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ARTIGO
ORIGINAL
Resurgence
of
pertussis
at
the
age
of
vaccination:
clinical,
epidemiological,
and
molecular
aspects
夽
Rosângela
S.L.A.
Torres
a,b,∗,
Talita
Z.
Santos
c,
Robson
A.A.
Torres
b,
Valéria
V.G.
Pereira
a,
Lucas
A.F.
Fávero
b,
Otavio
R.M.
Filho
b,
Margareth
L.
Penkal
ae
Leni
S.
Araujo
daLaboratóriodeBacteriologia,DivisãodeLaboratóriosdeEpidemiologiaeControledeDoenc¸as,LaboratórioCentraldoEstado
doParaná,Curitiba,PR,Brasil
bUniversidadePositivo,Curitiba,PR,Brasil
cPontifíciaUniversidadeCatólicadoParaná(PUC-PR),Curitiba,PR,Brasil
dDivisãodeVigilânciadasDoenc¸asTransmissíveis,CentrodeEpidemiologia,SecretariadaSaúdedoParaná,Curitiba,PR,Brasil
Recebidoem2dejunhode2014;aceitoem8desetembrode2014
KEYWORDS Whoopingcough; Clones;
Bordetellapertussis; Rep-PCR;
Vaccine; Incidence
Abstract
Objective: Reporttheincidence,epidemiology,clinicalfeatures,death,andvaccination sta-tus ofpatients withwhooping cough and performgenotypic characterization ofisolates of
B.pertussisidentifiedinthestateofParaná,duringJanuary2007toDecember2013.
Methods: Cross-sectional study including1,209 patients with pertussis.Datawere obtained through the Notifiable Diseases InformationSystem (Sistema de Informac¸ão de Agravosde Notificac¸ão---SINAN)andmolecularepidemiologywasperformedbyrepetitivesequence-based polymerasechainreaction(rep-PCR;DiversiLab®,bioMerieux,France).
Results: TheincidenceofpertussisinthestateofParanáincreasedsharplyfrom0.15-0.76per 100,000habitantsbetween2007-2010to1.7-4.28per100,000between2011-2013.Patientswith lessthan1yearofageweremorestricken(67.5%).Fifty-ninechildren(5%)developedpertussis evenafterreceivingthreedosesandtwodiphtheria-tetanus-pertussis(DTP)boostersvaccine. Themostcommoncomplicationswerepneumonia(14.5%),otitis(0.9%),andencephalopathy (0.7%).IsolatesofB.pertussisweregroupedintotwogroups(G1andG2)andeightdistinct patterns(G1:P1-P5andG2:P6-P8).
Conclusion: The resurgence ofpertussis shouldstimulatenew researchtodevelopvaccines withgreatercapacityofprotectionagainstcurrentclonesandalsoencourageimplementation ofnewstrategiesforvaccinationinordertoreducetheriskofdiseaseininfants.
©2015SociedadeBrasileiradePediatria.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrightsreserved.
DOIserefereaoartigo:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2014.09.004
夽 Comocitaresteartigo:TorresRS,SantosTZ,TorresRA,PereiraVV,FáveroLA,FilhoOR,etal.Resurgenceofpertussisattheageof vaccination:clinical,epidemiological,andmolecularaspects.JPediatr(RioJ).2015;91:333---8.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:rslatorres@gmail.com(R.S.L.A.Torres).
PALAVRAS-CHAVE Coqueluche; Clones;
Bordetellapertussis; Rep-PCR;
Vacinas; Incidência
Ressurgimentodacoqueluchenaeravacinal:aspectosclínicos,epidemiológicos
emoleculares
Resumo
Objetivo: Relataraincidência,osaspectosepidemiológicos,clínicos,amorteeavacinac¸ão depacientescomcoquelucheefazeracaracterizac¸ãogenotípicade isoladosdeBordetella pertussisidentificadosnoEstadodoParaná,dejaneirode2007adezembrode2013.
Métodos: Estudotransversal,incluindo1.209pacientescomcoqueluche.Osdadosforam obti-dosnoSistemadeInformac¸ãodeAgravosdeNotificac¸ão(Sinan)eaepidemiologiamolecularfoi feitaporPCRbaseadaemsequênciasrepetitivas(rep-PCR;DiversiLab®,bioMerieux,France). Resultados: A incidênciadecoqueluchenoEstadodoParanáaumentouacentuadamentede 0,15-0,76por100.000habitantesentre2007-2010para1,7-4,28por100.000habitantesentre 2011-2013.Ospacientescommenosdeum anoforamosmaisafetados(67,5%);59crianc¸as (5%)desenvolveramcoqueluchemesmodepoisderecebertrêsdosesdavacinaedoisreforc¸os comavacinatrípliceDTP.Ascomplicac¸õesmaiscomunsforampneumonia(14,5%),otite(0,9%) eencefalopatia(0,7%).IsoladosdeB.pertussisforamagrupadosemdoisgrupos(G1eG2)e oitopadrõesdistintos(G1:P1-P5eG2:P6-P8).
Conclusão: Oressurgimentodacoqueluchevemparasugerirnovaspesquisascomoobjetivose desenvolveremvacinascommaiorcapacidadedeprotec¸ãocontraosclonesatuaisetambém implantarnovasestratégiasdevacinac¸ão,afimdereduziroriscodedoenc¸asemlactentes. ©2015SociedadeBrasileiradePediatria.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todososdireitos reservados.
Introduc
¸ão
A coqueluche, popularmente conhecida como tosse com-prida,é uma doenc¸a gravedo trato respiratório humano, altamentecontagiosa,causadapelaBordetellapertussis.1
A doenc¸a é caracterizada por acessos incontroláveis de tosse,acompanhadosdesibiloinspiratório.2Crianc¸ase
adul-tos de qualquer idade podem desenvolver a doenc¸a. No entanto,cursacommaiorgravidadeentrelactentes, espe-cialmenteatéseismeses.3Apesardaboacoberturavacinal,
estima-seque ocorram50 milhões decasos porano,com aproximadamente300milóbitosanuais,90%empaísesem desenvolvimento.1,4
Aúltimadécadafoisurpreendidapeloaumentodastaxas deincidênciadacoquelucheemdiversasregiõesdomundo. As causas dareemergênciadessa doenc¸a aindanão estão totalmente esclarecidas. Algumas hipóteses foram levan-tadas:perdadaimunidadepós-vacinal;implementac¸ãode métodos molecularespara odiagnóstico; melhoria do sis-temadevigilânciaepidemiológica;reduc¸ãodaeficácia da vacina;ou,ainda,mudanc¸asgenéticasnopatógeno.5,6
No Brasil a coqueluche passou a constar na lista de doenc¸as de notificac¸ão compulsória em 1975, com a recomendac¸ãodeinvestigartodosossurtosdadoenc¸a.No iníciodadécadade80foramnotificadosmaisde40milcasos anuaise ocoeficiente deincidência foisuperior a30/100 milhabitantes.Essenúmerocaiuabruptamenteapartirde 1983,comaintroduc¸ão davacinaDTPnocalendário vaci-nalinfantil,emantevedesdeentãotendênciadecrescente. Indíciosdoretorno dacoqueluchenoBrasilforam eviden-ciados por meio da detecc¸ão de alguns surtos em 2010, seguidospeloaumentodonúmerodecasosemvárias capi-taisbrasileiras.7
O monitoramento da circulac¸ão da B. pertussis vem sendo implantado nos estados brasileiros, com a criac¸ão deservic¸os-sentinelaelaboratórioscapacitadosparao iso-lamento do agente etiológico. As metodologias usadasno diagnóstico laboratorial da coqueluche incluem cultura e RT- PCR (Real Time --- PCR). O diagnóstico dacoqueluche porcritériolaboratorialfoiimplantadonoLaboratório Cen-tral do Estado do Paraná (Lacen-PR) em 2005. O exame (cultura)inicialmentefoioferecidoparatrêsunidades hos-pitalaressentinelas,duasemCuritibaeoutranomunicípio de Londrina. Somente em 2007 ocorreu o primeiro isola-mento de B. pertussis, em um contato familiar tossidor, de uma crianc¸a com sintomas da doenc¸a. Em 2011 o exame foi expandido para todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e demais hospitais de Curitiba e da Região Metropolitana.Essesservic¸osreceberam capacitac¸õesque abordaram o diagnóstico clínico, condutas epidemiológi-caseacoletadaamostrabiológica.Recentemente,alguns estudostêmdescritoousodatécnicadeanálisede sequên-cias de DNA repetidas(rep-PCR; DiversiLab®, bioMerieux,
France) para tipagem molecular de microrganismos. Esse método faz uso de sequências oligonucleotídicas inicia-doras complementares de sequências de DNA repetitivas muito conservadas e presentes em numerosas cópias no genoma das bactérias. Possibilita a caracterizac¸ão geno-típica, a diferenciac¸ão de clones e a dispersão desses na comunidade.8
Materiais
e
métodos
Estudoobservacionaletransversal,compostodepacientes comdiagnósticoconfirmadodecoqueluche,feitonoEstado doParaná,dejaneirode2007adezembrode2013.Oscasos decoqueluchesãonotificadosnoSistemadeInformac¸ãode AgravosdeNotificac¸ão(Sinan)pormeiodopreenchimento deumafichapelafontenotificadora,quefornecedadosde localizac¸ão,identificac¸ão, sinaise sintomasclínicos,óbito eestadovacinaldospacientes.
Os casosde coquelucheforam confirmadospor: I. Cri-térioclínico---umindivíduo,independentementedaidade ou do estado vacinal, apresenta tosse de qualquer tipo há 14 dias ou maisassociada a dois ou mais dos seguin-tessinaisesintomas:tosseparoxística,guinchoinspiratório e/ouvômitopós-tosse;II.Critériolaboratorial---todo indiví-duoqueatendaàdefinic¸ãodecasosuspeitodecoqueluche e que tenha o isolamento de B. pertussis em cultura ou identificac¸ão por RT-PCR. e III. Critério clínico epidemi-ológico --- todo indivíduo que atenda à definic¸ão de caso suspeitoetevecontatocomcasoconfirmadodecoqueluche porcritériolaboratorial,noperíododetransmissibilidade.2
Todososcasosdecoquelucheconfirmadosporpelomenos um dos critérios acima foram incluídos no estudo. As seguintesvariáveis epidemiológicaseclínicasforam avali-adas:idade,sexo,sinaisesintomasclínicos,complicac¸ões, númerodeóbitoseestadovacinal.Esteestudofoiaprovado pelo comitêde ética e pesquisa do Hospital do Trabalha-dor/Sesa/PR,CAAE16584713.6.0000.5225.
Diagnósticolaboratorial
Amostrasclínicas(secrec¸ãonasofaríngeaprofunda)de paci-entes suspeitos de coqueluche foram encaminhadas ao Lacen-PR em meiodetransporte ReganLowe (RL), suple-mentado com 10% de sangue de carneiro e cefalexina a 40g/mL.Asamostrasforamcultivadasemplacasdeágar RLeincubadasa35◦C(±1)emambienteúmidopor10dias.
ColôniassuspeitasdeB.pertussisforamidentificadasporse desenvolverapóso3◦ diadeincubac¸ão,apresentara
mor-fologiadecobacilosGramnegativos,sercatalaseeoxidase positivoseapresentaridentificac¸ãobioquímicacompatível deacordocomestudospublicadosanteriormente.9Todosos
isoladosidentificadosduranteoperíododeestudoformam armazenadosemfreezer−80◦C.
TipagemRep-PCR
Os isolados de B. pertussis foram tipados por meio da técnica de análise de sequências de DNA repetidas (rep-PCR; DiversiLab®, bioMerieux, France) para determi-nar a proximidade genética. Essa técnica analisa regiões específicas do genoma bacteriano que podem ou não estarpresentesemdeterminadasestirpes.Quando presen-tes são amplificadas e podem ser visualizadas formando bandas sobre o gel virtual formado pelo sistema. As diferenc¸as e semelhanc¸as (presenc¸a e/ou intensidade de bandas) entre os isolados permitem a classificac¸ão desses em grupos e padrões distintos. Foram conside-rados pertencentes a um mesmo grupo os isolados que apresentavam similaridade ≥ 90%. Foram considerados
padrõesúnicos(clones)osisoladosqueapresentaram simi-laridade≥97%entresienenhumabandadiferente.
Análiseestatística
O sistema Sinan fornece dados para o cálculo de indica-dores epidemiológicos com o uso do aplicativo Tabwin versão 32.exe (http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/
index.php?area=060805), que gera relatórios a partir da
base Postgres do Sinan NET ou da base DBF das ver-sões NET ou online do Sinan (http://dtr2004.saude.gov.
br/sinanweb/novo/relatorios/descricao.pdf). Para o
cál-culodocoeficientedeincidênciaanualfoifeitaatabulac¸ão, noformato Tabwin,donúmerodecasosnovosacada ano (2007 a 2013), divididos pela populac¸ão do Estado do Paraná.OsoftwareDiversiLab,versão2.1.66(DiversiLab®,
bioMerieux,France),analisaosresultadosdagenotipagem pormeiodacriac¸ãodeumamatrizdeproximidade,como usodocoeficientedecorrelac¸ãodePearsonparadeterminar matrizesdedistânciaecriarodendrograma.Osrelatórios foramgeradosautomaticamentepelosistema.Asvariáveis analisadasforamdescritassegundosuasfrequências.
Resultados
DuranteoperíodoanalisadoforamnotificadosnoEstadodo Paraná3.451casosdecoqueluche.Noentanto,apenas1.209 foramconfirmadospeloscritériosacimadefinidos.Foi obser-vadoumaumentoconsiderávelnaincidênciadessadoenc¸a, queosciloudeentre0,15e0,76/100milhabitantesentre 2007e2010para1,7/100milem2011,3,83/100milem2012 e4,28/100milem2013;665(55%)dospacientespertenciam ao sexofeminino. A faixaetária maisacometida foi ade menoresdeumanocom816(67,5%)casos,especialmente crianc¸ascomidadeinferioradoismeses.
Aapresentac¸ãoclínicadacoqueluchepodevariaremais de um sinal/sintoma pode estar presente em um mesmo paciente.Ossinais/sintomasmaisfrequentesforamatosse paroxística, presente em 817 (67,5%) pacientes, seguida de cianose 763 (63,1%), vômito pós-tosse 615 (50,8%), respirac¸ão ruidosa (guincho) 504 (41,6%) e apneia 389 (32,1%).Temperaturaacimaouiguala38◦
Cfoiencontrada em 269(22,2%) pacientese temperatura entre37 e 38◦C
foiobservadaem 389(32,1%)(fig. 1).Umnúmero expres-sivodepacientesnecessitoudehospitalizac¸ão.Aprincipal complicac¸ão foi a pneumonia 176 (14,5%). Foram a óbito 19pacientes,entreesses11pertenciamaosexomasculino, 17(89,5%)tinhammenosdedoismesesdeidade,umcom trêsmeseseoutrocom44anoscomdiagnósticopréviode tuberculose.
Praticamentea metade dos pacientes com diagnóstico confirmadodecoqueluche592(49%)játinharecebidopelo menos uma dose da vacina difteria-tetânico-coqueluche (DTP),entreesses93(7,7%)haviamrecebidotrêsdosesda vacinae 59 (5%) haviam completado o calendário vacinal (trêsdoses+doisreforc¸os)(tabela1).
11 (0,9%) Otite
Encefalopatia
Hospitalização
Temp. ≥ 38ºC
Temp. < 38ºC
Apneia
Guincho
Vômito pós tosse
Cianose
Tosse paroxística Pneumonia
9 (0,7%)
176 (14,5%)
706 (58,3%)
269(22,2%)
389 (32,1%)
389 (32,1%)
504(41,6%)
615 (50,8%)
763 (63,1%)
817 (67,5%)
Figura1 Sinais,sintomasecomplicac¸õesassociadosaospacientescomcoqueluche*. *Apresenc¸adequaisquersinais/sintomas/complicac¸õesnãoéexcludentesentresi.
(Rep-PCR) permitiu detectar e diferenciar dois grandes grupos(G1eG2)eoitopadrões(P)(clones)distintosentre os99isoladosdeB.pertussisanalisados.OGrupoG1foio maisfrequentecom74isoladoseogrupoG2foiformadopor 25isolados.Asimilaridadeencontradaentreosdoisgrupos foi inferior a 62%. Foi possível diferenciar cinco padrões distintos[P1,P2,P3,P4eP5]dentrodogrupoG1,enquanto que noG2 apenastrês padrões foramobservados[P6, P7 e P8]. Cada padrão apresentou similaridade ≥ 97% entre si e nenhuma banda diferente. O isolado de B. pertussis
detectado em 2007 pertencia ao clone mais frequente (G1:P4).OsisoladosqueapresentavamospadrõesG1:P2, P3, P4 e P5 encontravam-se em circulac¸ão em todos os anosanalisados(fig.2).OpadrãoG2:P6foidetectadopela primeiravezem2009eospadrõesG2:P7eG2:P8circularam apartir de2011 e desde então disseminaram-se nosanos posteriores.OcloneG1:P1circulouapenasdurante2012.
Discussão
AcoqueluchereemergiunoEstadodoParanáe passoude 16casosem2010para178 em2011.Nos anos subsequen-tes, o número de casos confirmados continuou a crescer, com400e447casosem2012e2013,respectivamente.Tal
fatopodeestarassociadoàpresenc¸ademúltiplosclonesde
B.pertussiscirculantes.
O Brasil iniciou o controle sistemático da coqueluche em 1983, com a introduc¸ão davacina DTP no calendário básicoinfantil, na mesmaépoca em que ospaíses desen-volvidosapontavamosprimeirossinaisdareemergênciada doenc¸a.10,11Em1990acoberturavacinalpassoupara
apro-ximadamente70%eaincidênciadadoenc¸adiminuiude30 para10,6/100milhabitantes.Naúltimadécada,a incidên-ciadacoqueluchenoBrasilsemanteveestáveleosciloude 0,72/100 milhabitantes em 2004para 0,32/100 mil habi-tantes em 2010. Em 2011 ocorreu um aumentorepentino donúmerodecasosconfirmadosemrelac¸ãoaoscincoanos anteriores queelevou aincidência para1,2/100 mil habi-tantes,apesardemantidaaaltacoberturavacinal.12
Ossintomasclássicosdacoqueluchesãoatosse prolon-gada (tossedos 100 dias) e paroxística, acompanhada de respirac¸ãoruidosa(guinchoinspiratório).4Emnossoestudo,
além da presenc¸a dos sintomas clássicos, a cianose foi umachadobastantefrequenteentreospacientes.Nicolai etal.relataramqueatosseparoxísticaéumsintoma alta-mente específico para o diagnóstico da coqueluche, está presente em 63,2%dos casose em nenhum paciente com broquioliteporvírussincicialrespiratório(VSR).Ataxade cianose(52,6%)encontradaentreospacientescom coquelu-chefoitambémsuperioràquelasencontradasnospacientes
Tabela1 CasosconfirmadosdecoquelucheporfaixaetáriaenúmerodedosesdavacinaDTPnoestadodurante2007a2013
Fx.Etária Ign/Branco 1Dose 2Doses 3Doses 3+Ref. 3+2Ref. NãoVac. Total
<1Ano 98 233 86 40 0 0 359 816
1-4 26 11 2 49 61 12 2 163
5-9 19 1 0 0 13 34 1 68
10-14 10 0 0 1 20 12 4 47
15-19 11 0 0 0 4 0 1 16
20-34 31 0 0 2 9 1 8 51
35-49 22 0 0 0 0 0 10 32
50-64 6 0 0 1 0 0 3 10
65-79 5 0 0 0 0 0 1 6
Total 228 245 88 93 107 59 389 1209
Diversilab v3.4 PCR
Relatório de análise #570
80 70 60
% similaridade
Linha de similaridade: 98,86% 90 100
1 1
Localização ID da amostra
G P
Londrina 294-09
Curitiba
Curitiba
Curitiba
Curitiba
Curitiba
Curitiba
Curitiba 719-11
020-13
047-12
091-12
142-13
0799-11
228-13 1
1
1
1
2
2
2 P1(4)
P2(7)
P3(16)
P4(43)
P5(4)
P6(12)
P7(5)
P8(8) 2
3
4
5
6
7
8
Figura2 GruposepadrõesdeB.pertussisidentificadosnoEstadodoParanáentre2007e2013.
DendrogramaegelvirtualgeradospeloDiversiLabrep-PCRfingerprintingsystem.G,Grupo(1e2).P,Padrão(P1,P2,P3,P4,P5, P6,P7,P8).
cominfecc¸ãopeloVSR(10,5%),comsignificânciaestatística (p=0,006).13NasérieavaliadaporBayhanetal.,39,3%dos
pacientescomcoquelucheapresentavamguincho inspirató-rioe87,1%tinhamcianose.14
A pneumonia foi a principal complicac¸ão encontrada entre os pacientes aqui estudados. Essa complicac¸ão é a causamaiscomumdemorterelacionadaacoqueluche.Nos EUAenoCanadáapneumoniaesteve presenteem5,2%e 9,4%doscasos,respectivamente.15,16 AB.pertussis
desen-cadeiaumacascatadeeventosinflamatóriosqueincluema vasoconstric¸ãopulmonaragudae oaumentodacirculac¸ão de leucócitos, que comprometem a circulac¸ão sanguínea pulmonar,exacerbamahipoxemiaecriamumciclovicioso dehipertensãopulmonar.17
Nesteestudo,amaiorpartedosóbitosocorreudurante osúltimostrêsanosdoestudoeemcrianc¸asmenoresdedois meses.SegundodadosdoSinan,foramnotificadosnoBrasil 15.428casosdecoquelucheem2011,dosquais2.248foram confirmados,com56óbitoseletalidadede2,5%.Onúmero decasoscontinuouaaumentarem2012,com 5.416casos confirmados,84óbitosassociadosàdoenc¸aeletalidadede 1,6%.Em2013,oEstadodoParanáfoiresponsávelpor10% dosóbitosregistradosnoBrasil.12NaInglaterra,entre2001
e 2011 foram registrados 48 óbitos devidos a doenc¸a em crianc¸as abaixo de umano e, dessas, 41 (85,41%) tinham menosde66diasdevida.18NosEUAem2012foram
repor-tados48.277casose18(0,04%)óbitos,esseomaiornúmero registradodadoenc¸adosúltimos60anosnessepaís.19
Nota--sequealetalidadedadoenc¸anoBrasilexcedeu40vezesa encontradanosEUA.
Asvacinasdisponíveisatualmentesãoconsideradas segu-ras e imunogênicas. No entanto, conferem protec¸ão com efetividadeaproximadade46%apósa1◦
dose, 79,6%após a 2◦ dose, 91,7% após a 3◦ dose e 96,4% após a 4◦ dose,
comdurac¸ãoaproximadade10anos.20,21 Emnossoestudo,
59 (5%) crianc¸as haviam completado o calendário vacinal (trêsdoses+doisreforc¸os)emesmoassimdesenvolverama doenc¸a.
A técnica Rep-PCR possibilitou discriminar oito clones deB.pertussisdistintos(P1-P8)circulantesnoEstadodo Paraná.Épossívelqueosclonesatuaisapresentemvariac¸ões antigênicasdiferentesdasencontradasnosclonesque cir-culavamnaerapré-vacinal22,23ou,ainda,sejamdiferentes
dacepausadanaproduc¸ãodavacina.Dessaformaavacina nãoapresentariaaefetividadedeprotec¸ãoesperadacontra todasasestirpescirculantes.TemsidosugeridoqueB. per-tussisse adaptoudevido à pressão seletiva exercidapela vacinaduranteosúltimos 60anos,queexpressouatoxina pertússica,apertactinae asfímbrias distintasdas encon-tradasnacepavacinal.Essasmodificac¸õespodemexplicar emparteareduc¸ãodaeficáciadavacinaeinstigama hipó-tese de que a imunidade reduzida, induzida pela vacina, possaserresponsávelpeloaumentodonúmerodecasosda doenc¸aemtodoomundo.24
Outro fato é que as atuais estratégias de vacinac¸ão, com foco apenas em crianc¸as, parecem insuficientes para evitar as mortes em lactentes jovens. Assim, novas estratégias devem ser analisadas para incluir a vacinac¸ãoemrecém-nascidos,adolescentes,idosos, profis-sionaisdesaúde,profissionaisquetrabalhamcomcrianc¸as em berc¸ários e creches e grávidas.20,25,26 Enquanto não
for possível oferecer doses de reforc¸o para toda a populac¸ão, é prioritário vacinar pessoas que têm contato direto com os lactentes jovens, principalmente a mãe, assim como manter elevadas as coberturas vacinais em crianc¸as.25
confirmac¸ãodeetiologiaviralnãoexcluiapossibilidadede coinfenc¸ãocomB.pertussis.27
Concluímos que a coqueluche é uma doenc¸a reemer-genteemnossoestado,comalvopreferencialemlactentes não imunizados. No entanto, observamos que algumas crianc¸asdesenvolveramadoenc¸amesmotendooesquema vacinalcompleto.Estudosavanc¸adossobreabiologia celu-lar e molecular devem ser incentivados para reconhecer mudanc¸as antigênicas nosdiferentes clones deB. pertus-siscirculantesnaatualidadeepoderoferecernovasvacinas maisefetivasemaisprotetorasparaapopulac¸ão.O ressur-gimentodadoenc¸avemsuscitartambémmudanc¸asurgentes no planejamento de novas estratégias de vacinac¸ão, no intuitodereduziroriscodeaquisic¸ãodadoenc¸aea morbi-mortalidaderelacionadaaoslactentes.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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