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5.2 O que são idade e envelhecimento?

5.2.2 A convivência com a morte

Neste subtópico, iremos explorar como os fatores negativos associados ao envelhecimento levam as mulheres a compreenderem o envelhecimento como um processo de diferentes mortes. Iniciaremos apresentando o entendimento do envelhecimento a partir dos sinais físicos do corpo que estão associados ao declínio e à decadência. Neste caso, trata-se da convivência com a morte física. Em seguida, abordaremos o entendimento do envelhecimento a partir de eventos como menopausa, aposentadoria, síndrome do ninho vazio, entre outros. Sob essa perspectiva, a convivência é com a morte social. E, por fim, iremos explorar o entendimento do envelhecimento a partir de situações do mundo corporativo, como o rebaixamento de função, a demissão e a dificuldade de reinserção nas organizações. Nessa situação, a convivência é com o que denominamos, neste trabalho, de morte executiva.

Morte física

No subtópico anterior, percebemos que, em contraposição ao amadurecimento e à maturidade, o envelhecimento está associado a aspectos negativos ligados ao declínio e à limitação física. Ainda que a morte não seja um tópico amplamente estudado pelos teóricos organizacionais (HARDING, 2013b), sugerimos neste estudo que tais concepções de decadência levam as mulheres executivas a associarem o envelhecimento à morte física. A percepção do próprio envelhecimento a partir dos sinais físicos de declínio ou a partir da morte do outro, assim como a persistência da ideia de finitude e do dimensionamento do tempo, são fatores que levam à convivência da mulher com a ideia de morte física.

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De acordo com a perspectiva da autopercepção do envelhecimento, indivíduos interpretam as mensagens do envelhecimento cada um à sua forma (SHERMAN, 1994), em qualquer momento durante a vida adulta (THOMPSON, 1992). Uma das formas com a qual as mulheres deste estudo perceberam o processo de envelhecimento foi por meio do reconhecimento dos sinais do corpo (UOTINEN, 2005). Isso enfatiza a compreensão que as entrevistadas possuem acerca do envelhecimento como um fenômeno relacionado com o corpo, enquanto amadurecimento e maturidade estão associados a algo mais, como experiência e conhecimento, como pudemos ver no subtópico anterior.

Ainda que Lilia, 47 anos, não se identifique com o processo de envelhecimento, ela acredita que ele deva se tornar perceptível a partir da mudança corporal:

Eu não cheguei nos 50, mas muitas amigas ja chegaram e falaram: 50 tambem e poderoso, e meio seculo, é uma data muito marcante, e muito marcante, porque, pelo que me disseram, tem uma mudança corporal muito grande, então você ja percebe que você envelheceu, você nota no seu corpo marcas disso.

Quais seriam as marcas do envelhecimento reveladas pelo corpo? As mulheres declararam que as marcas estão associadas à aparência física, como cabelos brancos, rugas e ganho de peso, e à mobilidade física, como dificuldade de locomoção e cansaço. A declaração de Patrícia, 52 anos, esclarece:

Bom, o envelhecimento remete muito pro fisico, ne? Do ponto de vista fisico, seu corpo ja não e a mesma coisa, você não emagrece com tanta facilidade, você tem que começar a tomar mais cuidado com a saude, o check-up que você fazia a cada dois anos passa a ser anual, então você tem que cuidar, não tem jeito. Se você quer se manter saudavel, autônoma e independente por mais tempo, você tem que cuidar.

Patrícia comenta sobre a preocupação com o corpo mais acentuada a partir do envelhecimento. Sua preocupação com a saúde vai ao encontro com a declaração de Heikkinen (2000, p. 468): “Quando não nos sentimos bem na idade avançada, nós valorizamos a saúde mais do que costumávamos valorizar. Nós começamos a olhar para ela como um recurso que é de crucial importância para manter a independência na idade mais avançada”. Desta forma, ela deixa subentendido que o envelhecimento pode causar doença quando afirma que tem que “tomar cuidado com a saúde” e realizar “check-up” de forma mais frequente, impedir o emagrecimento acelerado e, consequentemente, prejudicar a autonomia e independência.

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Valentina, 58 anos, igualmente demonstra seu entendimento a respeito do envelhecimento a partir da condição física fragilizada e da importância de cuidar do corpo, a fim de conquistar mais qualidade de vida:

O aspecto negativo e o da condição fisica, pega bastante, a partir dos 50 a gente começa a perceber que aquelas dores que os pais reclamam são verdadeiras, não e de mentira. Então no que diz respeito a essa condição fisica e tudo mais, isso pega sim e por isso eu te falei que e uma preocupação que eu tenho de cuidar de mim, fazer exercicio pra ter mais qualidade de vida, eu preciso ir atras disso.

Valentina associa as dores no corpo ao envelhecimento. Envelhecimento, portanto, causa preocupação e necessidade de maiores cuidados para melhor qualidade de vida. Asaléa, 51 anos, também compreende que as mudanças corporais representam limitações físicas:

Mas tem umas limitações fisicas, uma delas e o corpo, você fala: Caramba! E levanta e senta, por exemplo, treinamento, eu dou aula tambem, então não e mais o mesmo pique, entendeu? Então você fica la em sala de aula ate as 11 horas da noite, muda...

O cansaço pela idade também foi um sintoma marcante do envelhecimento que pode afetar as atividades profissionais. Assim como Asaléa, a entrevistada Cacilda, 63 anos, também comenta a influência do envelhecimento na execução das atividades profissionais:

Eu tenho muita energia pra trabalhar, mas reconheço que eu ja não tenho fisicamente as mesmas condições, então eu fico cansada, fico cansada, ponto pacifico, me canso mais, isso tem um lado que e natural do proprio envelhecimento.

Além do cansaço físico causado pelo envelhecimento, as mulheres também alegam cansaço intelectual correspondente ao mesmo fenômeno. Daiane, 55 anos, apresenta essa concepção:

É verdade que a gente sente que não tem mais aquela energia de quando tinha 25, 30 anos. No que isso se reflete... no tempo de trabalho que você tem pra produção, por exemplo. Eu produzo mais de dia do que de noite, então eu acordo muito cedo, mas tambem como da seis horas, seis e meia, eu fecho o computador, entendeu? Então, se eu fosse mais nova eu poderia ir mais adiante, entendeu? Mas eu me organizo melhor pra não ter que ficar trabalhando de noite. Eu trabalho sabado, trabalho domingo, trabalho no feriado, ontem foi feriado e eu trabalhei, quer dizer, eu não me incomodo neste sentido, mas em relação ao cansaço pela idade, pelo tempo que esta passando, e o quanto de horas continuas que você consegue dar resultado efetivo, porque tem um cansaço intelectual grande, nesse sentido.

O envelhecimento parece exigir uma mudança na forma de trabalhar. Além do cansaço físico, Daiane comenta que a idade, aliada ao trabalho executivo, gera maior cansaço intelectual. As limitações físicas para Asaléa, 51 anos, foram um dos principais indicadores do

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próprio envelhecimento. Ela relata uma experiência que aconteceu durante sua atividade profissional:

Eu acho que são as limitações fisicas mesmo, um dia eu estava na Paulista andando, tipo, estou com umas dores na perna, entendeu? E eu não fico: ai, ai, ai. Eu estou no cliente, não importa. E coisa minha. Mas eu estava andando na Paulista num pique, e eu falei: nossa, incrivel, eu to indo, meu corpo esta aqui, e como se eu estivesse la indo, apesar de falar: ainda estou com 50, mas são 50, eu não tenho mais os 30, entendeu? Que eu estava antes. Então, parece que eu estou indo, mesmo pique, mas o corpo não esta respondendo, eu tive que ir mais devagar na Paulista, eu falei: nossa, que coisa impressionante, porque dai que você cai em si. Eu estou com 50 anos, eu não tenho mais os 30 que eu chegava acelerada, eu tenho que ate isso me planejar...

Asaléa percebeu o próprio envelhecimento a partir da dificuldade que encontrou com seu corpo. Andar rápido não pareceu ser tão natural como era quando ela tinha 30 anos. Ela sentiu seu corpo desobediente em termos de controle (BULLINGTON, 2006) e percebeu que algo havia mudado. De acordo com Heikkinen (2000), a principal característica do corpo é sua variabilidade, ou seja, a propensão de mudança, sendo o envelhecimento considerado uma experiência viva de variabilidade – em determinado momento, o indivíduo começa a sentir que sua relação com o mundo não é mais tão natural e harmoniosa. O que costumava ser parte natural do “eu” parece ser uma experiência nova. Tal experiência pode gerar ansiedade, medo e insegurança (NILSSON et al., 2000). Para Asaléa, a experiência trouxe ainda uma certa surpresa (BULLINGTON, 2006), uma vez que ela relatou uma discrepância entre mente e corpo naquele momento. Sofia, 44 anos, sente o mesmo:

E na realidade eu tenho 44 anos no corpo, mas não tenho 44 anos na cabeça.

Nota-se que é o corpo que impõe a condição de envelhecimento para Asaléa e Sofia. Ambas utilizam a filosofia dualista sobre o corpo envelhecido com a separação da mente ativa e o senso de “self” a partir do corpo (PAULSON; WILLIG, 2008). A experiência corporal e a consciência corporal são consideradas parte integrante da identidade pessoal (HEIKKINEN, 2000; BULLINGTON, 2006). As mudanças corporais de decadência são entendidas como um efeito natural do envelhecimento. Nina, 49 anos, comenta:

Os sinais do corpo, isso e natural. O corpo vai mudando, o seu ritmo muda e eu não vou dizer que você não tem o mesmo pique, você tem pique, você sabe que ainda pode contribuir bastante, mas você não tem mais 25 anos.

De acordo com Nilsson et al. (2000), os indivíduos que se sentem envelhecidos são capazes de especificar quando a experiência se iniciou e atribuir em quais circunstâncias eles

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sentiram a mudança física. No caso de Nina, a percepção com relação ao envelhecimento se deu a partir da mudança do corpo. Bowling et al. (2005) também afirmaram que o estado de saúde física e funcional é o principal indicador da idade subjetiva.

Outro ponto discutido entre as mulheres entrevistadas é a diferença entre o envelhecimento para homens e mulheres. Parece haver importância significativa da aparência para a mulher nesta fase da vida, diferentemente dos homens. Patrícia, 52 anos, confirma:

Pra nos mulheres, assim acho que tem um peso duplo ne, o homem não e tão cobrado sobre questão estetica, as vezes mais por ela mesma mais do que pelo entorno e principalmente esse tipo de negocio, a gente convive muito com mulheres, então e inevitavel essa preocupação geral, e todas mais ou menos na mesma faixa etaria, então e uma preocupação constante com a aparência, você acaba gastando mais tempo pra se trocar, mais tempo pra se maquiar, esconde isso, esconde aquilo, então tem uma preocupação maior.

E a cobrança do envelhecimento para a mulher e muito maior, pra homem não, cabelo grisalho e um charme, a gente fica a cada 15 dias indo pro cabeleireiro, hoje no final do dia eu estou la, retocando as raizes. Existe uma diferença entre homens e mulheres mas não so no mundo corporativo, e na sociedade como um todo.

Para Patrícia, que convive com outras mulheres executivas na mesma faixa etária, a preocupação com a aparência é constante e, portanto, os sinais do envelhecimento incomodam e, por isso, devem ser omitidos – “esconde isso, esconde aquilo”. Para ela, o cabelo grisalho como sinal de envelhecimento surge tanto para homens quanto mulheres, mas para eles é um aspecto ligado ao charme, para a mulher não. Mas, o que estaria por detrás dos cabelos brancos no caso das mulheres? Anita, 45 anos, parece responder nossa indagação:

Eu acho que pro homem o que e diferente... mas ele tem que estar arrumado tambem, mas mulher tem que estar com a mão feita, porque o jeito que você se apresenta e um reflexo do que você quer passar (...) mas, você não vai trabalhar de cabelo branco, eu tenho uma conhecida que e dona de uma empresa, e assim... e vergonhoso, porque ela não acredita nisso, ela não pinta o cabelo, então ela tem o cabelo todo branco, mas ok, e um estilo, mas então tenha um corte superbonito, né? Ela usa umas roupas horriveis, horriveis, e eu ja cheguei a falar pra ela: você vende a sua empresa, como você vai vender confiabilidade com essa aparência?

Para Anita, o cabelo branco da mulher executiva é um fator que pode transmitir falta de confiabilidade profissional. Joana, 54 anos, complementa:

Homem com cabelos brancos e supercharmoso e a mulher e descuidada, na maioria dos casos. Hoje, uma ou outra esta se arriscando com cabelo branco e tem umas bem bonitas inclusive, mas assim, a sua aparência conta.

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A partir das declarações acima, é possível verificar que algumas mulheres entrevistadas parecem propagar o entendimento de que o envelhecimento produz resultados diferentes em termos de aceitação, considerando o mesmo fator para homens e mulheres. Note como ter cabelo branco é “vergonhoso” para a atuação profissional da mulher – por que isso deveria ser o caso? Isto parece implicar na importância de disfarçar a idade – comportamento usual entre as mulheres entrevistadas, como pôde ser visto ao longo deste capítulo. Talvez, por isso, disfarçar a idade seja uma norma que rege a forma como mulheres executivas experimentam o processo de envelhecimento. O cabelo branco, como denunciador do envelhecimento, pode, ainda, gerar incômodo e irritação. Jane, 48 anos, relata uma experiência pessoal:

Teve um dia que eu tava numa reunião e eu tava ficando extremamente irritada, porque era nessa fase que eu não conseguia nem dormir nem comer, e ai tinha uma mulher do cliente que acho que era ate mais velha do que eu e ela devia estar tão feliz que eu tava com os meus cabelinhos brancos que ela passou a reunião inteira olhando. E como ela era cliente, eu não podia fazer nada. Eu pensei: “Puta sacanagem, o que eu fiz pra você, pra você fazer um negocio desses comigo?”

É evidente que, no caso de Jane, ela se mostra sensível à questão de estar envelhecendo na medida em que ela assume que sua cliente estava observando-a por conta do cabelo branco. Ela, inclusive, se sentiu injustiçada pelo comportamento de sua cliente. A aparência se mostra, portanto, como um fator de competição entre as mulheres, já que ela se sentiu inferior por conta da aparência envelhecida, muito embora sua cliente devesse ser ainda mais velha do que ela. Isso se torna relevante na medida em que, como pudemos ver na seção sobre o cotidiano da mulher executiva, a aparência se mostra uma das demandas profissionais exigidas pelo cargo. Na literatura, o tópico também é discutido. Segundo Warhurst e Nickson (2009), no setor de serviço, há a valorização com relação à aparência e à juventude. Consequentemente, algumas mulheres podem ser excluídas, caso não apresentem “o tipo ideal de profissional”. É possível afirmar a existência do “lookism”, termo utilizado por Warhurst e Nickson (2009) para indicar discriminação pela aparência. No caso de Jane, por parecer “velha” a partir do indicador do envelhecimento – o cabelo branco. Ainsworth e Hardy (2008) também demonstraram que a aparência com relação à idade pode ser descrita como uma razão pela qual alguns profissionais mais velhos se mantêm desempregados. Ou seja, a boa aparência, ou melhor, a aparência jovial, parece ser um indicador de um profissional útil. Outro fator que parece incomodar as mulheres, em termos de aparência, é o ganho de peso, entendido como uma característica advinda do envelhecimento. Teresa, 53 anos, comenta:

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Então, a idade e ruim, não tem como. E bom porque tem experiência, ok. Mas tem mais coisas negativas do que positivas. Eu acho. Eu comecei a fazer atividade fisica ha uns 4 anos atras, nunca achei tempo, nunca fui na academia, mas assim, agora eu tenho necessidades. Eu sempre fui muito magra, e de repente comecei a engordar, os hormônios, o corpo não responde, você pode fechar a boca e ficar sem comer, enfim... ai você vai mudando o estilo de vida, eu não quero ficar uma velhinha gorda. Eu não quero.

O primeiro ponto que chama atenção na declaração de Teresa refere-se ao aspecto que “a idade é ruim” e que ela traz consigo “mais coisas negativas do que positivas”. As coisas negativas estão associadas ao aspecto físico, como ganho de peso, alteração hormonal, enfim: o “corpo não responde”. O segundo aspecto que chama atenção é que, assim como outras mulheres citadas neste trabalho, Teresa também mudou seus hábitos a partir do envelhecimento para atender às novas necessidades, uma vez insatisfeita com os efeitos do fenômeno. Clarice, 48 anos, é outra participante que parece descontente com seu aspecto físico:

Eu ainda não sinto a idade, mas eu acho que sou um pontinho fora da curva, não e que eu esteja em boa forma, eu não estou, não faço ginastica, zero zero, detesto! Mas eu estou gorda, dez quilos a mais do que eu deveria. 10 quilos! (...). Apesar disso, eu tenho uma energia impressionante, não tenho nenhum jet leg, então eu vou pra China, saio do avião e ja vou trabalhar, não sinto nada. Então, eu tenho uma fisiologia que aguenta muito, que eu estou envelhecendo, eu estou, que eu estou me sentindo mais velha, caida, acabada, com celulite, bla bla bla, isso eu estou. Anos atras eu trabalhei junto com uma equipe pra criar a teoria - pra você se aceitar como a mulher que você e e tal, e eu falava: “Apesar de eu acreditar muito nesta teoria, e uma teoria para os nossos filhos, porque eu estou totalmente estragada, feia, gorda, celulitosa, com o tempo isso so piora”. Mas você começa a valorizar outra coisa que você tem, porque a aparência fisica e uma decadência total.

Assim como alguns entrevistados do estudo de Jones (2006), Clarice apresenta uma complexa relação de posicionamento como velha. A contradição em sua fala está relacionada ao seu corpo estar fora de controle (ela engordou), assim como Teresa havia demonstrado, mas também sob controle (ela tem uma energia impressionante). Clarice também comenta inicialmente que não sente a idade, apesar de afirmar, ao longo da declaração, que sim, ela está se sentindo velha. O sentir-se velha, para ela, está associado à aparência física decadente, quando se reconhece “totalmente estragada, feia, gorda”. Mas, o não se sentir velha está associado à sua energia física para desenvolver atividades com rapidez. Assim, Clarice apresenta seu entendimento sobre o envelhecimento: mais do que uma aparência decadente, o envelhecimento é entendido a partir de uma baixa de energia física que pode, inclusive, interferir nas atividades profissionais. O declínio físico leva algumas mulheres a dimensionar o tempo e a pensar sobre a sua própria finitude. Cecília, 49 anos, apresenta uma longa declaração a respeito do tópico:

E ai outra conta que todo mundo começa a fazer, eu inclusive, dessa eu não escapo, tenho 50, quando você e jovem, tem toda aquela perspectiva do tempo que não passa, você não sabe dimensionar o tempo,

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você acha que tudo e infinito, que ta tudo muito longe, ai quando você chega que nem eu, aos 50, e eu vejo muito a minha vida desde quando eu morei na Inglaterra, eu falo: nossa, faz 30 anos. Esse tempo voou, eu lembro tudo o que aconteceu. Ai eu projeto mais 30, a media da mulher e 75 anos, ou seja, ainda e menos do que os 30, ai você entra em pânico (...). E a gente não vive como se fosse morrer, e impressionante, você vai a enterro, você vê que acabou aquilo, não tem mais CPF, não tem mais nada, a aliança não vai junto (...). E da um click geralmente nos 45, que e a idade do lobo, não sei o quê, e a idade que tem amante, porque ele vê que o fim esta proximo e ta mais proximo do que ele ja viveu.

A fala de Cecília nos diz muita coisa a respeito do significado do envelhecimento. Para ela, envelhecer gera pânico, na medida em que promove a ideia de finitude e representa maior proximidade com a morte. Para a entrevistada, isso ocorre, geralmente, aos 45 anos, quando se “dá um click”, ou seja, quando se percebe o envelhecimento. A ideia de decadência corporal fica ainda mais evidente quando Cecília continua sua declaração a respeito do envelhecimento:

E ai você vai mais a fundo e faz uma analise mais realistica, vou contar ate os 60, porque ja começou a doer o joelho, eu vou viajar, mas vou com muleta, talvez com uma perna amputada, talvez sem enxergar direito, e a realidade. (...) Por exemplo, eu faço muita ginastica mais ja doi o joelho, começou a dar umas fisgadinhas, ja começou a doer as costas, ai vou la, faço exames, eu me cuido, evito fazer ginastica que