UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DE
EMPRESAS
ERICA DALLOZ ELLER BARBOSA
OS IMPACTOS DA TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE
TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO NA MEMÓRIA
ORGANIZACIONAL DE INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
ERICA DALLOZ ELLER BARBOSA
OS IMPACTOS DA TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE
TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO NA MEMÓRIA
ORGANIZACIONAL DE INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
Orientador: Prof. Dr. Gilberto Perez
São Paulo
2016
B238i Barbosa, Erica Dalloz Eller
Os impactos da terceirização de serviços de tecnologia de
informação na memória organizacional de instituições de ensino
superior / Erica Dalloz Eller Barbosa - 2016.
96 f. : il. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas)
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2016.
Orientação: Prof. Dr. Gilberto Perez
Bibliografia: f. 65-69
1.
Memória organizacional. 2. Terceirização. 3. Tecnologia de
informação. 4. Instituição de ensino superior. I. Título.
ERICA DALLOZ ELLER BARBOSA
OS IMPACTOS DA TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE TECNOLOGIA DE
INFORMAÇÃO NA MEMÓRIA ORGANIZACIONAL DE INSTITUIÇÕES DE
ENSINO SUPERIOR
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Administração de Empresas da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, como
pré-requisito para obtenção do título de Mestre
em Administração de Empresas.
Aprovada em____ de__________________ de_______.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Prof. Dr. Gilberto Perez (Orientador)
Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
______________________________________________
Prof. Dr. Adilson Caldeira
Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
______________________________________________
Prof. Dr. Edmir Parada Vasques Prado
Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Professor Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto
Decano de Pesquisa e Pós-Graduação
Professora Dra. Helena Bonito Couto Pereira
Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Prof. Dr. Adilson Aderito da Silva
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu esposo Geraldo Henrique, maior
incentivador do meu crescimento acadêmico; aos meus filhos Henrique
e Esther, motivo de meu esforço e busca pelo constante
aperfeiçoamento; aos meus pais e irmãos, que sempre acreditaram em
mim.
AGRADECIMENTOS
A Deus, autor e consumador da vida e provedor de todas as coisas, a Ele toda honra e
toda glória.
Ao Professor Gilberto Perez, muito mais que orientador acadêmico, um amigo e
conselheiro, que me motivou e não desistiu de mim, apesar das intempéries.
Aos Professores Dr. Adilson Caldeira e Dr. Edmir Parada Vasques Prado, pelas valiosas
contribuições feitas por ocasião da banca de qualificação.
Aos meus amigos queridos, que ladearam comigo os dias de tensão durante esse
trabalho. Em especial à Yarinha, por ter perdido noites de sono junto a mim e ter sido tão
presente.
Aos amigos mestrandos, com quem partilhei memórias para a vida, em especial
Alexandre, Flávio e Gislâine, pelas risadas, pelo incentivo e pela amizade.
Aos entrevistados, que tão prontamente me receberam e se envolveram com este
trabalho, contribuindo para sua realização e enriquecendo-o com suas histórias de vida.
“O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais,
não o encobriremos a seus filhos; contaremos à vindoura geração
os louvores do SENHOR, e o seu poder, e as maravilhas que fez”,
Salmos 78.3-4.
RESUMO
A Tecnologia de Informação (TI) tem assumido cada vez mais relevância na gestão de
organizações de diversos portes e setores da economia. Uma das funções importantes da TI é a
gestão do conhecimento, que está intimamente ligada à Memória das Organizações (MO).
Usufruir dos serviços de TI por meio de recursos próprios, ou terceirizá-los é uma decisão de
cada organização (PEREZ, 2006). Com esta pesquisa buscou-se analisar os possíveis impactos
da Terceirização de Serviços de Tecnologia de Informação na Memória Organizacional de
Instituições de Ensino Superior (IES). Para o alcance dessas informações, utilizou-se da
pesquisa qualitativa de natureza exploratória, por intermédio de entrevistas realizadas com
roteiro estruturado e previamente elaborado, com seis gestores de IES da área de tecnologia de
informação e de áreas administrativas, que utilizam a TI, bem como, aqueles que tenham
interagido com terceirização de serviços de TI. Inicialmente, realizou-se a revisão bibliografia
já produzida envolvendo esses dois assuntos. Para análise dos dados coletados utilizou-se
análise de conteúdo das entrevistas realizadas, mediante a pré-análise, codificação e
sumarização dos conceitos e, finalmente, o desenvolvimento das categorias, conforme indicado
por Bardin (2009). Como resultado pôde-se verificar que a terceirização de serviços de TI pode
causar impactos ora positivos, ora negativos para a MO das IES, além de impactos na
organização como um todo. Foi possível compreender o papel da TI e seu impacto na geração
e retenção do conhecimento e da Memória das IES. Também ficou evidente a necessidade da
gestão efetiva da terceirização de serviços TI, dadas as singularidades do ramo educacional,
bem como a notória necessidade de geração, repasse e perpetuação da MO nas IES.
ABSTRACT
Information Technology (IT) has become more relevant in the management of organizations
of all sizes and sectors of the economy. One of the important functions of IT is the knowledge
management, which is closely related to Organizational Memory (OM). The use of IT services
through its own resources or outsource them is a decision for each organization to make (Perez,
2006). This research aims to analyze the potential impacts of Outsourcing Information
Technology Services in Organizational Memory in Higher Education Institutions (HEIs). To
achieve this information, we have used qualitative research of exploratory nature, through
structured and previously prepared script interviews with six managers of HEIs information
technology and administrative areas, who use IT and with those who have somehow interacted
with outsourcing of IT services. Initially, there was a review of the existing literature involving
these two issues. For the analysis of the collected data we used the content analysis of the
interviews conducted by the pre-analysis, the coding and the summarization of concepts and
ultimately the development of the categories, as indicated by Bardin (2009). As a result it was
observed that outsourcing of IT services can impact either in a positive, or in a negative way
the OM of HEIs, and impacts on the organization as a whole. It was possible to understand the
role of IT and its impact on the generation and retention of knowledge and memory of HEIs. It
was also evident the need for effective management of outsourcing IT services, given the
peculiarities of the educational sector as well as the notorious need for generation, transfer and
perpetuation of MO in HEIs.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Diagrama de correlação entre MO, idade do funcionário e carreira...19
Figura 2
Modelo de Memória Organizacional com base em containers...21
Figura 3
Processo de Memória Organizacional...23
Figura 4
Modelo de Memória Organizacional proposto por Costa...23
Figura 5
Processo da ME nas organizações...24
Figura 6
Ativação da Memória...24
Figura 7
As funções da ME nas organizações...25
Figura 8
Modelo Representativo da Memória Organizacional...25
Figura 9
Esquema para a análise de conteúdo...39
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
Características específicas da terceirização de TI...29
Quadro 2
Problemas com a MO e suas descrições...30
Quadro 3
Problemas de MO Identificados por autor...32
Quadro 4
Problemas advindos do processo de terceirização...33
Quadro 5
Impactos advindos da terceirização...34
Quadro 6
Cultura da organização x terceirização...35
Quadro 7
Perfil dos Entrevistados...41
Quadro 8
Quadro de Categorias Criadas a partir da condensação das US´s...43
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
... 13
1.1 Justificativa para a Pesquisa
... 14
1.2. O Problema de Pesquisa
... 16
1.3 Objetivos da Pesquisa
... 16
1.3.1 Objetivo Geral ... 16
1.3.2 Objetivos Específicos ... 16
2. REFERENCIAL TEÓRICO
... 18
2.1 Memória Organizacional um Conceito em Evolução
... 18
2.1.1 Modelos de Memória Organizacional ... 20
2.1.2 Evolução dos Modelos de Memória Organizacional... 22
2.2.
Terceirização (Outsourcing) - Conceitos
... 26
2.2.1. Terceirização de Tecnologia de Informação ... 27
2.3 Problemas com a Memória Organizacional
... 29
2.4 Problemas com a Terceirização (Outsourcing)
... 32
2.5 Memória Organizacional e Terceirização da TI ... 34
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
... 37
3.1 Método de Pesquisa
... 37
3.2. Tipo de Pesquisa
... 37
3.3. Instrumento de Coleta
... 38
3.4. Técnica de Análise de Dados
... 39
3.5 Sujeitos da Pesquisa
... 40
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
... 41
4.1
Análise de Conteúdo
... 41
4.2
Identificação das Unidades de Registro - UR
... 42
4.3
Formação das Unidades de Significado - US
... 42
4.4
Formação das Categorias
... 42
4.4.1. Esquema de Relacionamento entre as Categorias ... 58
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
... 62
REFERÊNCIAS
... 65
APÊNDICE A
–
ROTEIRO DE ENTREVISTAS
... 70
APÊNDICE B
–
Quadro de Unidades de Registro Identificadas nas Entrevistas
... 74
1
.
INTRODUÇÃO
Para as organizações do século XXI, que são intensivas em informação e conhecimento,
a velocidade das informações é tão grande quanto as mudanças que ocorrem em seu cotidiano,
quer no ambiente virtual, quer no ambiente tradicional de negócios. Tais fatos geram uma
perspectiva, e de certa forma uma reflexiva apreensão sobre o futuro das informações e do
conhecimento já existentes, fruto das experiências vividas.
No âmbito individual esse armazenamento de informações é chamado memória.
Smolka (2000), em sua pesquisa sobre a memória humana sob uma perspectiva histórico
cultural, resume que a memória humana, para Aristóteles, estaria firmada em três pilares:
sensações e afeto, imaginação e tempo. Ballesteros (1999) descreve a memória humana como
um processo psicológico de armazenamento de informações codificadas, e ela acrescenta que
essas informações podem ser recuperadas por meio voluntário ou involuntário.
Sob o ponto de vista empresarial tem-se chamado essa guarda de experiências
(informações e conhecimento), por analogia à memória humana, de Memória Organizacional
(MO), criando a ideia de que as organizações também desenvolvem sua memória com o passar
dos tempos. Walsh e Ungson (1991) propuseram um modelo de MO no qual a definem como o
agregado de experiências úteis para tomada de decisões, armazenadas em
containers
organizacionais. Essas informações ficam armazenadas na organização através dos tempos e
por meio dos métodos, da cultura organizacional e dos indivíduos (colaboradores). Eventuais
falhas no armazenamento e recuperação dessas informações ou conhecimentos são conhecidas
como falhas da MO e poderão influenciar o processo de decisão.
Tulving (2007) em sua pesquisa sobre os diversos tipos de memória catalogou 256 tipos
diferentes de memória.
Ele observa que o termo “memória” é simplista, à primeira vista, para
a gama de capacidades humanas aos quais está relacionado. Ele explica que, para se chegar a
essas conclusões, foram 2000 anos de análise filosófica, 115 anos de experimentos psicológicos
e mais de 70 anos de testes por neurocientistas (ROEDIGER III et al., 2002).
Assim como atual e instigante o estudo da MO, é o estudo do fenômeno comumente
verificado nas organizações modernas, chamado terceirização
(outsourcing
), que emergiu em
Segundo Kendrick (2009) o setor de TI é a resposta a um novo modelo de negócio,
emergido da globalização. Portanto, de suma importância em uma organização. A preocupação
com o futuro dessa memória organizacional - formação, manutenção e transferência - conduzirá
esta pesquisa, sob a égide da terceirização (
outsourcing
) de serviços de TI, fenômeno mundial
de transferência a outra empresa - terceiros, de atividades - no todo ou em parte, de uma
organização.
Com um olhar mais singular sobre a terceirização de serviços de TI, este estudo busca
verificar o impacto da terceirização desses serviços específicos na criação e manutenção da
memória da organização.
Frente a essa constatação, percebeu-se a necessidade de uma reflexão sobre os impactos
da terceirização, em especial dos serviços de TI, em instituições de ensino superior. E,
sobretudo, os impactos dessa terceirização na MO das mesmas.
1.1 Justificativa para a Pesquisa
Vários artigos pesquisados (PEREZ; RAMOS, 2013; CROASDELL et al., 2002;
WALSH; UNGSON, 1991) apontam a importância de se preservar a MO para a tomada de
decisões, por ser um componente organizacional que habilita os gestores a se munir de
segurança para decisões presentes, firmados em experiências passadas da organização, quer
positivas, quer negativas.
A terceirização na área de TI demanda planejamento da alta administração, visto que
deve estar alinhada ao plano estratégico da organização. O autor conclui que a área de TI é
estratégica, e que ela faz parte das decisões de políticas e diretrizes de TI, não ficando restritos
à Diretoria (ABREU, 2009).
Há que se considerar as vantagens e desvantagens da terceirização e alinhá-las com o
planejamento estratégico da organização, a fim de se agregar valor (PRADO; TAKAOKA,
2006). Nessa seara Valença e Barbosa (2002) ressaltam a correlação da visão estratégica da
organização com a decisão de se terceirizar. Assim, torna-se importante refletir sobre o impacto
da terceirização de TI na organização, bem como, quais serviços de TI mais têm sido objeto de
terceirização.
1.2 O Problema de Pesquisa
É pacificado que há reflexos da terceirização em uma empresa; convém estudar quais
impactos seriam relevantes para esta pesquisa, por afetar a memória da organização. Como
resultado dessas reflexões emerge o problema de pesquisa deste estudo, qual seja:
Como a
terceirização de serviços de Tecnologia de Informação Impacta a Memória
Organizacional de Instituições de Ensino Superior?
1.3 Objetivos da Pesquisa
O trabalho em tela visa compreender as vicissitudes e virtudes de um processo de
terceirização de serviços de TI em instituições de ensino superior no que tange à sua memória
organizacional, e para que isso seja alcançado serão perseguidos os objetivos geral e específicos
retro delineados.
1.3.1 Objetivo Geral
Assim, o objetivo geral deste trabalho é analisar possíveis impactos na Memória
Organizacional causados pela terceirização de serviços de TI em Instituições de Ensino
Superior. Para que haja coerência na persecução do objetivo geral apresentado, os objetivos
específicos interagem entre si, com o intuito de se responder ao problema de pesquisa.
1.3.2 Objetivos Específicos
Frente ao objetivo geral apresentado, propõe-se alcançar os objetivos específicos abaixo
listados:
1.
Compreender o papel da TI em instituições de ensino superior.
2.
Entender como o processo de terceirização de serviços de TI afeta a instituição.
3.
Compreender a importância da MO nas IES.
Específico 2. E, traz-se no Objetivo Específico 3 a proposta de reflexão sobre a importância da
MO nas IES, sua preservação e compartilhamento.
2
.
REFERENCIAL TEÓRICO
Neste capítulo são apresentados os conceitos dos construtos da pesquisa realizada, a
saber, Memória Organizacional, Modelos de Memória Organizacional, Problemas na Memória
Organizacional, Terceirização (
Outsourcing
), Terceirização de serviços de TI, Problemas com
a Memória Organizacional, Problemas com a Terceirização, ligação entre Memória
Organizacional e Terceirização de serviços de TI.
2.1 Memória Organizacional um Conceito em Evolução
Alicerçado no conceito da memória da organização (MO) como uma metáfora à
memória humana, o estudo da MO baseia-se na utilidade e importância das informações sobre
o passado das organizações como meio embasador para tomada de decisões e gestão de
conflitos presentes.
É dada importância à memória das organizações uma vez que muito se estudou sobre a
gestão do conhecimento, e, dentre esses vários estudos, há autores que entendem que a gestão
do conhecimento é fundamental para que haja uma base para criação e manutenção do
conhecimento, permitindo assim o compartilhamento do conhecimento e das ações dentro da
organização, ou seja, perpetuando a MO da organização (FREIRE; TOSTA; HELOU FILHO;
SILVA, 2012).
Croasdell et al. (2002) trabalham com a MO como o conhecimento, ou o armazenamento
de informações emergido do passado, utilizado no tempo presente como norteador de atividades
dentro da organização, resultando dessa forma em decisões melhor fundamentadas e em
diferentes níveis de eficácia organizacional - maiores ou menores.
Shibao, Santos e Popadiuk (2010) ressaltam a gestão do conhecimento galgado como
um diferencial competitivo da organização, pois por meio dessa gestão eficaz a organização
pode desviar dos erros anteriores e escolher caminhos mais seguros e promissores.
Para Dunham e Burt (2011), a MO é a capacidade das organizações de aprenderem com
seu passado. Essa memória é composta pelo conhecimento tácito e pelo explícito. Os autores
destacam o fato de que a perda de funcionários antigos em uma organização pode implicar em
perda substancial de conhecimento organizacional. Nessa seara, eles chegaram à conclusão, em
sua pesquisa, que a idade do funcionário está intrinsecamente ligada à construção de sua carreira
e à MO, como se observa na Figura 1.
Figura 1
: Diagrama de correlação entre MO, idade do funcionário e carreira
Fonte: Adaptado de Dunham e Burt (2011)
Dunham e Burt (2011) desenvolveram o argumento de que funcionários com longa
carreira na organização podem ser fontes vitais de MO, e incentivos de compartilhamento de
conhecimento, como mentoria aos mais novos, pode ser para eles como uma recompensa
pessoal e uma maneira de manter a MO.
Carreira na
Organização
A ideia de se utilizar a memória humana como metáfora à memória da organização
(MO) tem como cerne a certeza da utilidade e importância das informações sobre o passado
–
quer sobre o ser humano em si, quer sobre as organizações. Essa reflexão nos permite antecipar
situações que podem se iniciar no presente ou se repetir no futuro.
Para Dunham e Burt (2011) uma gestão do conhecimento efetiva envolve a criação,
captura, armazenamento e transferência do conhecimento, aqui subentendido o
compartilhamento do conhecimento entre os membros da organização.
A MO, portanto, refere-se ao armazenamento de informações que uma organização
mantém sobre si, ao longo de sua história, e que servirá de aporte para tomada de decisões
presentes e futuras (GONG; GREENWOOD, 2012).
Para Menezes (2006), a MO carece de construção social, assim como manutenção e
administração, para que se torne peça fundamental na gestão do conhecimento. A memória
engloba pessoas, arquivos, procedimentos e estruturas organizacionais e cultura
(ACKERMAN; HARVERSON, 2004; PEREZ; RAMOS, 2013).
Os últimos autores ressaltam que a MO não se restringe a repor informações ou a
responder demandas com fatos passados, mas deve ser entendida como um processo dinâmico
que viabiliza a utilização de informações e conhecimento (experiências) outrora vivenciados.
Por esse motivo, Walsh e Ungson (1991) entendem a MO também como um meio para
se implementar melhorias no desenvolvimento da organização, assim como Barros, Ramos e
Perez (2015) que a consideram um diferencial competitivo.
2.1.1 Modelos de Memória Organizacional
Figura 2
: Modelo de Memória Organizacional com base em
containers
Fonte: Adaptado de Walsh e Ungson (1991)
Para Walsh e Ungson (1991) a MO é formada por elementos básicos de
aquisição,
retenção e recuperação
. Conforme esses autores, a aquisição da memória da organização
ocorre quando é gerada informação de decisões tomadas e de solução de problemas. Levando
em conta as duas facetas da informação, buscam em seu estudo identificar quais aspectos da
decisão podem ser adquiridos - eles estudam o que seria o estímulo para a tomada de decisões.
Esse estímulo da tomada de decisão também é chamado de detecção do problema, sendo este o
preceptor do comportamento que visa solucionar os problemas (KIESLER; SPROULL, 1982)
e de mudança ecológica (WEICK, 1979, p. 130, apud WALSH; UNGSON, 1991).
Outro ponto sobre o modelo proposto por Walsh e Ungson (1991) sobre a
aquisição
é
a resposta aos estímulos, pela organização. Conforme os autores, essa aquisição da resposta da
organização aos estímulos, sua interpretação e consequências, formam a memória da
organização (MO).
a estrutura da MO e uma força externa à organização. São eles: indivíduos, cultura,
transformações, estrutura e ecologia (caixas internas) e arquivos externos (
container
externo).
Quanto à
recuperação,
os autores, citando Kahneman (1973) e Langer (1983)
demonstram que pode transitar entre o automático e o controlado. Para eles,
recuperação
no
modo automático, como o nome já sugere, é aquela onde a informação para decisão atual
emerge de maneira intuitiva, sem esforço extra. Exemplo disso são decisões presentes tomadas
com base em comportamentos, práticas e processos do passado, os quais foram compartilhados
e inseridos nos processos de transformação, estrutura, cultura e ecologia (do ambiente de
trabalho).
Já a
recuperação
controlada (consciente), segundo os autores, é aquela oriunda de um
esforço produzido e de um
modus operandi
premeditado, controlado. Indivíduos podem fazer
a retenção de propósito, fazendo analogia às decisões passadas (NEUSTADT; MAY, 1986,
apud WALSH; UNGSON, 1991). Essa memória dos indivíduos quanto às experiências e
decisões são delimitados conforme a participação do indivíduo na organização. Essa memória
coletiva também emerge dos indivíduos se ajudando a lembrar do passado.
Todo esse arcabouço de memórias dos indivíduos que compartilhadas formam uma
memória coletiva (HALBWACHS, 1950/1980, apud WALSH; UNGSON, 1991) gera a
recuperação
consciente de informação sobre decisões passadas. Esse modelo de MO proposto
por Walsh e Ungson (1991) tem sido estudado e debatido por pesquisadores diversos, e dele
emergiram outros modelos propostos para a estrutura da MO.
2.1.2 Evolução dos Modelos de Memória Organizacional
Figura 3
: Processo de Memória Organizacional
Fonte: Stein e Zwass (1995)
Costa (2011), em sua pesquisa sobre a estrutura da MO apresenta um novo modelo de
MO, sendo esta integrada por quatro tipos de memória, a sensorial, a comunicativa, a cultural
e a política, como reproduzido na Figura 4.
Figura 4:
Modelo de Memória Organizacional proposto por Costa
Fonte: Costa (2011)
Impressões
(Sensorial)
Experiência
(Comunicativa)
Identidade (Cultural)
RECURSOS
Akgun, Keskin e Byrne (2012) trabalham na mesma linha de Walsh e Ungson (1991),
entendendo que a MO implica em conhecimento organizacional, habilidades, normas e regras,
processos, compartilhamento de crenças e aprendizados. Esses autores trabalham uma nuance
da MO, que chamam de Memória Emocional (ME), e apresentam em seu trabalho, a exemplo
do modelo de Walsh e Ungson (1991), a compilação do desenvolvimento, retenção e
recuperação da ME (Figura 5).
Figura 5
: Processo da ME nas organizações
Fonte: Akgun, Keskin e Byrne (2012)
Nesse mesmo estudo, Akgun, Keskin e Byrne (2012) demonstram os gatilhos de
ativação da memória emocional e trabalham as funções da ME nas organizações, estabelecendo
o claro princípio de que a ME está contida na MO, como demonstrado nas Figuras 6 e 7.
Figura 6
: Ativação da Memória
ESTÍMULO EMOCIONAL
Fonte: Akgun, Keskin e Byrne (2012)
DESENVOLVIMENTO RETENÇÃO RECUPERAÇÃO
Narrativas Histórias M etáforas
Símbolos Organizacionais:
M itos
Linguagem
Artefatos
Desenhos
Rituais
Cultura Organizacional Indivíduos
Estrutura das
Organizações/transformações Ecologia Organizacional Fatores Externos
Narrativas Histórias M etáforas
Símbolos Organizacionais:
M itos
Linguagem
Artefatos
Desenhos
Rituais
IMPORTANTE
Reciprocidade Positiva Co-participação positiva
Covariância negativa Co-variância positiva -
Mudança de memórias manutenção do status quo
declarativas e processuais
DESAGRADÁVEL AGRADÁVEL
Covariância negativa/positiva Covariância negativa/positiva
Esquecimento organizacional Esquecimento organizacional
Intencional ou manutenção Intencional ou manutenção
Do status quo Do status quo Do status quo Do status quo