T R A T A M E N T O CIRÚRGICO DO ESPASMO H E M I F A C I A L
C O N S I D E R A Ç Õ E S S O B R E 1 1 C A S O S
PEDRO SAMPAIO * ALOÍSIO MACHADO * *
Apesar dos estudos acurados e dos numerosos tratamentos propostos, o espasmo hemifacial continua obscuro em sua fisiopatologia e empírico em sua terapêutica. Clinicamente, tem as características de uma hipercinesia limitada aos músculos dependentes da inervação do facial, cujos paroxismos são provocados pelos movimentos voluntários ou por simples excitação psí-quica. Comumente o orbicular das pálpebras é o primeiro músculo afetado, sendo os outros acometidos ulteriormente. Se a afecção se atem apenas a ele, leva o nome de blefaroespasmo 4
.
H á peculiaridades curiosas nesta hipercinesia, como sejam o aparecimento durante o sono e durante a anestesia, e a possibilidade, embora rara, de remissões espontâneas. Os paroxismos motores jamais se acompanham de lacrimejamento ou fluxo nasal, mostrando-se assim, a poupança das fibras parassimpáticas 5
.
Muitas teorias têm sido propostas para explicar o espasmo hemifacial. G r e e n w o o d8
admite que a lesão está ao nível do núcleo do nervo. N ã o diz, porém, qual o tipo de lesão e o que a provoca. H a m s a y H u n t1 0 concorda que haja excitação nuclear, mas derivada da irritação da parte sensitiva do facial. G a r d n e r5
pensa tratar-se de um curto circuito transa-xonal da corrente de ação provocado por compressões do nervo facial na fossa posterior. Partindo deste pressuposto, propõe realizar a cirurgia desta afecção por via infratentorial. Magun e Esslen 1 2
, após estudos eletromiográ-ficos em 15 doentes, admitem que haja u m curto circuito localizado no canal de Falópio. A literatura está plena de casos de espasmos hemifaciais 2
.11 .13 na vigência de neoplasias ou malformações vasculares da fossa posterior.
Por ser ainda controvertida a origem desta hipercinesia, seu tratamento tem sido variável e os resultados duradouros não ocorrem na totalidade dos casos. Os pacientes, grande parte das vezes, desejam tratar-se não apenas para efeitos cosméticos, mas também pelo incômodo que têm para fixação tranqüila da vista no ato da leitura ou de trabalhos manuais que envolvem atenção permanente.
H á uma gama variada de técnicas. Alcoolização do nervo ao nível do buraco estilomastóideo, secção com ressutura, secção e anastomose com o espinhal e o hipoglosso, secção diferenciada dos ramos situados à frente da parótida, lesão estereotáxica em núcleos da base, neurolise na fossa posterior e secção parcial do tronco do nervo, ao deixar o buraco estilomas-tóideo 3
. 6 > 7
. 9 .1 5
.
Gardner e S a v a6
, em 19 casos de neurolise do facial na fossa posterior, encontraram processo patológico comprimindo o nervo em 7 pacientes; em outros 7, havia compressão por uma artéria redundante e, em 5, nada en-contraram. Houve alívio imediato.
Carvalho e c o l .1
, em 14 casos, encontraram compressão do facial por alça anômala de artéria em 7, um caso de aracnoidite, e em 6 nada encon-traram. Dez pacientes obtiveram alívio imediato e duradouro.
S c o v i l l e1 5
chama atenção para os perigos de surdez ao manusear-se o facial na fossa posterior, devido às proximidades do nervo e artéria acústicos. Diz que Gardner e Shanon reviram 45 casos de neurolise infratentorial e en-contraram 13 pacientes com perda de audição unilateral, sendo que em 3 o nervo acústico foi sacrificado deliberadamente. Daí, conclui Scoville, o próprio Gardner não mais operar por via intracraniana, a não ser que o paciente aceite o risco da surdez unilateral total.
M A T E R I A L E R E S U L T A D O S
N o s s a operação de escolha é a técnica de Scoville 1 3
que consta, essencialmente, de u m a via de acesso ao facial, dissecando-o do buraco estilomastóideo à sua divisão na parótida e secção dos dois terços posteriores do m e s m o .
N o s s a experiência consta de 11 casos, discriminados no quadro 1. O espasmo desapareceu t o t a l m e n t e em 9 casos, e em 2 apenas diminuiu. E m 3 pacientes per-m a n e c e u eper-m definitivo u per-m a paresia facial. H o u v e recidiva e per-m dois casos que se
C O M E N T A R I O S
A técnica de Scoville é simples e o risco cirúrgico, na prática, inexistente. Quando há recidiva, pode-se repeti-la. T e m a desvantagem, no entanto, de poder deixar como sequela uma paresia facial permanente, m a s e m nossos casos apenas um paciente não se sentiu gratificado com a cirurgia.
R E S U M O
S U M M A R Y
Surgical treatment of hemifacial spasm. Considerations about 11 cases.
S o m e c o n s i d e r a t i o n s a b o u t t h e e t i o p a t h o l o g y a n d t r e a t m e n t o f t h e h e m i -f a c i a l s p a s m a r e m a d e a n d t h e s u r g i c a l r e s u l t s o -f 1 1 c a s e s r e p o r t e d : n i n e p a t i e n t s w e r e c o m p l e t e l y r e l i e v e d o f t h e s p a s m s . T h e r e l i e f w a s p a r t i a l in
t w o c a s e s . A f a c i a l p e r m a n e n t p a r e s i s w a s o b s e r v e d in t h r e e c a s e s .
R E F E R Ê N C I A S
1 . C A R V A L H O , R . R . D . ; O L I V E I R A , S. V . & R O D R I G U E S , J. R . C . — E s p a s m o h e m i f a c i a l . T r a t a m e n t o c i r ú r g i c o . A r q . N e u r o - P s i q u i a t . ( S ã o P a u l o ) 3 1 , 1 9 7 3 . 2 . C U S H I N G , H . — T u m o r s o f t h e N e r v u s A c u s t i c u s a n d t h e S y n d r o m e o f t h e
C e r e b e l l o P o n t i l e A n g l e . W . B . S a u n d e r s C o . , P h i l a d e l p h i a - L o n d o n , 1 9 1 7 . 3 . D A V I S , L . & D A V I S , R . A . — P r i n c i p l e s o f N e u r o l o g i c a l S u r g e r y . W . B .
S a u n d e r s C o . , P h i l a d e l p h i a - L o n d o n , 1 9 6 3 .
4 . D e J O N G , N . R . — T h e N e u r o l o g i c E x a m i n a t i o n . P a u l B . H o e b e r . I n c . , N e w Y o r k , 1 9 5 0 .
5 . G A R D N E R , W . Y . — T r i g e m i n a l N e u r a l g i a . In C l i n i c a l N e u r o s u r g e r y , V o l . 1 5 . E d i t e d b y R . G . O j e m a n . T h e W i l l i a m s a n d W i l k i n s C o . , B a l t i m o r e , 1 9 6 8 . 6 . G A R D N E R , W . J. & S A V A , G . A . — H e m i f a c i a l s p a s m . A r e v e r s i b l e p a t h o
7 . G E R M A N , W . J. — S u r g i c a l t r e a t m e n t o f s p a s m o d i c f a c i a l t i c . S u r g e r y 1 1 : 9 1 2 , 1 9 4 2 .
8. G R E E N W O O D , J. — T h e s u r g i c a l t r e a t m e n t o f h e m i f a c i a l s p a s m . J. N e u r o s u r g . 3 : 5 0 6 , 1 9 4 6 .
9 . H A R R I S , W . & W R I G H T , A . D . — T r e a t m e n t o f c l o n i c f a c i a l s p a s m b y a l c o h o l i n j e c t i o n a n d b y n e r v e a n a s t o m o s i s . L a n c e t 1 : 6 5 7 , 1 9 3 2 .
1 0 . H U N T , R . — T h e s e n s o r y s y s t e m o f t h e f a c i a l n e r v e a n d i t s s y m p t o m a t o l o g y . J. N e r v . M e n t . D i s . 3 6 : 3 2 1 , 1 9 0 9 .
1 1 . L A I N E , M . E . & N A Y R A C , M . — H e m i s p a s m e f a c i a l g u e r i p a r i n t e r v e n t i o n s u r l a f o s s e p o s t e r i e u r e . R e v . N e u r o l . ( P a r i s ) 8 0 : 3 8 , 1 9 4 8 .
1 2 . M A G U N , R . & E S S L E N , E . — E l e c t r o m y o g r a p h i c s t u d y o f r e i n n e r v a t e d m u s c l e a n d o f h e m i f a c i a l s p a s m . A m e r . J. P h y s . M e d . 3 8 : 7 9 , 1 9 5 9 .
1 3 . R E V I L L A , A . G . — N e u r i n o m a s o f t h e c e r e b e l l o p o n t i l e r e c e s s . A c l i n i c a l s t u d y o f 1 6 0 c a s e s i n c l u d i n g o p e r a t i v e m o r t a l i t y a n d e n d r e s u l t s . J o h n s H o p k . H o s p . B u l l . 8 0 : 2 5 4 , 1 9 4 7 .
1 4 . S C O V I L L E , W . B . — H e a r i n g l o s s f o l l o w i n g e x p l o r a t i o n o f c e r e b e l l o p o n t i n e a n g l e in t r e a t m e n t o f h e m i f a c i a l s p a s m . J. N e u r o s u r g . 3 1 : 4 7 , 1 9 6 9 .
1 5 . S C O V I L L E , W . B . — P a r t i a l e x t r a c r a n i a l s e c t i o n o f s e v e n t h n e r v e f o r h e m i -f a c i a l s p a s m . J. N e u r o s u r g . 3 1 : 1 0 7 , 1 9 6 9 .
Disciplina de Neurocirurgia — Faculdade de Ciências Médicas — Av. 28 de