram.

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RESUMO

Segundo o Código de Processo Penal brasileiro, a Perícia é imprescindível, e não pode ser substituída pela confissão do acusado, nos crimes que deixem vestígios. Esta pesquisa inicia um estudo acerca da construção da identidade profissional do Perito Criminal Federal, o Perito que atua no âmbito da Polícia Federal no Brasil. A abordagem acadêmica foi adotada no sentido de serem identificadas as principais questões que contribuem na construção da identidade desse profissional. O objetivo principal do trabalho é o reconhecimento pelo Perito Criminal Federal do seu papel para a sociedade, de modo que se vislumbrem iniciativas que possam incentivar a busca de melhorias, de aprimoramento na formação e evolução dos profissionais, beneficiando não apenas a motivação e satisfação profissional, mas, sobretudo, a resposta que este produz para a sociedade. O resultado da pesquisa revelou que sua identidade, como a de qualquer profissional, está em constante metamorfose, e sofre a influência de sua história e verdades individuais e das influências do ambiente social e profissional. O estudo demonstrou que existem lacunas a serem preenchidas na visão do próprio profissional com relação ao retorno quanto ao resultado efetivo do seu trabalho, além da preocupação com o equilíbrio entre quantidade e qualidade na produção de Laudos Periciais Criminais. Observou-se ainda a existência de um ambiente organizacional desfavorável quanto ao cumprimento de leis e recomendações, internacionais e nacionais, que preconizam a necessidade de autonomia para a realização do trabalho pericial, de forma a garantir a prova isenta e neutra em busca da justiça. Também ficou nítida a necessidade de maior comunicação e discussão interna acerca da visão de futuro da profissão. É primordial para a efetivação de uma sociedade democrática, que respeita os direitos humanos e zela pela segurança pública, uma Perícia Criminal Federal consciente de sua identidade, efetiva, que possa atuar com motivação, celeridade e qualidade em prol da justiça para os cidadãos brasileiros.

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According to the Criminal Processual Code of Brazil, the crime scene investigation is essential, and can not be replaced by the confession of the accused in the crimes that leave evidences. This research begins a study on the construction of professional identity of the Perito Criminal Federal, the expert that acts within the Federal Police in Brazil. The academic approach was adopted in order to identify the main issues that contribute to building this professional identity. The main objective of this work is the recognition of their own role in society, and based on this information, to find initiatives that could encourage the search for improvement, better training and development of the professionals, benefiting not only the motivation and job satisfaction of the Perito Criminal Federal, but mainly, the improvement in the response it produces for society. The study results revealed that his identity, like any professional, is in constant metamorphosis, and is influenced by his individual history and realities, and by environmental social and professional influences. The study showed that there are gaps to be filled in the view of the professional related to the feedback of his work, beyond the concern with the quantity versus quality in the production of his Reports. We also observed the existence of an organizational environment disfavorable for the enforcement of international and national law and recommendations, that stipulates the need for autonomy in forensic scientists job, to ensure impartial and neutral evidence examination in search of justice. It also became clear the need for greater communication and internal discussion about the vision of the future. It is essential for the realization of a democratic society that respects human rights and ensure the public safety, a Perito Criminal Federal that is aware of his identity, that can act effectively, with motivation, agility and quality, for the justice for Brazilian citizens.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABC – Associação Brasileira de Criminalística AMB – Associação dos Magistrados Brasileiros CIGE – Centro Integrado de Gestão Estratégica COF – Coordenação de Orçamento e Finanças COGER – Corregedoria-Geral de Polícia Federal

CONSEG – Conferência Nacional de Segurança Pública CSI – Crime Scene Investigation

DITEC – Diretoria Técnico-Científica DNA – Ácido Desoxirribonucleico (ADN)

IBOPE – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística INC – Instituto Nacional de Criminalística

NUTEC – Núcleo Técnico-Científico ONU – Organização das Nações Unidas PAD – Processo Administrativo Disciplinar PCF – Perito Criminal Federal

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1 INTRODUÇÃO ... 1

2 CONTEXTUALIZAÇÃO:APERÍCIANAPOLÍCIAFEDERAL ... 12

3 APESQUISA ... 25

4 CONCLUSÃO ... 61

APÊNDICES ... 71

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INTRODUÇÃO

1.1 APERÍCIA E A SEGURANÇA PÚBLICA

Onde quer que pise, tudo que toque, tudo que deixe, até mesmo inconscientemente, servirá como evidência silenciosa contra ele. Não só suas impressões digitais ou pegadas, mas também o seu cabelo, as fibras das roupas, o copo que ele quebra, a marca de ferramenta que ele deixa, a pintura que ele arranha, o sangue ou sêmen que ele deposita ou coleta - todos estes e outros são testemunhas ocultas contra ele. Esta é a evidência que não se esquece. Não fica confusa pela excitação do momento. Não é ausente, porque testemunhas humanas são. É a evidência efetiva. Evidência física não pode estar equivocada; não pode se perjurar; não pode estar completamente ausente. Só a sua interpretação poderia estar errada. Só o fracasso humano em encontrá-la, estudá-la e entendê-la pode diminuir o seu valor (PAUL KIRK).

Em caso amplamente divulgado na mídia nacional e internacional (a morte de uma menina de 5 anos de idade, jogada pela janela do apartamento pelo próprio pai), o pai e a madastra de Isabella Oliveira Nardoni foram considerados, por júri popular, na madrugada do dia 27 de março de 2010, culpados por homicídio triplamente qualificado: pelo fato de a menina ter sido asfixiada (meio considerado cruel), por estar inconsciente ao cair da janela sem chance de defesa, e por alteração do local do crime, ou seja, fraude processual.

Cerca de dois anos antes, na noite do dia 29 de março de 2008, Isabella Nardoni foi encontrada ferida, após ter sido jogada do sexto andar do edifício London, prédio residencial da Zona Norte de São Paulo. A menina morava com a mãe e passava alguns dias com o pai, dono do apartamento, que ali vivia com a madrasta e dois filhos do casal.

O crime aconteceu à noite, após o casal, os filhos e Isabella retornarem de um supermercado. O casal Nardoni e Jatobá afirmava que uma terceira pessoa, nunca identificada, teria invadido o local e jogado a menina pela janela. Nardoni teria, nesta versão, deixado a garota no quarto do apartamento e retornado ao carro para ajudar a mulher a levar os dois filhos pequenos do casal.

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janela do sexto andar. Provou ainda que não houve a presença da tal terceira pessoa no apartamento, na noite da morte de Isabella1.

O exame minucioso do local de crime trouxe à tona, por exemplo, manchas de sangue que haviam sido limpas e marcas da tela de proteção da janela, imperceptíveis a olho nu, na camiseta do pai da menina. Também os exames necroscópicos no corpo de Isabella e a reprodução simulada dos fatos colaboraram na montagem do quebra-cabeça da cena do crime.

O caso, que causou grande comoção e repercussão, demonstrou a importância do trabalho pericial no levantamento de provas e na elucidação de um crime.

O resultado do julgamento pelo júri popular foi a prisão de Alexandre e Anna. Em quase dois anos presos, eles nunca confessaram ter matado Isabella e nem se acusaram mutuamente pelo crime.

Alexandre Nardoni foi condenado a 31 anos, 1 mês e 10 dias, pelo agravante de ser pai de Isabella, e Anna Carolina Jatobá, a 26 anos e 8 meses, ambos em regime fechado. Pela fraude processual, devem cumprir 8 meses e 24 dias, em regime semi-aberto. Por decisão do juiz, eles não poderão recorrer da sentença em liberdade, para garantia da ordem pública.

No mês de junho de 2010, foi divulgada pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) sobre os problemas sociais que mais preocupam os brasileiros. Os dados mostram que a segurança pública aparece em segundo lugar, com 42 % das opiniões, perdendo apenas para a saúde pública, que aparece com 66 %.

Em outra pesquisa, de 2008, do mesmo Instituto, os resultados mostram um quadro bem crítico, uma vez que a situação da segurança pública é avaliada como ruim ou péssima por 53 % da população (tendo sido considerada ótima ou boa por 18 %, e regular por 29 %).

Na mesma pesquisa, o aspecto apontado como mais importante pela população para melhorar a segurança foi o combate ao tráfico de drogas (46 %),

1 Informações extraídas de diversos jornais: Rigi, Camilla; Silvia Ribeiro. "Alexandre Nardoni e Anna

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seguido pelo combate à corrupção na polícia (34 %), pelo reforço do policiamento (33 %) e pela adoção de leis mais rigorosas para punir os infratores (35 %).

No período de 27 a 30 de agosto de 2009, em Brasília, ocorreu a 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (CONSEG), evento que objetivou definir princípios e diretrizes orientadoras da Política Nacional de Segurança Pública, com participação da sociedade civil, trabalhadores da área de segurança pública e poder público, visando efetivar a segurança como direito fundamental, como preceitua a Constituição Federal, consolidando instrumentos de participação social no âmbito da segurança pública.

Segundo a análise realizada na 1ª CONSEG, que contou com a participação de aproximadamente três mil pessoas, representando as 27 Unidades da Federação, a segunda diretriz mais votada, de um total de 40 diretrizes prioritárias, foi:

Promover a autonomia e a modernização dos órgãos periciais criminais, por meio de orçamento próprio, como forma de incrementar sua estruturação, assegurando a produção isenta e qualificada da prova material, bem como o princípio da ampla defesa e do contraditório e o respeito aos direitos humanos <http://www.conseg.gov.br>.

Esta diretriz comprova a preocupação da sociedade brasileira acerca da garantia de neutralidade na realização dos exames e a garantia de boas condições de trabalho para que a perícia produza prova material de qualidade e comprometida com a verdade.

Cabe ressaltar que, com relação ao quantitativo de Peritos Criminais, atualmente, o Brasil tem, ao todo, 6,5 mil peritos, segundo a Associação Brasileira de Criminalística (ABC). Na Polícia Federal, são 1.109 Peritos Criminais Federais na ativa. Para seguir as determinações da Organização das Nações Unidas (ONU), que prevê a proporção de 1 perito para cada 5 mil habitantes, seria necessário quintuplicar o número desses profissionais no país2.

Neste contexto da importância dos órgãos periciais criminais no âmbito da segurança pública nacional, este trabalho inicia uma reflexão acerca deste

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profissional atuante no processo de persecução penal criminal, o Perito Criminal Federal.

Neste capítulo será realizada a introdução ao tema deste trabalho, “O processo de construção da identidade do profissional Perito Criminal Federal”, a explicação de seus objetivos, sua delimitação e a relevância do estudo proposto.

1.2 CONCEITUANDO A IDENTIDADE

O cerne deste estudo trata da identidade. Originária do latim identitate,

a palavra possui, na língua portuguesa, diversos significados, conforme listado pelo Dicionário de Língua Portuguesa Michaelis:

1. Qualidade daquilo que é idêntico. 2. Paridade absoluta. 3. Álgebra - Espécie de equação ou de igualdade cujos membros são identicamente os mesmos, ou igualdade que se verifica para todos os valores da incógnita. 4. Direito - Conjunto dos caracteres próprios de uma pessoa, tais como nome, profissão, sexo, impressões digitais, defeitos físicos etc., o qual é considerado exclusivo dela e, consequentemente, considerado, quando ela precisa ser reconhecida. I. pessoal: consciência que uma pessoa tem de si mesma.

O estudo da identidade envolve várias vias teóricas e epistemológicas, havendo uma multiplicidade de caminhos possíveis para seu aprofundamento. Conforme afirmam Carrieri, Paula e Davel (2008) em estudo referente à dimensão do estudo da identidade organizacional, “nosso propósito é captar e chamar a atenção para a complexidade, multidimensionalidade e pluridisciplinaridade inerente a esse campo de pesquisa”.

A identidade pode ser tratada sob o ponto de vista de identidade pessoal, onde estudos como os de Kraus (2000), no campo da psicologia, definem a identidade como um quebra-cabeça montado com peças das diversas realidades vividas por cada pessoa, ou seja, sua identidade seria o reflexo de toda a sua história e aprendizados individuais.

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cada um dos ambientes em que convive, permitindo assim seu posicionamento e visão de si mesmo como parte do universo social. Este conceito de identidade é, portanto, relacional.

Segundo Tajfel (1978) a identidade é “o reconhecimento individual de que se pertence a certos grupos sociais, juntamente com o significado emocional e de valor, para si, de filiação a um grupo”. Da mesma forma, Silva e Nogueira (2000) afirmam que as pessoas captam suas similaridades e discrepâncias com relação aos outros, e encontram a identidade quando se percebem pertencentes a um grupo.

Assim, considerando o ser humano como um indivíduo único (identidade pessoal), que necessariamente convive com outros de sua espécie (abordagem social), a identidade de cada pessoa poderia ser entendida como a soma de toda a sua vivência, história e aprendizados com a visão de si como parte de um universo social.

O presente estudo, porém, aborda a identidade sob mais um prisma: o do indivíduo, que convive com outros, em seu meio de trabalho, profissionalmente.

Em estudo que discute a identidade profissional de médicos, Lima, Hopfer e Souza-Lima (2004) sugerem que a profissão, o ato de trabalhar, é uma das formas de relação do homem com o meio no qual está inserido, sendo que, através dela, o homem pode modificar seu meio e também modificar a si mesmo. O trabalho pode ser, para cada indivíduo, uma forma de realização pessoal, ou uma fonte de disciplina, ou uma forma de garantir sua sobrevivência.

Esta visão de interação entre o ambiente de trabalho e o indivíduo é corroborada por autores como Faria:

[...] a vida organizacional somente pode ser apreendida e analisada de forma interacionista: não é o ambiente que determina o ser da organização e tampouco é o ser da organização que determina o ambiente, mas a relação entre ambos é que determina o que são, como são e por que são (FARIA, 2000).

Em geral, a forma relacional é associada aos estudos da identidade referente às organizações (ALMEIDA, 2005). Segundo este autor, a interação de cada indivíduo com seus pares, dentro da organização, estabelece sua identidade.

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posições pessoais que um ator ocupa, tanto por necessidade como por escolha (OBERWEIS e MUSHENO, 1999).

Reforçando este mesmo conceito, observa-se que o ambiente de trabalho é, segundo Sainsanlieu (1995), “uma verdadeira instituição secundária de socialização, a qual, após a escola e a família, modela atitudes, comportamentos, a ponto de produzir uma identidade profissional e social”.

Todas estas visões da identidade possuem o elo em comum da análise do comportamento do indivíduo ou de um grupo específico. A própria identidade organizacional, como visto, é explicada a partir do comportamento do ser humano dentro da organização. Desta forma, conforme Sainsaulieu (2001), a identidade profissional passa a ser mais representativa do que a identidade organizacional: o indivíduo se baseia no resultado de seu trabalho, nos serviços prestados, focando-se mais em sua carreira do que na relação com a organização. Esta realidade torna-se ainda mais visível quando torna-se leva em consideração a estabilidade no torna-serviço público, que praticamente elimina a preocupação com a perda do emprego.

Como afirmam Codo, Sampaio e Hitomi (1998), atualmente são valorizadas nas organizações a competitividade constante e o atendimento a padrões de qualidade e produtividade, dando-se mais importância ao lado instrumental, racional, do que ao substantivo, emocional. Esta visão do homem como “máquina de produção” provoca uma série de sofrimentos, levando muitos trabalhadores a doenças como o stress, a depressão, o desequilíbrio emocional, o alcoolismo. Em ambientes policiais, estas manifestações ocorrem com maior frequência, devido à própria natureza do trabalho.

Outra reflexão importante é trazida por Bock (1999), quando lembra que a identidade deve ser sempre vista como metamorfose e como movimento permanente de transformação.

Assim, a identidade do profissional Perito Criminal Federal constitui-se, em cada indivíduo, de sua identidade pessoal somada à visão de si no ambiente profissional, não sendo, portanto, estática, mas sim um complexo em constante mudança.

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Tabela 1– Distinção entre níveis de estudo da identidade

Tipo de

identidade Objeto estudo de Meios construção de Período ocorrência de Espaços de construção Finalidades Pessoal A construção do

auto-conceito ao longo da vida do indivíduo.

Diversos relacionamento s sociais, em diferentes esferas, bem como desempenho de papéis. Permanente, ocorrendo em todas as fases da vida.

Múltiplos relacinament os e papéis.

Conformação do eu, em direção ao processo de individualização.

Social A construção do auto-conceito pela vinculação a grupos sociais. Integração a grupos sociais com finalidades diversas. Permanente na vida do indivíduo. Múltiplos

grupos. Orientar e legitimar a ação, por meio do reconhecimento e da vinculação social.

Identidade no trabalho

A construção do eu pela atividade que realiza e pelas pessoas com as quais tem contato no trabalho.

Interação com a atividade e com as pessoas no trabalho.

Na juventude, na idade adulta até a aposentadoria. Múltiplas atividades e grupos profissionais.

Contribuir para a formação da identidade pessoal e atuar como fator motivacional.

Identidade Organizacio nal

A construção do conceito de si vinculado à organização na qual trabalha. Interação com uma instituição (com seus valores, objetivos, missão e práticas).

A partir da juventude, enquanto estiver vinculado a alguma instituição. Pode ocorrer em uma ou em múltiplas organizações . Incorporar as instituições no imaginário, de forma a orientar a ação nessas organizações.

Fonte: Machado (2003)

Neste estudo, busca-se a compreensão da identidade profissional dos Peritos Criminais Federais. É necessário considerar com grande relevância a influência da estrutura hierárquica rígida e das relações de poder existentes na Polícia Federal. Tais fatores, segundo estudo mais antigo de Sainsanlieu (1977), têm grande influência na construção de identidades.

[...] nas circunstâncias de total dependência e de incapacidade de se opor aos outros, colegas ou chefes, os indivíduos não podem senão interpretar sua experiência de trabalho de maneira imaginária, alucinatória e fantasmagórica (SAINSANLIEU, 1977).

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e a segurança da estabilidade no serviço público, por outro, criam um ambiente organizacional singular, que é um dos componentes na formação da identidade dos profissionais que atuam na Polícia Federal.

A definição de identidade do Perito Criminal Federal, em uma concepção mais sociológica, envolve questões como a normatização de seu trabalho e o seu poder de polícia, envolvendo, portanto, enfoques jurídicos e sociais.

[...] os principais problemas em matéria policial referem-se aos objetivos do serviço, a sua organização, as suas relações com a comunidade, a profissão, as funções, o poder discricionário e o controle sobre as suas atividades (RICO, 1992).

Por esta visão, a profissão do Perito Criminal Federal é visivelmente pautada pelas normas, explicitadas principalmente no Código de Processo Penal; por regras e procedimentos científicos; pela necessidade de conduta formal e impessoal, sujeitando os Peritos Criminais à disciplina judiciária e às hipóteses de suspeição e impedimento similares aos magistrados; pela especialização do trabalho e de responsabilidades; pela separação entre os interesses da organização e os interesses dos servidores, com relações embasadas na autoridade e arbitrariedade.

Todo indivíduo, quando ingressa em determinada organização, seja ela empresa, órgão público ou associação, procura reconhecimento. Ele não constrói sua própria identidade somente a partir de si, ele necessita do julgamento e parecer do outro (DEJOURS, 1999). O Perito Criminal, pelo tipo de trabalho que exerce, necessita adequar-se a determinados padrões de rigidez e disciplina, algo que, a princípio, já traz consigo, devido à sua formação e cultura acadêmica.

Sendo uma das principais missões da Perícia garantir os direitos humanos, é necessário valorizar, portanto, o fator humano do profissional, ressaltando, além dos conhecimentos técnicos e científicos, os subjetivos, críticos-reflexivos.

A sensibilidade, a interdisciplinariedade, a necessidade de flexibilidade e a absorção ágil do progresso técnico-científico são características da racionalidade substantiva que faz parte da formação da identidade profissional do Perito Criminal Federal.

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sendo sua própria, e agregá-la às suas crenças pessoais. Assim, se unificariam as diversidades e contradições existentes (ALTHUSSER, 1999).

Os Peritos Criminais Federais passam por processo de seleção através de concurso público, no qual são exigidos conhecimentos diversos, como, por exemplo, língua portuguesa, direito, atualidades, raciocínio lógico, assim como conhecimentos específicos em cada área de atuação. Passam também por etapas de testes físicos, médicos e psicotécnicos.

Posteriormente, após aprovados em concurso, os candidatos a Peritos Criminais Federais passam por um período de treinamento intensivo, na Academia Nacional de Polícia, na cidade de Brasília, no Distrito Federal. Neste período, recebem instruções e treinamentos jurídicos, técnicos e operacionais para a realização do trabalho policial e pericial.

Ocorre que, neste importante período de aprendizado para o futuro Perito Criminal Federal, muito pouco tempo é dedicado à questão filosófica, subjetiva, do que é ser um Perito Criminal Federal. Empenha-se praticamente toda a dedicação em assuntos instrumentais, da forma técnica e científica dos exames, deixando-se de lado a questão primordial da formação da identidade do profissional como Perito Criminal Federal.

Em estudo relativo à formação da identidade do médico, Ramos-Cerqueira e Lima citam Violante (1986), refletindo acerca da importância da formação do profissional, no sentido de ajudar a esclarecer seus alunos sobre a imensidade de questões que estão envolvidas em sua formação, uma vez que só se pode apreender e interferir no processo de formação da identidade profissional, analisando a correlação de forças atuantes no processo de socialização dentro da instituição.

Uma formação que se baseasse em uma filosofia na qual o policial é, primeiramente, um servidor público, que tem obrigações para com a sociedade, e que dentre as suas atividades também está inserida a repressão criminal, teria como objetivo formar servidores mais conscientes da realidade em que estão inseridos, formando uma base de conhecimento para suas tomadas de decisões (RICCIO e BASILIO, 2006).

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ser mais importantes na seleção de oficiais que atributos físicos, por causa da natureza única do papel do oficial de polícia” (KRATCOSKI, 2004).

Uma educação relacionada à ética pode reforçar os valores e ajudar a reduzir os possíveis efeitos de exposição a comportamentos inapropriados, dentro da cultura policial. O treinamento de polícias em todos os países inclui treinamento básico para novos policiais, treinamentos para melhorar conhecimentos dos policiais na ativa e treinamentos avançados para aqueles que necessitam desenvolver conhecimentos mais especializados. Um dos grandes problemas das organizações policiais é que os administradores de alto nível geralmente não recebem educação e treinamento contínuo em administração e gestão, ou seja, não é dada à função de gestor a devida atenção: um bom policial não será um bom gestor se não tiver experiência anterior ou receber informações e capacitação para tal.

A importância de se comunicar e encontrar uma identidade, associar tal identidade a uma marca ou imagem, e divulgá-la, interna e externamente, é confirmada frequentemente em situações como a sanção de leis e normativos regulamentando o trabalho pericial criminal, sem a devida participação da categoria, ou em publicações de notícias em que informações errôneas sobre os Peritos ou seu trabalho são divulgadas, ou ainda, notícias em que trabalhos realizados por Peritos são atribuídos a outros cargos.

Podemos considerar a cultura como sendo a realidade normativa (incluindo valores, normas, suposições, orientações, etc) comum a duas ou mais pessoas e que, desse modo, facilita a comunicação entre elas (THAYER, 1979).

Em um mundo globalizado como o que vivemos atualmente, a mídia e a aprovação pública fortalecem toda e qualquer instituição, o que implica, no âmbito do poder público, em maior reconhecimento e força política, afetando aspectos administrativos e gerenciais, como a prospecção de orçamento, melhoria nos salários e aceitação na comunidade de pesquisa e desenvolvimento nacional e internacional.

Corroborando com a importância da identidade e comunicação, com relação aos efeitos internos na organização, Bekin afirma:

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mantém jogando ‘com amor à camisa’, para usar uma expressão do futebol. Assim, o Endomarketing é um coadjuvante com intensa participação na motivação do público interno (BEKIN, 2004).

A construção da identidade é um processo de comunicação de duas vias, na qual um age sobre a identidade do outro, mas também na qual outros respondem e agem sobre aquela identidade. O processo de consolidar uma identidade é infinito, uma reformulação em constante mudança, que é simultaneamente produto de normas culturais, ações pessoais e relações interpessoais.

No contexto da identidade profissional, pode-se compreendê-la então como o conjunto de características próprias do grupo de profissionais, no caso, os Peritos Criminais Federais, que os fazem ser reconhecidos por outros, e ainda, a consciência que este profissional tem de si mesmo, e de seu próprio trabalho. A identidade não pode ser analisada somente sob o aspecto cientifico ou acadêmico. Deve, principalmente, ser vista como uma questão social e política. Assim, identidade será referenciada neste estudo como a composição de diversos fatores, que unem a história pessoal de cada indivíduo, as suas crenças e convicções morais e a influência sofrida pelo ambiente em que atua. Tal identidade é, portanto, uma metamorfose, uma constante transformação, visto que depende da interação entre os Peritos Criminais Federais e o meio em que atuam.

A identidade do Perito Criminal Federal poderia ser traduzida nas respostas às seguintes perguntas: Quem é? Como vê seu trabalho? Que reflexos quer que seu trabalho tenha na sociedade? Que reconhecimento quer ter na sociedade? Quanto está motivado e comprometido com o trabalho?

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2 CONTEXTUALIZAÇÃO: A PERÍCIA NA POLÍCIA FEDERAL

2.1 APOLÍCIA FEDERAL

A segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, e é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

Um dos órgãos responsáveis pela segurança pública brasileira é a Polícia Federal. Conforme preceitua a Constituição Federal de 1988, as competências da Polícia Federal são apresentadas no § 1º do Art. 144, envolvendo a apuração de infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, prevenção e repressão do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, atuar como polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras e exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

Vale ressaltar ainda a definição de Missão da Polícia Federal do Brasil:

Exercer as atribuições de polícia judiciária e administrativa da União, a fim de contribuir na manutenção da lei e da ordem, preservando o Estado Democrático de Direito. Mapa Estratégico (Portaria nº 1735/2010 – DG/DPF, de 3 de novembro de 2010).

Segundo Dussault (1992), no serviço público, a dependência do ambiente sociopolítico é maior que em organizações da iniciativa privada, pois o seu quadro de funcionamento é regulado externamente à organização. Os objetivos das organizações públicas são inicialmente fixados por uma autoridade externa, apesar da autonomia na direção dos seus serviços ou negócios.

No caso da Polícia Federal, vale ressaltar que o seu objetivo visa à proteção e à segurança de vidas humanas e do patrimônio público. Também a cultura própria das instituições militares e policiais é diferencial, pois é baseada na hierarquia e disciplina, associando o poder à antiguidade (maior tempo de serviço).

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impossibilidade intrínseca ao serviço público de oferecimento de bônus financeiro ou algum benefício que possa ser associado à eficiência e eficácia dos servidores.

A estrutura organizacional da Polícia Federal com relação aos cargos ocupados por seus servidores consiste de: Peritos Criminais Federais, Delegados de Polícia Federal, Agentes de Polícia Federal, Escrivães de Polícia Federal e Papiloscopistas de Polícia Federal. O ingresso nas carreiras é feito exclusivamente mediante aprovação em concurso público.

A Polícia Federal constitui-se de órgãos centrais localizados na cidade de Brasília, e de outras unidades, que consistem em Superintendências Regionais da Polícia Federal em todas as capitais dos estados da federação, e de Delegacias de Polícia Federal em outros noventa e cinco municípios.

As chefias de todas as citadas unidades são exercidas por servidores do cargo de Delegado de Polícia Federal, com exceção da Diretoria Técnico-Científica, na qual o diretor é um Perito Criminal Federal.

2.2 OTRABALHO DO PERITO CRIMINAL FEDERAL

A palavra perito vem do latim peritus, que significa “aquele que sabe

por experiência, que tem prática”.

O Perito Criminal Federal é o profissional responsável pela materialização da prova do crime, na estrutura da Polícia Federal. O campo de atuação do Perito Criminal é usualmente denominado Criminalística, derivado de

kriminalistik, palavra utilizada pelo austríaco Hans Gross, um pioneiro na área, para

descrever a aplicação das ciências naturais para fins jurídicos e de elucidação, para a lei (BELL, 2004).

Pelo conceito de Rabello (1996), a criminalística é uma “disciplina técnico-científica por natureza e jurídico-penal por destinação, a qual concorre para a elucidação e a prova das infrações penais e da identidade dos autores respectivos, através da pesquisa, do adequado exame e da interpretação correta dos vestígios materiais dessas infrações”.

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autoridade foral no julgamento de um fato, ou desfazer conflito em interesses de pessoas”.

Reforçando o mesmo conceito, Ornellas (2003) menciona que “A função primordial da prova pericial é transformar os fatos relativos à lide, se natureza técnica ou científica, em verdade formal, em certeza jurídica”.

A imprescindibilidade da Perícia está inscrita no artigo 158 do Código Processual Penal brasileiro, que determina que não pode ser substituída pela confissão do acusado, nos crimes que deixem vestígios. Em outras palavras, segundo o Código Processual Penal, quando o crime deixa vestígios, mesmo que haja confissão por parte do suposto autor, é obrigatória a realização de perícia. A solicitação de perícia é, portanto, um ato vinculado, não discricionário. Um ato vinculado é aquele em que a lei estabelece todos os requisitos e condições de sua realização, sem deixar qualquer margem de liberdade àquele que o pratica, ou seja, todos os elementos do ato estão vinculados ao disposto na lei. Portanto, a ele, não cabe apreciar a oportunidade ou a conveniência administrativa da prática do ato.

O mesmo Código frisa, em seu artigo 6º e no artigo 169, a necessidade da preservação dos locais de crimes pela autoridade policial, tão logo tenha conhecimento da prática de infração penal, providenciando para que não se altere o estado das coisas, até a chegada dos Peritos Criminais.

A responsabilidade do Perito Criminal no processo penal inicia-se com o exame do local de crime, passa pelo exame de vestígios em laboratório e a elaboração do laudo pericial, e permanece, fazendo parte do processo criminal, transcendendo, inclusive, o momento em que a sentença é transitada em julgado. Prova disso é a recorrente reabertura de casos, com novos elementos e exames periciais realizados, principalmente de DNA, que acabam por absolver pessoas que foram condenadas e cumpriam pena injustamente.

(26)

No âmbito da Perícia Criminal Federal, as atribuições dos Peritos são atividades técnico-científicas de nível superior em procedimentos pré-processuais e judiciários, dentre elas:

• Examinar os vestígios deixados quando da infração penal, com a finalidade de buscar, de forma imparcial, a dinâmica, a materialização e a autoria do evento criminoso. No local de crime, descobrir, proteger e recolher os vestígios;

• Fornecer elementos para a qualificação da infração penal;

• Estabelecer a dinâmica do fato e, sempre que possível, atribuir-lhe a autoria.

Em outras palavras, trata-se do profissional responsável por encontrar e esclarecer a prova, visando estabelecer a materialidade, a dinâmica e a autoria do crime.

Bell (2004) afirma ainda que, desde os primórdios da ciência forense, existe uma questão que envolve a natureza da profissão de Perito. Este autor discute em sua obra, se um Perito deveria ser um generalista bem versado em muitos aspectos do conhecimento ou um especialista dedicado profundamente a uma disciplina. Em um extremo, estão aqueles que argumentam que a disciplina tem avançado a um estágio tal que a especialização é requerida dada a profundidade e complexidade técnica de cada área (como por exemplo, armas de fogo, crimes cibernéticos, análise de DNA). O ponto de vista oposto sustenta que os cientistas forenses deveriam deter conhecimento sobre um espectro amplo de áreas, mesmo que eles não trabalhem em todas estas áreas no seu dia-a-dia. Pioneiros como Hans Gross (1893) e Paul Kirk (1953) adotam esta opinião, e foi Kirk quem expressou a visão de que a Criminalística é de fato uma expert em comparação e

(27)

No contexto das análises forenses, o método científico é usado para garantir que os melhores resultados possíveis são obtidos: as teorias correntes estão constantemente abertas a estudo, revisão e crítica. Também é governado por um processo chamado revisão por pares, no qual descobertas científicas são revisadas por cientistas especializados no assunto, antes da publicação.

O Consórcio de Organizações de Ciência Forense (Consortium of Forensic Science Organizations – CFSO) representa mais de 11 mil organismos que trabalham com ciência forense ao redor do mundo. Estas organizações e seus membros endossam a teoria de que seu trabalho necessita ser fundamentado em princípios científicos (POLSKI, 2004).

Conforme justifica Silva (2009), total deve ser a autonomia do Perito Criminal Federal no desempenho de suas funções, quanto ao levantamento, ao estudo e à pesquisa do material em exame, e especialmente, quanto às conclusões emitidas no Laudo Pericial Criminal, que deve ser totalmente neutro e ter embasamento exclusivamente científico, comprovável a qualquer tempo e em qualquer instância do Poder Judiciário.

O trabalho do Perito Criminal Federal não se restringe ao exame pericial realizado em laboratórios. Suas atribuições em locais de crime são explicitadas no artigo 6º do Código de Processo Penal, que disciplina que todos os vestígios existentes no local de crime sejam coletados e interpretados por apenas um profissional, o Perito Criminal. Estas ações somente são possíveis através do poder de polícia que o Perito possui sobre aquele local. A apreensão e guarda sob sua custódia de objetos encontrados na cena do crime, como armas, munições, drogas e vestígios biológicos, são formas do exercer desse poder de polícia.

Segundo Caio Tácito (1952), o conceito “poder de polícia” é o conjunto de atribuições concedidas à Administração Pública para disciplinar e restringir, em favor do interesse público adequado, direitos e liberdades individuais. Celso Antonio Bandeira de Melo, em seu Curso de Direito Administrativo, o define como a atividade estatal de condicionar a liberdade e a propriedade, ajustando-as aos interesses coletivos (MELO, 1998).

(28)

para o manuseio e manutenção desta. Da mesma forma que os demais ocupantes dos cargos policiais, o Perito Criminal Federal está constantemente exposto a situações de risco, além de possibilidade de ameaças, desejos de vingança ou intimidação.

Quanto à formação acadêmica, os Peritos Criminais Federais são servidores concursados, formados nas mais diversas áreas das ciências:

1. Contabilidade / Economia 2. Engenharia Elétrica 3. Informática

4. Engenharia Agronômica 5. Geologia

6. Química / Engenharia Química 7. Engenharia Civil

8. Biologia

9. Engenharia Florestal 10. Veterinária

11. Engenharia Cartográfica 12. Medicina

13. Odontologia 14. Farmácia

15. Engenharia Mecânica 16. Física

17. Engenharia de Minas

Apesar da formação específica, com base na qual as solicitações periciais são distribuídas entre os Peritos, existem alguns tipos de exames periciais nos quais todos os Peritos Criminais são capacitados para atuar: grafotecnia (exame de autoria da escrita), exame de local de crime, exame de moeda falsa, exame de autenticidade de documentos, balística.

(29)

Devido à multidisciplinariedade de conhecimento do Perito Criminal Federal, além dos exames periciais em laboratório para elaboração do Laudo Pericial Criminal, da atuação em exame de locais de crime e das pesquisas e capacitações para atualização científica, este profissional muitas vezes é requisitado, na Polícia Federal, para colaborar em outras atividades de apoio gerencial, especializado e administrativo, com maior ou menor grau de desvio da sua função precípua: atuação em áreas de gestão e estratégia, como o Centro Integrado de Gestão Estratégica (CIGE) e a Coordenação de Orçamento e Finanças (COF), atuação em grupos de prevenção e exames relativos a bombas e explosivos, elaboração de projetos, controle de produtos químicos, conformidade fiscal das unidades da Polícia Federal, gestão e fiscalização de obras de engenharia nas unidades da Polícia Federal, fiscalização de contratos, desenvolvimento e suporte técnico de informática, entre diversos outros.

A participação comprometida dos Peritos Criminais Federais nestas diversas áreas, apoiando a administração e visando à evolução da Polícia Federal, pode ser comprovada em números: no CIGE, por exemplo, quatro dos seis componentes da equipe são Peritos Criminais. Mais da metade do total de Peritos Criminais Federais da área de Engenharia Civil encontram-se atuando na gestão, execução e fiscalização de obras da Polícia Federal. Porém, com raríssimas exceções, um Perito Criminal Federal é galgado ao cargo de chefia em qualquer dessas áreas.

2.3 APERÍCIA CRIMINAL FEDERAL NA POLÍCIA FEDERAL

Na Polícia Federal, o órgão central da criminalística é a Diretoria Técnico-Científica (DITEC), sob a qual se encontra o Instituto Nacional de Criminalística (INC). As unidades estaduais, situadas nas capitais dos estados da federação são denominadas Setor Técnico-Científico (SETEC) e encontram-se organizacionalmente em Superintendências de Polícia Federal. Outras unidades regionais são denominadas Núcleo ou Unidade Técnico-Científica (NUTEC/UTEC), e encontram-se organizacionalmente em Delegacias de Polícia Federal.

(30)

Figura 1 – Organograma simplificado – órgãos centrais. Em Destaque, a DITEC.

Figura 2 – Organograma simplificado – unidades descentralizadas. Em destaque, o SETEC.

A necessidade de imparcialidade e comprometimento com a verdade do trabalho pericial é empiricamente deduzível, na medida em que pode trazer a justiça na forma de uma condenação fundamentada e também o alívio de uma absolvição em uma situação de falsa acusação.

Recomendações internacionais, como as da Academia Americana de Ciências, consubstanciadas no Relatório Strengthening Forensic Sciences in the

United States: A Path Forward (2009), apontam no sentido de que os laboratórios de

ciências forenses devem ser autônomos quando dentro dos órgãos de segurança pública, ou que deles devem ser independentes.

A Organização das Nações Unidas (ONU) vai além, manifestando-se reiteradamente no sentido de que as investigações da perícia criminal não devem ocorrer sob a autoridade da polícia, devendo haver um corpo científico investigativo independente, com recursos materiais e humanos próprios, conforme o Relatório

Civil and Political Rights, Including the Questions of Torture and Detention,

elaborado por sua Comissão de Direitos Humanos (2003). O argumento principal é de que a atuação pericial não deve ser vista somente como ferramenta de punição: “Punish the guilty; release the innocent”, ou seja, “Punir o culpado; libertar o

(31)

Silva (2009) relembra as justificativas que levaram à sanção da Lei nº 12.030/2009, que assegurou formalmente no Brasil a autonomia funcional, técnica e científica à perícia oficial de natureza criminal:

A perícia oficial compreende uma série de atividades indispensáveis para a investigação de práticas ilícitas. Para ser eficiente essa perícia deve ser praticada num ambiente que assegure a imparcialidade, estimule a competência profissional e o trabalho de precisão (SILVA, 2009).

A nomenclatura ‘perícia oficial’ é diferente da encontrada no Código de Processo Penal de 1941, onde os Peritos que atuam no poder judiciário são denominados Peritos Criminais. Na Lei nº 12.030/2009, a ‘perícia criminal’ do Código de Processo Penal é referida como ‘perícia oficial de natureza criminal’, desde logo os Peritos Criminais denominados nesta lei são Peritos oficiais de natureza criminal. Neste estudo, o termo utilizado será o de Perito Criminal.

Feita esta elucidação acerca da nomenclatura, no mesmo estudo, Silva conclui que a lei supracitada assegura a autonomia funcional ao profissional Perito Criminal, devendo proporcionar, para as atividades de natureza pericial, total ausência de ingerências, seja de outros órgãos, seja de outros servidores da própria instituição a que o perito ou o órgão pericial esteja inserido.

Apesar de o órgão central (DITEC) possuir orçamento e corpo administrativo próprio, a maioria dos Peritos Criminais Federais encontra-se atuando nas Superintendências Regionais e nas Delegacias de Polícia Federal, onde se encontram sob a administração e regras de alocação de recursos do chefe da Superintendência ou da Delegacia. Existe, nesta situação, a vinculação hierárquica do Perito Criminal Federal ao chefe da Unidade em que atua.

Deve-se esclarecer, porém, que a vinculação que existe entre Delegado de Polícia Federal e Perito Criminal Federal é, e deve ser, unicamente a hierárquica. Ao realizar a solicitação de um Laudo Pericial Criminal ao Perito Criminal Federal, o Delegado de Polícia Federal não está agindo de forma discricionária, mas sim vinculada, agindo de acordo com o que normatiza o Código de Processo Penal, que no artigo 158, obriga a realização de Perícia, não podendo ser substituída pela confissão do acusado nos crimes que deixem vestígios.

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NUTECs e UTECs, baseado em dados e argumentos técnicos e de gestão, sempre que necessário. Também deveria ser possível que a própria DITEC tomasse decisões quanto à alocação de seus recursos humanos, de forma a priorizar determinadas áreas ou localidades em detrimento de outras, principalmente tendo em vista a insuficiência de pessoal. O que ocorre, porém, é que remoções de Peritos são realizadas sem o consentimento, e não raras vezes, sem sequer o conhecimento do Diretor Técnico-Científico.

Para assegurar a autonomia técnica, científica e funcional de um profissional, é preciso assegurar que este não poderá sofrer nenhum tipo de pressão ou coerção com relação ao seu trabalho, assim como não poderá sofrer ameaças ou acusações infundadas. No serviço público brasileiro, todo e qualquer servidor está sujeito a responder a Processo Administrativo Disciplinar (PAD), instrumento destinado a apurar responsabilidade de servidor por infração praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que se encontre investido.

No âmbito da Polícia Federal, existe uma Diretoria específica para tratar de PAD, denominada Corregedoria-Geral. A Lei nº 8.112/90, em seu artigo 149, exige que o processo disciplinar seja conduzido por comissão composta por três integrantes, exigindo, porém, somente a estabilidade destes, e que o seu presidente seja ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado.

Com relação efetivamente à execução de seu trabalho, o Perito Criminal Federal costumava possuir, na Polícia Federal, a autonomia técnico-científica necessária para decidir a forma, o método de realização dos exames, assim como a necessidade ou não do auxílio de outros Peritos, de outras áreas específicas do conhecimento, em determinada análise. No ano de 2010, porém, um normativo interno3 de uma das unidades descentralizadas da Polícia Federal feriu gravemente esta autonomia, não permitindo, por exemplo, que o próprio Perito decidisse sobre a necessidade de convocação de outro Perito, com especialização diversa da sua, para auxiliá-lo em um local de crime, passando esta análise e decisão a ser de responsabilidade de um Delegado de Polícia Federal. Este

3 Instrução de Serviço nº 2/2010 – SR/DPF/MG, que Regulamenta o Sistema de Segurança Geral –

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normativo interno feriu o próprio Código de Processo Penal, que indica claramente que o local de crime é de responsabilidade do Perito Criminal.

Em 1º de agosto de 2011, o Decreto Presidencial nº 7.538/2011 retirou, dentre as atribuições da Diretoria Técnico-Científica, a relativa à realização de pesquisas, que anteriormente aparecia explicitamente no rol de atribuições da Diretoria à qual pertencem os Peritos Criminais Federais. Trata-se de outro sério golpe, relativo à autonomia técnico-científica dos Peritos Criminais Federais. Como pode haver uma perícia eficiente se não houver pesquisa, para que o Perito esteja tecnologicamente à frente do criminoso?

Conforme destacado anteriormente, os Peritos Criminais Federais buscam colaborar em todas as áreas da Polícia Federal, com seus conhecimentos, habilidades e atitudes. Os fatores citados, que impossibilitam a atuação da Perícia Criminal Federal de forma autônoma, trazem consequências negativas na qualidade e celeridade do resultado de seu trabalho.

2.4 O RECONHECIMENTO DA PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL

Em pesquisa divulgada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB)4 em 2007, a Polícia Federal aparecia como uma das instituições mais

confiáveis do ponto de vista dos brasileiros, com a aprovação de 74,7 % dos entrevistados, perdendo apenas para o Exército. Apesar desta popularidade da Polícia Federal, decorrente principalmente de operações policiais de abrangência nacional envolvendo personalidades e políticos do país, empiricamente é sentido que pouco se conhece ainda a respeito do trabalho dos Peritos Criminais Federais.

A atuação dos Peritos Criminais tem se tornado mais divulgada e reconhecida no Brasil, principalmente devido à participação na elucidação de alguns crimes que causaram comoção nacional, como por exemplo, a morte da menina Isabella Nardoni. Neste caso, a condenação do pai e da madastra da menina foi fortemente baseada nas provas periciais coletadas, examinadas e claramente demonstradas. Conforme afirmam Filho e Antedomenico em estudo relativo a uma proposta para o ensino de ciências naturais por meio da perícia criminal:

4 Disponível em <http://www.amb.com.br/index.asp?secao=mostranoticia&mat_id=10324>. Acesso

(34)

Crimes de repercussão ou acidentes trágicos, que de imediato se tornam casos de comoção geral, seja pelos meios insidiosos empregados, seja pela fatalidade ocorrida, proporcionam temas instigantes para despertar o interesse dos alunos sobre a matéria (FILHO e ANTEDOMENICO, 2010).

Também colabora na compreensão das atribuições do Perito, a popularização de séries televisivas similares às norte-americanas CSI (Crime Scene

Investigation) e Law and Order, causando o denominado ‘efeito CSI’, embora nos

episódios destes seriados haja diferenças significativas com relação às atribuições legalmente estabelecidas aos Peritos Criminais no Brasil. Esses programas também podem criar expectativas irreais com relação à perícia, visto que nos episódios dos seriados sempre é possível a resolução dos casos, sempre há disponibilidade de equipamentos e de Peritos para o pronto exame no local de crime, e a elucidação dos crimes ocorre em poucos minutos. A realidade brasileira, conforme demonstra pesquisa realizada em 2010 pela R7 notícias5, é de que apenas 37 % das unidades de perícia possuem ao menos os itens essenciais para a realização de perícias criminais: maleta com kit de varredura de locais de crime (notebook, GPS, trena a

laser, máquina fotográfica digital etc.), exame de DNA, exame de balística (com microcomparador), câmaras frias (para preservação de corpos), cromatógrafos gasosos, luz forense, laboratório de fonética, reagente químico e luminol. Sem eles, é impossível produzir prova científica cabal para esclarecimento de crimes.

Tyler (2006) define o chamado “efeito CSI” como um termo que as

autoridades do judiciário e a mídia de massa têm utilizado para descrever uma suposta influência que o ato de assistir ao seriado CSI: Crime Scene Investigation

tem sobre o comportamento dos jurados, que compõem júris populares, e sobre a população em geral. Tyler realiza um estudo referente a este possível efeito.

Neste estudo, Tyler defende que, assim como é possível que o aumento nas absolvições, nos EUA, pode decorrer do fato de os jurados estarem influenciados de tal forma a não acharem as evidências reais fortes o suficiente, por confundirem a ficção com a realidade, é igualmente plausível que o efeito CSI, pelo

contrário, mistifique a evidência científica. Devido à vontade de fazer justiça pelas vítimas, os jurados seriam levados a ignorar ou minimizar os limites nos dados que

5 Disponível em <

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eles vêem. Neste caso, o CSI poderia encorajar os jurados a considerarem

conclusivas evidências que não o são.

No Brasil, uma consequência positiva do efeito CSI é a maior

conscientização da população com relação à importância da preservação do local de crime para a resolução deste.

Porém, mesmo com esta recente popularização, a sociedade em geral parece desconhecer o papel do Perito Criminal e sua importância no contexto do processo penal.

Cabe, neste contexto, uma reflexão: seria esta falta de reconhecimento da profissão proveniente da própria falta de consolidação da identidade do profissional, ou seja, de o próprio Perito não reconhecer sua identidade profissional e a forma como esta se manifesta?

No Brasil, com relação às unidades dedicadas à criminalística existentes nos estados da federação, existem órgãos periciais ligados diretamente à Secretaria de Segurança Pública de seu estado, assim como existem ainda unidades ligadas às Polícias Civis.

Um fato que ilustra a aparente falta de identidade do profissional Perito Criminal (não somente do Perito Criminal Federal), é a diversidade existente na nomenclatura dos órgãos nos quais os Peritos encontram-se atuando nos estados da federação. Inexiste até hoje uma legislação ou norma que defina onde devem estar e como devem ser denominados os órgãos de Perícia Criminal. Não havendo uma denominação em comum, se verifica que hoje existem unidades denominadas como Centros, como Superintendências, Departamentos, Coordenadorias, Institutos de Perícia, ou ainda como Polícia Científica ou Polícia Técnico-Científica.

Em outros países, são utilizadas, para os órgãos Periciais, nomenclaturas como “Servicio de Criminalística de la Guardia Civil”, na Espanha,

Institut de Recherche Criminelle de la Gendarmerie Nationale” e “Institut National de

Police Scientifique”, na França, “Laboratório de Polícia Científica”, em Portugal,

Direzione Centrale Anticrimine della di Stato, Servizio Polizia Scientifica“, na Itália,

Kriminaltechnisches Institut des Bunderkriminalamtes”, na Alemanha e, na Bélgica,

a “Nationaal Instituut voor Criminalistiek em Criminologie”.

(36)

desenvolvimentos científicos que, por muitas vezes, são de grande relevância para a segurança em nível nacional e até mundial.

Os Peritos não recebem a informação acerca do resultado final de seu trabalho e não sabem a medida do reconhecimento de seu trabalho pela sociedade.

Considerando-se, portanto, todo o contexto da realidade da Perícia Criminal Federal, o efeito de seu trabalho no processo criminal, na busca da verdade, de forma a possibilitar a justiça e a segurança, deseja-se com este estudo compreender a identidade da Perícia Criminal Federal, e a forma como esta identidade, ou a necessidade de consolidação desta, se reflete no resultado de seu trabalho para a sociedade.

3 A PESQUISA

3.1 OBJETIVO

O principal objetivo deste trabalho é iniciar uma reflexão acerca da identidade do profissional Perito Criminal Federal, compreendendo a formação de tal identidade, e ainda, estudar as implicações para o resultado do trabalho esperado pela sociedade.

Sabe-se que são diversas as teorias e conhecimentos relacionados ao conceito de identidade profissional, sendo necessário avaliar quais se aplicam e como seria possível atuar na consolidação da identidade profissional do Perito Criminal Federal, de forma a melhorar seu desempenho no papel de fazer a justiça através da ciência.

Este estudo buscará, portanto, as bases para o reconhecimento da construção da identidade da Perícia Criminal Federal, e as formas de consolidação desta identidade, tanto internamente, entre os próprios Peritos, como junto aos seus principais clientes.

(37)

Pelo contrário, busca-se com este estudo iniciar uma reflexão visando, primeiro, reconhecer a situação atual da identidade da Perícia Criminal Federal, seu papel para com a Polícia Federal e para com a sociedade, e seu reconhecimento por eles, para então, vislumbrar formas de aprimoramento e iniciativas de gestão que possam incentivar a busca de melhorias, de aprimoramento na formação e evolução dos profissionais, beneficiando não apenas a motivação e satisfação profissional do Perito Criminal Federal, mas principalmente, a melhoria no resultado que este produz para a sociedade.

Certamente, não se tem a pretensão, neste estudo, de abordar o assunto em seu todo, nem de encerrá-lo. Pelo contrário, se enseja abrir portas para que novas frentes de estudo e novas formas de visão do trabalho pericial surjam.

3.2 METODOLOGIA

3.2.1 Delimitação do Estudo

A delimitação neste tópico apresentada é subdividida na delimitação com relação ao trabalho pericial sobre o qual se questionará o conhecimento da profissão e na delimitação com relação às pesquisas a serem realizadas, com relação à abordagem de identidade no trabalho pericial.

Conforme descrito anteriormente, a responsabilidade técnica do Perito Criminal Federal se inicia com a elaboração do Laudo Pericial e permanece, fazendo parte do processo criminal, ultrapassando inclusive o momento em que a sentença é transitada em julgado. Também foi citada a participação dos Peritos Criminais Federais nas mais diversas áreas dentro da Polícia Federal, além das atribuições precípuas relativas a exames periciais.

Os Peritos Criminais Federais estão distribuídos geograficamente por todos os estados do Brasil, e possuem formação acadêmica nas mais diversas áreas das ciências.

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A forma como cada Perito Criminal Federal entende sua identidade profissional pode tanto criar uma vinculação entre os mesmos, como também pode dividi-los, criar subgrupos. Como afirma Butler (1990), “O território da identidade não é neutro, mas sim político”.

A dimensão política da profissão Perito Criminal Federal deve ser analisada, de forma a se compreender qual o seu compromisso como classe. Para construir identidades, é indispensável participar ativamente da teia de relações sociais em que se está inserido.

A identidade profissional emerge da interação da consciência de si próprio, como ser humano, com a consciência de seu papel no ambiente em que atua. O profissional Perito Criminal Federal é então o resultado de sua identidade pessoal, influenciada pelo, e influenciadora do, meio em que atua. Busca-se, portanto, a resposta para os questionamentos: quem é o Perito Criminal Federal? O que quer o Perito Criminal Federal? Onde está e onde quer chegar o Perito Criminal Federal?

Considerando que o Perito Criminal Federal é um profissional atuante na área de segurança pública, diretamente responsável por realizar exames que afetarão o futuro e a liberdade das pessoas, sua postura e atitude certamente devem ser condizentes com determinados valores e virtudes.

Essa visão de identidade profissional será abordada neste estudo, focando na visão interna, do próprio Perito Criminal Federal. Um estudo posterior sobre a visão externa, dos principais clientes do Laudo Pericial, seria de grande importância para complementar este trabalho.

Devido à conhecida influência que o ambiente em que atua exerce sobre a construção da identidade, a pesquisa será realizada com Peritos de todas as regiões do Brasil. Nas unidades menores e de mais difícil provimento, apesar das menores condições de infra-estrutura e trabalho mais perigoso, em geral, as pessoas costumam se unir mais, tornando o ambiente de trabalho mais prazeroso, no sentido de companheirismo e auxílio mútuo. Este fenômeno pode ser explicado pela teoria do custo de oportunidade, de Coase (1960), que faz referência à relação básica entre escassez e escolha.

(39)

Perícia Criminal Federal, ou a ocorrência de fatos que possam levar a mudanças significativas na relação entre a Perícia Criminal Federal e seus clientes, ou a sociedade, afetarão a identidade estudada, visto que o ambiente influencia sobremaneira sua construção.

3.2.2 Método de Pesquisa

Foi escolhida a entrevista como método de coleta de dados, pois a pesquisa é de base qualitativa, e exige um mergulho em profundidade no pensamento dos Peritos Criminais Federais. É necessário coletar indícios dos modos como cada Perito percebe e significa sua realidade, levantando informações consistentes que permitam descrever e compreender a lógica que preside as relações que se estabelecem no grupo. Seria difícil obter este tipo de informação com outros instrumentos de coleta de dados.

Ao estudar o tema identidade utilizando como método de coleta de informações a entrevista, obtém-se um conjunto de informações que ilustram as experiências dos entrevistados. A experiência vivenciada por cada entrevistado é norteadora das respostas apresentadas. Segundo Oberweis e Musheno (2001), o relato de uma experiência não é nem a simples impressão individual sobre um fato, nem uma conexão exata com a realidade. Qualquer relato de uma experiência é feito politicamente, para enfatizar um ou outro aspecto do ponto de vista de quem relata.

[...] histórias que as pessoas contam sobre si mesmas e sobre suas vidas ambos constituem e interpretam essas vidas; as histórias descrevem o mundo como ele é vivido e entendido pelo contador da história (EWICK and SILBEY, 1995).

Neste estudo foi realizada análise de conteúdo, sobre dados coletados mediante pesquisa, baseada em entrevistas, com relação ao entendimento da identidade do Perito Criminal Federal.

(40)

de normas, hierarquias e fragmentação do conhecimento, ou ainda, de natureza substantiva, como a ideologia no trabalho ou a auto-realização em busca da emancipação e satisfação social.

3.3 ENTREVISTAS COM OS PERITOS

Foram realizadas entrevistas com Peritos Criminais Federais de diversas localidades, tempo de serviço e experiências profissionais anteriores. As perguntas realizadas encontram-se no Apêndice A.

3.3.1 Análise Qualitativa – Método

Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com Peritos Criminais Federais de diversas regiões do Brasil.

Pretendeu-se, com as entrevistas, realizar uma pesquisa qualitativa que permitisse retratar como os Peritos Criminais Federais se percebem, como profissionais, elencando as categorias a partir das quais organizam o discurso sobre sua atividade profissional.

O número de entrevistados não foi determinado a priori. Buscou-se por novos entrevistados enquanto houve respostas que poderiam indicar novas perspectivas e pontos de vista, levando-se em consideração a qualidade das informações obtidas em cada depoimento, assim como a profundidade e o grau de recorrência e divergência destas informações.

3.3.2 Participantes

(41)

A amostra dos entrevistados não foi aleatória, pois essa não seria eficiente, devido à ampla maioria dos Peritos serem relativamente jovens na Polícia Federal, razão pela qual se buscou entrevistar Peritos Criminais Federais com conhecimento do histórico da Perícia na Polícia Federal. Também foram levadas em consideração, na escolha dos entrevistados, a área de atuação e a lotação, procurando entrevistar Peritos com e sem passagem pelos órgãos centrais, além de Peritos atuando em áreas fora da criminalística. Foi dada preferência à seleção de Peritos que possuem algumas ideias já reconhecidas, principalmente divergentes, quanto à visão da atuação e do futuro do cargo de Perito Criminal Federal dentro da Polícia Federal.

Tabela 2– Dados dos entrevistados

Codinome Tempo como PCF Estado Duração da entrevista

A 15 RJ 10 min. 07 seg.

B 8 SP 13 min. 14 seg.

C 5 MT 8 min. 53 seg.

D 4 DF 18 min. 10 seg.

E 13 RJ 11 min. 06 seg.

F 4 SP 12 min. 30 seg.

G 16 MG 17 min. 48 seg.

H 8 DF 11 min. 49 seg.

I 15 BA 9 min. 14 seg.

J 16 SP 9 min. 38 seg.

K 49 DF 18 min. 22 seg.

L 8 MG 15 min. 41 seg.

Imagem

Tabela 1 – Distinção entre níveis de estudo da identidade
Figura 1 – Organograma simplificado – órgãos centrais. Em Destaque, a DITEC.
Tabela 2 – Dados dos entrevistados

Referências

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