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As frequências naturais de uma corda de instrumento musical a partir de seus parâmetros geométricos e físicos.

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Academic year: 2017

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(1)

As frequˆencias naturais de uma corda de instrumento musical a partir

de seus parˆ

ametros geom´etricos e f´ısicos

(Natural frequencies of a string musical instrument from its geometric and physical parameters)

Francisco Catelli

1

, Gabriel Abreu Mussato

2

1

Mestrado em Educa¸c˜ao e Mestrado Profissional em Ensino de Ciˆencias e Matem´atica, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil

2

Mestrado em Educa¸c˜ao, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil

Recebido em 07/8/2013; Aceito em 07/11/2013; Publicado em 11/5/2014

O comprimento da escala, o diˆametro, a tens˜ao e o material de que ´e feita uma corda de instrumento musical s˜ao, via de regra, fornecidos pelos fabricantes, e com esses dados a frequˆencia do harmˆonico fundamental pode ser facilmente calculada, como ´e mostrado nesse trabalho. Os resultados, adequados para as cordas de viol˜ao (ou guitarra) n˜ao encapadas, deixam de sˆe-lo quando cordas de maior calibre, cuja massa foi aumentada por meio de um enrolamento adicional de fio de bronze ou n´ıquel, s˜ao consideradas. O c´alculo ´e ent˜ao aperfei¸coado para levar em conta esse fator; um modelo desenhado para o laborat´orio de f´ısica ´e proposto. Os resultados da teoriza¸c˜ao proposta revelam-se acurados, tanto para as cordas encapadas quanto para o modelo did´atico proposto.

Palavras-chave: harmˆonico fundamental de cordas, frequˆencias naturais de oscila¸c˜ao de uma corda, f´ısica e m´usica.

The manufacturers of stings usually supply the scale length, diameter, tension and material of a musical instrumentstring. With these data the fundamental harmonic frequency is easily calculated. The results are accurate for the first three guitar strings, but they are not for the larger diameter ones, in which the mass is increased by an additional winding brass or nickel wire. The calculation is then refined to take into account this factor. A model designed for the physics laboratory is proposed. The results of theorization prove to be accurate, both for strings with additional winding wire as for the proposed didacticmodel.

Keywords: fundamental harmonicmode of a string, string natural frequencies of oscillation, physics and music.

1. Introdu¸

ao

A ac´ustica musical vem sendo um tema recorrente nos peri´odicos ligados `a f´ısica e (ou) ao seu ensino – apren-dizagem. T.D. Rossing, em uma exaustiva revis˜ao bi-bliogr´afica sobre o tema de ac´ustica musical [1], apre-senta 414 referˆencias. H´a diversas publica¸c˜oes, feitas em peri´odicos brasileiros, relacionados ao ensino e `a aprendizagem da f´ısica [2-4]; um trabalho, tamb´em li-gado `a ac´ustica musical, foi publicado na RBEF recen-temente [5]. Trabalhos, tamb´em recentes, em peri´odicos internacionais, [6-9] confirmam: o tema n˜ao perde a atualidade. Especificamente sobre o tema do qual trata este trabalho – a ac´ustica de cordas de instrumentos musicais – h´a diversas referˆencias; duas delas [8, 9] s˜ao destacadas como exemplo.

As referˆencias tomadas como base para a modela-gem te´orica de uma corda de um instrumento musi-cal s˜ao abundantes, e em graus diversos de aprofunda-mento; para as finalidades desse trabalho foram

toma-das como base as Refs. [9, 10], por serem adequatoma-das aos prop´ositos did´aticos que os autores tinham em mente. Para o objeto modelo did´atico de uma corda, proposto nesse trabalho, o referencial te´orico fundamentou-se nas Refs. [12, 13].

A frequˆencia de uma corda de instrumento musi-cal pode ser prevista a partir de parˆametros tais como o comprimento da escala na qual a corda ´e montada, seu diˆametro e o material com o qual ela ´e feita. A maior parte desses parˆametros (em alguns casos, to-dos) ´e fornecida na embalagem dos encordoamentos. Do ponto de vista de um professor de f´ısica, o mais interessante talvez seja a simplicidade da f´ısica ondu-lat´oria necess´aria para uma primeira verifica¸c˜ao, o que ´e o foco do que ´e proposto a seguir.

2.

Modelos te´

oricos

A velocidadevde um pulso em uma corda, em termos deµ(densidade linear de massa, dada porµ=m

L) eT,

1

E-mail: fcatelli@ucs.br.

(2)

a tens˜ao da corda, ´e [10, p. 112]

v= √

T

µ. (1)

O parˆametroL´e o comprimento da corda livre, me-dido entre as suas duas extremidades fixas. Tomando a massamda corda em fun¸c˜ao da massa espec´ıfica do ma-terial que a comp˜oe (D´e o diˆametro da corda), pode-se escrever

m=ρV = ρLπD

2

4 . (2)

A densidade linear de massa fica ent˜ao igual a

µ= πρD

2

4 . (3)

Outra express˜ao fundamental ´e a da velocidade de propaga¸c˜ao de uma onda transversal, em termos de sua frequˆenciaλe comprimento de ondaf

v =λf. (4)

As ondas mecˆanicas nas cordas de um instrumento musical s˜ao ondas estacion´arias; o comprimento de

onda do harmˆonico fundamental ´e igual a 2L [11, p. 134-136]. A Eq. (4) fica ent˜ao

v= 2Lf. (5)

Substituindo agora as Eqs. (3) e (5) na Eq. (1) e rearranjando, temos

f = 1

LD

T

πρ. (6)

Um modo imediato e direto de proceder a esta ve-rifica¸c˜aoconsiste ent˜ao em tomar os dados de um fabri-cante2para, por exemplo, a corda mi, aguda, retirados de uma embalagem do produto (Fig. 1, ou endere¸co eletrˆonico fornecido na nota 3); os dados s˜ao os que seguem: comprimento padr˜ao da escala L, 648 mm (25 1/2”); diˆametro da corda (D, no texto) 0,010”, ou 0,254 mm; carga3 para a afina¸c˜ao mi (329,6 Hz) 7,35 kg (para obter a tens˜ao T basta multiplicar pela acelera¸c˜ao da gravidade, 9,8 m/s2: 72,03 N). Para os c´alculos que seguem, ser˜ao atribu´ıdas as seguintes in-certezas:4 L= (0,648±0,001) m,D = (0,254±0,002)

×10−3 m,T = (72,03 ±0,05) N.

Figura 1 - Caracter´ısticas das cordas de um encordoamento para viol˜ao ac´ustico (essa imagem foi copiada de uma embalagem de cordas de viol˜ao ac´ustico. Dados similares, fornecidos pelo mesmo fabricante, podem ser encontrados tamb´em no endere¸coWWW.dadario.com). S˜ao fornecidos os diˆametros das cordas (em polegadas e mm), a carga (em quilogramas e libras; multiplique a carga em kg por 9,8 m/s2 para obter a tens˜ao em N), e o comprimento padr˜ao da escala para as medidas de tens˜ao.

2

Ver, por exemplo, http://www.daddario.com/DADProductDetail.Page?ActiveID=3769{&}productid=13&productname=EXL110_ Nickel_Wound__Regular_Light__10_46.

3´

E h´abito entre os fabricantes de cordas apresentarem a tens˜ao em kg. Pode-se interpretar esse dado assim: a corda deve ser submetida a uma tens˜ao equivalente `a que ela experimentaria quando submetida a uma carga de, digamos, 7,35 kg. Essa for¸ca, como mencionado no texto, equivale `a massa de 7,35 kg multiplicada pela acelera¸c˜ao da gravidade,gVer tamb´em a Fig. 1.

4

As incertezas foram estimadas da seguinte maneira: no comprimento padr˜aoLda escala, adotou-se uma incerteza (±1 mm) facil-mente detect´avel por um instrumento afinador; no diˆametro da corda, foi adotada uma incerteza t´ıpica de um micrˆometro que mede mil´esimos de mm, devidamente aferido,±0,002 mm, e na carga (7,35 kg, Fig. 1), foi introduzida uma incerteza de±0,050 kg, que tamb´em seria detect´avel pelo mesmo instrumento afinador. Dentro da incerteza adotada para a massa espec´ıfica do a¸co, (7900±50) kg/m3

(3)

A verifica¸c˜ao prossegue da seguinte maneira: calcula-se, com os dados do fabricante e as f´ormulas do texto, a frequˆencia que a corda deveria apresentar quando montada numa escala de comprimento padr˜ao, e corretamente afinada, e a frequˆencia assim obtida ´e comparada com o valor especificado. Mas, para pro-ceder ao c´alculo, ser´a necess´aria a massa espec´ıfica do material com o qual a corda ´e feita; esse material ´e ferro (na verdade, o material ´e uma liga de a¸co, na qual pre-domina largamente o ferro); a massa espec´ıfica usada aqui (como aproxima¸c˜ao) ser´aρ= (7900 ± 50) kg/m3 ([13, apˆendice D; ver tamb´em nota 5]).

Antes de prosseguir, cabe notar um aspecto relativo `a massa por unidade de comprimento das cordas (µ, na express˜ao 3): as trˆes primeiras cordas5(agudas) s˜ao em geral de metal maci¸co, um fio, enquanto que as demais s˜ao feitas com fios de diˆametros semelhantes aos das trˆes primeiras cordas, por´em com suas massas aumen-tadas atrav´es de um segundo fio, este em geral de bronze (mais empregado em cordas para viol˜oes ac´usticos) ou n´ıquel (mais empregado em cordas para guitarras), en-rolado nas cordas em forma helicoidal (Fig. 2). Ent˜ao, o fio central (“miolo”, de a¸co) ´e respons´avel pela tens˜ao destas cordas de maior calibre, enquanto que o fio adici-onal (bronze ou n´ıquel) enrolado em volta ´e respons´avel pelo aumento da densidade linear de massaµ; o fio en-rolado n˜ao afeta a tens˜ao da corda. A adi¸c˜ao de massa, provida pelo fio enrolado, faz com que as frequˆencias naturais de oscila¸c˜ao da corda diminuam.

Figura 2 - As seis cordas de um encordoamento convencional de viol˜ao ac´ustico; os fios (de bronze) enrolados em volta das cordas de maior calibre destinam-se ao aumento deµ.

Agora, o c´alculo: com os dados acima, obt´emse a frequˆencia da corda por meio da Eq. (6); o resultado indica, para o harmˆonico fundamental, uma frequˆencia de 327,8 ±4,3 Hz. A compara¸c˜ao com o valor padr˜ao da escala temperada6329,6 Hz, est´a dentro da margem de erro. Conv´em lembrar: o c´alculo efetuado refere-se

`a frequˆencia do harmˆonico fundamental (ou primeiro harmˆonico) da corda. Esse c´alculo fornece resultados igualmente convincentes para as duas cordas seguintes (si e sol), quando feitas de metal maci¸co (n˜ao encapa-das).

O mesmo c´alculo, aplicado `as notas que correspon-dem `as cordas de maior calibre (r´e, l´a e mi), encapadas com enrolamento adicional de bronze, j´a n˜ao d´a resul-tados igualmente acurados. A t´ıtulo de compara¸c˜ao, a frequˆencia para a nota mi grave, encapada com bronze, mas calculada da maneira apresentada acima (supondo-a como sendo integr(supondo-almente constitu´ıd(supondo-a de (supondo-a¸co), d´(supondo-a como resultado (78,3±0,5) Hz, diferente da frequˆencia esperada, 82,4 Hz, mesmo considerando a incerteza. Essa discrepˆancia se deve predominantemente ao fato de que a massa espec´ıfica utilizada, a do ferro, j´a n˜ao ´e mais uma boa aproxima¸c˜ao: de fato, parte da corda (o “miolo”) ´e de a¸co (predominantemente ferro), mas o fio enrolado sobre a corda (n´ıquel ou bronze) possui massa espec´ıfica diferente. Como referˆencia, a massa espec´ıfica do bronze ´e de (8900 ±50) kg/m3 ([11, apˆendice E]), significativamente maior que a do ferro (7900 ±50) kg/m3; a massa espec´ıfica da corda como um todo (“miolo” mais enrolamento) fica, por-tanto, maior, com um valor intermedi´ario entre a do ferro e a do n´ıquel.

Entretanto, o c´alculo que leva em conta o material do enrolamento deste tipo de corda pode ser significa-tivamente melhorado. A sexta corda (mi grave) de um encordoamento de viol˜ao, tomada aqui como exemplo, consiste em um fio de a¸co em torno do qual ´e enro-lado um fio de bronze fosforoso. O diˆametro externo da corda (incluindo o fio enrolado) ´e de (1,27±0,002) mm, fornecido pelo fabricante (e aferido pelos autores com um micrˆometro). O diˆametro da corda de a¸co, interna (n˜ao fornecido pelo fabricante; medido pelos autores) ´e de (0,47±0,002) mm.

Para a corda central, de a¸co, o procedimento ´e idˆentico ao descrito acima, o que interessa agora ´e o volume dessa corda (1,124 ± 0,013 x 10−7m3) e sua

massa (mf erro= (8,88±0,16)x 10−4kg). Para o

reves-timento em bronze, o c´alculo ´e algo mais trabalhoso. Pode-se considerar que esse revestimento consiste em um certo n´umero de an´eis (aproxima¸c˜ao bastante boa, dada a forma helicoidal do fio enrolado). O diˆametro do fio de bronze ser´a igual a 1,270×10−3

−0,470×10−3

2 m, ou

(4±0,02) x 10−4m; esse diˆametro ser´a denominadod. Dividindo o comprimento padr˜ao da escala,L= (0,648

±0,001) m, por esse valor, chega-se ao n´umero de an´eis de fio de bronze do enrolamento, (1620±11) voltas

5

Em alguns encordoamentos “mais pesados”, a terceira corda ´e revestida por um fio enrolado nela. 6

Pode-se chegar `a frequˆencia da nota mi (ou de qualquer outra nota) da escala temperada multiplicando (ou dividindo) sucessiva-mente a frequˆencia de partida pelo fator12√

2 (≈1,05946). Cada multiplica¸c˜ao (ou divis˜ao) eleva (ou abaixa) a frequˆencia de umsemitom. No caso do texto, divida 440,0 Hz ( nota l´a) pelo fator mencionado cinco vezes seguidas. A cada divis˜ao, as seguintes frequˆencias ser˜ao geradas: l´ab, sol, solb, f´a e mi. (A sequˆencia completa de semitons ´e, do agudo para o grave: l´ab, sol, solb, f´a, mi, mib, r´e, r´eb, d´o, si,

l´ab, l´a). Para o leitor menos familiarizado com o tema, todas as notas adicionadas de “b” (bemol) correspondem `as teclas pretas de um

(4)

O volume de um destes an´eis ´e dado por

Vanel=

π2d2D∗

4 , (7)

ondeD* = D+d(Fig. 3;D ´e o diˆametro do “miolo” de a¸co).

Figura 3 - S´ımbolos empregados no c´alculo do volume de um anel (express˜ao 7).

O volume de um anel calculado desta forma, ´e de (3,43 ±0,05) x 10−10 m3, e multiplicado pelo n´umero

de an´eis d´a o volume total de bronze da corda; conhe-cida a densidade do bronze, chega-se `a massa,mbronze=

(4,95±0,13) x 10−3kg (mais de 5 vezes e meia a massa

de ferro da corda central). Com esses dados, e com a express˜ao 3, ´e poss´ıvel calcular a densidade linear da corda como um todo

µ= mf erro+mbronze

L = (9,0±0,4)×10 −3 kg

m.

Por fim, as Eqs. (1) e (4) permitem chegar `a frequˆencia f: (82,6 ± 2,2) Hz, dessa vez igual `a frequˆencia esperada para a nota mi (escala temperada), 82,4 Hz, desde que considerada a incerteza. Resultados igualmente pr´oximos s˜ao obtidos com as outras duas cordas, l´a e r´e.

3.

Objeto modelo did´

aticode uma corda

A fun¸c˜ao primeira dos modelos did´aticos ´e a de “ensi-nar e aprender” [12]. Quando um modelo, destinado ao ambiente escolar, assume a forma de um “objeto”, ele ´e ent˜ao denominado “objeto modelo did´atico” [13]. No contexto deste trabalho, ´e ent˜ao proposto um objeto modelo did´atico de uma corda com miolo de a¸co (que suporta a tens˜ao) e um enrolamento de fio de bronze (que aumenta a massa), o qual pode ser constru´ıdo de maneira bastante simples. O material necess´ario ´e o que segue: dois segmentos de el´astico, de sec¸c˜ao reta circular, de aproximadamente 2,5 mm de diˆametro e 1 m de comprimento (n˜ao tensionado), encontrados fa-cilmente em lojas de tecidos; um segmento de man-gueira de l´atex, de diˆametro externo igual a 6 mm e in-terno, de 3mm, e comprimento de 1,5 m, a qual pode ser encontrada em lojas de artigos m´edicos. Um dos seg-mentos de el´astico constituir´a uma “corda” e o outro, ap´os ter sido “revestido” pela mangueira de l´atex7 cons-tituir´a a mesma corda (´e o el´astico central que suporta

a tens˜ao), por´em munida da massa adicional da man-gueira que lhe ´e sobreposta. A massa do el´astico sem revestimento, cujo comprimento n˜ao tensionado ´e de 1 m, ´e de (4,1 ±0,1) g, considerado o comprimento do el´astico compreendido entre os dois suportes de fixa¸c˜ao para a produ¸c˜ao de ondas estacion´arias. A massa do segundo el´astico, idˆentico ao descrito acima, mas acres-cido de 1,5 m da mangueira de l´atex, sobreposta, ´e de (27,4 ±0,1) g.

As duas “cordas” podem ser vistas na Fig. 4.

Figura 4 - `A direita, pode ser visto o el´astico mencionado no texto, de comprimento igual a 1 m, preparado para ser acoplado ao dispositivo oscilador. Um el´astico idˆentico, tamb´em de 1 m de comprimento, ´e inserido no interior de uma mangueira de l´atex, essa de 1,5 m comprimento (ver nota 9). Ao ser montada no sis-tema oscilador, a corda assim formada ´e esticada at´e um compri-mento de 1,5 m; apenas o el´astico que forma o “miolo” da corda ´e tensionado. A mangueira de l´atex (`a semelhan¸ca do enrolamento de bronze de uma corda real) apenas aumenta a densidade linear de massa (µ) do conjunto.

A montagem se d´a da seguinte maneira: inicial-mente, o el´astico de 1 m (`a direita, na Fig. 4) ´e es-ticado at´e um comprimento de 1,5 m e posto a os-cilar no seu modo fundamental atrav´es do oscilador (Fig. 5). O dispositivo oscilador fornece tamb´em a frequˆencia, nesse caso de (12,7 ±0,6) Hz. A incerteza na frequˆencia foi estimada da seguinte maneira: a par-tir de 12,1 Hz, o sistema come¸ca a mostrar claramente a ressonˆancia, em seu modo fundamental. Em 12,7 Hz a amplitude da onda estacion´aria parece ser m´axima, e em 13,4 Hz percebe-se tamb´em claramente o in´ıcio da “degrada¸c˜ao” da forma da onda. A imagem superior da Fig. 5 mostra o primeiro harmˆonico da corda (el´astico), na sua maior amplitude.

A imagem inferior da Fig. 5 mostra um el´astico equivalente, revestido pela mangueira de l´atex, tamb´em esticado at´e o mesmo comprimento, 1,5 m. ´E impor-tante ressaltar que as extremidades desse el´astico ´e que s˜ao presas, de um lado a um suporte, e do outro lado, a um fio fino; nesse ´ultimo ´e acoplado o oscilador. Ent˜ao, ´e o el´astico que garante a tens˜ao da “corda” assim

for-7

(5)

mada; o l´atex ´e respons´avel apenas pelo aumento da densidade linear de massa. Tudo isso pode ser visua-lizado na imagem inferior da Fig. 5. A mangueira de l´atex que reveste o el´astico, quando esse ´e tensionado at´e atingir 1,5 m de comprimento, assume seu compri-mento natural, n˜ao tensionado. Fica ent˜ao claro que a tens˜ao `a qual as duas cordas s˜ao submetidas ´e (muito aproximadamente) a mesma, mas a massa da segunda ´e quase sete vezes maior. A frequˆencia do modo funda-mental nessa segunda corda ´e de (4,5±0,3) Hz, com a incerteza estimada tal como descrito no par´agrafo an-terior.

Agora a an´alise dos dados obtidos com o modelo de corda proposto: ao el´astico ser´a associado o ´ındice “1”, e ao el´astico encapado com a mangueira de l´atex, o ´ındice “2”. Dado que ´e apenas o el´astico o respons´avel pela tens˜ao das duas cordas, e que o harmˆonico funda-mental ´e considerado nos dois casos, pode-se ent˜ao

afir-mar queL (o comprimento do el´astico tensionado) D

(o diˆametro do el´astico) e a tens˜aoT s˜ao todos (muito aproximadamente) idˆenticos nas duas cordas. Escre-vendo a Eq. (6) para a primeira e para a segunda corda, dividindo uma pela outra e simplificando, obt´em-se

f1 f2

= õ

2 µ1

= √m

2 m1

, (8)

onde m1 e m2 s˜ao as massas da por¸c˜ao das cordas compreendida entre os dois pontos de fixa¸c˜ao, e f1 e f2 s˜ao as frequˆencias dos respectivos harmˆonicos fun-damentais. Os resultados num´ericos apontam que a raz˜aof1/f2, consideradas as incertezas mencionadas no texto8´e igual a 2,8±0,3. J´a a raz˜ao da raiz quadrada das massas√m2

m1 d´a como resultado 2,58 ± 0,04. A Eq. (8) ´e ent˜ao verificada, dentro das incertezas

consi-deradas.

Figura 5 - Na figura superior, o el´astico oscila em seu harmˆonico fundamental, a uma frequˆencia de (12,7±0,6) Hz. Na figura inferior, um el´astico idˆentico, revestido de uma mangueira de l´atex de modo a aumentar sua densidade linear de massa µ, oscila tamb´em no modo fundamental com uma frequˆencia de (4,5±0,3) Hz.

Se o dispositivo oscilador n˜ao estiver dispon´ıvel, ainda assim vale a pena executar a montagem: as cor-das poder˜ao ser postas a oscilar manualmente (mais ou menos como se faria com uma corda de viol˜ao), deslocando-as de suas posi¸c˜oes de equil´ıbrio na sua regi˜ao central e liberando-as para oscilar naturalmente. A diferen¸ca (qualitativa) nas frequˆencias naturais de oscila¸c˜ao ´e percebida claramente a olho nu.

4.

Coment´

arios finais

Seguramente, n˜ao h´a uma “receita” ´unica para apren-der, e uma conjetura bastante plaus´ıvel pode ent˜ao ser enunciada: o interesse pelo tema a estudar pode aumen-tar as chances de aprendˆe-lo. Este trabalho sugere uma (dentre muitas) fonte de motiva¸c˜ao: a possibilidade de a aprendizagem ser significativa aumenta quando esse

8

(6)

duplo interesse pela f´ısica e pela m´usica est´a presente; essa ´e a meta principal deste trabalho.

N˜ao ´e costume apresentar “contas que n˜ao funcio-nam”, como a da primeira estimativa da frequˆencia da sexta corda (grave, encapada com um fio de bronze), modelando-a como se ela fosse feita integralmente de a¸co. Essa ´e uma ocasi˜ao muito especial para lembrar aos estudantes que os “erros” s˜ao uma fonte de desa-fio e podem motivar novas explora¸c˜oes. Se a conta – mesmo com a hip´otese de partida bastante fr´agil – ti-vesse “funcionado”, uma excelente oportunidade para avan¸car teria sido possivelmente perdida.

Quanto aos modelos, pode-se dizer que eles ser-vem (no contexto escolar) para aprender (e, certamente, para ensinar). E esse aprendizado se manifesta desde a concep¸c˜ao, passando pela explora¸c˜ao e desembocando na avalia¸c˜ao cr´ıtica dos resultados que o modelo pode fornecer. Nessa etapa final, a da avalia¸c˜ao cr´ıtica, o ponto alto ´e sem d´uvida a explora¸c˜ao dos limites de validade do modelo concebido, constru´ıdo e explorado. Mas os modelos propiciam tamb´em ocasi˜ao para pe-quenas surpresas. No caso deste trabalho, fica claro: cordas mais grossas n˜ao s˜ao submetidas a tens˜oes pro-porcionalmente maiores, como a intui¸c˜ao poderia su-gerir. O modelo did´atico aqui apresentado deixa esse aspecto bastante evidente. O “mundo real” das cordas que os m´usicos utilizam pode ser invocado nesse mo-mento. Um fabricante, num lan¸camento recente9 apre-goa que seu produto consiste de cordas (de guitarra) projetadas de modo que todas atingem suas afina¸c˜oes quando submetidas a tens˜oes praticamente idˆenticas. Este trabalho ajuda a entender, a partir de elementos de f´ısica ondulat´oria, como isso ´e poss´ıvel.

Ent˜ao, a f´ısica, e em especial seu ensino, se aproxi-mam frequentemente da m´usica [14]. O fato de poder

explorar na f´ısica parˆametros das cordas que s˜ao im-portantes para os m´usicos pode ser um fator adicional de motiva¸c˜ao, para os que se interessam por esses dois campos do conhecimento. Para essas pessoas – que se interessam pela f´ısica e pela m´usica – o conhecimento produzido na intersec¸c˜ao dessas duas disciplinas segu-ramente ser´a significativo.

Referˆ

encias

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9

Imagem

Figura 1 - Caracter´ısticas das cordas de um encordoamento para viol˜ ao ac´ ustico (essa imagem foi copiada de uma embalagem de cordas de viol˜ ao ac´ ustico
Figura 2 - As seis cordas de um encordoamento convencional de viol˜ ao ac´ ustico; os fios (de bronze) enrolados em volta das cordas de maior calibre destinam-se ao aumento de µ.
Figura 4 - ` A direita, pode ser visto o el´ astico mencionado no texto, de comprimento igual a 1 m, preparado para ser acoplado ao dispositivo oscilador
Figura 5 - Na figura superior, o el´ astico oscila em seu harmˆ onico fundamental, a uma frequˆ encia de (12,7 ± 0,6) Hz

Referências

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