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Os sentidos da idade: morte e renascimento no processo de envelhecimento de mulheres executivas

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Academic year: 2017

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(1)

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

VANESSA MARTINES CEPELLOS

OS SENTIDOS DA IDADE:

Morte e renascimento no processo de envelhecimento de mulheres executivas

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VANESSA MARTINES CEPELLOS

OS SENTIDOS DA IDADE:

Morte e renascimento no processo de envelhecimento de mulheres executivas

Tese de Doutorado apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas, como requisito para obtenção do título de Doutora em Administração de Empresas.

Orientadora – Prof.a Dr.ª Maria José Tonelli

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Cepellos, Vanessa Martines.

Os sentidos da idade: morte e renascimento no processo de envelhecimento de mulheres executivas / Vanessa Martines Cepellos. - 2016.

269 f.

Orientador: Maria José Tonelli

Tese (doutorado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo.

1. Mulheres - Emprego. 2. Envelhecimento – Aspectos sociais. 3. Mulheres nos negócios. 4. Executivas. I. Tonelli, Maria José. II. Tese (doutorado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo. III. Título.

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VANESSA MARTINES CEPELLOS

OS SENTIDOS DA IDADE:

Morte e renascimento no processo de envelhecimento de mulheres executivas

Tese de Doutorado apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas, como requisito para obtenção do título de Doutora em Administração de Empresas.

Campo de Conhecimento: Estudos Organizacionais

Data da aprovação: ___/___/___ Banca examinadora:

_____________________________

Prof.a Dr.ª Maria José Tonelli (Orientadora) FGV-EAESP

_____________________________ Prof.a Dr.ª Isleide Fontenelle

FGV-EAESP

_____________________________ Prof. Dr. Joel Souza Dutra

Universidade de São Paulo

_____________________________

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Aos meus pais, Sérgio e Sueli.

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AGRADECIMENTOS

Desde a infância, eu sonhava em um dia poder criar algo meu. Por volta dos nove anos, eu escrevi um livro infantil. Meu pai, orgulhoso, editou o texto no computador, escolheu as imagens e imprimiu em formato de livro. Foi mágico e encantador. Os anos voaram e o pequeno livro se perdeu em meio às tralhas acumuladas que minha mãe cultivou em forma de lembranças. Apesar disso, guardo em minha memória o momento de satisfação quando vi minhas ideias criarem vida em papel.

Os anos se passaram. Durante a adolescência, eu me empenhava nas aulas de redação e aguardava ansiosamente pela avaliação dos professores no verso da folha. O foco das aulas era elaborar uma boa redação para o vestibular. Mas, meu objetivo era redigir para a vida. Enfim, era como se eu tivesse sempre algo a dizer.

Mais uma vez, o tempo passou e, de repente, eu estava matriculada no Programa de Doutorado em Administração de Empresas de São Paulo na Fundação Getulio Vargas. Admito que havia uma pontinha de prepotência em pensar que eu estava ali para criar algo meu, metodologicamente e teoricamente, apresentado em forma de tese.

Olhar para trás me permitiu saborear um pouco de tudo o que me fez chegar até aqui. Envelheci. Criei algo meu, mas aprendi que não se constrói nada sozinho. Egoísmo é, mesmo, coisa de criança.

Portanto, é com muito prazer que divido minha alegria com todos aqueles que estiveram ao meu lado e contribuíram para que esse trabalho fosse possível.

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À professora e orientadora Maria José Tonelli, que sempre acreditou em meu trabalho e esteve ao meu lado ao longo de minha trajetória acadêmica. Obrigada pela confiança, desde o início, em mim depositada, e por ter me dado a oportunidade de me desenvolver e alcançar meus objetivos.

Aos demais professores da Linha de Estudos Organizacionais da FGV-EAESP, que compartilharam momentos importantes de minha jornada e me inspiraram a busca do conhecimento.

À professora Nancy Harding, da Universidade de Bradford, na Inglaterra, que dedicou tempo e atenção durante as discussões ao longo do doutorado sanduíche. Obrigada por ter me acolhido e colaborado, ainda que em um curto espaço de tempo, imensamente, para o aperfeiçoamento deste trabalho.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo auxílio financeiro concedido durante o doutorado sanduíche.

Às mulheres entrevistadas, pelo prazer e pela honra de conhecê-las. Mulheres guerreiras: sem vocês, esse trabalho não existiria. Obrigada por terem me recebido e dedicado seu valioso tempo para o desenvolvimento deste trabalho. Tem um pedacinho de cada uma de vocês aqui.

Aos meus colegas, ou melhor, amigos do trabalho. Obrigada a todos do Núcleo Interdisciplinar de Professores da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), pela parceria, paciência e alegria de todos os dias. Vocês tornaram esse caminho mais leve e florido. Eu prometo que não falarei mais sobre transcrição de entrevistas ou perspectivas teóricas e metodológicas. Eu sei: minha cota já esgotou.

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“Nunca encontrei mulher alguma, nem na

literatura, nem na vida, que encarasse

com complacência a própria velhice”.

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RESUMO

Esta pesquisa está inserida em um contexto de crescente participação feminina no mercado de trabalho, especialmente com relação à ascensão da mulher a cargos estratégicos, além de um processo acelerado de envelhecimento populacional, constituindo uma das mais significativas transformações dos últimos anos. A participação feminina em cargos executivos e o processo de envelhecimento são tópicos pouco abordados na literatura acadêmica, tanto isolados quanto inter-relacionados, o que justifica a originalidade deste trabalho. Essas transformações coincidem ainda com o fato de que é a primeira vez que mulheres envelhecem em cargos executivos. Portanto, esta pesquisa tem por objetivo explorar como as mulheres executivas experimentam o processo de envelhecimento. A discussão se mostra relevante na medida em que esta mulher está inserida em um contexto organizacional de dominação masculina, predominantemente jovem, onde se espera que a mulher não ocupe cargos estratégicos. A pesquisa tem como base a perspectiva teórica do construcionismo social de Berger e Luckman (1999) e a abordagem metodológica qualitativa fundamentada nos dados (grounded theory), com base na perspectiva interacionista simbólica de Charmaz (2009). Os dados foram obtidos de 58 entrevistas com mulheres de 40 anos ou mais de idade que ocupam ou ocuparam posição executiva em organizações no Brasil. A pesquisa conclui que, por serem consideradas profissionais mais velhas antes do que os homens e devido aos estigmas associados à idade, as mulheres tendem a omitir o envelhecimento e buscar formas de não o aparentar no ambiente de trabalho. A teoria substantiva apresenta que o envelhecimento é compreendido a partir das noções de morte física, social e executiva e que o renascimento simbólico é uma forma de lidar com as concepções de mortes que persistem no imaginário das mulheres executivas. A teoria é provisória e contingente e reflete a interpretação de uma pesquisadora em particular. Espera-se que ela amplie o campo de estudos da Administração e estimule pesquisadores na continuidade da investigação acerca do envelhecimento de mulheres executivas.

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ABSTRACT

This research is inserted in a context of increasing female participation in the labor market, especially with regard to the rise of women to strategic positions, as well as an accelerated process of population aging, constituting one of the most significant changes in recent years. The participation of women in executive positions and the aging process are topics rarely approached in the academic literature, both isolated as interrelated, which justifies the originality of this work. These changes coincide even with the fact that it is the first time that women age in executive positions. Therefore, this research aims to explore how executive women experience the aging process. The discussion shows relevant to the extent that this woman is inserted in an organizational context of male dominance, predominantly young, where it is expected that the woman does not occupy strategic positions. The research is based on the theoretical perspective of social constructionism of Berger and Luckman (1999) and qualitative methodological approach (Grounded Theory), based on the symbolic interactionist perspective of Charmaz (2009). Data were obtained from 58 interviews with women aged 40 years or older who hold or have held executive position in organizations in Brazil. The research concludes that, for being considered older professionals rather than men and due the stigma associated with age, women tend to omit aging and look for ways to not appear in the workplace. Substantive theory shows that aging is understood from the notions of physical, social and business deaths and the symbolic rebirth is a way of dealing with the concepts of deaths that persist in the imagination of executive women. The theory is provisional and contingent and reflects the interpretation of a particular researcher. It is expected that will expand the management field of study and encourage researchers in the continuing investigation regarding the aging of executive women.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Perfil das entrevistadas da primeira fase ... 75

Quadro 2 – Principais códigos da primeira fase de coleta e análise de dados ... 76

Quadro 3 – Perfil das entrevistadas da segunda fase ... 78

Quadro 4 – Principais códigos da segunda fase de coleta e análise de dados ... 80

Quadro 5 – Perfil das entrevistadas da terceira fase ... 82

Quadro 6 – Principais códigos da terceira fase de coleta e análise de dados ... 83

Quadro 7 – Perfil das entrevistadas da quarta fase ... 85

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Distribuição percentual da população residente, por sexo, segundo os grupos de idade – Brasil 2002/2012. (Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá) ... 31

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LISTA DE TABELAS

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LISTA DE FIGURAS

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 19

2 O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL ... 26

2.1 Definição de envelhecimento ... 27

2.2 Aspectos demográficos do envelhecimento ... 29

2.3 Aspectos sociais do envelhecimento ... 32

2.3.1 A feminização do envelhecimento ... 33

2.3.2 A vulnerabilidade da mulher durante o envelhecimento ... 34

3 A MULHER NA ORGANIZAÇÃO ... 39

3.1 A mulher no mercado de trabalho ... 40

3.2 Participação feminina em cargos executivos ... 43

3.3 A mulher executiva e sua relação com o trabalho ... 44

4 ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA ... 55

4.1 O construcionismo social... 56

4.2 O método da grounded theory ... 60

4.3 Procedimentos metodológicos ... 74

4.3.1 As fases de coleta e análise dos dados ... 74

4.3.2 Codificações inicial, focalizada, axial e seletiva ... 87

4.4 Nos “bastidores” ... 93

4.4.1 A pesquisa sensível e a reflexividade do pesquisador ... 94

4.4.2 Narrativa maternal ... 96

4.4.3 Narrativa amigável ... 98

4.4.4 Narrativa competitiva ... 100

5 ANÁLISE DOS DADOS ... 104

5.1 Quem são estas mulheres? ... 104

5.1.1 Trajetória profissional... 105

5.1.2 Cotidiano da mulher executiva ... 125

5.2 O que são idade e envelhecimento? ... 139

5.2.1 A experiência do amadurecimento e a maturidade ... 139

5.2.2 A convivência com a morte ... 148

5.3 Quais as reações ao envelhecimento? ... 178

5.3.1 Resistência ao envelhecimento ... 179

5.3.1 Expectativa de renascimento ... 195

6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 218

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6.2 O reencontro com a literatura e as contribuições do estudo ... 222

6.3 Limitações e sugestões para futuras pesquisas ... 231

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 234

EPÍLOGO ... 240

REFERÊNCIAS ... 242

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Introdução 19

1 INTRODUÇÃO

O Brasil vem passando por inúmeras transformações econômicas, demográficas e culturais nos últimos anos. Uma dessas transformações é a crescente participação feminina no mercado de trabalho, especialmente a partir de 1970 (GIATTI; BARRETO, 2003). Desde a década de 70, o perfil do mercado brasileiro apresenta mudanças relativas a gênero (SANTOS, 2012), com as mulheres conquistando espaço em praticamente todas as atividades (CAPPELLE

et al., 2006) e sendo crescente o número daquelas que precisam trabalhar para sustentar sozinhas suas famílias (SANTOS, 2012).

Essas transformações na dinâmica socioeconômica provocam impacto significativo na força de trabalho das empresas (HENDERSON; FERREIRA, 2012, LIMA; TANURE, 2009), como mudanças no comportamento da mão de obra e nas relações sociais que se desenvolvem em seu interior (CAPPELLE et al., 2006). Pode-se dizer que as relações de trabalho ganharam novos significados, pois homens e mulheres passaram a concorrer por oportunidades de cargos e reconhecimento profissional (SANTOS, 2012) e muitas mulheres assumiram o protagonismo nos papéis sociais que estavam restritos aos homens, como o de provedor financeiro da vida familiar (MORI; COELHO, 2004, CASADO et al., 2010).

De acordo com Santos (2012), mediante à ascensão e ao crescente aumento da participação feminina no mercado de trabalho, surgiram novos tipos de contradições nos espaços de interação social, uma vez que, em grande parte das organizações, a lógica é calcada em valores “masculinos” – o que continua a ser um obstáculo para as mulheres. Nesse contexto, as relações de gênero demandam discussão e análises (SANTOS, 2012). Isso ocorre porque a empresa, antes de tudo, é um mundo de homens, que não foi pensada por mulheres, nem mesmo feita por elas, sendo necessário, portanto, compreender os mecanismos sobre os quais repousa a produção da diferença entre homens e mulheres no mundo das organizações (BELLE, 1993).

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Introdução 20

investimento psíquico parece ser maior do que o investimento das empreendedoras e maior do que o da maioria dos homens que almejam o mesmo cargo (BETIOL; TONELLI, 1991). Em algumas empresas no Brasil, as mulheres que alcançaram altos postos em organizações enfrentam múltiplas barreiras no cotidiano de trabalho, como uma carga maior de trabalho para se mostrarem competentes, além de serem aceitas somente quando se comportam com base em modelos masculinos (CARVALHO NETO et al., 2014). A necessidade de transformar as condições nas quais as mulheres se inserem e estão inseridas constitui-se em um desafio relevante para a construção de novas relações sociais, uma vez que a discriminação de gênero ainda se mostra um fator determinante para as possibilidades de acesso, permanência e condições de trabalho (DIEESE, 2013).

Apesar da discriminação de gênero enfrentada pela mulher durante o acesso e a permanência no trabalho (DIEESE, 2013), cada vez mais, ela está assumindo cargos estratégicos (SANTOS, 2012), dado que não existem barreiras formais para a promoção de mulheres para esses postos (ANDRADE, 2010). No entanto, quando a mulher assume cargos estratégicos não significa que ela esteja isenta de desafios ligados a um ambiente ainda masculino (LIMA; TANURE, 2009), uma vez que seu papel prossegue se configurando como uma dimensão suplementar em um universo de trabalho, antes de tudo, definido e sobretudo ocupado por homens (BELLE, 1993).

Essas mudanças estão sendo pesquisadas cientificamente nos estudos sobre relações de gênero – os quais, contudo, ainda não estão consolidados nas agendas dos pesquisadores em Administração em nosso país (CAPPELLE et al., 2006; SOUZA et al., 2013). Até o presente momento, grande parte da literatura apresenta como foco a inserção de mulheres no mercado formal em cargos não-executivos, com contratos de trabalho precários ou naquelas que permanecem no mercado informal (ANDRADE, 2008). Sendo assim, o tema das mulheres executivas surge como objeto de grandes questionamentos, uma vez que há poucos estudos sobre o assunto (ANDRADE, 2010).

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Introdução 21

com mais de 40 anos ainda não foram estudadas de forma isolada por pesquisadores de Administração de Empresas. No entanto, a questão da idade é relevante para a área, embora pouco abordada no âmbito acadêmico. O tópico se mostra pertinente, na medida em que o modo como as pessoas experimentam o trabalho e de que forma este se relaciona com essas experiências representam uma das preocupações da teoria organizacional (LAWRENCE, 1996).

Especialmente para o executivo, a idade é um elemento importante, uma vez que influencia o desempenho de seu papel na empresa (TANURE et al., 2007), mas são poucos os estudos acadêmicos da área que abordam as questões relacionadas às mulheres que ocupam cargos estratégicos (ANDRADE, 2008) – e as mulheres com mais idade também têm sido pouco estudadas (GIATTI; BARRETO, 2003).

A maioria dos trabalhos referentes ao envelhecimento não leva em consideração as características específicas de homens e mulheres, tratando-os de forma homogênea (MORI; COELHO, 2004). Isso vem acompanhado do fato de que os investigadores sociais são predominantemente homens e tendem a desconsiderar as especificidades da mulher mais velha (SALGADO, 2002). Além disso, o envelhecer para as mulheres ainda é um tabu a ser vencido. Muitas mulheres consideram que o processo é preocupante, pois as torna mais vulneráveis a transtornos físicos e psíquicos (LIMA; BUENO, 2009).

No entanto, é preciso considerar que, no cenário nacional, o processo de envelhecimento vem ganhando espaços cada vez maiores ao longo da segunda metade do século XX. Isso se dá devido aos aspectos demográficos de aumento da expectativa de vida do brasileiro (FRANÇA, 2011) e do número de adultos mais velhos no Brasil na última década (IBGE, 2013). Essa tendência se reflete também no envelhecimento da força de trabalho, o que implica, inclusive, em mudanças necessárias por parte dos gestores para esse novo cenário (LINS et al., 2013).

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Introdução 22

Apesar do aumento do interesse pelo tema do envelhecimento populacional (FONTOURA; PICCININI, 2012), o tópico tem sido insuficientemente examinado na área da Administração (LOCATELLI; FONTOURA, 2013), embora amplamente conceituado pelas disciplinas de Biologia, Sociologia e Psicologia (BALTES et al., 2012). O envelhecimento do mercado de trabalho, tópico intimamente associado à aposentadoria e escassez de competências, está, no entanto, dentre alguns dos desafios para a área da Gestão de Pessoas (BARRETO et al., 2010). Autores abordam o tema a partir da perspectiva da diversidade, quando alguns comportamentos acerca do desenvolvimento profissional se mostram peculiares a cada faixa etária, e utilizam como refência, portanto, os aspectos geracionais (VELOSO et al. 2008; SILVA, 2014). Embora as empresas apresentem transformações na forma como efetuam a Gestão de Pessoas, devido às grandes mudanças na organização do trabalho e no relacionamento entre elas e as pessoas (DUTRA, 2002), as práticas e as ações dessa área referentes ao envelhecimento dos profissionais não têm recebido a atenção suficiente por parte das publicações acadêmicas, prejudicando que se acompanhe como as organizações brasileiras estão respondendo a este fenômeno (FONTOURA; PICCININI, 2012).

A importância deste estudo está em sintonia com a tendência dos trabalhos a respeito do envelhecimento, que visam a integração de perspectivas teóricas interdisciplinares (GANS et al., 2009) para a melhor compreensão do fenômeno. Apesar deste esforço, a produção interdisciplinar ainda não é ampla e suficiente (BENGTSON et al., 2009). Segundo Baltes et al. (2012), é importante compreender a interação de perspectivas teóricas, particularmente quando se considera o impacto do envelhecimento no ambiente de trabalho, pois se trata de um espaço no qual muitas facetas do envelhecimento são experimentadas. Entendemos, portanto, que o estudo a respeito do envelhecimento, a partir da Administração, tem possibilidade de colaborar, em conjunto com outras disciplinas, na compreensão do fenômeno de envelhecimento.

Aliada à importância da Administração para compor a integração com outras perspectivas na compreensão do envelhecimento, a teorização de intersecções de múltiplas desigualdades também é uma questão central nos estudos de gênero do século XXI (HARDING

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Introdução 23

intersecções raramente são exploradas nos estudos de Administração (JYRKINEN; McKIE, 2012).

Portanto, considerando as lacunas apresentadas até este momento, como também a importância de se compreender os atuais fenômenos de ascensão e de envelhecimento da mulher no mercado de trabalho, definimos como objeto de estudo o envelhecimento da mulher executiva. Para a concepção deste trabalho, foram realizadas 58 entrevistas – que foram analisadas sob a perspectiva da grounded theory, traduzida por teoria fundamentada nos dados. Esta metodologia permite especificar e refinar a pergunta de pesquisa e outros elementos do projeto (HENWOOD; PIDGEON, 2010). Neste trabalho, a análise das entrevistas permitiu definir os objetivos do estudo, a pergunta de pesquisa e a amostragem teórica. Inicialmente, a pergunta de pesquisa a ser respondida era “Como o envelhecimento afeta as esferas pessoal e profissional da mulher executiva brasileira?”. No entanto, as entrevistadas alegaram não existir separação entre as esferas pessoal e profissional. Por conta disso, a pergunta de pesquisa foi redefinida e passou a ser “Como o envelhecimento afeta a vida da mulher executiva brasileira?”. Em um terceiro momento, ela foi redefinida e se manteve até o final deste trabalho. Portanto, podemos dizer que este estudo visou responder à seguinte pergunta de pesquisa: “Como as mulheres executivas experimentam o processo de envelhecimento?”.

Delimitamos, como objetivos específicos do trabalho, os seguintes aspectos:

x Investigar os sentidos do envelhecimento e da idade para a mulher executiva.

x Investigar as oportunidades e as dificuldades que a mulher executiva enfrentou durante a trajetória profissional.

x Investigar a importância do trabalho no momento da vida em que se encontram.

x Investigar com quais desafios a mulher executiva se depara no espaço organizacional e como ela os enfrenta.

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Introdução 24

principais sinais do corpo, como cabelos brancos, rugas e cansaço físico. Por esta razão, entrevistamos mulheres executivas com 40 anos ou mais de idade.

Essencialmente, o papel da grounded theory é gerar uma nova teoria que explique a relação da experiência coletiva ou individual para a sociedade, a história, o grupo ou a organização (GOULDING, 2009). Por esta razão, a metodologia se mostrou uma abordagem apropriada para este estudo, pois permitiu teorizar a respeito do processo de envelhecimento da mulher executiva brasileira, uma vez que não foram encontradas teorias na literatura que

suportassem a compreensão do fenômeno.

Uma das questões amplamente discutidas a respeito da grounded theory é como escrever e apresentar um estudo que utilize esta metodologia. Alguns pesquisadores acreditam que o estudo deva ser escrito de acordo como é conduzido: apresentando a questão de pesquisa, a discussão dos dados coletados e os códigos seguidos de resultados, a teoria e a contextualização da literatura. Mas, geralmente, estudos apoiados na grounded theory são escritos da maneira convencional: a literatura contextual, a metodologia, a interpretação e os achados teóricos (GOULDING, 2009). Portanto, neste trabalho, será apresentada a estrutura tradicionalmente sugerida.

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O Envelhecimento Populacional 26

2 O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL

O envelhecimento é um fenômeno que tem despertado a atenção dos estudiosos de diversas áreas do conhecimento e tem sido abordado sob diferentes perspectivas ao longo dos anos. Segundo Beauvoir (1970a), os primeiros estudos tiveram início no século XV e abordavam tópicos relacionados à higiene preventiva, ao diagnóstico e à terapêutica. A autora prossegue e conta que do século XVII ao século XIX perduraram os estudos que tratavam o envelhecimento como uma doença incurável. As pesquisas sobre o fenômeno multiplicaram-se e ele passou a ser estudado a partir de três aspectos: o biológico, o psicológico e o social (BEAUVOIR, 1970a). Durante o século XX, grande parte dos estudos ainda estava relacionada às áreas de medicina e de biologia, portanto, praticamente não havia estudo sociológico ou antropológico sobre o tema (BARROS, 2006). A dificuldade de encontrar bibliografia destes gêneros provém da tendência em valorizar a infância e a juventude como temas centrais de atenção – não só do ponto de vista social como também enquanto objeto de estudo (BARROS, 2006).

Atualmente, o envelhecimento é estudado sob múltiplos paradigmas, com perspectivas teóricas que operam e se transformam ao mesmo tempo, uma vez que ele é entendido como um fenômeno complexo e diverso (BENGTSON et al., 2009). Assim, de acordo com Gans et al. (2009), o escopo teórico é focado em pequenas partes que se complementam, ao invés de uma teoria geral a respeito do tema, pois a utilização de somente um ponto de vista limita a compreensão do fenômeno e pode obstruir a habilidade de ver outras dimensões do processo de envelhecimento. Outra característica apontada pelos autores, a respeito dos estudos contemporâneos sobre o tópico, é o foco na variabilidade ao invés da universalidade. A tentativa é de compreender como os indivíduos operam em diferentes contextos e como o processo intrínseco é afetado por eventos extrínsecos (GANS et al., 2009).

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O Envelhecimento Populacional 27

2.1 Definição de envelhecimento

Para explorar a definição de envelhecimento, recorremos aos estudos de Simone de Beauvoir realizados a partir de 1970. Beauvoir procurou discutir o tema da velhice que foi, por muito tempo, segundo a própria autora, um assunto considerado desagradável para a sociedade. Segundo Beauvoir (1970a), o sentido e o valor atribuídos à velhice variam com as sociedades e se apresenta como um fato trans-histórico, suscitando um certo número de reações idênticas. Organicamente falando, o envelhecimento representa um declínio e acarreta uma consequência econômica ao envelhecido: torna-se improdutivo. Para alguns, o envelhecimento se inicia aos 40 anos, para outros, aos 80 (BEAUVOIR, 1970a).

No entanto, envelhecimento não representa somente um fato biológico, sendo também abordado como um fato cultural. Segundo Beauvoir (1970a), de acordo com esta perspectiva, o envelhecimento é vivido de maneira variável segundo o contexto social. Por isso, a autora enfatiza que, para compreender sua realidade e o seu significado, é indispensável examinar qual o lugar atribuído aos velhos e qual a sua imagem em diferentes épocas e em diferentes lugares.

De acordo com Nelson (2005), a visão cultural considera as diferentes representações que os velhos assumiram ao longo dos anos em diferentes sociedades. Em algumas sociedades pré-históricas e agrárias, os mais velhos eram considerados sábios e guardiões das tradições e da história de seu povo (NELSON, 2005); em outras, a idade não constituía nem decadência, nem fonte de prestígio; e havia aquelas, ainda, nas quais os velhos eram frequentemente expulsos da coletividade de maneira brutal (BEAUVOIR, 1970a).

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O Envelhecimento Populacional 28

Uma vez que a economia se baseia no lucro, é praticamente a ele que está subordinada toda a civilização: o material humano só desperta interesse na medida em que pode ser produtivo (BEAUVOIR, 1970a). Neste sentido, ao longo dos anos, os parâmetros de declínio foram sendo reforçados pelos proprietários industriais e suas novas tecnologias, que consideravam que os velhos não se inseriam mais no cálculo econômico, pois homens e mulheres mais jovens poderiam obter maior rendimento (FINEMAN, 2011). Isso ocorre porque, na sociedade capitalista, o valor está associado ao fato de ser um membro produtivo para a economia formal (NELSON, 2002).

Além de ser considerado um fato cultural, o envelhecimento também é entendido como uma categoria socialmente produzida, representada pela variabilidade das formas com as quais se configura o envelhecimento e como a imagem do velho é concebida a partir dos jovens em um determinado contexto histórico (DEBERT, 2007). Por esta razão, pode não haver uma definição clara para o termo envelhecimento. A concepção cultural do envelhecimento e a existência do velho como uma categoria social concorrem com a visão biológica e o enfraquecimento progressivo natural (HENRARD, 1996).

Atualmente, persiste a associação do velho às representações negativas, em que eles são tratados como cidadãos de segunda classe, sem nada a oferecer à sociedade – na qual a discriminação tende a se manifestar de forma sutil no cotidiano da pessoa de média idade e dos mais velhos (NELSON, 2002). No entanto, a tendência contemporânea é rever os estereótipos negativos associados ao envelhecimento, com a ideia de um processo de perdas sendo substituída pela consideração de que o envelhecimento é um estágio propício para novas conquistas, guiadas pela busca do prazer e da satisfação pessoal (DEBERT, 2004).

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O Envelhecimento Populacional 29

2.2 Aspectos demográficos do envelhecimento

De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (2012), o envelhecimento populacional é uma das mais significativas tendências do século XXI e apresenta implicações importantes e de longo alcance para todos os domínios da sociedade. O fenômeno é concebido a partir do declínio das taxas de fecundidade e do aumento da longevidade (FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2012).

Segundo Gavrilov e Heuveline (2003), o envelhecimento populacional se iniciou em países desenvolvidos e industrializados. Mas, atualmente, as economias em desenvolvimento também têm apresentado crescente proporção de pessoas mais velhas (GAVRILOV; HEUVELINE, 2003). Ainda assim, a maioria das pessoas mantém a imagem de um mundo que apresenta alta proporção de crianças, relativamente baixas proporções de pessoas mais velhas e força de trabalho abundante (PHILLIPS; SIU, 2012).

A população mundial tem envelhecido há milênios, mas o que há de novo nas últimas décadas é a velocidade com que o envelhecimento está ocorrendo (GAVRILOV; HEUVELINE, 2003). Em meados de 2011, a população mundial com idade acima de 65 anos era estimada em 546 milhões de pessoas, o que representava 7,9% do total; já em 2050, estima-se que os mais velhos estima-sejam 19,3% da população mundial (GAVRILOV; HEUVELINE, 2003).

Além disso, o Fundo de População das Nações Unidas (2012) mostra que a expectativa de vida ao nascer aumentou substancialmente em todo o mundo e o aumento da longevidade se mostra uma das maiores conquistas da humanidade. Entre 2010 e 2015, a expectativa de vida passou a ser de 78 anos, nos países desenvolvidos, e 68, nos países em desenvolvimento. Espera-se que em 2040-2045, a expectativa de vida seja de 83 anos, nas regiões desenvolvidas, e 74, naquelas em desenvolvimento. As pessoas vivem mais em razão de melhoras na nutrição, nas condições sanitárias, nos avanços da medicina, nos cuidados com a saúde, no ensino e no bem-estar econômico (FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2012).

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afirmam que países desenvolvidos já estão experimentando escassez de força de trabalho e encolhimento da população que está em idade de trabalhar.

No Brasil, a partir do século XX, a dinâmica demográfica passou a sofrer influência de três fatores: diminuição da mortalidade infantil, queda na fecundidade e redução da mortalidade adulta (GIAMBIAGI; TAFNER, 2010). Além destes fatores, a exemplo do que aconteceu em todo o mundo, a expectativa de vida do brasileiro aumentou consideravelmente – e isso tudo em uma velocidade muito rápida (FRANÇA, 2011; GIAMBIAGI; TAFNER, 2010). De acordo com Giambiagi e Tafner (2010), a consequência dessas transformações demográficas foi o aumento da esperança de vida ao nascer e da idade mediana1. Segundo os autores, a idade mediana, que, na década de 1950, era de 19,2 anos, em 2000, passou a ser 25,3 anos e, a partir de 2010, começou a se elevar de forma acentuada. Segundo esses autores, as projeções indicam que, em 2020, a idade mediana será 33,6 anos e, em 2050, será de 45,6 anos. Com relação à esperança de vida ao nascer, houve um salto de 50,9 anos, em 1950, para 71, no ano 2000 (GIAMBIAGI; TAFNER, 2010). Atualmente, a expectativa de vida do brasileiro já ultrapassa os 73 anos (FRANÇA, 2011) e estima-se que em 2020 seja de quase 76 anos (GIAMBIAGI; TAFNER, 2010).

Além do aumento da esperança de vida ao nascer e da idade mediana, nota-se aumento no número de adultos mais velhos no Brasil nas últimas décadas. Segundo os dados do IBGE (2013), em 2002, o estreitamento da base da pirâmide populacional já era um fenômeno presente, ou seja, a participação dos grupos de 0 a 4 e de 5 a 9 anos de idade era inferior à do grupo de 10 a 14 anos de idade. O levantamento também mostra que, na estrutura etária populacional de 2012, o estreitamento da base da pirâmide está ainda mais acentuado. Comparando os dois anos, a partir do Gráfico 1, verifica-se que a participação do grupo com até 24 anos de idade passa de 47,4%, em 2002, para 39,6%, em 2012. Além disso, o aumento da participação do grupo com 45 anos ou mais de idade fica evidente: em 2002, era de 23,0%, atingindo 29,9%, em 2012. Com relação à participação relativa dos idosos de 60 anos ou mais de idade, os dados mostram que foi de 12,6% da população no ano de 2012. Para o grupo com 65 anos ou mais de idade, a participação foi de 8,6%.

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Gráfico 1 – Distribuição percentual da população residente, por sexo, segundo os grupos de idade – Brasil 2002/2012. (Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá) Fonte: IBGE, 2013.

Apesar da já evidente inversão da pirâmide populacional, a estimativa é que, nos próximos 40 anos, a proporção da população com 60 anos ou mais em relação à população total ainda triplique (GIAMBIAGI; TAFNER, 2010; FRANÇA, 2011). As projeções realizadas pelo IBGE (2013) indicam que o aumento na participação relativa do grupo de 60 anos ou mais de idade passará de 13,8%, em 2020, para 33,7%, em 2060. Espera-se, ainda, que este grupo de idosos seja maior do que o grupo de crianças com até 14 anos de idade, após 2030, e, para 2055, estima-se que a participação de idosos na população total seja maior do que a de crianças e jovens com até 29 anos de idade (IBGE, 2013).

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jovem acarretará, no médio e longo prazos, na redução da PIA e no aumento da proporção dos idosos (NONATO et al., 2012).

Nonato et al. (2012) relatam que, embora o Brasil esteja passando pelo “bônus

demográfico”2, a partir de meados de 2020 se iniciará um processo de redução da força de trabalho no país, provocando aumento da razão de dependência – que pode levar a um potencial “ônus demográfico”. É possível que o país apresente, no ano de 2050, praticamente o mesmo número de indivíduos entre 15 e 59 anos que em 2010, mas com uma população idosa muito mais numerosa que a atual, tornando necessário o aumento de produtividade para poder arcar com esse ônus (GIAMBIAGI; TAFNER, 2010).

Outra opção para arcar com o ônus é o incentivo ao trabalho do idoso. Phillips e Siu (2012) apontam que, para este caso, existem algumas medidas: forte incentivo financeiro para continuar a trabalhar, eliminação dos subsídios para a aposentadoria precoce, adaptação do salário e adoção de práticas de emprego que visem a contratação e a retenção destes profissionais e, finalmente, melhoria das atitudes no trabalho entre empregadores e trabalhadores mais velhos.

Quando se trata do envelhecimento, outra característica que a população mundial e a população do Brasil vêm enfrentando é a sua feminização. Este processo será explorado com maior profundidade na próxima seção, como um dos aspectos sociais relevantes para este estudo.

2.3 Aspectos sociais do envelhecimento

Primeiramente, será apresentada nesta seção a feminização do envelhecimento, que se configura como uma característica mundial e nacional. Sua importância está atrelada, entre outros fatores, à vulnerabilidade da mulher mais velha. Este último tópico também será

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abordado, na tentativa de melhor compreensão da problemática relacionada ao envelhecimento da mulher.

2.3.1 A feminização do envelhecimento

No mundo, em geral, existe proporção maior de mulheres idosas do que de homens, quando se considera a população total de cada sexo (SALGADO, 2002). Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (2012), para cada 100 mulheres com 60 anos ou mais em todo o mundo, há apenas 84 homens. E para cada grupo de 100 mulheres com 80 anos ou mais, existem apenas 61 homens.

A população brasileira também é composta predominantemente por mulheres. Dados do IBGE (2012) apontam que 51,3% da população é composta mulheres, enquanto 48,7% é composta por homens. Em 2000, para cada 100 mulheres idosas havia 81 homens idosos. Em 2050, essa relação será de 100 idosas para 76 idosos (CARVALHO; WONG, 2008).

Embora nasçam mais homens, as mulheres são as que vivem mais (CAMARANO, 2006). Em média, as mulheres vivem sete anos a mais do que os homens (SALGADO, 2002). Devido ao aumento do número de mulheres mais velhas na população mundial (e brasileira), diz-se que há uma “feminização” do envelhecimento em áreas urbanas (GAVRILOV; HEUVELINE, 2003; CAMARANO, 2004; LIMA; BUENO, 2009). Além disso, os problemas ou as mudanças que surgem na etapa da velhice – como doenças crônicas, recursos econômicos insuficientes, necessidades de atenção ou cuidado, entre outros – são, predominantemente, problemas femininos (SALGADO, 2002). A mulher mais velha é universalmente maltratada, vista como uma carga e suas necessidades permanecem, em sua maioria, ignoradas e vulneráveis (SALGADO, 2002).

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CAMARANO, 2006; FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2012).

No próximo subcapítulo, serão expostos os principais tópicos que levam as mulheres a serem consideradas mais vulneráveis durante o processo de envelhecimento do que os homens.

2.3.2 A vulnerabilidade da mulher durante o envelhecimento

Diversos fatores levam as mulheres à maior vulnerabilidade durante o processo de envelhecimento. Primeiramente, elas apresentam maiores taxas de dependência e declínio da capacidade funcional, o que as leva à maior fragilidade e perda da autonomia e acaba impedindo-as de realizarem suas atividades cotidianas (PAZ et al., 2006). Além disso, as mulheres predominam em instituições de longa permanência, passam por maior debilidade física antes da morte e são mais dependentes de cuidado, embora exerçam o papel de cuidadoras (CAMARANO, 2006).

Barros (2006) afirma que, em comparação com a velhice dos homens, a velhice das mulheres parece ser considerada insignificante socialmente. Primeiro, pois ao homem é concedida maior atenção, na medida em que se percebe a aposentadoria como uma mudança radical de vida – uma passagem de um mundo público para um mundo doméstico. Na mulher, a velhice não traz essa carga de mudança abrupta. A mulher na velhice está no último estágio de um continuum ligado à esfera doméstica, porque é a este mundo interno do lar, da família e da casa que a mulher está ideologicamente vinculada. Nesse quadro, no qual ela é um elemento da hierarquia familiar, não há status enquanto indivíduo (BARROS, 2006).

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Outro fator que torna a mulher mais vulnerável durante o envelhecimento é a maior probabilidade de ocorrência de problemas relacionados à adaptação às mudanças fisiológicas decorrentes da idade, o que pode se transformar em conflitos com a identidade (LIMA; BUENO, 2009). Segundo Mori e Coelho (2004), as condições físico-psíquicas da menopausa tornam-nas mais fragilizadas pelo envelhecimento do corpo, fazendo com que a questão da finitude se apresente com mais constância entre as mulheres. Além da menopausa, é necessário considerar fatores socioculturais, tais como: a descrição de alguns sintomas e como estes afetam a força de trabalho; a questão das atividades e das emoções; a questão da vivência de diferentes papéis como mãe, esposa, mulher e trabalhadora (MORI; COELHO, 2004).

Lima e Bueno (2009) enfatizam que, em relação à sexualidade, por exemplo, é preciso levar em conta que existe diminuição natural da libido, que, muitas vezes, é agravada não apenas pelo envelhecimento, mas também em função do mau relacionamento com o parceiro, com a dificuldade que ambos têm em aceitar as mudanças ocorridas nesta fase. A fase da vida que as mulheres têm para descansar, viver intensamente e com qualidade é transformada em medo, angústia, isolamento social e sofrimento para uma boa parcela das mulheres (LIMA; BUENO, 2009).

Mori e Coelho (2004) também trazem suas contribuições com relação ao tópico da sexualidade das mulheres que envelhecem. Segundo as autoras, as mulheres se tornam mais vulneráveis durante o processo de envelhecimento, devido à valorização da juventude na sociedade atual. Elas acabam por conceituarem sua própria imagem diante do espelho como algo negativo, se depreciam mesmo antes da velhice se instalar. Esta visão as denuncia sob o ponto de vista estético, correlacionando a funcionalidade do corpo e o significado social que cada cultura tem sobre essa fase da vida (MORI; COELHO, 2004).

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envelhecimento ou, ainda, um encobrimento do possível estigma que o acompanha (BARROS, 2006).

Assim como o corpo, o marido também pode ser considerado um capital, denominado capital marital. Em um contexto em que homens disponíveis são raros e escassos, principalmente na faixa etária estudada, a perda deste capital também é enfrentado pelas mulheres (GOLDENBERG, 2011).

A outra razão pela qual as mulheres mais velhas se mostram mais vulneráveis durante o envelhecimento está no fato de sofrerem discriminação e estarem mais sujeitas ao abuso (FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2012). Esta discriminação é composta pelo sexismo e pela dupla mensagem que considera velha a mulher mesmo que com idade inferior à do homem, sendo que os homens em idade avançada são considerados durões, rudes e viris, além de serem atraentes, mesmo com calvíce ou com cabelos brancos – o que, nas mulheres, é um sinal de decadência (SALGADO, 2002). Neste sentido, é possível admirar os homens mais velhos, pois eles não representam presas; não se exige deles nem viço, nem doçura, nem graça, apenas força e inteligência (BEAUVOIR, 1970b).

Apesar dos fatores que tornam a mulher mais velha vulnerável, este período pode ser tão ou mais agradável do que qualquer outro. Segundo Salgado (2002), apesar da solidão, a mulher mantém a habilidade em estabelecer amizades, configurando uma maneira de dar sentido de identidade positivo e de desenvolver novos papéis. Se antes o envelhecimento levava a mulher a desempenhar fortemente o papel de avó, hoje o envelhecimento tem sido, para algumas, tempo de realização de sonhos e desejos postergados (MORI; COELHO, 2004). Muitas mulheres decidem utilizar seu tempo e suas habilidades de novas formas, quando não se sentem mais na obrigação de criarem os filhos (SALGADO, 2002).

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novas formas de valorização do processo de envelhecimento e fazer com que este momento não seja uma reprodução dos valores da juventude (LIMA; BUENO, 2009).

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3 A MULHER NA ORGANIZAÇÃO

De acordo com Calás e Smircich (2004), o tema de gênero nas organizações e, mais especificamente, a produção científica a respeito da mulher no universo profissional, tem recebido atenção de pesquisadores. Segundo as autoras, desde os anos 1960, grande parte da literatura vem registrando desigualdades nos locais de trabalho, em termos de ocupações segregadas, desigualdades remuneratórias e carreiras com pequena amplitude.

Recentemente, Cappelle et al. (2006) se dedicaram à análise da produção científica de uma década dos estudos de gênero na Administração e identificaram que os principais tópicos discutidos foram: a inserção da mulher no mercado de trabalho, o estilo de gestão feminino, a problemática da conciliação trabalho-família, a influência do sexo no comportamento de homens e mulheres e as representações femininas em veículos de divulgação organizacional. Na área de Administração, os temas se desenvolveram para o estudo da diversidade de gênero, poder e suas respectivas implicações no desenvolvimento do trabalho feminino, além dos desafios enfrentados pela mulher e as aplicações de abordagens feministas (SOUZA et al.,2013).

Na medida em que este trabalho apresenta como foco a mulher executiva, faz-se necessário compreender como ela tem sido abordada nos estudos acadêmicos internacionais e nacionais ao longo dos últimos anos.

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organizacional e relações de gênero, conflitos trabalho-família e questões de identidade relacionadas ao gênero (MORGADO, 2012).

Pode-se perceber, portanto, que a produção científica a respeito da mulher na organização encontra-se em pleno desenvolvimento. É neste contexto que este estudo visa dar continuidade à temática da mulher na posição executiva, enfatizando, ainda, a convivência com o processo de envelhecimento. A próxima seção irá abordar como ocorreu a entrada da mulher no mercado de trabalho e suas principais características no momento atual. Depois, o foco será na participação da mulher em cargos executivos; em seguida, como se estabelece a relação da mulher executiva com o trabalho e, por fim, as principais temáticas a respeito do envelhecimento da mulher executiva.

3.1 A mulher no mercado de trabalho

Há algumas décadas, a porcentagem de mulheres economicamente ativas tem aumentado consideravelmente (SANTOS, 2012). De acordo com Santos (2012), isso se deve, entre outros fatores, aos movimentos políticos e sociais ocorridos no mundo entre as décadas de 1960 e 1970.

No Brasil, um fator de grande relevância para a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho refere-se à estagnação econômica, à elevada inflação e às mudanças na estrutura do emprego vividas pelo país na década de 1980 (SANTOS, 2012). Outro fator que estimulou a inserção produtiva das mulheres brasileiras está relacionado à expansão da economia de serviços nas últimas décadas (LAVINAS, 2001).

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O Gráfico 2 apresenta a evolução, entre 1981 e 2009, das taxas de participação por sexo e faixas etárias, permitindo perceber a intensidade com a qual a mulher adentrou no mercado de trabalho formal brasileiro nesse período (NONATO, et al., 2012).

Gráfico 2 – Brasil: evolução da taxa de participação no mercado de trabalho por sexo – 1981/2009. Fonte: NONATO et al. (2012).

Além disso, segundo dados do IBGE (2012), a taxa de desocupação entre as mulheres em 2011 foi menos da metade daquela verificada em 2003. Em 2003, a taxa foi de 15,2% e, em 2011, foi de 7,5%. Entre os homens, a taxa de desocupação foi de 10,1% e, em 2011, foi de 4,7%. O grupo etário de mulheres com 50 anos ou mais de idade, em 2003, foi o único a apresentar taxa de desocupação inferior ao dos homens, 5,1% contra 5,4%, respectivamente (IBGE, 2012). Com relação à taxa de ocupação, os dados mostram que, em 2011, no grupo das mulheres ocupadas que tinham entre 25 e 49 anos de idade, o percentual foi de 63,9% e, no grupo dos homens, este percentual foi de 61% (IBGE, 2012). Naquele mesmo ano, as mulheres ocupadas com 50 anos ou mais de idade alcançavam 20,9%, enquanto o percentual de homens ocupados nessa mesma faixa etária foi de 22,9% (IBGE, 2012).

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2012).

Entre 2011 e 2012, a inserção feminina na força de trabalho continuou a aumentar, mesmo que ainda inferior a inserção dos homens (DIEESE, 2013). Além disso, o número de mulheres desempregadas também diminuiu, embora ainda fosse superior ao número de homens desempregados – como é possível observar na Tabela 1.

Tabela 1 – Estimativa da População Economicamente Ativa, População Ocupada e Desempregada, segundo sexo – Regiões Metropolitanas e Distrito Federal. 2011 e 2012.

Fonte: DIEESE, 2013.

Segundo Lavinas (2011), o diferencial de gênero que capacita as mulheres a disputarem espaço no mercado de trabalho com mais sucesso do que os homens é seu nível médio de escolaridade mais alto (37%) e seu patamar de remuneração (25%) ainda inferior. No entanto, esse melhor desempenho da ocupação feminina no período não eliminou a histórica desigualdade nas oportunidades de inserção ocupacional entre homens e mulheres. Um fato positivo é que as mulheres conquistaram aumentos salariais superiores aos dos homens (DIEESE, 2013). Segundo dados do IBGE (2012), entre 2003 e 2011, o rendimento do trabalho das mulheres aumentou 24,9%, enquanto que o dos homens apresentou aumento de 22,3%. Apesar destes resultados, os rendimentos da população masculina se apresentaram superiores aos da feminina, mesmo quando foram analisados grupos de pessoas com a mesma escolaridade e do mesmo grupamento de atividade. Por exemplo, em 2011, o rendimento médio das mulheres foi R$1.343,81 e o dos homens foi R$1.857,63 (IBGE, 2012).

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De acordo com Nonato et al. (2012), para que a mulher continue participando do mercado formal de trabalho, é necessário que as condições econômicas, sociais e culturais sejam propícias para a entrada ainda mais acentuada. Caso prossiga a tendência das últimas décadas, a força de trabalho feminina deverá ser a principal responsável pelo crescimento da PEA brasileira (NONATO et al., 2012).

Na próxima seção, serão apresentados os principais dados referentes à participação da mulher em cargo executivo, ainda que ela seja minoria se comparada com o número de homens que ocupam a mesma posição.

3.2 Participação feminina em cargos executivos

Apesar do aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho ao longo dos últimos anos, parece que a discriminação com relação ao trabalho feminino ainda persiste no espaço organizacional. Talvez por isso, a mulher no topo da hierarquia organizacional ainda seja um fenômeno raro – quanto mais se sobe na hierarquia empresarial, menos mulheres são encontradas (CASADO et al., 2010; CARVALHO NETO et al., 2010). Uma das razões apontadas para que isso ocorra é a crença de que determinados tipos de trabalho não são feitos para mulheres (CARVALHO NETO et al., 2010). Logo, os homens continuam ocupando os mais altos cargos de gestão, tanto mundialmente, quanto nacionalmente (HENDERSON, FERREIRA, 2012; SANTOS, 2012).

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maior proporção de mulheres em seus conselhos superaram em 66% as concorrentes em relação ao capital investido, 53% em relação ao retorno sobre o patrimônio e 42% em relação às vendas.

A respeito da participação feminina nos conselhos de administração, os dados da pesquisa mostraram que o número ainda é menor do que nos cargos de liderança. No Brasil, é de 13% e, no mundo, é de 19% (GRANT THORNTON, 2013). Não obstante, é possível notar aumento, nos últimos anos, da participação das mulheres nesta posição. Segundo uma pesquisa realizada pelo IBGC (2012), no total de 2.647 posições de conselho, em maio de 2011, 7,71% se mostraram ocupadas por mulheres. Este dado contrapõe-se aos 7,10%, de 2010, com uma base de 3.046 posições efetivas.

Nesta seção, foi possível observar qual a posição da mulher nos cargos de gestão mundialmente e nacionalmente. Notou-se que, embora minoria, se comparada à participação masculina, a mulher tem ganhado destaque em posições estratégicas, o que se mostra um fenômeno recente e que exige investigações a respeito desta nova configuração. Na próxima seção, esta temática será aprofundada, na medida em que serão abordadas as relações que a mulher executiva estabelece com o trabalho.

3.3 A mulher executiva e sua relação com o trabalho

Na seção anterior, foi possível observar que a mulher tem se destacado no mercado de trabalho nos últimos anos e conquistado posições executivas, até então, ocupadas por homens. Esta seção tem por objetivo apresentar a revisão da bibliografia nacional e internacional que aborda as mulheres executivas no contexto das organizações e os principais fatores que influenciam suas relações de trabalho. Foram selecionados alguns temas específicos da literatura que são considerados relevantes para a melhor compreensão do fenômeno.

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Os principais atributos que permitiram que a mulher conquistasse posições executivas no meio empresarial foram: capacidade empreendedora, motivação, capacidade de trabalhar em grupo, intuição, criatividade, administração de conflitos, organização, administração de recursos escassos, administração de tempo, atenção para o detalhe, capacidade de conciliar razão e emoção no ambiente de trabalho (BETIOL; TONELLI, 1991, SANTOS, 2012), além de cautela e jogo de cintura (DINIZ et al., 2011).

A experiência profissional, a formação educacional e o planejamento de carreira também se mostraram fatores que contribuíram para a ascensão da mulher a cargos executivos (HENDERSON; FERREIRA, 2012; LOUREIRO et al., 2012; ROCHA et al., 2013). A dedicação e a determinação também são caraterísticas importantes que impulsionaram as mulheres ao alto escalão, na percepção de executivas brasileiras, que alegam que precisam trabalhar mais do que os homens na mesma posição (CASADO et al., 2010; SANTOS et al., 2015)

Apesar dos atributos das mulheres para a conquista de cargos estratégicos, o processo de inserção da mulher no mercado de trabalho e seu avanço profissional ainda são acompanhados da experiência de exclusão diante de barreiras do contexto organizacional e da adoção de mecanismos na busca de inclusão (SILVEIRA, 2009). Às barreiras, implícitas e explícitas, as quais as mulheres estão submetidas no espaço organizacional dá-se o nome de teto de vidro.

O conceito de teto de vidro foi introduzido na década de 1980, nos Estados Unidos, para descrever os empecilhos capazes de impossibilitar a ascensão de mulheres no mercado de trabalho (STEIL, 1997) e, especialmente, a entrada em cargos de gerência de nível superior (POWELL; BUTTERFIELD, 1994).

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O preconceito e a discriminação entre os gêneros, na organização, se mostram fatores marcantes e que se configuram como uma forma de excluir as mulheres das decisões organizacionais (LIMA et al., 2013). Ambos podem se revelar durante processos seletivos para a ocupação de cargos executivos (STEIL, 1997). No entanto, a complexidade e a subjetividade intrínsecas durante este processo propiciam, ao agente discriminador, a facilidade de negar a discriminação – uma vez que ela é dificilmente detectada (STEIL, 1997).

A possibilidade de se romper o teto de vidro requer compreensão das barreiras, para o avanço enfrentado pelas mulheres, e estratégias para superá-las. Como estratégias, as mulheres buscam provar sua capacidade repetidamente, superando o desempenho, a fim de combater as suposições negativas, num ambiente predominantemente masculino, e restabelecer a credibilidade a cada nova situação de trabalho (RAGINS et al., 1998). Outra maneira encontrada pelas mulheres para romper as barreiras de crescimento profissional é a presença de um mentor (HENDERSON; FERREIRA, 2012).

De acordo com Ragins et al. (1998), a disponibilidade de um mentor é crítica para mulheres, pois ele pode amenizar as forças adversas e ajudá-las a enfrentar os desafios profissionais. Devido ao importante papel desenvolvido pelos mentores em suas próprias carreiras, as mulheres executivas sentem-se na obrigação de serem mentoras de outras pessoas, especialmente, mulheres. Mas, as autoras comentam que a escassez de mulheres em posições de alta administração limita a possibilidade desta ocupação.

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Outra visão a respeito do teto de vidro está ligada à sua construção e reprodução como um discurso sobre discriminação contra as mulheres que é reforçado por elas mesmas, como um discurso que restringe suas aspirações a cargos executivos.

Na pesquisa de Morgado e Tonelli (2014), o teto de vidro mostrou-se uma barreira imposta pelas executivas e não pela organização. Assim, a gerência intermediária se apresenta como a posição que as mulheres buscam atingir dentro da organização, conforme delineado em seus planos de carreira. O fato de se dizerem pouco ambiciosas e que não almejam ascender na hierarquia leva a crer que estão reproduzindo o discurso masculino dominante – que se relaciona com o teto de vidro; ou seja, o discurso de que as mulheres são incapazes de chegar ao topo e que existem barreiras organizacionais para a mobilidade ascendente das mulheres. Neste sentido, o cargo de gerência intermediária se configura como o limite da capacidade administrativa da mulher, em que ela ainda se sente capaz de conciliar a vida pessoal e profissional. Por isso, muitas mulheres dizem preferir mover-se na horizontal do que ascender na hierarquia (MORGADO, TONELLI, 2014).

Segundo Betiol e Tonelli (1991), há um clima, até certo ponto contraditório, de abertura e desconfiança, em relação à possibilidade de investimento efetivo da mulher no trabalho. Isso ocorre por diversos fatores que acabam se tornando verdadeiros impeditivos para a ascensão profissional da mulher: a dupla jornada de trabalho (cuidar da família e atuar na organização); a percepção de indisponibilidade para atender às necessidades de mobilidade geográfica que o cargo executivo demanda, como constantes viagens e expatriações (BETIOL, TONELLI, 1991; TANURE et al., 2007); a idealização masculina de organização que as mulheres devem se situar (BELLE, 1993); e, por fim, a disponibilidade de horários flexíveis, cada vez mais exigidos pelas empresas (CARVALHO NETO et al., 2010).

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Além desses fatores, as crenças a respeito da posição executiva também acabam por dificultar o acesso das mulheres a cargos estratégicos. Estudos mostram que o papel executivo ainda está associado à figura masculina (SILVEIRA, 2009; BERKERY et al., 2013) e a imagem feminina não estaria de acordo com a representação que os executivos possuem na sociedade, de indivíduos agressivos, racionais, competitivos, ambiciosos, que usam a força e a autoridade para ascender na carreira – valores estes associados à masculinidade (BELLE, 1993; CYRINO, 2011). Logo, a similaridade percebida entre as características dos executivos e de candidatos homens aumenta a probabilidade de um profissional do sexo masculino ser selecionado ou promovido para uma posição gerencial, ao invés de uma mulher (SILVEIRA, 2009). Além disso, o próprio contexto da organização se coloca como um espaço da luta, de combate, de garra, de agressividade e de confronto (MORGADO; TONELLI, 2013).

Neste sentido, as características associadas à mulher, como sensibilidade, afetividade e cautela, fazem com que as mulheres sejam apresentadas, além de menos objetivas, menos agressivas para o trabalho executivo, inviabilizando-as para o exercício da profissão (DINIZ et al., 2011). Emotividade, sensibilidade e submissão sexual estão presentes no imaginário até de mulheres e que as impedem de atingir igualdade na esfera do trabalho (SILVEIRA, 2009). A expressão de sentimentos também é um ponto que tem prejudicado as mulheres nas organizações com valores machistas (LIMA; TANURE, 2009). Encobrir o lado emocional é uma necessidade da organização frequentemente aceita pelos executivos – que devem estar inteiros na organização, priorizando o lado profissional de suas vidas (BETIOL; TONELLI, 1991).

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De acordo com Lima et al. (2013), apreender as características masculinas pode ser um caminho perigoso para a executiva, porque, por mais que a mulher tente adquirir os atributos considerados masculinos, existe um forte processo discriminatório, dissimulado pela ironia e pelo sentimento de superioridade, que parece não ser passível de trazer igualdade de fato entre homens e mulheres, havendo sempre risco de serem vistas como coadjuvantes (LIMA et al.,

2013).

Além disso, o modelo masculino coloca a mulher em uma encruzilhada: se o modelo de gestão adotado é feminino, é capaz que elas não sejam vistas como gestoras eficientes, porém, se adotarem estilos masculinos, acabam sendo criticadas por não estarem sendo femininas (RAGINS et al., 1998). Portanto, elas são obrigadas a aderir um estilo que não seja nem masculino, nem feminino, mas aceitável para colegas de trabalho, supervisores e subordinados (RAGINS et al., 1998).

O sucesso e o bom desempenho também são apresentados como fatores predominantemente masculinos, os quais a mulher executiva não poderiam alcançar (SILVEIRA, 2009). Geralmente, os homens não tendem a ver as mulheres como possuidoras das características associadas a uma gestão de sucesso, enquanto as mulheres gerentes veem as mulheres como mais propícias à gestão eficaz (DUEHR; BONO, 2006).

Essas situações acabam frustrando as mulheres e a maioria não sabe ao certo como sair desse círculo vicioso (HENDERSON; FERREIRA, 2012). É possível que esta dissonância entre os valores femininos e a imagem da executiva cause uma certa perturbação à mulher (CYRINO, 2011). Outro efeito do domínio dos homens é que as mulheres acabam se sentindo pouco esperançosas em aspirar cargos da alta administração (BERKERY et al., 2013). Por esta razão, elas acabam se esforçando e lutando muito mais para que sejam aceitas e incluídas, evitando uma forma passiva e vitimada, e tampouco confortáveis frente a um desenho organizacional que impõem a mulheres e homens posições assimétricas de poder (SILVEIRA, 2009).

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benefícios, é vista como algo negativo dentro das empresas, como se sua posição decorresse de favores sexuais e não de sua competência (DINIZ et al., 2011).

Durante o processo de ascensão, além dos impeditivos relacionados às características femininas, as mulheres também enfrentam a forte influência dos familiares na modelagem e no significado do sucesso da carreira de homens e mulheres.

Do homem é cobrada uma posição profissional de destaque e da mulher cobra-se outro papel social: o de mãe (TANURE et al., 2007). Sendo assim, o resultado destas negociações influenciará seu destino profissional (BELLE, 1993), como também a construção e reafirmação de sua identidade (ANDRADE, 2010). De acordo com Duehr e Bono (2006), a entrada de mulheres nas posições de força de trabalho e de gestão reflete uma redistribuição dos papéis sociais, o que deve afetar as características tipicamente atribuídas às mulheres. No entanto, a mudança de papel social se deu somente na esfera organizacional, pois as mulheres ainda continuam a ser responsáveis pela maior parte dos deveres de casa e criação dos filhos (DUEHR; BONO, 2006).

Assim como o espaço do trabalho, o cotidiano de mulheres que assumem cargos estratégicos é um espaço de aceleração: o ritmo do trabalho é bastante intenso, às vezes extrapolando o espaço da organização e adentrando a esfera da casa (MORGADO; TONELLI, 2013). No lar, as demandas partem de todos os lados: dos filhos, da casa, do marido. O ritmo intenso do dia a dia se entrelaça com o ritmo intenso do cotidiano do trabalho (MORGADO; TONELLI, 2013). Sendo assim, a mulher executiva tem que gerenciar sozinha as tarefas de casa e se dedicar à educação e à alguma convivência com os filhos, isso porque raramente os maridos ajudam nas tarefas com os filhos do casal (CARVALHO NETO et al., 2010).

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demandas do lar (SANTOS et al., 2015). Na vida dessas mulheres, os filhos e a casa não são mais partes que completam a sua realidade (SANTOS et al., 2015).

Diante deste contexto, diferentes sentimentos se manifestam na relação entre o trabalho e a vida pessoal, em que é revelada a angústia de não ter tempo para se dedicar a si própria, a insatisfação de não estar próxima dos amigos e da família, não conseguir estabelecer um equilíbrio, o sentimento de cobrança por todos os lados, o desejo de ter uma carga menor de trabalho (MORGADO; TONELLI, 2013).

Para as mulheres, há maior dificuldade em conciliar as demandas domésticas e a criação dos filhos com as necessidades e os imperativos da carreira (LIMA; TANURE, 2009); as excessivas demandas com o trabalho fazem com que elas tenham um mínimo de contato com os filhos (SANTOS et al., 2015). Além disso, o percentual de mulheres no topo da carreira que não têm filhos é bem maior que o percentual de homens – 40,5% de mulheres contra 19,3% de homens (CARVALHO NETO et al., 2010).

As mulheres se esgotam fisicamente, pois o cansaço está associado às diversas demandas pessoais, como também à carga excessiva de trabalho (MORGADO; TONELLI, 2013). O trabalho para estas mulheres é tão desgastante que, em determinado momento, problemas de saúde podem surgir (SANTOS et al., 2015). A situação agrava-se com a crescente demanda por qualificação, exigindo que essas trabalhadoras cumpram, muitas vezes, três jornadas de trabalho: profissional, familiar e educacional (VIEIRA; AMARAL, 2013). Por isso, muitas vezes, aquelas que optam por associar a maternidade à vida profissional preferem desacelerar seu investimento na carreira, buscando o reequilíbrio com o investimento na família (TANURE et al., 2007).

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Gráfico 1  –  Distribuição  percentual  da  população  residente,  por  sexo,  segundo  os  grupos  de  idade  –  Brasil
Gráfico 2  –  Brasil: evolução da taxa de participação no mercado de trabalho por sexo – 1981/2009
Tabela 1  –  Estimativa da População Economicamente Ativa, População Ocupada e Desempregada, segundo
Figura 1  –  Relações entre categorias e subcategorias

Referências

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