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Barreiras culturais na comunicação e na adaptação de expatriados

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Academic year: 2017

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ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL

CLÁUDIA YOLANDA PAZ QUEZADA

BARREIRAS CULTURAIS NA COMUNICAÇÃO E NA ADAPTAÇÃO DE EXPATRIADOS

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BARREIRAS CULTURAIS NA COMUNICAÇÃO E NA ADAPTAÇÃO DE EXPATRIADOS

Dissertação apresentada à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas para obtenção do grau de Mestre em Gestão Empresarial

Orientadora: Professora Dra. Ana Lúcia Malheiros Guedes

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BARREIRAS CULTURAIS NA COMUNICAÇÃO E NA ADAPTAÇÃO DE EXPATRIADOS

Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, apresentada como requisito essencial para obtenção de grau de Mestre pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas.

E aprovada em 30/08/2010 Pela banca examinadora

________________________________________________________ Profa. Dra. Ana Lúcia Malheiros Guedes

Escola Brasileira de Administração Pública

________________________________________________________ Profa. Dra. Sylvia Constant Vergara

Escola Brasileira de Administração Pública

________________________________________________________

Profa. Dra. Valderez Fraga

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Este trabalho é dedicado a minha mãe Elvira Quezada, por ser o melhor exemplo que tenho na vida. Porque mesmo sendo mãe e pai soube lutar com muito esforço e coragem para ir sempre à frente. Porque mesmo com limitações me deu as condições necessárias para que pudesse continuar buscando maior saber. Por ensinar-me que as coisas que valem realmente a pena sempre são difíceis, mas que todo sacrifício com paciência e persistência se alcançam. Por tudo isso e muito mais, quem sou e o que tenho conseguido na vida é graças a ela.

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Primeiramente agradeço ao Deus, Todo Poderoso, pela vida e saúde que me dá, e por acompanhar-me nos momentos bons e maus, pois nele encontro o conforto que preciso para continuar em frente.

À Organização dos Estados Americanos (OEA), que por meio do programa LASPAU (Academic and Professional Programs for the Americas), me deu esta oportunidade para

prosseguir com meus estudos, sem sua ajuda financeira não poderia ter sido possível realizar este mestrado.

À Fundação Getulio Vargas (EBAPE/FGV), por abrir-me suas portas e permitir-me ser parte de uma das melhores instituições de ensino no Brasil. É muito gratificante ter recebido a instrução de seus docentes neste mestrado, já que aportaram grande experiência enriquecedora na minha profissão.

À professora Dra. Ana Lúcia Malheiros Guedes, pelo apóio e orientação no descobrimento e desenvolvimento deste estudo. Obrigada pela paciência e dedicação!

À professora Dra. Valderez Ferreira Fraga pelo apóio e contribuições literarias na construção desta dissertação.

Aos funcionários da FGV, especialmente a Joarez no CFAP, a Lígia e Sandro na biblioteca e a Carla e Tomaz no laborátorio de informática. Obrigada pela ajuda e atencões com que me orientaram para resolver minhas dúvidas.

A minha família, porque a pesar da distância sempre contei com seus carinhos, compreensão e sobre tudo apóio incondicional.

A meus colegas e amigos que fiz durante este período de estudo. Obrigada pela amizade e companheirismo.

Às filiais das empresas multinacionais no Rio de Janeiro, por fornecer-me os contatos de seus funcionários estrangeiros para realizar as entrevistas.

A todas as pessoas que me forneceram contatos de seus colegas de trabalho, amigos e conhecidos (estrangeiros) para que pudesse solicitar as entrevistas.

A todos os expatriados pelas entrevistas que me ofereceram, dando-me as informações que precisava para concluir esta pesquisa.

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Este estudo aborda barreiras culturais na comunicação e na adaptação de expatriados na cultura brasileira, especialmente, na cultura do Rio de Janeiro (carioca). Realizamos uma revisão de literatura no intuito de compreender aspectos sobre o conceito de cultura, para que nos permitisse entender a cultura nacional do Brasil. Também, estudamos as expatriações como estratégias; a interação do indivíduo na sociedade; a comunicação intercultural para verificar a importância da linguagem, aspectos coloquiais, símbolos e expressões; e a adaptação intercultural para tratar as fases do choque cultural no ajustamento. Na procura por identificar quais são essas barreiras que dificultam a comunicação e adaptação na vida pessoal e profissional dos expatriados que moram e trabalham na cidade do Rio de Janeiro, o estudo se orientou através da pesquisa qualitativa, na qual realizamos 20 entrevistas com pessoas de varias nacionalidades, em 11 subsidiárias de empresas multinacionais, nacionais e internacionais estabelecidas no Rio de Janeiro. Os dados obtidos revelam que a língua portuguesa e a comunicação coloquial se apresentam como principais barreiras na comunicação. Enquanto a burocracia, informalidade e impontualidade são aspectos que continuam sendo complicados para os estrangeiros, como estudos prévios já os identificaram. Porém, identificamos que a educação sobre boas maneiras não equivalem a padrões mais elevados, sendo estes identificados por alguns expatriados de forma negativa. Também percebemos que a insatisfação na qualidade e prestação de bons serviços são outros problemas com os quais os expatriados mostraram maior desconforto, porque não estão sob o seu controle. Perante isso, percebemos que para alguns expatriados os aspectos da cultura brasileira, especialmente os da cultura carioca, lhes causam irritação, devido a que vêm de países onde as coisas funcionam melhor e são mais efetivas, mas o fato que para outros expatriados as coisas não funcionem bem ou sejam menos efetivas, como nos seus países, são vantagens que lhes servem para viver mais tranquilamente, já que lhes gera flexibilidade.

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ABSTRACT

This study addresses cultural barriers in communication and adaptation of expatriates in Brazilian culture, especially in the culture of Rio de Janeiro (carioca). We performed a literature review in order to understand aspects of the concept of culture, which allow us to understand the national culture of Brazil. Also, we studied the expatriations as strategies, the interaction of the individual in society; intercultural communication to verify the importance of language, colloquial aspects, symbols and expressions; and intercultural adjustment to deal with the stages of culture shock adaptation. In seeking to identify what those barriers to communication and adaptation in personal and professional lives of expatriates living and working in the city of Rio de Janeiro, the study was conducted by qualitative research, in which we realized 20 interviews with people of various nationalities, 11 subsidiaries of multinational companies national and international, established in Rio de Janeiro. The data obtained showed that the Portuguese and colloquial language are presented as major barriers in communication. While the bureaucracy, informality and unpunctuality are aspects that continued being complicated for foreigners, as previous studies have identified already. However, we identified that education on good manners does not equate to higher standards, which are identified by some expatriates in the negative. We also realize that dissatisfaction in the quality and provision of good service are other problems with witch expatriates showed higher discomfort, because they are not under their control. Given this, we appreciate that for some expats the aspects of Brazilian culture, especially the Carioca culture causes them irritation, because they come from countries where the things work better and are more effective, but for the fact that for the others expats not working well or be less effective, as in their countries, are advantages that serves them to live more quietly, because they provide flexibility in their lives.

KEYWORDS: Culture. Carioca Culture. Expatriation. Intercultural Communication. Intercultural adaptation

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Figura 1. Modelo de cultura (Trompenaars) ... Figura 2. Iceberg cultural ... Figura 3. Estilos na comunicação ... Figura 4. Estilos de comunicação verbal ... Figura 5. Estratificação Social Brasileira ... Figura 6. O expatriado em choque cultural ... Gráfico 1 – Experiência de expatriação em vários países ... Gráfico 2 – Experiência de expatriação no Rio de Janeiro ... Gráfico 3 – Sexo dos expatriados entrevistados ... Tabela 1 – Nacionalidade dos respondentes ... Tabela 2 – Perfil demográfico dos respondentes ...

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AEB - Associação de Comércio Exterior do Brasil BCB - Banco Central do Brasil

EMNs - Empresas Multinacionais IDE - Investimento Direto Externo

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO... 1.1 Justificativa e contextualização do estudo ... 1.2 Problemática do estudo ... 1.3 Objetivos da Pesquisa ... 1.3.1 Objetivo Geral ... 1.3.2 Objetivos Específicos ... 1.4 Estrutura da dissertação ...

2. REVISÃO DE LITERATURA ... 2.1 Visão geral sobre cultura ... 2.2 Elementos culturais que influenciam a comunicação e a adaptação dos expatriados ... 2.2.1 Comunicação intercultural ... 2.2.1.1 A comunicação é um processo ... 2.2.1.2 A comunicação envolve intenções e mensagens expressivas ... 2.2.1.3 A comunicação é construída de múltiplos sinais ... 2.2.1.4 A comunicação depende do contexto para seu sentido ... 2.2.1.5 A comunicação depende da competência das pessoas que se estão

comunicando ... 2.2.2 Barreiras na comunicação ...

2.2.2.1 Comunicação verbal ………...

2.2.2.2 Comunicação não verbal... 2.2.2.3 Valores ... 2.2.2.4 Linguagem ... 2.2.3 Adaptação intercultural ... 2.2.3.1 Choque cultural: fases da experiência vivida pelos expatriados ... 2.2.3.1.1 Fase do encantamento ou lua de mel ... 2.2.3.1.2 Fase do negativismo extremo ou hostilidade ... 2.2.3.1.3 Fase da distância ou integração (ajuste)... 2.2.3.1.4 Fase do choque da volta ou adaptação ...

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2.2.3.3 Sistemas sociais ... 2.3 A importância da cultura nacional nas operações das Empresas multinacionais ... 2.3.1 Cultura nacional do Brasil ... 2.3.1.1 Homem cordial ... 2.3.1.2 Hierarquia, classe e poder ... 2.3.1.3 Personalismo ... 2.3.1.4 Jeitinho brasileiro e malandragem ... 2.3.1.5 Sensualismo e aventureiro ... 2.3.2 Cultura do Rio de Janeiro ... 2.3.2.1 Clima ... 2.3.2.2 Gastronomia ... 2.3.2.3 Idioma ... 2.3.2.4 Aspectos econômicos, políticos e sociais ... 2.3.3 Dimensões culturais de Hofstede na cultura brasileira ... 2.4 Expatriações: estratégias essenciais nas operações de empresas multinacionais ... 2.5 O indivíduo e a interação cultural nas expatriações ... 2.6 Critérios de análise ...

3. METODOLOGIA DE PESQUISA ... 3.1 Pesquisa qualitativa... 3.2 Universo, amostra e sujeitos do estudo ... 3.3 Coleta dos dados ... 3.4 Tratamento dos dados ... 3.5 Limitações do método ...

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expatriado ... 4.1.4 Identificação das fases do choque cultural no expatriado... 4.1.5 Dificuldade em lidar com alguns fatores atribuídos à cultura brasileira,

especialmente a cultura carioca ... 4.1.6 As barreiras culturais na comunicação e na adaptação, na cultura brasileira/carioca são mais difíceis de lidar para mulheres do que para homens expatriados? ... 4.1.7 Dificuldade de comunicação e adaptação para lidar com colegas de trabalho

sobre alguns aspectos da cultura brasileira/carioca ... 4.1.8 Aspectos comparativos da cultura de origem do expatriado com a cultura brasileira/carioca ... 4.1.9 Dificuldade da família do expatriado (casado) para comunicar-se e adaptar-se à cultura brasileira/ carioca ...

5 CONCLUSÕESE CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 5.1 Sugestões para estudos futuros ...

REFERÊNCIAS ...

APÈNDICE A. Ficha do perfil demográfico dos respondentes...

APÉNDICE B. Roteiro de entrevistas ...

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1

INTRODUÇÃO

No início da década dos 80s o mundo se dividia em dois blocos; um com predomínio da iniciativa privada e outro estadista e centralista. Logo após a queda do muro de Berlim em 1989 e a transformação do mundo socialista ingressamos em uma era denominada ‘globalização’, a qual cria um novo cenário favorável à expansão do mercado internacional. O termo ‘globalização’ é usado para descrever as mudanças nas sociedades e na economia mundial.

Marshall McLuhan (1971) usa o termo ‘globalização’ para definir o mundo como ‘aldeia global’ - processo pelo qual a comunicação e a interdependência entre os países unificam mercados, sociedades e culturas, por meio de transformações (político, social, econômico, cultural e ambiental) lhes dão caráter global-. Por sua vez, Ianni (2002, p. 119) ressalta que a conotação de ‘aldeia global’ é bem “uma expressão da globalidade das idéias, padrões e valores sócio-culturais imaginários.” O autor menciona que quando o sistema social mundial se põe em movimento e se moderniza é quando o mundo se parece a uma aldeia global, podendo ser vista como uma “teoria da cultura mundial e entendida como uma cultura de massa, mercado de bens culturais, universo de signos e símbolos, linguagens e significados que povoam o modo pelo qual uns e outros se situam no mundo, pensam, imaginam, sentem e agem.”

A globalização é um processo dinâmico e progressivo onde se registra um grande incremento de comércio e de investimentos. No entanto, a polêmica na conceituação dessa palavra tem sido grande, não existe uma definição única e universalmente aceita, pois tem sido diversamente concebida como ação à distância - quando os atos dos agentes sociais de um lugar podem ter conseqüências significativas para terceiros distantes (HELD e MCGREW, 2001)-. Esse termo para algumas pessoas refere-se a um fenômeno equitativo mundial, onde se considera que todos os países se beneficiam por igual, e para outras, é geração de desigualdade.

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A globalização denota a escala crescente, a magnitude progressiva, a aceleração e o aprofundamento do impacto dos fluxos e padrões inter-regionais de interação social. Refere-se a uma mudança ou transformação na escala da organização social que liga comunidades distantes e amplia o alcance das relações de poder às grandes regiões e continentes do mundo. Mas não deve ser entendida como algo que prenuncia o surgimento de uma sociedade mundial harmoniosa, ou de um processo universal de interação global em que haja uma convergência crescente de culturas e civilizações. (HELD e MCGREW, 2001, p. 13).

Fleury & Fleury, (2007), mencionam que por suas características, as empresas multinacionais (EMNs) encontram na globalização um ótimo contexto para expansão internacional, pois na sua internacionalização, a liberalização econômica tem tido um papel relevante. Os autores aludem que nesse processo empresas com operações em vários países investem no exterior em instalações comerciais de distribuição e armazenagem para ficar perto de seu mercado alvo. Entretanto, para atingir esse objetivo, essas empresas precisam deslocar alguns de seus funcionários técnicos e operários para atividades como instalação de equipamentos, auditorias etc., e executivos para ocupar cargos de alta gerência nas subsidiárias. Contudo, na experiência de expatriação Joly (1996, p. 84) argumenta que viver no exterior, “especialmente em um meio cultural muito diferente do seu é uma experiência que nos mergulha na confusão”. Segundo o autor, encarar a experiência de inserção em outra cultura obriga-nos a passar por certa desestruturação da personalidade causada pela experiência intercultural, o qual se torna a primeira causa das dificuldades enfrentadas no estrangeiro, já que atinge a identidade pessoal nos seus próprios fundamentos.

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Do ponto de vista das EMNs, o profissional que rejeita a oportunidade da transferência internacional auto-limita seu desenvolvimento profissional, pois o fenômeno da globalização obriga ao profissional a obter experiência internacional, especialmente para aquelas pessoas que desejem ocupar postos elevados na organização. Nesse sentido, rejeitar ou aceitar uma expatriação pode resultar em conseqüências negativas e positivas. Negativas, maiormente no plano pessoal; pelos problemas familiares, pois mesmo que o expatriado seja solteiro sentirá a falta da sua família e de seus amigos, e se for casado, pela adaptação do cônjuge e dos filhos à nova cultura. Positivas, especificamente, no sentido profissional, já que isso se reflete na medida em que o expatriado veja a transferência como uma aventura empresarial que lhe permita ampliar conhecimentos e experiências em sua carreira profissional.

Por estas questões mencionadas, este trabalho se propus analisar as barreiras na comunicação e na adaptação dos expatriados que moram e trabalham na cidade do Rio de Janeiro.

1.1

Justificativa e contextualização do estudo

Existem muitas barreiras culturais, as quais têm sido amplamente abordadas em outras pesquisas para explicar os problemas que enfrentam os estrangeiros em outra cultura. Tal é o caso da pesquisa realizada por Joris Steinberg (2009) com Percepções Culturais de Estrangeiros que trabalham no Rio de Janeiro: barreiras e dificuldades enfrentadas. Nessa

pesquisa Steinberg aborda de forma geral as dificuldades culturais que os estrangeiros enfrentam ao conviver em uma cultura de outro país. No entanto, este estudo pretende diferenciar-se, principalmente, no sentido de abordar especificamente as barreiras culturais na comunicação e adaptação de expatriados que trabalham nas operações de EMNs, no município de Rio de Janeiro.

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interesse desta pesquisa, pois estes conhecimentos têm-lhe permitido identificar fatores diferentes da sua cultura, os quais têm influenciado sua comunicação e adaptação com as pessoas.

Por outro lado, a seleção é também de interesse profissional, já que no intuito de identificar os problemas de comunicação e adaptação que enfrentam os expatriados em outro país, este estudo pretende contextualizar-se na América Latina, uma região que compartilha algumas semelhanças culturais por ter sido colônia da Espanha, Portugal e da França. Nesse âmbito, existe uma grande confusão na designação dos países que a integram por sua diversidade de culturas, mas não se pode falar de um bloco uniforme, já que entre eles existem variações lingüísticas, culturais, étnicas, sociais, políticas, econômicas e ambientais. Em ocasiões a palavra América Latina é usada para designar os países cujo idioma oficial é o espanhol e o português. Outras vezes é usada para juntar os países que cujo idioma oficial é o espanhol, português, francês e inglês, mas para muitos latino-americanos o Brasil seria um contexto cultural particular.

Nesse âmbito, Feres Júnior (2010, p. 111-112), menciona que a conceituação da América Latina baseia-se em uma assimetria fundamental entre as percepções coletivas de auto-americanos e de latino-americanos. O autor afirma que o ‘latino’ na América Latina diz unicamente à filiação lingüística das principais línguas faladas na América Latina. Cita que o anglo-saxão é a palavra que descreve a população que fala Inglês na América Latina, assim como ‘latino’ é para os falantes de Espanhol e Português no mesmo continente. Entretanto, explica que ‘Anglo’ e ‘Saxão’ separadamente é o nome das tribos germânicas que invadiram as Ilhas Britânicas no século V, e com o hífen refere-se em si ao Inglês, pois o Inglês é a língua do poder europeu que colonizou os Estados Unidos. Nesse sentido, “a forma assimétrica para América anglo-saxônica seria América Portuguesa e América Espanhola, mas não América Latina.” Assim, segundo o autor, com esta interpretação, anglo-saxão não é perfeitamente simétrica para América. Ele aponta que o Português e o Espanhol são considerados línguas latinas, da mesma forma como o Inglês se refere a um idioma germânico ou teutônico. Portanto, ele conclui que o jogo simétrico para América Latina é a América Germânica ou América Teutônica.

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seguidas de exemplos históricos no sentido geográfico. A quarta definição corresponde às características de temperamento ou comportamento (associados no passado com discursos racistas) popularmente atribuído às pessoas européias ou americanas que falam línguas provenientes do latim, mas que se referem exclusivamente à cultura que define o caráter latino, como orgulho, paixão, impetuosidade, vistoso na aparência e outras. Entretanto, explica que são negativas, embora alguns possam não parecer ser assim a primeira vista, pois o orgulho é a exibição de excessiva auto-estima, e, a impetuosidade e a paixão são associadas à irracionalidade (ambos usados para descrever e avaliar os tipos de ação que são arrebatados em emoções e sentimentos que não são controlados pela razão). A quinta definição é uma forma elíptica da América Latina. Finalmente, o autor articula que “na linguagem cotidiana, a caracterização depreciativa da América Latina não pode ser facilmente dissociada do significado geográfico do conceito. Afinal de contas, o que demarca que o significado geográfico que separa América Latina do resto da América é o fato de que as pessoas são vistas como latino, e portanto, como um ‘outro’ que habita a América.”

Por sua vez, Colburn, (2002) menciona que a definição de América Latina tem sido muito criticada não só por sua imprecisão, mas também pelo avanço das representações de assumir uma cultura homogeneizada que contribuía a legitimar discriminações sociais. O termo “América Latina” ou “Latino-America” teve origem na França durante o reinado de Napoleão III, em 1860, quando o país estava perdendo para a Inglaterra em termos de capacidade industrial e financeira. De acordo com Colburn (2002), foi o Frances Michel Chevalier quem deu o nome de l´Amérique Latine, na esperança de promover a solidariedade

entre as nações, pois teve a idéia de que os falantes de espanhol e português compartilhavam afinidades culturais e raciais com os povos da Europa.

Dessa maneira, é importante ressaltar que o Brasil, assim como os demais países da região América Latina, tem enfrentado os efeitos da globalização. No entanto, Brasil tem ganhado relevância internacional por ter aproveitado as oportunidades do processo globalizante, abrindo-se a novos mercados e incrementado as relações nos negócios internacionais. Esse artifício trouxe consigo o interesse pelo investimento direto no país das grandes EMNs. E, nesse contexto, Ambrozio (2008) menciona que o crescimento da importância do Investimento Direto Externo (IDE) de empresas sediadas nos países em desenvolvimento é um fenômeno recente e diretamente relacionado ao processo de globalização da economia.

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dos fluxos de IDE latino-americano nos últimos 15 anos o aumento tem sido substancial. Assim também, aludem que a maior parte desse IDE provém de quatro países – Argentina, Brasil, Chile e México- com participações importantes da Colômbia e da Venezuela. Os autores afirmam que América Latina tinha fluxos mais significativos do que a Ásia em desenvolvimento, e nesses últimos anos essa situação tem se revertido. Não obstante, dizem que a aceleração do IDE asiático relativo ao latino-americano também se manifesta em termos da presença de empresas da região entre as maiores empresas transnacionais. Dessa maneira, mencionam que das 30 maiores empresas de países em desenvolvimento com IDE em 1977, 14 eram latino-americanas e 10 eram do sudeste asiático. Em 1993, entre as 50 maiores transnacionais de países em desenvolvimento 17 eram empresas latino-americanas contra 33 asiáticas. Porém, dessas latino-americanas duas permaneciam na lista referente a 2003, a CEMEX e a Petrobras, já no transcurso da década outras empresas passaram a integrar a lista, as brasileiras Companhia Vale do Rio Doce e Gerdau, e as mexicanas América Móvil, Bimbo e Gruma.

Ambiozio (2008, p. 2) destaca que o Brasil até meados dos anos oitenta liderava o ranking de países em desenvolvimento na atração de IDE e hoje ocupa o sexto lugar, à frente da Coréia, mas atrás de Taiwan, pois a partir de 2003 recuperou sua força, alcançando um padrão muito similar ao das economias asiáticas. Por outro lado, segundo a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), os fluxos de IDE para o Brasil apesar de ter tido uma relativa estagnação durante os anos 90s e uma queda de 26% entre os anos 2001 e 2002 (de US $ 22,5 bilhões em 2001 para US $ 16,6 bilhões em 2002), mesmo com a crise que atingiu a Argentina e as eleições presidenciais de 2002, se manteve forte e continua sendo o maior país receptor de IDE na América Latina.

(20)

processo de alocação, os expatriados e suas famílias podem sofrer dificuldades tanto de comunicação como de adaptação, como conseqüência das diferenças culturais.

Nessa linha, Janssen (1995), considera que as transferências internacionais de trabalho envolvem não apenas uma organização, mas também uma transição cultural, na qual os expatriados são confrontados com um novo mundo de padrões culturais (sistemas de valores, crenças, modos de fazer as coisas etc.), os quais podem estar potencialmente em desacordo com seus próprios sistemas de valores e hábitos de vida. Segundo a autora, eles precisam apreender sobre os hábitos da cultura local, apreender a comunicar-se com as pessoas locais sobre o seu cotidiano e evitar posições rígidas, devido que a comunicação entre culturas não se dá por si só, ela sempre é entre pessoas. Portanto, a comunicação intercultural se dá nos contextos nos quais as pessoas interagem, são únicos, dinâmicos e mutáveis.

Por sua vez, Lau et al. (2001) ressaltam que a gestão da expatriação é essencial para o sucesso dos negócios internacionais. Eles mencionam que expatriados são gerentes e funcionários realocados de um país para outro, para supervisionar jont ventures, alianças

(incluindo franquias e licenciamentos) e subsidiárias no exterior. Na opinião deles, os expatriados desempenham um papel crucial para garantir o sucesso das operações internacionais das EMNs. Entretanto, da mesma maneira que menciona Janssen (1995), Lau et al. alertam que um dos maiores desafios para os expatriados é a complexidade cultural dos ambientes em que operam. Mencionam que os expatriados estão expostos a experimentar positiva ou negativamente o choque cultural - causado por stress múltiplo: intelectual,

emocional e fisiológico-, pois pode comprometer sua capacidade de funcionar bem quando são incapazes de interpretar sinais de um ambiente novo e incerto. Porém, esse choque cultural é aliviado quando se acostumam ao novo ambiente, mas para isso acontecer, têm que passar por certas fases, do contrario lhes pode provocar frustração, confusão e ansiedade.

(21)

1.2

Problemática e delimitação do estudo

Apesar de existirem inúmeros estudos para compreender a relação entre a cultura e o comportamento organizacional, as pesquisas sobre expatriações e expatriados, como menciona Freitas (2000) têm sua estréia no final da década dos 80s, despertando o interesse entre a relação cultura nacional e cultura organizacional. Esses estudos como menciona a autora são eminentemente de natureza empírica, sustentados pelos estudos comparativos entre culturas. A autora agrega que são bastante comuns os estudos sobre casos organizacionais bem sucedidos e fracassados em função da atenção sobre a compatibilidade cultural, devido a que mudanças organizacionais freqüentemente implicam mudanças culturais. Menon (2008) afirma que essa corrente de literatura se tornou uma das áreas mais pesquisadas em gestão, pois sua importância se deve à reflexão no fato de que a obra de Hofstede Culture´s Consequence: International Differences in Work-Related Value, na década dos 80´s, se

converteu em um dos livros mais citados nas ciências sociais do século XX.

Por essa razão, e mesmo existindo multiplicidade de publicações para entender a cultura nacional e organizacional, ainda existem aspectos a serem desvendados. Diante dessa necessidade se considera importante aprofundar o estudo, em particular, nos problemas que expatriados em EMNs enfrentam no dia-a-dia, como por exemplo: quais as principais barreiras culturais na comunicação e na adaptação que influenciam a integração dos expatriados em uma sociedade diferente. Mais particularmente, este trabalho questiona se as barreiras culturais de comunicação e adaptação são diferentes para expatriados homens e mulheres. Se os aspectos da cultura brasileira na comunicação e na adaptação são barreiras difíceis de lidar com os colegas de trabalho. Ou, se as dificuldades que sentem as famílias de expatriados no exterior impactam de alguma forma o desempenho destes no plano pessoal e profissional.

(22)

podem dificultar em grande parte o ajuste do expatriado na sua vida pessoal, e por tanto, na sua vida profissional.

O contexto de análise cultural se delimita na cultura nacional brasileira, representado pelo município do Rio de Janeiro.

1.3

Objetivos da Pesquisa

1.3.1 Objetivo Geral

O objetivo desta pesquisa é identificar quais são as barreiras culturais na comunicação e na adaptação dos expatriados que trabalham nas filiais de EMNs, no município do Rio de Janeiro.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Averiguar se as barreiras culturais são percebidas da mesma maneira para expatriados homens e mulheres;

b) Verificar se os expatriados têm dificuldade de lidar com seus colegas de trabalho com alguns aspectos da cultura brasileira/carioca; e

(23)

1.4

Estrutura da dissertação

Tratamos de descrever neste tópico as etapas essenciais do presente estudo, o qual consta de cinco capítulos mediante a seguinte organização:

Neste capítulo apresentamos na introdução a relevância e contextualização do estudo. Justificamos a escolha pelo tema, a problemática e delimitação do estudo, e os objetivos envolvidos. O segundo capítulo destinou-se à revisão de literatura, a qual contemplou teoricamente os principais aspectos do estudo em pauta, na tentativa de sustentar e aprofundar o conhecimento nos seguintes temas: cultura, com autores como Hofstede (1997, 2001), Thompenaars (1994), Sundaram e Black (1995), Katsioloudes e Hadjidakis (2007), e Laraia (2008); a importância da cultura nacional, defendida por autores como Rodrigues e Duarte (1999); a cultura nacional do Brasil, com autores brasileiros, como Fernando Motta e Miguel Caldas (1997), Sergio Buarque de Holanda (1995), Darcy Ribeiro (2006), Alexandre Borges de Freitas (1997), Marco A. Prates e Betânia T. de Barros (1997), e Lívia Barbosa (2006); estratégias de expatriações, com autores como Bonache, Brewster e Suutari (2001), e Varma, Min Toh e Budhwar (2006); a interação do individuo, apresentada por Jean-Françoi Chanlant (1996); a comunicação e adaptação intercultural com autores, como Valderez Fraga (2000, 2006), David Berlo (1968), Mendenhall, Punnett & Ricks (1995), Feyereisen e De Lannoy (2001), Katsioloudes e Hadjidakis (2007), Jean-Claude Usunier (1992), Rocha e Magalhães (2002), Allian Joly (1996), e Kalervo Oberg (1954).

No terceiro capítulo tratamos a metodologia adotada, a qual nos ajudou para selecionar e identificar a amostra; os sujeitos da pesquisa, a forma de coletar os dados e como tratá-los. Nesse sentido, o tipo de pesquisa que tomamos foi qualitativo, com caráter descritivo e explicativo, utilizamos amostragem estratificada e as entrevistas foram as técnicas que nos serviram para coletar a informação.

No quarto capítulo descrevemos e analisamos os dados obtidos, mediante a contemplação do método de investigação selecionado, mencionado no capitulo anterior.

(24)

2

REVISÃO DE LITERATURA

2.1

Visão geral sobre cultura

Etimologicamente, a palavra cultura vem do latim, cultüra, cujo termo significa cultivo

ou tendência a cultivar-se ou tendência ao crescimento natural. Trompenaars (1994, p. 24) refere-se à cultura como “o modo como as pessoas atuam na natureza, onde os problemas do cotidiano são resolvidos de formas tão óbvias que as soluções desaparecem da nossa consciência.”

(25)

Figura 1. Modelo de cultura

Fonte: Trompenaars (1994, p. 23).

De acordo com Trompenaars (1994), a camada exterior identificada como artefatos e produtos é onde encontramos a cultura explícita, pois esta compreende a realidade observável. O autor menciona que é neste nível de observação onde se começam os preconceitos sobre o diferente, o esquisito e negativo. Na segunda camada, chamada de normas e valores se reflete em níveis de cultura mais profundos à cultura explícita, porque aqui se mostra o entendimento mútuo que um grupo tem sobre o que está certo ou errado, podendo desenvolver-se as normas mediante leis escritas e os valores que determinam o bem e o mal. Finalmente, na camada (interior) onde estão as premissas básicas implícitas é onde encontramos a razão para a existência, pois aqui o valor mais básico é representado pela luta à sobrevivência.

Nesse mesmo tópico, consideramos que apesar da obra de Hofstede (1984) ter-se convertido praticamente na base para trabalhos de pesquisa nas ciências sociais, como afirma Menon (2008), Hofstede não apresenta o seu conceito sobre o termo ‘cultura’, ele se baseia nos escritos de Kluckhohn (1951), Guilford (1959), Krober e Parson (1958), Triandis (1972) e outros autores para poder construir a partir desses escritos sua definição.

Cultura consiste em formas padronizadas de pensar, sentir e reagir, adquirida e transmitida principalmente através de símbolos, constituindo as realizações distintivas dos grupos humanos, incluindo suas personificações em artefatos; o núcleo essencial da cultura consiste em idéias tradicionais (ou seja, derivadas e selecionadas historicamente), especialmente, seus valores associados (KLUCKHOHN, 1951, p. 86, n. 5 apud HOSFTEDE, 2001, p. 9).

(26)

Assim, Hofstede (2001, p. 9) define cultura “como a programação coletiva da mente que distingue os membros de um grupo ou categoria de pessoas de outro.” O autor refere-se a quatro conceitos; símbolos, heróis, rituais e valores, que compõem a cultura e os quais podem ser vistos e explicados usando a metáfora de uma cebola, similar à proposta por Trompenaars (1994).

De acordo com a metáfora de Hofstede (1997, 2001), ele se refere à primeira camada chamada símbolos para identificar que as palavras, gestos, roupas, fotos ou objetos são os que carregam um significado particular para as pessoas de uma mesma cultura nacional. O autor as coloca do lado exterior por ser facilmente criados ou copiados de outras culturas, segundo ele, são menos representativos para comparar uma cultura. Na segunda camada onde estão os heróis, Hofstede explica que as características de uma pessoa viva ou morta, real ou imaginaria podem influenciar o comportamento de outras. Na terceira camada, o autor refere-se aos rituais, os quais são considerados socialmente esrefere-senciais dentro de uma cultura para manter ao indivíduo vinculado dentro das normas da coletividade. Finalmente, na camada onde está o núcleo da cebola encontramos os valores por serem invisíveis e por constituírem o mais oculto da cultura. Para o autor os valores representam as idéias que as pessoas têm sobre como as coisas deveriam ser, pois referenciam os sentimentos e as preferências das pessoas.

Por outro lado, os estudos de Sundaram e Black (1995) apontam que a cultura não é simplesmente a coleção total de um conjunto de pressupostos, valores ou artefatos. Para os autores a cultura é constituída por um conjunto comum de pressupostos e valores que consistentemente influenciam artefatos, especialmente o comportamento, os quais são transmitidos do grupo mais velho para o mais jovem com o objetivo de resolver seus problemas, como a forma de comunicar-se, educar-se, alimentar-se, vestir-se etc. Portanto, os métodos e idéias transferidos para as gerações futuras tornam-se invisíveis, constituindo-se regras que existem somente na mente das pessoas. De acordo com os autores, a cultura pode ser pensada e comparada a um iceberg em três níveis; artefatos, valores e pressupostos, como

(27)

Figura 2. Iceberg cultural

Fonte: Sundaram e Black (1995, p. 268).

(28)

Continuando nesse contexto, Katsioloudes e Hadjidakis no seu livro International Business: a global perspective (2007, p. 34) definem cultura como “todas as coisas que as

pessoas têm, pensam, e fazem como membros de sua sociedade.” Os autores ressaltam que ter, pensar e fazer são verbos que nos podem ajudar a identificar os componentes estruturais da cultura: objetos materiais, idéias, valores, atitudes e comportamento normativo. Também discutem que o termo cultura universal refere-se à idéia de que todas as culturas do mundo, mesmo com diferenças, não somente encaram um número de resultados comuns, mas também um número de características similares. No entanto, dizem que as diferenças culturais existem porque sociedades diferentes desenvolveram diferentes maneiras de satisfazer essas necessidades universais.

Por sua vez, Laraia (2008) explicando o desenvolvimento do conceito de cultura no seu livro Cultura, um conceito antropológico, se baseia na contribuição de Kroeber (1949 apud

LARAIRA, 2008, p. 48), quem manifesta os seguintes pontos:

• A cultura, mais do que a herança genética, determina o comportamento do homem e justifica as suas realizações;

• O homem age de acordo com os seus padrões culturais. Os seus instintos foram parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo por que passou;

• A cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos. Em vez de modificar para isto o seu aparato biológico, o homem modifica o seu equipamento superorgânico;

• Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do aprendizado do que agir através de atitudes geneticamente determinadas; e

• A cultura e um processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica das gerações anteriores. Este processo limita ou estimula a ação criativa do indivíduo.

(29)

ressalta que a herança cultural define a maneira de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, assim como também, os diferentes comportamentos sociais e posturas corporais. Acrescenta que essa é a razão pela qual podemos entender o fato de que indivíduos de culturas diferentes podem ser identificados por algumas características, como o modo de agir, vestir, caminhar, comer e falar.

Deste modo, no que tange às diferentes definições da cultura, como exposto anteriormente, consideramos que os elementos culturais que influenciam nossa comunicação e adaptação em outra cultura estão relacionados com todas as características que os autores citaram.

2.2

Elementos culturais que influenciam a comunicação e a adaptação dos

expatriados

2.2.1

Comunicação Intercultural

Da mesma maneira em que a cultura tem sido objeto de múltiplas definições por vários pesquisadores, o conceito de ‘comunicação’ também tem sido abordado amplamente para definir as interações humanas. Nesse sentido, consideramos que a comunicação é o processo de transmitir e compartir significados através de símbolos, os quais podem ser lingüísticos ou não verbais, mas que juntos transmitem uma mensagem.

(30)

o codificador funciona como o conjunto de habilidades motoras da fonte e o decodificador como o conjunto de habilidades sensoriais do receptor.

Nessa mesma linha, vale destacar que Mendenhall, Punnett & Ricks (1995, p. 535-539) apontam cinco dimensões fundamentais na comunicação humana:

2.2.1.1 A comunicação é um processo

Os autores citando a Haworth e Savage (1989) - que indicam que a comunicação não tem começo nem fim, que ao contrário, é um intercâmbio de mensagens entre dois ou mais pessoas-, dizem que as relações comunicativas com as mesmas pessoas com que mantemos contato podem deixar de entender-se, pois as pessoas mudam, as circunstâncias cambiam e os tópicos da comunicação também.

2.2.1.2 A comunicação envolve intenções e mensagens expressivas

Nesta dimensão os autores referem-se à maneira como as pessoas expressam sua comunicação verbal e não verbal com outras pessoas, pois para que ocorra uma clara comunicação a interpretação da mensagem deve ser expressiva e harmoniosa entre as pessoas. Os autores citam como exemplo o trabalho em um laboratório entre parceiros americanos e britânicos, onde um estudante americano dá claras indicações a seu parceiro, mas que pelo elevado nível de especificidade das direções causou no britânico uma forma involuntária de interpretação.

2.2.1.3 A comunicação é construída de múltiplos sinais

(31)

2.2.1.4 A comunicação depende do contexto para o seu sentido

Nesta dimensão os autores explicam que o “contexto” se refere ao grau de conhecimentos e experiências compartilhadas entre comunicador e ouvinte. Segundo eles, isto acontece quando ambos têm uma história em comum, ou pelo menos compartilham um entendimento, um do outro, da sua vida, das suas intenções e das suas experiências. Assim quando o contexto é entendido entre os dois, muito pode ser dito, embora pouco se fale, já que eles podem “ler nas entrelinhas” de suas comunicações.

2.2.1.5 A comunicação depende da competência das pessoas que se estão comunicando

Esta dimensão esclarece a forma como as pessoas são capazes de enviar e expressar as mensagens de forma clara, bem como receber e interpretar-las corretamente. Devido a que se uma mensagem é mal expressa e mal interpretada, ocorrem mal-entendidos na comunicação. Os autores citam como exemplo as habilidades de expatriados. Se estes não podem falar bem a língua local, não poderão expressar claramente o que eles querem para as pessoas locais, mas se estes são fluentes na língua, a incompreensão poderia ocorrer em que as pessoas locais interpretem o propósito da mensagem corretamente, mas adquiram uma expressão negativa da mensagem em sua natureza. Pode também ocorrer que os expatriados sejam bem entendidos, mas o cheiro do corpo pode ser indesejável para as pessoas locais. Sendo assim, os expatriados podem ser mal julgados e a comunicação ser cortada por completo.

Mendenhall, Punnett & Ricks (1995), explicam que essas cinco dimensões apresentadas se aplicam a qualquer cultura, mas que para comunicar-se com alguém de uma cultura diferente não é suficiente saber a língua, também devem apreender-se as regras de como a linguagem é utilizada nos diferentes contextos e situações.

A comunicação intercultural segundo Nobleza Asución-Lande (1989), significa distintas coisas para diferentes pessoas. Ela menciona que a experiência de ser estranho e de interatuar é caracterizado de maneira incerta e de novidade. Segundo Nobleza (1989) é comum experimentar ansiedade quando se conhece uma pessoa, mas que é ainda mais intensa quando pertence a um grupo sociocultural diferente.

(32)

resultado do encontro.” Nesse sentido, a interculturalidade entra em contato com a diversidade cultural.

De acordo com Fraga (2000) a interculturalidade é o inter-relacionamento entre diferentes culturas nas suas diversas dimensões, individuo/individuo, individuo/grupo, grupo/grupo, grupo/nação. A autora menciona que no movimento inter-relacional as vivências podem ocorrer quando o trânsito cultural é autêntico, ou seja, quando as inter-relações não são conflitantes, quando os implicados não provocam multitarefa ou exercem domínio cultural nem sofrem domínio de outras culturas.

2.2.2 Barreiras na comunicação

De acordo com Sundaram e Black (1995), a cultura tem um impacto na habilidade de como uma pessoa se adapta para viver e trabalhar em um país estrangeiro. Os autores mencionam que a cultura influencia os estilos de comunicação em uma variedade de maneiras. Eles ressaltam dois aspectos importantes: o primeiro é na medida em que o contexto cultural (alto e baixo) afeta o que é dito e/ou como é dito, e o segundo é que de acordo às diferentes culturas, a comunicação pode variar de linguagem explícita a linguagem implícita ou vice-versa. Na explícita se comunica somente o que se quer dizer, a comunicação eficaz não está na pessoa que fala. E na implícita acontece o contrário, a pessoa que fala e a ouvinte, ambos compartilham o censo de comunicação eficaz, mas também compartilham desacordos.

Figura 3. Estilos na comunicação

(33)

Se buscarmos compreender um povo, temos que tentar colocar-nos, tanto quanto nós podemos, no contexto particular, histórico e cultural. ... Não é fácil para uma pessoa de um país entrar no fundo da cultura de outro país. Assim, há grande irritação, pois um fato que parece óbvio para nós não é imediatamente aceitado pela outra parte ou não parece óbvio para ela em tudo... Mas a extrema irritação vai quando pensamos… que ela é apenas condicionada diferente e simplesmente não pode sair dessa condição... É preciso reconhecer que qualquer que seja o futuro pode-se realizar, países e povos diferem em suas abordagens e suas formas, na sua abordagem à vida e seus modos de viver e pensar. A fim de entendê-los, temos de compreender o seu modo de vida e abordagem. Se quisermos convencê-los, temos que usar sua língua, tanto quanto pudermos, não a linguagem no sentido estrito da palavra, mas a linguagem da mente. Essa é uma necessidade. Algo que vai ainda mais longe do que isso não é o apelo à lógica e da razão, mas algum tipo de consciência emocional das outras pessoas. (NEHRU, 1950 In: OLIVER, 1962, p. v.).

Com esse parágrafo Oliver (1962) introduz no seu livro Culture and Communication. The problem of penetrating national and cultural boundaries, a relação entre as palavras e a

guerra. O autor explica que sua preocupação é principalmente nas idéias direcionadas através das linhas de fronteira nacional. Onde o propósito de alguns dos discursos da diplomacia internacional é impedir as guerras. E porque o raciocínio é que em escala global podemos falar em conjunto e podemos nos entender um ao outro; o entendimento é a matriz de conciliação e amizade.

(34)

2.2.2.1 Comunicação Verbal

Trompenaars (1994) expõe que na comunicação verbal a palavra falada independentemente do ritmo, velocidade ou humor deve ser considerada também o tom da voz, devido a que todas as pessoas têm estilos muito diferentes de conversação. O autor explica mediante a seguinte figura que para os anglo-saxões, quando A pára, B começa. Segundo ele não é de bom tom interromper. Já os latinos ainda mais verbais se integram um pouco mais que isso; B freqüentemente interromperá A, e vice-versa para mostrar interesse no que outro está dizendo.

Figura 4. Estilos de comunicação verbal

Fonte: Trompenaars (1994, p. 69)

De acordo a essa figura, Trompenaars (1994) também ressalta que o silêncio da comunicação dos orientais assusta ao ocidente, mas essa comunicação representa para os orientais um sinal de respeito pela outra pessoa reservando o tempo para que seja processada a informação. Nesse sentido, o autor observa que em uma cultura o silêncio pode dever-se ao temor – mais se este é bastante prolongado-, enquanto em outra cultura esse silêncio pode significar uma comunicação intensa ou bem uma comunicação satisfatória.

Anglo-saxão: A B

Latino: A B

Oriental: A

(35)

2.2.2.2 Comunicação não verbal

Hofstede (1997) menciona que a comunicação não verbal é um dos obstáculos na comunicação intercultural, pois toda cultura possui formas diferentes de transmitir mensagens, pelo qual os gestos e as posturas para expressar o que sentimos tendem a variar. Por sua vez, Feyereisen e De Lannoy (2001) manifestam que os indivíduos a parte de que têm semelhança com a língua falada na sociedade à que pertencem, aprendem gestos, mímicas, expressões corporais próprias a seu meio de origem mesmo que alguns movimentos possam ter um significado universal, como as expressões das emoções (HOFSTEDE, 2001). Os autores argumentam que a comunicação não verbal tem haver com a imagem que projetamos, na maneira em que a transmitimos através dos sinais corporais, sendo um efeito sobre as demais pessoas, já que a produção de gestos identifica a motivação e competência da pessoa. E dessa maneira, as condutas específicas não verbais –que são simbólicas em uma cultura-, não podem ter o mesmo significado em outra. Feyereisen e De Lannoy (2001), apontam que os comportamentos não verbais interagem com os verbais, onde os movimentos da cabeça e da mão são feitos enquanto se produze a fala, pudendo estar ligados ao estilo da fala ou à entonação.

Katsioloudes e Hadjidakis (2007) concordam em que a linguagem não verbal pode ser entendida como a comunicação que inclui gestos com as mãos, expressões faciais, contato com os olhos e a manipulação do espaço pessoal. Citam como exemplo aos italianos, gregos, árabes e venezuelanos como as pessoas que usam gestos com as mãos e outros movimentos. E contrariamente, dizem que os japoneses e coreanos são mais reservados, já que comunicam somente a informação que querem dar a seu interlocutor por meio de sua língua falada.

(36)

2.2.2.3 Valores

Considera-se que do ponto de vista da diversidade cultural, as normas e valores junto com as crenças são as que permitem diferenciar às culturas. Rodrigues e Duarte (1999) manifestam que o conjunto de crenças de algumas culturas seculares é o que distingue os grupos uns dos outros e que daí a importância de estudar as variações nos valores e nas crenças, pois são implicações essenciais para compreender a cultura nacional.

2.2.2.4 Linguagem

Com mencionado anteriormente, o homem para comunicar-se emprega símbolos, gestos etc. No entanto, o meio mais eficiente é a linguagem que nos serve para transmitir qualquer mensagem desejada. A linguagem é um fator essencial na comunicação intercultural, pois as pessoas compartem, dão e recebem informações por meio da linguagem. Por isso, o idioma reflexa necessariamente o contexto de uma cultura.

A língua constitui um sistema de fonemas, de formas e padrões frasais. Mas cada língua possui um sistema e uma estrutura que se diferencia das outras. Quando falamos ou escrevemos executamos uma atividade lingüística em uma língua só, o que diferencia a linguagem é o nosso discurso, pois cada pessoa dependendo de sua cultura sabe como transmitir uma mensagem. Usunier (1992) menciona que a linguagem é um elemento bem evidente e essencial, particularmente, entre a dinâmica cultural (comunicação, interação entre uma comunidade cultural). O autor ressalta que a língua que aprendemos na nossa comunidade onde nascemos e somos educados, é ela a que estrutura nossa visão do mundo e nosso comportamento social.

(37)

vezes é um desafio para olhá-lo objetivamente. Mendenhall, Punnet e Ricks (1995), apontam que a língua joga uma parte importante na socialização do indivíduo, já que sua importância natural é ilustrada pela crença deste. Nesse sentido, se a pessoa não sabe falar a língua estrangeira, esta só vai conseguir comunicar-se até que apreende a pensar naquela língua, pois uma língua influência a maneira de pensar das pessoas.

Na sua forma geral, a linguagem é considerada como a principal ferramenta de relação com os habitantes do país anfitrião porque por meio dela nos podemos comunicar e aprender a organização social na qual nos tentamos inserir, devido a que é um dos principais traços culturais. São segmentos lingüisticamente diferentes de uma população culturalmente, socialmente e politicamente distintos (KATSIOLOUDES e HADJIDAKIS, 2007). Segundo Joly (1996), as particularidades da linguagem não somente lembram as origens regionais, mas também as origens sociais. No entanto, a linguagem como afirma o autor marca distancias sociais, pois no momento em que nos dirigimos a uma pessoa, devemos marcar uma posição, para assim evitar faltas de respeito por parte dos nossos interlocutores.

Em português brasileiro, há quatro modos de tratamento: tu, você, o senhor (a),e o doutor (a). O tu denota um grau de familiaridade que o coloca nos círculos dos

amigos íntimos; o você é utilizado com os familiares, as pessoas que conhecemos ou

de nossa posição; o senhor é um vocábulo de polidez, mas igualmente o modo de

dirigir-se dos inferiores aos superiores; enfim, quando a distância social é ainda maior, quando se dirige a uma pessoa importante na hierarquia social ou econômica, convêm empregar doutor como forma de polidez; é uma falta grave não usá-la

(COUTO, 1986 apud JOLY, 1996, p. 97).

(38)

Por sua vez, Hofstede (1997) baseando-se na metáfora da cebola menciona que os símbolos são reconhecidos por pessoas que compartilham uma mesma cultura. Entretanto, o autor ressalta que aspectos como a linguagem, gírias, o estilo de vestir e gestos são copiados facilmente por pessoas de outras culturas, pois é a camada mais superficial. Isto ressalta a afirmação de Hall (1973, p. 203) “por regra geral, as diferenças culturais que realmente existem, por mais que sejam inconscientes quando se manifestam, freqüentemente são atribuídas à ineptidão, grosseria ou vacuidade pela parte da outra pessoa.”.

Nesse sentido, Rodrigues e Duarte (1999) manifestam que os expatriados em ambientes interculturais devem ter condições de avaliar o estilo de comunicação para evitar conflitos no contato com profissionais de outras culturas, pois o sucesso dos negócios internacionais depende da capacidade da linguagem empregada na comunicação destes. Por tal razão, a análise deve englobar desde aspectos sutis até os mais cotidianos, já que aspectos como o tom da voz, o estilo de comunicação e gestos podem subsidiar a ação de seu ajustamento.

2.2.3 Adaptação Intercultural

Dependendo da postura que adotem na sua vivência da diversidade cultural, os expatriados podem ser bem sucedidos ou fracassados, pois representam uma ferramenta valiosa, mas também podem ser despesa para as EMNs. Por isso, como recomendam Mendenhall, Punnet e Ricks (1995), é conveniente que as EMNs tomem cuidado com todos os fatores que podem afetar o desempenho dos seus funcionários no exterior, porque normalmente estes são afetados pelo choque cultural quando este compromete a adaptação da família aos novos ambientes; religião, educação, língua, sistemas sociais etc.

(39)

O responsável por um escritório (filial) latino-americano de importante firma européia de consultoria em engenharia carregava um pesado problema nas costas; sua esposa mortificava-se num país latino-americano onde seu empregador o tinha colocado por, pelo menos cinco anos; depois de dois anos a esposa queria a todo custo voltar para a Europa, porque sofria com o afastamento de sua família e de seus amigos, não conseguia criar um círculo de amigos no país-hóspede, nem no seio da colônia estrangeira; este executivo nos confiava sua angústia de ter de voltar prematuramente, pois isso significaria sem dúvida o desemprego para ele, fato do qual sua esposa tinha plena consciência, quanto mais que insistia sobre suas dificuldades do mercado de trabalho para os engenheiros na Europa. Neste caso, a vida no estrangeiro era vivida como uma espécie de purgatório e a esposa vivia sua situação como uma incapacidade de sua parte de suprir as necessidades de sua família que havia ficado na Europa, espiritualmente por falta de perspectivas de trabalho mais seguras. (JOLY, 1996, p. 94).

Continuando nesse tópico, consideramos que ao viajar a outros lugares e por conseqüente, a outras culturas, todos somos candidatos a passar pelo impacto do câmbio cultural. Essa desorientação que surge pela mudança cultural nos obriga a sofrer um impacto bom ou mau, nos pode gerar comportamentos e atitudes positivas ou negativas, entretanto, o resultado depende na maneira de como nos inserimos e interagimos na nova sociedade.

2.2.3.1 Choque cultural: fases da experiência vivida pelos expatriados

A experiência de morar no estrangeiro, em vezes, pode resultar uma oportunidade para desenvolver-se profissionalmente, mas em outras, pode resultar um grande conflito, pois a inserção em outra cultura obriga-nos a passar por uma desestruturação-reestruturação de nossa personalidade, devido a que a interculturalidade é uma das principais dificuldades a ser enfrentadas no exterior porque atinge a nossa identidade pessoal.

Katsioloudes e Hadjidakis (2007) mencionam que o choque cultural é uma combinação de desorientação e preocupação sobre como será o ambiente de uma cultura não familiar. Sua abordagem afirma que a causa do choque cultural é o trauma da experiência da pessoa em uma nova e diferente cultura, onde eles perdem signos familiares e sinais que podem usar para interagir no dia-a-dia.

(40)

choque cultural, pois são cada vez mais necessárias para humanizar qualquer operação que pode ser considerada como inter-pessoal, inter-grupal ou internacional.

Janssens (1995, p.158) baseando-se nos estudos de Gullahorn e Gullahorn (1963) e Oberg (1960) menciona que o grau de adaptação a um país estrangeiro tem sido descrita como curva em “U” de quatro estágios: lua de mel, período de desilusão e frustração, recuperação e adaptação positiva após seis meses. De acordo com a autora, a curva “U” de ajustamento tem sido amplamente utilizada por vários autores, como Hofstede (1997), para explicar as dificuldades da interculturalidade. Outros como Black e Mendenhall (1995) a usaram para explicar a aprendizagem social.

Nesse sentido, cabe ressaltar que Kalervo Oberg (1954), antropólogo canadense é considerado como eventualmente, o primeiro em introduzir o termo ‘cultural shock’,

referindo-se à precipitação pela ansiedade que resulta da perda dos contatos de todos os nossos familiares, sinais e símbolos das relações sociais. Ele explica que choque cultural é uma doença ocupacional que pode atacar pessoas que vão trabalhar em outras culturas.

O sucesso de um executivo em outras culturas depende fortemente da capacidade de entender e balancear dualidades, tais como pensar globalmente e agir localmente, descentralização e centralização, mudança e continuidade, delegação e controle, competição e parceria, dualidades essas que, normalmente, ocorrem em experiências que envolvem outras culturas. Essas dualidades são normalmente consideradas mutuamente excludentes pelos executivos ocidentais. A análise correta dessas dualidades deve promover um balanceamento entre elas para que as diferenças culturais sejam gerenciadas de forma construtiva. (ROCHA e MAGALHÃES, 2002, p. 229).

Rocha e Magalhães (2002) ressaltam que o choque cultural pode ser visto como um sinal positivo na integração do indivíduo com a nova cultura. Os autores mencionam que sendo positivo para o expatriado, o choque cultural pode ser um indicador para verificar que as diferenças culturais estão sendo percebidas e gerenciadas pelo próprio expatriado.

(41)

2.2.3.1.1 Fase do encantamento ou lua de mel

O encantamento como fase determinada por Joly (1996) e lua de mel por Oberg (1954), é considerada como a fase “turista”, pois segundo os autores todos quando viajamos podemos encontrar o novo como extraordinário ou insignificante. Por essa razão, é inevitável fazer comparações da nova cultura com a nossa, já que todo pode parecer lindo e encantador ou aborrecível. O fato é que dura só umas poucas semanas.

Os primeiros meses de inserção na cultura-hóspede, o encantamento do começo, será marcado por uma espécie de sentimento de reconhecimento. O expatriado sentirá uma satisfação embriagadora nesse país que o gratifica com um desafio a sua compreensão, que o mobiliza intelectualmente convidando-o a penetrar seus segredos, seus mistérios, suas particularidades, suas maneiras diferentes de viver materialmente, psicologicamente, culturalmente. Podemos, pois, afirmar que esta primeira tomada de contato leva a um embotamento do senso crítico. Partindo deste ponto, torna-se mais fácil determinar o tempo que seus interlocutores passaram na cultura-hóspede; se forem desmesuradamente entusiastas, é que eles acabam de chegar! (JOLY, 1996, p. 93).

Joly (1996) afirma que esta fase de encantamento dura o tempo que duram as descobertas, a estimulação dos sentidos e do intelecto. O autor argumenta que do ponto de vista profissional dura o tempo necessário para que se torne relativo o sentimento de onipotência do recém-chegado.

2.2.3.1.2 Fase do negativismo extremo ou hostilidade

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Por sua vez, Oberg (1954) manifesta que essas dificuldades devem ser insensíveis para os expatriados porque se tornam agressivas e transmitem hostilidade às pessoas do país anfitrião, já que no encontro com seus compatriotas, estes começam a criticar a cultura do país-hóspede, não como crítica objetiva, mas de forma depreciativa. Oberg (1954) explica que as pessoas em vez de tentar esclarecer essas condições que lhes afetam, elas simplesmente falam de como as dificuldades da experiência têm influenciado no seu desconforto, mas não fazem uma análise das condições reais. Por isso, é muito comum que esse tipo de pessoas se refuguem na colônia de seus compatriotas para estar sempre no seu próprio circuito, pois não conseguindo lidar com esse choque cultural é melhor abandonar o país anfitrião.

2.2.3.1.3 Fase da distância ou integração (ajuste)

No momento em que os expatriados conseguem dar-se conta que têm que mudar algumas de suas atitudes, e conseguem obter algum conhecimento da língua, é o momento de começar a relacionar-se com o povo do país anfitrião. É o momento de abrir o caminho para o novo ambiente cultural, encontrando vias de conhecimento, como dar-se conta que todas as pessoas têm sua própria maneira de fazer as coisas, de apreender apreciar a diferença e ajustar-se a ela. Entretanto, ainda que os expatriados encontrem dificuldades na cultura local, eles vão mostrar atitudes positivas.

Nesta fase é considerado que o estrangeiro tem uma atitude superior às pessoas do país anfitrião, seu senso de humor começa a exercer-se, em vez de criticar, ele brinca com as pessoas locais sobre suas próprias dificuldades (OBERG, 1954).

Porém, se o expatriado rejeita definitivamente a cultura local, é porque percebeu que realmente não se tornará um de seus membros, mas se escolhe integrar-se a essa nova cultura, a perspectiva de voltar a seu país lhe desencantará (JOLY, 1996).

(43)

É aqui onde o expatriado agirá para ficar, tentando mudar de emprego, casando-se com um autóctone ou comprando bens imobiliários com o objetivo de encontrar portas de saída para sua estada.

2.2.3.1.4 Fase do choque da volta ou adaptação

Depois de ter a experiência de ter vivido alguns anos no exterior somos candidatos a um choque tanto mais confuso quanto inesperado. Neste estágio é o momento em que o expatriado começa a sentir-se confortável utilizando a língua dos anfitriões e mais ciente da forma e comportamento cultural do país-hóspede, é o momento em que o ajuste é tão completo quanto possível.

Ao abordar as dificuldades de reinserção essas se vão manifestar tanto no plano pessoal quanto no profissional (JOLY, 1996). Do ponto de vista pessoal, tentamos demonstrar que a personalidade sofreu modificações promovidas, principalmente, do fato de uma experiência diferente em uma cultura estrangeira. É possível pensar que o expatriado que volta para casa não é a mesma que saiu, pois os problemas cotidianos da cultura de origem não se mostram como os mesmos, já que se dá conta que a vida no exterior era mais estimulante.

A vida no estrangeiro, marcada pelo risco, ocasião de confrontações das grandes questões que inquietam a existência humana, parece ter sido subitamente mais estimulante que a vida que o executivo vai novamente enfrentar. A descoberta do totalitarismo discreto de sua sociedade, onde organizações esquadrinham o conjunto das atividades humanas, virá perturbá-lo. Este mal-estar será maior à medida que o executivo for capaz de constatar que existem, na maioria das sociedades deste mundo, instituições vigorosas que são não somente uma alternativa viável, mas também muito simpática do que o sistema de funcionamento burocratizado do seu país de origem. (JOLY, 1996, p. 109).

(44)

uma faca de dois gumes. Por falta de abertura ou de política com vistas ao alargamento deste tipo de atividade, a organização terá contribuído apenas para formar futuros executivos para seus concorrentes.” (JOLY, 1996, p. 110).

O retorno dos expatriados, segundo o autor Joly (1996), mostra-se como o mais frustrante, pois são colocados no exterior por falta de abertura no país da matriz, e estando fora, essa experiência representa para eles uma oportunidade de novas aberturas e novos desafios no seu plano profissional.

2.2.3.2 Religião

Mendenhall, Punnet e Ricks (1995), citando a Terpstra e David (1985), apontam que a religião tem sido identificada como um conjunto socialmente compartilhado de crenças, idéias e ações que relata uma realidade que não pode ser verificada empiricamente, mas que se acredita que afetam o curso dos acontecimentos naturais e humanos porque as condições motivacionais da tal crença afetam suas ações. Os autores ressaltam que a religião é associada com o desenvolvimento de valores culturais, e por isso, afeta muito as atividades do dia-a-dia na sociedade. Nesse contexto, recomendam que EMNs precisam entender o rol da religião na sociedade onde elas operam, pois em um país onde a religião joga um mínimo rol, as pessoas poderiam ser mais flexíveis em termos de aderência religiosa e tolerância nos erros religiosos que estrangeiros fazem. Explicam que em um país onde as crenças religiosas são fundamentais para a sociedade e representando convicções arraigadas das pessoas, sempre haverá pouca flexibilidade e tolerância, o qual afetará as atividades da empresa.

Imagem

Figura 1. Modelo de cultura
Figura 2.  Iceberg cultural
Figura 3. Estilos na comunicação
Figura 4. Estilos de comunicação verbal
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