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O CASAMENTO COMO "ARMÁRIO": HISTÓRIAS DE UM HOMEM COM CONDUTA HOMOSSEXUAL NO PANTANAL DE MATO GROSSO DO SUL.

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O casamento como “armário”: histórias

de um homem com conduta homossexual

no Pantanal de Mato Grosso do Sul

Guilherme R. Passamani Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Centro de Ciências Humanas e Sociais Campo Grande, Mato Grosso do Sul

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Resumo: Neste artigo analiso a trajetória de um homem com conduta homossexual na região do Pantanal de Mato Grosso do Sul. Proponho pensar as convenções de gênero e sexualidade construídas a partir da relação com os diferentes regimes de visibilidade a que esteve sub-metido ao longo do curso da vida. De um lado, recorro à noção de “armário homossexual” (homossexual closet) para analisar as estratégias adotadas por ele para a vivência de uma conduta homossexual. De outro, incorporo a noção de “mapas de segurança” para refletir sobre o modo com que os sujeitos controlam e administram estrategicamente os graus de visi-bilidade mais ou menos possíveis de suas condutas homossexuais de acordo com os territórios sociais nos quais circulam e interagem.

Palavras-chave: conduta homossexual; curso de vida; visibilidade social; Pantanal; Brasil.

El matrimonio como “armario”: historias de un hombre con conducta homosexual en el pantanal de Mato Grosso do Sul

Resumen: En este artículo analizo la trayectoria de un hombre con conducta homosexual de la región del pantanal del estado de Mato Grosso do Sul. Propongo pensar las convenciones de género y sexualidad construidas a partir de la relación con los diferentes regímenes de visibilidad a los cuales estuvo sujeto en su curso de vida. Por un lado, recurro a la noción de “armario homosexual” (homossexual closet) para analizar las estrategias adoptadas por él para la vivencia de una conducta homosexual. Por otro lado, incorporo la noción de “mapas de seguridad” para reflexionar sobre el modo como los sujetos controlan y administran estra-tégicamente los grados de visibilidad mas o menos posibles de sus conductas homosexuales de acuerdo con los territorios sociales en los cuales circulan e interactúan.

Palabras-clave: conducta homosexual; curso de vida; visibilidad social; Pantanal; Brasil.

Marriage as a “closet”: stories of a man with homosexual practices in Mato Grosso do Sul’s Pantanal in Brazil

Abstract: This article analyzes the trajectory of a man with homosexual practices in the Pan-tanal region of Mato Grosso do Sul, Brazil. I look at gender and sexuality conventions con-structed in relation with the regimes of visibility this man has been subjected to in his lifetime. On the one hand, I use the notion of “homosexual closet” to analyze the strategies adopted on his homosexual practices. On the other hand, I use the concept of “security maps” to think about how subjects control and strategically manage possible degrees of visibility for their ho-mosexual practices, according to the social territories in which they move and interact.

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O casamento como “armário”: histórias de um homem com

conduta homossexual no Pantanal de Mato Grosso do Sul

Introdução

Este artigo é parte das reflexões de minha pesquisa de doutorado em Ciências Sociais, realizada no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, na linha de Estudos de Gênero. Nela problematizo a interseção entre envelhecimento, memória e condutas homossexuais1 na região do Pantanal (Mato Grosso do Sul),

nas cidades de Corumbá (108 mil habitantes) e Ladário (21 mil habitantes), nas cercanias da fronteira com a Bolívia. Durante o trabalho de campo, realizado en-tre julho de 2012 e fevereiro de 2014, busquei estabelecer contato com uma gama variada de pessoas com condutas homossexuais, maiores de 50 anos, residentes nas duas cidades. O objetivo inicial era pensar trajetórias, curso da vida e possíveis idiossincrasias da experiência destes sujeitos que vivem em regiões mais distantes das grandes metrópoles brasileiras.

Em relação à pesquisa que deu origem a este artigo, penso que o mais im-portante não é o fato de ela se realizar em um lugar “distante”, em um estado da região Centro-Oeste do Brasil onde não há uma grande metrópole, nem tampouco uma tradição de pesquisas sobre gênero, sexualidade e condutas homossexuais. Também não se justifica, meramente, por não se desenvolver na capital do estado, Campo Grande (com seus quase 800.000 habitantes). Em que pesem todas estas questões, evidentemente não negligenciáveis, o fato a ser destacado é justamente a possibilidade aberta pela pesquisa de abordar as condutas homossexuais de sujei-tos que não migraram, ou seja, que em espaços aparentemente e a priori adversos construíram vivências possíveis e desenvolveram estratégias de gestão de visibili-dade para suas condutas. Nesse sentido, ocupei-me de sujeitos que parecem estar

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na contramão do clássico processo de migração para grandes centros com vista à realização plena de sua sexualidade, conforme descrito por inúmeros autores (Gre-en, 2000; Guimarães, 2004; Eribon, 2008).

O fato de os sujeitos de minha investigação permanecerem na cidade de ori-gem pode sinalizar uma relação tensa com o anonimato e com a impessoalidade, especialmente no que diz respeito às questões que envolvem as condutas homosse-xuais, fazendo com que estabeleçam potenciais confrarias (Soliva, 2012) em que o segredo e o anonimato (Passamani, 2011) possam ter especial relevância. Estes elementos podem mudar de maneira completa o regime de visibilidade com o qual esses sujeitos estão constantemente negociando.

A aproximação com meus interlocutores se deu de formas variadas e envolveu: contatos estabelecidos com ONGs da cidade que, por meio de suas redes, levaram--me até alguns interlocutores; contatos estabelecidos com pessoas ligadas à Univer-sidade Federal do Mato Grosso do Sul, campus de Pantanal, que me possibilitaram contatar sujeitos ligados ao universo do carnaval; e também por meio de contatos em salas de bate-papo na internet.

Para este artigo, destaco a trajetória e a experiência de um deles, a quem dei o nome fictício de Rubens. Estabeleci contato com Rubens a partir da internet, con-texto em que, desde o primeiro momento, apresentei-me como pesquisador e es-clareci sobre a pesquisa que estava realizando. Ele é formado em administração de empresas e se dedica a negócios próprios. Tem 66 anos, é viúvo, sem filhos, branco, alto, de cabelos grisalhos e muito atento aos cuidados com a saúde, dedicando-se a exercícios físicos regulares. Rubens é o que se define como uma pessoa bem de vida2 ou, diria eu, pertencente à elite local, pois é dono de fazendas no Pantanal,

imóveis no centro da cidade e está constantemente viajando, em suas férias, para as capitais do sul e do sudeste, bem como para destinos internacionais. Estudou em São Paulo, onde viveu por aproximadamente cinco anos, entre o final dos anos de 1960 e o início dos anos de 1970. Rubens experimentou, assim, por alguns anos, a vida fora de Corumbá, mas retornou ao Pantanal e, ali, na cidade de origem, nos interstícios das moralidades locais, desenvolve cotidianamente estratégias que lhe permitem encontros e romances com seus garotos.

Ao problematizar a trajetória de Rubens neste artigo, buscarei pensar os dife-rentes regimes de visibilidade (Meccia, 2011) e as mudanças que ocorrem no “lugar social da homossexualidade” (Carrara, 2005), tendo como pano de fundo o curso da vida (Debert, 2004) do interlocutor. Como cenário para tanto, uma cidade do

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interior do centro-oeste do Brasil, na região do Pantanal, em que não há um “mer-cado GLS” (França, 2012)3 nos moldes existentes nas capitais do sudeste do país.

Em um primeiro momento, destacarei os trânsitos de Rubens da juventude à vida adulta e as primeiras construções de seus desejos até o seu casamento, que fun-ciona como um marco limitador de suas práticas homossexuais. Em um segundo momento, buscarei pensar as estratégias adotadas pelo interlocutor para viver uma conduta homossexual na cidade de origem, “dentro do armário”, e as implicações de regimes de visibilidade que continuam orientados compulsoriamente por condu-tas heterossexuais públicas.

A região do Pantanal e um cenário de sujeitos não migrantes

O propósito deste artigo não é discutir “homossexualidade e envelhecimento no interior do Brasil”. Entre outras razões, porque o Brasil é bastante plural e di-verso e a noção de “interior” é extremamente complexa. Trato aqui de um interior muito particular e das experiências de envelhecimento de um sujeito com condutas homossexuais, bem como da gama de estratégias utilizadas para manejar a visibi-lidade destas experiências.

A região do Pantanal, onde se localiza a cidade de Corumbá, é considerada uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta (138.183 km²) e estende-se por boa parte do centro da América do Sul, nos territórios do Brasil e da Bolívia. É de se destacar que eventos importantes da história do Brasil também tiveram lugar no Pantanal, especialmente na cidade de Corumbá. A região foi palco de disputa na Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, no século XIX (1864-1870), e no começo do século XX, destino final da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, um dos mais importantes empreendimentos ferroviários do país e o principal do centro--oeste. O popular Trem do Pantanal partia de Bauru, no estado de São Paulo, e che-gava a Corumbá, depois da alteração do traçado original que o levaria até Cuiabá.4

3 “Mercado GLS” é expressão que populariza certa forma de segmentação do mercado dire-cionada para o que hoje se nomeia como população LGBT e que nos anos de 1990 era mais comumente referida como GLS (Gays Lésbicas e Simpatizantes). Segundo França (2007), ele é um dos desdobramentos das transformações do antigo gueto, promovendo a sociabilidade e o consumo, bem como incorporando alguns elementos e símbolos do movimento social. Basicamente, o “mercado GLS” é caracterizado por espaços de lazer e sociabilidade em que se buscou construir uma imagem positiva para a população LGBT.

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Foi apenas ao final da guerra contra o Paraguai que se deu a consolidação da fronteira no Pantanal, possibilitando sua posterior ocupação e colonização de forma mais efetiva. Corumbá, especialmente, recebeu um grande número de imigrantes de vários lugares do Brasil e do mundo. Portanto, ainda que se trate de uma pequena cidade, tem certo ar cosmopolita, cujas raízes estão em seus antecedentes históricos (Corrêa & Corrêa, 2013). Sua economia foi impulsionada pelo comércio facilitado pelo porto da cidade, pela instalação de fazendas de gado no Pantanal e, posterior-mente, pela exploração dos minérios na região. No final do século XIX, a cidade era um centro portuário importante para o comércio fluvial de importação e exportação. Ao longo das primeiras décadas do século XX, o comércio fluvial alternou momentos de bastante vigor e de crises contundentes, até chegar ao ponto de declínio total.

Hoje Corumbá conta com pouco mais de 108 mil habitantes e tem sua econo-mia fortemente ligada à exploração de minério, à pecuária, ao turismo, ao comér-cio e aos serviços de maneira geral. De fato, a cidade é muito pobre e socialmente desigual. Há uma grande e visível discrepância entre ricos e pobres, entre aqueles que moram antes dos trilhos do trem, mais próximos do centro da cidade e da re-gião conhecida como Porto Geral, e a parcela majoritária da população, que mora depois dos trilhos, nos bairros mais pobres e periféricos. A pobreza e a distância das grandes metrópoles ajudam a compor o mosaico de particularidades que tor-nam muito específica a experiência do envelhecimento entre sujeitos com condutas homossexuais na região do Pantanal.

Outra característica importante de Corumbá é a presença muito próxima do Sexto Distrito Naval da Marinha do Brasil, instalado a apenas 6 quilômetros, na vizinha cidade de Ladário.5 O imaginário da região é, portanto, muito

influen-ciado pela presença dos marinheiros e as relações sociais foram sendo alteradas à medida que os diferentes sujeitos que compõem a Armada começaram a entrar em contato com os moradores locais. Corumbá e Ladário são cidades que ocupam po-sições estratégicas, inclusive do ponto de vista geopolítico, pois estão na fronteira com a Bolívia. Além disso, há ali contingentes permanentes das Forças Armadas (Marinha e Exército), fazendo com que sejam cidades de desterritorializações. Ne-las, há um fluxo de homens, de corpos masculinos desterritorizalidos. Quem sabe seja este mais um fator a particularizar a experiência dos homens com conduta homossexual na região.

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Trata-se, desse modo, de um “interior” de fronteira, de cruzamentos e tam-bém de passagem, porque as pessoas vão quase sempre para lá em razão de tra-balho ou turismo.6 Como as cheias do Pantanal, há períodos de marcado refluxo

populacional, em que, outra vez, Corumbá exibe os traços de cidade provinciana, onde, como dizem alguns de meus interlocutores, a rede de relações pessoais é bem estreita, o que dá margem à fofoca e exige mediações do segredo para algumas instâncias da vida social. De todo modo, nesse cenário em que há muita circulação e “inchaços” pontuais, como o que acontece na época das festas, Rubens, como todas as outras pessoas que participaram de minha pesquisa de doutorado, não pode ser considerado um adventício.

Trânsitos possíveis e o casamento como “armário”

À época da pesquisa, Rubens tinha 66 anos e havia experimentado a vida “no armário” por mais de 20 anos. No entanto, ainda que filho de uma família pobre, ele teve condições – a partir de esforços familiares – de estudar fora de Corumbá e ter outro tipo de relação com a vida gay. Durante o tempo em que foi estudante do ensino superior, viveu na cidade de São Paulo, um dos epicentros nacionais do que se convencionou chamar de “mercado GLS”.7 Ele é produtor rural, dono de

fazenda no Pantanal. Nunca teve outro emprego senão a administração dos negó-cios da família. A vida confortável que desfruta, entre o apartamento na cidade de Corumbá e a fazenda com todo tipo de tecnologia, além das constantes viagens de lazer, contrasta com o tempo de sua juventude, em que seus pais eram funcionários de fazendeiros e, posteriormente, pequenos proprietários rurais.

Meu interlocutor diz que sua história é longa e contrastante, porque ele seria um velho. Ele nasceu em uma fazenda nos alagados do Pantanal, no final dos anos de 1940, em uma família, segundo ele, atípica, pois era filho único, quan-do toquan-dos os vizinhos tinham uma tropa de crianças. Os pais viviam na fazenda. Enquanto seu pai cuidava do gado da propriedade, a mãe se ocupava com a casa

6 Corumbá, por exemplo, é reconhecida em Mato Grosso do Sul como uma “cidade alegre” e festiva. Esta referência foi conquistada a partir das diversas festas, como o carnaval e as dos santos populares, mas também devido aos festivais culturais, musicais, além do turismo eco-lógico, sem contar o fato de ser rota para o turismo rumo aos Andes peruanos.

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e a alimentação dos peões. Foi ali, na fazenda, que Rubens viveu até ir para a ci-dade estudar. Ele conta que até hoje é encantado pela região, diz achar Corumbá

linda. Destaca principalmente a ingenuidade que as cidades pequenas propiciam às pessoas que nelas vivem. Esta ingenuidade daquele tempo contrastaria com a vida atual. Ele lembra:

Tive uma infância normal. De um garoto do Pantanal. Convivi com a na-tureza, com o rio, com os bichos. Você conhece o Manoel de Barros, nosso maior poeta? Então, o que ele conta na poesia foi o que eu vivi na prática. Brincava muito sozinho. Fazia muita estripulia. Fui amigo dos filhos dos peões. Com eles, fiz os primeiros troca-trocas. Sem qualquer maldade. As-sim a gente foi descobrindo o sexo. Mas foi uma infância como a de qual-quer criança (Rubens).

Rubens é filho de um migrante gaúcho, que chegou ao Pantanal em busca de uma vida melhor. Como trabalhador que era, seu pai logo conquistou a simpatia das pessoas do lugar e era visto como um homem sério. A mãe era uma moça da região do Pantanal. Seus pais se conheceram na fazenda onde todos trabalhavam. Ele faz questão de contar a história de superação dos pais para justificar sua con-dição privilegiada atual. Esta condição seria fruto de muito trabalho, diferente da realidade de outras pessoas da região, cujo dinheiro é resultado de heranças sem qualquer esforço pessoal. Rubens diz que ele e os pais teriam batalhado muito para ter aquela terra:

Meu pai trabalhou muito. Fez plantações. A terra era muito barata aqui. Ninguém queria estes lados do mundo. Ele tinha visão de negócio. E foi comprando pequenos pedaços de terra. Meu pai morreu com 80 anos. Em 50 anos de trabalho, ele construiu um bom patrimônio, que eu estou man-tendo e expandindo. O sonho de papai era me ver doutor. Ser doutor era ser formado em qualquer faculdade. Quando entrei na PUC, eles ficaram muito felizes (Rubens).

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as pessoas iam para estudar. No Rio de Janeiro, todos se perdiam pela praia e os estudos ficavam em segundo plano. Segundo relata:

Minha mãe achava que o Rio não era um lugar sério. Ela achava São Paulo um lugar sério. Por isso, fui pra lá. Estudei administração na PUC. Achava São Paulo a coisa mais louca do mundo. Eu fiquei aterrorizado quando cheguei. Mas acostumei e vivi cinco anos lá. Daí aconteceu o contrário, o baque foi voltar. Voltar pro Pantanal foi muito ruim, porque eu já era outra pessoa. Sinto uma falta de mim em São Paulo. Por isso, sempre que posso estou lá (Rubens).

É importante lembrar que a chegada de Rubens à capital paulista coincidiu com os momentos mais difíceis do regime de exceção imposto pelos militares ao país. Ele chegou a São Paulo em 1968, ano do Ato Institucional Número 5, que marcou o endurecimento do regime.8 Talvez as preocupações de sua mãe fossem

legítimas. No entanto, paralelo à série de restrições da ditadura, Rubens conta que conseguiu desfrutar em São Paulo de um universo inimaginável da perspectiva de Corumbá. Dentre tudo que era novidade para ele, estava uma vida gay que inexis-tia naqueles moldes no Pantanal.9

São Paulo representou um tempo de descobertas, de novas experiências no que diz respeito às aproximações afetivas, eróticas e sexuais com outros homens, o que já havia existido, mas de forma muito pontual, em Corumbá. Em São Paulo, Ru-bens circulou pelos lugares, conheceu pessoas e envolveu-se com outros homens, fazendo um círculo de amigos que tinha a conduta homossexual como razão de aproximação. Quer dizer, mesmo em meio a um cenário restritivo mais geral, eram possíveis essas relações e uma certa visibilidade bastante controlada e tensionada por uma moralidade que se impunha socialmente.10

É importante frisar, conforme as informações do interlocutor, que a ida para São Paulo não teve relação direta e consciente com sua conduta homossexual. A finalidade da transferência de residência teria como foco, exclusivamente, os

es-8 Sobre os acontecimentos que marcaram a repressão às pessoas com conduta homossexual

durante a ditadura civil-militar brasileira, ver Green (2003, 2005), Green e Quinalha (2014). Sobre São Paulo no período da ditadura, ver Green (2000), Trevisan (2000) e McRae (1990).

9 Sobre a sociabilidade entre pessoas com conduta homossexual nos anos 1950 em São Paulo, ver Barbosa da Silva (2005). Sobre a “cena GLS” paulistana, ver França (2010).

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tudos superiores. À medida que foi conhecendo melhor a cidade de São Paulo, foi experimentando, com mais liberdade e sem tantos medos, as práticas sexuais com outros homens, até aceitar-se como homossexual.

No entanto, esse período longe do Pantanal foi um tempo determinado, ou seja, compreendeu os cinco anos de duração da faculdade. Segundo Rubens, aque-la vida tinha prazo de validade. O término da faculdade envolvia a volta para Co-rumbá. Ele conta que pensava em voltar por um rápido período, apenas para co-municar aos pais que retornaria a São Paulo, onde procuraria um trabalho na sua área. Além das questões laborais, Rubens tinha descoberto a homossexualidade e entendia que em São Paulo poderia ficar um pouco mais livre do que em Corumbá para fazer o que quisesse. Mas, segundo ele, o destino teria lhe pregado uma peça:

Quando eu voltei para Corumbá, com 25 anos, mais ou menos, já tinha noiva e casamento acertado. Naquela época não tinha essa coisa de casar por amor, querer casar e tudo. Os pais queriam que a gente casasse e a gen-te casava. Casei, a moça era muito bonita e a gengen-te se conhecia da infância. Eu já sabia bem quem eu era. Do que eu gostava. São Paulo me abriu o mundo. Fiquei casado vinte anos (Rubens).

A novidade que o esperava era um casamento arranjado. Em todas as vezes em que estivera no Pantanal, por ocasião das férias na universidade, o assunto do casamento era recorrente. Rubens o evitava como podia. Inventou algumas namo-radas em São Paulo e histórias semelhantes na tentativa de dissuadir sua família. No entanto, como filho único, sem conseguir fazer com que os pais desistissem do intento já dado como certo pelo pai da pretendente, que era vizinho da fazenda, ele acabou se casando. Este fato mudou a vida de Rubens por pelo menos 20 anos, tempo em que permaneceu casado.

A história do casamento de Rubens é repleta de tristes coincidências que aca-baram por “beneficiá-lo” no que diz respeito a uma trajetória de interações eróti-cas e sexuais com outros homens. Sua esposa morreu com pouco mais de 40 anos de idade, em decorrência de complicações de um câncer de mama. Segundo ele, foi

uma situação dificílima, pois a esposa já tinha apresentado problemas no sistema reprodutivo, razão que impediu o casal de ter filhos. Rubens conta que essa série de problemas aproximou-o da esposa, a quem no começo respeitava muito e por quem, depois, começou a sentir amor, carinho e a dispensar muito cuidado, ra-zões que ele aponta para nunca tê-la traído.

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uma pessoa espetacular. Por seu lado, Rubens tentou, de toda forma, sufocar o

desejo pelos homens e sentir-se atraído sexualmente pela esposa. No entanto, diz não ter logrado êxito, pois todas as vezes em que fizeram sexo, para consumar o ato, ele se concentrava e pensava nas suas experiências homossexuais.

Na pesquisa de Carlos Eduardo Henning (2014) sobre envelhecimento, meia--idade, velhice e homoerotismo na cidade de São Paulo, dentre os inúmeros inter-locutores do autor, alguns definiram-se como bissexuais11 e mantinham uma vida

dupla, isto é, o casamento heterossexual e as relações sexuais eventuais com outros homens. Tais práticas, como mostra o pesquisador, são recobertas por uma série de estratégias que buscam manter o segredo diante da família. Em alguns casos, as “puladas de cerca” foram descobertas e as situações desestabilizadoras ocorreram. No entanto, alguns sujeitos contam que conseguiram manter os “encontros” com outros homens sob um sigilo seguro.

Se o casamento nos dias atuais não tem mais a importância que tinha, ou está em vias de perdê-la, isto não se refletia ainda quando Rubens era mais jovem, es-pecialmente na primeira metade dos anos de 1970, mesmo que estivesse em curso uma série de transformações culturais. No Pantanal, o casamento era o destino dos jovens com mais de 20 anos, principalmente daqueles que tinham ido para a

cidade grandetiraro curso pra ser doutor. O casamento, naquele momento, ainda era a conjunção entre a tradição familiar e um negócio. Rubens estava, pois, no epicentro deste acontecimento.

Meu interlocutor, no entanto, diz que foi muito feliz com a esposa e que a morte dela teria sido traumática para ele, ao mesmo tempo em que foi liber-tadora. Ele acompanhou o sofrimento da esposa desde o primeiro dia. Todo o processo no hospital, a tentativa de recuperação em casa, as recaídas, a debili-dade do corpo, as constantes dores, as noites mal dormidas, até a morte. Foi, segundo conta, uma sequência de traumas. Por outro lado, a morte dela foi

libertadora: para ela mesma, pois teria parado de sofrer, e para ele, pois se via, com pouco mais de 40 anos, livre para voltar a se encontrar com os garotos. Ru-bens diz: como um bom viúvo, nunca mais tive outra mulher. A viuvez serviu

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de álibi para a minha solteirice. Isto abriu portas para o caso com os garotos, coisa que faço nos últimos vinte anos.

É bom lembrar que Corumbá, uma cidade com mais de 100 mil habitantes hoje, era nos anos de 1970 bem menor. Nela, como em outras cidades pequenas em que há proximidade entre a vizinhança, os comentários e a fofoca eram uma constante. A vida alheia era sempre muito interessante para algumas pessoas que transitavam pelo círculo de amizade da família de Rubens. Tal como na investiga-ção de Paulo Rogers Ferreira (2006) no sertão do Cariri, a fofoca era edificadora de alguns tipos de relação. Nesse sentido, o fato de ser reconhecido na cidade como tendo sido um bom marido, apaixonado pela esposa, teria contribuído para que nunca se levantasse suspeita sobre sua conduta homossexual. Muito embora, como admite, algumas pessoas possam saber, porque a gente acaba se descuidan-do uma vez ou outra. A todo instante ele deixa transparecer que vive uma vida vigiada, sob austera disciplina.

Ele lembra que os encontros sexuais frequentes com outros homens tiveram início em São Paulo, quando contava pouco mais de 20 anos. Antes disso, faz re-ferência aos troca-trocas com os amigos na infância e a uma transa nos tempos de serviço militar com um colega de quartel. Porém, afirma que isso não quer dizer que não houvesse desejo sexual por homens. Ele afirma que havia desejo, a ponto de nunca ter pensado sexualmente em uma mulher, tendo se relacionado ao longo da vida apenas com sua esposa. Ele esclarece:

Nunca tive dúvidas. Não queria ser, mas sou. Não lembro quando comecei a pensar, a desejar. A homossexualidade sempre me acompanhou. Depois deixei ela vinte anos guardada. Mas não tinha como guardar o meu desejo. Nem eu sei como eu fiz. Eu inventei uma história pra mim. Sou um homem diferente. Não sou afeminado. Não ando na rua levantando bandeiras. Tenho os meus casos sempre na maior discrição. Sou patrão de muitos peões. Sou conhecido na cidade. Não poderia ser uma bicha destas que a gente vê na rua. Eu perderia o respeito. Isto é ser enrustido? Bem, então sou enrustido. Mas sou um enrustido muito tranquilo e muito consciente de mim (Rubens).

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A regulação do “conta-gotas” da visibilidade

O debate sobre “armário”, tal como proposto por Eve Sedgwick (1998), mere-ce reflexão a partir da trajetória de Rubens. Neste caso, ela encontra respaldo nas proposições da autora, inclusive porque mostra que ao longo da vida podem ser muitas as “saídas” e “voltas ao armário”, de acordo com os contextos nos quais estamos inseridos. Meu interlocutor já teve esta experiência. Pontualmente, houve uma “saída do armário” em São Paulo, longe do Pantanal, da família de origem e da vigilância das pessoas próximas, de modo muito parecido com o documentado no texto de Guimarães (2004) e Eribon (2008). Mas precisou “voltar ao armário” no momento de retorno ao Pantanal e durante o casamento. Com a viuvez, tiveram início outras tantas “saídas” e “voltas” constantes. Tais comportamentos são dife-rentes das teorias do wardrobe elaboradas por Judith Halberstam (1998), porque no caso de Rubens há o que esconder e há o que preservar.12

A confirmação de que há o que esconder e de que há o que preservar aparece em suas palavras no instante em que diz que não poderia ser uma bicha, pois esta figura não seria, segundo ele, digna de respeito diante de seus subalternos. Aqui, as performances de gênero estão articuladas com a categoria classe. O afeminado, a bicha, parece que combinaria, segundo Rubens, com alguém mais pobre e, natu-ralmente, subalterno. A figura de chefia, de liderança, precisaria incorporar as per-formances do macho. Parece-me que a tônica da questão é aquilo que Perlongher (1987) chamava de um devir mulher que assombra os homens. Este é o perigo de borrar as fronteiras tão bem estabelecidas pelo binarismo de gênero, que produz, na verdade, dualismos em duelo (Fausto-Sterling, 2001).13

Estes, no entanto, podem ser alguns traços que marcam a cultura ocidental, ainda muito fortemente amparada em valores machistas (Castañeda, 2006). Sen-do assim, o “ser homem” por si só não basta enquanto valor social. Este homem social precisa estar investido de valores que o façam parecer ser mais homem que

12 Judith Halberstam (1998) propõe a teoria do wardrobe a partir da análise dos romances de ficção “lésbicos” norte-americanos. Em linhas gerais, o argumento da autora caminha no sentido de afirmar que algumas das mulheres daqueles romances não passavam pelo processo da revelação de um segredo. Algumas delas, eram a personificação da “perversão sexual femi-nina”, como diria Meinerz (2011). Esta representação se dava ao aparecerem trajadas “como homens”. Quer dizer, as roupas escolhidas no “guarda-roupas” informavam sobre a sexuali-dade daquelas mulheres, sem que para isso fosse necessária qualquer revelação. As persona-gens analisadas por Halberstam (1998) escolhem no wardrobe os códigos que as associam ao masculino e tornam sua conduta homossexual visível. Halberstam questiona a potencialidade da noção de “armário” para pensar a “homossexualidade feminina”, especialmente a mascu-linidade presente em mulheres.

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a maioria dos homens (Passamani, 2013). É preciso destacar-se entre os machos da espécie. Segundo Raewyn Connell (1995), o “verdadeiro homem” ostenta um “ideal masculino que enfatiza a dominação sobre as mulheres, a competição entre os homens, a exibição da agressividade, a sexualidade predadora”(:31). Desde os primeiros anos, meninos são incentivados a perder a sensibilidade e a capacidade de emocionar-se diante das situações mais triviais e acercar-se de certa rudeza, frieza e impessoalidade técnica porque elas representariam o ideal de homem a ser perseguido (Passamani, 2009).

Como diz Mattew Gutmann (1999), a discussão sobre masculinidades tem uma profunda ligação com as discussões sobre sexualidade. A sexualidade é parte crucial de uma masculinidade para a qual se supõe uma fundamentação anatômica, em cujos termos a diferenciação entre as identidades é de origem biológica. Isto é determinante para uma lógica cultural que construiu os mun-dos binários que dão origem e separam homens e mulheres. Por trás desta dis-puta em torno das sexualidades majoritárias, estão relações de poder (Foucault, 1987). Mais do que afirmar uma sexualidade e um gênero, afirma-se uma lógica de mando, da qual estes elementos são partes constituintes, uma vez que con-tribuem para a manutenção de uma mesma representação de autoridade e de verdade. Nas sociedades disciplinares, das quais fazemos parte, acabam sendo idealizadas, tal como propõe Michael Kimmel (1998), masculinidades hegemô-nicas e subalternas. A reflexão de Kimmel nos auxilia a interpretar as posições de Rubens. Para o sociólogo:

[...] as masculinidades são socialmente construídas, e não uma proprie-dade de algum tipo de essência eterna, nem mítica, tampouco biológica. Pressuponho que masculinidades (1) variam de cultura para cultura, (2) variam em qualquer cultura no transcorrer de um certo período de tempo, (3) variam em qualquer cultura através de um conjunto de outras variá-veis, outros lugares potenciais de identidade e (4) variam no decorrer da vida de qualquer homem individual. [...] dois dos elementos constituti-vos na construção social de masculinidades são o sexismo e a homofobia (Kimmel, 1998:105).

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[...] toda cultura tem uma definição de conduta e dos sentimentos apropria-dos para os homens. Os rapazes são pressionaapropria-dos a agir e dessa forma se distanciar do comportamento das mulheres, das garotas e da feminilidade, compreendidas como o oposto. A pressão em favor da conformidade vem das famílias, das escolas, dos grupos de colegas, da mídia e, finalmente, dos empregadores. A maior parte dos rapazes internaliza essa norma social e adota maneiras e interesses masculinos, tendo como custo, frequentemen-te, a repressão de seus sentimentos (Connel, 1995:190).

Todos estes elementos constituem diferentes regimes de visibilidade (Meccia, 2011). Rubens parece ser um sujeito cuja relação com a visibilidade apresenta-se de forma tensionada. Ele preferiu, então, permanecer “no armário”, ou como ele mesmo diz, ser “enrustido” a partir de algumas ponderações sobre a visibilidade e a publicização das suas condutas homossexuais. A forma encontrada por ele para a vivência de sua sexualidade envolveu o segredo, o medo, a vergonha, o sufocar desejos durante anos; em grande medida porque se impunha uma questão social: o matrimônio heterossexual; e uma questão de classe: o fato de ser um rico fazen-deiro da região.

No começo dos meus contatos com Rubens, quando não conhecia as suas histórias, fui tentado a relacionar a sua escolha pela não visibilidade de sua con-duta homossexual à inexistência de iguais na cidade, ou a uma circulação bas-tante restrita destes sujeitos. No entanto, como Rubens me contou algum tempo depois – e eu mesmo pude observar – Corumbá é uma cidade lotada de bichas.

Nossa cidade é pequena. Mas proporcionalmente tem muito viado, conforme diz. Ele atribui esta quantidade expressiva de pessoas com conduta homossexual na região ao grande número de homens que trabalham na Marinha, no Exército, nas fazendas e na mineração. O contingente masculino destes lugares seria bem superior ao feminino.

Além disso, conta o interlocutor que o Carnaval, evento bastante importante na cidade, é um tempo que aglutina muitas pessoas com conduta homossexual. Isto faz com que Rubens entenda que, embora a cidade seja pequena, o preconceito tenha arrefecido em relação aos tempos passados, quando a visibilidade era muito menor e as pessoas tinham que manter tais práticas e relações escondidas. Ele diz que segue neste ritmo de segredo por uma escolha pessoal. No entanto, percebe a transformação em direção a uma maior visibilidade, que coincidiria com um grau menor de discriminação.

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espaço – por um tempo de alguma “tolerância”. Ernesto Meccia (2011), no contex-to de Buenos Aires, caracterizou esta mudança como uma transição da “homos-sexualidade” para a “gaycidade”. O período da “era gay” seria caracterizado por mais visibilidade, mais respeito, pela existência de um circuito de entretenimento, pela reivindicação de direitos e pela afirmação do orgulho de “ser quem se é”.

Nos limites de Corumbá, sem tentar transpor acriticamente a realidade de Buenos Aires, Rubens percebe aspectos que embaralham alguns pressupostos e nos fazem pensar em possíveis pontes entre a realidade das grandes metrópoles e a das cidades menores (ao menos de algumas delas):

Mas em Corumbá há uma coisa que não sei explicar. É cidade pequena, mas parece grande. Tem gente de todo lado. Isto nos deixa um pouco anônimos. Eu sou conhecido aqui, com as pessoas daqui. Mas se entro na internet e converso com um homem de fora, como aconteceu contigo, sou um estranho, um anônimo. Você só sabe a meu respeito porque eu te contei. E assim é. Esta é uma face bonita da cidade. Além disso, as famílias tiveram que parar de graça, porque em toda casa tem um bicha. Você não pode ser tolerante com a sua bicha e não tolerante com a bicha da família do vizinho. Como a coisa cresceu tanto, está em todo lugar, a mentalidade das pessoas teve que acompanhar. Não sei se aceitam, mas não discrimi-nam tanto (Rubens).

A primeira observação de Rubens – a cidade que é pequena, mas não parece pequena – foi uma das muitas recorrências que notei em minha etnografia. Isto talvez realmente se deva ao fato de muitas pessoas de fora constituírem a popula-ção local, composta por um grande contingente de servidores das Forças Armadas, de empresas de mineração e turistas em geral. Estes turistas podem se destinar ao Pantanal, do qual a cidade de Corumbá é considerada a “capital”, ou estão de pas-sagem para chegar aos Andes peruanos. Corumbá é a última cidade brasileira da rota dos chamados mochileiros, aqueles que buscam um turismo mais barato. A diversidade de pessoas que estão em trânsito pela região seria uma das razões que dariam a Corumbá a cara de uma cidade não pequena.

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Você é daqui ou de fora?

Todas as vezes em que participei das salas de chat, eu precisei responder a esta questão, naturalmente acompanhada das demais. Ser da cidade ou de fora

enseja uma gama de possibilidades (se o sujeito for de fora); ou uma série de cui-dados (se o sujeito for da cidade). Parece que existem scripts específicos para o prosseguimento dos contatos a partir da resposta desta que se apresenta como uma pergunta-chave.14

Por último, é muito oportuno o apontamento de Rubens no sentido de que as famílias tiveram que parar de graça, pois haveria uma bicha em cada casa. Esta seria, para ele, uma das razões para que as condutas homossexuais não fossem tão reprováveis publicamente na cidade e houvesse um clima, senão de simpatia, pelo menos de tolerância diante desses sujeitos. O arremate que faz é muito inte-ressante: você não pode ser tolerante com a sua bicha e não tolerante com a bicha da família do vizinho. Ele tenta esclarecer que a presença de algo em casa, ainda que indesejado, impediria uma postura agressiva diante desta questão que, talvez, fosse naturalmente reprovável para muitas famílias, mas que necessitava forçosa-mente ser repensada, uma vez que um dos nossos também é assim.

Na percepção de Rubens, esta seria uma das razões que contribuíam para que ele não tivesse sido vítima de preconceito na cidade. No entanto, atribui a um estilo de vida em que a conduta homossexual não é visível a razão prepon-derante para tal. Já que, segundo ele, o preconceito existe. Ele conta que, talvez, se escolhesse tornar visível a sua homossexualidade, minhas fazendas e meu dinheiro poderiam até comprar os sorrisos e o bom trato na minha frente, mas, pelas costas, tenho certeza que eu seria discriminado. Diante deste cenário, então, a sua aposta é na reserva sobre sua sexualidade e em uma vivência mais aberta apenas quando está fora da região, especialmente em momentos de lazer durante férias e outras viagens.

Em pesquisa anterior, com homens com conduta homossexual em Porto Ale-gre e Buenos Aires (Passamani, 2009) que não participavam ou teriam se afastado do movimento LGBT naquelas cidades, um aspecto que me chamou a atenção – e que vejo se repetir em Corumbá, particularmente em Rubens – é a necessidade

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de manejar a visibilidade da conduta homossexual de acordo com as pessoas e as circunstâncias com as quais se interage. Naquela altura, chamei essas estratégias de “homossexualidades reservadas”, uma espécie de conceito “guarda-chuva” para certo tipo de conduta homossexual que prezava o segredo, a performance de uma masculinidade hegemônica e o afastamento do chamado “mundo gay”.

Diferente de minha primeira pesquisa, realizada em Santa Maria, no Rio Grande do Sul (Passamani, 2011), onde muitos dos meninos, que eram migrantes de cidades ainda menores do interior do estado, negavam a homossexualidade

publicamente e tentavam de toda forma serem vistos como homens com conduta heterossexual, os interlocutores de Porto Alegre e Buenos Aires se compreendiam como pessoas com conduta homossexual, mas manejavam, como que a controlar rigidamente o “conta-gotas da visibilidade”. Como um deles dizia, é preciso saber onde se pisa, para depois saber como pisar.

Vejo algumas recorrências entre as minhas pesquisas anteriores e os cuidados desenvolvidos por Rubens em sua trajetória. Tais cuidados com a visibilidade de sua conduta homossexual teriam resultado no fato de desenvolver poucas amiza-des na cidade, embora seja conhecido por muitas pessoas e tenha uma relação de tipo quase familiar com seus funcionários. Ele qualifica seus amantes, os guris que encontra eventualmente, como seus amigos. E diz que os amigos de antigamente

estão quase todos mortos. Conta, porém, que em São Paulo ainda encontra um pessoal das antigas e frequenta o Caneca de Prata15 e uma sauna nova no Largo

do Arouche (Chilli Pepper Single Hotel).16

Conheci Rubens, primeiro, como colega de academia em Corumbá. Malháva-mos juntos e, algumas vezes, nos cumprimentaMalháva-mos, depois de alguns olhares tro-cados em meio aos exercícios. Só posteriormente o conheci via salas de chat na in-ternet. E foi uma grata surpresa, que acabou gerando certo constrangimento para ele. Retomo esta fase inicial de nosso processo de aproximação para fazer menção ao espaço da academia, já que meu interlocutor o frequenta com regularidade há alguns anos. Ele sentiu a necessidade de começar a praticar exercícios físicos, pois estava insatisfeito com o peso, que não parava de aumentar, e com sua barriga.

15 O Caneca de Prata é, segundo alguns estudos, o mais tradicional bar em atividade no país, cuja frequência majoritária é de homens mais velhos com condutas homossexuais. O bar localiza-se na avenida Vieira de Carvalho, no centro da cidade de São Paulo, entre a praça da República e a rua Aurora. Ver: Simões (2011) e Henning (2014).

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Além disso, alguns exames de rotina apontaram a necessidade de exercitar-se.17

No entanto, percebi que as questões estéticas tiveram preponderância nesta deci-são. Ele assim conta:

Quando vou a saunas, em São Paulo, estão lotadas de homens velhos. Mui-tos da minha idade. MuiMui-tos mais velhos que eu. Quase todos mais acaba-dos que eu. Eu me cuido. Eu me cuido muito. A academia ajuda muito. Mi-nha barriga hoje é tranquila. Me visto bem. Como bem. Leio, penso. Sabe? Não sou acomodado. Sou muito informado. Acho que a beleza também se constrói assim. Então, olho para aqueles velhos e fico numa tristeza. Porque eles estão acabados. Eu não. Eu tenho a idade. Não posso fugir dela. Tenho 66 anos. Mas esses anos ainda não me pesam. Tenho agilidade (Rubens).

Rubens atribui seus controles e domínios sobre o corpo a uma rotina de exer-cícios, que resultariam em uma vida saudável, na qual intercala muito trabalho com lazer, ou seja, ele chama para si a responsabilidade pela condução de uma vida bem-sucedida, da mesma forma que responsabiliza aqueles velhos pelo su-posto fracasso, expresso no corpo acabado e com grandes barrigas. Rubens faz eco a certo tipo de olhar sobre o envelhecimento e a velhice que Guita Debert (2004) chama de “reprivatização da velhice” e sobre o qual a autora tece uma série de críticas. Além disso, Rubens faz menção à busca por informação, leitura e participação em diversas atividades como possibilidades de não se entregar para a vida, ou dar ouvidos para a solidão. Minha vida ainda é muito movimentada. Sempre tem uma coisa ou outra acontecendo. Eu trabalho demais.

Por fim, quando pedi para Rubens fazer uma avaliação do que vivera até ali, ele disse que, quanto à solidão, ele a percebe na cabeça das pessoas e não na ausência de gente por perto, e que o fato de viver só, como vive, não o faz ser solitário. Ele mencionou sentir solidão algumas vezes quando era casado, não conseguindo se sentir livre, pois era refém de uma série de amarras sociais im-postas pelo casamento, por exemplo. Por outro lado, não cansa de agradecer à vida que, em sua opinião é gostosa demais. Queria ter mais uns cinquenta anos para poder conhecer todos os lugares que ainda não conheci e para ter todos os homens que ainda não tive.

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Considerações finais

A velhice ainda é associada a um tempo de decrepitude, tal como foi descrito por Simone de Beauvoir (1990). O olhar crítico da autora abriu espaço para o rom-pimento com a chamada “conspiração do silêncio” e para a articulação de olhares microscópicos sobre esse período da vida, que é tão particular para os diferentes sujeitos. No entanto, até hoje, o mais comum parece ser pensar no envelhecimento e na velhice como contextos de infortúnios e de descalabros, como Rubens se refe-re aos velhos que observa nos espaços por onde transita em São Paulo.

A tensão apresentada por meu interlocutor entre visibilizar ou não sua con-duta homossexual encontra eco nas reflexões de Gustavo Saggese (2009), quando problematiza visibilidade e estratégias de manipulação do coming out entre ho-mens com condutas homossexuais no Rio de Janeiro. Saggese dialoga, sobretudo, com Gail Mason (2002), que elaborou a noção de “mapas de segurança” a partir de sua pesquisa com “mulheres lésbicas” na Austrália dos anos 1990. Para a autora, os “mapas de segurança” seriam “uma matriz de atributos e relações em constante mutação – personalizada, ainda que compartilhada – que os indivídu-os empregam a fim de circular no espaço público e privado”18 (:84). Tais mapas

aparecem como uma estratégia de gestão da visibilidade entre as mulheres pes-quisadas quando discorrem sobre o modo como lidam com a ameaça de violência relacionada à homofobia.

A noção de “mapas de segurança” é especialmente útil para mim, porque eles são formas de concretizar as experiências relatadas por Rubens. Tal como idea-lizados por Mason e utiidea-lizados por Saggese, também os percebo potentes como uma forma de percepção dos riscos sociais aos quais essas pessoas podem estar submetidas, bem como no sentido das negociações necessárias para administrar a possibilidade de trânsito pelos diversos espaços sociais (Saggese, 2009). Assim, o processo de “assumir-se” ou de “esconder-se” revela uma cuidadosa avaliação de riscos e benefícios. Nesse sentido, a partir da noção de “mapas de segurança”, é possível perceber como se dá a gestão da visibilidade da orientação sexual do interlocutor pelos espaços e pelos grupos em que se faz presente.

Os “mapas de segurança” revelam uma preocupação a respeito de como a vi-sibilidade de determinada orientação sexual ou identidade de gênero será interpre-tada pelos demais e o que pode decorrer desta interpretação, especialmente quanto às formas variadas de violência, preconceito e discriminação. Por isso a recorrência em “mapear” corpos e condutas faz com que os sujeitos controlem e administrem

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estrategicamente os graus de visibilidade mais ou menos possíveis de acordo com os territórios sociais nos quais estão circulando e interagindo.

Nas palavras finais de Rubens está subscrita a sua relação tensa com o regime de visibilidade a que está submetido em Corumbá. A vontade de estar em lugares ainda não conhecidos vem colada à dos homens que ainda não teve, porque cer-tamente nos lugares desconhecidos ele também será um desconhecido. Como um estranho (para o lugar e para os homens do lugar) não se sentiria pressionado a manter a rígida persona pública de um “viúvo apaixonado pela esposa morta”. Nesses lugares desconhecidos, que podem ser as ruas de São Paulo, as fumacentas madrugadas das saunas paulistanas, as praias do Rio de Janeiro ou alguma capital europeia, Rubens consegue romper as portas do armário que tacitamente mantém cerradas no Pantanal e que exigem uma série de cuidados e manipulações. Nesse sentido, o constante trânsito proporcionado pelas viagens, mais que uma fuga, pode ser uma forma de se encontrar.

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