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Dilemas no exercício profissional da Odontologia: a autonomia em questão.

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Academic year: 2017

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The st udy aim ed t o ar r ive at an under st anding of t he dynam ics and t he changes f aced by dent ist r y, using t he pr of essional aut onom y cat egor y and it s signif icance t o pr of essional discour se and t he st r at egies t hat ar e used t o pr eser ve pr of essional aut onom y. The r ef lect ions ar e based on t he sociology of pr of essions, par t icular ly t he concept s of aut onom y, exper t ise and ser vice ideal. The r esear ch r evealed t hat pr of essional aut onom y is st ill a st r ong elem ent wit h an im por t ant r ole t o play in shaping t he ident it y of t he gr oup and t hat aut onom y has not been af f ect ed in spit e of changes in t he labor m ar ket .

KEY WORDS: Dent ist r y. Sociology. pr of essional pr act ice. pr of essional aut onom y. labor m ar ket .

O est udo buscou com pr eender a dinâm ica e as m udanças que at ingem a pr of issão de dent ist a, com base na cat egor ia aut onom ia pr of issional e seus signif icados no discur so da pr of issão, e que est r at égias são ut ilizadas par a pr eser var a aut onom ia pr of issional. As r ef lexões são f undam ent adas na sociologia das pr of issões, par t icular m ent e nos conceit os de aut onom ia, exper t ise e ideal de ser viço. A pesquisa r evelou que a aut onom ia pr of issional cont inua

a ser um f or t e elem ent o que conf or m a a ident idade do gr upo, não est ando abalada, apesar das m udanças do m er cado de t r abalho.

PALAVRAS-CHAVE: Odont ologia. Sociologia. pr át ica pr of issional. aut onom ia pr of issional. m er cado de t r abalho.

1 Pr of essor a, depar t am ent o de Clínica e Odont ologia Social, Univer sidade Feder al da Par aíba (UFPB), João Pessoa, PB.

<chm f r eit as@yahoo.com .br >; <chsm f r eit as@hot m ail.com >

Odont ologia:

Odont ologia:

Odont ologia:

Odont ologia:

Odont ologia: a aut onomia em quest ão

Cláudia Helena Soar es de Mor ais Fr eit as Cláudia Helena Soar es de Mor ais Fr eit as Cláudia Helena Soar es de Mor ais Fr eit as Cláudia Helena Soar es de Mor ais Fr eit as Cláudia Helena Soar es de Mor ais Fr eit as11111

Rua Poeta Luiz Raimundo de Carvalho, 357 Bessa - João Pessoa, Paraíba

FREI TAS, C.H.S.M. Conf lict s in t he pr act ice of Dent ist r y: t he aut onom y in quest ion. I nt er f ace - Com unic., Saúde,I nt er f ace - Com unic., Saúde,I nt er f ace - Com unic., Saúde,I nt er f ace - Com unic., Saúde,I nt er f ace - Com unic., Saúde, Educ.

Educ. Educ. Educ.

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I n t r odu ção I n t r odu çãoI n t r odu ção I n t r odu ção I n t r odu ção

A def inição de um a pr of issão t em passado hist or icam ent e pela obt enção de um a aut onom ia legit im ada e or ganizada, ou pelo cont r ole do seu pr ópr io t r abalho, o que signif ica o dir eit o exclusivo de det er m inar com o e quem pode exer cê-la legit im am ent e. Algum as pr of issões, ent r e elas a Medicina e

Odont ologia, conseguir am gar ant ir o dir eit o de ser o ár bit r o de seu pr ópr io desem penho, sob a just if icat iva de que são as únicas capazes de avaliá-lo adequadam ent e e de que est ão com pr om et idas em gar ant ir padr ões básicos de t r abalho. Enquant o pr of issão, possuem exper t ise e a ideologia de um ser viço independent e e de qualidade à sociedade.

A inser ção da Odont ologia no set or público, hist or icam ent e, const it uiu-se na f or m a de assist ência à saúde do escolar e, par a a gr ande m aior ia da população pobr e, pr edom inava a pr át ica de ext r ação de dent es. Machado (1995) consider a que, se por um lado, o avanço cient íf ico-t ecnológico

pr oduziu um cor po de conhecim ent os sólido, com plexo, aum ent ando, assim , o dom ínio e a com pet ência sobr e o cam po de at uação, por out r o, ist o não se expr essou em m elhor ia de qualidade nos ser viços of er ecidos à sociedade em ger al e o acesso à saúde bucal int egr al f icou r est r it o às cam adas m ais pr ivilegiadas da sociedade. O sucesso e a consolidação da Odont ologia com o pr of issão são r ef er ent es à pr át ica liber al e, por t ant o, são quest ionáveis os benef ícios pr est ados à sociedade.

Os est udos da pr of issão m édica sobr e as quest ões do m er cado de t r abalho (Donnangelo, 1975; Machado et a l., 1992) e da aut onom ia pr of issional (Machado, 1997, 1996, 1995; Schr aiber , 1993), apesar de adot ar em abor dagens dif er ent es, dest acam que a pr át ica m édica t em passado por um pr ocesso de t r ansf or m ação de um a pr át ica liber al, individualizada, que valor izava a exper iência clínica par a um a pr át ica inst it ucionalizada e com f or t e t endência à r acionalização, dem onst r ando as m últ iplas f or m as de inser ção e já dest acando a at uação da m edicina de gr upo.

Em r elação à pr át ica odont ológica, Machado et a l. (1992) r essalt am que, ent r e os cir ur giões-dent ist as, é expr essivo o cont ingent e de aut ônom os na cat egor ia. O decr éscim o de “ aut ônom os” ent r e esses pr of issionais, ao longo dos anos 70 do século XX, no Br asil, f oi pouco acent uado, passando de 69,9% (1970) par a 54,5% (1980) do t ot al. Cor r obor ando est e est udo, a pesquisa de Silva Filho & Eleut ér io (1977), r ealizada em Ar ar aquar a (SP), com cir ur giões-dent ist as f or m ados no per íodo de 1964 a 1974, dem onst r ou que 61,1% dos cir ur giões-dent ist as exer ciam a pr of issão apenas em consult ór io par t icular .

O m er cado de t r abalho odont ológico passa a sof r er m odif icações m ais acent uadas a par t ir da década de 1980. Vár ios est udos sinalizam par a a t endência do assalar iam ent o, do t r abalho no consult ór io com convênios e cr edenciam ent os e a associação de am bas as f or m as. A pesquisa de Per eir a & Bot elho (1997), r ealizada com 3.191 cir ur giões-dent ist as do Est ado de Goiás, const at ou que: 51% t r abalham sob a f or m a liber al, sendo que 48% desses at endem por sist em a de convênios, 49% são assalar iados e 45% t r abalham no consult ór io e são assalar iados.

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público e 9,9% em pr ego pr ivado. Dos pr of issionais “ aut ônom os” , 61,6% t r abalham com convênios, e a m aior ia (54%) há m enos de cinco anos.

O est udo r ealizado pelo Conselho Regional de Odont ologia do Est ado de Minas Ger ais (2000), com 1.199 cir ur giões-dent ist as do Est ado, ident if icou que 65,9% dos pr of issionais at uam com o pr of issionais liber ais em consult ór io, sendo que 56,2% at endem com convênios e cr edenciam ent os; os que at uam com o pr of issionais liber ais e assalar iados t ot alizam 25,2%, e 8,7% t r abalham com o assalar iados.

Em pesquisa r ealizada pelas ent idades odont ológicas em 2002 f or am

ent r evist ados 614 cir ur giões-dent ist as no Br asil. Quant o à inser ção no m er cado de t r abalho, 26,2% são em pr egados do set or público, 11,1% em pr egados do set or pr ivado, e 89,6% at uam em consult ór io na f or m a liber al, sendo que 47,6% t r abalham com convênios e cr edenciam ent os. Dos em pr egados públicos, 48,5% est ão no Pr ogr am a Saúde da Fam ília (Minist ér io da Saúde, 2003).

As r ef lexões sobr e a aut onom ia pr of issional são f undam ent adas sob a ót ica da sociologia das pr of issões, com base nos conceit os de aut onom ia, exper t ise (Fr eidson, 1970; 1994), bem com o o conceit o de ideal de ser viço, desenvolvido por Moor e (1970).

A m aior ia dos aut or es no cam po da sociologia das pr of issões consider a que a car act er íst ica pr incipal das ocupações consider adas pr of issões é o conhecim ent o esot ér ico adquir ido por m eio de um a f or m ação pr olongada (Goode, 1969; Moor e, 1970; Wilensky, 1970; Fr eidson, 1970, 1994). Com isso, def ende-se o m onopólio do saber , o cont r ole sobr e o t r abalho e, assim , a capacidade de ser um a at ividade aut o-r egulat ór ia, ou seja, a independência no desenvolvim ent o de sua pr át ica.

O ideal de ser viço ou or ient ação par a colet ividade engloba as nor m as que t êm o objet ivo de or ient ar os pr ocedim ent os t écnicos volt ados par a at ender aos int er esses dos client es, e não dos pr of issionais, sendo consider ado um dos elem ent os im por t ant es no pr ocesso de pr of issionalização (Goode, 1969; Moor e, 1970; Fr eidson, 1970). A condut a dos pr of issionais deve ser paut ada no código de ét ica, t ant o na r elação com os client es quant o t am bém com os par es.

O objet o cent r al do est udo aqui apr esent ado é apr eender a visão que o pr of issional t em do seu cont ext o de t r abalho, os im passes que at ualm ent e se apr esent am à pr of issão em dif er ent es espaços e m odalidades de pr át ica e as est r at égias que elabor a par a super ar e pr eser var a aut onom ia pr of issional. Enf ocam os a r elação aut onom ia t écnica e m er cant il (de m er cado), enquant o eixo cent r al do pr ocesso de pr of issionalização, com base na r ef lexão dos pr of issionais sobr e a sua pr át ica.

M et odologia M et odologiaM et odologia M et odologiaM et odologia

Tr at a-se de um a pesquisa de cam po, de nat ur eza qualit at iva. Par a obt enção dos dados f ez-se uso com binado da hist ór ia de vida e da ent r evist a sem i-est r ut ur ada (Becker , 1999). Com o r essalt a Minayo (1994), a pesquisa qualit at iva t em com o car act er íst icas pr incipais: aber t ur a, f lexibilidade e capacidade de obser vação e int er ação com os at or es sociais envolvidos.

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em pr esas de planos de saúde odont ológicos. Seguindo a t r adição qualit at iva, par a chegar m os a est e núm er o, seguim os o cr it ér io de exaust ão ou sat ur ação, ist o é, quando o pesquisador ver if ica a f or m ação de um t odo e r econhece as r ecor r ências das cat egor ias no m at er ial colet ado (Blanchet & Got m an, 1992).

A pesquisa f oi apr ovada pelo Com it ê de Ét ica em Pesquisa da Univer sidade Feder al da Par aíba. Par a a r ealização das ent r evist as, f oi pr eviam ent e explicado a cada ent r evist ado o objet ivo do est udo e assinado o t er m o de consent im ent o livr e e esclar ecido, obser vando as exigências ét icas e cient íf icas em pesquisa com ser es hum anos, pr econizada na Resolução 196/ 96 do Conselho Nacional de Saúde (Br asil, 1997).

A seleção dos ent r evist ados f oi aleat ór ia, com base na list a de especialist as f or necida pelo Conselho Regional de Odont ologia da Par aíba, e obedeceu aos seguint es cr it ér ios: 1- pr of issionais em exer cício no per íodo do est udo; 2-pr of issionais de dif er ent es especialidades; 3- 2-pr of issionais com dif er ent es inser ções no m er cado e dif er ent e t em po de exer cício pr of issional, par a

car act er izar a vivência das t r ansf or m ações da aut onom ia t écnica e m er cant il (de m er cado), de m odo a r ef let ir a het er ogeneidade exist ent e na r ealidade da

pr át ica; 4- int er esse do pr of issional em par t icipar do est udo.

As ent r evist as f or am r ealizadas pela pesquisador a, ut ilizando um r ot eir o pr elim inar , avaliado por m eio de um pilot o. A ent r evist a abor dou t em as desde escolha da pr of issão, pr át ica cot idiana, at é r epr esent ações ligadas ao objet o – im passes enf r ent ados pelos pr of issionais na pr át ica cot idiana a par t ir das t r ansf or m ações do m er cado de t r abalho e das r elações de t r abalho, e que est r at égias ut ilizam na pr eser vação da aut onom ia.

Com base na lit er at ur a sobr e sociologia das pr of issões, m ais especif icam ent e nas cont r ibuições de Fr eidson (1970, 1994), Goode (1969), Lar son (1977), Moor e (1970), Schr aiber (1993) e Ribeir o & Schr aiber (1994), elegem os as seguint es cat egor ias de análise, que se int er -r elacionam :

- A aut onom ia com o elem ent o de ident idade pr of issional: a aut onom ia t écnica é r elat iva à capacidade de julgam ent o e decisão no pr ocesso de t r abalho e se const it ui em um a cat egor ia t eór ica que possibilit a a ar t iculação ent r e a esf er a do saber e do poder ; a aut onom ia m er cant il (de m er cado) r elat iva à capacidade que a pr of issão t em de com er cializar o seu t r abalho no m er cado de ser viços.

- Exper t ise – o saber com o elem ent o f undam ent al par a car act er izar um a pr of issão.

- O ideal de ser viço, consider ando o com pr om isso social assum ido pelo pr of issional no sent ido de cont r ibuir com a m elhor ia das condições de saúde da população assist ida.

Result ados e discussão Result ados e discussãoResult ados e discussão Result ados e discussão Result ados e discussão

Dent r e os cir ur giões-dent ist as ent r evist ados, oit o são do sexo f em inino e quat r o do sexo m asculino, f or m ados no per íodo de 1979 a 1996, com idade var iando de 29 a 45 anos. Ent r e os ent r evist ados, nove são especialist as, t r ês são clínicos ger ais e f izer am cur sos de pós-gr aduação em nível de at ualização e

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Os m ot ivos que inf luenciar am na escolha da pr of issão est ão r elacionados a quest ões individuais e sociais. Um aspect o com um à m aior ia dos r elat os é a def inição pela ár ea da saúde. Out r os aspect os dest acam -se nos r elat os, com o: o int er esse por um a pr of issão de car act er íst ica liber al e a possibilidade de t er boa r enda e ser independent e. Est a er a a im agem que se t inha da pr of issão, de um a pr of issão liber al. Mas, nos r elat os, f oi com um a const at ação da dif er ença ent r e o r eal e o im aginár io, quando da inser ção no m er cado de t r abalho. Houve r elat os, t am bém , de inf luência de pr of issionais que desper t ar am o int er esse e a vocação par a a pr of issão.

Foi possível const at ar as vár ias f or m as de inser ção do cir ur gião-dent ist a no m er cado de t r abalho: cinco são assalar iados e t r abalham no consult ór io sob a f or m a “ liber al” , além de m ant er em convênios e cr edenciam ent os; dois são assalar iados e t r abalham no consult ór io sob a f or m a liber al “ pur a” - sem

convênios e cr edenciam ent os; quat r o exer cem a pr of issão apenas no consult ór io, t r abalhando com convênios e cr edenciam ent os, e apenas um é exclusivam ent e assalar iado, exer cendo a f unção de docent e.

Os pr im eir os anos após a gr aduação são m ar cados pela busca de um a inser ção ef et iva no m er cado de t r abalho e, em segundo lugar , busca pela especialização. O int er esse pr im or dial é aum ent ar a exper iência clínica, já que apenas os est ágios no per íodo de f or m ação são insuf icient es par a dar segur ança na pr át ica. Um t r aço com um a t odos os ent r evist ados é que com eçam suas vidas pr of issionais sob a det er m inação de um a odont ologia que já não se dá com o pr át ica essencialm ent e liber al, ou seja, conjugam exper iências em clínicas pr ivadas popular es, em per if er ias de cidades, sob a f or m a de subem pr ego – sem nenhum dir eit o t r abalhist a, com o assalar iados pr ivados ou públicos e o t r abalho no consult ór io sob a f or m a liber al, seja individualm ent e ou par t ilhando com colegas.

A pr át ica liber al: o sent im ent o da m udança A pr át ica liber al: o sent im ent o da m udança A pr át ica liber al: o sent im ent o da m udança A pr át ica liber al: o sent im ent o da m udança A pr át ica liber al: o sent im ent o da m udança

Quase t odos os sujeit os ent r evist ados f izer am r ef er ência à associação ent r e aut onom ia pr of issional e a concepção de pr of issão liber al. Em est udo r ealizado por Machado (1996), os m édicos t am bém associam aut onom ia ao conceit o de pr of issão liber al. A concepção de pr át ica liber al signif ica a f or m a objet iva com que o pr of issional com er cializa o seu ser viço no m er cado, det er m inando dir et am ent e a r em uner ação do seu t r abalho e a const r ução de laços com a client ela – livr e escolha do pacient e.

Foi possível ident if icar vár ias f or m as de inser ção do cir ur gião-dent ist a no m er cado, com o assalar iam ent o e t r abalho no consult ór io com planos de saúde, t al com o apont ado nos est udos sobr e a pr of issão m édica r ealizados por

Donnangelo (1975), Machado (1996, 1997), Schr aiber (1993).

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dist ant e. Eu nunca t ive a exper iência de ser um pr of issional liber al pur o, pr incipalm ent e de t er que depender exclusivam ent e do consult ór io. Eu t r abalhava no consult ór io, m as er a assalar iado. (docent e)

Eu não conheci a cham ada odont ologia liber al. Eu já com ecei a m inha vida pr of issional no f inal da década de 1980, com o assalar iada no ser viço público e, no consult ór io, t r abalhando com convênios.[ ...] O per cent ual da client ela par t icular é pequeno, pr incipalm ent e quando você est á com eçando e sem especialização. Eu não vivi est a sit uação de odont ologia liber al. Acho que est a é a im agem que se t em da pr of issão, que não é r eal, e que é r ef or çada na escola e pelas ent idades. (odont opediat r a)

Quando eu com ecei a est udar odont ologia em 1987, t odo m undo dizia que er a a m elhor pr of issão, que er a a única liber al, que não exist iam planos de saúde e convênios. Mas, eu já com ecei a t r abalhar dent r o dest e sist em a de planos com o per it a e no consult ór io. (per it o 2)

As “ novas” f or m as de inser ção do pr of issional no m er cado pr opiciar am

m udanças nas r elações de t r abalho e com a client ela. A pr odução de ser viços não depende exclusivam ent e do pr of issional, a client ela inst it ucionaliza-se e, com isso, há f or m as dist int as de capt ação, r edef inindo t ipo, quant idade e acesso dos pacient es aos pr of issionais e, pr incipalm ent e, r eor ient ando a r elação

pr of issional-pacient e. A inst it uição desse m odelo r epr esent a alt er ações na pr át ica, t ant o no que diz r espeit o à t écnica, quant o à or ganização do t r abalho, pr odução e dist r ibuição de ser viços na sociedade. Com o r essalt a Schr aiber (1993), o pr of issional de consult ór io vincula-se t am bém aos m ecanism os inst it ucionalizados de capt ação de client ela, por m eio dos convênios e

cr edenciam ent os. Além de per der o cont r ole sobr e a client ela, per de o cont r ole sobr e a r em uner ação do seu t r abalho, pois est a f ica subor dinada às condições concr et as do m er cado e à dif er enciação no valor da r em uner ação, sobr e a qual o pr of issional não opina.

Aut onom ia: elem ent o de ident idade pr of issional Aut onom ia: elem ent o de ident idade pr of issionalAut onom ia: elem ent o de ident idade pr of issional Aut onom ia: elem ent o de ident idade pr of issionalAut onom ia: elem ent o de ident idade pr of issional

Todos os ent r evist ados f izer am r ef er ência à aut onom ia com o quest ão essencial par a a pr át ica cot idiana. De acor do com Schr aiber (1993), a pr át ica é consider ada adequada e t ecnicam ent e qualif icada quando o pr of issional

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Acho que o pr of issional t em que decidir o plano de t r at am ent o, independent e de qualquer coisa. Você deve t om ar as decisões de acor do com o que você acha cor r et o, de acor do com a ét ica. A par t ir do m om ent o que você t em conhecim ent o, é você que t om a as decisões, você é o r esponsável, não podem os f icar dependent es de um a análise de um audit or . Est a aut onom ia o pr of issional t em que t er e um a pessoa que não est á execut ando o t r at am ent o não pode dizer o que você vai f azer . (endodont ist a 1)

A m inha pr át ica no consult ór io é de acor do com o m eu conhecim ent o, a m inha consciência e pr incípios. Eu adm it o que nós t em os um a dependência econôm ica, ou seja, pr ecisam os dos convênios par a t r abalhar , m as não abr o m ão da m inha aut onom ia t écnica, no t r at am ent o com o pacient e, m esm o que eu t enha pr ejuízo econôm ico. (odont opediat r a)

Evidenciam os que as vivências das t r ansf or m ações da or ganização do t r abalho r evelam um a out r a per spect iva no t r at am ent o da quest ão aut onom ia por par t e dos pr of issionais. Há um deslocam ent o da quest ão da aut onom ia enquant o “ f undam ent o essencial do t r abalho” , par a o plano que é t ido com o ext er ior , o plano do social. Assim , as condições de t r abalho são ident if icadas com o condicionant es da aut onom ia do pr of issional. Apesar de consider ar em o t r abalho no consult ór io com o a pr incipal at ividade – o que de f at o sim boliza o t r abalho pr of issional, pois é a sit uação que ir á conf er ir m aior r enda e pr est ígio, além de o espaço de t r abalho ser consider ado com o um “ espaço livr e” , no qual os pr of issionais vivem a aut onom ia do t r abalho –, a sit uação de em pr ego, público ou pr ivado, leva a um a pr eocupação com a pr eser vação da aut onom ia, em def esa da qualidade da assist ência.

A pr át ica at ual coloca novos obst áculos que r eduzem a capacidade de os pr of issionais r ealizar em seu t r abalho cot idiano de m aneir a que os sat isf aça, e est a sat isf ação não est á r elacionada apenas à com pensação econôm ica. Par a os pr of issionais, o ideal de ser viço apar ece com o elem ent o t ão im por t ant e quant o o ideal de aut onom ia, ou seja, são int er dependent es.

A gent e sof r e int er f er ências no t r abalho, em t odo lugar que t r abalha. No ser viço público, você não t em condições de t r abalho e f ica lim it ado no que você pode f azer . No consult ór io quando t r abalha com convênios f ica

subm et ido à avaliação da per ícia. [ ...] Eu sem pr e pr ocur ei t r abalhar de acor do com a m inha consciência e o que er a possível f azer de acor do com as

condições de t r abalho e com o que apr endi na m inha pr of issão. [ ...] Tr at ar bem e dar a m elhor assist ência, dent r o das condições de t r abalho. Não f azer nada que f osse cont r ár io aos m eus pr incípios. Não f azer nada er r ado por f alt a de condições de t r abalho. (endodont ist a 1)

A exper iência e o signif icado que cada pr of issional at r ibui a sua pr át ica r epr esent am t am bém a sua individualidade, enquant o sujeit o social em dado cont ext o hist ór ico. Schr aiber (1993) consider a que, no espaço da aut onom ia, as escolhas não ser iam exclusivam ent e t écnicas, m as as expr essões de valor es ét icos que conf er em à ação um sent ido m or al. É est a a posição de Cast r o Sant os

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ao assim ilar elem ent os de nat ur eza ét ica ao pr ojet o pr of issional e à dim ensão est r at égica da at uação das associações pr of issionais. Ser ia o caso, em par t icular , da pr of issão da Enf er m agem , consider ada t r adicionalm ent e um a

“ sem ipr of issão” , ao com par t ilhar um a or ient ação alt r uíst a e expect at ivas m or ais sobr e a noção de dever , bem com o em r elação aos ser viços à sociedade e a padr ões de desem penho. I st o signif ica dizer que os valor es se apr esent am com o par t e const it ut iva da ação, or ient ando-a. Os r elat os que colhem os indicam , com nit idez, essa pr eocupação de or dem ét ica.

Além da pr oblem át ica das condições de t r abalho, da int er f er ência na

aut onom ia t écnica (por exem plo, não poder r ealizar um t r abalho t ecnicam ent e bem -f eit o), a insat isf ação com o t r abalho assalar iado, de car át er público ou pr ivado, associa-se dir et am ent e à incom pat ibilidade ent r e hor as t r abalhadas e salár ios e, conseqüent em ent e, à insat isf ação econôm ica e pessoal. A associação ent r e baixa r em uner ação, jor nada de t r abalho pr olongada, m ás condições de t r abalho e o sent im ent o de desvalor ização e despr est ígio levam a um

desencant am ent o com a pr of issão. Est a sit uação t am bém f oi const at ada por out r os est udos sobr e pr of issões, t ais com o: Ar aújo (2002, 2003); Machado (1996, 1997); Machado & Souza (1999). Dos ent r evist ados, seis (50%) af ir m ar am que, at ualm ent e, não escolher iam m ais a Odont ologia com o pr of issão.

Por um lado, a def esa da aut onom ia pr of issional conjuga ar gum ent os a lt r u íst icos, com o a def esa de um a assist ência de qualidade e condições de t r abalho par a um bom desem penho t écnico e, por out r o lado, ar gum ent os de

in t er esse pr iva d o: a busca pela r ecom pensa econôm ica e pelo st at us. É um a

est r at égia de m anut enção da ant iga ident idade pr of issional: pr of issionais liber ais, dif er enciados, e que est ão r esguar dando, individualm ent e ou pelo esf or ço pessoal, a qualidade da assist ência, sendo est a decor r ent e da aut onom ia pr eser vada.

Especialização/ Exper t ise Especialização/ Exper t iseEspecialização/ Exper t ise Especialização/ Exper t iseEspecialização/ Exper t ise

A especialização const it ui um dos ar gum ent os em def esa da aut onom ia. Est a deve ser sem pr e pr eser vada enquant o f or m a independent e pela qual os

pr of issionais se ar t iculam ao seu m eio de t r abalho pr incipal: o saber . A def esa da aut onom ia t écnica ganha supor t e nas exigências im post as pela dif iculdade inst r um ent al, no lidar m anual e int elect ual com o cient if ico, lidar est e pr ogr essivam ent e m ais com plexo.

Os per it os acham que, quando você f az um plano de t r at am ent o, est á quer endo t ir ar vant agem . Ele olha e, m uit as vezes, não t em com pet ência. Não é quer endo dim inuir o colega, m as ele não é especialist a. Todos nós t em os nossas lim it ações e não podem os quer er saber t udo. [ ...] A odont ologia t em um a abr angência m uit o gr ande, são novas t écnicas, m at er iais, est udos, ser á que se consegue acom panhar ist o em t odas as ár eas? (per iodont ist a)

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aut onom ia devido às t r ansf or m ações da or ganização do t r abalho, vê-se

igualm ent e am eaçado aquele m onopólio. Assim , a expect at iva dos pr of issionais é a de m ant er , par a a pr of issão, a posição ou sit uação conquist ada ant er ior m ent e. O m onopólio do saber e da pr át ica conf er e benef ícios sociais, ou, com o diz Bour dieu (1989), t r aduz-se em capit al social, ou seja: st at us, pr est ígio e poder .

A polar ização ent r e as especialidades m ais t écnicas e int elect uais e as

especialidades ger ais per m eia-se de um a gam a var iada de sit uações, nas quais o pr of issional det ém , individualm ent e, gr aus diver sos de cont r ole ef et ivo sobr e a sua t écnica e, t am bém , um a m aior aut onom ia m er cant il. É o caso dos

especialist as em or t odont ia, cir ur gia, pr ót ese e im plant odont ia, que t êm um a m aior aut onom ia t écnica e m er cant il. A quest ão do assalar iam ent o, da dependência do t r abalho no consult ór io de convênios e cr edenciam ent os, do cer ceam ent o da aut onom ia, ainda é vist a com o um car át er de ext er nalidade à pr át ica, dif er ent em ent e dos pr of issionais de especialidades m ais ger ais.

O t r abalho com convênios, hoje, é um a r ealidade, m as você pr ecisa escolher com quais pode t r abalhar . [ ...] Os planos de saúde explor am os pr of issionais. [ ....] É um invest im ent o m uit o alt o par a a capacit ação do pr of issional e par a a m anut enção da clínica (m at er ial, inst r um ent al, f uncionár io, enf im , t udo). [ ...] Os convênios não int er f er em no plano de t r at am ent o, o único que t em algum a lim it ação é a Pet r obr ás. Ela det er m ina que, em cr ianças at é 11 anos, não pode colocar apar elho f ixo. Só que há casos em que, com 10-11 anos, a cr iança já t em a dent ição per m anent e com plet a. I st o é um a gr ande f alha, pois idade cr onológica não quer dizer idade dent ár ia, óssea, depende do caso. É o único pr oblem a, m as nunca t ive pr oblem a com per ícia, dela quer er int er f er ir no plano de t r at am ent o. (or t odont ist a)

Eu t r abalho há m ais de vint e anos no consult ór io e só at endo client ela par t icular . [ ...] Eu f ui convidado a par t icipar da cooper at iva de dent ist as, m as quase não at endo os pacient es de lá, um ou out r o a cada 2-3 m eses. [ ...] Eu t enho um a clínica de especialidades, onde pr of issionais t r abalham par a m im e lá há o at endim ent o com convênios. Mas, você pr ecisa saber escolher com que plano você vai t r abalhar ; só aceit o convênios que pagam de acor do com a Tabela Nacional ou super ior . É m uit o invest im ent o pr of issional e f inanceir o, par a você se subm et er a est es planos. (cir ur gião e pr ot esist a)

Não há hom ogeneidade na cat egor ia, pois alt er am -se as posições na est r ut ur a social dos diver sos agent es de t r abalho. A especialização apar ece com o

com ponent e par a dif er enciar e qualif icar o desem penho pr of issional e é um a via par a o pr of issional f ir m ar -se e com pet ir no m er cado. Par a aqueles que não são especialist as, a at ualização é im por t ant e par a qualif icar o desem penho do pr of issional, par a acom panhar o desenvolvim ent o cient íf ico-t ecnológico.

A odont ologia é um a pr of issão de dom ínio m uit o am plo. [ ...] Não há

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O pr of issional que f az o t r at am ent o é especialist a, e eu não sou. A sit uação é com plicada, eu t enho que est ar at ualizada par a discut ir com o pr of issional, pr eciso conhecer as t écnicas, os m at er iais, por que quando ele ar gum ent ar que usou t al m at er ial e que vai acont ecer isso, eu t enho que saber se vai ou não. Eu t enho que saber se a ar gum ent ação dele t em coer ência ou não, eu pr eciso saber ar gum ent ar t am bém . Est a é a m inha obr igação. Ent ão, por isso que eu sem pr e est ou f azendo cur sos de at ualização, lendo m uit o. (per it o 2)

I deal de ser viço I deal de ser viçoI deal de ser viço I deal de ser viço I deal de ser viço

Ent r e as quest ões que podem ser ident if icadas com o r est r it ivas do ideal de ser viço, dest acam os a int er f er ência da em pr esa sobr e o t r abalho do per it o e, t am bém , a int er f er ência do per it o na r elação pr of issional-pacient e.

Os pr of issionais consider am que os per it os ext r apolam as suas f unções e acabam agindo de f or m a ant iét ica, pois pr essionam par a que sejam execut ados pr ocedim ent os m ais bar at os par a benef iciar a em pr esa. Além disso, buscam f or m as de “ glosar ” os pr ocedim ent os já r ealizados. I st o r esult a em não pagam ent o pelo t r abalho já r ealizado. A não aceit ação dos pr of issionais da int er f er ência da per ícia, m esm o que est a seja r ealizada por um dos par es, evidencia o conf lit o de int er esses. Com o dest aca Bahia (1999), f ica clar o com o a r elação ent r e pr ovedor es de ser viços e em pr esas de planos e segur os de saúde se dá de f or m a conf lit uosa.

Ficou const at ada a int er f er ência dos gest or es das em pr esas odont ológicas na pr át ica do audit or . Há im plem ent ação de cont r oles explícit os sobr e os

pr of issionais, t ant o par a com os per it os com o par a com os pr of issionais

cr edenciados e, t am bém , par a pacient es, com o objet ivo m ais de cont er os cust os do que pr om over o acesso aos cuidados. Assim , t ant o os pr of issionais quant o os pacient es t êm enf r ent ado sit uações nas quais os int er esses de am bos são

cont r ar iados.

Quando eu cheguei na em pr esa, eles vier am conver sar com igo par a or ient ar com o pr eencher as f ichas, dizer quais as nor m as da em pr esa e que eu dever ia aut or izar som ent e o necessár io. A pr evenção só par a cr ianças at é 12 anos, r est aur ações de r esina, som ent e ant er ior , est ét icas. Est as nor m as t inham com o objet ivo dim inuir os cust os e est as f or am as or ient ações que eu r ecebi. [ ...] Eles r ecom endam t am bém que os pr of issionais cr edenciados f açam poucos

pr ocedim ent os por sem ana, par a o t r at am ent o dem or ar m ais t em po e os usuár ios não deixar em o plano, por que t em m uit a desist ência. Na clínica da em pr esa, ist o é m ais r est r it o ainda, por que a pr ocur a é m uit o gr ande, e eles quer em dim inuir o t em po de at endim ent o par a at ender m ais pessoas. (per it o 3)

No que diz r espeit o à r elação pr of issional-pacient e, est a f ica com pr om et ida quando há diver gências quant o ao diagnóst ico e plano de t r at am ent o, e pr incipalm ent e se o per it o não encont r ar um a f or m a ét ica de convencer o usuár io a volt ar ao consult ór io.

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do seu diagnóst ico, diz que é gengivit e, e não per iodont it e. A gent e sabe que é por que o pr ocedim ent o de gengivit e é m ais bar at o. Ele quest iona e o pior é que f az isso na f r ent e do client e. [ ...] O client e f ica na dúvida, quem est á cer t o é o pr of issional ou o per it o? É const r angedor , é ant iét ico, pr incipalm ent e por que com pr om et e a r elação pr of issional/ pacient e. O pacient e pr ocur a você por indicação, conf iando no seu t r abalho. (per iodont ist a)

Você f az o plano de t r at am ent o e, quando chega na per ícia, eles não aut or izam os pr ocedim ent os post er ior es em r esina, aut or izam par a f azer em am álgam a.[ ...] E você não t em a quem r ecor r er , e o m ot ivo par a o cor t e é a r edução de cust os. [ ...] Eles pr essionam par a você f azer os pr ocedim ent os m ais bar at os. [ ...] . Mesm o acont ecendo isso, eu f aço do jeit o que planejei, m esm o per dendo dinheir o. Eu f aço isso baseado na m inha aut onom ia e na m inha consciência. (clínico ger al)

Const at am os que os pr of issionais assalar iados, em sua pr át ica cot idiana, enf r ent am diver sos conf lit os ét icos. Conf or m e Cast r o Sant os (2002) e Schr aiber (1993), no espaço da aut onom ia as escolhas não ser iam

exclusivam ent e t écnicas, m as expr essões de valor es ét icos, conf er indo à ação um sent ido m or al. Os dilem as vivenciados pelos audit or es, de seguir em ou não as “ nor m as das em pr esas” e de paut ar em seu desem penho dent r o de um a lógica de cust o-benef ício – onde a quest ão do cust o se sobr epõe ao valor de que o bem -est ar do pacient e deve ser a quest ão f undam ent al a ser

consider ada –, f azem par t e do cot idiano de t r abalho.

Às vezes, t enho ver gonha de não aut or izar , eu m e coloco no lugar do pr est ador , sei que exist em coisas que não t êm sent ido, m as que são nor m as da em pr esa e, se eu f izer dif er ent e, quem vai r esponder sou eu. Nós t am bém som os avaliados. Nós t em os audit or ia na em pr esa, t em os avaliações per iódicas. Eles avaliam t udo o que a gent e est á aut or izando, o que est á pagando, se há f avor ecim ent o; que cr it ér ios eu est ou usando, se é unif or m e, se a gent e est á aplicando as nor m as que eles det er m inam . [ ...] A em pr esa quer o client e sat isf eit o, o pr est ador com o par ceir o, e você econom izando par a a em pr esa. E você f ica no m eio dos t r ês. Tem dias que você t em vont ade de jogar t udo par a cim a, é um a f unção m uit o

com plicada. (per it o 2)

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Con sider ações f in ais Con sider ações f in aisCon sider ações f in ais Con sider ações f in ais Con sider ações f in ais

As t r ansf or m ações ocor r idas no sist em a de saúde, especialm ent e nas décadas de 1980 e 1990, t iver am r eper cussões no m er cado de t r abalho. A Medicina

Suplem ent ar , com post a por em pr esas de Medicina e Odont ologia de gr upo, cooper at ivas, segur o-saúde, e, t am bém , o Est ado, passar am a int er m ediar a pr át ica pr of issional. Os pr of issionais inser idos na pr át ica cot idiana enf r ent am vár ias r est r ições, at é ent ão não vivenciadas na pr át ica t r adicional, e se vêem lim it ados em sua aut onom ia, em sua pr át ica liber al, em seu ideal de ser viço. Há um excesso de t r abalho com m á r em uner ação e f alt a de condições de t r abalho par a at ender aos ideais da boa pr át ica. Assim , o ideal de ser viço é sobr epujado pelos ideais de m er cado, o aspect o quant it at ivo se sobr epõe à qualidade da assist ência.

A posição dos pr of issionais não é de se subm et er a est e novo “ m undo do t r abalho” , e sim de r ef or çar os valor es da pr of issão. O cont r ole sobr e a pr át ica, o dom ínio de conhecim ent os e habilidades específ icas são quest ões das quais os pr of issionais não abr em m ão e buscam est r at égias par a m inim izar a r edução da aut onom ia. É a busca pela conciliação ent r e os int er esses pr of issionais e os da com unidade.

No que diz r espeit o à aut onom ia, ent endida com o a pr incipal car act er íst ica de um a pr of issão, cham a a at enção o f at o de que a aut onom ia pr of issional, com o um valor que conf or m a a ident idade, não est á abalada, a ident idade cont inua f ir m e. Tem sido possível const r uir um a ident idade pr of issional, ou seja, é clar o o que é específ ico ao pr of issional, sua base cognit iva é sólida, f ir m e. O que obser vam os à luz dos depoim ent os é que há pr át icas subjacent es que apont am par a um pr oblem a no m er cado de ser viços. Há um a t ent at iva sist em át ica de conciliar o ideal com as condições objet ivas de t r abalho, num esf or ço par a pr eser var dim ensões da aut onom ia, m esm o que t r ansf or m ando o exer cício pr of issional.

A ar gum ent ação dos que est ão na pr át ica cot idiana é a de que a aut onom ia pr of issional é essencial par a a gar ant ia da qualidade da assist ência, do pr est ígio e r espeit o da pr of issão. Os pr of issionais ut ilizam ar gum ent os “ alt r uíst icos” , com o o bem da colet ividade – e aí nos r epor t am os à im por t ância dada, dent r o das pr of issões, ao ideal de ser viço ou or ient ação par a a colet ividade, r essalt ada por vár ios aut or es, com o Fr eidson (1970), Moor e (1970) –, ao m esm o t em po em que f azem uso da colet ividade par a const r uir ar gum ent os de def esa par a a pr of issão, que denom ino de ar gum ent os “ de int er esse pr ivado” . O st at us e o pr est ígio social da pr of issão são def endidos com ar gum ent os dist ant es do social ou da colet ividade e pr óxim os à obt enção de vant agens pr of issionais, com o r em uner ação digna e pr át ica em basada na aut onom ia pr of issional.

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Com unic., Saúde, Educ. Com unic., Saúde, Educ. Com unic., Saúde, Educ.

Com unic., Saúde, Educ., v.11, n.21, p.25-38, jan/ abr 2007.

El est udio buscó com pr ender la dinám ica y los cam bios que af ect an la pr of esión del odont ólogo, a par t ir de la cat egor ía de la aut onom ía pr of esional y sus signif icados par a el discur so pr of esional y las est r at egias que se ut ilizan par a m ant ener la aut onom ía pr of esional. Los pensam ient os son f undam ent ados en la sociología de las pr of esiones, sus concept os de la aut onom ía, exp er t i se e ideal de ser vicio. La invest igación r eveló que la aut onom ía pr of esional sigue siendo un f uer t e elem ent o par a la ident idad del gr upo, no se ha alt er ado a pesar de los cam bios obser vados en el m er cado de t r abajo.

PALABRAS CLAVE: Odont ología. Sociología. pr áct ica pr of esional. aut onom ía pr of esional. m er cado de t r abajo.

Recebido em 07/07/05. Aprovado em 17/10/06.

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