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Biopsia muscular em miastenia grave: estudo histoquímico e morfométrico de 4 casos.

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Academic year: 2017

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BIOPSIA MUSCULAR EM MIASTENIA GRAVE

E S T U D O H I S T O Q U Í M I C O Ε M O R F O M É T R I C O D E 4 C A S O S

JOÃO NORBERTO STAVALE * MARIA JOSÉ CAVALIERE** SONIA MARIA GAGIOTI ** AÇUCENA ATALLA **

JOÃO GUIDUGLI NETO***

Miastenia grave (MG) é patologia na qual se observa alteração da junção neuromuscular (JNM), cujo diagnóstico é feito mediante dados clínicos e eletrofisiológicos. Clinicamente, manifesta-se por fatigabilidade da musculatura estriada, sendo mais afetados os grupos musculares dos olhos, bulbares e das extremidades. Os exames eletrofisiológicos mostram fadiga na estimulação repe-titiva e exaustão pós-tetânica. Sua etiologia não está esclarecida parecendo envolver mecanismos imunológicos « . M M * . A patologia muscular na miastenia foi classicamente associada ao aparecimento de linforragia e alteração degene-rativa 1 5

e, mais recentemente, a atrofia4

>5

. A análise Kistoquímica de biópsias mostra alterações de desenervação em aproximadamente dois terços dos pacien-tes e atrofia do tipo II em 50%, estando presenpacien-tes as linforragias em menos de 25%™.

O presente trabalho procura contribuir para o conhecimento da patogenia da M G mediante o estudo histoquimico e morfométrico de quatro casos.

M A T E R I A L Ε MÉTODOS

Foram realizadas biópisias de músculo biceps braquial esquerdo em 4 pacientes com quadro clínico e eletromiográfico de M G : O.A.S. (60 anos, masculino); J . C . C . (28 anos, masculino); L . P . M . (52 anos, feminino) e M . I . L . (17 anos, feminino). O frag-mento muscular foi colhido em gaze embebida em solução fisiológica e dividido em 2 blocos, os quais foram colocados em placa de cortiça de forma a orientar o sentido das fibras musculares para cortes transversais e longitudinais. Os blocos foram congelados em hexano resfriado em nitrogênio líquido 3 e foram feitas secções de 10 μ τα em criostato. A seguir, foram feitas as colorações de hematoxilina-eosina (HE), tricrômico modificado de Gomori e Sudan Black, bem como as reações histo-químicas para adenosina trifosfatase miofibrilar (ATPase) p H 9,4; ATPases com pré-incubação nos p H 4,6 e 4,3 e para nicotinamida adenina dinucletideo tetrazol redutase (NADH-tr). A análise morfométrica foi realizada utilizando uma secção

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transversal da reação de ATPase p H 9,4 de cada uma das biópsias. Mediu-se o maior e o menor diâmetros ortogonais 17 de 100 fibras musculares de cada secção aleatoriamente escolhidas, sendo 50 do tipo I e 50 do tipo I I . A s medidas foram feitas utilizando ocular micrometrada Nikon-Kellner, lOx. A s médias dos diâmetros das fibras tipo I e I I foram comparadas através do teste «t» de Student. Foi feito o histograma das fibras musculares de ambos os tipos.

R E S U L T A D O S

Nas colorações de H E e tricrômico modificado de Gomori não foram evidenciadas alterações miopáticas, mas apenas variação no diâmetro das fibras que, por vezes}

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C O M E N T Á R I O S

O significado dos achados histopatológicos no m٥sculo esquelético na M G são contravertido. Dubowitz <& Brooke 4

, analisando 6 biópsias, encontraram em 4 delas atrofia de fibras do tipo II, de distribuição focai; não foi observada linforragia. Algumas biópsias também apresentavam fibras escuras angulares nas reações para enzimas oxidativas, sugerindo processo de desenervação. Engel <£ Warmolts1 1

, em estudo de biópsias de 52 pacientes, observaram atrofia de fibras sem agrupamento de tipo, indicando insucesso na reinervação colateral; necrose das fibras e linforragia foram achados infrequentes. Segundo esses autores a atrofia na MG é semelhante ΰ atrofia por desenervação, podendo afetar os dois tipos de fibras ou estar confinada ΰs fibras do tipo II. A atrofia sele-tiva do tipo II poderia representar decréscimo seletivo da influκncia trófica dos motoneurτnios do tipo II ou mesmo falta de receptividade seletiva das fibras musculares do tipo II ao fator trófico neural.

Em nosso material foi encontrada variação no diâmetro das fibras, algumas das quais com aspecto angular; nas reações histoquímicas evidenciaram-se fibras escuras angulares e atrofia seletiva focai das fibras tipo II. O mecanismo poderia ser idκntico para ambos os achados. Ι possível que a deficiκncia de algum fator trófico específico determine a atrofia das fibras tipo II e a forma-ção de fibras angulares1

*. Por outro lado, trabalhos experimentais mostram que, em m٥sculos desenervados, as fibras tipo II atrofiam-se mais precocemente do que as fibras tipo I, sugerindo maior dependκncia de seus motoneurτnios para a manutenção trófica do tamanho normal1

.

Atualmente, aceita-se que o defeito essencial na MG esteja situado na porção neural da J N M9

; estudos eletrofarmacológicos mostram anormalidades na trans-missão através da junção, acompanhadas de alterações morfológicas 9

. Simpson1 8

postulou origem autoimune para esta moléstia sugerindo que poderia ser resul-tado de hipersensibilidade a algum componente da membrana pós-sináptica da JNM. A recente identificação e subsequente purificação de receptores de acetil-colina do órgão elétrico de enguia mostrou que esses receptores são antígenos capazes de induzir o bloqueio da J N M1 4

. O bloqueio neuromuscular da miaste-nia parece ser devido a anticorpos contra receptores de acetilcolina. Engel, Lambert <£ Howard6

demonstraram a presença de imunocomplexos na mem-brana pós-sináptica em pacientes com MG. Engel & Santa8

, e Santa, Engel & Lambert1 , 6

descreveram alterações quantitativas na placa terminal na MG. Observaram que a região pós-sináptica era menor e mais simples e as termi-^ nações nervosas reduzidas em tamanho; por vezes, m٥ltiplas terminações ner-vosas pequenas apareciam ao longo do comprimento da fibra muscular. Essas observações vieram confirmar estudos prévios de microscopia óptica utilizando técnica de coloração de azul de metileno, que demonstraram placas anormais em pacientes miastκnicos.

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tipo II e ausκncia de agrupamento de tipo. Por outro lado, técnicas histoquí-micas, podem ser de utilidade para o estabelecimento do diagnóstico diferencial entre MG e outras condições, especialmente aquelas do grupo das miopatias mito-condriais, cujo quadro pode ser semelhante. Neste grupo de doenças, o aspecto é mais miopático com presença de depósitos subsarcolemais nas fibras muscula-res que se tornam evidentes nas reações para enzimas oxidativas e na coloração de tricrτmico de Gomori correspondendo ΰs fibras vermelhas (fibras "ragged--red"). A microscopia eletrτnica mostra, nesses casos, a presença de ac٥mulo de mitocτndrias anormais no interior das fibras2

'4

»5

^1 3

.

R E S U M O

Miastenia grave é doença neuromuscular caracterizada por excessiva fatiga¬ bilidade da junção muscular e envolve, particularmente, m٥sculos inervados por nervos cranianos. Acredita-se que o defeito esteja localizado na junção neuro-muscular. Os autores estudaram os achados histoquímicos e e morfométricos em 4 pacientes com miastenia grave mostrando que as fibras do tipo II eram signi-ficativamente menores que as fibras do tipo I.

S U M M A R Y

Muscle biopsy in myasthenia gravis: histochemistry and morphometric study of 4 cases.

Myasthenia gravis is a neuromuscular disease characterized by excessive fatigability of muscle function and particularly involves muscles innervated by the cranial nerves. It is believed that the defect is in the neuromuscular junction. The authors studied histochemical and morphometric findings in 4 patients with myasthenia gravis showing that the type II fibres were significantly smaller than the type I fibres.

R E F E R Ê N C I A S

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Referências

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