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A transcodificação de textos científicos em textos etnoliterários, o cordel: o desenvolvimento...

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Academic year: 2017

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D EPARTAM EN TO D E LI N GUÍ STI CA

PROGRAM A D E PÓ S- GRAD U AÇÃO EM SEM I ÓTI CA E LI N GUÍ STI CA GERAL

A TRAN SCOD I FI CAÇÃO DE TEX TOS CI EN TÍ FI CO S EM TEXTO S ETN O LI TERÁRI OS, O CORD EL: O DESEN VO LV I M EN TO DA

COGN I ÇÃO COM REFLEXÃO CRÍ TI CA

ALBELI TA LOURD ES M ON TEI RO CARD OSO

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D EPARTAM EN TO D E LI N GUÍ STI CA

PROGRAM A D E PÓS- GRAD U AÇÃO EM SEM I ÓTI CA E LI N GUÍ STI CA GERAL

A TRAN SCOD I FI CAÇÃO DE TEX TOS CI EN TÍ FI CO S EM TEXTO S ETN O LI TERÁRI OS, O CORD EL: O DESEN VO LV I M EN TO DA

COGN I ÇÃO COM REFLEXÃO CRÍ TI CA

Tese apr esent ada ao Pr ogr am a de Pós-Gr aduação em Linguíst ica do Depar t am ent o de Linguíst ica da Faculdade de Filosofia, Let ras e Ciências Hu m anas da Univ er sidade de São Paulo, Ár ea de Concent r ação em Sem iót ica e Linguíst ica Ger al, com o r equisit o parcial par a obt enção do t ít ulo de dout or em Linguíst ica.

O rie n t a d or a : Prof ª . Dr ª . M a r ia Apa r e cida Ba r bosa

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CARDOSO, Albelit a Lourdes Mont eiro

A Tr anscodificação de t ext os cient íficos em t ex t os et nolit er ár ios, o cor del: o desenv olv im ent o da cognição com r eflex ão

Tese apr esent ada ao Pr ogr am a de Pós-Gr aduação em Linguíst ica do Depar t am ent o de Linguíst ica da Faculdade de Filosofia, Let ras e Ciências Hu m anas da Univ er sidade de São Paulo para obt enção do t ít ulo de Dout or. Ár ea de Con cent r ação: Sem iót ica e Linguíst ica Ger al

Apr ov ado em :

Banca Ex am inador a:

Pr ofa. Dra. __ ___________ ___________ ___________ (Or ient ador a) I n st it uição: __________ __________Assin at ura: ___ ___________ ___ Pr ofa. Dra. __ ___________ ___________ ___________ ___________ I n st it uição: ___________ _________Assin at ura: ____ ___________ __ Pr ofa. Dra. __ ___________ ___________ ___________ ___________ I n st it uição: ___________ _________Assin at ura: ____ ___________ __ Pr ofa. Dra. __ ___________ ___________ ___________ ___________ I n st it uição: ___________ _________Assin at ura: ____ ___________ __ Pr ofa. Dra. __ ___________ ___________ ___________ ___________ I n st it uição: ___________ _________Assin at ura: ____ ___________ __

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Busquei em v ár ios gêneros t ex t uais A m elhor for m a de ex pr essar , A m inha m ais sincer a gr at idão Pelo seu m odo de orient ar . Su a com pet ência e gener osidade, Não há com o não lem br ar .

Encon t r ei nest es v er sos singelos, Sem genialidade cr iadora, O m odo m ais espont âneo De hom enagear m inha or ient adora,

Desej an do t ran scodificar em cor del Sua t eor ia inov adora.

Se m e falt ou habilidade Par a um a escolha lex ical pr im orosa, Jam ais m e falt ou a cer t eza, Fosse em ver so ou em pr osa,

Est a t ese eu dedicar ia

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Nossas v idas, assim com o os t ex t os const it uint es dest a pesquisa, passam por processos de t r anscodificação. Esses pr ocessos ex igem , m uit as v ezes, um a cuidadosa leit ura- r eleit u ra- leit ura de nossas hist ór ias pessoais, acadêm icas e pr ofission ais, pois a r elação, de ‘int er t ext ualidade’ que se est abelece ent r e elas nunca é ocasional, m as sem pr e necessár ia.

O t ér m ino dest e t r abalho r epr esent a o alcance de um a das m ais im por t ant es et apas da m inha v ida acadêm ica, bem com o o m ais desafiador dos obj et iv os pessoais a ser alcançado. No m om ent o de encerr am ent o dest a im por t ant e fase, penso naqueles que m ais for t em ent e cont r ibuír am par a o desenvolv im ent o dest a t ese. Reconheço que não poder ia t ê- la lev ado a t er m o sem a confiança plena de que “ podem os t odas as coisas n aquele que nos for t alece.” A Deus, por t ant o, os m eus agradecim ent os em form a de or ação. Dent re as pessoas que Ele, gener osam ent e, “ fez cr uzar os m eus cam inhos” nest a difícil j orn ada, eu agradeço de m odo m uito especial:

À Pr ofessor a Mar ia Apar ecida Bar bosa, pela honr a e or gulho que m e pr oporcionou , aceit an do- m e por duas v ezes com o or ient anda, e pela pr eciosa, const ant e, com pet ent e e, sobr et udo, hum ana or ient ação;

A Maur o, com panheiro e am igo de t odas as hor as, pela paciência, com pr eensão e apoio logístico;

À m inha m ãe e aos m eus irm ãos, que t ão bem

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incent ivos ao m eu crescim ent o hum ano e int elect ual.

Aos m eus avós ( in m em or iam ) , pelo am or in igualáv el que deles r ecebi n a infância, por t odos os sacrifícios/ gest os de am or na com pra dos m eus pr im eiros liv r os e por t odos os v alor es que m e deix ar am com o her ança.

Àquelas pessoas que acom panharam o pr ocesso de

am adur ecim ent o de m in has ideias e com part ilharam com igo o ent usiasm o pela pr opost a dest a pesquisa: pr ofessor as Mariet a Prat a Dias, Maria Mar gar ida Andr ade, Lídia Alm eida Bar r os, Mar ia Vicent ina do Am ar al Dick .

Àquelas que par t ilhar am com igo as const an t es inquiet ações e fru st r ações advindas dos r esult ados das av aliações nacionais. A t odas essas ( colegas da equipe da Super visão de Av aliação Educacional – SUAVE - MA) ex pr esso os m eus agr adecim ent os na pessoa da pr ofessor a Silv ana Maria Guim arães Mach ado.

Ao AMI GO, Au gust o Pellegr ini, que m e lev a a crer qu e sou quem ele acr edit a que eu sou.

À r ev ist a Feit o Brasil, na pessoa de Alex andre Fum agalli, j or nalist a r esponsáv el pela Redação, Art e e Pr odução da rev ist a, que t ão gent ilm ent e m e enviou u m ex em plar im presso da edição especial inspir ada no cor del.

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figur as que con st am nest e t rabalho.

A Zezé e Luzilene, que pela pr eciosa am izade, t ant o m e aj udar am , m esm o a dist ância.

A Ângela Follon i, pela solidariedade nos m om entos angú st ia.

A Kar ine Mar ielly , pelo seu poder de conv encim ent o de que “ t udo v ai dar cert o” .

Ao Governo do Est ado do Mar anhão, por m eio da Secr et ar ia Est adu al de Educação, que m e possibilit ou o afast am ent o das m inhas at iv idades docent es par a a r ealização dest a pesquisa;

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Apr endizagem é r esult ant e de um a dialét ica per m anent e ent re ação e pensam ent o que per m it e a int erpr et ação en t r e a t eoria e a pr át ica.

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CARDOSO, A. L. M. A transcodificação de textos científicos em textos etnoliterários, o cordel: o desenvolvimento da cognição com reflexão crítica 2011. 200 f. Tese (Doutorado) − Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

Numa perspectiva transdisciplinar, entre os estudos de Terminologia Aplicada, Semiótica e Etnoliteratura, desenvolvemos a presente Tese, cujo principal objetivo é demonstrar a importância do processo de transcodificação de textos técnicos e científicos (A) em textos etnoliterários (B), especificamente, seus efeitos no desenvolvimento da habilidade de compreensão de A, conduzindo à cognição por meio da reflexão crítica. O corpus da pesquisa compreende excertos do livro “Curso de Linguística Geral”, de Ferdinand de Saussure, e seu correspondente etnoliterário “ A vida e as idéias geniais e dicotômicas do pai da ciência linguística”, de José Lira. Compreende, ainda, a “Nova Gramática do Português Contemporâneo” de Celso Cunha e Lindley Cintra, e seu correspondente etnoliterário “Lições de Gramática em versos de Cordel”, de Junduhi Dantas. Os modelos teóricos, nos quais se calcaram as análises e sistematizações, são os que privilegiam o percurso de transmissão da metalinguagem técnica e científica; os que enfatizam os processos de cientificidade e popularização do conhecimento; a natureza dos texto A e B como linguagem conotativa e metassemiótica; as delimitações conceituais do texto transcodificado e do texto transcodificante; as relações de intertextualidade e de equivalência que se estabelecem entre ambos. O trabalho destacou os processos de banalização de linguagens de especialidade como importante mecanismo de circulação e de difusão do conhecimento. Caracterizou ainda, o texto transcodificado como meta-metassemiótico e, por isso, pluriconceptual, plurivalorativo, plurissignificativo e metareferencial, já que não cria, mas retoma conceitos, sem tirar a especificidade de tratamento: uma coisa é o fato científico tratado no Discurso Científico; outra coisa é esse mesmo fato tratado no Discurso Poético. Outra constatação importante é que o grau de equivalência entre A e B são inversamente proporcionais: quanto menor a densidade de equivalência, tanto maior será a densidade de reflexão que se exige do estudante. O texto A e o texto B são mono e homotemáticos, na medida em que abordam o mesmo tema, porém, são plurifigurativos, pois actantes e relações actanciais são diferentes de um para outro. Concluímos, ainda, que o texto A determina a isotopia do texto B, que mesmo sendo um texto poético, preserva a sua função primária que é a de ser um texto interpretante. Pelos motivos expostos, apresentamos como conclusão geral, que o processo de transcodificação, no enfoque que demos, é um dos principais meios de desenvolvimento de mecanismo muito importante na assimilação de teorias científicas, na medida em que conduz o estudante à cognição por meio da reflexão crítica. Desenvolver “o refletir”, tornou-se mais importante que o “conhecer” pois a reflexão conduz ao questionamento, à indagação, fatores fundamentais na formação do conceptus de cognição. Essas questões constituíram o ponto de partida e o ponto de chegada desta pesquisa.

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CARDOSO, A. L. M.

Cor del - Tr a n scoding of scien t ific t e x t s int o

e t h nolit e r a r y

t e x t s:

de v e lop ing

cogn it ion

w it h

a

cr it ica l con sider at ion .

2011. 200 f. Thesis (Doctorate) − Faculty of Philosophy, Letters and Human Sciences, University of São Paulo, São Paulo, 2011.

In a transdisciplinary perspective, among the studies of Applied Terminology Semiotics and Etnoliterature, we developed the present work, whose main objective is to demonstrate the importance of the transcoding process of scientific and technical papers (A) into etnoliterary texts (B), specifically, its effects in the development of comprehension skills of A, leading to cognition by means of a critical reflection. The corpus includes excerpts from the book Course in General Linguistics written by Ferdinand de Saussure, and its related ethnoliterary “The life and the brilliantl and dichotomous ideas of the father of language science” by José Lira. The corpus also comprises the New Grammar of Contemporary Portuguese by Celso Cunha and Lindley Cintra, and its related etnoliterary "Grammar Lessons in Cordel verses by Junduhi Dantas. The theoretical models, in which the analysis and systematization are based are those that favor the route of transmission of scientific and technical metalanguage; the ones that emphasize the processes of scientificity and popularization of knowledge the nature of the texts A and B as connotative language metasemiotics, the conceptual boundaries of the text and the transcoded and transcoding text; relations of intertextuality and equivalence established between both types of texts. The work has highlighted the processes of trivialization of specialized languages as an important mechanism of movement and diffusion of knowledge. The transcoded text was characterized as metametasemiotic and therefore multiconceptual, multivalued, multi-significant and metareferencial, once it doesn’t create, but recovers concepts without taking the specificity of treatment: one thing is the scientific fact discussed in Scientific Discourse; another thing is that same fact treated in Poetic Discourse. Another important finding is that the degree of equivalence between A and B is inversely proportional: the smaller the density of equivalence, the greater the density of reflection that is required of the student. Text A and text B are mono and homothematic while they discuss the same topic, but are multifigurative because actants, and actant relationships are different from one to another. It’s also concluded that text A determines the isotopy of text B, that even being a poetic text, preserves its primary function which is to be a text interpreter. For these reasons, it is presented as a general conclusion, that the transcoding process, which has been our focus is one of the chief means to develop this very important mechanism in the scientific theory construction, as it leads the student to cognition by critical reflection. The reflection development has become more important than the knowledge because reflection leads to questioning at the inquiry, which is crucial in the cognitive concept building. These issues are the starting point and the final point for this research.

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FI GURAS

Figura 1 - Discur so de pedagogia do léx ico... ... ... ... 67

Figura 2 - Especificidade x I nt er disciplinar idade... .. 69

Figura 3 - Cien tificidade x popular ização... ... ... ... .. 73

Figura 4 - Tensão v ocábulo x t er m o... ... ... ... .. 73

Figura 5 - Docum ent ais x ficcionais... ... .. ... ... .. 74

Figura 6 - Fu nções Sem iót icas − semiótica denotativa e n ão-denot at iv a... ... ... ... ... ... ... 76

Figura 7 - Do conceito e sua sem iot ização... ... ... ... 86

Figura 8 - Tendências de concept ualização... ... ... .. 87

Figura 9 - Dialét ica int er t ex t ual... ... ... ... ... .. 143

Figura 1 0 - Cust o x Rendim ent o na aquisição do conhecim ent o. 145 Figura 1 1 - Equ iv alên cia ent r e os Discursos A e B... .. 146

QUAD ROS

Qua dr o 1 - Quadr o sinópt ico da evolução da Ter m inologia 46

Qua dr o 2 - Tendências de concept ualização 87

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SUMÁRIO

RESUMO ABSTRACT

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

INTRODUÇÃO... 15

1 QUESTÕES TEÓRICAS PRELIMINARES... 23

1.1 As bases t eór icas da t r anscodificação... ... ... .. 24

1.1.1 O conceit o de t r anscodificação em Gr eim as, Rey -debov e, Mar cuschi e Lopes... .... ... ... . 24

1.1.2 O conceit o adot ado nest a pesquisa... ... . 26

2 FUN DAM EN TOS TEÓRI CO S D ESTA PESQUI SA EM PERSPECTI V A TRAN SD I SCI PLI N AR.. ... 28

2.1 A Et nolit er at ur a – o univ er so de discur so et noliterário... ... ... ... ... ... ... ... 29

2.2 A lit er at ur a de Cor del: r ev isit ando suas origens... 32

2.2.1 O cor del com fins didát ico- pedagógico... ... 40

2.3 A Ter m inologia: v isão panorâm ica de sua evolução... 45

2.3.1 Um olhar sobre nov os par adigm as epist em ológicos da Ter m inologia... ... ... ... ... ... ... ... . 48

2.3.1.1 A per spect iv a da Teor ia Com u nicat iv a da Ter m inologia 51 2.3.1.2 A v isão sociot er m inológica... .... ... ... ... .. 55

2.3.1.3 A v isão da Teoria Sociocogn it iv a da Term inologia... 57

2.3.1.4 A Et not erm inologia nos gr andes par adigm as da Ter m inologia... ... ... ... ... ... ... ... . 58

(13)

DECO RRÊN CI AS EPI STEM O LÓGI CAS E FO RM AI S

DO S PRO CESSO S AN TERI O RES... ... 65

3.1 Quest ões pr elim inar es a pr opósit o do ensin o do léx ico 66 3.1.1 Nat ur eza e fun ção das m et alinguagens t écnico-cient íficas... ... ... ... ... ... .. 68

3.1.2 Um per cur so de t ransm issão da m et alinguagem t écnico- cient ífica... ... .... ... ... . 69

3.2 A linguagem denot at iv a e a linguagem não denot at iv a. O t ex to int er pret ant e e o t ex t o int er pr et ado: a quest ão da m et alinguagem e da sem iose ilim it ada... ... ... ... ... ... ... ... . 74

3.3 A for m ação do conceit o em discursos de diferent es nat ur ezas... ... ... ... ... ... .... ... ... ... .. 81

3.4 Os pr ocessos de dessem ant ização e de r essem ant ização... ... ... ... ... . ... ... ... . 90

3.5 Nat ur eza e função do t ex t o t ranscodificado e do t ex t o t ranscodificant e: t ipos de relação e gr aus de equiv alência... ... ... ... ... ... ... ... ... . 93

3.5.1 Graus de equiv alência ent re t ex t o int er pr et ant e e t ex t o I nt er pr et ado... ... ... ... ... ... .. 97

4 ESTABELECIMENTO DO CORPUS E METODOLOGIA 101 4.1 Et apas da pesquisa... ... ... ... ... .. 102

4.1.1 Delim it ação do u niv er so da pesquisa... ... .. 102

4.1.2 Est abelecim ent o do cor pus... .. ... ... ... . 103

4.1.3 O cor pus de análise... ... ... ... ... ... . 105

4.1.3.1 Ficha t écn ica das obr as const it uint es do cor pus de análise... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .. 105

4.2 Per fil dos t ex t os const it ut ivos do cor pus da pesquisa – os t ex t os t r anscodificados e t ranscodificant es... 106

(14)

4.2.3 Lições de Gram át ica em Versos de Cor del ( LGVC) . ... 108 4.2.4 A v ida e as ideias geniais e dicot ôm icas do pai da

ciência da lingu íst ica Fer dinand de Saussur e... 109

4.3 Definição do público- alvo... ... ... ... ... ... 109 4.4 Ficha de lev ant am ent o dos dados... ... ... .. 110

5 AN ÁLI SE E SI STEM ATI ZAÇÃO DO S D ADO S D A

PESQUI SA... ... ... . ... 117 5.1 Análise qualit at iv a dos dados... ... ... ... . 118 5.2 Pr opost a de sist em at ização dos t em as desenvolv idos

na pesquisa... ... ... ... ... ... ... ... .. 142 5.2.1 Sist em at ização da form ação concept ual do t ex to

cient ífico t r anscodificado e o t ext o et nolit er ár io

t ranscodificant e... ... ... ... ... .. ... ... ... . 142

5.2.2 Sist em at izando a quest ão da sem iose ilim it ada... 147 5.2.3 Sist em at izando o t ipo de r elação que se est abelece

ent r e A e B... ... ... ... ... ... ... .. 148 5.2.4 Sist em at izando os gr aus de equ iv alência... ... . 149 5.2.5 Sist em at ização final: o papel do discurso et nolit erário

na função t ex t o t r anscodificant e... ... ... ... .. 150

6 CON SI DERAÇÕES FI N AI S 152

BI BLI O GRAFI A 157

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I N TROD UÇÃO

Se a sua lin guagem não se ex pr im e em palav r as int eligív eis, com o se poderá com pr een der o que dizem ?

Est ar ão falando ao v ent o. No m undo ex istem não sei quant as espécies de linguagem , e não ex ist e nada sem linguagem . Or a, se eu não con heço a força da linguagem , serei com o est r angeiro para aquele que fala, e aquele que fala ser á um est rangeir o par a m im .

(16)

A linguagem do conhecim ent o, qualquer qu e sej a a nat ureza do saber , j am ais pr escin de do conhecim ent o da linguagem . Dit o de out ra for m a, sem o conhecim ent o da linguagem não há com o se dom inar a linguagem do conhecim ent o. Port ant o, isso lev a a cr er que qualqu er opção t eór ica ou t eór ico- m et odológica, im plica o dom ínio de um a linguagem - pont e/ m et alinguagem .

Assim , dent r e os m ecanism os de t r ansm issão, desenvolv im ent o e am pliação do invent ár io lex ical, salient am os o que per m it e est abelecer relações ent re os term os t écnico- cient íficos e possív eis equiv alent es seus no univ er so de discurso banal. A ex pr essão linguagem banalizada pr essupõe sem pr e um t ex to de part ida, v iabilizando a int er com unicação ent r e univer so de discur so t écnico-cient ífico/ especializado e a língua com um , sej a do pont o de v ist a da enunciação de codificação, sej a do da enunciação de decodificação.

As r eflex ões acim a, serv em ao int uit o de apr esent ar a pr opost a cen t r al dest a pesquisa - a t ranscodificação de t ext os científicos em t ex t os et nolit erár ios - o que de im ediat o j á r em et e a um pr ocesso int er discur siv o de m et alinguagem . Será, pois, v er ificada, a r elação que se est abelece ent re um t ex t o t écnico/ cient ífico ( A) e um segundo t ex t o ( B) , que é t r anscodificação do pr im eir o. Modelos de ex plicação de linguagens denot at iv as e de linguagens conot at iv as, nat ur eza e funções de t ex tos int er t ex t uais st r it ct o sensu, const it uem , port ant o, o cer ne t eór ico do t rabalho. Per m it ir ão eles a análise e descrição dos cont ex t os analít icos que com põem o cor pus da pesquisa.

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segundo conj unt o Lições de gr am át ica em v er sos de cor del, de Janduhi Dant as ( 2009) e A v ida e a as i déias geniais e dicot ôm icas do pai da ciência da lingüíst ica Fer dinand de Saussur e ( 1995) .

Ret om ando o início dest a int r odução, r eit er am os que a linguagem do conhecim ent o pr essupõe o conhecim ent o da linguagem . Desse m odo, é im por t ant e nuançar em que sent ido ser ão usados alguns t er m os consider ados nuclear es para a com pr eensão da pr opost a anunciada. Assim por ex em plo, no binôm io t ext o t ranscodificado e t ex t o t r anscodificant e, o pr im eiro é um a sem iót ica denot at iv a e o segundo um a m et assem iót ica. Quant o ao t er m o t ranscodificação, seus conceit os e o conceit o adot ado nest e est udo, t rat ará dist o o pr im eiro capít ulo da t ese.

Nuançadas t ais quest ões, convém cir cunscr ev er o pr oblem a que conduziu à elabor ação da pr opost a e que a t or na de gr ande r elev ân cia para os est udos da linguagem .

A pr opost a par a est e est udo foi m ot iv ada pr incipalm ent e pela nossa ex per iência docent e de quase v int e anos em salas de aula de escolas públicas. Essa ex per iência conduziu- nos a um ex am e das pr át icas sêm io- linguíst icas dos enunciador es e dos enunciat ár ios do discur so pedagógico. Conv ém r essalt ar que não se t r at a de um a per cepção isolada. Esse ex am e, é em geral, feit o pela m aior ia dos docent es, e per m it e obser v ar a pouca im por t ância dada à quest ão do ensino do léxico, bem com o o desconhecim en to de seus m odelos e aplicações. Com o consequ ência, as av aliações educacionais sist êm icas regist r am em seus r esult ados quant it at ivos e qualit ativos um baixo r endim ent o dos alunos, não só na m at ér ia específica da língua m at er na, com o t am bém n as dem ais, eis que t odas se r ealizam , com o é ev ident e, em linguagem .

(18)

est at íst icas par a diagnost icar o nív el educacional de det er m inadas sér ies. O obj et iv o é av aliar a qualidade, equidade e eficiência do ensino- apr endizagem dos ensinos Fundam ent al e Médio. O SAEB, por m eio de sua sér ie hist ór ica de seis anos, evidenciou quedas nas m édias ger ais de pr oficiências nas duas ár eas de conhecim ent o av aliadas nos r esult ados ger ais do país, das r egiões e unidades da Federação.

Am pliam essas infor m ações os r esultados do m aior e m ais com plet o est udo de âm bit o nacion al – Ret rat os da leit ur a no Brasil ( 1 ª edição 2005, 2ª edição 2 008)1 – que t em por pr opósit o cont r ibuir com a r eflex ão sobr e a sit uação da leit ur a no País. Segundo Alquér es, esse est udo ev idencia que as dificuldades de leit ur a configur am um quadr o de inadequada form ação educacional decor r ent e da pr ecariedade e da ineficiência do sist em a de en sino, principalm ent e no que concerne aos m odelos didát ico- pedagógicos ut ilizados.

Dent re os m uit os dados apr esent ados nessa pesquisa dest acam os o seguint e: 53% dos j ov ens na faix a et ária de 11 a 13 anos apresent am dificuldade par a ler . Esses núm er os confir m am não só as dificu ldades par a ler m as indicam , confor m e Failla ( 2008, p. 105) que “ é pr eciso saber ler . É pr eciso com pr eender o que se lê, pois n ão é possív el gost ar de ler se não se com preende o que se lê” . O conj unt o dos dados ex post os e a indicação que suscit am , por si só, par ecem apont ar par a o acer t o da propost a da t ese em quest ão. É, pois, com a preocupação de propiciar a per cepção das r elações ent r e m odelos sêm io- lin guíst icos e pr át ica docent e, com v ist as ao bom desem penho do aluno n o processo de com pr eensão daquilo que lê, que elegem os com o “ público- alvo” pr ofessor es e alunos de div ersos nív eis de ensino. Desse m odo, o alicer ce dest a

1

(19)

pesquisa en cont r a- se na ar t iculação ent re os aspect os ant er ior m ent e m encionados, que se con figur am com o um gr av e pr oblem a, e nossa pr opost a de int erv enção por m eio do pr ocesso de t r anscodificação de um a lin guagem .

O pr essupost o fundam ent al em qu e se baseia o present e t rabalho é qu e o pr ocesso e/ ou m ecanism os de t r anscodificação do t ex t o cient ífico par a qualquer out ro t ipo de t ex t o, de difer ent es universos de discur so, aum ent a as possibilidades de reint er pret ação por par t e do su j eit o da decodificação. Nesse sent ido, lev ant am os algum as quest ões com v ist as à com prov ação dessa hipót ese. I m por t ant e dizer que t ais questões poderão ser r espon didas ao longo da ex posição do t ext o do t r abalho e não apenas n as consider ações finais/ conlusão. Dent r e as t an t as quest ões in icialm ent e form uladas, selecionam os as que nos par ecem fundam ent ais par a a com pr eensão for m al do pr ocesso de t r anscodificação.

i) As t r anscodificações ( t ex t os cient íficos ( A) e t ex t os et nolit er ár ios ( B) est ão dir et am ent e ligadas à int er t ex t ualidade, ex igindo, necessar iam ent e, conhecim ent os de am bos os tex t os?

ii) O m ov im ent o de com paração e av aliação da r elação ent r e A e B ( t ex t o int er pr et ado/ cient ífico e t ex t o int er pr et ant e/ cordel) conduz a um a m aior e m elhor r eflex ão sobr e as quest ões de A?

iii) Som ent e a leit ur a de A, é suficient e e eficaz para a com preensão do t em a/ assunt o abor dado? A leit ur a de B, apenas, apr esent a a profundidade que o assunt o ex ige?

iv ) O m et at ex t o, ut ilizando- se de um a linguagem difer ent e, m ais acessív el, possibilit a chegar ao m esm o t em a do prim eiro?

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Tendo em v ist a t ais quest ões, const it ui- se obj et ivo ger al dest a pesquisa:

◊ Apresentar uma proposta de sistematizaçã o do proce sso de t r a nscodifica çã o de t e x t os cie nt íf icos e m t e x t os nã o- cie nt íf icos, que cond uz a o suj e it o e nu ncia t á r io à cogniçã o com re f le x ã o.

A par t ir desse obj et iv o ger al, foram est abelecidos os seguint es obj et iv os específicos:

1. apr esent ar , por m eio da am ost ragem dos t ex t os const it uint es do corpu s de análise, a t r anscodificação de t ex t os cient íficos em t ex t os et nolit er ár ios, o cor del;

2. analisar , com base nos cont ex t os t ranscrit os nas fichas, o gr au das r elações de equiv alência que se est abelecem ent re t ext o

cient ífico/ t r ancodificado ( A) e t ex t o

et nolit er ár io/ t r anscodificant e ( B) – o cordel;

3. apr esent ar um a sist em at ização da for m ação con cept ual do t ex t o cient ífico t r anscodificado e do t ext o et nolit er ár io t ranscodificant e.

4. analisar e descr ev er os t em as apr esent ados nos oct ógonos sem iót icos dest a pesqu isa.

De acor do com o nosso propósit o, descr ev em os, a seguir , de m aneir a sucint a, a est r ut ur a ger al da t ese.

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t e ór ica s p r e lim ina r e s – apresent am os as bases t eór icas da t ranscodificação, bem com o os conceit os div er sos que r ecebe, de acordo com a concepção t eór ica de alguns aut or es. Ex plicit am os, ainda, o conceit o de t r anscodificação adot ado na pesquisa. No segundo capít ulo – Funda m e n t os t e ór icos de st a pe squisa e m pe rspe ct iv a t r a nsdisciplina r – caract er izam os os univ ersos de discur so et nolit erários, sit uan do a Lit er at ura de Cor del com o um dos obj et os de est udo desses universos; m ost r am os um quadr o sinópt ico da ev olução da Ter m inologia desde a sua or igem at é os dias at uais; lançam os um brev e olhar sobre alguns dos novos par adigm as epist em ológicos da ciência t er m inológica nos séculos XX e XXI . As que st õe s de st a pe squisa : de cor r ê ncia s e pist e m ológica s e f or m a is dos p roce ssos a n t e r iore s - capít ulo no qual pr ocedem os a um a r ev isão e descr ição analít icas dos m odelos t eór ico- m et odológicos que em basam est a pesquisa. Alicer ça- se nas r eflex ões sobr e o ensino/ apr endizagem de m odelos t écnico e cient íficos, na propost a da t ranscodificação com o um dos pr ocessos facilit ador es in t ersem iót icos da leit ur a, com pr een são e m em or ização de t ext os com alt o grau de densidade t écnica e cient ífica e, sobret udo, na sist em at ização do pr ocesso, pr opost a inicial e final dest a t ese. Em Est a be le cim e n t o d o

cor pus e m e t odologia – descr ev em os a prát ica m et odológica

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1 . QUESTÕES TEÓRI CAS PRELI M I N ARES

[ ... ] par a dizer de out ro m odo, em out r a m odalidade ou em out ro gêner o o que foi dit o ou escr it o por algu ém , devo inev it avelm ent e com preender o que esse alguém disse ou quis dizer . Por t ant o, ant es de qualquer at iv idade de t ransfor m ação t ex t ual, ocorr e um a at ividade cognit iv a denom inada com pr eensão.

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1 .1 As ba se s t e ór ica s da t ra nscodif ica çã o

Nest e pont o, pr et endem os apresent ar e pr oblem at izar , de for m a sucint a, o esfor ço t eór ico em pr eendido por alguns pesquisador es na elaboração do conceit o de t ranscodificação no cam po dos est udos da linguagem . Tam bém , é nosso obj et iv o, apont ar com clar eza o conceit o adot ado nest a pesquisa, com v ist as à defesa de nossa t ese.

1 .1 .1 O conce it o de t ra nscodifica çã o e m Gr e im a s, Re i- De bov e , M a rscuschi e Lope s

Par a Gr eim as,

pode- se definir t r anscodificação com o a oper ação ( ou conj unt o de oper açõ es) pela qual u m elem ent o ou u m conj unt o significan t e é t r anspost o de u m código par a out r o, de um a lingu agem par a out r a. Se a t r anscodifi cação obedecer a cer t as r egr as de const r ução det er m inadas, confor m e u m m odelo científico, poder á equivaler , ent ão, a um a m et alin gu agem . ( GREI MAS e COURTÉS, 2008, p.509) .

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Par a a lin guist a fr ancesa, Rey - Debov e ( 199 6) , “ t ran scodificação designa um a oper ação com plex a em grafem ologia” , e equiv ale- se, nos t er m os de Mar cuschi ( 2005, p.51) , a um a “t r anscr ição ou passagem de u m código para out ro ( por ex em plo, do som par a a gr afia) ” .

Par t indo se de t al for m ulação, conv ém ex plicit ar que Rey -Debov e est abeleceu v ár ios cr it ér ios para a dist inção “ or al- escr it o” no francês e, consider ando quat ro par âm et r os de análise ( form a e subst ância; con teúdo e ex pressão) , a aut ora chegou à ident ificação de quat r o níveis de r elação: i) nív el da subst ância da ex pressão; ii) nív el da for m a da ex pressão iii) nível da for m a do cont eúdo; iv ) nív el da subst ância do cont eúdo. Não v am os, ent r et ant o, nos det er na ex plicação de cada um desses nív eis. Par a o nosso propósit o, convém apenas nuançar , em qu ais deles se ev idencia o que a lin guist a consider a com o t r anscodificação.

Assim , de acor do com Rey - Debov e, ( 1996) apud ( MARCUSCHI , 2005) , os dois prim eir os nív eis, concernen t es à for m a e à subst ância da ex pressão, configur am - se com o os m ais ev ident es e t am bém const it uem - se os m ais fáceis de analisar . I sso ocor re por que esses nív eis dizem r espeit o à m at erialidade linguíst ica. O pr im eiro nív el ( subst ância da ex pressão) consider a prefer encialm ent e, a cor r espondência ent r e let r a e som , m as sem deix ar de lado quest ões idiolet ais e dialet ais; no segundo nível ( for m a da ex pr essão) são consider ados os signos falados e os signos escr it os, poden do- se aqui v er ificar a dist inção ent r e a form a do gr afem a ( a grafia usual) e do fonem a na realização fonét ica ( a pr onúncia) . Em sum a, t r at a- se de um a éspécie de “ t ranscodificação” .

As consider ações acim a perm it em chegar ao conceit o de t ranscodificação que subj az à concepção t eórica de Rey - Debov e:

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for m a da expr essão escr it a com t odas as consequências iner en t es a esse pr ocesso. ( Rey- Debove, 1 996 p. 79) .

A aut or a obser v a, ainda, que não se pode fazer um a t ranscodificação equiv aler a um a par áfr ase ou a um a t r adução com o se fosse um a equiv alência sem ânt ica. Essa observ ação é r eit er ada por Mar cuschi, que r essalt a a diferença ent r e a t r anscodificação e a par áfr ase:

A di fer ença ent r e um a t r anscodificação e um a par áfr ase est á em que est a ú ltim a r ef az o t ext o de u m for m at o lingüístico par a ou t r o form at o qu e diga al go equivalent e ( de um m ínim o a um m áxim o de equivalência) . Essa pr eocu pação não ocor re com a t r anscodificação. ( MARCUSCHI , 20 05, p.51 ) .

Com o podem os not ar , ex ist e um im br icam ent o do conceit o de t ranscodificação nos dois autores e, em cer t a m edida, um a relação de com plem ent aridade dos pont os de vist a.

1 .1 . 2 O conce it o a dot a d o n e st a pe squisa

Ret om ando um a das epígr afes que pr efaceiam o capít ulo de Fundam ent os Teór icos, com base nos pr eceit os saussurianos de que “ é o pont o de v ist a que cr ia o obj et o” ( Saussur e, [ 1916] 1972, p.15) , não nos conv ém dizer quem est á cer t o ou er rado no seu m odo de dizer, m as o ar cabouço con ceit ual sob o qu al alicer çam os a nossa t ese é o que advém da conv er gência das concepções t eór icas de Lopes ( 1976) e Bar bosa ( 2004) . Dest e m odo, o conceit o de t ranscodificação adot ado nest a pesquisa, se dá nest es t erm os:

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Com o se pode not ar , o conceit o de t ranscodificação, t al com o ut ilizado neste t r abalho, se recobr e apen as par cialm ent e com o conceit o dado por Saussure. Essa par cialidade é not ada, na m edida em que, para esse aut or , a t r anscodificação pode apenas equiv aler - se a um a m et alinguagem , enquant o nest a pesquisa é um pr ocesso int er discur siv o de m et aliguagem .

Em r elação aos conceit os de Rey- Debov e e Mar cuschi, com plem ent ar es ent re si, e o conceit o por nós adot ado, há um m aior dist anciam ent o, um a v ez que nos aut or es cit ados a t ranscodificação designa um a t r anscr ição de um código par a out ro, por ex em plo, do som par a a escr it a. Nest es t er m os, a t r anscodificação sit ua- se ent r e as oper ações de t r ansform ação na passagem do t ex t o falado par a o t ex t o escrit o, sendo que, dent re t ais operações, a m ais com um é a r et ex t ualização2. ( MARCUSCHI , 2005) .

Conquanto não se discut a o v alor das for m ulações acim a, ent endem os que a t r anscodificação, sob o pont o de v ist a conceit ual adot ado nest a pesquisa, possibilit a um r ico, am plo e eficaz apr endizado, u m a v ez que o t ex t o t ranscodificant e de out ro t ex t o facilit a o conhecim ent o do sist em a básico que int erpret a.

Vale ressalt ar que par a um ent endim ent o sat isfat ór io da oper ação denom inada t r anscodificação, em qualquer concepção t eór ica, requer que a r elação ent r e t eor ia e obj et o se faça a m ais clara possível.

2

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2 . FUN DAM EN TOS TEÓRI COS D ESTA PESQUI SA

EM PERSPECTI V A TRAN SD I SCI PLI N AR

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O t erceir o palpa a t r om ba e discorda dos dois no quesit o da r igidez. Qual deles t em razão? Nenhum e t odos ao m esm o t em po, pois cada um fez um a descober t a v álida por si m esm a,

ainda que incom plet a.

( Fábula dos cegos e o elefant e) 2 .1 A Et nolit e r a t u r a : o u niv e r so de discurso e t n olit e r á rio

É ao dom ínio cober t o pela et n ossem iót ica qu e cabe o m ér it o de t er con cebido, inaugur ado e fu ndam en t ado, ao lado das descr ições par adigm át icas que são as et n ot axionom ias, as análises sint agm át icas que dizem r espeit o aos difer ent es gên er os de lit er at ur a ét nica, t ais com o as n ar r at ivas f olclóricas ( V.Pr op) e m ít icas( G.Du m ézil, C Lévi- St rauss) e gr aças às quais se r enovou a problem át ica do discur so lit er ár io. ( GREI MAS e COURTÉS, 20 08, p.1 91) .

A t ipologia dos discur sos e dos universos de discu rso, const it ui-se quest ão de gr ande relev ância na t eor ia ui-sem iót ica. Pais ( 1982; 1984) obser v a que m uit os aut ores, na t en t ativ a de elabor ar um a t ax ionom ia m ais sat isfat ór ia u t ilizam cr it ér ios t ais com o o m odo de ex ist ência e pr odução, as est r ut uras de poder , as relações de enunciação e enunciado, efeitos de sent ido, chegando, inclusive a com binar alguns deles.

Um a língua nat ur al é um sist em a sem iótico linguíst ico que se desdobr a, por sua v ez, em v ár ios univ ersos de discur so. Tais universos de discurso são, essencialm ent e, de dois t ipos - os figur at iv os e os não- figur at ivos. Os figur at ivos com pr eendem dois subt ipos - os lit erários e os et nolit er ár ios ( PAI S, 1982 , p.55) .

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pr incipalm ent e nos cordéis pert encent es às classes t em áticas3 Brav ur a e Valent ia, Cont os, Feit içar ia, Fenôm eno sobr enat ur ais, Religião e Rom ance.

Tam bém nos discur sos et nolit er ár ios, os aut or es não são conhecidos, ou, se há nom es, não podem ser at est ados. O su j eit o-enunciador é com um ent e apagado ou subst it uído por um ent e im aginár io ou v ir t ual. É o que ocor r e em r elação a cert os folhet os, seu suj eit o enu nciador é u m ent e colet ivo, a hist ória é de dom ínio público, per t ence ao povo, que a concebeu de acor do com o cont ext o social da época, sua ex per iência e suas t radições4. Por isso, não r aram ent e para um m esm o t em a é exist em v ár ias v er sões, sendo, por t ant o, arbit r ár io afir m ar qual é a or iginal. O qu e, t odav ia, não se pode negar é a per m anência de alguns elem ent os com uns em t odas as v ersões.

Já dissem os, ant er ior m ent e, que a lit erat u ra de cor del in ser e- se nos univ er sos de discu rso et nolit er ários. Assim , com par t ilha das car act er íst icas ger ais confer idas aos seus equiv alent es ( t rov as m ediev ais; o Rom anceiro do Nor dest e; hist ór ias cont adas pelas m ulher es cont ador as do Nor dest e br asileir o, et c.) : não são ficcionais no sent ido est r it o do t er m o, por que lhes falt a, a um a pr im eir a leit ura, a v erossim ilhança; não são docum ent ais, com o o são os t ext os da Hist ór ia enquant o ciência, j á que nem sem pr e cont am fat os hist ór icos com prov ados; cont rapõem - se à m em ória oficial, idealizada, const ruída pelos hist or iador es e recr iam out r o t ipo de m em ór ia social.

3 Classifificação de acordo com Albuquerque ( 2010) . Em sua Tese de Dout orado a aut ora

analisa um tot al de hum m il e duzentos folhet os de cordel. Esse t ot al equivale a 25% do acervo do Cent ro de Docum ent ação do Program a de Pesquisa em Lit eratura de Popular.

4

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No ent ant o, as hist ór ias do univ erso de discu rso da Lit erat u ra de Cordel – guar dadas na m em ór ia de seus cor delist as e de t oda a “ gent e do nor dest e” e repet idas, com algu m as alt er ações, dur ant e m ais de um sécu lo – são per cebidos pelos su j eit os- enunciat ár ios-ouvin tes com o v er idict órios, port adores de “ v er dades” ger ais e universais. Daí o seu sent ido de perm anência no eixo da Hist ór ia. Segundo Pais ( 1 984) , esses t ipos de t ex t os dizem da nat ur eza hum ana e podem , por isso, ser considerados com o r epr esent ant es de for m as de hum anism o.

Com efeit o, o “ discu rso” dos folhet os de cordel aj uda a sust ent ar o sist em a de v alor es e o sist em a de cr en ças que int egr am o im aginár io coletivo da cult ur a br asileir a e m ais especificam en t e, nor dest ina. Rev ela um a v isão de um m undo sem iot icam ent e const ruído. Con st it ui- se, nesse sent ido, docum ent o alt am ent e significat ivo - ex pr esssão de u m a cult ur a popular e do seu pr ocesso hist ór ico.

Nessas con dições, par ece legít im o afirm ar que se t r at a de um discur so que incor por a, sust ent a, caract er iza um a ident idade cult ur al, ao m enos, int uit iv am ent e, r econhecida pelos m em bros da com unidade em causa. Repr esent a um saber com par t ilhado de “ m u ndo” , t r aduzido em algum as sucessões de m et áfor as.

Assim , o seu “ conj u nto de t ex t os/ folhet os” , que forn ece v aliosos subsídios par a o r egist ro escr it o de um a m em ór ia sócio-cult ur al, dev e ser consider ado um pat r im ônio sócio-cult ur al por sua r iqueza, com plexidade e div ersidade. Tam bém porqu e for nece elem ent os im por t ant es para est udos ant r opológicos, sociológicos e par a reflex ões psicológicas. Perm item , ainda, ao suj eit o- enunciat ár io indiv idual e/ ou colet iv o, alcançar infor m ações vit ais da nat ur eza hum ana, da alm a, dos im pulsos, da afet iv idade, em sum a da psy ch.

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de m odalidades com plex as dist int as. Ocupa- se t al discur so, dent re out ros aspectos, de sist em as de v alor es, que t an to podem det er m in ar pensam ent os e condut as, for m as de v er o m undo, com o com port am ent os r ecom endáveis ou condenáv eis, no fazer social.

2 .2 A Lit e ra t u ra de Corde l: r e v isit a n do sua s or ige ns

Com o ex plicit ado no it em ant erior ( 2.1) , a Lit er at ur a de cor del se insere nos univ er sos de discur so et nolit erários. Nesses discursos as m ar cas de t em po e espaço in exist em ou são m uit o v agas, conform e se observ a nos v er sos dos cor delist as Zé Maria For t aleza e Ariev aldo Viana e Klév isson Viana ( 2005, p. 03) , quando da or igem do cordel, v ej am os:

De onde v e io o corde l

Não se sabe ex at am ent e O cor del de onde v eio

Alguns afir m am que os m ouros Lhe ser viram de cor r eio

At é a Península I bér ica E de lá pr a nosso m eio.

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Os v er sos da pr im eira est rofe ex pr essam a “ incer t eza” dos cor delist as em r elação à v er dadeir a origem do cor del. A pr opósit o, a busca pela or igem do er udit o e do popu lar , const it ui um dos t em as r ecor r ent es nas t eorias que se propõem a est udar a ev olução do pensam ent o m oderno. Para Michel Foucault ( 1979 , p. 18) , ident ificar a or igem é

[ .. .] t ent ar r eencon t r ar ‘o qu e er a im ediat am en t e’, o ‘aquilo m esm o’ de um a i m agem exat am ent e adequ ad a a si; é t or nar por acident al t odas as p er ipécias qu e pu deram t er acon t ecido, t oadas as ast úcias, t odos os disfar ces; é qu er er t ir ar t odas as m áscar as par a desvelar enfi m um a identi dade prim ei ra [ ...] . O qu e se en cont r a n o com eço hi st órico das coisas não é u m a ident i dade ainda pr eser v ada d a or igem – é a discór dia ent r e as coisas é o dispar at e.

Não obst ant e os v er sos dos cordelist as, e a clar eza com que Foucault discor re sobre a busca da iden t idade prim eir a, da or igem , faz- se necessár io, na falt a do encont ro/ r een cont r o seguro dessa or igem , ao m enos os elos que per m it em r eflet ir sobr e o cont ex t o sócio- hist ór ico em que se inser e det er m inado “ obj et o” .

Nessas condições é possív el dizer que a hist ór ia do cor del liga-se à t r adição m ediev al, em que a at iv idade de con t ar hist órias num a com unidade est av a pr esent e. Um n ar r ador, anônim o, con t av a suas ex periências e, at r av és dessa ação, t ransm it ia um ensinam ent o m or al, um prov ér bio, um a sugest ão pr át ica, um a norm a de v ida. De acordo com Luy t en ( 20 05, p. 34) , “ Desde os pr im órdios da I dade Média, t em os not ícias de t rov adores e m enest réis v agando de um lugar par a out r o, cant ando as not ícias e fat os m ais im por t ant es” . Est a infor m ação é r efer endada/ poet izada em A didát ica do cor del ( FORTALEZA; VI ANA; VI ANA 2005, p. 04) com dest aque para a seguint e sex t ilha:

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Ent r e pr íncipes e dr agões Muit as bat alhas hor ren das E cont os lá das Ar ábias Tr açados de v elh as lendas. [ ...]

A pr opósit o da r efer ência à idade m édia, Menéndez y Pidal lem br a que as m assas analfabet as não sabiam o lat im , m as pr ecisav am de um sent ido de hist ór ia do passado fam iliar e er am capazes de conserv ar esses fat os na for m a de “ el cant o em lengua v ulgar ( apud CURRAN, 2009, p. 22) . Essa lem brança encont ra cor r espondência na realidade do Nor dest e brasileiro quan do se t rat a de guar dar / resguar dar fat os hist ór icos por m eio de r egist r o poét ico, t al com o ocor r e em r elação ao cor del.

Abr indo- se aqui um par ên t ese, foi por m eio das nar rat iv as or ais, cont os e cant or ias que sur giram os pr im eiros folhet os no Br asil. E não por acaso a m ét r ica, o r it m o e a rim a configur am - se com o elem ent os for m ais m ar can tes nesse gêner o de lit erat ur a.

A nar rat iv a oral, t odavia, sofre algum as alt erações ao longo do t em po. O desenv olv im ent o indust r ial alt era as r elações hum anas. O r elat o de ex per iências, a narr ação de hist ór ias, as at iv idades educat iv as e com unicat iv as adquir em nov as configur ações. Com o adv ento da im pr ensa e do r om ance, há um a espécie de t ransfigur ação dessa ar t e popular, que passa a ser lit erat u ra im pr essa. Nest e pont o, v ale lem br ar um a das definições de lit erat u ra dada por Cân dido ( 1989, p. 53) :

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Em bor a essa definição de Lit er at ur a “ for m al” sej a, por assim dizer, hiperôním ica em r elação à Lit er at ur a de Cor del, os t r aços concept uais m ais significat iv os são os m esm os n as “ duas lit eratu ras” . A Lit erat ur a de cor del, en t r et ant o, const it ui- se um gênero int er m ediário ent r e a or alidade e a escr it a. Est abelece, assim , um a espécie de pont e ent r e um a cult ur a popular e out ra literária. Por isso em sua for m a im pr essa são per cept ív eis m ar cas de oralidade.

Sobr e a definição m ais r ecor ren t e de Lit er at ura de Cor del observ am os, ent r e os aut or es est udados, que a grande m aior ia definem - na com o lit er at ura popular . Há, ent ret an to, os que a v eem com o u m m eio híbr ido - folclór ica e popular ao m esm o t em po - . Para ilust r ar esse pont o de v ist a recor r em os à definição dada por Proença ( 1 962, p. 1) . Esse aut or , ao pr efaciar o cat álogo do acer v o da Fundação Casa de Rui Bar bosa, volum e pioneiro sobr e o cor del, define lit er at ura de cor del com o

[ .. .] a que se t r ansm it e pelo u so de m eios t écnicos ( n o caso a im pr essão) , e qu e est á suj eit a a m oda ou voga, que n ão é anôni m a, m as possu i int rinsecam ent e as car act er íst icas da poesia folclórica.

Com plem ent am essa definição as palavr as de Cur r an ( 2 009, p. 19) pois, de acor do com est e aut or , ela é “ popular em t er m os de pr odução, dissem inação e consum o, enquant o conserv ador am ent e folclór ica no pensar de seus poet as t r adicion ais e do público” . Com o se pode not ar , h á ent r e as duas concepções, um a r elação de sem elhança e com plem ent aridade.

Por fim , par ece im prescindível a definição de Ray m ond Cant el5, pr ofessor da Sorbone, e um dos m ais conceit uados pesquisador es de cor del no m undo. Par a esse est udioso do t em a, cor del é poesia

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nar r at iv a, popular , im pr essa. De m odo que, qualquer out ra m anifest ação sem elhant e ao cor del, cuj o cont eúdo apresent e div er gências em r elação a esse t r inôm io, dev e ser apreciada com r eser v as6.

At é est e pont o t rat am os das influências r em ot as da Lit erat ur a de Cor del, bem com o de suas definições m ais gerais, daqui em diant e nos at er em os às r aízes pr óx im as do Cor del br asileir o. Nest e sent ido, apesar de não hav er um consen so ent r e os est udiosos da Lit eratu ra Popular qu ant o à or igem do cordel no Br asil, parece inegáv el a influên cia por t uguesa na const it uição do folhet o br asileiro. Na opinião da gr ande m aior ia dos aut or es a hist ór ia da Lit er at ura de Cor del com eça com o rom anceir o lu so- espanhol da I dade Média e do Renascim ento. E m uit os pesquisador es r econhecem que a influência lusit ana não se r est rin ge à form a da poesia, m as é per cept ív el t am bém na divulgação/ com er cialização dos folhet os. Pois, em Por t ugal os folhet os er am pendu rados em cor dões, lá cham ados de cor déis, con form e ex plica o cor delist a José Ant ônio dos Sant os ( 2007 , p. 2) , em seus v er sos:

Na Eur opa Mediev al Sur gir am os m enest r éis Por ser em bons t rov ador es Às m usas er am fiéis

E v endiam seus liv r inhos Pendur ados em cordéis.

Pois a palav r a cor del Significa cor dão

Onde o cor del era ex posto No m eio da m ult idão

6 Di sponível em : ht t p: / / www.cor delon .hpg.ig.com .br / que_cor del.h t m Acesso em :

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O t r ov ador andarilho Fazia declam ação [ ...]

Ou ainda, nos v er sos dos cor delist as Zé Maria de Fort aleza, Ariev aldo Viana e Klévisson Viana ( 2 005,p. 2) :

O folheto popular Denom inado cor del Asua defin ição

Segundo Raym ond Cant el É poesia popular

I m pr essa sobr e papel [ ...]

Luís da Câm ar a Cascudo e Man uel Diégues Júnior m ost raram a v inculação dos folhet os de feir a, a par t ir do século XVI I , com “ folhas v olant es” ou “ folhas solt as” em Por t ugal, com o era conhecida nas feir as por tuguesas. No século XVI I , na Espanh a, t al lit er at ur a era cham ada de “ pliegos suelt os” , denom in ação que passou à Am ér ica Lat ina, ao lado hoj as e cor r idos. Essa denom inação é ainda corr ent e na Ar gen t ina, Méx ico, Nicarágua e Peru. Na fr ança, esse fenôm eno cor r espondia à “ lit t èrat ur e de colpor t age” . Na I n glat er r a, os folhet os er am cor r ent es e denom inados cock s ou “ cat ch- pennies” , em relação aos r om ances e as hist ór ias im aginár ias; e “ br oadsiddes” , em r elação às folh as volant es sobr e fatos hist óricos, cham ados “ folhet os de época” ou “ acont ecidos” . ( Aragão, 2008) .

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pr aças ruas e feir as. As leitur as eram feit as par a gr upos de ouv int es adept os dessa for m a de poesia, e o hábit o de ler e ouv ir t am bém dissem inav a- se de m odo sem elhant e.

Além dos países cit ados, t em - se not ícias da exist ência de folhet os de cor del na Holanda – século XVI I , bem com o na Alem anha nos séculos XV e XV e XVI . Mas for am os por t ugueses, con form e j á m encionado, que t r oux er am o cor del par a o Brasil desde o início da colonização.

Câm ar a Cascudo, em su a obra Vaqueiros e Cant adores ( 1939) , at r ibui aos cant ador es a inser ção dos folhet os por t ugueses em t er r as br asileir as. Segundo o aut or , eles v iaj av am pelos vilarej os e cidades pequenas do ser t ão, “ im prov isando” v ersos. Com efeit o, há na lit er at ur a nacional, v ár ios regist ros de que o cost um e de cont ar hist ór ias nas fazendas ou engenhos sem pr e est ev e m uit o pr esent e

Sobr e o surgim ent o, fix ação e desenv olv im ent o da Lit er at ur a de Cor del na r egião Nor dest e do Br asil, não há div er gên cias. As ex plicações, ent r et ant o, às v ezes, v ar iam de um aut or par a out ro, m as apesar de cada um apresent ar sua v er são, percebe- se que t odas as v ersões lev am em cont a o cont ext o sócio- hist ór ico da época, bem com o as car act er íst icas e as par t icularidades do ser t ão nor dest ino. Vej am os, por ex em plo, a ex plicação de Diegues Júnior ( 1986, p. 40) :

No Nor dest e [ ...] , por condições sociai s e cult u rais peculi ar es, foi possível o su r gim en t o da lit er at u r a de cor del, de m an eir a com o se t or nou hoj e em di a, car act er ística da pr ópria fisionomia cultu r al da r egi ão. Fat or es d e for m ação soci al cont ri buír am par a isso; a or ganização da sociedad e pat r iar cal, o sur gi m ent o de m an ifest açõ es m essi ânicas, o ap ar ecim ent o de b an dos de cangaceiros ou ban di dos, as secas p er iódi cas pr ovocando desequ ilíbrios econômicos e sociais, as lu t as de fam ília der am opor t unidade, en t r e out r os fat or es, para qu e se ver ificasse o sur gi m ent o de gr upos de can t ador es com o inst r u m ent os do pen sam en t o colet ivo, das m anifest ações d a m em ória popular .

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par a o seu sur gim ent o, m as par a sua con solidação e desenvolv im ent o. Sem pr escindir dos elem ent os da lit eratu ra er udit a ocident al, adicionou a est es suas pr ópr ias car act eríst icas. Cabe r essalt ar que é sobr et udo nos Est ados de Pern am buco, Paraíba, Rio Gran de do Nort e e do Cear á que essa ar t e se m an ifest a de for m a t ão v igorosa.

Sobr e as m odalidades, t em as e t ít ulos con st ant es nos folhet os por t ugueses, encont r am - se no cat álogo de Ar naldo Sar aiv a ( 2 006, p. 7) , os seguint es:

Poesia nar r at iva, t eat r o, cr íti ca; au t os,dr am as, t r agédias, far sas, et r em ezes, m onólogos, desafios, com édias, sát ir as,i nvect ivas, p ar ódias, anedot as,car t as, cr ônicas, biogr afias, h ist órias, con t os, di ssert ações, elogios, ex em plos, t est am ent os, or ações, or áculos, hinos, canções, elegi as, f ados, décim as, odes, coplas, av en t ur as, paixões, sonhos, viagen s, suspiros, sucessos, con fissões, velhos e novos, prín cipes, b an didos, soldados, n am or ados, cléri gos, cr iados, deput ados, f anfar rões, fant asm as, Adão e Ev a, S. João e São Pedro, Paulo e Vi r gínia,Man uel e Mar ia, I m per at ri z Por cin a, Car l os Magno, Ber t olo, a Padar ia de Alj u bar rot a, Donzela Teodor a, João de Cal ais, Bocage, José do Telhado, Deus e o Diabo [ ...] .

O ano de 1830 é consider ado, hist or icam ent e, o pont o de par t ida da poesia popular nordest ina no Br asil, por ém o m ov im ent o edit or ial do cor del inicia- se som ent e em 1893, com Leandro Gom es de Bar r os, Chagas Bat ist a e Silvino Pir auá.

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A Lit erat u ra de Cordel, com o bem obser v a Benj am im ( 2001) , ex er ce plenam ent e um a fun ção de com unicação interm ediár ia, pois os folhet os não são apenas inform at ivos, m as t am bém opinat iv os e de ent r et enim ent o, ao que acr escent am os, e didát icos.

Ent r et ant o, a Lit er at ur a popular em v erso, no Br asil, difer ent em ent e de out r os países com o o Méx ico e a Argent ina, passou por div er sas fases de incom preensão e vicissit udes. As ver t ent es br asileir as desse t ipo de lit er at ura ex per im ent ar am um longo per íodo de desconh ecim ent o e despr ezo, dev ido a pr oblem as h ist ór icos locais, com o a int rodução t ar dia da im prensa no Br asil ( o últ im o país das Am ér icas a dispor de um a im pr ensa) , e a ex cessiv a im it ação de m odelos est ran geiros pelos int electu ais.

No Méx ico e n a Ar gent in a, onde essa m odalidade de produção lit er ár ia é aceit a e at é incluída nos est udos oficiais de lit er at ura, poem as com o “ La cucar acha” alcançar am enorm e popular idade, passando a ser can t ados no m undo int eiro; e o her ói do cor del ar gent ino, Mar t ín Fer r o, se t or nou sím bolo da nacionalidade plat ina, de acor do com as palav r as de Joseph M. Luyt en ( 2006) .

Pela ex posição feit a, m as, pr incipalm ent e, pela riqueza de infor m ações encont r ada em v ár ios aut or es ( que não cabe nos lim it es dest e t r abalho) podem os resum ir a im por t ância da Lit er at ur a de Cor del nest es t erm os: t r at a- se de um im port an te m eio de ex pr essão popular, com v alor didát ico, docum ent al, de crônica poét ica e hist ór ica que não dev e ser dissociado do seu cunho “ ficcin onal” , de ent r et enim en to e represent ação de u m a v isão de m undo par t icular . Assim , o v alor int r ínseco dest a lit erat ura com o part e da t r adição popular nordest ina, ou folclór ico- popular , com o quer em alguns aut or es, não pode ser negado.

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cer ca de dois m il aut ores classificados, ainda há poucas pesquisas sobre esse t em a t ão v igoroso.

2 .2 .1 O corde l com f ins didá t ico- pe d a gógicos

A ut ilização da poesia popular na inst rução de pessoas não é um a pr át ica r ecent e. De acordo com o hist or iador cearense Gust av o Bar roso ( 1921) , esse cam inho j á foi per cor r ido pelas cr ianças da Grécia ant iga7:

O en sino com eçava pela poesia, por ser o m eio m ais fácil de guar dar n a m em ór ia, nessa época em que livro er a r ar o... Assim pôde o povo gr ego con ser var , car inhosam en t e, de cor , os adm ir áveis cant os de seus r apsodos.

Dando um lon go salto n a hist ór ia podem os dizer que, difer ent em ent e do que ocor r ia na Gr écia ant iga, os liv r os hoj e não são m ais r ar idade, porém , ain da são car os e inacessív eis para um a gr ande par cela da população br asileir a. Adem ais, as polít icas públicas r elat iv as à dist ribuição de liv ros com prov am - se, ainda, ineficazes.

Em pesqu isa r ecent e – Ret ratos da leit ur a no Br asil ( 2008) – na respost a sobr e a form a de acesso aos liv ros que leem , as difer enças m ais significat iv as sur gem quando se in dica o acesso a

liv r os dist r ibuídos pelo gov erno: o núm ero decr esce

pr opor cionalm ent e à r enda, de 44/ % , par a aqueles com m enos de um salár io, para 9/ % ent r e aqueles de fam ílias com m ais de dez salár ios. Esse r esu lt ado lev a a um a pr eocupação fundam ent al: a am pliação do fosso social e da ex clusão. Nest e con t ext o, sur gem alt er nat iv as e in iciativ as par t icular es que v iabilizam o acesso à

7

Disponível em : < WWW: / / h t t p: / / www.cam ar abr asil eira.com / cor del03 .ht m> Acesso em : 1 0. ago. 20 10 .

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alfabet ização e leit ur a. E na região Nor dest e do Br asil o cor del configur a- se com o um a dessas alt er nat iv as.

Em r elação a isso é de gran de r elev ância o depoim ent o do poet a Ariev aldo Vian a,8 pois ele, cit ando seu pr ópr io ex em plo, r essalt a a im por t ância dos v ersos de cor del no pr ocesso de educação de par t e do pov o nor dest ino:

Fu i al fabet i zado pela lit er at u r a d e cor del , em 19 73 . Os folh et os er am as únicas leitu ras di sponíveis par a aquele m enin o do int erior . Pri m eir o, decor ava os v er sos lidos por m in ha avó. Depois, ela foi m e en sinando a ident ifi car as let r as e a for m ar p al avr as. [ .. .] As pessoas fi cavam im pr ession adas com aquele m enin o de sei s anos l en do cor del com desenvol t ur a.

O “ m enino” Ar iev aldo, hoj e um dos m ais r espeit ados poet as da lit er at ur a de cor del, é o idealizador do pr oj et o Acor da cordel na sala de aula. O pr oj et o ut iliza a poesia popular na Educação de Jov ens e Adult os ( EJA) . Foi adot ado inicialm ent e pela Secr et ar ia de Educação, Cult ur a e Desport o de Canindé, no Cear á, e difundido, post eriorm ent e, par a div er sos m un icípios. Ganhou porém , r eper cussão nacional, com o apoio da Academ ia Br asileir a de Lit er at ur a de Cor del, que passou a div ulgar am plam ent e a iniciat iv a em suas ant ologias e nas sessões r ealizadas por todo o Br asil.

O “ k it - educação” ut ilizado pelo pr oj et o t em sua dist r ibuição gr at uit a. E inclui, além de liv ros, um a coleção de doze folhet os. Nos cor déis que com põem o “ k it - educação” há, segundo Ariev aldo, um a pr eocu pação com o r igor gr am at ical. Esse cuidado t am bém se est en de aos v er sos originais de alguns cor delist as est udados dent ro do Pr oj et o, com o Leandr o Gom es de Bar r os e José Pacheco da Rocha. Conv ém r essalt ar que não são t odos os folhet os que ser v em ao

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pr opósit o de ut ilização em sala de aula. São selecionados apenas os aut or es e t em as consider ados m ais adequados.

Os t em as t r ansv ersais são os m ais fr equent em ent e escolhidos, pois est ão de acor do com as r ecom endações dos Par âm et r os Cur ricular es Nacionais ( PCNs) e São t em as consider ados polit icam ent e cor r et os. Com o ex em plo cit am os, ecologia, pr ev enção de doenças, com bat e ao pr econceito, etc.

O cor del, configur a- se, por t ant o, com o um recur so didát ico-pedagógico in t erdisciplinar , pois a v ar iedade dos t em as t r at ados nos cor déis perm it e um r ico diálogo ent r e as m ais div ersas disciplinas. Com efeit o, de acor do pesquisador es das ár eas de Geogr afia e Ciências, por ex em plo, há nesses cam pos do conhecim ent o um v ast o cont eúdo j á t r anscodificado em cor del.

A Didát ica do Cor del, folhet o de aut or ia de Ar iev aldo Viana, em par ceria com Zé Maria de For t aleza, ensin a m uitos segr edos de um bom cor del. Encont r am - se nest e folh et o noções de rim a, m ét r ica e or ações. O liv r o- base do Proj eto t r az um quest ion ár io que per m it e ao aluno ex er cit ar o que apr endeu no folhet o didát ico. I sso possibilit a a esse aluno não apen as o processo de decodificação, m as t am bém o de codificação, um a v ez que a ele é dado av ent ur ar- se não apenas com o leit or , m as t am bém com o aut or no univ er so da lit er at ur a de cor del.

A ideia de alfabet izar e incent iv ar a leit ur a por m eio do cor del, v em sendo usada com sucesso em Palm as, no Tocan t ins; em Mossor ó, no Rio Gr ande do Nort e; em Cam pina Gran de, na Par aíba; e em v ár ias cidades do Cear á.

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Fig u ra  1  –  Discur so de ped agogia do l éxico  Font e:  Bar bosa, 20 08
Fig u ra  2  –  Especificidade x I nt er di sciplin aridade
Fig u ra  4  –  Tensão vocábulo x t er m o  Font e:  Bar bosa, 19 98
Fig u ra  5  –  Docu m ent ais x fi ccionais
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