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A oralidade como estratégia de interação na escrita: o caso do jornal Agora São Paulo

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Academic year: 2017

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ANALU PANDORF

A ORALIDADE COMO ESTRATÉGIA DE INTERAÇÃO NA ESCRITA

– O CASO DO JORNAL AGORA SÃO PAULO –

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ANALU PANDORF

A oralidade como estratégia de interação na escrita: o caso do jornal Agora São Paulo

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Letras.

Orientador: Prof. Dr. José Gaston Hilgert

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P189o Pandorf, Analu

A oralidade como estratégia de interação na escrita : o caso do jornal Agora São Paulo / Analu Pandorf – São Paulo, 2010

130 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2010.

Referências bibliográficas: f. 128-130.

1. Oralidade. 2. Enunciação. 3. Interação. 4. Texto.

5. Texto jornalístico. 6.Folha de S. Paulo. 7. Agora São Paulo. I. Título.

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ANALU PANDORF

A ORALIDADE COMO ESTRATÉGIA DE INTERAÇÃO NA ESCRITA: O CASO DO

JORNAL AGORA SÃO PAULO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Letras.

Aprovada em

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________________________________________________________

Prof. Dr. José Gaston Hilgert – Orientador Universidade Presbiteriana Mackenzie

________________________________________________________________________

Profª. Drª. Elisa Guimarães Pinto Universidade Presbiteriana Mackenzie

_____________________________________________________________________________________________________________

Prof. Dr. Luís Antônio da Silva

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Dedicatória

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Agradecimentos

A Deus, pela vida e pela proteção constante.

Ao Regis, meu querido irmão, pela presença em minha vida e pelo apoio no início do mestrado.

Ao Ricardo, meu amado companheiro, pela paciência, pela compreensão e por toda a ajuda que me deu em diversas fases do trabalho.

À tia Eva (Mick), por ser minha segunda mãe e por toda a preocupação comigo.

A Álvaro e Madalena, sogros queridos, por me receberem tão bem na família e por todo o cuidado em todos os momentos.

À Thaís e Erico, amigos com quem compartilhei todos os momentos do curso, pela convivência e paciência em todo o percurso do mestrado.

A todos amigos e companheiros de trabalho, que me acompanharam nessa jornada.

Ao prof. Dr. José Gaston Hilgert, orientador, pela paciência e dedicação no desenvolvimento deste trabalho.

Aos professores Dr. Luiz Antônio da Silva e Drª. Elisa Guimarães Pinto, pelas críticas e sugestões que fizeram ao trabalho na banca de qualificação.

Às professoras Drª. Maria Lúcia Vasconcelos e Drª. Regina Helena Pires de Brito, pelas dicas e inúmeros conselhos.

A Rose Gonçalves, secretária da pós-graduação em Letras, pela paciência, por toda a atenção e ajuda durante o curso.

À Capes, pela bolsa concedida.

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Resumo

Este trabalho tem como objetivo o estudo da oralidade na escrita. Para investigar o tema, o objeto de nosso estudo será constituído pelo jornal Agora São Paulo, da empresa jornalística Folha da Manhã S/A. Partimos da hipótese de que esse jornal, em função de seu público-leitor, constrói seus textos com características que lembram recursos próprios das comunicações orais. Em outras palavras, assume-se que formas específicas de diagramação e determinadas escolhas linguístico-discursivas na elaboração dos textos desse jornal lembram estratégias de construção das interações face a face. Embora o objeto de estudo seja o jornal

Agora São Paulo, paralelamente a sua análise será também focalizado o jornal Folha de S. Paulo, da mesma empresa jornalística. O motivo desse enfoque é, na comparação dos dois jornais, dar maior evidência aos traços de oralidade no primeiro. Os objetivos da pesquisa são: identificar os recursos linguístico-discursivos usados para atribuição de oralidade ao jornal

Agora São Paulo; apontar as possíveis razões que levariam esse jornal a marcar seus textos com traços de oralidade e, por consequência, o jornal Folha de S. Paulo a evitar esses traços ou a inseri-los com menos frequência em seus textos; e, por fim, definir, com base na presença de um grau maior ou menor de oralidade nos textos dos dois jornais, o perfil dos leitores desses jornais, particularmente o dos leitores do jornal Agora São Paulo. A fundamentação teórica para o desenvolvimento desse estudo busca-se na teoria da enunciação. A enunciação é o ato de produção de um enunciado (texto) realizado por um enunciador (autor), que, por meio desse produto (o texto), se comunica com um enunciatário (leitor). No enunciado, isto é, no texto, estão inscritas as estratégias usadas pelo enunciador para agir sobre o enunciatário. Na perspectiva da enunciação, a oralidade revela-se em textos enunciativos, isto é, naqueles em que vêm projetadas as marcas do eu, aqui e agora do ato da enunciação. A ausência dessas marcas ou o seu apagamento caracterizam os textos enuncivos que, em princípio, não evocam traços de oralidade. A realização do presente estudo poderá contribuir para melhor compreender as razões e as funções do recurso a estratégias de oralidade na construção de textos escritos e, assim, ajudar o professor em seu trabalho de orientar os alunos na análise e interpretação de textos.

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Abstract

This work has as objective the study of orality in writing. To investigate this subject, the object of our study will be constituted by the newspaper Agora São Paulo, from the journalistic enterprise Folha da Manhã S/A. Our hypothesis is that this newspaper, in terms of its readership, builds their texts with features reminiscent of our resources of oral communications. In other words, we assume that specific forms of layout and determined linguistic-dicoursive choices in the elaboration of texts remind the construction of face to face interactions. Although the object of this study is the newspaper Agora São Paulo, along with its analysis, it is also focused on the newspaper Folha de S. Paulo, from the same journalistic enterprise. The reason of this approach, when comparing both newspapers, is to give more evidence to the traces of orality in the first. The research objectives are: to identify the linguistic and discoursive resources used for the atribution of the orality in the newspaper Agora São Paulo; to point out the possible reasons that would lead this newspaper to mark its texts with traces of orality and, consequently, the newspaper Folha de S. Paulo to prevent these traits or to insert them less frequently in their texts; and, finally, to define, based on the presence of a greater or lesser degree of orality in the texts of both newspapers, the profile of the readers of these newspapers, particularly the readers of the newspaper Agora São Paulo. The theoretical basis for the development of this study aims on the theory of enunciation. The enunciation is the act of producing an utterance (text) made by a speaker (author), who, through this product (the text), communicates with an enunciatee (reader). In the statement, that is, in the text, there are the strategies used by the speaker to act over the enunciatee. In the view of enuncaition, the orality revealed in enunciative texts, that is, those in which there are traces of me, here and now in the act of enunciation. The absence of these traits or erasures features the text that, in principle, does not evoke traces of orality. The completion of this study may contribute to better understand the reasons and functions of the use of oral strategies in the construction of written texts and thereby help the teacher in the effort to guide students in analyzing and interpreting texts.

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Sumário

1. IMPRENSA POPULAR E IMPRENSA DITA SÉRIA: A APRESENTAÇÃO DOS DOIS

JORNAIS ... 16

1.1. Capa... 19

1.2. Editorial ... 22

1.3. Notícia ... 25

2. A NOÇÃO DE ORALIDADE ... 30

3. FUNDAMENTOS DA ENUNCIAÇÃO PARA ESTUDO DA ORALIDADE NA ESCRITA ... 38

4. O CORPUS E A METODOLOGIA DE SUA ANÁLISE ... 49

5. A ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ... 54

5.1. Capas ... 54

5.1.1. Capas do dia 23 de março de 2010 (terça-feira) ... 55

5.1.2. Capas do dia 31 de maio de 2010 (segunda-feira) ... 58

5.1.3. Capas do dia 8 de setembro de 2010 (quarta-feira) ... 62

5.2. Editoriais ... 66

5.2.1. Editoriais do dia 18 de julho de 2010 (domingo) ... 67

5.2.2. Editoriais do dia 09 de setembro de 2010 (quinta-feira) ... 71

5.2.3. Editoriais do dia 10 de janeiro de 2010 (domingo) ... 76

5.3. Notícias das manchetes de capa ... 81

5.3.1. Notícias do dia 30 de setembro de 2010 (quinta-feira) ... 82

5.3.2. Notícias do dia 9 de outubro de 2010 (sábado) ... 94

5.4. Notícias sobre futebol... 105

5.4.1. Cadernos de Esportes do dia 18 de julho de 2010 (domingo) ... 111

5.4.2. Cadernos de Esporte do dia 12 de setembro de 2010 (domingo) ... 115

6. Considerações Finais ... 123

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Introdução

Esta pesquisa tem como tema a oralidade nos textos escritos. Em princípio, é importante salientar que, quando se fala em oralidade, se pensa logo na fala, ou seja, na interação comunicacional que acontece face a face. Um autor pode, porém, simular algumas dessas características da fala nos textos escritos. Essa simulação, consciente ou inconsciente, tem, em última instância, o objetivo de manipular, de persuadir1 o leitor na situação comunicativa constituída no texto. É em função do leitor (do enunciatário) que as marcas de oralidade aparecem ou não em um texto escrito. Assim, quando constituímos a oralidade em textos escritos como o objeto de estudos neste trabalho, partimos do princípio de que o recurso a traços de oralidade na construção do texto escrito é, em síntese, uma estratégia usada pelo enunciador (autor) para persuadir seu enunciatário (leitor).

O que nos motivou, principalmente, a escolhermos esse tema para a dissertação, foi o fato de sermos professores de Língua Portuguesa. Dentro desse contexto profissional, a abordagem da oralidade no ensino da língua é cada vez mais exigida. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o ensino de língua portuguesa deve estar voltado para o caráter social da língua. Isso quer dizer que o objetivo desse ensino é fazer com que o aluno tenha acesso ao mundo letrado, construindo seu processo de cidadania, integrando-se à sociedade de forma ativa e mais autônoma possível.

Dentro desse contexto, a leitura e a interpretação de textos de gêneros variados, que, de acordo com o novo currículo implantado pela Secretaria Estadual de Educação (SEE), do Estado de São Paulo2, vêm sendo cada dia mais enfatizadas, são fundamentais para a formação do cidadão crítico. Em confluência com esse aspecto, não podemos deixar de ressaltar o fato de que o desenvolvimento das competências leitoras são as bases para o fomento de todas as demais competências e habilidades, dentre as quais se destacam a argumentação e a persuasão.

1 Persuasão, nesta pesquisa, é utilizada em seu sentido amplo, ou seja, como cativar, convencer.

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Nessa perspectiva dos PCNs e do currículo da SEE, o estudo da linguagem oral é relevante no ensino da língua, mas não existe clareza por parte dos professores sobre o modo como ele deve ser desenvolvido nas aulas. Muitos livros didáticos já têm incluído em suas atividades exercícios voltados para a oralidade, outros já abordam questões que englobam as variedades linguísticas, algo que antes raramente era tratado em sala. Há também as obras que trabalham com uma “falsa oralidade”, em que apresentam “discussões dirigidas” de

determinados tópicos a serem debatidos em sala de aula, só para dizer que há uma preocupação com a oralidade. E a proposta adotada pelo governo do Estado de São Paulo sugere o gênero expositivo para trabalhar os aspectos próprios da oralidade, indicando o trabalho com apresentações públicas, debates regrados, palestras e teatros. Não que essas atividades sejam irrelevantes, mas nelas o gênero oral é usado apenas no plano da fala, havendo preocupação de muitos docentes apenas com a questão medial, em que se contrapõe fala (expressão fônica) e escrita (expressão gráfica). Marcuschi (2007), porém, atenta para a questão conceptual também, em que oralidade e escrituralidade são modos de ser dos textos, independentemente de sua manifestação medial. Um texto medialmente escrito (gráfico) poder ser conceptualmente falado; um outro pode ser medialmente falado (fônico), mas ser

conceptualmente escrito. Assim, há textos escritos que são conceptualmente “falados”, ou

seja, são marcados pela oralidade (bilhete, receita, e-mail) e também outros que são

medialmente “falados”, mas com o modo de ser da forma escrita (textos de seminários, apresentações acadêmicas, discursos oficiais).

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Em resumo, confiamos que o nosso trabalho poderá contribuir para um ensino de língua mais eficaz e interessante, por meio do qual o aluno se desenvolva como cidadão.

O tema da oralidade em textos escritos é um tema muito amplo. A oralidade pode se manifestar em diferentes gêneros de textos e pode ser abordada sob diferentes perspectivas de observação e análise. Neste estudo, nos restringiremos a focalizar a oralidade na imprensa escrita, mais precisamente em jornais. Essa delimitação também tem a ver com nossa atuação no ensino da língua e na formação de leitores. Consideramos fundamental que, na escola, os alunos, além de livros e outros textos, também leiam textos de jornais e, assim, entendam como um jornal faz para cativar seus leitores e levá-los acreditar no que ele diz.

Escolhemos dois jornais da empresa jornalística Folha da Manhã S/A para concretizar este estudo sobre a oralidade em jornais. São eles: Folha de S. Paulo e Agora São Paulo3. Na verdade, o objeto principal de nosso estudo é o Agora, pois – como veremos – é nele que são mais recorrentes os traços de oralidade. A Folha entrará em nossa pesquisa mais como objeto de comparação, uma vez que, comparando-a com o Agora, será dada maior evidência às características deste último.

As grandes perguntas a que queremos responder nesta pesquisa são:

a) Quais características linguísticas e textuais do Agora que constituem marcas de oralidade?

b) Por que o Agora marca seus textos com traços de oralidade e, por que razões, na Folha

há o apagamento dessas marcas ou uma presença menor delas?

c) Qual o perfil dos leitores desses jornais, levando em conta a presença ou ausência das marcas de oralidade em seus textos?

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Com base nessas perguntas, definimos os objetivos desta pesquisa:

a) à luz dos princípios teóricos da enunciação, identificar os recursos linguísticos e textuais usados para atribuição de oralidade ao jornal Agora;

b) apontar as possíveis razões que levariam o Agora a marcar seus textos com traços de oralidade, e a Folha a evitar esses traços ou a inseri-los com menos frequência em seus textos;

c) definir, com base na presença de um grau maior ou menor de oralidade nos textos dos dois jornais, o perfil dos leitores desses jornais.

Queremos chegar a esses objetivos, analisando textos dos referidos jornais (em corpus

a ser apresentado adiante), à luz da teoria da enunciação. Partimos do fundamento teórico de que todo texto é o produto da enunciação. A enunciação é o ato de produção de um enunciado (texto) realizado por um enunciador (autor), que, por meio desse produto (o texto), se comunica com um enunciatário (leitor). No enunciado, isto é, no texto, estão inscritas as estratégias usadas pelo enunciador para agir sobre o enunciatário. No caso deste trabalho, é analisando o texto do jornal. É nesse texto – o produto da enunciação – que iremos identificar os recursos usados pelo jornal – o enunciador – para persuadir o seu leitor.

Numa primeira observação, destaca-se que o jornal, como aquele que informa, em geral, não se apresenta em primeira pessoa. Nos editoriais, nas reportagens, ele não se diz eu,

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O jornal Folha caracteriza-se destacamente por essa forma geral de enunciar. Já o jornal Agora infringe muitas vezes essa norma. Ele, por exemplo, na maioria das vezes, dirige-se, com frequência, a um leitor explícito, apontando-o por você, seja usando essa forma de tratamento ou deixando-a clara na forma verbal (veja, olhe, tome cuidado). Agindo dessa forma, o jornal, como enunciador, acaba assumindo a sua natureza de um eu, já que só um eu

pode dizer você. Portanto, embora no texto o jornal não diga explicitamente eu, implicitamente esse eu está presente no uso do você. A relação eu-você é a relação da conversa, isto é, da interação em que os interlocutores estão próximos. Quando o jornal então se dirige ao leitor, interpelando-o por você, implícita ou explicitamente, ele está produzindo um efeito de proximidade com o leitor, ou seja, passando-lhe a impressão de que o jornal está

“conversando” com ele individualmente. Comparando-o com a Folha, podemos, então, dizer que o Agora, por usar com frequência essa estratégia de enunciação, revela traços de oralidade. Além desta, esse jornal revela muitas outras estratégias de construção de seus textos que o configuram como um jornal fortemente marcado pela oralidade.

É instigante analisar a razão por que determinado veículo – como é o caso da Folha–, para conferir o estatuto de verdade e de realidade a suas informações, faz uso de categorias linguístico-discursivas que produzem efeitos de distanciamento, e por que outro faz exatamente o contrário. Nessa perspectiva, o Agora busca sua credibilidade, por meio de recursos linguístico-discursivos específicos, simulando aproximação com seu enunciatário, estabelecendo um diálogo informal face a face, produzindo efeito de subjetividade e cumplicidade com o leitor, conquistando-lhe a confiança dessa forma.

São muitos os recursos usados para marcar a oralidade nos textos escritos. Aqui somente adiantamos essas breves considerações com o objetivo de trazer uma primeira informação e ilustração sobre a natureza dos fundamentos teóricos com base nos quais queremos perseguir os nossos objetivos.

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Este trabalho também contribui para a formação do professor, uma vez que o trabalho realizado com o jornal poderá ser estendido para qualquer outro tipo de texto, ajudando no desenvolvimento dos alunos, na medida em que lhes mostra, nos textos, os diferentes recursos escolhidos pelo enunciador para persuadir o enunciatário.

Esta dissertação será estruturada da seguinte forma:

No capítulo 1, apresentaremos os dois jornais objetos de nosso estudo, destacando as principais características de cada um. Enquanto a Folha é tida como representante da

“imprensa séria”, pela forma como se apresenta para o seu leitor, o jornal Agora é considerado um jornal “popular”, apresentando traços sensacionalistas em sua diagramação, imprimindo abordagem popular às suas notícias.

No capítulo 2, focalizaremos especificamente a oralidade. Mostraremos que ela tanto pode ser uma marca de textos medialmente falados quanto escritos. Veremos nesse capítulo ainda que a oralidade, na escrita, é um conceito relativo, isto é, que ela se define em relação aos traços de escrituralidade. Em outras palavras, apontaremos para o fato de que os diferentes gêneros de textos escritos distribuem-se num continuum que vai de textos fortemente marcados por traços de oralidade (papos de internet, e-mails, bilhetes) ao outro extremo de textos identificados por sua densa escrituralidade (textos acadêmicos, jurídicos). Os dois jornais objetos deste estudo também se situam nesse continuum.

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No capítulo 4, apresentaremos o corpus e a metodologia de sua análise, revelando os critérios e os sucessivos passos deste trabalho.

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1. IMPRENSA POPULAR E IMPRENSA DITA SÉRIA: A APRESENTAÇÃO DOS DOIS JORNAIS

Pertencentes ao grupo Folha da Manhã S/A, os jornais Folha e Agora são bem distintos sob vários pontos de vista. Em termos gerais, pode-se dizer que cada um tem um estilo próprio. Para Discini, “estilo é a recorrência de traços de conteúdo e de expressão, que produz um efeito de sentido de individualidade” (2004, p. 31). No jornal Agora, o plano da expressão e o plano do conteúdo são chamativos, o que é uma característica própria dos jornais populares/sensacionalistas. Já a Folha é, nessas perspectivas, um jornal sóbrio, que busca difundir a informação sem recorrer, para recursos apelativos. Faz parte, então, da chamada imprensa séria.

Para se entender essa diferenciação, apresentamos, a seguir, alguns itens que demonstram a diferença no estilo de cada tipo de jornal. Na imprensa dita séria, tendo um leitor mais crítico, que aparentemente procura o jornal em função de seu conteúdo, os textos são mais extensos, mais elaborados, pressupondo que esse leitor quer mais informação. Já na imprensa popular (ou sensacionalista), os textos são bem menores, trazendo apenas as

informações de forma resumida, uma “leitura de trem/ônibus/metrô”, que o leitor faz

rapidamente em seu trajeto de casa para o trabalho, sem muitas reflexões. Muitas matérias apresentadas no jornal Agora são resumos do que saiu na Folha, a qual aborda os assuntos de forma mais ampla e detalhada

Um design discreto, mais limpo, sóbrio é o utilizado na imprensa dita séria. Supostamente o leitor da Folha não quer muitas alegorias, apenas a informação. Já, na imprensa popular, o que chama a atenção é o design hiperbólico, com cores vibrantes, como é o caso das tarjas que o Agora utiliza, nos cadernos principais e na capa, a tarja vermelha, destacando uma palavra que se quer evidenciar, ou ainda tarjas em preto, com o mesmo objetivo de atrair a atenção do público. O jornal sério tem a preocupação com a sobriedade de seu veículo de informação, portanto, faz uso de cores frias, querendo destacar o conteúdo. Já o jornal popular quer realmente ter destaque, seja pelas cores, pelos boxes ou até mesmo por fotos extravagantes (como é o caso do Agora, que coloca no caderno A2 sempre uma foto de

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O jornal popular costuma usar fontes maiores, que facilitam a leitura de seu destinatário, uma vez que elas são mais fáceis de ler e, consequentemente, o texto se torna mais curto; já o jornal da imprensa dita séria, tendo um leitor de elite, que prima pelo conteúdo, apresenta fontes menores, dando assim mais espaço para a informação.

Os títulos nos jornais populares são, na maioria das vezes, chamativos, apelativos, e no jornal dito sério são mais sóbrios. Um exemplo disso é o título do jornal Agora, do dia 7 de

março de 2010: “Governo acha grana de filho de Sarney na China”, bem diferente do da

Folha em que há outro tratamento semântico, pois essa mesma notícia, na mesma data, é

apresentada com o seguinte título: “Governo acha dinheiro de filho de Sarney no exterior”.

Outro exemplo dessa escolha semântica é o título do editorial do jornal Agora, do dia 21 de março de 2010: “O preço da „boquinha‟”, utilizando um termo que não seria admitido na imprensa tida como séria.

O uso das imagens em cada jornal é bem diferente. Enquanto na imprensa séria, a imagem é um complemento da notícia, servindo apenas para ilustrar, no jornal popular, nem sempre isso ocorre, pois as fotos tendem a ser mais apelativas, com o objetivo de explorar mais as emoções do leitor, e isso ocorre tanto nas fotos como nos textos.

Quanto ao número de páginas, também há uma diferença muito grande. Os jornais populares tendem a ter o número de páginas muito inferior ao do jornal tido como sério. Se pegarmos os dois jornais em questão numa edição de domingo, comprovaremos isso: enquanto a Folha tem 11 cadernos, em torno de 150 páginas, mais a Revista da Folha, o jornal Agora conta com 6 cadernos (sendo dois direcionados ao esporte), em torno de 70 páginas, e também com a Revistada Hora.

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denominarem esse jornal como o “jornal para os aposentados”, em razão de todos os dias

apresentar notícias relacionadas a essa área, sendo, na maioria das vezes, na primeira página.

Complementando esses itens, Discini (2004) refere-se aos jornais

populares/sensacionalistas como detentores de um “ethos hiperbólico, que grita”, enquanto o jornal tido como sério apresenta um “ethos eufemístico, que fala baixo” (p. 40). Dessa forma,

a imagem do jornal Agora é extremamente chamativa, com traços da imprensa sensacionalista, tanto em sua expressão, explorando os aspectos gráficos mais extravagantes, como no conteúdo, ao se utilizar de termos coloquiais e às vezes próprios da oralidade. Já o jornal Folha, com uma diagramação equilibrada, tem um modo de dizer (“estilo”) próprio da

classe que pretende atingir, com o objetivo de mostrar, em seus textos, o modo de pensar da classe que representa, preocupada com notícias com conteúdo, vocabulário elaborado, apagando as marcas da oralidade.

Essa representação do jornal nada mais é do que uma identificação social. O leitor identifica-se com o jornal, que constrói para ele um discurso real, pois o modo de dizer de cada jornal, ou seja, o seu estilo acaba por gerar efeitos de realidade e de verdade para cada um de seus leitores. Um leitor da Folha vê essa veracidade toda impressa nas páginas do jornal ao, primeiramente, encontrar na capa as manchetes que são de seu interesse. Depois, no editorial, esse mesmo leitor vai encontrar textos muito bem construídos, levando-o a reflexões, fazendo com que esse destinatário sinta esse efeito de verdade no pensamento do outro, que acaba por revelar o que possivelmente ele está sentindo/pensando na apresentação polida da notícia – um sinal de respeito para com esse leitor, que busca a informação em vez

da “dramatização” da notícia. Há, portanto, conforme Discini (2004, p.128), uma

“cumplicidade discursiva explícita que se fundamenta linguística, ideológica, visual e

somaticamente”.

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mais fácil, parece elaborada especialmente para ele, há, portanto, uma relação de reciprocidade entre leitor e jornal.

1.1. Capa

A capa do jornal, ou melhor, a primeira página, chamada de rosto, por mostrar a “cara”

do jornal, sua aparência, pois cada jornal tem, de acordo com seu estilo e destinatário, uma

capa determinada, ou ainda “espelho”, porque o jornal projeta através da capa o perfil de seu leitor. Ao mostrar seu corpo, o jornal concretiza a sua imagem perante o seu destinatário, que, segundo Discini (2004, p. 118), “não é construído apenas naquele determinado dia, mas na sequência de dias, semanas, meses, e construído também não apenas por aquilo que se diz,

mas, principalmente, pelo modo que se diz”. O modo como cada jornal “diz” é claramente

demonstrado logo na primeira página. A capa é de extrema importância, pois é pela capa que o leitor faz a escolha de ler ou não ler o jornal.

Observando as capas dos jornais Folha e Agora, do dia 24 de março de 2010 – reproduzidas a seguir –, percebemos como cada jornal atrai o seu público e se apresenta para ele.

Primeiramente, vamos observar como a Folha estrutura sua diagramação: na parte superior, há o cabeçalho, com o nome do jornal em caixa alta (letra maiúscula) e em negrito e, acima do nome, o slogan do jornal “Um jornal a serviço do Brasil” e o endereço eletrônico. Abaixo do nome do jornal, do lado esquerdo, o nome do diretor de redação, no meio, a data completa – tendo abaixo desta ainda o ano e o número da edição do jornal – e, do lado esquerdo, o horário em que a edição foi concluída, seguida do preço (R$ 2,50 – um real mais caro que o jornal Agora). A página toda com cor neutra, discreta, com exceção da primeira tarja em um verde não chamativo e um fundo mais claro no meio (na verdade, a única parte colorida da página, bem diferente do que ocorre no jornal Agora), com as chamadas para os cadernos: Ciência, Mundo, Informática e a coluna de Elio Gaspari. Logo abaixo, a primeira

manchete: “Tesouro é contra reativar Telebrás”, com a chamada da matéria e um pequeno

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além de mais cinco colunas com resumo das notícias a serem abordadas. E, na parte inferior, a chamada para o colunista do dia (Ruy Castro), além de informações sobre a temperatura, o rodízio e o destaque para os editoriais. Por fim, na parte inferior da página, o anúncio de um automóvel de luxo, ou seja, um carro que evoca o suposto status social do público da Folha.

O jornal Agora apresenta, já na parte superior, a primeira manchete, com seus costumeiros números das tão conhecidas notícias voltadas para o público dos aposentados, com a tradicional tarja em tom vermelho berrante destacando o valor, o que tende a atrair mais ainda o seu leitor. Abaixo disso, em uma tarja preta fina, o seu primeiro diálogo com o

leitor: “Veja como conferir se você está na lista da revisão do INSS”, sugerindo o diálogo face a face com seu enunciatário. Em seguida, no centro, é apresentado o nome do jornal, com fundo vermelho, posto entre um desenho com uma das notícias de destaque e a promoção da

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não recebe o mesmo destaque na capa), com a manchete: “Legista afirma que Isabella foi

estrangulada – com destaque da tarja vermelha – e mostra fotos a júri”, com foto em um

ângulo bem mais próximo que o da Folha. Abaixo, notícias bem populares, relativas ao BBB, ao futebol, entre outras, todas com tarja colorida no título. Mais abaixo ainda, do lado esquerdo, vem o preço do jornal bem destacado, também com fundo vermelho, e, do lado direito, fecha-se a página com uma charge sobre as eleições, atribuindo um toque de humor ao jornal. É interessante destacar, por fim, que não há lide na matéria principal, destacando e resumindo a notícia. De certa forma, a tarja vermelha sobre a qual está impressa a notícia exerce essa função de destaque.

Outro aspecto importante para ressaltar em relação ao jornal Agora é o fato de o nome do jornal (a logomarca) não ter uma posição fixa na página, mudando de lugar a cada nova capa. Observemos esse posicionamento nas capas selecionadas abaixo, dos dias 31/05/2010, 02/06/2010, 03/06/2010 e 05/06/2010:

O quadrado vermelho, com o nome no centro em branco e tarjas pretas em cima e abaixo do nome, vai sendo moldado de acordo com a capa do dia. A cada edição, a logomarca aparece em uma posição diferente: na parte superior, na parte inferior, no meio, à direita, à esquerda, sempre sendo apresentada de forma irreverente. Diferentemente comporta-se a

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Diante do exposto, observamos o quanto a imprensa popular gesticula e grita, num discurso hiperbólico, no dizer de Discini (2004, p. 124), como “um ator estouvado, com

gestos atabalhoados”, que dialoga com o seu leitor, instaurando um simulacro de interlocução, aproximando-se dele, conseguindo assim a sua confiança e lealdade. Já na imprensa dita séria, há a presença de um ator sutil, fino, com gestos controlados, que convence e mantém fiel o seu leitor pela sobriedade, objetividade e maior formalidade informativo-analítica.

1.2. Editorial

Segundo o Manual de Redação da Folha de S. Paulo (2006, p. 64), o editorial é um texto

que expressa a opinião de um jornal. Na Folha, seu estilo deve ser ao mesmo tempo

enfático e equilibrado. Deve evitar a ironia exagerada, a interrogação e a exclamação. Deve apresentar com concisão a questão de que vai tratar, desenvolver os argumentos que o jornal defende, refutar as opiniões opostas e concluir condensando a posição adotada pela Folha. Nada impede que o jornal mude a opinião sobre determinado assunto. Neste caso, deve dizê-lo com clareza.

Na imprensa dita séria, há a intenção de mostrar, mesmo no editorial, que emite uma opinião, a objetividade própria da linguagem jornalística, havendo o apagamento ou neutralização do sujeito da enunciação, segundo Discini (2004), “para que os fatos pareçam

narrar-se a si mesmos, sem aparentemente, um narrador instalado no discurso”. Dessa forma,

na imprensa dita séria:

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Na Folha, os editoriais abrem amplos cenários de discussão em sintonia com um leitor interessado em reflexão e análise sobre grandes temas como política, economia e outros. Os editoriais encontram-se na página A-2, na parte esquerda da página, ao lado de outros textos assinados que também visam ao debate, além das frases selecionadas e da tradicional charge política. Esta dá um toque de humor e ironia à página exercendo, assim, crítica sobre um tema ou acontecimento. O editorial faz sentido dentro do contexto da página. Para Maingueneau,

“Não se dirá que o discurso se insere dentro de um contexto, como se o contexto fosse tão somente uma espécie de quadro, uma decoração; na verdade, o discurso apenas existe

contextualizado” (Apud Discini, 2004, p. 173). Na outra página, a A-3, o jornal continua com

o título de “Debates”, com dois textos assinados, além do painel do leitor, por meio do qual o jornal se mostra aberto à discussão. Ele se revela um jornal que quer ouvir o leitor, que o respeita e quer compartilhar com ele suas ideias e reflexões.

No jornal Agora, há um editorial simples, escrito de forma sucinta, abordando aspectos do cotidiano, que realmente chamam a atenção de seu destinatário. Situado na página A-3, o editorial do jornal Agora ocupa praticamente um quarto da página, do lado superior, constando ao lado direito dele um box, com a logomarca do jornal, o endereço, o nome do presidente do jornal, do diretor editorial e do editor responsável. Em outro box, aparecem os telefones úteis como os da Comgás, Sabesp, Embratel, Telefônica, entre outros, sendo variáveis esses serviços, isto é, aparecendo a cada dia um box com serviços diferentes. O jornal mostra ser, assim, um veículo de utilidade para a população. Esse editorial, longe de promover o debate e a reflexão, procura selecionar temas do cotidiano da população, como greves, problemas com transporte público, problemas na saúde, na segurança. Até mesmo questões relacionadas ao esporte (como na edição do dia 25 de março de 2010) podem ser tema de editorial.

No dia 5 de março de 2010, ao compararmos os editoriais dos dois jornais, constatamos a diferença temática entre eles.

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que fala e grita pelo outro, uma voz que representa seu leitor, a ponto de se solidarizar com ele, dando relevância ao problema do qual é vítima todos os dias.

Transporte difícil Do Agora

Todos os dias muitos moradores da zona sul de São Paulo passam por um verdadeiro martírio.

Não há ônibus em número suficiente para quem, a cada manhã, tem que viajar até o centro da cidade para trabalhar. Quem busca tomar a condução na estrada do M'Boi Mirim, como mostrou ontem a reportagem do Agora, demora horas para embarcar e, quando consegue, viaja em ônibus superlotados.

A diarista Antonia da Conceição Silva diz que chega a esperar uma hora pelo transporte, todo dia. O manobrista Daniel Aquino Santos sai de casa às 5h para tentar chegar ao trabalho às 8h. "Por várias vezes já cheguei depois das 9h", ele diz.

É um desrespeito. E não acontece só no M'Boi Mirim mas também em muitas outras áreas da periferia da cidade. Moradores da zona sul já fizeram protestos, mas de nada adiantou.

O prefeito Gilberto Kassab (DEM) prometeu duplicar a estrada do M'Boi Mirim e melhorar o fluxo do trânsito na região. A obra só ficará pronta, na melhor das hipóteses, em 2012. O ideal seria exigir agora que as empresas aumentassem o número de ônibus.

A longo prazo, é claro, só isso não basta. Mais ônibus, somados aos carros, acabariam piorando o trânsito. A saída, além da sempre esperada expansão do metrô, que vai indo aos poucos, é modernizar os atuais corredores. Eles melhoraram a vida da população e agora precisam ser aperfeiçoados e estendidos a outras vias da cidade.

Já na Folha, o enfoque de um dos editoriais é a sucessão presidencial, com o título

“Serra ou não Serra”, abordando a possível candidatura de José Serra ao planalto.

Serra ou não Serra

Candidatura tucana se desfaz num jogo de bastidores alheio ao que se espera de um debate democrático moderno

DE ONDE MENOS se espera, dizia o Barão de Itararé, daí é que não sai nada. A frase teria de passar por algumas modificações para aplicar-se à situação atual do governador José Serra, que num jantar com peessedebistas na última terça-feira declarou - para escassa comoção dos interlocutores - que é candidato à Presidência da República.

Ninguém qualificaria de inesperada a atitude de Serra; de há muito crescem as pressões da oposição para que sua candidatura se lance em campo aberto. No espírito do velho humorista, seria possível entretanto dizer que, quando muito se espera, daí é que ninguém sai do mesmo lugar - e o aguardado anúncio da candidatura tucana, feito entre

quatro paredes, guarnecido de ressalvas e precauções, politicamente acrescenta pouco ao que já estava colocado sobre a mesa, e coisa nenhuma ao que ainda se esconde debaixo do pano.

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Em que ficamos? Qualquer que seja o desfecho desse aborrecido drama de bastidores, a cada dia se reduz a estatura dos personagens que o compõem. Se grandes reservas de astúcia e de cautela são necessárias a um bom político, é também verdade que não há liderança concebível numa atitude de permanente aversão ao risco e à clareza de compromissos.

Como é costumeiro no PSDB, prefere-se a intriga interna ao debate público, e acredita-se mais na própria infalibilidade do que na disputa franca de opiniões e de projetos.

Conforme diminui a distância entre Serra e a petista Dilma Rousseff, criam-se situações embaraçosas no cardinalato peessedebista. A anuência de Aécio Neves ao lugar de vice começa a ser tratada como questão crucial para a campanha; porém, se no governador mineiro se depositam tais esperanças de salvação, por que não seria ele próprio o candidato à Presidência?

Natural que Aécio se faça de rogado, enquanto os índices de Serra desinflam nas pesquisas. No megaevento em que se comemoraram os cem anos de nascimento de Tancredo Neves, o lema de "Aécio presidente", como não poderia deixar de ser, foi ouvido com insistência.

Serra ou não Serra, Aécio ou não Aécio, os nomes perdem em importância; o que ressalta, acima de tudo, é o modo com que a vida política no Brasil parece distante dos padrões de uma democracia moderna. De um lado, surge uma candidata inventada pelo cesarismo presidencial; de outro, ambições pessoais se desfazem em picuinhas e sussurros, sem nada de significativo a apresentar para a população.

Podemos perceber, então, que cada jornal apresenta em seu editorial um tema que esteja em sintonia com o seu enunciatário. O Agora volta-se à camada da população, constituída pelas pessoas menos privilegiadas, que fazem dos problemas de seu cotidiano a sua principal. A Folha, por presumir que o leitor das classes mais favorecidas, não sofre com os mesmos problemas, por estar a par do que ocorre no cenário político e por querer ter mais informações e análises sobre esse cenário, entra em sintonia com os anseios desse leitor

1.3. Notícia

As notícias nos jornais tidos como sérios tem como objetivo informar e, de certa forma, instruir seu leitor, tendo grande preocupação com a formação de opinião dele, levando-o a refletir e a argumentar a respeitlevando-o dlevando-o que é nlevando-oticiadlevando-o. Já levando-o jlevando-ornal plevando-opular inflevando-orma, mas nãlevando-o com o teor e a complexidade do outro tipo de jornal. Os jornais voltados para as classes social e economicamente menos favorecidas apresentam notícias elaboradas de forma mais simples, de fácil entendimento para esse público, além de se constituírem também fonte de entretenimento para ele.

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programas popularescos. Em virtude disso, o jornal popular deve também ser um meio de lazer e não só de informação.

É em razão disso que, muitas vezes, apelam para o riso, mesmo quando o que é noticiado seja uma situação desagradável.

Para Dias (2001, p. 214):

É possível identificarmos procedimentos que, condenados na imprensa de elite, são frequentes na popular, como é o caso do humor, enquanto efeito de sentido, em notícias que tratam da morte, do crime e de insucessos de várias ordens. Contudo, observamos que é matéria do risível, no jornal popular, não propriamente o crime, o infortúnio, mas o modo como tais acontecimentos são relatados e representados na notícia.

A linguagem utilizada no jornal popular, bem como outros recursos linguísticos, como

“metáforas, gírias, manchetes inusitadas, similaridades sonoras, modificação de expressões familiares, etc.” (Dias, 2001, p. 214) fazem com que o riso fique evidenciado na notícia.

Destaque-se ainda que o jornal popular utiliza determinados vocábulos, próprios de uma linguagem mais familiar, mostrando intimidade para com o seu leitor, isto é, valendo-se de uma estratégia de aproximação entre o jornal e o seu público. Já o jornal tido como sério (ou de elite) procura, por meio da linguagem adotada, distanciar-se de seu leitor, produzindo um texto formal e objetivo.

Vejamos, a seguir, algumas matérias do jornal Agora, que trazem essa veia cômica:

Centenária se diz conservada pelo cigarro

Uma inglesa de cem anos disse acreditar que o segredo para a longevidade dela pode ser o consumo de bebida e cigarro, Lorna Gobey, de Cheltenham, na Inglaterra, fuma 20 cigarros por dia e também gosta de tomar cerveja. Ela calcula ter fumado 500 mil cigarros desde 1940, quando fumou pela primeira vez. (Agências)

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Observamos, na matéria acima, além da manchete inusitada, que faz estampar o riso, o recurso sonoro, com a aliteração “centenária, conservada, cigarro” (no título). O texto é curto, próprio para um leitor que quer informação por meio de uma leitura fácil e curta e, ao mesmo

tempo, o entretenimento necessário para “suportar” o seu dia a dia.

Ladrão fica entalado na chaminé nos EUA

O norte-americano Shon Michael Shanell, 23 anos, foi preso na semana passada em Seattle acusado de tentar invadir uma casa de chaminé. Shanell acabou entalado e precisou ser resgatado pelos bombeiros. Um vizinho ligou para o serviço de emergência depois que ouviu o homem gritar por socorro. (Agências)

(A-6 – Torpedos Agora – Sexta-feira, 05/03/2010)

Podemos perceber, nessa matéria, a comicidade não só pela situação inusitada, como

se fosse uma “tragicomédia”, mas também pelo uso da palavra “entalado”, que reforça o riso na notícia, além de marcar também a oralidade no texto, ao utilizar esse termo nessa situação textual.

Puns de preso geram confusão

Um preso de 21 anos causou confusão em uma penitenciária da Suécia, por causa das flatulências, o popular “pum”, que ele solta com frequência no local. Agentes advertiram o prisioneiro contra os seus “ataques” fedidos. Para os agentes carcerários, os puns foram uma forma encontrada pelo preso para protestar contra as condições do sistema carcerário. O detento nega que esteja protestando. (Agências)

(A-8 – Torpedos Agora – Sexta-feira, 26/03/2010)

Temos na matéria apresentada o assunto inusitado, que distrai o leitor, confirmando o

jornal popular como lazer, além do termo “puns”, em linguagem popular, causando o efeito de comicidade ao texto.

Menina de 11 anos tem o tênis mais fedido dos EUA

Uma menina de 11 anos venceu um concurso que elegia o calçado mais fedido dos EUA. Trinette Robinson levou um troféu, R$ 4.500,00 e uma passagem para Nova York. Seu calçado, que era branco e rosa, estava cinza, com a sola destruída, com furos no dedão, o velcro saindo e cheiro muito ruim. (Agências)

(A-8 – Torpedos Agora – Sexta-feira, 26/03/2010)

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Vejamos agora duas outras matérias do jornal Agora tidas como “sensacionalistas. Os traços de sensacionalismo ficam em evidência quando o jornal aborda, em algumas notícias, temas com forte apelo religioso popular

Imagem de Cristo agora chora sangue na zona leste de SP

Quase dois meses depois de verter mel pelos olhos, a imagem de Jesus Cristo novamente chorou em uma casa em Sapopemba (zona leste de São Paulo), mas, dessa vez, foi sangue.

Segundo o missionário Anderson Freitas, 22 anos, morador do quarto onde fica a imagem, a dona da casa e aposentada Doralice da Silva Carvalho, 67 anos, foi a primeira a ver o acontecimento, na madrugada de ontem. Para ele, o fato de a imagem de Jesus Cristo chorar sangue tem significado especial. “Quando uma imagem chora sangue, quer passar que está sofrendo por algum motivo. Jesus quer mostrar que as pessoas não estão apegadas, que permaneceram distantes da prece na Quaresma. Por isso, mostra a sua tristeza e a sua dor por meio das lágrimas de sangue.”

O padre Cido Pereira, porta-voz da Arquidiocese de São Paulo, prefere adotar um tom cauteloso para comentar o caso. “Eu acho que o assunto merece estudo, mas não podemos divulgar que está acontecendo um grande milagre, pois talvez haja outras explicações”.

Para o professor de ciências e doutorando da Unifesp Gabriel Cunha, não existe possibilidade de a imagem expelir qualquer líquido que não seja água. “É impossível que uma imagem verta sangue. O fenômeno poderia ser explicado pela ciência se o líquido fosse água. A condensação do vapor d‟água poderia fazer com que o líquido aparecesse na imagem.” Segundo o padre Quevedo, autor de livros sobre parapsicologia, o acontecimento tem nome. “Chama-se aporte [quando há transporte de emoções de uma pessoa para uma imagem]. É um fenômeno natural e parapsicológico.”

(Quarta-feira, 07/04/2010)

Seguindo essa mesma linha editorial, e parecendo ser continuação do mesmo assunto, temos a seguinte notícia:

Depois de Jesus, Santa chora mel

Desde a última terça-feira, uma imagem de Nossa Senhora de Fátima chora lágrimas de mel em Sapopemba, na zona leste da capital, segundo moradores. Eles pretendem distribuir o mel (considerado curativo por alguns dos visitantes).

O endereço (uma casa simples na rua Luís Antonio da Costa, 28-A) é o mesmo de outras duas imagens de Jesus que vertem mel e sangue desde fevereiro.

Ao contrário das representações de Jesus, a imagem da santa não pertence à proprietária da casa, Doralice da Silva Carvalho, 67 anos. A santa que está no altar montado em um quarto é peregrina, ou seja, é levada de uma casa para outra para motivar orações.

Inicialmente, ela ficaria na casa apenas por um dia – até que o mel escorreu dos olhos e começou a pingar no suporte. Não há previsão de até quanto tempo a imagem ficará lá. Doralice espera que as pessoas se inspirem no ocorrido para praticar a fé.

(Domingo, 11/04/2010)

Percebemos, nessas duas matérias, todo o sensacionalismo existente na abordagem dos

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são apresentados “fenômenos religiosos” que, de alguma forma, convencem pessoas simples, pouco afeitas a apreciações analíticas e críticas.

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2. A NOÇÃO DE ORALIDADE

Quando falamos em oralidade, percebemos certa imprecisão em sua definição. Há quem pensa nela apenas na manifestação linguística por meio da fala. Mas não é só no plano da fala que ela se apresenta.

Para Neves (2009, p. 21), “a língua oral de certo modo se confunde com a forma mais

natural de uso linguístico, a conversação, já que ela „é o veículo de comunicação usado em situações naturais de interação social do tipo de comunicação face a face‟ (Tarallo, 1986: 19)”.

Tradicionalmente, a noção de fala se define em oposição à de escrita, estabelecendo-se a dicotomia fala x escrita. Trata-se de uma distinção somente no plano medial, isto é, considera-se somente o meio usado para a manifestação linguística. Isso equivale a dizer que a fala se realiza na manifestação fônica, e a escrita, na manifestação gráfica.

Em relação a essa concepção dicotômica da manifestação linguística, Marcuschi (2007, p. 25) assim se expressa:

fala seria uma forma de produção textual-discursiva para fins comunicativos na

modalidade oral (situa-se no plano da oralidade, portanto), sem a necessidade de uma tecnologia além do aparato disponível pelo próprio ser humano. Caracteriza-se pelo uso da língua na sua forma de sons sistematicamente articulados e significativos, bem como os aspectos prosódicos, envolvendo, ainda, uma série de recursos expressivos de outra ordem, tal como a gestualidade, os movimentos do corpo e a mímica.

Já a escrita, para o mesmo autor (2007, p. 26), seria

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envolva também recursos de ordem pictórica e outros (situa-se no plano dos letramentos). Pode manifestar-se, do ponto de vista de sua tecnologia, por unidades alfabéticas (escrita alfabética), ideogramas (escrita ideográfica) ou unidades iconográficas, sendo que no geral não temos uma dessas escritas puras. Trata-se de uma modalidade de uso da língua complementar à fala.

Assim, sabendo que a linguagem é produto social da interação entre os sujeitos, fala e escrita seriam modalidades básicas do uso da língua, sendo a fala a manifestação da prática oral, ou seja, o aspecto fônico, e a escrita, a manifestação da prática escrita, ou seja, o aspecto gráfico.

O autor, contudo, contesta vários aspectos dessa visão dicotômica. Em primeiro lugar, não considera a escrita uma forma de representação da fala (p. 46):

O certo é que escrita não representa a fala, seja sob que ângulo for o que observamos. Justamente pelo fato de fala e escrita não se recobrirem podemos relacioná-las, compará-las, mas não em termos de superioridade ou inferioridade. Fala e escrita são diferentes, mas as diferenças não são polares e sim graduais e contínuas. São duas alternativas de atualização da língua nas atividades sócio-interativas diárias.

Em segundo lugar, fala e escrita denominam modos de ser dos textos para além dos meros critérios de manifestação destes. Tomemos uma conversa informal entre amigos num bar. Ela ocorre sem preparação prévia, isto é, começa no momento em que os amigos se

encontram. O tema abordado, geralmente tratando de assuntos do cotidiano, é “escolhido” na

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caracterização oral, isto é, o seu modo de ser próprio, passando a ser um texto

conceptualmente escrito.

Por outro lado, um texto escrito sem marcas que lembrem a fala é um texto escrito prototípico. Na medida, porém, em que for assumindo traços de fala ele se tornará um texto conceptualmente falado.

Com base nessas considerações e na visão de Marcuschi (2007, p. 26), “os termos fala

e escrita passam a ser usados para designar formas e atividades comunicativas, não se restringindo ao plano do código. Trata-se muito mais de processos e eventos do que de

produtos”.

Em outras palavras, oralidade e escrita são práticas sociais, ou seja, processos discursivos da linguagem, não opostos, sendo apresentados pelos gêneros orais ou escritos, segundo Marcuschi, fundindo-se em um continuum e não em uma dicotomia polarizada, pois

são “realizações de uma gramática única”.

A oralidade, nesse sentido, vai além da fala, podendo ser apresentada tanto no seu aspecto formal quanto informal. Segundo Marcuschi (2007, p. 25), “seria uma prática social

interativa para fins comunicativos, que se apresenta sob variadas formas ou gêneros textuais

fundados na realidade sonora nos mais variados contextos de uso”.

Assim, oralidade não é compreendida apenas como um texto falado, mas também um texto escrito que detém traços da fala. No dizer de Hilgert (2007, p. 69):

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Dessa forma, devemos compreender a oralidade de forma medial e de forma conceptual. Entendemos por medial o meio de produção em que a linguagem é expressa, podendo ser apresentada de forma escrita (gráfica) ou falada (fônica). E por conceptual

entende-se o modo de ser dos textos, a concepção discursiva, podendo apresentar traços de oralidade, quando há marcas da linguagem falada, ou traços de escrituralidade, quando mantém características próprias da linguagem escrita, ou melhor, quando não apresenta marcas de oralidade.

O contínuo dos gêneros textuais distingue e correlaciona os textos de cada modalidade (fala e

escrita) quanto às estratégias de formulação que determinam o contínuo das características que

produzem as variações das estruturas textuais-discursivas, seleções lexicais, estilo, grau de

formalidade etc., que se dão num contínuo de variações, surgido daí semelhanças e diferenças

ao lado de contínuos sobrepostos.

(MARCUSCHI, 2007, p. 42)

Assim, um bilhete informal que um amigo manda para outro é medialmente escrito, porém conceptualmente falado, isto é, um texto escrito com marcas próprias da linguagem falada, ou seja, de oralidade. E uma apresentação acadêmica, que se dá num meio falado, é texto conceptualmente escrito, uma vez que, embora seja utilizada na forma oral, retém em seu discurso características próprias da língua escrita, isto é, um texto marcado pela escrituralidade.

Hilgert (2007, p. 73) enfatiza que:

oralidade e escrituralidade, em sua acepção conceptual, independem do meio em que se manifestam, o que não descarta um vínculo preferencial entre a oralidade prototípica e a manifestação medialmente falada e entre a escrituralidade prototípica e a realização medialmente escrita.

Podem existir textos “puros”, isto é, textos de concepção discursiva oral, sendo

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que denominamos como textos prototípicos da modalidade (seja oral ou escrita). Além disso,

temos textos “mistos”, em que a concepção discursiva é escrita, produzidos no meio sonoro

(como uma notícia de TV), ou textos de concepção discursiva oral, produzidos no meio gráfico (como um bilhete pessoal).

Para Marcuschi (2007, p. 17), “oralidade e escrita são práticas e usos da língua com

características próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas

linguísticos nem uma dicotomia”, além de serem inerentes ao ser humano.

O que caracteriza um texto marcado pela oralidade ou pela escrituralidade são as condições de produção dos mesmos. Enquanto a oralidade simula, no texto escrito, características próprias da língua falada, como se estivesse ocorrendo uma comunicação face a face, apresentando, então, uma aproximação entre enunciador e enunciatário, o texto marcado pela escrituralidade mostra distanciamento entre enunciador e enunciatário, simulando a impessoalidade e a objetividade própria do texto escrito.

Textos fortemente marcados pela oralidade, sejam eles medialmente falados ou escritos, produzem uma impressão de aproximação entre o enunciador (autor) e o enunciatário (leitor), isto é, caracterizam-se pela proximidade. Já a marcante ausência de traços de oralidade, em ambas as formas de manifestação, produz o efeito contrário. Assim, os textos marcados pela escrituralidade produzem o efeito de sentido de distanciamento entre enunciador e enunciatário.

No dizer de Barros (2006, p. 60), “o texto escrito, com os efeitos de oralidade, „torna

-se‟, para seu destinatário, mais subjetivo, mais franco, mais sincero, mais atual e inovador, mais „verdadeiro‟”. E é exatamente isso que perceberemos no objeto de nosso estudo – o jornal Agora – que vai se apresentar para o seu leitor com essas marcas próprias da oralidade.

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conversa informal, interpelando-o, fazendo com que o enunciatário se mantenha fiel a esse veículo de comunicação.

Em contrapartida, um texto marcado pela escrituralidade distancia-se de seu destinatário, causando o efeito de distanciamento e objetividade. Essa atitude tem por finalidade dar o efeito de realidade/verdade, estabelecendo laços racionais, de confiança e credibilidade, com o propósito de passar a imagem de seriedade.

Mas isso não quer dizer que não haja subjetividade nesse último tipo de texto, pois, segundo Fiorin (2005, p.179) “não existem textos objetivos, pois eles são sempre fruto da

subjetividade e da visão de mundo de um enunciador. O que há são textos que produzem um

efeito de objetividade”. O que acontece na Folha é que o jornal utiliza os recursos linguísticos para dar o efeito de distanciamento e objetividade, produzindo a impessoalidade própria desse meio de comunicação. Mas é sempre uma ilusão de objetividade.

Com base nisso, podemos perceber que as marcas de oralidade estão presentes nos textos escritos e não somente em textos medialmente falados. É importante que se chame atenção para esse fato, a fim de não se pensar que a oralidade só é mostrada por meio da fala. São muito comuns os textos que se utilizam do meio escrito, representando situações comunicativas próprias da fala. Um exemplo disso são as campanhas publicitárias, que, muitas vezes, para atingir um determinado enunciatário, produzem textos medialmente escritos com expressões marcadas pela oralidade.

Apresentamos, a seguir, dois exemplos4 que mostram as marcas de oralidade em campanhas publicitárias:

 Campanha do Banco o Brasil: “Seja também cliente do Banco do Brasil. Abra a conta da sua empresa com a gente.”

4 Os exemplos desta página não fazem parte do nosso corpus. São peças publicitárias para exemplificar o assunto

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Nesse exemplo, percebemos a aproximação que o enunciador (Banco do Brasil) faz com o seu enunciatário, o cliente. Primeiramente, por meio do você instaurado no enunciado (Seja), pelo uso do imperativo (Abra), sugerindo que o enunciador está se dirigindo a um enunciatário em uma situação de proximidade. Além disso, ocorre também a utilização do termo a gente, próprio da linguagem coloquial.

Slogando cartão de crédito America Express: “Não saia de casa sem ele”.

No exemplo, temos novamente a aproximação entre enunciador e enunciatário por meio da do imperativo negativo (Não saia), que dá ao slogan certa informalidade e o efeito de cumplicidade entre ambos.

Ao simular essa proximidade, o enunciador, segundo Marcuschi (2007, p. 9), procura

utilizar “adequadamente a língua para produzir um efeito de sentido pretendido em uma dada

situação”. Com esse efeito de sentido, esse enunciador será capaz de persuadir seu

enunciatário em determinada situação de comunicação.

Traços semelhantes de oralidade podemos perceber nos enunciados da capa do jornal

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No enunciado Veja os sintomas e as formas de contágio da gripe suína (manchete principal, no centro) – o enunciador, ao instaurar o tu (você) no enunciado, produz o efeito de

proximidade, de subjetividade, dando a “ilusão de oralidade”, de uma conversa direta, face a

face com o leitor. O enunciador (jornal), utilizando esse recurso de oralidade, aproxima-se de seu enunciatário, desenvolvendo uma comunicação mais afetiva e pessoal, assim como acontece também em: Saiba em que casos você deve pagar o IR. Com o efeito de informalidade, utilizando o pronome de tratamento você, o enunciador coloca-se no mesmo nível do leitor, criando um vínculo de cumplicidade.

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3. FUNDAMENTOS DA ENUNCIAÇÃO PARA ESTUDO DA ORALIDADE NA ESCRITA

Como dissemos, nossa pesquisa tem como objeto de estudo o jornal Agora, com o propósito de identificar as marcas de oralidade e definir as suas funções nesse veículo de comunicação. Com base nos pressupostos teóricos de nosso estudo, o jornal é tido como um grande texto, cujos produtores (aqueles que constituem a instância produtiva) se comunicam com seu público-alvo a fim de convencê-lo da “verdade” do que transmitem.

De acordo com os princípios da teoria da Enunciação, que vão orientar este nosso estudo, o texto do jornal é um enunciado. Segundo Leite (2001, p. 29), o enunciado é o produto da enunciação, a partir do momento em que um sujeito se mobiliza para transformar a língua em discurso, criando, assim, no discurso e no enunciado, efeitos de sentido próprios a cada enunciação.

A enunciação é o ato de produzir o texto, o que acontece pela interação entre enunciador e enunciatário. O enunciador, seja de forma falada ou escrita, produz o texto e por meio dele se comunica com um enunciatário, que ouve, lê, aprecia o que foi enunciado.

Para Tatit (2006, p. 205),

o conceito de enunciador deve ser tomado como uma categoria abstrata, cujo preenchimento, numa manifestação específica, faz emergir o que conhecemos como autor, falante, artista, poeta, etc.; a noção de enunciatário, igualmente define-se como categoria por meio da qual se manifestam leitores e fruidores de maneira geral. E, como já vimos, ao fazer persuasivo do destinador corresponde um fazer interpretativo do destinatário.

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Isso tudo corrobora o que diz Fiorin (1999, p. 41): “o eu existe por oposição ao tu e é a condição do diálogo que é constitutiva da pessoa porque ela se constrói na reversibilidade dos papéis eu/tu”.

O eu sempre enuncia em um tempo e um espaço: o tempo do eu é o agora (presente) e o espaço é o aqui, ou seja, o aqui e o agora são, respectivamente, o espaço e o tempo do

eu, constituindo a enunciação. Portanto, todas as relações espaciais e temporais no enunciado organizam-se a partir do aqui e do agora, isto é, do ato da enunciação. Dessa forma, pessoa, espaço e tempo são as grandes categorias da enunciação.

É importante que não se tenha uma visão simplista da relação eu/tu. Esta constitui a relação enunciador-enunciatário, que não consiste apenas na visão de que o enunciador é quem produz o texto e o enunciatário é quem recebe a informação, ou seja, lê e a interpreta. Na verdade, o enunciador, ao elaborar o seu enunciado, já tem em mente quem é seu leitor (o enunciatário) e faz suas escolhas linguístico-discursivas em função dele. Por isso, deve-se dizer que não é somente o enunciador que enuncia, mas também o enunciatário, que, de certa forma, determina o modo de o enunciador produzir o enunciado. Assim, o enunciatário é chamado de “co-enunciador”.

Nesse sentido, Fiorin (2005, p. 163) diz que:

O enunciatário, como filtro e instância pressuposta no ato de enunciar, é também sujeito produtor do discurso, pois o enunciador, ao produzir um enunciado, leva em

conta o enunciatário a quem ele se dirige.

Dessa maneira, com base no conceito de co-enunciação, sujeito da enunciação não é apenas o enunciador, mas também o enunciatário, que, por suas características, interfere na construção do enunciado pelo enunciador. Por isso, Greimas e Courtés (s/d, p. 150) afirmam

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Assim, o conceito de co-enunciação é pertinente ao nosso objeto de estudo, uma vez que o leitor é responsável pelas características de cada jornal. Por exemplo, o jornal Folha, por ter um público leitor mais elitizado, que preza o conteúdo bem elaborado, busca apresentar em seu jornal justamente as características que seu leitor deseja, como objetividade e formalidade. Já o jornal Agora, por ter como público um leitor mais simples, em geral, com grau baixo de escolaridade, apresenta outras características para atrair seu enunciatário, como a informalidade e a subjetividade.

A enunciação é pressuposta ao enunciado, pois, sendo o texto produto da enunciação, quando o leitor lê o jornal, a enunciação já ocorreu, então, sendo o enunciador e o enunciatário responsáveis pela enunciação, e pertencentes a ela, também fazem parte, assim, da instância pressuposta.

Portanto, quando o leitor lê a seguinte notícia de jornal,

Corredor de ônibus vai chegar ao Morumbi Fernanda Barbosa – Do Agora

“O corredor de ônibus ABD ganhará um novo trecho, de 12 km, até o dia 21 de julho. Segundo a EMTU (empresa metropolitana de transportes urbanos), a faixa exclusiva será ampliada até a estação Morumbi, da linha 9 da CPTM.

Atualmente, o corredor de ônibus tem 33 km de extensão. O sistema começa no terminal São Mateus (Zona Leste de SP) e vai até os municípios de Santo André, Mauá, São Bernardo e Diadema (todos na Grande São Paulo).

O novo traçado incluirá a avenida Presidente Kennedy, em Diadema, e as avenidas Cupecê, João de Luca, Vicente Rao e Roque Petroni Jr., no Morumbi (Zona Oeste de SP). Ao todo, 25 ônibus intermunicipais e 11 linhas municipais irão operar no trecho.”

(28/05/2010)

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Assim, Fiorin (2005, p. 163 e 164) atenta para o fato de que, em um texto, há sempre três instâncias da enunciação, formadas pelas relações enunciador-enunciatário, narrador-narratário e interlocutor-interlocutário.

Na primeira instância, temos o destinador implícito, que corresponde ao enunciador, e o destinatário implícito, que corresponde ao enunciatário, ambos actantes da enunciação, em um nível abstrato, em que a enunciação é pressuposta ao enunciado. Ou seja, o enunciador, ao imaginar quem será seu enunciatário, se vale de determinados recursos linguísticos, criando os efeitos de sentido desejados para convencê-lo. Assim, como dissemos, o enunciatário é

também o “sujeito do discurso”.

No segundo nível hierárquico da enunciação, o destinador e o destinatário estão explicitamente instalados no enunciado, são os actantes da enunciação enunciada, podendo também estar implícitos, como é o caso dos textos escritos em terceira pessoa e de textos em que o destinatário não é mencionado, como acontece, em geral, nos jornais. Nessa instância, enunciador e enunciatário são chamados de narrador e narratário. Essa operação de o enunciador da enunciação delegar a voz ao narrador do enunciado chama-se debragem de 1º grau.

E no terceiro nível dessa hierarquização acontece a debreagem de 2º grau. Por meio dela, o narrador dá voz a um actante dentro do enunciado, no caso quando o narrador dá a palavra a um personagem que enuncia em discurso direto. Nesse caso, o actante a quem o narrador dá a palavra é o interlocutor e aquele a quem este se dirige é o interlocutário.

Transcrevemos abaixo uma notícia para exemplificarmos essas instâncias.

Peão morre pisoteado por touro em rodeio Fernanda Barbosa

Do Agora

Referências

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