STENDHAL PENSADOR : O C ONCEITO FEITO
N A R R A T I V A
Raul FIKER*
RESUMO: Trata-se aqui de esboçar aspectos do pesamenJo - em seu sentido coceitual e sistemático - de Stendhal, seu discurso relxivo, manfesto no estilo arrativo através do roaCe, sobretudo em e Rouge et le Noir.
UNTERMOS: Narrativa; roance; discurso relxivo; desejo: ediação.
"Ainsi, apres, trois heures de dialogue, Julien obtit ce qu' i I vait désiré avec tant de passion pendant les dex premieres. Un peu plus tôt arrivés, le retour ax sentients tendres, l' éclipse des remords chez Madame de Rênal eussent été un bonheur divine; ainsi obtenus avec art, ce efut plus qu'un plaisir" .
STEDHAL. Le rouge et le noir. Paris, Pléiade, 1 947. p. 426.
1 .
Em Stendhal, a busca da felicidade - sua meta explícita - esbarra nos ercursos próprios
à
razão, sorendo desvios, se complicando. Os sentimentos da amante, na passagem acima, provocados a partir de um desempenho do herói, escapama
esfera damagia (ou do divino) e acabam fruídos como produto de uma eficácia, aens com prazer.
Mas este esbrrão não é nunca casual, felicidade e razão compem um mesmo processo:
ser felíz é raciocinar justo sobre um mundo que se vê clarmente. A felícidade é
"une
longue habitude
e
raisoner jste. Tout malheur ne vient qued' erreur" ( 1 ,
p.
21).
Stendhal, o romancista, é também um pensador. Sua visão de mundo diz respeito
tanto às atitudes emcionais quanto
sidéias filosóficas, e seu pensamento é original. O
jovem Stendhal é tamém um teórico, e é com base naqueles seus primeiros escritos que
os historiadores da literatura nos dizem que a maioria das idéias de Stendhal são herdadas
dos filósofos ou dos ideólogos do século
XVIII.No entanto, jamais se explicará uma
página do
Le rouge et le Noir
com a ajuda de Cabanis ou Destutt de Tracy. Não há traços
relevantes das teorias de sua juventude nos romances da maturidade. Stendhal é um
enador de seu tempo que conquista a indeendência sobe os da ca pecedente.
O pensamento de Stendhal se expressa sobretudo aravés de seus romances, ou
melhor, em seus romances. Mas antes de chegar a esa forma, a uma quase perfeição
neste gênero, Stendhal quis durante muito temo ser autor dramático. Além disso, ele se
dedicou à crítica, à reportagem documentária (pelos livros de viagem), à história, à
biografia, à autobiografia.
2.
MYTHOS
xLOGOS
A "veiculação" de um pensmento argumentativo através de uma estrutura narativa
levanta sempre o problema da relação
mythos/logos,
exigindo aqui um breve parêntesis
quanto ao seu delineamento.
"Mito", na
Poética de Aristóteles, significa o enrdo, a esrutura narativa, a "fábula".
O seu antônimo e contraponto é o
logos.
O mito é narrativa, história, em oosição ao
discurso dialético, à exposição; é também o iracional ou intuitivo conraposto ao
sistematicamente filosófico; é a tragédia de Ésquilo contraposa à dialética de Sócrates
(como em Niezsche, em A Origem da Tragia).
A narrativa é a forma literária do mito. A palavra grega mythos,
além de designar
uma narrativa concernene à genealogia dos deuses, refere-se ambém a uma narraiva
qualquer. Em seu emprego mdeno a despeito da pemanência do signiicado mais geral
na vigência da poética aristotélica - restou ao temo aenas o primeiro significado, mas
é ao segundo que temos de recorrer para capturar o elemento narraivo a que e resume o
mito enqnto mliade de iscurso.
Na Grécia de ene os séculos
VIIIe
IVa.C. , quando se delineia esa cracterística, o
termo
logos.
por sua vez, deixa de significar apenas "palavra" assumindo valor de
racionalidade demonsrativa, e passa assim a oor-se a mythos no que este temo implica
certa magia
dapalavra, que confere aos diferentes gêneros de declamação - oesia,
tragédia, retóica, soística - um mesmo tio de eicácia. Enquanto
Omythos opera no
nível da mimese e da participação emocional, o
logos
instaura um procedimento de pesquisa e exosição que aela somente pra a inteligência crítica.O mito serve de início pra a ransmissão de uma saedoria e sua linguagem narrativa
é substituída paulatinamente pela linguagem argumentativa própria do discurso cientíico, que já não visa à sabedoria mas ao conhecimento (8, p. 30-4). A ascensão histórica do discurso argumentativo tem pornto como contrapartida o desprestígio da seqüência narrativa nas diveras esferas (filosofia, teologia, etc.).À ciência - assim
como era função do mito, e ainda o é em algumas culturas - cabe então explicar os fenômenos que ulrapassam a dimensão do cotidiano, tarefa que ela desempenha com os recursos argumentativos do comentário, da explicação ou da análise. Com a dissciação progressiva dos assuntos importantes e do estilo narrativo, o princípio mesmo da ciência nos obriga a falr do mito na linguagem rgumenativa.Em Stendhal, o discurso reflexivo percorre a trama narrativa, de certa forma constituindo-a junto com as convenções literárias próprias ao
romance).
3. STENDHAL E O ROMANCE
"Un roman: c' est u n miroir qu' on promene le long d ' u n chemin"
(epígrafe do cap. 13,I ,
deLe rouge e t le noir).
"Est-ce leur faute si des gens laids ont passé devant ce miroir? De quel part est un
miroir?" (Armance, avant-propos, p. 26).
Stendhal abandonou sua ambição de ser um autor dramático pela ficcão em prosa, quando se convenceu de que o romance era o gênero capaz de maior eneração no público. Durante muito tempo Stendhal se perguntou a quem se dirigia. Ele não tinha diante de si o mundo aparentemente rígido e compartimentado do Antigo Regime, mas uma sciedade onde a lua de classes tomava-se cada vez mais aguda, fazendo com que públicos violentamente contrastados coexistissem no auditório do teatro. S tendhal é exremamente representativo dos conlitos ideológicos e estéticos de que nasce o omance como o gênero or excelência do século XIX. Sua obra se situa exatamente naquele momento da história literária em que o gênero "romance" vai afirmar-se em sua esciiciade, concluindo sua sepração a oesia.
Com Stendhal (e Balzac), o romance vai ransformr-se num gênero tolizador, forma ambiciosa de auto-conhecimento e de conhecimento do mundo (agora concebido como mundo social), gênero que tende a englobar a poesia e, ao mesmo tempo, a ela se opor.
O
narrador romanesco se outorga um campo de observação mais vasto que o do poeta e um ponto de vista omnisciente e avaliador. Essa forma de conhecimento se opõe ao conhecimento poético jusamente pelo que ela comporta como auto-oosição intena, como conflito: a poesia buscava a comunhão do indivíduo com o mundo, enquanto o romance vai colcar o anagonismo essencial, indivíduoversus
sciedade. Como observaLukács a propósito a "forma interior do romance" (4, p. 87): "Mundo contingente e indivíduo problemático são alidades que se condicionam uma à outa".
A obra de Stendhal "encarna" a transição do Antigo Regime à problemática República. Sua formação é racionalista, baseada em conceitos do século XVIII, suas aspiraçes são individualisas, românicas. A literatura realista de Stendhal brota do seu mal-estar no mundo 6s-naoleônico, assim como da consciência de não pertencer a ele e de não ter nele um lugar certo.
O
mal-estar no mundo dado e a incapacidade de se incorporr a ele são, evidentemente, elementos rousseauniano-românticos, e é provável que Stendhal já possuísse algo disto na sua juventude. Mas os motivos e as manifestaçes do seu isolamento e da sua posição problemática perane a sciedade são totalmente diferentes dos fenômenos correspondentes em Rousseau ou nos seus seguidores do primeiro romanismo.Quanto à sua técnica narrativa, ela não segue prâmeros unicmente formais. Para Stendhal, toda bela,prosa é
moral. O
horror da ênfase, das frases empolads, da sintaxe remoída, não é para ele um simples reflexo do bom gosto. "Ele detesa o supérfluo da forma porque ele é sempre o sinal de uma fraqueza da alma" (6, p. 37).O
humor stendhaliano, que toma comumente a forma da ironia, é uma defesa-ataque contra o inautêntico e o faccioso manifestados elo desotismo em política e pelopathos
em literatua. A écnica de Stendhal nsceu de uma relexão sobre os efeitos a prosa sobre o leitor. Em 1 805, ele escrevia em seu Diário: "Iy a une maniere
d'émouvoir, qui est de
montrer les faits, les choses, sans en dire l' efect, qui peut être employée par une âme
sensible
( . . . )" (6, p. 49).Stendhal criou um estilo de descontinuidade. A narrativa stendhaliana jusapõe nervosamente a narração de eventos vistos do exerior, os eventos internos de um ou vários protagonistas, a descrição (breve) dos lugares e dos objetos, o comentário do próprio escritor.
O
narrador, emLe rouge et
le
noir,
por exemplo, é, em princípio, omnisciene e não-represenado. Pouco a pouco, aavés da rativa, o nrrador começa a aecer, numa gadação que vai desde o julgameno implícito na adjeivação referente às personagens e aos aconecimentos, até a inromissão declarada, como na advertência da página 373 (ed. Pléiade), ou quando, numa outra passagem, reclama da fraqueza de que Julien á mosras num monólogo. E no monólogo inerior - uma s grandes inovações romanescas de Stendhal - é praticamente imossível separar o que é enunciado pela esonagem do que vem diretamente do nrador, a voz deslizndo consantemente. Em erouge et le
noir,
são encontrados todos os tios de nrrador previst.os ela técnica nrraiva do século XIX em disosiçes impevisas.Gérard Genette notou que o narrador stendhaliano é "inalcançável", pois emite constantes julgamentos ms não assume nenhum, nem atenua suas contradições. Pra Antonio Cndido (2, p. 144-6), "uma das chaves que abrem esse mundo complexo, onde icçes e imagens entremeiam o cotidiano, é a emção - concebida como sistema de sensaçes, cujo papel na sua obra nunca é asaz lembrado. No meio dos românticos, todos mais ou menos espiritualistas (ainda que or atitude ou por meáfora), sobressai o
seu Irme, admirável materialismo, baseado em pate a convicção de que a vida psíquica se desenvolve a parir da sensação, culminando numa espécie de geomeria morl. Em conseqüência, duas atitudes aprentemente contraditórias, mas na verdade contínuas: suervalorizr a dispersão do Eu pelo abandono às impressões e, ao mesmo empo, a sua máxima concenração, elo esforço de dirigir logicamente a vida, segundo um plano raçado a parir do desejo de ver clao no Eu e no mundo".
Stendhal recebe do século XVIII a imagem de um herói virgem e nu que
ó
a expeiência instruirá pouco a pouco. Homem a era napoleônica, discípulo de Maine de Biran, Stendhal aprendeu as virtudes do esforço e da atividade. Sua experiência começa pelo ardor, mas sua iniciativa mais lúcida consiste em circunscrever este ardor, em conhecê-lo. Além desentir
é pecisoperceber.
4.
ALGUNS ASPECTOS DO PENSAMENTO DE STENDHAL EM
L E
ROUGE E T LE NOIR
aJe [ais tos les eforts possibles pour être
coJe vex imposer silence à mon coueur
qui croit avoir beaucoup à dire. Je tremble toujours
e
n'avoir écrit qu'
nsopir, quand
je crois avoir noté une vérité" (STENDHL.
De l'amour.v.l, p. 57).
"Na vida, assim como na arte, o que importa
é
o estilo, e não a sinceridade" (Oscar Wilde).Uma a abordagem de como Sendhal pensa no omance
é
a partir de como ele ensao romance (no romance). O gêneo é referido inúmeras vezes, expliciamene -s vezes
mesmo em digressões à margem da narrativa propriamene dita - , e como elemento paradigmáico nem sempre explícito, como vai ser visto em maior detalhe adiane. Um exame de como Stendhal vê o romance pode conduzir a certos aspectos básicos mais
geris a expresão de seu ensamento aravés da raiva.
S tendhal, em
Le rouge et le noir,
partiu de um evento real, o prcesso Berthet (7, p. 7 1 5 -30), um crime passional praticado or um jovem seminarisa numa igrja, eteve que, or ouro lado, de cera forma submeê-lo s convençes do gênero. Aqui não há
conradição nem grandes obsáculos, pois a Icção de Stendhal é o que se convencionou
chamar de
realista.
Embora gurde alguns apecos aquetípicos que ainda o apoximam aestória romanesca (as ilusões perdidas, a ascensão, degeneração e queda do herói, ec.), o realismo
é
a arte do símile implício, istoé,
o que está escrito écomo
o que se conhece. A diferença essencial entre o romance e a estória romanesca está no conceito de cracerização: enquanto o autor romanesco tena crir Iguras estilizadas que se ampliam em arquétipos psicológicos, o romancista prcura criar "gente real". Assim, por exemplo, a ambição de Julien Sorel - uma personagem que é constituída pelos acontecimentos nto quano os provca ou a eles se confrona - é uma demonsração dacomplexidade psicológica das personagens stendhalianas. (Não
é
o dinheiro, ou umasituação reconhecida como gloriosa numa sciedade que ele despreza, o objeto de sua
mbição.
Oeu pojeto é de heroísmo, enreano da ambição de heroísmo e esgoa
nela mesma. como o heoísmo é ação pura. endo or objetivo a própria aço mais do
que quilo que com ela se obtém. Com este tio 4e objetivo, a história de heroísmo ó
de er dois ins: a morte glorioa ou a queda melancólica. E, no entanto, não é uma
coia nem oura que o
ecom Julien. Ele é excuado deois de er mudao de pojto,
e er escoeo como vereiro o mr, qe e é do r ame e Rnal).
Consideraçes explícias obe o omnce surgem logo que comça a e delinar o
amor enre Julien e Madame de Rênal, no cap.VII,
"es Ainités Électives" . Aqui, o
nradr
zque,
mParis, a osição de Julien em elço a Mame de Rênal eria em
rpidmente simpliicada, ois "em Paris o amor é ilho do omance", e em ês ou
quaro romances lidos ainda no ginásio, amos teriam os elemenos para esclarcer sua
osição
(7,
p.
752).
Em eguida, o romnce é deinido como lgo "feminino", ou pra
mulheres e rapazes sensíveis como Julien (o que é desenvolvido no apêndice,
.
p.
701
sgs.). Acontece que Madame de Rênal leu poucos romances, pois os romances
mdernos são lierais e ela é ulra
(7,
p.
708).
Além disso, a relação não ocore em
Paris, ms na província, onde esamos diante de
"une femme de trente ans sincerement
sage, ocupée e ses enfants, et qui ne prend nullement ans les romans es exemples e
conduite. Tout va lentement, tout se fait peu
àpeu ans les provinces, il y a plus e
natrel"
(7, p. 252).
Aqui, e or um ado Mame de Rênal não ertnce
à
linhagem de Madame Bovay
(e de
D.
Quixote), or ouro, o romance tem inequivcmente a funço de um mdelo,
ou mesmo de uma esécie de guia sentimental (seu caráter coruptr é mencionado or
Julien
à
p.
256).
E, aear das diferenças, como em Maame Bovy, amém aqui o
romnce prce como medador.
É
a sa mediação que fala pra ordenr a confuo dos
sentimenos de Madame de Rênal. E o desejo de Julien é medado ela leitura, de cera
foma romanceada, do Memorial de Santa-Helena e dos Boletins a Grande Armada.
Quando vai servir os de Rênal, Julien empresa
sConisses de Roussau o deejo de
comer na mea dos pares e no na dos empregados. Quanto
à
Mathilde, é a história
romanceada de seus ancestais que faz a mediação de seu desejo por Julien, que ela
identifica com seu heóico e remoo ncestal dcapido a quem ela presta veradeiro
culto. E quando Julien, num acesso de desesero - deses que romem a couraça da
esraégia e ermiam r e revelar mais eis
que esa - quae a dcapia, r sua vez
com uma antiga espada usada como decoração, Mathilde se deixa arrebar:
"( . . . )
memoiselle e a Molle regarait étonnée. J'i onc été
rle poim d'être tuée ar on
aam!
eisait-elle.
"Cette ée la transportait ans les plus beax temps
u siecle e Charles IX et deHenri J" (7, p.
547).Sendhal insise no ael da sugestão e da imiação na ersoaliade de eus heóis. E
emoa os asectos exteriores da imiaço sejam os mais rianes, o que imoa é que
esas personagens imitam, ou acreditam imir, os desejos
de seus mdelos. Surgem
paixes que deinem um desejo egundo o ouro, uma forma de paixo cujo primeio e
típico exemplo de orador
é D.
Quixote. No cao Quixot/madis, o mediador
é
imaginário, mas a medição não
é. Isto e renconra em Emma Bovy, que deejaaravés
de os e mnces.
Ese aco
do romnce cmo mdiaor, como ângulo adimáico de um iângulo
comosto or
ele, elo heói sendhalino
e seu obeto,
é
exmindo brilhnemnte or
René
Girrd,
e,
Mensonge romantique et vérilé romanesque(3),
que o considea,
no
enano,
no conexo mais amplo quilo que ele chama de "deejo riangular". Em
lcontexto,
Girard chama amém a aenção para um comoramento fundamenado
igalmene numa siuação de deseo mediado em ouas personagens de
e rouge et le
noir,
orque aqui o mediador
é concreo,
g
el
m
ene
um
ival.
Um exemplo
é Rênal,
desde o início aribuída a Valend a intenção de lhe arebaar o preceptor, sendo que o
desejo imaginrio deste redobra o ral daquele. Esa rivalidade
enre
mediador
e
sujeito
desejante constitui uma diferença essencial com o desejo de
D.
Quixote ou de Emma
Bovary. Amadis não pode disputar com
D.
Quixote. Na maioria dos desejos
stendhalinos, o mediador deseja ou deria desejar o objeo: e é este deejo, real ou
presumido, que toma este objeto infiniamente desejável aos olhos do sujeito. A
medação engenra um egundo deejo erfeimente idênico
o
do mediador. á empe
dois deejos concorentes.
Omediador no de deemenhr seu pel de mdelo sem
desemenhr, igualmente, ou p
er deemenhr,
o
e um obsáculo.
E
ese, como noa
enis de Rougemont, em
L'amour et l'ocient,
de e confundir com o próprio objeto
do desejo: pra Rougemnt, a paixão e alimena dos obsculos que lhe ão oostos e
moe e sa ausência; ele chega
a
defmir o eejo
o
obsculo. Iso vale
a
Stendhal.
Em Cervantes, como observa Girard
(3 ,
p. 16-7),
o mediador está num céu
inacessível e transmite a eu iel m ouco de sua serenidade. Em Sendhal, o mediador
dece
à
terra. Porano, no riângulo, varia a distância que sepra o mediador do sujeito
desejne. Em Cervanes e Aauert, o mdiadr ermanece exteno ao universo do herói;
em Stendhal, ele está em eu interior.
Este elemento de mediação esá inimamente ligado ao ouro asco do ensamento
de Stendhal que erpasa oa a nrrativa de
erouge et le noir:
o ntagonismo, em
divesos plnos, ene
paão e vaide. A aixão, para Sendhal, é empre o conrio a
vaidade.
Oapaixonado or excelência e distingue
or
sa autonomia enimental, ela
espontaneiade de seus deejos, ela sua indiferença absolua
à
opinião dos ouros. A
força de seu desejo esá situada nele mesmo e não em ouro. Por
vaidade,
S tendhal
entende tds aquelas formas de cópia, de imiação.
Ovaidoso, não tendo seu deejo
próprio, oma-o emprestado. Pra que um vaidoso eeje um objeto, bsta-lhe convencer
se de que este objeto já é desejado or um terceiro que tenha um certo prestígio.
O
pestígio do medadr se comunica ao objeo esejo e lhe ransigura.
Em Les mémoires d'un touriste, Sendhal previne os leitores contra o que ele chama
de sentimentos mdenos, frutos da vaiade univeral:
"l'envie, la jalousie et la haine
impuissante"
(3, p.
23).
A fórmula stendhaliana associa estes três sentimentos
à
imperiosa necessidade de imiação a qual, pra ele, o século XIX está totalmente
ossuído:
"la vanité e I'Ancien Régie était gaie, soucirmte et ivole;
amité
u XX eiecle est trste et sopçonnese; elle craint atrocement le iicu/e"
(3, p. 16).
No âmbio dese angnismo ene paixão e vaiae, á cmo féril oetdo
aa
dissimulção, ouo elemeno imoane no univero de e ouge et le noir, que se
iano prisma esaégico de Sendhal, cujo enameno
é
muio mado ela memátia e
ela esaégia miliar (como se e vr nos es ''ruques" pa oquisr mulheres).
Aconquisa amoroa expesa em emos élicos, própria do éculo deoio, ace, or
exemplo,
àp. 543, quno, eois de dormir cm Mathile, Julin cma eu 'o e
espio ao de um miliar aós uma pomção meeória.
Adissimuação, que Sendhal
chma de hiocisa, deriva e div
ssis. Por um ao, do deejo que e mosa
de susciar ou redobr o desejo de uma rival.
É
preciso oranto dissimulr
Odesejo
para e ader do objeo. Ms no momeno em que o herói sendhalino e dea do
objeo esejo,
eé scaldo ela
oee dzido
ssas poidades bjeivs,
o que provca a fmoa exclmção sendhaliana:
"Ce n'est
qecela!"
Por ouo lado, a
origem de um deejo de ser no o eseáculo de um ouro deejo,
lou iluório, mas
o e uma iniferença: a súbia indifeença de Mahile que inama o deejo e J ulien, or
exemplo. Ou a indiferença heroicamene simuada or Julien, que, mais o que o desejo
ival de Mme. de Fervacques, desea o desejo de Mathilde. Mosar a uma mulher ,
vaidoa que e a eseja é evelar-e infeior, eee empe Senhal.
É
orano e exor a
desejr sempe, sem jamais povocr o deejo (Flauert, semelhanemene, tinha por
princípio absoluto que "jamais dois sees e amam
omesmo tmo"). Estes princípios,
exosos como um "sisema" de "uma civilzação em qe a vaidde e omou a paixão",
no êndice de Le rouge et le noir (7, p. 703-4),
o
explicidos com alguma comiciae
no episdio das "crtas russas", quando o príncipe ruso aconselha Julien sobe a
inconveniência de deixar aparecer certas emoções: "O grande princípio do século:
aprenemos o conrio do que
emde nós", ec. (7, p. 59 1).
Daa a imorância da dissimulação, há na ma um tema coente: o culo sob
rico iminene de ser decoero, elemeno adicional de susense romneso que esá
aqui organicamene integrado, assumindo inclusive um cero valor mefórico.
Há
o
reao e Naoleão culo no colchão de Julien na csa de Rênal, o bilhee da mulher do
café no emirio, o cuido com as caras de Mathilde, enviadas
àguarda do amigo
smontanhas. No epiódio da onamenção da cal de Beançon, há as palavas do
pade: "Attenion ax cofessiona! C'est e lã
qeles espiones es valeurs êpent!"
-com esa obsesão do olhr que
s
s ersonagens de Sendhal êm graus diversos.
Julien, ele próprio, deve ocultar seus sentimentos. Tudo isto coincide com o
convecionlismo ds
ls
da Resao, nde
"oe eve far quilo qe ine
saa do mundo" ( 1 , p. 397).
É
glmente grças à mena que as eroagens sendhalas ceam a eus ins, a
não ser que e ae de um ser de paixão, mas estes ão ininiamene os no univero
ós-revolucionio Julien muias vezes obtém sucesso aenas orque não coneguiu
ralir sua esa
�
gia e icou enegue à pixão, desprovido do cálculo.
É
a pião que
áesprito
à
Madame de Rênal, quando, lrme e com clareza, ela supera a crise das catas anônimas.Vaidade e paixão, razão e emoção, real e imaginário. Na visão de mundo sendhaliana, estes equilíbrios resultam sempre de um compromisso: para se misturarem e se acomodarem uns aos outros, os elementos anagônicos devem sacrilcar algo de si mesmos. O melhor, é claro, seria enconrar uma maneira de não aenas equilibar as duas
forças rivais, mas de satisfazê-las uma pela outra, algo que paa Stendhal oderia ser realiado elo mor, fenômeno que, a um de seus autoes peferidos (5, p. 1 0), é uma
mania ,
que a partir de um objeto real consrói um mundo de fantasmas. Este mesmo fenômeno que Freud chegou a qualilcar de surto psicóico.FIKER, R.- Stendhal Penseur: e concept comme nrrative. Trans/Forml Ação, S ão Paulo, 1 2 : 37-46, 1 989.
RSUMÉ: l s'agit ici d'ébaucher quelques aspects e la pensée - das son ses coceptel et ystéatique - de Stendhal, son discours relxive, xpres dans l'style arrative à travers le ron, srtout dans "Le rauge et le Noir" .
UNTERMES: Narrative; roan; discours rlxive; ésir; médiation.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIC A S
1 . AUERBACH, E. Mimesis. São Paulo, Perspectiva, 1 97 1 .
2 . CANDIDO, A. Melodia impura. In: __ o Tese e antítese. S ão Paulo, Ed Nacional, 1 97 1 .