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Stendhal pensador: o conceito feito narrativa

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STENDHAL PENSADOR : O C ONCEITO FEITO

N A R R A T I V A

Raul FIKER*

RESUMO: Trata-se aqui de esboçar aspectos do pesamenJo - em seu sentido coceitual e sistemático - de Stendhal, seu discurso relxivo, manfesto no estilo arrativo através do roaCe, sobretudo em e Rouge et le Noir.

UNTERMOS: Narrativa; roance; discurso relxivo; desejo: ediação.

"Ainsi, apres, trois heures de dialogue, Julien obtit ce qu' i I vait désiré avec tant de passion pendant les dex premieres. Un peu plus tôt arrivés, le retour ax sentients tendres, l' éclipse des remords chez Madame de Rênal eussent été un bonheur divine; ainsi obtenus avec art, ce efut plus qu'un plaisir" .

STEDHAL. Le rouge et le noir. Paris, Pléiade, 1 947. p. 426.

1 .

Em Stendhal, a busca da felicidade - sua meta explícita - esbarra nos ercursos próprios

à

razão, sorendo desvios, se complicando. Os sentimentos da amante, na passagem acima, provocados a partir de um desempenho do herói, escapam

a

esfera da

(2)

magia (ou do divino) e acabam fruídos como produto de uma eficácia, aens com prazer.

Mas este esbrrão não é nunca casual, felicidade e razão compem um mesmo processo:

ser felíz é raciocinar justo sobre um mundo que se vê clarmente. A felícidade é

"une

longue habitude

e

raisoner jste. Tout malheur ne vient qued' erreur" ( 1 ,

p.

21).

Stendhal, o romancista, é também um pensador. Sua visão de mundo diz respeito

tanto às atitudes emcionais quanto

s

idéias filosóficas, e seu pensamento é original. O

jovem Stendhal é tamém um teórico, e é com base naqueles seus primeiros escritos que

os historiadores da literatura nos dizem que a maioria das idéias de Stendhal são herdadas

dos filósofos ou dos ideólogos do século

XVIII.

No entanto, jamais se explicará uma

página do

Le rouge et le Noir

com a ajuda de Cabanis ou Destutt de Tracy. Não há traços

relevantes das teorias de sua juventude nos romances da maturidade. Stendhal é um

enador de seu tempo que conquista a indeendência sobe os da ca pecedente.

O pensamento de Stendhal se expressa sobretudo aravés de seus romances, ou

melhor, em seus romances. Mas antes de chegar a esa forma, a uma quase perfeição

neste gênero, Stendhal quis durante muito temo ser autor dramático. Além disso, ele se

dedicou à crítica, à reportagem documentária (pelos livros de viagem), à história, à

biografia, à autobiografia.

2.

MYTHOS

x

LOGOS

A "veiculação" de um pensmento argumentativo através de uma estrutura narativa

levanta sempre o problema da relação

mythos/logos,

exigindo aqui um breve parêntesis

quanto ao seu delineamento.

"Mito", na

Poética de Aristóteles, significa o enrdo, a esrutura narativa, a "fábula".

O seu antônimo e contraponto é o

logos.

O mito é narrativa, história, em oosição ao

discurso dialético, à exposição; é também o iracional ou intuitivo conraposto ao

sistematicamente filosófico; é a tragédia de Ésquilo contraposa à dialética de Sócrates

(como em Niezsche, em A Origem da Tragia).

A narrativa é a forma literária do mito. A palavra grega mythos,

além de designar

uma narrativa concernene à genealogia dos deuses, refere-se ambém a uma narraiva

qualquer. Em seu emprego mdeno a despeito da pemanência do signiicado mais geral

na vigência da poética aristotélica - restou ao temo aenas o primeiro significado, mas

é ao segundo que temos de recorrer para capturar o elemento narraivo a que e resume o

mito enqnto mliade de iscurso.

Na Grécia de ene os séculos

VIII

e

IV

a.C. , quando se delineia esa cracterística, o

termo

logos.

por sua vez, deixa de significar apenas "palavra" assumindo valor de

racionalidade demonsrativa, e passa assim a oor-se a mythos no que este temo implica

certa magia

da

palavra, que confere aos diferentes gêneros de declamação - oesia,

tragédia, retóica, soística - um mesmo tio de eicácia. Enquanto

O

mythos opera no

(3)

nível da mimese e da participação emocional, o

logos

instaura um procedimento de pesquisa e exosição que aela somente pra a inteligência crítica.

O mito serve de início pra a ransmissão de uma saedoria e sua linguagem narrativa

é substituída paulatinamente pela linguagem argumentativa própria do discurso cientíico, que já não visa à sabedoria mas ao conhecimento (8, p. 30-4). A ascensão histórica do discurso argumentativo tem pornto como contrapartida o desprestígio da seqüência narrativa nas diveras esferas (filosofia, teologia, etc.).

À ciência - assim

como era função do mito, e ainda o é em algumas culturas - cabe então explicar os fenômenos que ulrapassam a dimensão do cotidiano, tarefa que ela desempenha com os recursos argumentativos do comentário, da explicação ou da análise. Com a dissciação progressiva dos assuntos importantes e do estilo narrativo, o princípio mesmo da ciência nos obriga a falr do mito na linguagem rgumenativa.

Em Stendhal, o discurso reflexivo percorre a trama narrativa, de certa forma constituindo-a junto com as convenções literárias próprias ao

romance).

3. STENDHAL E O ROMANCE

"Un roman: c' est u n miroir qu' on promene le long d ' u n chemin"

(epígrafe do cap. 13,

I ,

de

Le rouge e t le noir).

"Est-ce leur faute si des gens laids ont passé devant ce miroir? De quel part est un

miroir?" (Armance, avant-propos, p. 26).

Stendhal abandonou sua ambição de ser um autor dramático pela ficcão em prosa, quando se convenceu de que o romance era o gênero capaz de maior eneração no público. Durante muito tempo Stendhal se perguntou a quem se dirigia. Ele não tinha diante de si o mundo aparentemente rígido e compartimentado do Antigo Regime, mas uma sciedade onde a lua de classes tomava-se cada vez mais aguda, fazendo com que públicos violentamente contrastados coexistissem no auditório do teatro. S tendhal é exremamente representativo dos conlitos ideológicos e estéticos de que nasce o omance como o gênero or excelência do século XIX. Sua obra se situa exatamente naquele momento da história literária em que o gênero "romance" vai afirmar-se em sua esciiciade, concluindo sua sepração a oesia.

Com Stendhal (e Balzac), o romance vai ransformr-se num gênero tolizador, forma ambiciosa de auto-conhecimento e de conhecimento do mundo (agora concebido como mundo social), gênero que tende a englobar a poesia e, ao mesmo tempo, a ela se opor.

O

narrador romanesco se outorga um campo de observação mais vasto que o do poeta e um ponto de vista omnisciente e avaliador. Essa forma de conhecimento se opõe ao conhecimento poético jusamente pelo que ela comporta como auto-oosição intena, como conflito: a poesia buscava a comunhão do indivíduo com o mundo, enquanto o romance vai colcar o anagonismo essencial, indivíduo

versus

sciedade. Como observa

(4)

Lukács a propósito a "forma interior do romance" (4, p. 87): "Mundo contingente e indivíduo problemático são alidades que se condicionam uma à outa".

A obra de Stendhal "encarna" a transição do Antigo Regime à problemática República. Sua formação é racionalista, baseada em conceitos do século XVIII, suas aspiraçes são individualisas, românicas. A literatura realista de Stendhal brota do seu mal-estar no mundo 6s-naoleônico, assim como da consciência de não pertencer a ele e de não ter nele um lugar certo.

O

mal-estar no mundo dado e a incapacidade de se incorporr a ele são, evidentemente, elementos rousseauniano-românticos, e é provável que Stendhal já possuísse algo disto na sua juventude. Mas os motivos e as manifestaçes do seu isolamento e da sua posição problemática perane a sciedade são totalmente diferentes dos fenômenos correspondentes em Rousseau ou nos seus seguidores do primeiro romanismo.

Quanto à sua técnica narrativa, ela não segue prâmeros unicmente formais. Para Stendhal, toda bela,prosa é

moral. O

horror da ênfase, das frases empolads, da sintaxe remoída, não é para ele um simples reflexo do bom gosto. "Ele detesa o supérfluo da forma porque ele é sempre o sinal de uma fraqueza da alma" (6, p. 37).

O

humor stendhaliano, que toma comumente a forma da ironia, é uma defesa-ataque contra o inautêntico e o faccioso manifestados elo desotismo em política e pelo

pathos

em literatua. A écnica de Stendhal nsceu de uma relexão sobre os efeitos a prosa sobre o leitor. Em 1 805, ele escrevia em seu Diário: "I

y a une maniere

d'

émouvoir, qui est de

montrer les faits, les choses, sans en dire l' efect, qui peut être employée par une âme

sensible

( . . . )" (6, p. 49).

Stendhal criou um estilo de descontinuidade. A narrativa stendhaliana jusapõe nervosamente a narração de eventos vistos do exerior, os eventos internos de um ou vários protagonistas, a descrição (breve) dos lugares e dos objetos, o comentário do próprio escritor.

O

narrador, em

Le rouge et

le

noir,

por exemplo, é, em princípio, omnisciene e não-represenado. Pouco a pouco, aavés da rativa, o nrrador começa a aecer, numa gadação que vai desde o julgameno implícito na adjeivação referente às personagens e aos aconecimentos, até a inromissão declarada, como na advertência da página 373 (ed. Pléiade), ou quando, numa outra passagem, reclama da fraqueza de que Julien á mosras num monólogo. E no monólogo inerior - uma s grandes inovações romanescas de Stendhal - é praticamente imossível separar o que é enunciado pela esonagem do que vem diretamente do nrador, a voz deslizndo consantemente. Em e

rouge et le

noir,

são encontrados todos os tios de nrrador previst.os ela técnica nrraiva do século XIX em disosiçes impevisas.

Gérard Genette notou que o narrador stendhaliano é "inalcançável", pois emite constantes julgamentos ms não assume nenhum, nem atenua suas contradições. Pra Antonio Cndido (2, p. 144-6), "uma das chaves que abrem esse mundo complexo, onde icçes e imagens entremeiam o cotidiano, é a emção - concebida como sistema de sensaçes, cujo papel na sua obra nunca é asaz lembrado. No meio dos românticos, todos mais ou menos espiritualistas (ainda que or atitude ou por meáfora), sobressai o

(5)

seu Irme, admirável materialismo, baseado em pate a convicção de que a vida psíquica se desenvolve a parir da sensação, culminando numa espécie de geomeria morl. Em conseqüência, duas atitudes aprentemente contraditórias, mas na verdade contínuas: suervalorizr a dispersão do Eu pelo abandono às impressões e, ao mesmo empo, a sua máxima concenração, elo esforço de dirigir logicamente a vida, segundo um plano raçado a parir do desejo de ver clao no Eu e no mundo".

Stendhal recebe do século XVIII a imagem de um herói virgem e nu que

ó

a expeiência instruirá pouco a pouco. Homem a era napoleônica, discípulo de Maine de Biran, Stendhal aprendeu as virtudes do esforço e da atividade. Sua experiência começa pelo ardor, mas sua iniciativa mais lúcida consiste em circunscrever este ardor, em conhecê-lo. Além de

sentir

é peciso

perceber.

4.

ALGUNS ASPECTOS DO PENSAMENTO DE STENDHAL EM

L E

ROUGE E T LE NOIR

aJe [ais tos les eforts possibles pour être

co

Je vex imposer silence à mon coueur

qui croit avoir beaucoup à dire. Je tremble toujours

e

n'avoir écrit qu'

n

sopir, quand

je crois avoir noté une vérité" (STENDHL.

De l'amour.

v.l, p. 57).

"Na vida, assim como na arte, o que importa

é

o estilo, e não a sinceridade" (Oscar Wilde).

Uma a abordagem de como Sendhal pensa no omance

é

a partir de como ele ensa

o romance (no romance). O gêneo é referido inúmeras vezes, expliciamene -s vezes

mesmo em digressões à margem da narrativa propriamene dita - , e como elemento paradigmáico nem sempre explícito, como vai ser visto em maior detalhe adiane. Um exame de como Stendhal vê o romance pode conduzir a certos aspectos básicos mais

geris a expresão de seu ensamento aravés da raiva.

S tendhal, em

Le rouge et le noir,

partiu de um evento real, o prcesso Berthet (7, p. 7 1 5 -30), um crime passional praticado or um jovem seminarisa numa igrja, e

teve que, or ouro lado, de cera forma submeê-lo s convençes do gênero. Aqui não há

conradição nem grandes obsáculos, pois a Icção de Stendhal é o que se convencionou

chamar de

realista.

Embora gurde alguns apecos aquetípicos que ainda o apoximam a

estória romanesca (as ilusões perdidas, a ascensão, degeneração e queda do herói, ec.), o realismo

é

a arte do símile implício, isto

é,

o que está escrito é

como

o que se conhece. A diferença essencial entre o romance e a estória romanesca está no conceito de cracerização: enquanto o autor romanesco tena crir Iguras estilizadas que se ampliam em arquétipos psicológicos, o romancista prcura criar "gente real". Assim, por exemplo, a ambição de Julien Sorel - uma personagem que é constituída pelos acontecimentos nto quano os provca ou a eles se confrona - é uma demonsração da

complexidade psicológica das personagens stendhalianas. (Não

é

o dinheiro, ou uma

situação reconhecida como gloriosa numa sciedade que ele despreza, o objeto de sua

(6)

mbição.

O

eu pojeto é de heroísmo, enreano da ambição de heroísmo e esgoa

nela mesma. como o heoísmo é ação pura. endo or objetivo a própria aço mais do

que quilo que com ela se obtém. Com este tio 4e objetivo, a história de heroísmo ó

de er dois ins: a morte glorioa ou a queda melancólica. E, no entanto, não é uma

coia nem oura que o

e

com Julien. Ele é excuado deois de er mudao de pojto,

e er escoeo como vereiro o mr, qe e é do r ame e Rnal).

Consideraçes explícias obe o omnce surgem logo que comça a e delinar o

amor enre Julien e Madame de Rênal, no cap.VII,

"es Ainités Électives" . Aqui, o

nradr

z

que,

m

Paris, a osição de Julien em elço a Mame de Rênal eria em

rpidmente simpliicada, ois "em Paris o amor é ilho do omance", e em ês ou

quaro romances lidos ainda no ginásio, amos teriam os elemenos para esclarcer sua

osição

(7,

p.

752).

Em eguida, o romnce é deinido como lgo "feminino", ou pra

mulheres e rapazes sensíveis como Julien (o que é desenvolvido no apêndice,

.

p.

701

sgs.). Acontece que Madame de Rênal leu poucos romances, pois os romances

mdernos são lierais e ela é ulra

(7,

p.

708).

Além disso, a relação não ocore em

Paris, ms na província, onde esamos diante de

"une femme de trente ans sincerement

sage, ocupée e ses enfants, et qui ne prend nullement ans les romans es exemples e

conduite. Tout va lentement, tout se fait peu

à

peu ans les provinces, il y a plus e

natrel"

(7, p. 252).

Aqui, e or um ado Mame de Rênal não ertnce

à

linhagem de Madame Bovay

(e de

D.

Quixote), or ouro, o romance tem inequivcmente a funço de um mdelo,

ou mesmo de uma esécie de guia sentimental (seu caráter coruptr é mencionado or

Julien

à

p.

256).

E, aear das diferenças, como em Maame Bovy, amém aqui o

romnce prce como medador.

É

a sa mediação que fala pra ordenr a confuo dos

sentimenos de Madame de Rênal. E o desejo de Julien é medado ela leitura, de cera

foma romanceada, do Memorial de Santa-Helena e dos Boletins a Grande Armada.

Quando vai servir os de Rênal, Julien empresa

s

Conisses de Roussau o deejo de

comer na mea dos pares e no na dos empregados. Quanto

à

Mathilde, é a história

romanceada de seus ancestais que faz a mediação de seu desejo por Julien, que ela

identifica com seu heóico e remoo ncestal dcapido a quem ela presta veradeiro

culto. E quando Julien, num acesso de desesero - deses que romem a couraça da

esraégia e ermiam r e revelar mais eis

que esa - quae a dcapia, r sua vez

com uma antiga espada usada como decoração, Mathilde se deixa arrebar:

"( . . . )

memoiselle e a Molle regarait étonnée. J'i onc été

r

le poim d'être tuée ar on

aam!

e

isait-elle.

"Cette ée la transportait ans les plus beax temps

u siecle e Charles IX et de

Henri J" (7, p.

547).

Sendhal insise no ael da sugestão e da imiação na ersoaliade de eus heóis. E

emoa os asectos exteriores da imiaço sejam os mais rianes, o que imoa é que

esas personagens imitam, ou acreditam imir, os desejos

de seus mdelos. Surgem

paixes que deinem um desejo egundo o ouro, uma forma de paixo cujo primeio e

(7)

típico exemplo de orador

é D.

Quixote. No cao Quixot/madis, o mediador

é

imaginário, mas a medição não

é. Isto e renconra em Emma Bovy, que deeja

aravés

de os e mnces.

Ese aco

do romnce cmo mdiaor, como ângulo adimáico de um iângulo

comosto or

ele, elo heói sendhalino

e seu obeto,

é

exmindo brilhnemnte or

René

Girrd,

e,

Mensonge romantique et vérilé romanesque(3),

que o considea,

no

enano,

no conexo mais amplo quilo que ele chama de "deejo riangular". Em

l

contexto,

Girard chama amém a aenção para um comoramento fundamenado

igalmene numa siuação de deseo mediado em ouas personagens de

e rouge et le

noir,

orque aqui o mediador

é concreo,

g

el

m

ene

um

ival.

Um exemplo

é Rênal,

desde o início aribuída a Valend a intenção de lhe arebaar o preceptor, sendo que o

desejo imaginrio deste redobra o ral daquele. Esa rivalidade

enre

mediador

e

sujeito

desejante constitui uma diferença essencial com o desejo de

D.

Quixote ou de Emma

Bovary. Amadis não pode disputar com

D.

Quixote. Na maioria dos desejos

stendhalinos, o mediador deseja ou deria desejar o objeo: e é este deejo, real ou

presumido, que toma este objeto infiniamente desejável aos olhos do sujeito. A

medação engenra um egundo deejo erfeimente idênico

o

do mediador. á empe

dois deejos concorentes.

O

mediador no de deemenhr seu pel de mdelo sem

desemenhr, igualmente, ou p

e

r deemenhr,

o

e um obsáculo.

E

ese, como noa

enis de Rougemont, em

L'amour et l'ocient,

de e confundir com o próprio objeto

do desejo: pra Rougemnt, a paixão e alimena dos obsculos que lhe ão oostos e

moe e sa ausência; ele chega

a

defmir o eejo

o

obsculo. Iso vale

a

Stendhal.

Em Cervantes, como observa Girard

(3 ,

p. 16-7),

o mediador está num céu

inacessível e transmite a eu iel m ouco de sua serenidade. Em Sendhal, o mediador

dece

à

terra. Porano, no riângulo, varia a distância que sepra o mediador do sujeito

desejne. Em Cervanes e Aauert, o mdiadr ermanece exteno ao universo do herói;

em Stendhal, ele está em eu interior.

Este elemento de mediação esá inimamente ligado ao ouro asco do ensamento

de Stendhal que erpasa oa a nrrativa de

e

rouge et le noir:

o ntagonismo, em

divesos plnos, ene

paão e vaide. A aixão, para Sendhal, é empre o conrio a

vaidade.

O

apaixonado or excelência e distingue

or

sa autonomia enimental, ela

espontaneiade de seus deejos, ela sua indiferença absolua

à

opinião dos ouros. A

força de seu desejo esá situada nele mesmo e não em ouro. Por

vaidade,

S tendhal

entende tds aquelas formas de cópia, de imiação.

O

vaidoso, não tendo seu deejo

próprio, oma-o emprestado. Pra que um vaidoso eeje um objeto, bsta-lhe convencer­

se de que este objeto já é desejado or um terceiro que tenha um certo prestígio.

O

pestígio do medadr se comunica ao objeo esejo e lhe ransigura.

Em Les mémoires d'un touriste, Sendhal previne os leitores contra o que ele chama

de sentimentos mdenos, frutos da vaiade univeral:

"l'envie, la jalousie et la haine

impuissante"

(3, p.

23).

A fórmula stendhaliana associa estes três sentimentos

à

imperiosa necessidade de imiação a qual, pra ele, o século XIX está totalmente

(8)

ossuído:

"la vanité e I'Ancien Régie était gaie, soucirmte et ivole;

a

mité

u XX e

iecle est trste et sopçonnese; elle craint atrocement le iicu/e"

(3, p. 16).

No âmbio dese angnismo ene paixão e vaiae, á cmo féril oetdo

a

a

dissimulção, ouo elemeno imoane no univero de e ouge et le noir, que se

ia

no prisma esaégico de Sendhal, cujo enameno

é

muio mado ela memátia e

ela esaégia miliar (como se e vr nos es ''ruques" pa oquisr mulheres).

A

conquisa amoroa expesa em emos élicos, própria do éculo deoio, ace, or

exemplo,

à

p. 543, quno, eois de dormir cm Mathile, Julin cma eu 'o e

espio ao de um miliar aós uma pomção meeória.

A

dissimuação, que Sendhal

chma de hiocisa, deriva e div

s

sis. Por um ao, do deejo que e mosa

de susciar ou redobr o desejo de uma rival.

É

preciso oranto dissimulr

O

desejo

para e ader do objeo. Ms no momeno em que o herói sendhalino e dea do

objeo esejo,

e

é scaldo ela

oe

e dzido

s

sas poidades bjeivs,

o que provca a fmoa exclmção sendhaliana:

"Ce n'est

qe

cela!"

Por ouo lado, a

origem de um deejo de ser no o eseáculo de um ouro deejo,

l

ou iluório, mas

o e uma iniferença: a súbia indifeença de Mahile que inama o deejo e J ulien, or

exemplo. Ou a indiferença heroicamene simuada or Julien, que, mais o que o desejo

ival de Mme. de Fervacques, desea o desejo de Mathilde. Mosar a uma mulher ,

vaidoa que e a eseja é evelar-e infeior, eee empe Senhal.

É

orano e exor a

desejr sempe, sem jamais povocr o deejo (Flauert, semelhanemene, tinha por

princípio absoluto que "jamais dois sees e amam

o

mesmo tmo"). Estes princípios,

exosos como um "sisema" de "uma civilzação em qe a vaidde e omou a paixão",

no êndice de Le rouge et le noir (7, p. 703-4),

o

explicidos com alguma comiciae

no episdio das "crtas russas", quando o príncipe ruso aconselha Julien sobe a

inconveniência de deixar aparecer certas emoções: "O grande princípio do século:

aprenemos o conrio do que

em

de nós", ec. (7, p. 59 1).

Daa a imorância da dissimulação, há na ma um tema coente: o culo sob

rico iminene de ser decoero, elemeno adicional de susense romneso que esá

aqui organicamene integrado, assumindo inclusive um cero valor mefórico.

o

reao e Naoleão culo no colchão de Julien na csa de Rênal, o bilhee da mulher do

café no emirio, o cuido com as caras de Mathilde, enviadas

à

guarda do amigo

s

montanhas. No epiódio da onamenção da cal de Beançon, há as palavas do

pade: "Attenion ax cofessiona! C'est e lã

qe

les espiones es valeurs êpent!"

-com esa obsesão do olhr que

s

s ersonagens de Sendhal êm graus diversos.

Julien, ele próprio, deve ocultar seus sentimentos. Tudo isto coincide com o

convecionlismo ds

ls

da Resao, nde

"o

e eve far quilo qe ine

sa

a do mundo" ( 1 , p. 397).

É

glmente grças à mena que as eroagens sendhalas ceam a eus ins, a

não ser que e ae de um ser de paixão, mas estes ão ininiamene os no univero

ós-revolucionio Julien muias vezes obtém sucesso aenas orque não coneguiu

ralir sua esa

gia e icou enegue à pixão, desprovido do cálculo.

É

a pião que

á

(9)

esprito

à

Madame de Rênal, quando, lrme e com clareza, ela supera a crise das catas anônimas.

Vaidade e paixão, razão e emoção, real e imaginário. Na visão de mundo sendhaliana, estes equilíbrios resultam sempre de um compromisso: para se misturarem e se acomodarem uns aos outros, os elementos anagônicos devem sacrilcar algo de si mesmos. O melhor, é claro, seria enconrar uma maneira de não aenas equilibar as duas

forças rivais, mas de satisfazê-las uma pela outra, algo que paa Stendhal oderia ser realiado elo mor, fenômeno que, a um de seus autoes peferidos (5, p. 1 0), é uma

mania ,

que a partir de um objeto real consrói um mundo de fantasmas. Este mesmo fenômeno que Freud chegou a qualilcar de surto psicóico.

FIKER, R.- Stendhal Penseur: e concept comme nrrative. Trans/Forml Ação, S ão Paulo, 1 2 : 37-46, 1 989.

RSUMÉ: l s'agit ici d'ébaucher quelques aspects e la pensée - das son ses coceptel et ystéatique - de Stendhal, son discours relxive, xpres dans l'style arrative à travers le ron, srtout dans "Le rauge et le Noir" .

UNTERMES: Narrative; roan; discours rlxive; ésir; médiation.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIC A S

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STENDHAL. e rouge et le oir. Pris, Pléiade, 1 947.

8 .

WEINRICH, H. Structures nrratives du mythe. Poétique, Pris, 1 , 1 969.

Referências

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