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Considerações sobre os conceitos de natureza, espaço e morfologia em Alexander von Humboldt e a gênese da geografia física moderna.

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Academic year: 2017

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Con siderações sobre os

con ceitos de n atureza,

espaço e m orfologia em

Alex an der von Hum boldt

e a gên ese da geografia

física m odern a

Considerations on the

concepts of nature, space, and

m orphology in Alexander von

Hum boldt and on the genesis

of m odern physical geography

Antonio Carlos V itte

Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq);

professor do Departamento de Geografia Programa de Pós-graduação em Geografia/Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

vitte@uol.com.br

Roberison W ittgenstein Dias da Silveira Mestre e doutorando em Geografia/Unicamp.

silveira_r@yahoo.com.br

13087-970 – CP 6152 – Campinas – SP – Brasil

Recebido para publicação em janeiro de 2009. Aprovado para publicação em julho de 2010.

VITTE, An ton io Carlos; SILVEIRA, Roberison W ittgen stein Dias d a. Con sid erações sobre os con ceitos d e n atu reza, esp aço e m orfologia em Alexan d er von Hu m bold t e a gên ese d a geografia física m od ern a. História,

Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio d e

Jan eiro, v.17, n .3, ju l-set. 2010, p .607-626.

Re su m o

Discu te a form ação d os con ceitos d e n atu reza, esp aço e m orfologia n a obra d e Alexan d er von Hu m bold t e seu s im p actos n a form ação d a geografia física m od ern a. In flu en ciad o p elas reflexões d e Kan t em Crítica do juízo e p elos trabalh os d e Goeth e e Sch ellin g, Hu m bold t d esen volveu n ova in terp retação e rep resen tação p ara a n atu reza n a su p erfície d a Terra, em q u e o con ceito d e esp acialid ad e é

fu n d am en tal p ara a exp licação d os fen ôm en os d a n atu reza. A geografia física m od ern a estru tu ra-se a p artir d e com p lexo cru zam en to d e in flu ên cias estéticas e in stru m en tais d esen volvid as p or Hu m bold t, n as q u ais o p rin cíp io d a con exão é im p ortan te p ara a in ven ção artística e cien tífica d o con ceito d e paisagem geográfica.

Palavras-ch ave: Alexan d er von Hu m bold t (1769-1859); filosofia kan tian a; Goeth e; m orfologia; geografia física.

A b st ra ct

The article discusses how Alexander von Hum boldt developed the concepts of nature, space, and m orphology in his works and im pacted the shaping of m odern physical geography. Influenced by Kant’s ideas in

Critiq u e of ju d gm en t and also by the

writings of Goethe and Schelling, Hum boldt devised a new interpretation and representation of nature on Earth’s surface, wherein the concept of space is essential to explaining natural phenom ena. Modern physical geography is grounded in a com plex interweaving of aesthetic and instrum ental influences fashioned by Hum boldt, with the principle of connection playing an im portant role in the artistic and scientific developm ent of the notion of a geographic landscape.

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O

objetivo d este artigo é d iscu tir os con ceitos d e n atu reza, esp aço e m orfologia em Alexan d er von Hu m bold t (1764-1858) e su a in flu ên cia n a con stitu ição d a geografia física m od ern a, bem com o su a p rem issa d e ser a geografia física p rod u to d as reflexões d e Hum boldt, provocadas pela n ecessidade de n ova explicação m etafísica da superfície da Terra. Segu n d o Barbara Maria Stafford (1984) o p eríod o d e Alexan d er Von Hu m bold t p od e ser d esign ad o com o o d a reu n ião d o em p irism o bacon ian o com a estética kan tian a d esen -volvid a p or Goeth e, estabelecen d o-se n ova rep resen tação d a n atu reza e d a su p erfície d a Terra. O ju lgam en to estético d eixa d e ser m etafórico e p assa a ser lin gu agem artística, cu ja rep resen t ação im ed iat a p o d e ser o b servad a n a cart o grafia, n o s p erfis b io geo gráfico s e, p rin cip alm en te, n a p in tu ra d e p aisagem (Men d oza, 2006).

Motivad o p elo p rin cíp io d a exp eriên cia estética d e Sch iller (Beiser, 2005), Hu m bold t acred itava q u e a p in tu ra d e p aisagem é lin gu agem q u e tam bém p erm ite a p esq u isa cien tífica e, ao m esm o tem p o, a ed u cação d o ser h u m an o. A n atu reza-p aisagem foi con sid erad a, p or Alexan d er von Hu m bold t, o Tod o. Med iad a p ela estética, a p aisagem p assou a ser com p re-en d id a co m o u m a u n id ad e viva e o rgan izad a, fo rm ad a a p art ir d as co n exõ es re-en t re o s elem en tos d a n atu reza; n ela, a observação em p írica e a con tem p lação teórica d everiam con verter o esp etácu lo estético em con h ecim en to cien tífico. Segu n do Ricotta (2003), esse p rin cíp io p erm itiria a Hu m bold t d esen volver a n oção d e esp acialid ad e, con sid erad a u m a d as m aiores in ven ções d a m od ern id ad e.

De aco rd o co m Bo w en (1 9 8 1 ), essa t ran sfo rm ação n a in t erp ret ação d a n at u reza, p rop orcion ad a p or Hu m bold t, só foi p ossível d evid o às tran sform ações n a con cep ção d e em p irism o q u e já h aviam sid o realizad as p or Kan t e p ela Naturphilosophie, p articu larm en te p ela con cep ção m etodológica d e Goeth e q u an to ao olh ar e à observação e p elas con cep ções d a filosofia d a n atu reza d esen volvid as p or Sch ellin g.

A ciên cia h u m bold tian a é o cru zam en to d e gran d es tran sform ações filosóficas, ep iste-m ológicas e eiste-m p íricas, p rovocad as p ela ciên cia n ewton ian a e tran sforiste-m ações d e su bstân cia e cau salid ad e d esen vo lvid as p o r Kan t n a Crítica do juízo em 1791, e ap ro fu n d ad as p o r Goeth e a p artir d e su as leitu ras d e Sp in oza.

A geografia m odern a, particularm en te a geografia física, n asce das reflexões da época de Hum boldt, prin cipalm en te em suas obras Quadros da natureza e Cosm os (Hum boldt, 1952, 2005) , n as quais as n oções de n atureza e m orfologia foram fun dam en tais para a con stituição de outra in terpretação da n atureza e de sua espacialidade n a superfície da Terra.

A construção dos conceitos de espaço, natureza e morfologia em Alexander von Humboldt

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m u n d o em p írico a p artir d os ‘p rin cíp ios regu lativos’; ou seja, os p rin cíp ios m ecân icos e cau sais estavam sen d o d ad os, d esd e en tão, p elos p rin cíp ios u n iversais d a razão a priori. Com Crítica da razão pura, Kan t (1999) im p õe u m a m u d an ça geral à m an eira d e filosofar, m as tam bém u m cam p o d e su sten tação p ara a ciên cia d a n atu reza em base n ewton ian a, articu lad a e levad a a cabo em Prim eiros princípios m etafísicos da ciência da natureza (Kan t, 1990). Estabelece-se en tão u m a ru p tu ra en tre su jeito e objeto, p ertin en te ao in teresse d a razão n a form u lação d e u m con h ecim en to com valid ad e objetiva p ara tod a exp eriên cia p ossível, q u e, d esse m od o, acaba p or su bscrever a n atu reza n a esfera d o con d icion ad o, d eixan d o à razão a p ossibilid ad e d e agir livrem en te, ou seja, d e se exercer em seu in teresse in con dicion ado sob toda rep resen tação do objeto extern o. Esp aço e tem p o, com o in tu ição p u ra , fu n d a m en t a m a n ecessid a d e d e co n sid era r t o d a a ex p eriên cia n o lim it e d o s fen ôm en os, além d e recon h ecer os fen ôm en os, en fim , com o ú n ico d om ín io válid o p ara o co n h ecim en t o co m valid ad e cien t ífica. Isso é im p o rt an t e em Hu m bo ld t , u m a vez q u e tam bém faz p arte desse p rop ósito com u m d as ciên cias d a n atu reza o esforço h u m bold tian o d e valorização d a exp eriên cia n o trato cien tífico, bem com o o recon h ecim en to d as técn icas e m etodologias exp erim en tais q u e ele reú n e ap rop riad am en te n u m p rocesso in du tivo.

A n atu reza, p roblem atizad a a p artir d o p articu lar, d o organ ism o com o im agem -esq u em a d e cau salid ad e q u e n ão p od e m ais se restrin gir ao d om ín io d o m ecan icism o, rep resen ta, p or ou tro lad o, a abertu ra p ara sistem aticid ad e d iversa. Eq u ip aran d o fin alid ad e n a n atu reza e fin alid ad e n a p rod u ção d o h om em com o livre agen te, recon h ece, em p ersp ectiva técn ica, u m a teleologia d o m u n d o n atu ral. Tod avia, com Crítica da faculdade de julgar, Kan t (1995) est abelece u m a fo rm a in éd it a d e est abelecim en t o d o s ju ízo s, o s q u ais, abrin d o -se p ara além d o caráter d eterm in an te d a razão, se ap resen tam em p ersp ectiva reflexiva. Fu n d a-m en tal, essa p ersp ectiva reflexiva, estabelecid a n o valor u n iversal atribu íd o ao ju ízo d e gosto estético n a con tem p lação do belo, esten de-se p ara a n atu reza e n ela en con tra teleologia in d ep en d en te d a razão e, p ortan to, a exigir p rin cíp io regu lad or in d ep en d en te. Nisso fu n d a-se u m a teleologia q u e n ão é m ais d ep en d en te d a an alogia com a p rod u ção técn ica – d ad a a p ossibilid ad e d e en xergar fin alid ad e n a n atu reza q u e p rod u z n ão p or d eterm in ação d o geral p elo p articu lar –, m as q u e, p elo p ap el d a estética e d a form a, ap resen ta a n atu reza segu n d o ‘u m a fin alid ad e sem fim ’. Lo go , a fin alid ad e n ão est á asso ciad a a q u alq u er p rod u ção in ten cion al n a p ersp ectiva racion al; o elem en to técn ico – o agen te q u e d eterm in a, d e cim a p ara baixo, a fin alid ad e – é aban d on ad o n a p ersp ectiva d a n atu reza com fin alid ad e in d ep en d en te. A sistem aticid ad e q u e ad vém d a Crítica da faculdade de julgar (Kan t, 1995 resu lta n a con sid eração d e u m p rin cíp io in d ep en d en te n o télos n atu ral, levan d o Kan t a p en sar n u m a reap roxim ação com as id eias d e Leibn iz e, d esse m od o, n a p ossibilid ad e d e reu n ir os casos p articu lares en q u an to u m a fin alid ad e d o m u n d o n atu ral. Isso é recu p erad o p or Hu m bold t sob n ova rou p agem rom ân tica.

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p erm ite a bu sca d o p rotótip o e d o p rotofen ôm en o n a fin itu d e, n a com p aração exau stiva q u e exige o m étodo goeth ean o; torn a p ossível a ju n ção dos op ostos p elo fio con du tor da id ea lid a d e d a n a t u reza n a v a lo riza çã o d a v id a , d a fo rça v it a l n o G ên io Ró d io . O Rom an tism o torn a ain d a n ecessário n os rem eterm os à arte, à bu sca d o eq u ilíbrio d in âm ico en tre os op ostos n a ju n ção d o q u e é, em Sch ellin g, a in tu ição in telectu al e estética, refletid a n a form a com q u e Hu m bold t trabalh a o con teú d o d a an álise. En fim , os con ceitos q u e n os p rop om os in vestigar reagru p am u m vasto terren o filosófico-cien tífico-artístico q u e vão de Kan t ao p rim eiro m ovim en to rom ân tico. O p rim eiro p asso d este trabalh o é, p ortan to, a exp osição d o arran jo sistem ático d a ciên cia d e Hu m bold t à lu z d os con ceitos d e esp aço, n atu reza e m orfologia; e a m an eira com o esses con ceitos p erm item u m reagru p ar m eto-d ológico n o p rojeto h u m boleto-d tian o eto-d e ciên cia.

O con ceito de esp aço é u m d os p on tos cen trais n a com p reen são sistem ática de Hu m boldt e, com ele, d a gên ese d a geografia m od ern a. O em p írico d eve ser o u n iverso d e tod a a ciên cia da n atu reza – este é o p receito fu n d am en tad o p or Kan t e in corp orado p or Hu m boldt, assim com o p or tod as as ciên cias d essa ord em . Essa ad oção in d isp en sável liga-se à con cep ção d e esp aço n a filosofia d e Kan t, q u e d efin e o cam p o objetivo com o aq u ele com p reen d id o n a p o ssib ilid ad e in t u it iva a priori d o su jeit o . Em t erm o s sim p les, é o esp aço ab so lu t o , an terior e con dição do cam p o dos fen ôm en os. Não p odem os, con tu d o, dizer q u e esse seja o fu n d am en to d e u m esp aço geográfico em Hu m bold t, exceto q u an d o con sid eram os su a ad o ção co m o cat ego ria, o u seja, q u an d o o esp aço , t o m ad o co m o abso lu t o , p erp assa a exp eriên cia p ossível n a com p reen são categorial das distribu ições, variações e ap resen tações d o u n iverso em p írico, en fim , q u an d o serve d e categoria an alítica p ara o estu d o d o em p írico. Nesse sen tido estrito, o esp aço é absolu to, com o n ão p oderia d eixar d e ser q u an do tom ad o com o categoria d e an álise. En tretan to, a con stru ção d e esp acialid ad e em Hu m bold t atrela-se às tran sform ações q u e ele in corp ora n a ap reatrela-sen tação d e su a ciên cia.

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din âm ica q u e rep ou sa n a p róp ria essên cia d o ser; bu sca, em seu itin erário cien tífico-filosófico-artístico, fu n d am en tação on tológica. Essa bu sca, h erd eira d a Crítica da faculdade de julgar (Kan t , 1995), em vist a d a au t o n o m ia sist em át ica d ad a à n at u reza co m relação à razão , p erm ite, com o vim os n a con sid eração d o esp aço em Kan t, u m rep en sar cap az d e associar as variações, os p articu lares com a con stru ção do esp aço, in d o além d os ditam es a priori d e u m tran scen d en tal n o su jeito.

En ten der o esp aço h u m bold tian o é com p reen der toda a con exão p reten d id a en tre esses d iferen tes legad os. O esp aço em Hu m bold t n ão é p len a abstração n em u m a coisa em si em p írica. Term o m éd io en tre essas d u as con cep ções, o esp aço se revela à in tu ição p ela liga-ção exist en t e en t re t u d o o q u e co m p õ e o co sm o . A m en t e resp o n d e p ela o rd en aliga-ção e regulam en tação do que se apresen ta de m an eira m ultiform e. Não h á, com o podem os n otar, ab an d o n o d a racio n alid ad e, q u e co n t u d o n ão b ast a, n ecessit an d o e p ressu p o n d o u m con ju n to d e fen ôm en os e d in âm icas q u e se ligam n ão a essa ord en ação colocad a, m as à fon te ú n ica e com u n icável d e tod a a realid ad e, àq u ilo q u e p erp assa a in tu ição in telectu al e a n atu reza (Ricotta, 2003). Hu m bold t ratifica, n esse p on to, os sen tid os d e su a ciên cia: n ão só em p reen d im en to gu iad o ao con h ecim en to objetivo d o m u n d o, m as tam bém d esafio n a bu sca d e cau sa su bjacen te aos fen ôm en os – cau sa q u e se ap resen ta n a leitu ra artística e cien tífica d a form a, p or ser ela sin tetizad ora d o jogo d in âm ico d e corresp on d ên cia en tre tu d o o q u e com p õe a n atu reza e a p arte q u e se con figu ra. A esp acialid ad e é, p ortan to, cap az d e retratar o d esafio in tegrad or d e Hu m bold t; é p or m eio d ela q u e p od em os en xergar, d e m an eira m ais clara, a p ersp ect iva d e u m a su p eração d a an álise fu n d am en t ad a em categorias u n iversais, ao m esm o tem p o q u e n ão se vê ign orad a u m a gen eralid ad e abstraíd a d e tod o p articu lar.

Ou tro con ceito fu n dam en tal é o de n atu reza. Mostram os q u e as diferen tes con cep ções q u e se estru tu ram sob esse con ceito con flu em p ara n oção geral ligad a à Naturphilophie dos rom ân ticos. O p rim eiro cam in h o n a con stru ção desse con ceito, n o sen tido fin al q u e assu m e n a o bra d e Hu m bo ld t , é d ad o p ela co lo cação d e u m a t eleo lo gia d a n at u reza em Kan t . Tratad a com au ton om ia em relação aos d eterm in an tes d a razão, a n atu reza se ap resen ta com telos p róp rio, in dep en d en tem en te d o q u e p ode ser colocado p or q u alq u er im p erativo d o su jeito ou relacion ad o com algu m a p rod u ção técn ica. Essa n oção basilar, in corp orad a p elo m o vim en t o ro m ân t ico , assu m e fo rm as m ais claras n a filo so fia d e Sch ellin g e n a con stru ção de Goeth e. A rep resen tação dessa con cep ção de n atu reza é o organ ism o – com su as p artes in terd ep en d en tes e ord en ad o p or u m a fin alid ad e com u m , o d esen volvim en to geral –, q u e é, em ú ltim a in stân cia, d eterm in ad o p or u m d esen volvim en to q u e p ressu p õe cam p o cau sal n ão lin ear, em q u e tod o e p artes d ialogam a tod o in stan te n a con stru ção d as form as. Essa visão reagru p a a con cep ção d e u m p rotótip o goeth ean o, p elo q u al u m m od elo u n iversal su bjaz à ap resen tação variad a e p articu lar n o rein o d as form as, com a visão de u m p rotofen ôm en o, u m a força p ela q u al se p õe em m arch a o p rocesso in in terru p to d e m etam orfose d a n atu reza, d in âm ica colocad a p or esse p rin cíp io q u e é fim .

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d e sín tese d o p róp rio d esen volvim en to d a n atu reza. Ou seja, o esp írito, u n ificad o p elo elem en to id eal, ap arece com o a tom ad a d e con sciên cia d a n atu reza p or si. Essa visão é fu n d am en tal n a con stru ção h u m bold tian a d e u m a ciên cia q u e bu sca reu n ir u m m ú ltip lo lega d o e reco n h ecer, n a s o b ra s d o h o m em , u m p o n t o fu n d a m en t a l n o esfo rço d e com p reen são d a n atu reza. Igu alm en te relevan te é a ligação q u e se estabelece en tre orgân ico e in orgân ico, a p artir ain d a d esse elem en to u n ificad or d a n atu reza. Com o força vital em Hu m boldt, p osteriorm en te m odificada em u m p rocesso de desm itificação e in corp oração o n t o ló gica, esse elem en t o u n ificad o r é a ch ave p ara co m p reen d er a relação en t re as associações d o relevo e d o clim a com a form ação vegetal e su a d istribu ição n as d iferen tes regiões d o p lan eta. Estru tu ran te, essa con cep ção d e n atu reza é o p on to n od al d e tu d o o q u e Hu m bold t p reten d e ord en ar em n om e d e u m a lei geral ou d e u m a con exão d os ele-m en tos do cosele-m o.

O con ceito d e m orfologia, p or su a vez, faz con flu ir o p rocesso d in âm ico d a n atu reza n a co n cep ção d a fo rm a. A fo rm a é resp o n sável p o r revelar à in t u ição o in st an t e d a corresp on dên cia en tre o Tod o e as p artes e, d esse m od o, é elem en to in d isp en sável n o valor atribu íd o à arte. Assim com o os d em ais con ceitos, essa valorização d a form a p arte d e Kan t, sen do in corp orada p elos rom ân ticos e p or Hu m boldt n a con stru ção da valorização estética e n o recon h ecim en to d o p ap el d a in tu ição. A form a rep resen ta a u n ificação im ed iata d a d in âm ica e, d esse m od o, com a con sid eração d e algu m vín cu lo en tre su jeito e objeto p elas vias d a in tu ição, se d istan cia d o caráter d eterm in an te d a razão e su a ord en ação. Isso será fu n d am en tal n a p rop osta d e Goeth e e em su a an álise d a n atu reza; afin al, é a form a q u e rep resen ta objetivam en te aq u elas d in âm ica e variação im p ostas p elos id eais d e p rotofen ô-m en o e p rotótip o. A forô-m a é lu gar d e sín tese, u n ificação d a d in âô-m ica d a n atu reza. Eô-m con ju n to, é tratad a m orfologicam en te, p osto q u e se evoca a tarefa d e abarcar u m jogo d e relações p ela cap tu ra in tu itiva d a im agem d a form a – n esse caso, d o con ju n to d as form as. Essa m orfologia im p ortan te é tratad a p or Hu m bold t n a observação d a p aisagem , n a d escrição d os Quadros da natureza, q u e, n o sen tid o ú ltim o, são p in tu ras d e u m p rocesso, d e u m a d in âm ica q u e tom a exp ressão m ais elevad a n as con d ições origin ais d e su a m an ifestação, n a fid ed ign a co n t em p la çã o d o co n ju n t o d a s fo rm a s. Fru t o n ã o só d e u m a rela çã o m om en tân ea, a m orfologia com p reen d e o p rocesso h istórico d e con stru ção d as form as, en globa as tran sform ações n u m cap tu rar in tu itivo. Os dom ín ios m orfológicos do relevo e d a vegetação exp õem , p ara Hu m bold t, o p rocesso d e con stru ção, bem com o a d in âm ica q u e su bjaz a n atu reza em seu p rocesso d e con tín u a form ação/ tran sform ação.

In d isso ciável d essa co n cep ção é a n o ção d e art e, u m a vez q u e é ela q u e p erm it e a rep resen tação d o q u e n ão se p od e exp rim ir, d o q u e se ap resen ta m eram en te com o in tu ição in telectu al. Aq u i, a in tu ição estética cu m p re seu p ap el, p osto q u e p od e torn ar objetiva a d in âm ica d a n atu reza n a form a, p ela figu ra d o gên io, sem se lim itar à sim p les ord en ação an alítica d a razão. Pin tar o con ju n to d as form as em m áxim a con form id ad e com a realid ad e é p arte desse m étodo m orfológico q u e se estru tu ra em Goeth e e q u e é h abilm en te ap rop riado p or Hu m bold t – afin al, essa rep resen tação reflete o q u e d e ou tra form a n ão se p od e trad u zir, aq u ilo em relação ao q u e n ossos d isp ositivos form ais se con stran gem e se lim itam .

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d e an álise. É n ela e p or ela, en fim , q u e d evem os n os esforçar em p ercorrer os d etalh es, em n os disp or satisfatoriam en te a u m n ú m ero con sid erável d e p articu lares, ou seja, de con d ições esp ecíficas, q u e são rep resen tad as p elos estu d os region ais.

O d esafio en ciclo p éd ico en co n t ra su a legit im id ad e n esse valo r d ad o ao em p írico . A exp eriên cia é o cam p o válid o n a estru tu ra d as ciên cias; afin al, é a exp eriên cia q u e n os p erm ite op erar n os lim ites d a razão. Não obstan te se trate d o em p írico, h á q u e recon h ecer u m a ligação en tre os fen ôm en os, seja ela con d ição a priori, com o n o caso d e Kan t, ou d o p róp rio p rocesso d e form ação/ tran sform ação d a n atu reza, com o em Goeth e e Sch ellin g. Lo go , d evem o s b u scar as leis e o s p rin cíp io s cau sais, o q u e, p ara Hu m b o ld t , é t arefa in d issociável d as ciên cias d a n atu reza.

Há n esse m om en to, p orém , u m p asso im p ortan te n a in corp oração das m etod ologias: a con cep ção d e h om em . Segu n d o a con cep ção d e Hu m bold t, o h om em é m eio en tre razão e sen sibilid ad e, assim com o ap on ta Sch iller, e, d esse m od o, p od e articu lar coeren tem en te d ois d om ín ios q u e se ap resen tam an tagôn icos: o d a racion alid ad e e o d a sen sibilid ad e. Esse é u m p asso estru tu ran te, é a p ossibilid ad e aberta d e con flu ên cia in ovad ora, o olh ar d o gên io q u e an t evê m u it o m ais d o q u e u m agru p am en t o aleat ó rio d esses cam p o s con trap ostos. Com su a con cep ção de h om em , Hu m boldt dá u m p asso ad ian te n a con stru ção d e su a ciên cia: in corp ora sem cu lp a tod o o ferram en tal tecn om etod ológico d as ciên cias racio n alist as em p len a ascen são , h aja vist a q u e o d o m ín io d a razão d eve ser t am b ém com p u tado n a ed ificação d o con h ecim en to. Por ou tro lad o, abre os olh os p ara o q u e está além d essa racio n alid ad e, p o st a, afin al, p ela m ed id a d a sen sibilid ad e, d even d o t o car o h om em a im p ressão n o con tato com a n atu reza, o sen tir q u e n ão p rocu ra orden ação ou en cad eam en to lógico, m as q u e sim p lesm en te se im p regn a n a existên cia d e q u em en tra em con tato com a n atu reza.

Existir é a m ed id a d essa sen sibilid ad e; existir em com u n h ão com as coisas, em ligação com elas; sen tir an tes d e p en sar; con ceber q u e n ão se p od e con sid erar o q u e está fora sem se rem eter a si m esm o, ao q u e p u lsa in tern am en te n o ser. Esse ser é a m ed id a d e u m saber q u e n ão p od e ser exp ressad o, n ão p od e ser com u n icad o p ela voz d a ciên cia, d e su as m áxim as, d e su as leis e ord en ações regu lares. Não h á u m p lan o d e cau sas e efeitos; tu d o é p len a relação. Não se p od e m ed ir o q u e está fora d e si e o q u e d e fora está n o ser. Essa sen sibilid ad e n ão é com u n icável, n ão é exp ressável p ela voz d a razão, m as é – com o a razão, aliás – m ed id a d a realid ad e e existe com o p arte d e n ós, d o q u e n os tom a. Con h ecer é m ais d o q u e ord en ar; é tam bém con sid erar essa im p on d eração in articu lável. Difícil d e an tem ão, a tarefa d e exp licar o m u n d o, a n atu reza, gan h a n ova d im en são: já n ão é exp licar o m u n d o, m as an tes exp licar-se n o p rocesso d e con stru ção d o m u n d o; é exp licar a n atu reza em seu d iálogo form ad or com o h u m an o. Com o ap on ta Ricotta (2003), os lim ites n a com p reen são d o m u n d o são as bases n ecessárias p ara o cen ário d a im agin ação, aq u ilo q u e torn a h u m an a a in terp retação d a n atu reza.

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con stitu em algo ú n ico, u m a u n id ad e q u e tan to in cita à razão com o à sen sibilid ad e; n ão

h á m ais a d ificu ld ad e d e p en sar d ois d om ín ios an tagôn icos, a sín tese está realizad a, cu m p rid a em seu grau m ais elevad o. Com o em u m p ar d ialético, n atu reza e h om em se associam , cu m p rem o q u e lh es in cita o p róp rio d a existên cia, esse fim q u e é o p rin cíp io d e ord en ação:

a força vital, o id eal q u e p erp assa tan to o in con scien te com o a con sciên cia. Para além d e u m a realização h u m an a, esse rep resen tar d o m u n d o é a p róp ria ativid ad e d esse elem en to u n ificad or, ou seja, é a força im p osta ao m u n d o, é a n atu reza m an ifestan d o-se p or su a m ais alta voz: a h u m an a.

Com o sín tese, essa arte d e rep resen tar a d in âm ica d o m u n d o é tarefa d os gran d es esp í-ritos, é m atéria d o gên io, d aq u ele p ara q u em o d om ín io d a razão eleva-se às altu ras e em q u em , ao m esm o tem p o, o d om ín io d a sen sibilid ad e tran sbord a n a figu ra d a rep resen tação

d o cosm o. Já n ão h á lim ites; m esm o con h ecer n ão é a tarefa cen tral. En fim , acaba, em p len a fo rm a, a m at éria b ru t a falan d o p o r si, em o ld u ran d o -se d e u m a fin alid ad e q u e u ltrap assa a cega tom ad a d e u m a exp licação p ossível p ara su a com p osição. Esse son h o é o cam in h o q u e se coloca p ara tod a a ativid ad e d o m u n d o; é a exp ressão d e u m a in in terru p ta

ap roxim ação d e u m id eal q u e é o germ e.

Na con tram ão d e tu d o o q u e con h ecem os h oje sob o n om e d e ciên cia ou m esm o d e co n h ecim en t o , esse é o d evan eio d e Hu m b o ld t , u m a vert igem real q u e n ão p o d e ser

con su m ad a em u m a vid a, p orq u e é a p róp ria ed ificação d o sen tid o d a realid ad e. In con tid a em d u ras form as, a ciên cia h u m bold tian a é n ão a abertu ra d o esp írito h u m an o p ara esses n o vo s p en sam en t o s, m as sim a vo z d e u m a n at u reza q u e t o m a fo rm a h u m an a, q u e

reen co n t ra n o u so d e u m a lin gu agem p ro so p o ét ica, n a co n st ru ção d a b ela fo rm a, a in terlocu ção d e u m p rocesso q u e é a m ed id a d e tod a a relação u n iversal. Cosm os, essa obra q u e ch am am os ou trora d e lou cu ra sob form a d e ciên cia, é a ten tativa d e torn ar cien tífica

aq u ela voz q u e só se ou sou p ron u n ciar n a m ed id a d o d om artístico. Sem in gen u id ad e, Hu m bold t sabia q u al era seu d esafio, tin h a u m a clara d im en são d o q u e estava realizan d o: “A descrição do m u n do, tom ad o com o objeto d os sen tid os exteriores, n ecessita in du bita-velm en t e d o co n cu rso d a física geral e d a h ist ó ria d escrit iva; m as a co n t em p lação d as

coisas criad as, ligad as en tre si e form an d o u m tod o an im ad o p or forças in teriores, d á à ciên cia q u e n os ocu p a n esta obra u m caráter p articu lar”.1 (Hu m bold t, 2005, v.1, p .42).

Aq u i, n a m ed id a d efin itiva d e u m a articu lação d e m ú ltip los legad os, se ed ifica a p rop osta

d e Hu m bold t. Ap resen ta-se a ciên cia geográfica com o sín tese d essa alq u im ia u n iversal n o p lan o d o em p irism o e sob as categorias d o esp aço e d a p aisagem , em p ersp ectiva d e an álise regio n al.

A gênese da geografia moderna em Humboldt: as premissas da leitura

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O p on to cen tral p ara an álise d o q u e é geografia em Hu m bold t p arte d e d ois p ressu p ostos cen trais: o p rim eiro diz resp eito ao q u e con cebem os com o geografia; o segu n do, à d iscu ssão em torn o d a origem d as ciên cias a p artir d e m ú ltip los legad os. Este ú ltim o p on to é, em algu m a m ed id a, óbvio, m as n os in teressa n a an álise d a recu sa d e Cap el q u an to à gên ese d a geografia m od ern a em Hu m bold t.

Com relação ao p rim eiro p on to, reforçam os a con cep ção d e q u e en ten d er a h istória d a geografia é situ ar-se d ian te d o con h ecim en to geográfico q u e se p rod u z e, p arad oxalm en te, p osicion ar-se acerca da geografia é recon h ecer-se com sobriedade n o cen ário de con stru ção h istórica. Ora, só p od em os avaliar o q u e é geografia em Hu m bold t se recon h ecerm os o q u e é geo grafia. Esclarecid o o q u e co m p reen d em o s p o r geo grafia, p o d erem o s resp o n d er ao d esafio d e d elim itar com segu ran ça o q u e d e Hu m bold t está n o d om ín io d essa ciên cia, bem com o o q u e d e su a con stru ção m etod ológica foi estru tu ran te p ara n ossa form a d e co n st ru ção cien t ífica. Essa d ifícil t arefa n o s rem et e à em b araço sa p ergu n t a ‘o q u e é geografia?’. En fren tam os essa q u estão com algu m d escon forto e a certeza n ão de obten ção d a resp osta p ron ta, m as d e bu sca q u e en con tra, n este m om en to, a n ecessid ad e d e exp rim ir-se p ara o bom an d am en to d e reflexões e an áliir-ses.

De m od o geral, a geografia p od e ser con cebid a com o a ciên cia q u e estu d a o esp aço, n ão u m esp aço p u ro e sim p les, m as sim o q u e se con strói a p artir d a articu lação d os elem en tos n atu rais e h u m an os. O esp aço geográfico é a m ed id a d e u m a relação – seja en tre os elem en -tos d a n atu reza ou en tre essa n atu reza e a socied ad e. Até aq u i, n en h u m a gran d e d ificu ld ad e p arece evocad a, afin al é q u ase con sen so q u e aq u ilo q u e acaba d e ser exp osto com p reen d e a ciên cia geográfica e a d efin e com algu m a clareza. A tran q u ilid ad e, p orém , é ap aren te e, p ara além d ela se ap resen ta, com essa d escrição clara, u m a série d e p roblem as. O p rim eiro d eles é d e d efin ição: se a geografia é essa p rod u ção e rep resen tação d o esp aço a p artir d as con exões d os elem en tos d a n atu reza e d eles com a socied ad e, se faz m ister d efin ir o q u e é essa n atu reza e o q u e é, p or fim , essa socied ad e. In ten tar resp osta p ara esses con ceitos é t arefa p o ssível, em bo ra n ão seja fácil. Co n flu ir as p rem issas m et o d o ló gicas d essas d u as d efin ições d em an d a árd u o trabalh o filosófico. Ora, foi ju stam en te este u m d os p roblem as q u e p rocu ram os d estacar n a con stru ção d a geografia e em su a h istórica d ivisão en tre u m a geografia h u m an a e ou tra física. O valor d ad o a u m d os elem en tos – n a verd ad e, a d efin ição q ue en globa o outro term o em seu dom ín io – é a dificuldade da dualidade geográfica, n o que se refere a seu caráter físico e h u m an o; e q u er d izer sim p lesm en te q u e, ao se estabelecer u m a base filosófica com u m , tarefa in d isp en sável ao d esen volvim en to coeren te d as p rop ostas m etodológicas, in correu -se h istoricam en te n o erro de su p ervalorizar a n atu reza, ap arecen do o elem en t o h u m an o co m o u m a variável a ser in co rp o rad a em an álise sist em át ica, o u en fatizar a socied ad e e su as form as d e organ ização p rod u tivas, con sid eran d o a n atu reza elem en to in corp orad o à lógica geral d e u m a ord en ação econ ôm ica e seu s rebatim en tos cu lt u rais e p o lít ico s. Essa d u alid ad e é a m ed id a d o p ro b lem a filo só fico d e agru p ar, d e form a p len am en te satisfatória, n atu reza e socied ad e sem violar p rem issas filosóficas ou articu lar u m a série de corren tes con trap ostas e divergen tes.

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n os valem os do q u e foi aq u i ap resen tad o, ou seja, colocam os com o p ossível resp osta a esse em baraço filosófico p ara a geografia a resp osta d ad a ou trora p elo m ovim en to rom ân tico à d u alid ad e en tre n atu reza e esp írito. Filosoficam en te falan d o, a tarefa d o rom an tism o ad vém d a d u alid ad e colocad a p elo p rojeto crítico kan tian o, aq u ele q u e trata d a sep aração en tre su jeito e objeto e d a con cep ção d e h om em e n atu reza. Esse p roblem a, an tes en fren tad o p elo p róp rio Kan t e levad o a cabo p elos rom ân ticos, é fon te d e in ú m eras reflexões q u e p od em d ar n ova carga con ceitu al à d ifícil tarefa d e com p reen são d a geografia. É evid en te q u e essa filosofia n ão n os cabe em ju sta m ed id a, p elo fato claro e evid en te d e q u e são ou tras as con d ições in telectu ais e m ateriais, d ep ois d e m ais d e u m sécu lo d e p rod u ção d o con h ecim en to. Assim , en ten dem os q u e a ap roxim ação disp osta en tre h om em e n atu reza n a N aturphilosophie é m at éria d e in t eresse p ara a geo grafia, sem esq u ecer, co n t u d o , a p arcialid ad e q u e lh e cabe em n ovo con texto.

A geografia n os p arece, d esse m od o, o cam p o d e ap roxim ação d esses d ois d om ín ios, o d o h u m an o e o d a n atu reza, e, p or esse cam in h o, con cebem os q u e a filosofia d a n atu reza d os rom ân ticos oferece ap orte sign ificativo n o d esafio de vin cu lar, em u m p rocesso h istórico e u n ificad o r, t an t o as t ran sfo rm açõ es d a n at u reza co m o a su a relação co m o d esen -vo lvim en t o d a at ivid ad e d o h o m em , aq u i co n ceb id o so cialm en t e, o u seja, assu m in d o rou p agem h istórica e esp ecífica segu n d o o lu gar e as con d ições em q u e se ap resen ta.

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Sem p reten der resp osta defin itiva p ara esse p rocesso, n ossa con cep ção de geografia, n o lim ite de in terp retação q u e n os cabe, n ão p ôd e en con trar resp osta satisfatória à ap roxim ação d e objetivid ad e e su bjetivid ad e, q u e p erm an ece d ificu ld ad e a ser m ais bem con d u zid a, p ara além d o caráter d eterm in an te d e u m ou ou tro elem en to, tom ad a em su a p rim azia ou ad m itid a con stitu tivam en te, q u er d izer, d e m an eira d ogm ática. Na Naturphilosophie, q u e p od eria oferecer n ovo h orizon te d e an álise, ap resen ta-se o p roblem a in verso: a p rim azia d e id ealid ad e q u e d ificu lta, d efin itivam en te, u m a ad oção irrestrita, evid en cian d o-se u m a n ecessária reform u lação estru tu ral d as p rem issas, d e q u e só a filosofia é cap az. Trata-se, en fim , d e p roblem a d e gran d es p rop orções, p ara o q u al n os ap resen tam os, com o os d em ais, sem resp o st a acab ad a, so b ret u d o n o q u e se refere à ap licação n o u n iverso d e an álise geo gráfica.

O papel de Humboldt na gênese da ciência geográfica

Pod em os id en tificar u m a lin h a d ireta q u e liga Hu m bold t à geografia, n otad am en te à geografia física, em q u e se d isp õe u m a série d e observações e con exões n a com p osição d e q u ad ros lin gu ísticos d a p aisagem e d a região. Claval (2000), aliás, ap on ta Hu m bold t com o u m d os fu n d ad ores d esse ram o region al d a ciên cia geográfica. Assim , cad a p arte d a Terra rep resen ta u m con ju n to com p lexo de fatores q u e p od em ser associad os e redu zid os m ed ian te leis ou p rin cíp ios gerais. Os casos p articu lares caracterizam as regiões, cad a u m a d elas d isp osta segu n d o d iferen tes características – clim a, tip o d e relevo, vegetação – e, n esse ru m o, cad a u m a d essas p artes é correlata à totalid ad e, em com p reen são orgân ica d e u m p lan eta cu jas t eced u ras t rad u zem u m a ligação irrest rit a: “Além d as van t agen s esp eciais q u e lh es são p róp rias, cad a zon a tem tam bém o seu caráter d eterm in ad o. Deixan d o certa liberd ad e ao d esen volvim en to an ôm alo d as p artes, o organ ism o, em virtu d e d e u m p od er p rim ord ial, su bm ete todos os seres an im ad os e tod as as p lan tas a tip os d efin id os q u e se rep rod u zem etern am en te” (Hu m bold t, 1952, p . 283).

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d e estu d ar a in flu ên cia q u e essas relações exercem sobre a d istribu ição d as tem p eratu ras, as p ressões variáveis d a atm osfera, a d ireção d os ven tos, o estad o h igrom étrico d o ar e, p or con segu in te, sobre o d esen volvim en to d a vegetação” (v.2, p .269).

Isso é, certam en te, p rod u zir geografia com recu rsos e lim ites cien tificam en te válid os. A p olêm ica, em tal q u estão, assen ta-se n esse m étod o com p arativo q u e, afin al, n ão é p u ra e sim p lesm en te a rep resen tação geral dos esforços d as ciên cias racion alistas do p eríodo. Velad a p o r ele est á a co n cep ção go et h ean a d e u m p ro t ó t ip o , u m m o d elo id eal q u e su b jaz às variad as form as. Os elem en tos d e ligação n ão são ap en as as leis regu lares d o clim a em associação com o relevo, ou u m a relação en tre m aritim id ad e e con tin en talid ad e; o q u e se coloca em cen a é a ap resen tação d e u m a com p aração q u e leva em con ta u m m od elo id eal, p elo q u al se p od em d erivar ou p ressu p or as p articu larid ad es. Com p arar, p ara Hu m bold t, é tam bém bu scar esse elem en to id eal u n ificad or. Seja com o for, a p rop osta en tra n as vias d isp ostas p or u m a ciên cia m od ern a, u m a vez q u e esse m étod o se assen ta n o elem en to estru tu ran te d a exp eriên cia e, a p artir d ela, con sagra p rin cíp ios com valid ad e objetiva p ara o cam p o d os fen ôm en os. In d ep en d en tem en te d o n om e q u e se lh e d ê n aq u ele con texto ou de com o se recon h eça Hu m boldt n esse p rocesso, tal con stru ção é geográfica.

Ain da n o p lan o direto e m en os p olêm ico, p odem os ap on tar a p rodu ção de rep resen tações gráficas e cartográficas d e Hu m bold t, n o traçar d e isolin h as, n a localização d as estru tu ras m in erais, ou ain da n a p rodu ção dos p erfis top ográficos, com o cam in h os p ara estru tu ração d e u m a geografia com d om ín ios, m étod os e m etod ologias p róp rios. Essa tarefa, relacion ad a a p rin cíp io aos d itam es gerais d a ciên cia racion alista, veicu la in form ações a u m a con exão e u m a an álise geográfica su bjacen tes. Traçar isolin h as, p or exem p lo, é recon h ecer elem en tos u n ificad o res d e d et erm in ad a área e d isp o r cart o graficam en t e essa co n exão ; o u seja, h á u m a ligação en tre os p articu lares e, m ais, h á u m a cap acid ad e d e en xergar a regu larid ad e q u e os en volve. Essa p rod u ção d e u m a cartografia tem ática é, sem m aiores con trovérsias, u m a con tribu ição geográfica. Por ou tro lad o, a rep resen tação p rocu ra ser a m an ifestação d a p ersp ectiva in tu itiva, a ap reen são d a totalid ad e n o in stan te, n a cap tu ra d a form a q u e é sín tese – en fim , aq u ele legad o goeth ean o já ap on tad o. A p resen ça d as p in tu ras com o elem en tos de rep resen tação, com o as d e Hackert (Mattos, 2008), p or exem p lo, tradu z tan to esse p rocesso d e cap tação d a totalid ad e n o in stan te, p ela rep rod u ção d etalh ad a e fid ed ign a d as fo rm as em co n ju n t o (m o rfo lo gia e p aisagem ), co m o a t arefa d e t razer o elem en t o h u m an o ao p rocesso d e p rod u ção d a n atu reza. Recolh id a sob a form a artística, a im agem é o avan ço da im agin ação para on de os dom ín ios form ais da razão n ão se podem esten der; é a cobertu ra geral d e u m a realid ad e q u e n ão se p od e d issociar d esse jogo aberto en tre a n atu reza e o esp írito q u e com ela se relacion a.

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Por ou tro lad o, a tarefa d e tom ar a estru tu ra em con ju n to p erm ite con sid erar a form a em su a fu n ção ativa d e sín tese n o Globo; ou seja, as feições se con sagram n a m orfologia d a

p aisagem com o m om en to acabad o d e u n ificação d os elem en tos p ela cap tação in tu itiva d a cen a. Isso tam bém é geografia; é a base d e u m con h ecim en to geom orfológico levad o a ca b o co m o cu rso d a geo gra fia n a Alem a n h a . N ã o sã o co n sid era d o s o s elem en t o s est rit am en t e geo ló gico s n em so m en t e a ação d o s agen t es d o clim a; h á u m a ligação p ressu p osta n a con cep ção m orfológica do relevo em Hu m boldt, u m a ligação en tre orgân ico e in o rgân ico .

Hu m bo ld t t am bém se p reo cu p o u co m a d ist ribu ição d a veget ação ; a d isp o sição d as p lan t as n o Glo b o em fu n ção t am b ém d e regu larid ad es e p art icu larid ad es sem p re em con exão. As p lan tas, com o vim os, são com p reen d id as n aq u ele sen tid o goeth ean o, estão em con tín u a m etam orfose e revelam n a form a o q u e está con tid o em germ e e o q u e se d isp õe com o con d ição am bien te. Esse id eal regu lad or, esse in fin ito em com u n icação com o fin ito, tom ad o n a visão d a form a, é in corp orad o p or Hu m bold t; n esse caso, trabalh an d o com m ais d etalh am en to as con d ições d e variação clim ática e d e relevo, com o form a d e

d efin ir o p red om ín io d e d eterm in ad os gru p os d e p lan tas, bem com o o m aior ou m en or d esen volvim en to em d eterm in ad as con d ições. Esses estu d os são o p asso n ecessário p ara p en sar a d istribu ição d a vegetação tom ad a em con ju n to, e n ão isolad a sim p lesm en te n a p lan ta; é, en fim , u m a etap a q u e an teced e, n o m aior d etalh am en to, o p rocesso q u e cu lm in a n o q u e seria u m a an álise geral d as vegetações p red om in an tes, sem , con tu d o, se d esvin cu lar d o caráter cen tral d o m étod o, q u e p ressu p õe, em ú ltim a in stân cia, o p ap el d a in tu ição. Segu n d o Hu m bo ld t (2005, v.2, p .331-332), “a criação d a p lan t a alcan ça a im agin ação ,

h aja vista q u e a am p litu d e d e su as form as, sem p re p resen te n a m assa, revela o p assad o co n ect ad o p o r u m p rivilégio esp ecial, a exp ressão d a fo rça sem p re ren o vad a”. Nesses d iferen tes n íveis e su as relações Hu m bold t p od e estabelecer o q u e d eve ser agru p ad o e o q u e d eve ser d istin gu id o n a d istribu ição d a vegetação ou n o estabelecim en to d e su as d isp osições regu lares. Na con clu são d o Livro IV, n o segu n d o volu m e d e Quadros da natureza, Hu m bold t (1952, p .135) resu m e ap rop riad am en te essas con siderações:

Ao esb o çar, n o s q u ad ro s an t erio res, a fisio n o m ia d as p lan t as, p ro p u s-m e, so b ret u d o , três fin s in tim am en te ligad os: q u is fazer ressaltar a d iferen ça absolu ta d as form as; in d icar a su a relação n u m érica, q u er d izer o lu gar q u e o cu p am , n est a o u n aq u ela região , n a m assa t o t al d as p lan t as fan ero gâm icas; e, u lt im am en t e, a su a d ist rib u ição geo gráfica, segu n d o a latitu d e e o clim a. Qu an d o n os d esejam os elevar a con cep ções gerais acerca d as fo rm as vivas, n ão se d eve sep arar, ju lgo eu , o est u d o d as relaçõ es n u m éricas e o d a fision om ia. Tam bém se n ão d eve lim itar o estu d o d a fision om ia d as p lan tas aos con trastes q u e o s o rgan ism o s ap resen t am , co n sid erad o s iso lad am en t e; h á q u e p ro cu rar d esco b rir leis q u e d et erm in am a fisio n o m ia d a n at u reza em geral, o s d iverso ss caract eres q u e a veget ação co m u n ica às p aisagen s em t o d a a su p erfície d o Glo bo , e a im p ressão viva q u e p rod u zem a reu n ião e o con traste d e form as op ostas, em zon as q u e d iferem em latitu d e e elevação.

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Essa veget ação é ain d a t o m ad a n u m sen t id o h ist ó rico , o u seja, est á d iret am en t e relacio n ad a ao s d iferen t es t ip o s d e co n d ição q u e d o m in aram o p lan et a. “A h ist ó ria d a cam ad a vegetal e d a su a p rop agação su cessiva sobre a crosta escalvad a d a terra tem as su as ép ocas, d o m esm o m od o q u e a h istória d as em igrações q u e d issem in aram p elas d iversas regiões, os an im ais e as p lan tas” (Hu m bold t, 1952, p .279). Pap el im p ortan te tem a filosofia d a n atu reza n essa con cep ção h istórica: “Rod ead a p or fen ôm en os variáveis, o observad or, q u e se con sagra ao estu d o d a filosofia d a n atu reza, trata sem cessar d e ligar o p resen te ao p assad o” (p .168). É a con sagração d e u m a id eia d e n atu reza em con tín u a tran sform ação, em m eio a u m p ro cesso d e co n st ru ção in in t erru p t a e d in âm ica: “Ao n o rt e d o n o sso co n t in en t e est ão sep u lt ad o s n o in t erio r d a t erra t ro n co s d e p alm eiras e esq u elet o s d e elefan tes; e, segu n do a su a p osição, p od e con jectu rar-se q u e n ão foram levad os dos tróp icos aos p ólos p or corren tes, m as sim q u e, n as gran d es revolu ções d o n osso p lan eta, os clim as p assaram p or m u d an ças su cessivas q u e ren ovaram a fision om ia d a n atu reza” (p .290).

Além d essa p rod u ção geográfica sobre a vegetação, Hu m bold t tam bém faz im p ortan te an álise t érm ica, p ro cu ran d o co m p reen d er a d in âm ica d e su a d ist rib u ição n o Glo b o . Recon h ece u m a relação en tre baixas latitu d es e altas tem p eratu ras, e estabelece u m p rin cíp io geral d e d ecrescim en to d a tem p eratu ra n a d ireção d os p olos, ao m esm o tem p o q u e recon h ece o fator da altitu de com o com p en sad or da latitu d e. Essas ligações p reten d em h arm on izar-se com a visão d a Terra com o u m tod o: “O h om em , q u e sabe abraçar a n atu reza n u m só olh ar e fazer abstração d os fen ôm en os p articu lares, recon h ece com o, à m ed id a q u e o calor vivifican t e au m en t a, se d esen vo lvem grad u alm en t e, d o s p o lo s p ara o eq u ad o r, a fo rça orgân ica e a p otên cia vital (Hu m bold t, 1952, p .283). Isso tam bém faz p arte d a con stru ção d a geografia m od ern a; afin al, essas relações são fu n d am en tais n a com p reen são d a d in âm ica clim ática e n a com p reen são d as características assu m id as em cad a região.

Vale salien tar tam bém q u e Hu m bold t d esen volve an álises sobre as variações region ais d as p op u lações, q u e n a verd ad e tom a com o civilizações, d iretam en te atrelad as à id eia d e raça. É larga a d en ú n cia d e q u e Hu m bold t n ão se p reocu p ou , em seu s trabalh os, com o h o m em , u m a co m p reen sã o eq u ivo ca d a , a in d a q u e seja m cla ro s o s lim it es d e su a s in terp retações sobre as civilizações em relação às regiões. As civilizações são an alisadas em correlação com os clim as, m as Hu m bold t d escarta a su p rem acia d e d eterm in ad as raças sobre ou tras e até argu m en ta q u e n ão se p od e p en sar coeren tem en te a esp écie h u m an a se essa con cep ção restrita é m an tida.

Se h avem o s d e m an t er o p rin cíp io d e u n id ad e d a esp écie h u m an a, n ecessariam en t e t em o s d e d escart ar, co m o ló gica co n seq u ên cia, a d eso lad o ra d ist in ção d e raças en t re su p eriores e in feriores. In du bitavelm en te, h á fam ílias de p ovos civilizados m ais su scetíveis d e cu ltu ra, m ais civilizad os, m ais ilu strad os q u e ou tros, m as n u n ca m ais n obres, p orq u e t o d o s n asceram igu alm en t e p ara a lib erd ad e, p ara essa lib erd ad e q u e, em u m est ad o so cial p o u co ad ian t ad o , n ão p ert en ce sen ão ao in d ivíd u o , é d as n açõ es afeit as às verd ad eiras in st it u içõ es p o lít icas o d ireit o d e t o d a a co m u n id ad e (Hu m bo ld t , 2005, v,2, p .344-345).

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Assim com o a form a exteriorm en te articu lad a d os con tin en tes e os in u m eráveis recortes d e seu s m on tes exercem u m a sau d ável in flu ên cia sobre os clim as, n o com ércio e até n os p ro gresso s gerais d a civilização , assim t am b ém a co n figu ração d o so lo n o sen t id o d a altu ra, q u er d izer, a articu lação in terior d as gran d es m assas con tin en tais p od e exercer u m p ap el n ão m en o s im p o rt an t e n o d o m ín io d o h o m em . Tu d o o q u e p ro d u z varied ad e d e fo rm a (p o lim o rfia) em u m p o n t o d a su p erfície t errest re, seja u m a cad eia d e m o n t an h as, u m p lan alt o , u m gran d e lago , u m a gran d e est ep e, t am bém u m d esert o co m bo sq u es em su as d u n as, q u alq u er acid en t e d o so lo , em u m a p alavra, im p rim e u m a m arca p art icu lar n o p ovo q u e ali h abita. Se o solo está en tre n evad os e altíssim os cu m es, as com u n icações ficarão in terrom pidas e o com ércio im possível. Se, pelo con trário, o form am baixas plan ícies, co m algu m as cad eias p o u co elevad as e d esco n t ín u as, co m o n o o est e e n o su l d a Eu ro p a, o n d e esse gên ero d e art icu lação se d esen vo lve t ão felizm en t e, m u lt ip licam -se en t ão as in flu ên cias m eteorológicas e, com elas, as p rod u ções d o m u n d o vegetal. E, com o em tod o caso, cad a região exige u m cu ltivo d iferen te, ain d a q u e à m esm a latitu d e, resu lta q u e essa con figu ração esp ecial d á vid a a n ecessid ad es q u e estim u lam as ativid ad es d as p op u lações (Hu m bold t, 2005, v.2, p .280).

Trata-se d e u m a an álise restrita, q u e p rocu ra en q u ad rar o h om em n o m esm o p rin cíp io d e d isp osições e d istribu ições p resen te n o esq u em a d as p lan tas e d os an im ais. O h om em ,

n o q u e tan ge à objetivid ad e geográfica, é red u zid o a esse elem en to n atu ral, cu jos rein os m orais se atrelam à n atu reza: “A in flu ên cia d o físico sobre o m oral, a ação recíp roca e m isteriosa d o m u n d o sen sível, com u n ica ao estu d o d a n atu reza, feito d e u m p on to d e

vista m ais elevad o, atractivo sin gu lar bastan te d escon h ecid o até n ossos d ias” (Hu m bold t, 1952, p .286). Com o ressalta Cap el (1982), Hu m bold t n ão cam in h ou m ais n a in vestigação d a con d ição h u m an a em relação aos d iferen tes esp aços – q u e era d e seu in teresse –, d evid o a diversas restrições p olíticas, com o p or exem p lo aq u ela q u e en volveu a au torização con

-cedida p elo m in istro Con ch rin p ara seu s estu d os sobre p ossessão in glesa n a Ásia e ou tros n a Ásia cen tral ru ssa. A p reocu p ação d e m ascarar os asp ectos sociais foi m oed a d e troca n as con cessões p ara a exp loração cien tífica d as áreas.

Não o bst an t e se t o m e o h o m em p o r essa m ed id a o rgân ica e n a p ersp ect iva d e su a d istribu ição, ele é m ais d o q u e isso. É, d efin itivam en te, m isto d e razão e sen sibilid ad e, assim co m o em Sch iller. Su a co n d ição n ão é est rit am en t e bio ló gica; ele é at ivid ad e d o

esp írito, a id ealid ad e evocad a n o sistem a filosófico d o rom an tism o. Esse h om em n ão p od e ser d issociad o d a n atu reza, afin al essa ligação é sín tese d a d in âm ica d a realid ad e. É p or m eio d ela q u e o h om em com p leta a ativid ad e n atu ral, é p or essa sín tese q u e se d isp õe a p ossibilidade de esten d er a ativid ade do esp írito em com p lem en to ao p rocesso de realização

fin al d a n at u reza. Lo go , q u an d o Hu m b o ld t fala em n at u reza, q u an d o t rab alh a essas d iferen tes con cep ções q u e cu lm in am n u m saber geográfico, está falan d o tam bém a resp eito d o h u m an o, n ão n a p ersp ectiva d o h om em ‘socied ad e’, m as n a d o h om em elem en to d e

sín tese, p arte do p rocesso de con stru ção n atu ral.

Ain d a n u m a p ersp ectiva d ireta d e an álise, n ão se p od e d issociar o d esafio q u e Hu m bold t se coloca n a d escrição física d o m u n d o d aq u ilo q u e ele d en om in a geografia física. Esta é a

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lim itad or d a geografia em su a h istória. Essa geografía física é, ain d a segu n d o en ten d em os,

tam bém geografia, a d esp eito d a an álise d e Cap el, q u e d efen d e a id eia d e q u e essa geografia está d istan te d o q u e se con stru iu d ep ois e d o q u e até en tão se h avia con stru íd o. Nessa p ersp ectiva, os p rop ósitos d esse saber n ão seriam geográficos, m as ligad os estritam en te a essa d escrição física d o m u n d o, q u e, p or sim p les h eran ça d e Sau ssu re, assu m e o n om e d e geografia física. Im p recisa, tal an álise m ascara o fato d e q u e a con stru ção p rop osta é geo-gráfica, in d ep en d en tem en te d o valor sem ân tico d ad o ao term o geografia e m esm o d a su a ligação com ou tra fon te, d iversa d aq u ela p rop osta até en tão p elos ru m os d a ciên cia.

A esta altu ra evoca-se aq u ele segu n d o p on to im p ortan te, o d e q u e as ciên cias n ascem n ão d e si m esm as, m as d e esforços d iversos q u e se agru p am sob n ova feição e segu n d o leitu ras e m etodologias p róp rias. Em bora p areça óbvio, é im p ortan te d estacar esse p on to, p orq u e Cap el (1982, p .16-17) o ign ora q u an d o afirm a: “com su a física d o Globo, Hu m bold t n ão estava fu n d am en tan d o a geografia m od ern a, sen ão esforçan d o-se em estabelecer u m a ciên cia totalm en te n ova, q u e p ou co tin h a a ver com a geografia d a ép oca”. Ora, ela n ão

n ad a tin h a a ver com o q u e estava sen d o con stru íd o até en tão sob o n om e d e geografia ju stam en te p elo fato d e ser form u lação n ova, q u e, aten d en d o p elo n om e d e geografia fí-sica, rep resen ta p asso decisivo p ara a con stru ção sistem ática de u m saber geográfico m odern o. De tod o m od o, reforçam os o óbvio: as ciên cias n ão têm su a gên ese em si m esm as, m as em u m a série d e elem en tos in telectu ais e m ateriais. A resp eito d essa geografia física, Hu m bold t (2005. v.1, p .29) observa: “Não se trata, n este en saio, d e red u zir o con ju n to d os fen ôm en os sen síveis a u m p eq u en o n ú m ero d e p rin cíp ios abstratos, sem m ais fu n d am en to d o q u e a

razão p u ra. A física d o m u n d o q u e p reten d o exp or n ão tem a p reten são d e elevar-se às p erigosas abstrações d e u m a ciên cia m eram en te racion al d a n atu reza; é u m a ‘geografia física’ reu n ida à descrição dos esp aços celestes e dos corp os q u e ocu p am esses esp aços”.

Co m p aran d o d iferen t es p art es e reco n h ecen d o -lh es u n id ad e, valen d o -se t an t o d o s d isp ositivos d a ciên cia em voga com o d as bases d e u m a filosofia d a n atu reza n o rom an tism o, Hu m bold t cu m p re u m a an álise geográfica d e sín tese ou h olística, com o d estaca Moreira (2006). A geografia física d e Hu m bold t é voltad a p ara tod as as con tribu ições cien tíficas,

sejam q u ais forem as áreas q u e se d elim item n o estu d o d e cad a d ad o p articu lar. Su a ciên cia está p ara além d as fron teiras e se vale, p arad oxalm en te, d os fru tos e d as con tribu ições d os d iferen tes ram os esp ecializad os d o saber. A geografia física é, p ortan to, o p on to d e en con tro e en t en d im en t o d as relaçõ es e co n exõ es n o n ível t errest re; a u n ificação cien t ífica d o s d om ín ios orgân icos e in orgân icos; a ju n ção d e su bjetivid ad e e objetivid ad e n a an álise d a n atu reza. Moreira (2006, p .23), rep rod u zin d o Hu m bold t (citad o em Tath am , 1959, p .216),

esclarece o q u e é essa geografia:

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m ais o u m en o s p erfeit am en t e co n ceb id as. A n at u ral t en d ên cia d o esp írit o h u m an o , in vo lu n t ariam en t e, n o s im p ele a segu ir o s fen ô m en o s físico s d a t erra at ravés d e t o d a a velo cid ad e d e su as fases, at é at in girm o s a fase fin al d a so lu ção m o rfo ló gia d as fo rm as vegetais, e os p od eres con scien tes d o m ovim en to d o organ ism o d os an im ais. Assim , é p or t ais elo s q u e a geo grafia d o s seres o rgân ico s – p lan t as e an im ais – se liga co m o s esfo rço s d os fen ôm en os in orgân icos d e n osso globo terrestre.

Q u an d o se co lo ca n o p lan o h ist ó rico u m a d ivisão d essa ciên cia, a t en t at iva é d ar form as m ais d efin id as e recorte m ais ap rop riad o e p reciso a u m a ciên cia q u e n asce com o sín tese d e tod as as con tribu ições d as ciên cias. A ru p tu ra q u e se coloca tam bém é fru to d e leit u ra eq u ivo ca d a d o p ro jet o d e ciên cia h u m b o ld t ia n o . G o m es (2 0 0 0 ) a p o n t a em Hu m bold t a d u alid ad e d a geografia em su a gên ese, m as n ão é d ele q u e essa d u alid ad e em erge; é d a in co m p reen são d e seu p ro jet o d e ciên cia q u e su rge a d u alid ad e n o saber geográfico. Para Hu m bold t, assim com o p ara Kan t, n ão h á p ossibilid ad e d e os elem en tos d escrit ivo s serem d isso ciad o s d as co n exõ es, d as relaçõ es q u e são , em ú lt im a in st ân cia, elem en t o s est ru t u ran t es d a p ró p ria d iferen ciação . Na n ão o b servação d esse p rin cíp io u n ificad or elem en tar en tre tod o e p artes, en tre d escrição e estabelecim en to d e leis se fu n d am os cam in h os d e u m a geografia id eográfica e ou tra n om otética. Isso n ão está em Hu m bold t; n ele tu do é sín tese, e descrever n ão p od e n u n ca ser d issociad o das con exões, m esm o p orq u e o m étod o q u e in ten ta é com p arativo, ou seja, vale-se d os p articu lares p ara en con trar a u n id ad e e, m ais d o q u e isso, p ressu p õe a abran gên cia d e seu m étod o q u e o p róp rio ato d e d escrever é, p ela lin gu agem p ro so p o ét ica co m o ‘m edium d e reflexão ’, u m salt o p ara a com p reen são geral, o recon h ecim en to d e in tegração q u e n ão se p od e fazer p elo esq u ar-tejam en to an alítico a p artir d e u m a lin gu agem estritam en te cien tífica. Sep arar d escrição e leis é acabar com q u alq u er con tin u id ad e d a ciên cia h u m bold tian a, assim com o cin gir o h u m an o e a n at u reza é d ist an ciar-se d a geo grafia d e Hu m bo ld t . Afin al, co m o fizem o s q u est ão d e salien t ar em d iversas o p o rt u n id ad es, a n at u reza n ão p o d e, p elo p ap el q u e d esem p en h a em seu s trabalh os e n o m ovim en to rom ân tico, ser p en sad a sep arad am en te d o h om em – en fim , n ão p od e h aver q u alq u er an álise d a n atu reza sem lh e recon h ecer e em p restar o q u e d e h u m an o h á n o su jeito q u e a in terroga. Em p ou cas p alavras, o cu rso h istórico do con h ecim en to geográfico, su as du alidades e in con sistên cias são u m con tín u o relu tar com essa origem aban d on ad a, esse esq u ecid o d esafio filosófico d e sín tese q u e ocu p ou a geografia, em su a gên ese m od ern a em Hu m bold t.

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essa ciên cia, e p or red u zir e p en sar em term os d e relações esp aciais o con ju n to d in âm ico d a realid ad e, sobretu d o d a n atu reza, em h arm on ia com as d im en sões su bjetivas e objetivas, ela é u m a con stru ção geográfica.

Essa leitu ra en cerra a ideia de q u e Hu m boldt é fu n dam en tal p ara a geografia: (a) p ela estruturação de um a ciên cia com objeto, m étodo e m etodologias que atuam em con form idade e segu n do u m objetivo esp ecífico, ain da q u e, n o caso de Hu m boldt, con flu am p ara u m a sín tese filosófica; (b) por m obilizar, em n ossa h istória cien tífica, esforços qu e produ ziram , m esm o que a partir de in terpretações equivocadas, con struções descritivas e busca de con exões causais; e (c) por apresen tar-se ao saber geográfico con tem porân eo com resposta de sín tese para o problem a da du alidade geografia física/ geografia h u m an a, bem com o para a tarefa de con fluir h arm on icam en te objetividade e subjetividade n o corpo da atividade cien tífica, in do, de m odo defin itivo, ao pon to cen tral da n ecessidade con tem porân ea de pen sar em un idade e tran scen der os lim ites restritos das disciplin as form ais.

Considerações finais: a obra de Humboldt e a geografia contemporânea

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n ão con stru ída, sobretu do p orq u e a p róp ria filosofia se torn ou ciên cia. Com o n ão in teressa à realid ad e o fato d e estarm os ou n ão m u n id os p ara su p erar as d ificu ld ad es im p ostas a su a in vest igação , p ro vam o s n o revés a lim it ação im p o st a p o r aq u ilo q u e n o s fez o u t ro ra cam in h ar, ou seja, a fragm en tação.

Em Hu m bold t p od em os en con trar algu m as q u estões q u e su scitam d ebate e até en sejam algu m as resp ostas. Em p rim eiro lu gar, p or n ão se p reocu p ar em fu n d am en tar u m con h e-cim en t o geo gráfico , Hu m b o ld t o co n st ru iu d e m an eira in o vad o ra e, em seu p erío d o , eficien te. Aq u i, em n osso con texto, cabe-n os p en sar o m u n d o com o m esm o olh ar d esafiad or e irrestrito, p orq u e só ele forn ecerá as ferram en tas e as reflexões q u e p erm itirão esten d er h orizon tes. Em segu n d o lu gar, Hu m bold t articu lou u m m ú ltip lo legad o – e d e m an eira coeren te, o q u e é m ais d ifícil. A p ossibilid ad e d e agru p ar os fru tos d e u m a ciên cia racion alista e as con tribu ições d e u m a Naturphilosophie rom ân tica, p ara q u alq u er con h eced or d o tem a, p arece tarefa im p ossível, q u e, n o en tan to, se m ostrou fru tífera p elas m ãos d e Hu m bold t. Aq u i, em n osso tem p o, vale essa con tribu ição, n u m cen ário q u e an u n cia n ovas p ostu ras cogn itivas e m etod ológicas, q u e evoca u m p erm ear e d ialogar d e saberes p ara além d e fron -teiras in stitu cion ais. É im p ortan te recon h ecer a con tribu ição fu n d am en tal d e Hu m bold t, aq u ela q u e d efin e co m o im p rescin d íveis o s ru m o s d e t o d o sab er acu m u lad o p elo ser h u m an o. Nessa p rop osta de in sp iração sch ellin gu ian a, en con tram os o aviso n ecessário de q u e, p or m ais q u e esse u n iverso d e esp ecializações seja lim itad o e restritivo, ele n ão d eve ser aban d on ad o, m as sim in corp orad o, n o ru m o fin al d e u m a form a d e saber m ais ap rop riad a. Isso é fu n dam en tal e talvez seja o p on to p rin cip al do m odo com q u e Hu m bold t p rocu ra tratar su a ciên cia. Sem d em ora, d evem os recon h ecer q u e o q u e foi acu m u lad o p ela ativid ad e d o h om em n ão p od e ser esq u ecid o ou lan çad o ao fogo, com o m arca d e u m tem p o d escabid o e d esarticu lad o; ao con trário, d eve ap arecer à lu z d e u m a n ova p ostu ra d ian te d o saber. Mais d o q u e n o con teú d o, o valor d o trabalh o d e Hu m bold t está n a form a e, m ais d o q u e n a form a q u e ele em p regou , está esse valor n as form as q u e ele p od e ain d a su scitar.

O b viam en t e, as co n sid eraçõ es d e Hu m b o ld t n ão p o d em ser t razid as sem q u alq u er con seq u ên cia p ara o sécu lo XXI. Do m esm o m odo, as con stru ções filosóficas q u e p erm itiram seu reagru p ar m etod ológico já p assaram p elo crivo d e d u ras in vestid as, q u e, n o m ín im o, d evem ser co n sid erad as n o b o m an d am en t o d e algu m a so lu ção o u n a co lo cação d e ap on tam en to m ais esp ecífico p ara a ciên cia. Hu m bold t m aterializou e ao m esm o tem p o in st ru m en t alizo u a co n cep ção d e in t egração d in âm ica d as esferas d a n at u reza, o q u e red u n d ou em seu con ceito d e esp acialid ad e e n a fu n d am en tação m etafísica d e u m a Terra e u m m u n d o q u e estavam em tran sform ação e, agora, em p rocesso con stan te m u tação, u m a esp iral em crescen t e e acu m u lad a co m p lexid ad e, d e t al fo rm a q u e h o je p o d em o s in ven tar a n atu reza e a vid a.

Fica, pois, um desafio à geografia, que n esse in ício de n ovo século en fren ta problem as de todas as orden s, sen do talvez o m aior de todos dar con ta de n ova fun dam en tação filosófica para essa n ova Terra e esse m un do que está em con strução, n os desaloja de casulos existen ciais e n os in terroga sobre a possibilidade da existên cia da própria ciên cia geográfica.

NOTA

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u u u UUU

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Referências

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