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A biópsia muscular no diagnóstico das leptospiroses.

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A BIÓPSIA MUSCULAR N O DIAGNÓSTICO DAS LEPTOSPIROSES

J . B. Guedes e Silva **, Lélia M agalhães P aiva ***, João José Pereira da Silva ***♦, Manoel B arreto N etto * * * * * e J. Rodrigues Coura ******

O s a u t o r e s a p r e s e n t am o s r e s u l t a d o s o b s e r v a d o s n o e s t u d o h i s t o p a t o l ó -lg i c o d e b i ó p s i a m u s c u l a r e m 1 6 p a c i e n t e s c o m l e p t o s p i r o s e . O s a c h a d o s m a i s i m por t an t e s f or am a n e c r o s e f o c a l d a f i br a m u s c u l a r , a i n f i l t r a ç ã o h e m o r r á ­ g i c a d o s f o c o s n e c r ó t i c o s e d a i n t e r s t í c i o 0 a r a r i d a d e d e r e a ç ã o i n f l a m a t ó r i a . A l é m d ê s t e s c ham am a t e n ç ã o p a r a a v a c u o l i z a ç ã o s a r c o p l a s m á t v c a a c o m p a n h a d a d e t um e f aç ão e p e r d a da e s t r i a ç ã o t r a ns v e r s a l d a f i br a m u s c u l a r c o m o a l t e r a­ ç õ e s p r e c o c e s , p r e c e d e n d o à l e s ã o n e c r ó t i c a . O b s e r v a r a m a i n da a b a s o f i l i a s a r -c o p l a s m á t i c a a s s o c i a d a a h i p e r p l a s i a n u c l e a r s u b s a r c o l ê m i c a n as f o r m a s l e v e s d a d o e n ç a e n a q u e l a s d e i n v o l u ç ã o d e m o ns t r a d as na s b i ó p s i a s p o s t e r i o r e s .

Q u a n t o à s e s t r u t u r a s s a r c o v l a s m á t i c a s m u l t i n u c l e a da s s u g e r e m q u e ê s t e s e l e m e n t o s r e pr e s e n t e m um a t e n t at i v a â e r e g e n e r a ç ã o da f i b r a m u s c u l a i r q u e e m g e r a l n ã o c h e g a a t ê r m o , c o m o pude r a m d e p r e e n d e r d o e s t u d o d a s b i ó p s i a s e m f as e e v o l u t i v a t a r d i a da d o e n ç a ; ne s t a f as e t a i s e s t r ut u r a s s o f r e m m odi f i ­ c a ç õ e s r e g r e s s i v a s a t é a f i b r o s e .

C o n c l u i n d o , c o n s i d e r a m a s a l t e r a ç õ e s m u s c u l a r e s n o s e u c o nj u nt o , s e , n ã o e s p e c í f i c a s , bas t ant e c a r a c t e r í s t i c a s e d e g r a n d e v a l o r no d i a g n ó s t i c o d a l e p t o s ­ p i r o s e .

A leptospirose e ra doença p ra tic a ­ m en te in ex isten te nos E stados do Rio de Ja n e iro e G u a n a b a ra (3, 8, 5 ). Após as ch u v as ocorridas no fin a l de 1966 e início de 1967, com eçaram a su rg ir com freq ü ên cia casos que au m e n ta v a m em núm ero, sem pre após chuvas torrenciais.

As fo rm as de doença, em nosso meio, assu m iram desde o início aspecto m uito grave, ap re se n ta n d o -se m u ita s vêzes co­ mo síndrom e de W eil (2 ). O g rau de m o r­ talid ad e sem pre foi elevado, atin g in d o em 1967 n a G u a n a b a ra 33% (5) e no E stado

do Rio ap ro x im ad am en te 30% em 1966/ 1968 (3 ).

Assim sendo, o assunto despertou m aio r in terê sse n ão só pela elevada in ­ cidência da infecção, como tam b ém pelo alto g ra u de m o rtalid ad e e m orbilidade. Diversos trab a lh o s fo ram então elabora­ dos (3, 8, 6, 7, 9, 4 ), to rn an d o -se cada vez m ais m inucioso o estudo dos seus vá­ rios aspectos, e n tre êles seu diagnóstico.

C làssicam ente, os p rin cip ais meios de

diagnóstico são: a bacterioscopia em

cam po escuro, a cu ltu ra (sangue, urina,

* T r a b a l h o d o s S e r v i ç o s d e A n a t o m i a P a t o l ó g i c a e D o e n ç a s I n f e c t u o s a s e P a r a s i t á r i a s d o H o s p i ­ t a l U n i v e r s i t á r i o A n t ô n i o P e d r o ( D e p a r t a m e n t o d e P a t o l o g i a e M e d i c i n a I n t e r n a — F a c u l d a d e d e M e d i c i n a , U n i v e r s i d a d e F e d e r a l F l u m i n e n s e ) .

** A s s i s t e n t e n o S e r v i ç o d e A n a t o m i a P a t o l ó g i c a d o D e p a r t a m e n t o d e P a t o l o g i a d o H .U .A .P . ( U . F . F . ) , *** A s s i s t e n t e n o S e r v i ç o d e A n a t o m i a P a t o l ó g i c a d o D e p a r t a m e n t o d e P a t o l o g i a d o H .U .A .P . **** A s s i s t e n t e n o S e r v i ç o d e D o e n ç a s I n f e c c i o s a s e P a r a s i t á r i a s d o D e p a r t a m e n t o d e M e d i c i n a I n ­

t e r n a d o H .U .A .P . ( U . F . F . ) .

***** P r o f e s s o r C a t e d r á t i c o d e A n a t o m i a e F i s i o l o g i a P a t o l ó g i c a s d a F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d a U .F .F . ( U . F . F . ) .

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CASOS DE LEPTOSPIROSE SUBMETIDOS A BIÓPSIA MUSCULAR QUADRO N.° 1

N.° IN ICIAIS REGISTRO SEXO CÔR IDADE PROFISSÃO EVOLUÇÃO

1 U .A .À . 212 M Bc 28 BISCATEIRO CURADO

2 J .C .A . 386 M Pd 29 BISCATEIRO CURADO

3 I.A . 338 M P t 30 SERVENTE ÓBITO

4 J .S . 548 M P t 20 SERVENTE CURADO

5 W .A .C . 415 M P t 23 MAGAREFE CURADO

6 R .S . 586 M P d 22 SERVENTE CURADO

7 O .J .P . 695 M Pd 29 SERVENTE CURADO

8 M .R .S . 708 M Bc 29 SOLDADOR CURADO

9 R .P .A . 815 M Bc 39 INDUSTRIÁRIO CURADO

10 M .M . 929 M Bc 54 SERVENTE ÓBITO

11 G .M .D . 966 M Bc 57 BISCATEIRO CURADO

12 A .S .G . 976 M Bc 48 CURADO

13 A .C . 980 F P t 57 COZINHEIRA CURADO

14 J .B .L . 983 M Bc 33 ÓBITO

15 M .S . 984 M P t 29 PINTOR CURADO

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Nov.-Dez., 1969

Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

líq u o r), a inoculação em cobaio e as re a ­ ções sorológicas. Na p rá tic a o que se em ­ p re g a é a soroaglutinação, que se to rn a positiva em g eral a p a rtir do sétim o d ia de doença. Os outros m eios de d iag ­

nóstico são sobrefudo de in terêsse a c a ­ dêm ico d a d a a dificuldade de sua exe­ cução. Provas o u tras de laboratório, tais

como as dosagens de m ucoproteínas,

creatino-fosfoquinases e tran sa m in ases

são de g ra n d e valor, p rin cip a lm en te no diagnóstico diferencial das icterícias in ­ fecciosas e em p a rtic u la r com as h e p a ­ tite s .

U ltim am en te tem os valorizados m uito o exam e anatom opatológico do m úsculo gastrocnêm io (3), dado o seu c o n stan te e p ecu liar com prom etim ento desde os p e­ ríodos m ais precoces d a infecção. Aliás, Beeson (1) frisa a im p o rtân cia dos reex a-

m es como meio de diagnóstico precoce,

p rin cip alm en te quando aliado ao quadro clínico.

MATERIAL E MÉTODOS

O p re sen te tra b a lh o m o stra n essa ex ­ periên cia com biópsias m usculares feitas em 16 p acien tes po rtad o res de leptospi- rose, todos in tern a d o s no Serviço de D oen­ ças Infecciosas e P a ra sitá ria s do H ospital U niversitário A ntônio Pedro, no período

com preendido e n tre o u tubro de 1966 e

m aio de 1969.

Q uinze doentes eram do sexo m ascu li­ no e 1 do sexo fem inino. As idades v a r ia ­ vam de 20 a 63 anos, sendo 8 brancos, 4 p ard o s e 5 de côr p re ta. 16 eram n a tu ra is do E stado do Rio de Ja jieiro e 1 do Estado de São P au lo (Q uadro n.° 1 ).

Os p acien tes foram subm etidos a r i ­ goroso exam e clínico e o diagnóstico con­

firm ad o atra v é s soroaglutinação p a ra

L eptospira em 15 casos e atra v és visuali­ zação do m icroorganism o n o líquor em 1 caso.

E xam es la b o ra to riais de ro tin a fo ram realizados em quase todos, com exceção daqueles cujo tem po de sobrevida n ão o p erm itiu. Os p rin cip ais fo ram : provas de floculação e tu rv aç ão em 16; tra n sa m i- n ase em 16; uréia, glicose e c re a tin in a em 16; índices de h em o stasia em 16; hem o- g ra m a e hem ossedim entação em 16; exam e de u rin a em 16; raio X de tó ra x em 16;

ele-tro ca rd io g ram a em 12; dosagem das m u- coproteinas em 8; dosagem das creatin o - fosfoquinases em 4.

O .estudo an atom opatológico a que se refere êste tra b a lh o consta da análise de 20 biópsias realizadas em m úsculo gas­ trocnêm io de 16 pacientes, feitas sob an es­

tesia local com solução de p rocaína a

1%. Os frag m en to s re tira d o s m ediam ap ro ­ x im ad am en te 1 cm no m aior diâm etro e fo ram fixados em solução de form aldeído a 10%. Os m étodos de coloração utilizados fo ram : H em atoxilina-E osina, H em atoxili- n a fo sfo tu n g stica de M allory e Tricrôm ico de Gomori.

A lguns p acien tes foram subm etidos à biópsia em d iferen tes períodos evolutivos d a doenca (casos n.° 11, 13 15 e 16) .

O quadro clínico ap resen to u -se ca­

ra cterístico da leptospirose em todos os doentes (início subito, m ialgia in ten sa, fe­ bre, h ip erem ia conjuntival, icterícia e si­ n ais de insuficiência re n a l em alg u n s). 15 p acien tes a p re se n ta ra m icterícia; ap en as 1 caso (caso n.° 16) foi anictérico. Em geral as form as clínicas fo ram graves, com com­ p ro m etim en to h e p a to -re n a l e cardíaco

(ECG an o rm a l em 12) .

Os p rin cip ais sinais e sin tem as encon­ trad o s a c h am -se relacionados no Q ua­ dro n .° 2.

D estes pacientes, 3 evoluíram p a ra o óbito, sendo subm etidos a exam e an á to - m cpatológico, cujos achados fo ram com­ patíveis com leptospirose.

O h em o g ram a m ostrou sem pre leuco- citose com n e u tro filia e desvio p a ra a es querda. As p laq u etas eram num érica e m orfològicam ente n o rm ais, enquanto os índices de h em o stasia pouco v a ria ram do norm al.

Nas form as graves encontram os no pe­ ríodo de convalescência an e m ia em grau significativo. As tra n sa m in a ses e as provas de floculação e tu rv aç ão fo ram norm ais ou pouco alterad as, en q u an to os valores de b ilirru b in a fo ram m uito elevados, com p re­ d o m in ân cia d a fração direta.

Foi com um en co n trarm o s albim inú- ria , h e m a tú ria m icroscópica, cilin d rú ria, que se to m a ra m p roem inentes nos p acien ­ tes com grave com prom etim ento rena)

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Vol. III — N.° 6

QUADRO N.° 2

MANIFESTAÇÕES CLINICAS EM 16 CASOS DE LEPTOSPIROSE

MIALGIA 16/16 ADENOMEGALIA 4/16

FEBRE 16/16 ESPLENOMEGALIA 4/16

HIPEREMIA CONJUNTIVAL 16/16 RIGID EZ DA NUCA 4/16

ICTERÍCIA 15/16 DISPNÉIA 2/16

ASTENIA-ANOREXIA 14/16 COMA 2/16

CEFALÉIA 14/16 ALT. DA CONDUTA 2/16

HEPATOMEGALIA 12/16 HEMATÚRIA 2/16

TORPOR 3/16 EXTRASS1STOLES 2/16

OLIGÚRIA 5/16 POLIURIA 2/16

EXANTEMA-PRURIDO 6/16 CHOQUE 2/16

PETÉQUIAS 7/16 ESCARROS HEMOPTÓICOS 1/16

UVEITE 3/16 CONDENS. PULMONARES 1/16

TOSSE 3/16 DERRAME PLEURAL 1/16

XANTOPSIA 6/16 BRADICARDIA (B.A.V.) 1/16

ABAFAMENTO DE BULHAS 5/16 FIBRILAÇAO AURICULAR 1/16

RIGIDEZ DA NUCA 4/16 HEMORRAGIA PERITONIAL 1/16

EPISTAXE 4/16 MELENA 1/16

N enhum a alteraçã o radiológica do a p a ­ relh o resp irató rio co n sid erad a c a ra c te rís­ tic a d a doença foi re la cio n ad a n e sta c a ­ suística.

O eletro card io g ram a revelou a n o rm a ­ lidades em todos os p ac ien tes subm etidos a êste exam e (12 p a c ie n te s). E n tre as a lte ­ rações m ais com uns, observam os os dis­ túrbios difusos de repolarização v e n tri- cular, os bloqueios (AV de prim eiroí grau, bloqueio de ram o direito e bloqueio de ram o esquerdo) e as alteraçõ es de ritm o (fibrilação au ric u lar, ex tra ssistc lia e ta q u i- c a rd ia s in u s a l). N a m aio ria dos casos ces­

saram em um prazo in ferio r a 48 dias. As dosagens de m uco p ro tein as re aliza­ das em 8 p acien tes m o stra ra m elevação dos valores em 7 casos, sendo n o rm al n o caso n.° 9. O v alo r m ais elevado foi de1 596 mg% (caso n.° 8). As creatinofosfoquinases re ­ v elaram -se acim a dos valores n o rm a is em todos os p acien tes em que fo ram dosadas

(casos ns. 8, 12, 13 e 16).

A so ro ag lu tin ação foi po sitiv a p a ra

L e p t o s p i r a i c t e r o h a e m o r r h a g i a e em 15 c a ­

sos e p a ra L e p t o s p i r a p o m o n a em 1 caso

(Q uadro n.° 3 ). E m ap e n as 1 p a c ie n te não foi possível a execução do exam e soroló- gico, e n tre ta n to o q u ad ro clín ico e os achados de n ecró p sia fo ram em tu d o com ­ p atív eis com a do en ça (caso n.° 3).

BIÓPSIA MUSCULAR (HISTOPATOLOGIA)

P assarem os ao re su ltad o histológico dos 16 casos, descrevendo p o r ordem de im p o r­ tâ n c ia as lesões en co n trad as.

A necrose focal d a fib ra m u scu lar foi e n c o n tra d a em 13 casos. D ad a a im p o rtâ n ­ cia d esta lesão, dividim o-la q u a n to à in ­ ten sid ad e que pode atin g ir, em fo rm a dis­ creta, com ap a rec im en to ocasional, in te re s­ san d o pequenos segm entos de u m a ou ou­ tr a fib ra (casos ns. 4, 8, 12 e 14), m o d erad a

(casos 6, 7, 11, 13 e 16) e extensa, m u ltifo - cal, o n d e v ária s fib ra s são atin g id as, com grave com prom etim ento de tecido m u scu lar

(casos ns. 1, 6, 9, 10 e 15). (FIG . 1 ). O segm ento lesado d a fib ra co n v erte- -se em m assa irregular, freq ü en tem en te

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QUADRO N.o 3

RESULTADOS DA SOROAGLUTINAÇÃO PARA LEPTOSPIRA EM 16 PACIENTES

COM LEPTOSPIROSE

CASOS

N.° DE DOENÇAN.° DE DIAS RESULTADOS CASOSN.° N.° DE DIAS DE DOENÇA RESULTADOS

1 5

6 ICTERO H. 1/512ICTERO H. 1/512 8 147 ICTERO H. 1/200ICTERO H. 1/200

2 7

14 36

ICTERO H. 1/32

ICTERO H. 1/256 9 208 ICTERO H. 1/200 ICTERO H. 1/400

ICTERO H. 1/512

4 7 14 24 100 NEGATIVA POSITIVA ICTERO H. 1/512 ICTERO H. 1/512

10 12

15 25

ICTERO H. 1/200 ICTERO H. 1/200 ICTERO H. 1/800

11 10 POSITIVA

ICTERO H. 1/400 6

9 16

ICTERO H. 1/32 ICTERO H. 1/256 ICTERO H. 1/256 ICTERO H. 1/512

60 0

12 12 POMANA 1/800

35

3

30 ICTERO H. 1/1600POSITIVA

6 12 ICTERO H. 1/512

ICTERO H. 1/512 43

14 1 8 POSITIVA

7 10

25 ICTERO H . 1/200 ICTERO H . 1/1600 15

1

,0

1 | ICTERO H. 1/512

16 1

j 25 j ICTERO H. 1/16001

m a-se um h alo sarcoplasm ático, fo rtem en te basófilo, m ultinucleado, cu, m ais fre qüentem ente, co n stitu em -se a rra n jo s fusi- form es de sarcoplasm a, ig u alm en te basófi- -los e m ultinucleados. (FIG . 2).

E m 8 casos observou-se in filtraçã o 'he­ m o rrág ica dos focos necróticos, n ã o se es­ tendendo, n ão o b stan te, ao segm ento p re ­ servado d a fib ra m u scu lar (FIG . 3 ). Em ap e n as 3 casos houve afluxo in flam ató rio m ono e p clim o rfo n u clear neu tro fílico aos focos de necrose.

A vacuolização sarco p lasm ática, ora fin a, o ra grosseira, g eralm en te associada à tu m efa ção e p e rd a d a estriação tra n s v e r­ sal d a fib ra, foi quase sem pre e n c o n trad a n a p roxim idade dos segm entos necrosados.

(FIGS. 4 e 5 ).

E m 9 casos observou-se in filtra ç ã o h em o rrág ica in tersticial, ap resen tan d o -se de fo rm a d isc re ta ou d en sa (FIG . 6). Em

ap e n as 1 caso houve d iscreta infiltração m ono e polim orfonuclear n eu tro fílica do in terstício .

E m 8 casos de lesões m ínim as (3 deles 2? b ió p sia), observam os u m outro tipo de altera çã o d a fib ra m uscular, caracterizad a p o r b asofilia sarco p lasm ática e h ip erp lasia dos núcleos subsarcolêm icos, por vêzes sob a fo rm a de p roliferação em rosário. (FIG 7). Em geral, ta l m odificação é evidenciada em u m a o u tra fib ra, n ão interessando, p o r­ ta n to , g ra n d es áreas de tecido m uscular.

Em a p e n a s 1 caso (caso n.° 3) n ão ob­ servam os alterações.

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Vol. III — N.° 9

Ca s o n . ° 1 3 . Tecido m u scu lar de aspecto

norm al.

C a s o s n s . 1 1 , 1 5 e 1 6 : A usência de necrose.

Os a rra n jo s sarcoplasm áticos m u ltin u cle a- dos, observados n a l 11 biópsia, sofreram u m a m odificação n itid a m e n te regressiva, to rn an d o -se retraídos, densos, de núcleos picnóticos, sendo g ra d ativ am en te su b sti­ tuídos por delgada lâm in a Ifibrótica que tende a se co n fu n d ir com o endom ísio. (FIGs. 8 e 9). N otam -se algum as fib ras com basofilia sarco p lasm ática e p ro life ra ­ ção n u clear subsarcolêm ica.

O Q uadro n.° 4 relaciona as biópsias feitas com o núm ero de dias de evolução da doença, contados a p a rtir do ap arec i­ m ento dos prim eiros sintom as, e com as alterações histopatológicas en co n trad as.

COMENTÁRIOS

A histopatologia dos 16 casos nos m os­ tra que a lesão m ais im p o rtan te, do ponto de v ista da p eculiaridade de que se reves­ te, d a constância com que surge e1 da g ra ­

vidade que pode assum ir, é a n e c r o s e da

f i b r a m u s c u l a r . Como vimos, focos de n e ­

crose foram evidenciados em 13 casos, ora isolados, ocasionais, o ra num erosos, lesan ­ do grandes áreas de tecido m uscular. As carac te rístic as com que ta l lesão se a p re ­ sen ta repetem -se em todos os casos em que foi verificada. A com panhada freq ü en ­ tem en te de um c o m p o n e n t e h e m o r r á g i c o

que a p a rtic u la riza ain d a m ais, ra ra m e n te solicita u m a reação in flam ató ria.

As e stru tu ra s sarco p lasm áticas m u lti- nucleadas, c itad a s n a lite ra tu ra como sin - cícios m ultinucleados e sarcoblastos (10), teriam eventualm ente, segundo Sheldon,

u m a provável ação fa g o citária sôbre os restes necróticos, ou p o deriam d a r origem a novas fibras, em um processo re g e n e ra ­ tivo (10). Sugerim os que êstes elem entos rep resen te m a n te s u m a te n ta tiv a de reg e­ n eraçã o d a fib ra m u scu lar que em geral n ão chega a têrm o, como tivem os ocasião de dep reen d er d as biópsias que fo ram fei­ ta s em fase evolutiva ta rd ia . Na verdade, n e sta fase ta is e stru tu ra s sefrem p ro fu n ­ d as m odificações regressivas até à fibrose e só ocasionalm ente tivem os a im pressão de que novas fib ras delas pudessem se o ri­ ginar.

A vacuolização sarcoplasm ática, com u- m en te a c o m p a n h ad a de tu m efação e p erd a d a estriação tra n sv e rsal da fib ra quase sem pre evidenciada próxim o ao segm ento necrosado, parece preceder a lesão necró- tica.

R elativ am en te com um é a in filtraçã o h em o rrág ica do in terstício , m as su rp re e n ­ d en te é a au sên cia quase co n stan te de um su b stra to in flam ató rio in te rstic ia l como já foi verificado em tra b a lh o a n te rio r (3).

A lteração tam b ém freq ü en te é a baso­ filia sarco p lasm ática associada à h ip e rp la - sia n u clea r subsarcolêm ica, observada em algum as fib ras n a s fo rm as leves e n a q u e ­ las de involução d em o n strad as n a s biópsias posteriores. P arece-n o s que re p resen ta m u m a resp o sta re g e n e ra tiv a a in jú ria s m e­ nos in te n sa s sofridas p ela fib ra m uscular.

Concluindo, consideram os as a lte ra ­ ções m usculares no seu conjunto, se não

específicas, pelo m enos b a sta n te c a ­

ra c te rístic a s p a ra conferirem à biópsia m u scu lar um inestim ável valor como meio diagnóstico d a leptospirose.

S U M M AR Y

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QUADRO N.° 4

CASOS N.°

N.° DE DIAS DE EVOLUÇÃO DE

DOENÇA

ALTERAÇÕES HISTOPATOLÓGICAS

1 11

N ecrose ex ten sa

V acuolização sarco p lasm ática

2

i

7

In filtra ç ã o h em o rrág ica in te rstic ial

B asofilia sarco p lasm ática, h ip erp la sia n u clear subsar-colêm ica.

3 8 Sem alterações.

4 17

N ecrose d iscreta

V acuolização sarco p lasm ática

B asofilia sarco p lasm ática, h ip erp la sia n u clear su b sar- colêm ica.

5 22

B asofilia sarco p lasm ática, h ip erp la sia n u clear subsar- colêm ica.

6 14

N ecrose m oderada, in filtra ç ã o h em o rrág ica de foces necróticos.

In filtra ç ã o h em o rrág ica in tersticial.

7 11

N ecrose m oderada, in filtra ç ã o in fla m a tó ria dos focos necróticos.

In filtra ç ã o in fla m a tó ria in tersticial.

8 13

N ecrose d iscre ta

B asofilia sarco p lasm ática, h ip erp la sia n u clear subsar- colêm ica.

9 12

Necrose extensa, in filtra ç ã o h em o rrág ica dos focos necróticos.

V acuolização sarco p lasm ática In filtra ç ã o h em o rrág ica in tersticial.

10 14 N ecrose m o d erad a, in filtra çã o hem o rrág ica de focos necróticos.

Inlfiltração h em o rrág ica in tersticial.

11 11 Necrose m oderada, in filtra ç ã o hem o rrág ica de focos necróticos.

In filtra ç ã o h em o rrág ica in tersticial.

21

A usência de necrose.

(8)

QUADRO N .° 4 — (con tin u ação)

CASOS N.°

N.° DE DIAS DE EVOLUÇÃO DE

DOENÇA

ALTERAÇÕES HISTOPATOLÓGICAS

12 10 N ecrose discreta, in filtra ç ã o 'hem orrágica de focos necróticos

In filtra ç ã o h em o rrág ica in tersticial.

13 3

Necrose m o d erad a

V acuolização sarco p lasm ática In filtra ç ã o h em o rrág ica in tersticial

B asofilia sarco p lasm ática, h ip erp la sia n u c le a r subsar-colêm ica.

33 Sem alterações

14 8

N ecrose discreta, in filtra ç ã o h em o rrág ica e in flam a­ tó ria de focos necróticos.

vacuolização sarcoplasm ática.

15 10

Necrose extensa, in filtraç ã o h em o rrág ica e in flam a­ tó ria de focos necróticos

V acuolização sarcoplasm ática.

23

A usência de necrose

A specto regressivo dos elem entos sarcoplasm áticos m ultinucleados

B asofilia sarcoplasm ática, h ip erp lasia n u cle a r subsar- colêm ica.

14

Necrose m oderada, in filtra ç ã o h em o rrág ica de focos necróticos

Vacuolização sarco p lasm ática H em orragia in tersticial.

16 35

A usência de necrose

A specto regressivo dos elem entos sarcoplasm áticos m ultinucleados

(9)

Nov.-Dez., 1969

Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

313

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(10)

314

Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

Vol. III — N.° 6

F I G . 1 — F o r m a e x t e n s a d e l e s ã o n e c r ó t i c a o n d e s e o b s e r v a m v á r i o s f o c o s d e n e c r o s e c i r c u n d a d o s p o r s i n c í p i o s o u h a l o s s a r c o p l a s m á t i c o s ( H . E . — 1 0 0 X ) .

F I G . 2 — M e s m o c a s o a n t e r i o r , o b s e r v a n d o - s e c o m d e t a l h e o m a t e r i a l n e c r ó t i c o e n v o l v i d o p o r h a l o f o r t e m e n t e b a ^ ó f i l o e m u l t i n u c l e a d o d e s a r c o p l a s m a ( H . E . — 2 0 0 X ) .

F I G . 3 — I n f i l t r a ç ã o h e m o r r á g i c a d o s f o c o s n e c r ó t i o o s , a s p e c t o f r e q ü e n t e m e n t e o b s e r v a d o ( H . E . — 2 0 0 X ) .

F I G . 4 — V a c u o l i z a ç ã o s a r c o p l a s m á t i c a v i z i n h a a o s e g m e n t o n e c r o s a d o ( H . E . 2 0 0 X ) .

F I G . 5 — T u m e f a ç ã o , p e r d a d a e s t r i a ç ã o e v a c u o l i z a ç ã o s a r c o p l a s m á t i c a ( H e m a t o x i l i n a f o s f o t ú n g s t i c a d e M a l l o r y — 2 0 0 X ) .

(11)

Nov.-Dez., 1969

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Fig. 9

F I G . 7 — P e r d a d a e s t r i a ç ã o , b a s o f i l i a s a r c o p l a s m á t i c a e p r o l i f e r a ç ã o n u c l e a r s u b s a r c o l ê m i c a e m r o s á r i o ( H . E . — 4 0 0 X ) .

T M G . 8 — 2 .° b i ó p s i a d o c a s o r e f e r e n t e à f i g . 1 ( f a s e d e c u r a ) . A u s ê n c i a d e n e c r o s e , r e g r e s s ã o d o s s i n c í p i o s s a r c o p l a s m á t i c o s c o m t e n d ê n c i a a f i b r o s e d i s c r e t a ( H . E . — 2 0 0 X ) .

(12)

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Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

Vol. III — N.° 6

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Referências

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