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Tempos históricos, tempos físicos, tempos epidemiológicos: prováveis contribuições de Fernand Braudel e Ilya Prigogine ao pensamento epidemiológico.

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Academic year: 2017

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Tempos hist óricos, t empos físicos, t empos

epidemiológicos: prováveis cont ribuições

de Fernand Braudel e Ilya Prigogine ao

pensament o epidemiológico

Histo rical time s, p hysical time s, e p id e mio lo g ical

time s: p ro b ab le co ntrib utio ns o f Fe rnand Braud e l

and Ilya Prig o g ine to e p id e mio lo g ical thinking

1 Departam en to de Farm ácia Social,

Facu ld ad e d e Farm ácia, Un iversid ad e Fed eral d e M in as Gerais. Av. Olegário M aciel 2360, 7oan d ar, Belo Horiz on te, M G

30180-112, Brasil. Gil Sevalh o 1

Resumo O texto é u m a abord agem acerca d o tem p o en qu an to categoria cien tífica p ara a ep id e-m iologia. A p artir d o aforise-m o tee-m p o-lu gar-p essoa, o tee-m p o é ap on tad o coe-m o elee-m en to p ou co p en sad o p ela ep id em iologia, em bora esteja p resen te em vários d os seu s con ceitos. No en tan to, o tem a tem sid o objeto d e reflexão im p ortan te n a m ovim en tação recen te d e várias d iscip lin as, tais com o a h istória, a geografia, a biologia e a física, e d eve p or isto rep resen tar p ara a ep id em iolo-gia u m p on to d e vista in teressan te, tan to n o qu e con cern e ao d iálogo in terd iscip lin ar qu an to ao estabelecim en to d e u m olh ar crítico voltad o p ara a p róp ria d iscip lin a. Com o objetivo d e argu -m en tar a resp eito d estes asp ectos, ap resen ta-se o te-m p o h istórico d e Fern an d Brau d el e o te-m p o físico d e Ilya Prigogin e, con stru ções teóricas qu e serão com p arad as com u m p rovável tem p o ep i-d em iológico. Ao fin al, u san i-d o a qu estão i-d as in fecções em ergen tes com o exem p lo, faz -se con sii-d e-rações sobre a ap aren te in ad equ ação ep istem ológica d o tem p o ep id em iológico p ara recon h ecer e lid ar com os asp ectos sociais e h istóricos en volvid os n a com p lexid ad e d o ad oecer h u m an o cole-tivo.

Palavras-chave Ep id em iologia; Tem p o; In terd iscip lin arid ad e

Abst ract Th e text is an ap p roach on tim e as a scien tific category in ep id em iology. Con sid erin g th e ap h orism tim ep lacep erson , tim e is p oin ted ou t as an elem en t w ith little th eoretical con -cern , d esp ite its p resen ce in m ain ep id em iological con cep ts. W h ile a top ic con n ected to im p or-tan t ch an ges in oth er d iscip lin es, su ch as h istory, geograp h y, biology an d p h ysics, tim e rep resen ts a n in t erest in g p oin t of v iew t o t h e in t erd iscip lin a ry d ia logu e a n d it s relev a n ce for a crit ica l k n ow led ge in ep id em iology. To argu e abou t th is id ea, th e h istorical an d p h ysical tim e con stru c-tion s of Fern an d Brau d el an d Ilya Prigogin e are p resen ted . Th ese tim e th eoretical con stru cc-tion s are com p ared w ith a p robable ep id em iological tim e. Fin ally, u sin g th e em ergin g in fectiou s d is-eases as an ex am p le, som e con sid eration s are m ad e abou t an ap p aren t ep istem ological in ad e-qu acy of th e ep id em iological tim e to recogn iz e th e social an d h istorical asp ects in volved in th e com p lexity of th e d isease exp ression s in h u m an p op u lation s.

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Int rodução

Há algu n s an os in terrogo-m e sob re o aforism o ep id em iológico tem p o-lu gar-p essoa, q u e p od e ser lid o co m o tem p o-esp aço-p op u lação em u m a p ersp ectiva m ais com p lexa. Min h a cu rio-sid ad e rep ou sa exatam en te n a au sên cia d e d is-cu ssõ es esp ecífica s co n cern en tes à ca tego ria tem p o em ep id em iologia.

Na am b ien tação crítica d os ep id em iologis-ta s la tin o -a m erica n o s, o elem en to p op u lação

d o aforism o tem sid o ob jeto com u m d e d eb a-tes em virtu d e d o p róp rio caráter coletivo e so-cial d a d iscip lin a, e o esp açofoi recen tem en te revestid o n o d iscu rso ep id em iológico d e n ovo sen tid o (Silva , 1985; Sa b roza et a l., 1992) m ed ia n te o s a p o rtes o rigin a ed o s ed a s tra n sfo rm a -ções ocorrid as n a geografia (Moraes, 1993). No en ta n to, m esm o n este co n texto, o elem en to

tem pop arece n ão ser ob jeto d e cu riosid ad e d a d iscip lin a . Pelo m en o s n o q u e d iz resp eito à fo rm u la çã o d e d iscu ssõ es esp ecífica s e a b o r-d agen s ap rofu n r-d ar-d as.

É in teressa n te a p o n ta r esta a p a ren te fa lta d e p reocu p ação com o tem a, qu an d o se p erce-b e com o algu n s con ceitos clássicos d a d iscip li-n a sã o su p o rta d o s fu li-n d a m eli-n ta lm eli-n te p ela p ersp ectiva d o tem p o. Con ceitos com o sazon a

-lid ad e e ten d ên cia secu lar d a s d o en ça s, p o r exem p lo, sã o d elin ea d a s exa ta m en te em fu n -ção d o tem p o. Além d isso, a classifica-ção trad i-cion al d os estu d os ep id em iológicos em tran s

-versais, caso-con trole e coorte a n co ra -se n o tem p o, d o m esm o m od o qu e a d istin ção b ásica en tre en d em ia e ep id em ia, co m o a p o n ta m Sou rn ia & Ru ffie (1985:181), "faz in serir o parâ-m etro teparâ-m po n a h istória da saú de dos h oparâ-m en s".

Certa m en te, to d o s estes co n ceito s en vo l-vem co n textu a liza çõ es d e rep resen ta çõ es d e esp aço e d e tem p o, em b ora este ú ltim o ap are-ça com o elem en to silen cioso, d esd e q u e n ão é con tem p lad o com u m a aten ção cap az d e p ro-p iciar su ro-p orte teórico esro-p ecífico aro-p rofu n d ad o, p o ssib ilita n d o d essa m a n eira , in clu sive, u m a an álise crítica d a p róp ria ep id em iologia.

Tu d o se p a ssa co m o se o tem p o sem p re existisse e d isso os ep id em iologistas n u n ca te-n h am d u vid ad o, sem q u e, d e fato, a ep id em io-lo gia n ecessita sse d iscu ti-io-lo, a b o rd á -io-lo o u , n u m sen tid o m ais extrem o e exato, con sid erá-lo. A ep id em io lo gia p a rece n ã o refletir a cerca d as rep resen tações qu e faz d o tem p o.

Por ou tro lad o, a ciên cia, com o u m tod o, se revigora com as p ersp ectivas e exp eriên cias in terd iscip lin a res, sen d o q u e, n esta s m o b iliza çõ es, o tem p o tem sid o o b jeto b a sta n te fre -q ü en te. Novos olh ares, -q u e ad m item o esp aço com o p rod u to social h istoricam en te con stru

í-d o (San tos, 1990), têm tran sform aí-d o a geogra-fia , a o p a sso q u e d iferen tes p ersp ectiva s d o tem p o – com o as d iscu ssões sob re as relações en tre o "acon tecim en to", o "even to", e a "lon ga d u ração", en tre m u d an ça e p erm an ên cia (No-ra , 1988; Vovelle, 1990; B(No-ra u d el, 1992) – m ovi-m en taovi-m u ovi-m a "h istória n ova". Além d isso, a d i-n â m ica tem p o ra l evo lu tiva d a b io lo gia su rge co m o o b jeto d e d iscu ssã o (Go u ld & Eld red ge, 1977) e a irreversib ilid a d e, a flech a d o tem p o, revela -se tem a fu n d a m en ta l p resen te n o s d e-b a tes d a física co n tem p o râ n ea (Prigo gin e & Sten gers, 1984).

O tem p o, p ortan to, p od e rep resen tar p ara a ep id em io lo gia u m elem en to im p o r ta n te n o trân sito in terd iscip lin ar, p ossib ilitan d o m elh or en ten d im en to d o ad oecer h u m an o coletivo.

Assim , o p rop ósito d este texto é, a p artir d o p on to d e vista d o tem p o, olh ar a h istória e a fí-sica e, d ep ois, retorn ar à ep id em iologia com o in tu ito d e in form ar a d iscip lin a q u an to a estes

ou trostem p os, tecen d o com p a ra ções e a p on -ta n d o p o ssíveis co n trib u içõ es em rela çã o a o p en sam en to ep id em iológico.

O t empo hist órico de Fernand Braudel

No âm b ito d a h istória, a p reten são aqu i é ap re-sen tar as reflexões acerca d o tem p o p ostas em m arch a p ela h istória n ova fran cesa, alim en ta-d a s p o r a u to res q u e se m ovim en ta ta-d o -se em to rn o d a revista An n ales D'Histoire Écon om i-qu e et Sociale, fu n d a d a em 1929 p o r Lu cien Febvre e Marc Bloch . A ch am ad a Escola dos An -n ales – con vém qu e seja d ito – n ão rep resen tou u m b loco m on olítico d e p en sam en to, m as, em u m m ovim en to q u e se in tern acion alizou , p ro-m ove u p ro fu n d a s tra n sfo rro-m a çõ e s n a ciê n cia d a h istó ria . No e n te n d e r d e Bu rke (1991), o s p on tos gerais com u n s d esse d eslocam en to se-riam : a orien tação p ara u m a h istória-p rob lem a em su b stitu içã o à tra d icio n a l n a rra tiva d e acon tecim en tos, b em com o a in terd iscip lin arid aarid e e a b u sca arid a h istória arid e toarid as as ativiarid a -d es h u m an as.

O tem p o, n o q u e con cern e à d in â m ica d a s m u d a n ça s e p erm a n ên cia s so cia is, é o o b jeto d a h istória p or excelên cia , sen d o q u e, n a p ercep ção d e Reis (1994a), se a h istória n ova fran -cesa p reten d e ser ch am ad a d e n ou velle,é p or-q u e a p resen ta u m a co n cep çã o d iferen te d o tem p o h istórico ao en fatizar p rin cip alm en te a

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As tran sform ações d o tem p o h istórico p ro-m ovid a s p ela n ou velle h istoirecen tra m -se n a form a d e p erceb er a relação en tre a m u d an ça – o even to – e a p erm a n ên cia – o tem p o lo n go. Con trap on d o-se à h istória trad icion al, p or d e-m a is en tregu e a o even to, o s h isto ria d o res d a n ova h istó ria m ergu lh a ra m n a estru tu ra, n a lo n ga d u ra çã o, o n d e estã o o s seres h u m a n o s co m u n s, a n ô n im o s, em seu co tid ia n o. Perce -b eram aqu eles qu e é n a escu rid ão d a p rofu n d id aid e, até en tão p ou co visitaid a, q u e se en con -tra a len tid ã o d a cu ltu ra , a resistên cia d os h á-b itos e valores, os m ovim en tos rep etitivos, p or vezes in con scien tes, característicos d a lu ta h u-m a n a co n tra o s o b stá cu lo s so cia is e n a tu ra is. Neste sen tid o, a p ersp ectiva d os An n ales sign i -fico u ta m b ém o su rgim en to d e p erso n a gen s a n tes d esp reza d o s, esq u ecid o s e d esco n h eci-d o s, co m o a s m u lh eres, o s p o b res, o s m a rgi-n a is; rgi-n ovo s tem a s d e irgi-n vestiga çã o em ergira m d a p rofu n d id ad e, tais com o os sen tid os, os so-n h o s, o s co stu m es, a sm en talid ad es; in éd ita s form as d e ab ord ar os tem as p assaram a u tilizar n ova s fo n te s d o cu m e n ta is, d e m o d o q u e o s elem en tos p rod u zid os in volu n tariam en te tor-n a ra m -se fo tor-n tes p rio ritá ria s, e a h istó ria p a s-sou a n ão se esgotar m ais n os d ocu m en tos oficiais, em u m a h istória d o Estad o p rod u zid a in -ten cion alm en te, n a qu al os h istoriad ores trad i-cion a is só p erceb ia m os even tos, os a con teci-m en to s rá p id o s, e d eles só retira va teci-m vu lto s, h eró is e d a ta s. O even to, a m u d a n ça , p a ra ser p erceb id o, d eve em ergir d a p erm a n ên cia , d o tem p o lon go, d as prisões da lon ga du ração, p a-ra u sa r u m a exp ressã o d e Ba-ra u d el. Co n stru ir u m a d ialética d a d u ração, em q u e a estru tu ra, a con ju n tu rae o even to, ou seja, os tem p os lon -go, m éd io e cu rto sejam ap reciad os e d istin gu i-d os, é o p rojeto i-d e Fern an i-d Brau i-d el, em torn o d o qu al esta d iscu ssão está cen trad a.

O tem p o h istórico d e Brau d el é p róxim o d o estru tu ralism o d as ciên cias sociais, m as, d ife-ren tem en te d este, n ã o n egligen cia o even to, co m o exp lica Jo sé Ca rlo s Reis em seu livro Nou velle h istoire e tem p o h istórico – as con tri-bu ições de Febvre, Bloch e Brau del(Reis, 1994a). A d ialética d a d u ração d e Brau d el con siste em , n a p ersegu ição ao tem p o coletivo, u ltrap assar o in d ivíd u o e o even to sem n egá-los, já q u e os in tegra em u m a rea lid a d e m a is co m p lexa . As estru tu ra s sã o elem en to s d a lo n ga d u ra çã o, len to s, a p a ren tem en te im ó veis, co n tín u o s, p erm an en tes; su sten tam as oscilações cíclicas d o tem p o m éd io e exercem so b re o s even to s u m a con ten ção. O tem p o m éd io é con stitu íd o p elas con ju n tu ras, ciclos e in terciclos q u e p od em p o ten cia liza rse o u a n u la rse recip ro ca -m en te, d a n d o u -m a i-m p ressã o d e i-m o b ilid a d e

qu e o olh ar d o tem p o lon go vai esclarecer, p er-m itin d o a visu alização d o cu rso irreversível d o tem p o h istó rico. É esta p ersp ectiva q u e va i p o ssib ilita r a exp lica çã o d o even to, d o tem p o cu rto, q u e, ju n to co m o s tem p o s lo n go e m é -d io, com p õe a -d ialética -d a -d u ração.

A d ialética d a d u ração d e Brau d el é, p ortan -to, u m tem p o co m p o s-to, fu n d a m en ta lm en te coletivo, q u e n ão tem a d u ração d o in d ivíd u o, m as sim a d e d écad as, sécu los. Em su a com p le-xid ad e e in terd iscip lin arid ad e, ad m ite a coexis-tên cia d e velocid ad es e orien tações d iferen tes, p erm itin d o, assim , a visu alização d a m u ltip li-cid ad e, d os tem p os p lu rais q u e con form am os ritm o s d o s gru p o s so cia is a o m ovim e n t a re m su as vid as.

Pa ra Bra u d el (1992:43, 49), a im p o r tâ n cia d a d ia lética d a d u ra çã o está n a p ercep çã o d a p lu ralid ad e d o tem p o social, n a "oposição viva, ín tim a, rep etid a in d efin id am en te en tre o in s-tan te e o tem p o len to a escoar-se". A b ase d este tem p o d ialético é a estru tu ra, u m a arqu itetu ra, articu lação, "u m a realid ad e qu e o tem p o u tili-za m al e veicu la m u i lon gam en te".

Reis (1994a ), a o d iscu tir a co n trib u içã o d e Brau d el p ara o tem p o h istórico, an alisa p rin ci-p a lm en te d u a s d e su a s gra n d es o b ra s: La Me-d iterran ée et le m on Me-d e m éMe-d iterran éen à l'ép o-qu e d e Ph illip e II –p rim eira ed içã o d e 1949 e segu n d a d e 1966 (Bra u d el, 1984) – e Civilisa -tion m atérielle, econ om ie et cap italism e, d e 1979 (Brau d el, 1996).

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Para Reis (1994a:79), u m d os asp ectos cen -trais da obra de Brau del é o con ceito de ritm o e isto p o d e ser visto em O Med iterrân eo ... .No tem p o lo n go existem o s ritm o s d iferen cia d o s d a vid a n a p la n ície, n o d eserto, n o m a r, n a s ilh as, e, den tro de cada u m destes, h á ou tros rit-m o s d e vid a s p a rticu la res. Bra u d el q u er rit-m o s-trá-los em "su as sin gu laridades e evitan do o es-tereótip o. Há u m a vid a m on tan h esa, m as os m on tan h eses n ão são sem p re os m esm os. Há u m a vid a n a p lan ície, m as h á vid as d iferen tes n a p lan ície". Estes ritm o s lo ca is e regio n a is m a rca d o s p ela esp a cia liza çã o geo grá fica n o p rim eiro volu m e da obra, com bin am -se aos rit-m os sociais d os gru p os d e in d ivíd u os p erceb i-d os n o segu n i-d o volu m e, e esta com b in ação vai p ossib ilitar a visu alização d os even tos d o tem -p o cu rto d o terceiro volu m e. Brau d el -p reten d e fazer estes ritm os con vergirem n a u n id ad e h is-tórica do Mediterrân eo do sécu lo XVI através da con stru ção de u m tem p o econ ôm ico-social-de-m ográfico-cu ltu ral eico-social-de-m qu e as d ivergên cias n ão d evem ser su p rim id as, m as id en tificad as.

Esta p ersp ectiva tam b ém é segu id a em Ci -viliz ação m aterial ..., o n d e Bra u d el rela cio n a três n íveis. A "civiliz ação m aterial", o n ível qu ase im óvel d a econ om ia in form al, d a p rod u çã o co tid ia n a e d a s tro ca s d e a u to su b sistên -cia , em q u e p red o m in a m o s fa to s p eq u en o s e rep etitivos, on d e "sem eia-se com o sem p re, tra-balh a-se com o sem pre, n avega-se com o sem pre" (Reis, 1994a:106). Acim a d este p lan o, e a ele li-ga d o d ia letica m en te, em erge o tem p o m éd io d o m u n d o d o "m ercado", n o qu al as realid ad es são m ais con scien tes e as trocas, regu lad as p e-la con corrên cia. O terceiro n ível, o d o "cap ita-lism o", é u m n ível tran sn acion al, m u n d ial, re-gu larizad o p elo m on op ólio, con form an d o u m m u n d o d e in icia d o s co m sa b eres e p o d eres in acessíveis ao h om em com u m , on d e as trocas são fu n d ad as m ais em u m a relação d e força d o q u e so b re a s n ecessid a d es. É a ssim q u e Bra u -d el con strói su a -d ia lética -d a -d u ra çã o, rela cion acion d o estru tu ra, cocion ju cion tu ra e evecion to. Ecion qu acion -to em O Mediterrân eo ...o tem p o cu rto foi qu a-se elim in a d o, em Civiliz ação m aterial ..., o even to, o cap italism o, d om in a os n íveis d a lon -ga e m éd ia d u ração e se con stitu i n o tem p o d o m u n d o qu e in vad irá tod os os in teriores.

Bra u d el (1987:19-20) visu a liza estr u tu ra , con ju n tu ra e even to com o cam adas cu ja espes -su ravai se m od ifican d o com o correr d a h istó-ria. No en tan to, o tem p o lon go, "o rein o do h a-bitu al, do rotin eiro (...) in vade o con ju n to da vi-da dos h om en s, difu n de-se n ela com o a som bra d a tard e en ch e u m a p aisagem ".

Reis (1994a ) p erceb e q u e n a ob ra d e Bra u -d el estão en volvi-d os três tip os -d e tem p o: a

re-con stru ção, ou seja, a organ ização d o m aterial d o co n h ecim en to, a co n cep çã o d o a u to r e o tem p o vivid o d a realid ad e. Brau d el in clu i, p or-ta n to, em su a d ia lética d a d u ra çã o, o tem p o rea l e o tem p o reco n stru íd o ; o tem p o reco n s-tru íd o e a visão geral d a h istória d o h istoriad or, "e tan to n o tem p o real qu an to n o recon stru íd o, as relações de exclu são e in clu são das dim en sões lon ga, m édia e cu rta das du rações"(Reis, 1994a: 82). Desse m o d o é q u e p erceb e e id en tifica d escon tin u id ad es e assim etrias n a con tin u id ad e ad o tem p o lon go e ob tém u m resu ltaad o com -p lexo, n ã o -lin ea r, n ã o -d eterm in ista , o n d e a s coletivid ad es m ovim en tam a h istória.

O fu n d am en tal p ara Brau d el (1992) é a ap li-cação d e u m m odeloq u e com p reen d a a m u ltip licid ad e d as d u rações. Qu alqu er ob jeto d e in -vestigação d everá ser situ ad o n esta d ialética d a d u ração, sen d o en volvid o p elo h istoriad or em u m a red e d e tem p os d iferen ciad os, d e m od o a n ã o ser red u zid o n em à lo n ga , n em à m éd ia , n em à cu rta d u ração (Reis, 1994a).

A p esq u isa, d iz Brau d el (1992:68), "d eve ser sem p re con d u z id a, d a realid ad e social ao m o-d elo, o-d ep ois o-d este àqu ela, e assim p or o-d ian te, p or u m a seqü ên cia d e retoqu es, d e viagen s p a-cien tem en te ren ovadas".

Qu an to à u tilização d e su as reflexões sob re o tem p o p or ou tras d iscip lin as, Brau d el (1992: 44), n u m a rtigo clá ssico a resp eito d a "lon ga d u ração"p u b licad o origin alm en te em 1958, é ju stam en te qu em p rescreve:

"talvez , d e n ossa p arte, ten h am os algu m a coisa a lh es dar. Das experiên cias e ten tativas re-cen tes da h istória, despren de-se – con scien te ou n ão, aceita ou n ão – u m a n oção cad a vez m ais p recisa d a m u ltip licid ad e d o tem p o e d o v alor excepcion al do tem po lon go. Esta ú ltim a n oção, m ais qu e a própria h istória – a h istória das cem faces – d everia in teressar às ciên cias sociais, n ossas vizin h as".

O t empo físico de Ilya Prigogine

Algu m a s d esco b erta s recen tes têm revela d o u m tem p o físico irreversível, o q u e con traria a d in âm ica clássica e su a reversib ilid ad e d o tem -p o. Neste a s-p ecto, u m a d a s -p ers-p ectiva s m a is in teressa n tes é a d o físico -q u ím ico b elga , d e origem ru ssa, Ilya Prigogin e, com a p rop osta d e u m a "term od in âm ica gen eraliz ad a"in sp ira d a em su as con trib u ições p ara a com p reen são d as estru tu ras d issip ativas q u e lh e va lera m o Prê-m io Nob el d e Qu íPrê-m ica d e 1977.

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e-ca n icista , d eterm in ista e reversível, b a sea d a em n egação d o tem p o, e a visão term od in âm i-ca, fu n d am en tad a n o crescim en to d a en tropia, q u e con d u z à m orte térm ica irrem ed iá vel. No sécu lo XX su rgiram a m ecân ica qu ân tica e a re-la tivid a d e, m a s n en h u m a d esta s rom p eu com a in tem p oralid ad e d a física clássica.

A term od in âm ica su rgiu n o sécu lo XIX, en -volven d o em seu con texto o ap arecim en to d as m áqu in as térm icas qu e m ovim en taram a revo-lu ção in d u strial, su p ortad as n a con statação d e q u e "a com bu stão liberta calor, e o calor p od e p rovocar u m a variação d e volu m e, qu er d izer, p od e p rovocar u m efeito m ecân ico"(Prigogin e & Sten gers, 1984:83).

Em 1847, Jou le d en om in ou d e con versãoas tran sform ações d e ord em q u alitativa en volvi-d as n este p rocesso q u e resu ltava em u m efeito m ecân ico e q u e rep resen tam "a con exão en tre a qu ím ica, a ciên cia d o calor, a eletricid ad e, o m agn etism o e a biologia" (Prigogin e & Sten gers, 1984:87). Jou le tam b ém d efin iu u m equ ivalen te gera l d a s tra n sfo rm a çõ es físico -q u ím ica s q u e p ossib ilita o m eio d e m ed ir a gran d eza con serva d a q u a n tita tiserva m en te n esta s tra n sfo rm a -çõ es, p o sterio rm en te ch a m a d a d e en ergia. É u m a fu n ção de estado, u m a gran d eza física qu e se con serva n as tran sform ações sofrid as p elos sistem as físicos, q u ím icos e b iológicos, a q u al, n o en ten d er d e Prigogin e & Sten gers (1984:88), a p a rtir d e en tã o va i "ser colocad a n a base d o qu e p odem os ch am ar de ciên cia do com p lexo, e vai con stitu ir o fio con d u tor qu e p erm itirá ex-p lorar d e m an eira coeren te a m u ltiex-p licid ad e dos processos n atu rais".

No en ta n to, co m o exp lica m Prigo gin e & Sten gers (1984), o p ro cesso era p en sa d o em term os d a relação em q u e o trab alh o p rod u zi-d o era zi-d ep en zi-d en te zi-d o gra u zi-d e p erfeiçã o zi-d o fu n cion am en to d as m áqu in as, ou seja, a qu es-tão se resu m ia ao ren d im en to id eal q u e p od ria ser p reju d icad o p or atritos e fricções d o m e-ca n ism o, m a s ja m a is p o r p erd a in eren te a o p rocesso d e tran sform ação d a m atéria. Mesm o p orq u e a id éia d e con servaçãoq u e rege a ciên -cia d o s sécu lo s XVIII e XIX so m en te a d m ite a d iferen ça p ela su b stitu ição d e ou tra d iferen ça, n u n ca p ela elim in a çã o. Em rela çã o a o m ovi-m en to, essa ciên cia ad ovi-m ite qu e ap en as é p ossí-vel tran sform á-lo e tran sferi-lo aos ou tros cor-p os, con cecor-p ção qu e tam b ém orien tou a term o-d in â m ica o-d e Sa o-d i Ca rn o t q u a n o-d o, em 1824, en u n ciou o p rin cíp io d a con servação d e en er-gia, o p rim eiro p rin cíp io d a term od in âm ica.

Qu an to à term od in âm ica clássica, Prigogi-n e & StePrigogi-n gers (1984) esclarecem q u e a coPrigogi-n ser-vação d e en ergia é con d ição d e tod os os siste-m a s, efetu a n d o -se a s tro ca s a p en a s d e fo rsiste-m a

fech ad a e reversível; n este sen tid o, é ju stam en -te a p ersp ectiva d as p erd as q u e in trod u z n a fí-sica a irreversib ilid ad e e a flech a d o tem p o. No en tan to, se o con ceito d e irreversib ilid ad e d es-cre ve "u m m u n d o qu e qu eim a com o u m a for-n alh a, sem recu p eração cofor-n cebível"(Prigogin e & Sten gers, 1984:91), a en ergia, em b ora con ser-van d o-se, p recisa dissipar-se, ou seja, d ian te d a con d ição d e con servação exp ressa n o p rim eiro p rin cíp io, a p erd a só p o d eria ser co n sid era d a co m a revela çã o d e u m a n ova fu n çã o d e esta -d o, a en trop ia.

Con ceitu ad a p or Clau siu s em 1865, a en tro-p ia está ligad a às trocas caloríficas en tre os sis -tem asfísico s – q u e sã o co n stru çõ es esp a cia is ab stratas – e o m eio exterior – ch am ad o m u n -d o exterior – e fa z p a rte d o segu n d o p rin cíp io d a term o d in â m ica . Ma n ten d o -se a id éia d a con servação d a en ergia en u n ciad a n o p rim eiro p rin cíp io, torn a-se p ossível fazer variar u m es-tad o através d a en trop ia. As trocas com o m eio p rod u zem n o in terior d o sistem a tra n sform a-çõ es irreversíveis resp o n sá veis p ela q u ed a d e ren d im en to o b ser va d a n o ciclo d e Ca rn o t, a qu al n ão é exp licad a sem a id éia d e en trop ia.

Matem aticam en te, con form e exp licam Pri-go gin e & Sten gers (1984), sen d o S a en tro p ia , tem os d S=d eS+d iS, on d e d eS d escreve o flu xo d e en tro p ia en tre o sistem a e o m eio, e d iS, a en trop ia p rod u zid a n o in terior d o sistem a, ou seja , a s tra n sfo rm a çõ es irreversíveis m en cio -n ad as. Por d efi-n ição, d iS terá sem p re valor p o-sitivo ou n u lo e d eS p od erá ter valor n egativo, n u lo ou p ositivo, d ep en d en d o d os sistem as se-rem isolad os, fech ad os ou abertos, sen d o estes ú ltim os aq u eles q u e trocam m atéria e en ergia co m o m u n d o exterio r. Desta fo rm a , em u m sistem a iso la d o – q u e n ã o tro ca m a téria n em en ergia co m o exterio r – o flu xo d e en tro p ia é n u lo, só su b sistin d o o ter m o d e p ro d u çã o d e en trop ia , d iS, d e m od o q u e a en trop ia a p en a s p od e au m en tar ou p erm an ecer con stan te.

Desta form a, "para todo o sistem a isolado, o fu tu ro é a direção n a qu al a en tropia au m en ta" (Prigogin e & Sten gers, 1984:96), o q u e trad u zi-ria u m a evo lu çã o esp o n tâ n ea d o sistem a e a existên cia física d e u m a flech a d o tem p o. Tem se, a ssim , o segu n d o p rin cíp io d a term o d in â -m ica : to d o o siste-m a evo lu i p a ra a en tro p ia m áxim a, u m estad o d e equ ilíb rio on d e n en h u -m a reversib ilid a d e será p o ssível. A -m o rte tér-m ica . Situ a çã o d e eq u ilíb rio q u e fu n cion a co-m o verd a d eiro atrator d o s esta d o s d e n ã o -equ ilíb rio. Um estad o atrator corresp on d en te à m áxim a d esord em d o sistem a, ao equ ilíb rio e à m áxim a en trop ia.

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ava-se n ecessário trab alh á-las ao n ível m icroscóp i-co, o q u e foi feito p or Boltzm an n ao in trod u zir a p rob ab ilid ad e n a física, ain d a n o sécu lo XIX. O Prin cíp io d a Ord em d e Bo ltzm a n n p a rte d a h ip otética existên cia d e u m sistem a com p osto p or u m n ú m ero N d e elem en tos colocad os em u m a ca ixa d ivid id a em d o is co m p a r tim en to s. Pa ra co n h ecer a p ro b a b ilid a d e d e ter N1 ele -m en to s n u -m co -m p a rti-m en to e N2=N-N1 n o o u tro, reco rre-se à teo ria d a s p ro b a b ilid a d es. Co n sid era n d o -se P o n ú m ero d e rep a rtiçõ es q u e fa rá ch ega r a N1=N2=N/ 2, o b tém -se u m valor d e P tan to m aior qu an to m en or a d iferen -ça en tre N1 e N2, e o m aior valor d e P q u an d o N1=N2=N/ 2. Além d o qu e, qu an to m aior for N, m aior será o n ú m ero d e rep artições assim étri-ca s, o u se ja , se rá étri-ca d a ve z m a io r o "esqu eci-m en to"e m re la çã o a o e sta d o in icia l, à "d issi-m etria in icial"(Prigo gin e & Ste n ge rs, 1984: 100). Ao se r a tin gid o o e q u ilíb rio n o ca so d o s sistem as m icroscóp icos, os afastam en tos d esse estad o serão cad a vez m en os p ossíveis e a d is-trib u içã o d o s e le m e n to s d o siste m a flu tu a rá e m vo lta d o e sta d o a tra to r, q u e é o d o e q u ilí-b rio.

A p a rtir d esta p ersp ectiva , q u e co n tin u a con sid eran d o u m sistem a isolad o, o Prin cíp io d a Ord em d e Boltzm an n foi gen eralizad o p ara o s sistem a s fech a d o s e a b er to s, revela n d o -se cap az d e "com p reen d er a sin gu larid ad e d os es-tados atrativos qu e são estu dados pela term odi-n âm ica d o equ ilíbrio"(Prigo gin e & Sten gers, 1984:100). Desta fo rm a , Bo ltzm a n n fo i o p ri-m eiro a ri-m ostrar qu e p od ia in terp retar o cresci-m en to irreversível d a en tro p ia co cresci-m o cresci-m ed id a d a d esord em m olecu lar.

Um a qu estão, n o en tan to, a term od in âm ica d o eq u ilíb rio n ão resolvia: d ian te d o con h eci-m en to até aqu i exp osto, coeci-m o exp licar os orga-n ism os vivos qu e p arecem orga-n ão evolu ir p ara u m estad o d e eq u ilíb rio, d esord em e en trop ia m áxim a? É n este sen tid o qu e Prigogin e (1972) ob -serva q u e tod a a d iscu ssã o sob re a p osiçã o d a b iologia com relação às ciên cias físicas con d u z ced o ou tard e ao p rob lem a d a situ ação d os sis-tem as vivos em relação às gran d es leis d e orga-n iza çã o d a física . Qu a orga-n to a isto, segu orga-n d o Prigogin e, a m aioria d os b iólogos atu alm en te in siste em q u e o teorem a d o crescim en to d a en trop ia seria ap licável, n o caso d a vid a, ao con ju n to sistem a vivom eio a m b ien te. Neste â m -b ito, os sistem as vivos seriam con sid erad os sis-tem a s a b erto s tro ca n d o en ergia co m o m eio, d e tal form a qu e o crescim en to d a en trop ia va-leria n ão p ara os sistem as vivos tom ad os isola-d am en te, em cu jo in terior a en trop ia isola-d im in u i-ria em fa vo r d e u m a o rga n iza çã o ca d a vez m aior, m as p ara a totalid ad e d o con ju n to. Por

co n segu in te, o Prin cíp io d a Ord em d e Bo ltz-m an n taltz-m b éltz-m seria ad equ ad o à situ ação.

Ma s Prigo gin e & Sten gers (1984:102) a rgu -m en ta-m qu e tal p ersp ectiva n ão é correta, p ois, q u a n d o co n sid era m o s u m a célu la o u u m a ci-d aci-d e, p erceb em os q u e estes sistem as, além ci-d e serem ab ertos, vivem d a su a ab ertu ra. "Alim en -tam -se do flu xo de m atéria e en ergia qu e vem do m u n d o exterior. Está exclu íd o qu e u m a cid ad e, ou u m a célu la viva, evolu a p ara u m a com p en -sação m ú tu a, u m equ ilíbrio en tre os flu xos qu e en tram e saem ". A cid ad e e a célu la m orrerão se isolad as d o seu m eio, p ois são u m a esp écie d e "en carn ação"d os flu xos qu e tran sform am con -tin u am en te.

Prigo gin e (1972) exp lica q u e a s teo r ia s d a term od in âm ica, d a evolu ção b iológica e socioló gica fo ra m fo rm u la d a s à m esm a ép o ca , em -b ora con trariam en te à id éia term od in âm ica d e evo lu çã o p a ra a d eso rd em m á xim a e o eq u ilí-b rio n o estad o d e en trop ia m áxim a, as id éias d e evo lu çã o em b io lo gia e so cio lo gia estã o a sso-ciad as a u m a organ ização crescen te, a u m a or-d em , p ortan to, e à form ação or-d e estru tu ras m ais e m ais com p lexas. Desta form a, Prigogin e n ão ju lga ad eq u ad a aos organ ism os vivos a term o-d in â m ica o-d o eq u ilíb rio en q u a n to m o o-d elo o-d e exp lica çã o. Pa ra ele, a p ersp ectiva co rreta n o q u e d iz resp eito à exp lica çã o d a vid a esta ria com p reen d id a d en tro d e u m a "term odin âm ica da vida"e con sistiria n a con sid eração d e siste-m as ab ertos qu e con tasiste-m cosiste-m reservatórios ex-tern o s d e m a téria e en ergia su ficien tem en te gra n d es p a ra su p o rta rem u m esta d o p erm a -n e-n te d e -n ão-equ ilíb rio. Assim é qu e e-n co-n tra-rem o s a sso cia çã o en tre o s sistem a s vivo s e a s estru tu ras dissipativas d a física.

En q u a n to o Prin cíp io d a Ord em d e Bo ltz-m a n n – q u e d escreve o segu n d o p rin cíp io d a term o d in â m ica – m o stra -se a d eq u a d o a o s es-ta d o s d e eq u ilíb rio, n ã o o é p a ra a s estru tu ra s d issip ativas, q u e estão associad as a u m p rin cí-p io d e ord em d iferen te, o d a ordem p or flu tu a-ção. As estru tu ras d issip ativas são estad os in s-táveis, p orém con tín u os, qu e oscilam em torn o d o estad o atrator d e equ ilíb rio. Com p reen d id as n o â m b ito d e u m a term o d in â m ica d o n ã o eq u ilíb rio, tais estru tu ras rep resen tam , n o en -ten d er d e Prigogin e, u m a p ersp ectiva ad eq u ad a à exp licação ad os sistem as vivos e su a orien -tação p ara a ord em e o n ão-equ ilíb rio.

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-vern am a resp iração, as ativid ad es d os n eu rô-n ios e d o coração. Os p rocessos q u ím icos e d e tra n sp o rte b io ló gico e n vo lvid o s n a vid a , ta is com o as reações en zim áticas e o tran sp orte d e íon s através d e m em b ran as, p arecem ob ed ecer ta m b ém a certa o rd em p o r flu tu a çã o, a q u a l im p õe in stab ilid ad e, u m estad o d e n ão-eq u ilí-b rio p erm an en te, q u e soilí-b revive oscilan d o em torn o d o estad o atrator d e equ ilíb rio. Além d is-so, rela çõ es b io ló gica s a o n ível m a cro scó p ico d evem ta m b ém fu n cio n a r segu n d o o tip o d e o rd em d escrito, ta l co m o o s sistem a s p red a -d or-p resa em qu e o crescim en to ou a -d im in u i-ção d a p op u lai-ção d e p resas p reced e sem p re os m ovim en to s igu a is e co rresp o n d en tes n a p o -p u lação d e -p red ad ores.

No en ten d er d e Prigogin e (1972; 1988), esta form a d e ver as coisas – q u e com p reen d e u m a flech a d o tem p o, u m a irreversib ilid ad e – p rop i-cia ria o en ten d im en to d a o rd em b io ló gica o rien ta d a p a ra u m a co m p lexid a d e ca d a vez m aior e p ara a am p lificação d e in ovações. Nes-te con Nes-texto n ão-lin ear d e u m a Nes-term od in âm ica d o n ão-equ ilíb rio seriam aceitáveis os fen ôm e-n os d e au to-orgae-n ização, a associação ie-n terce-lu la r e a fo rm a çã o d e o rga n ism o s su p erio res qu e se p rod u zem lon ge d o equ ilíb rio.

As d escob ertas exp erim en tais d a in stab ilid a ilid e ilid a s p a rtícu la s elem en ta res, ilid a s estru tu -ras d e n ão-eq u ilíb rio e d a evolu ção d o u n iver-so, q u e m a rca ra m a física a p a rtir d o s a n o s 1950, ap on taram "a n ecessidade de u ltrap assar a n egação d o tem p o irreversível qu e con stitu i a h eran ça legada pela física clássica à relativida-d e e à m ecân ica qu ân tica"(Prigo gin e & Sten -gers, 1990:16).

Prigogin e (1988:5, 7) acred ita q u e o tem p o p re ce d e u a cria çã o d o u n ive rso, e q u e o big-ban g,além d e n ão ser u m a sin gu larid ad e, n ão sign ifica o co m eço d o tem p o, m a s sim "in sta-bilid ad e", "m u d an ça d e fase"d e u m p ro cesso q u e se d esen volve em escala m aior. "O u n iver-so tal com o n ós o vem os é en tão o resu ltad o d e u m a tran sform ação irreversível, e p rovém d e u m 'ou tro' estad o físico". Para ele, o n ascim en -to d o n osso tem p o n ão é o n ascim en to do tem -p o. Nesta con cep ção, a vid a seria resu ltad o d e flu tu ações e o tem p o sem p re p reexistirá a estas flu tu ações p oten ciais. A vid a se form aria a ca-d a m om en to em q u e a s circu n stâ n cia s p la n e-tárias se ap resen tassem favoráveis, d o m esm o m o d o q u e o u n iverso se fo rm a rá ca d a vez em q u e as circu n stân cias astro-físicas se m ostrem p rop ícias. Mas o tem p o n ão é on tológico, n ão é retorn o n em etern o retorn o, é irreversib ilid ad e e evolu ção.

Pa ra Prigo gin e & Sten gers (1984:97), "as tran sform ações reversíveis p erten cem à ciên cia

clássica, n o sen tido de qu e elas defin em a possi-bilid ad e d e agir sobre o sistem a, d e con trolá-lo (...) n este qu ad ro a irreversibilid ad e é d efin id a n egativam en te, e só ap arece com o u m a evolu -ção 'in con trolada' qu e se produ z cada vez qu e o sistem a escap a d o equ ilíbrio". Assim , a term o-d in âm ica con tem p orân ea, a o-d o n ão-equ ilíb rio, veio con trap or-se ao d eterm in ism o d a ciên cia clássica. Neste ú ltim o con texto, a irreversib ili-d a ili-d e é q u e está im p lica ili-d a n o s m o ili-d er n o s re-p resen tativos d o com re-p ortam en to d in âm ico, e os sistem a s reversíveis só sã o com p reen d id os co m o ca so s lim ites p a rticu la res (Prigo gin e & Sten gers, 1990).

Ver as coisas d esta form a n ão é sim p les, segu n d o Prigogin e (1988); exige m esm o p rofu n -d a m u -d an ça -d e con sciên cia. Se an tes a an alo-gia d a d esord em era o n ão-equ ilíb rio – a tu rbu -lên cia – e a d a ord em era o equ ilíb rio – o cristal –, a term o d in â m ica m o stra h o je q u e a d esor-d em acom p an h a o equ ilíbrio e a oresor-d em o n ão-equ ilíbrio.

Prigo gin e (1988) co n ta q u e sem p re lh e in -q u ieta ra m d u a s a firm a çõ es d e in sp ira d o res seu s. A d o filó so fo Hen ri Bergso n d e q u e "o tem p o é in ven ção ou n ão é absolu tam en te n a-d a", e a d o b ioq u ím ico Jacq u es Mon od d e q u e "a velh a alian ça rom p eu -se; o h om em sabe fi-n alm efi-n te qu e está só fi-n a im efi-n sid ão ifi-n d iferefi-n te d o u n iverso d e qu e em ergiu p or acaso". Refle-tin d o a cerca d esta s fra ses, Prigo gin e tem -se d ed icad o, p or u m lad o, a m ostrar q u e o tem p o ex iste, n ão é ilu são, e, p o r o u tro, a fa zer u m a ciên cia q u e reú n a o ser h u m a n o e a n a tu reza em n ova alian ça.

Ta lvez seja n o tem p o irreversível, com p le-xo, n ão d eterm in ista, e – p or q u e n ão su p or? – em u m a o rd em p o r flu tu a çã o, q u e Prigo gin e (1988:14, 19) vê "con vergên cia"en tre a física d e h oje e a h istória n ova, ao "reler (...) algu n s tex-tos de Marc Bloch ", u m d os fu n d ad ores d os An -n ales. Prigo gin e está certo d e q u e "o tem p o é con stru ção"e ad m ite a n ecessid ad e d e u m a vi-são glob alizan te im p licad a n a con servação d o p la n eta p a ra a co n stru çã o d o fu tu ro. É d esse m o d o q u e su a "term od in âm ica gen eraliz ad a" está fu n d a m en ta d a n a co m p lexid a d e q u e en -volve e liga tu d o, os seres h u m an os, a n atu reza, a socied ad e.

Epidemiologia e t empo

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Tan to n a realid ad e qu an to n o con h ecim en -to, o tem p o é a p reen d id o d e ta l m a n eira q u e, a o im a gin á -lo, o fa zem o s segu n d o m etá fo ra s d e n a tu reza e su b stâ n cia , fo rm a , d ireçã o e o rien ta çã o, co n stru in d o a p a rtir d isso u m a id éia d o tem p o.

No â m b ito d o co n h ecim en to, Reis (1994b ) p erceb e três tem p os p rin cip ais: "o tem po da fí-sica", "o tem p o da filosofia", e, talvez, "o tem p o da h istória", u m "terceiro tem po". As p ersp ecti-va s d e o b jetivid a d e e su b jetivid a d e m a rca rã o as d iferen ças en tre o tem p o d a física e o d a filo so fia , o s d o is tem p o s fu n d a m en ta is d o co -n h ecim e-n to.

O tem p o d a física , exp lica Reis (1994b :65, 66), é ob jetivo p or excelên cia. Tratase d o tem -p o exterio r, d o s m ovim en to s n u m erá veis d a n atu reza, q u e n atu raliza o even to e o tran sfor-m a esfor-m sfor-m ovisfor-m en to. Co n seq ü en tesfor-m en te, é q u an tificável e "reversível". Con sid era-se aq u i q u e esta p referên cia p ela reversib ilid a d e d iz resp eito ao con texto d a física d a relativid ad e d e Ein stein e n ã o a o tem p o d a física d a term od i-n âm ica d e Prigogii-n e, ap resei-n tad o i-n este texto, q u e tem com o característica fu n d am en tal a ir-reversib ilid ad e e tam b ém n ão é d escon h ecid o p or Reis.

Já o tem p o d a filo so fia , co n fo r m e exp õ e Reis (1994b ), é su b jetivo, in terio r. Fo rja d o a p artir d as m u d an ças vivid as d a con sciên cia, d a su a in com en su rab ilid ad e, é p or isto qu alitativo e p referen cialm en te irreversível.

Desta form a, as d im en sões d e an teriorid ad e, p o sterio riad a ad e e sim u lta n eiad a ad e sã o p ró p rias d o tem p o d a física, d o seu p rojeto d e cau -sa lid a d e m a tem á tica , b em com o a s d e fu tu ro, p assad o e p resen te caracterizam o tem p o d a fi-losofia, d o tem p o vivid o. O tem p o d a h istória, u m p o ssível terceiro tem p o, seria ju sta m en te aq u ele q u e ligaria n atu reza e con sciên cia, q u e fa ria u m a p o n te en tre a física e a filo so fia a o con sid erar e recon h ecer em su a com p osição a ob jetivid ad e e a su b jetivid ad e.

A ep id em iologia – em su a in ten ção d e con -ta r "d oen tes em p op u lações"(Alm eid a Filh o, 1989:16, 17; 1992:50) e m ed ir a ocorrên cia d as d oen ças – n ecessitava, p ara ap arecer, d as m e-d ie-d a s esta tística s e e-d a ta xo n o m ia e-d a clín ica , p o is a co n ta gem p recisa d e u m a cla ssifica çã o an terior.

O d esp on tar d as classificações d as d oen ças p o d e ser a ssin a la d o n o s a n o s 1600, d esd e o s tra b a lh o s d e in sp ira çã o b o tâ n ica d e Th o m a s Syd en h am . A clín ica m éd ica, com su a taxon o-m ia b asead a eo-m sin too-m as, sin ais e localizações a n a tô m ica s, n a sceu – co m o a p o n ta Fo u ca u lt (1977) – den tro dos h osp itais fran ceses já tran s-form ad os em recu rsos terap êu ticos p elos

revo-lu cion ários d a p assagem d o sécu lo XVIII p ara o XIX. A estatística, p or su a vez, su rgiu n o d eclí-n io d a Id a d e Méd ia , d u ra eclí-n te a fo rm a çã o d o s esta d o s n a cio n a is, d a n ecessid a d e d e co n ta r trab alh ad ores e sold ad os p ara m ed ir a riq u eza d esta s n a çõ es, em u m a ép o ca n a q u a l ta n to o su cesso n as gu erras qu an to a p rod u ção d ep en -d ia m -d o n ú m ero -d e p esso a s en vo lvi-d a s e n ã o d as m áqu in as d e p rod u ção e d e gu erra.

Assim , em b o ra vestígio s d a fo rm a çã o d a ep id em iologia p ossam ser p erceb id os d esd e a m ed icin a grega h ip ocrá tica d os sécu los IV e V A.C. – con form e é o ca so d os con ceitos d e en -d em ia e ep i-d em ia, esb oça-d os n o texto Ares, Á-gu as, Lu garesco m o d o en ça s q u e h a b ita m o u visita m u m lu ga r – esse d o m ín io d o co n h eci-m en to su rgiu , en qu an to ciên cia, n o sécu lo XIX. Con tan d o com b ases h istóricas fu n d am en tais ta m b ém n a m ed icin a so cia l d o s a n o s 1800, ap resen ta as características d e u m a d iscip lin a d o coletivo (Ayres, 1993).

Pa ra estu d a r a q u estã o d a sa ú d e/ d o en ça em p op u lações h u m an as, com o ap on ta Alm ei-d a Filh o (1989:19, 20), o "raciocín io ep id em io-lógico"a co m p a n h a a ciên cia m o d ern a e "tra-d u z a lógica cau sal em term os p robabilísticos (...) adotan do e desen volven do o m étod o ob ser-va cio n a lap licad o à p esqu isa em p op u lações" (grifos n o origin al). Desse m od o, segu n d o o au -tor, o term o "observacion al"caracteriza a estra-tégia com p arativa d a d iscip lin a e o term o "pro-babilístico",su a d isp osição qu an titativa.

Na b u sca d esta relação cau sal, a ep id em io-logia p rocu ra associações estatísticas en tre os p ossíveis fatores d eterm in an tese a ocorrên cia d e d oen ças em p op u lações h u m an as. Determ i-n a i-n tes q u e p o d em esta r ei-n tre a s ca ra cterísti-ca s in d ivid u a is d o s m em b ro s d a s p o p u la çõ es estu d ad as, com o sexo e id ad e, em p articu lari-d alari-d es sócio-econ ôm icas, com o ren lari-d a e p rofis-são, p ecu liarid ad es geográficas relacion ad as às form as d e ocu p ação d o esp aço e ou tras ligad as à cu ltu ra, aos h áb itos e com p ortam en tos.

Em lin gu agem estatística, o ob jetivo d a d is-cip lin a é in vestigar com p arativam en te a distri -bu içãod estes fa to res n a p o p u la çã o, id en tifi-can d o tam b ém os in d ivíd u os d oen tes. As asso-ciações estatísticas en con trad as en tre os fato-res ap fato-resen tad os e a ocorrên cia d e d oen ças ali-cerça rã o u m a p rová vel d eterm in a çã o d esta ocorrên cia, orien tan d o, a p artir d isso, a ap lica-ção d e m ed id as p ara con trolá-la.

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Em ciên cia , p a ra Sten gers (1990:84), bido, e doravan te m esm o os epistem ólogos o sa-bem , qu e n ão h á fato sem lin gu agem in terp re-tativa (...)". Tal con statação, qu e an u n cia a p ar-ticip ação d o observador n a con d u ção d o exp e-rim en to, p ressu p õ e a a sso cia çã o ín tim a en tre co n ceito s e o p era d o res co m o fim d e fa zer d o fato algo cien tificam en te aceitável. Segu n d o a au tora, o essen cial, p ortan to, será "fazer falar" ob jetos e su jeitos, d e m od o q u e seu "testem u -n h o"p o ssa ser legitim a d o p ela co m u n id a d e cien tífica , à q u a l é so cia lm en te o u to rga d o o p od er p olítico p ara tal recon h ecim en to.

Neste sen tid o, a firm a Sten gers (1990:85, 93), "n as ciên cias exp erim en tais o trabalh o d e criar u m a testem u n h a (fid ed ign a – a créscim o m eu ), d e fazer falar u m fato, é sem p re u m tra-balh o d e p u rificação e con trole". E, "qu an d o o operador rem ete sem pre a u m a abstração – con -trole e p u rificação – o con ceito corresp on d e a u m a operação con creta de captu ra e redefin ição d o m u n d o d a qu al d ep en d e a sign ificação d o operador".

Dia n te d esta s co n sid era çõ es d e Sten gers (1990) torn a-se p ossível ad m itir qu e, ao op erar seu s con ceitos, a ep id em iologia o faça n a con -textu a liza çã o d o seu p ro jeto cien tífico p o siti-vista, ou seja, qu e su a m ovim en tação cien tífica req u eira p ara esta op eracion alização u m tem -p o tam b ém -p ositivista. Tal d eve ser o m od o -p e-lo q u a l a ep id em io e-lo gia faz falarseu o b jeto, "d oen tes em p op u lações" (Alm eid a Filh o, 1989: 16, 17; 1992:50). É p reciso q u e se p erceb a, en -tão, q u e u m a d as características fu n d am en tais d o p ositivism o é o isolam en to d o ob jeto, a su a exteriorização e p u rificação.

Co m o escla rece Reis (1994b :88, 89, 90), o tem po positivistaé m od elad o p ela física e foi o qu e ap roxim ou o tem p o d a h istória d aqu ele d a física m ed ian te a ad oção d o p ositivism o p elas ciên cias sociais n o sécu lo XIX, p ossib ilitan d o o su rgim en to d e u m a "física social". Trata-se, se-gu n d o o au tor citad o, d e u m tem p o evolu tivo e irre ve rsíve l, cu jo p ro p ó sit o é "situ ar even tos sin gu lares e irrep etíveis n o tem p o-calen d ário (...) d ar h om ogen eid ad e, lin earid ad e e con ti-n u id ad e a estes eveti-n tos irreversíveis e d escoti-n tí-n u os, ití-n serití-n do-os tí-n os tí-n ú m eros do caletí-n dário e atribu in d o-lh es u m a su cessiva n ecessária, p ois n u m érica e basead a n os con ceitos d e ca u sa e con seq ü ên cia (...)"(grifos n o origin al).

O p ositivism o, em seu p rojeto em p iricista e h o m o gen eiza d o r, "su blin h a d ecid id am en te o com oe evita resp on d er ao q u e, ao p orq u ee ao p ara qu e"(grifos n o origin al) (Mora, 1991:314). Qu er con trolaros even tos, p or si sós ú n icos e irrepetíveis, elim in an d o a p ersp ectiva d e m u -d a n ça n eles con ti-d a . Qu er a fa sta r o terror d os

even tos, o seu con flitan tep oten cial d e m u d an -ça.

O tem p o d a ep id em io lo gia se ca ra cteriza , p o r co n segu in te, co m o tem p o q u a n tita tivo : ob jetivo e exterior. Não é o tem p o vivid o e, em vez d e p a ssa d o -p resen te-fu tu ro, en vo lve d i-m en sõ es d e a n terio rid a d sii-m u lta n eid a d e-p osteriorid ad e.

In teressa , p o rta n to, refletir a cerca d o p ro p ósito d a ep id em iologia d e, através d o en ten -d im en to -d o a-d oecer coletivo h u m an o, con tro-lá-lo. Esta p reten são d e con trole é u m d os elem en to s fu n d a elem en ta is d a d iscip lin a , p o is, co m o esclarece Alm eid a Filh o (1992:71), ao con -trário d a clín ica, cu jo ob jetivo m ais p róxim o é a in ter ven çã o so b re a d o en ça d o in d ivíd u o, a ep id em iologia tem com o "com prom isso fu n da-m en tal (...) a p rodu ção de con h ecida-m en to eda-m si" referen te a "padrões de distribu ição da ocorrên -cia em m assa d e d oen ças em p op u lações". Ju s-ta m en te n ess-ta p ersp ectiva d e a n tes co n h ecer p a ra , d esse m o d o, co n tro la r, é q u e se in sere a in ten çã o d e p rever, sen d o o a to d e p rever, em sen tid o m ais am p lo, elem en to fu n d am en tal d o p rojeto cien tífico m od ern o com o u m tod o.

Segu n d o Ba rb o sa (1992:76, 77), q u a n d o o racion alism o cien tífico foi erigid o à p osição d e "ú n ico p arad igm a p ossível"d a m od ern id ad e e fo i su sp en sa a va lid a d e d o s sa b eres estético s, religiosos e "até m esm o políticos", o ato d e p re-ver p a sso u a co n stitu ir o p ro jeto d a ciên cia m od ern a d e d om ín io sob re a n a tu reza . Pa ra o au tor citad o "tod a p revisão estru tu rase n o in -terior d a ex p eriên cia d o d evir d o m u n d o", em cu ja essên cia está a am eaça con stan te d o con -vívio com o in esp era d o e o in éd ito. Desta for-m a, "p ara salvar-se, torn a-se im p erioso afastar as am eaças do devir, e para tal é n ecessário con -trolá-lo, su bm etê-lo ao im p ério d a lei e en tão dom in á-lo".

Em relação ao tem p o d a ep id em iologia p a rece o co rrer q u e, em su a o b jetivid a d e e exte -rio rid a d e, ca p tu ra elem en to s d esco la d o s d a realid ad e, u n icam en te p or su a sim u ltan eid ad e, sem qu e esta cap tu ra im p liqu e n ecessariam en te em qu alqu er relação social en tre os elem en -tos ou fen ôm en os. O tem p o d o con h ecim en to ep id em iológico trab alh a com os fatos d e m od o a artificializálos, sep arálos d as p essoas, am -p u tá-los d e su a h istoricid ad e e su b m etê-los es-ta tistica m en te. Dessa m a n eira , co n tro la o s even tos, elim in an d o a su cessão e a am eaça d e m u d an ça.

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sociais n ão são com p reen d id os. Com o assin ala Gold b erg (1990:98), "ao se con siderar os in diví-du os com o u n idades estatísticas in depen den tes, ign ora-se com p letam en te a existên cia d as relações sociais n as qu ais as represen tarelações, os com -p ortam en tos, os saberes e os m od os d e vid a são produ zidos".

No en ten d er d e Go ld b erg (1990:98, 99), "a an álise estatística op era u m corte n o tem p o e ap resen ta u m a im agem , em u m m om en to d ado, das situ ações de risco ou dos com portam en tos san itários d e u m a p op u lação, sem ap reen -d er su a h istorici-d a-d e". Con seq ü en tem en te, os m ovim e n to s d ife re n te s e co n tra d itó rio s d o s gru p o s so cia is n ã o sã o visu a liza d o s e m su a co m p le xid a d e. Um a co m p le xid a d e d a q u a l p a rticip a m ta m b ém o u tra s coisas e o u tro s se -res, p o is, a fin a l – e é cu rio so q u e n em sem p re isto seja p erceb id o – a rea lid a d e n ã o se fa z só d e seres h u m a n o s. Estes o u tro s seres e co isa s q u e n o s cerca m é q u e p erm item o sen tid o e orien tação à vid a. Com p õem n ossas ações, re-vela m n o sso s ca m in h o s e d ã o co n cretu d e a o n osso tem p o.

Assim , este corte n o tem p o, d e q u e fa la Gold b erg, p arece n ão elim in ar som en te a p ossib ilid a d e d e visu a liza çã o d a s in tera çõ es h u m an as, m as tam b ém d as in terações d os agru -p a m en to s h u m a n o s co m estes o u tro s seres e co isa s d o m eio. Ca p tu ra n d o va lo res n o m o -m en to, n a si-m u lta n eid a d e, d esco la n d o -o s d a rea lid a d e co m p lexa , o tem p o ep id em io ló gico p od e fazer p erceb er, d e m od o eq u ivocad o, re-lações d iretas d e variáveis qu e se religam in ver-sa m en te o u m esm o a sso cia r va riá veis q u e d e fa to n ã o têm liga çã o en tre si. Em o u tra s p a la -vras, esta cap tu ra n a sim u ltan eid ad e p od e as-so cia r d o en ça s a fa to res d eterm in a n tes q u e verd ad eiram en te n ão o são, recon h ecen d o, al-gu m as vezes, cau salid ad es errad as.

Um in d ício d e q u e o tem p o d o co n h eci-m en to ep id eeci-m iológico d escon h ece estas in tera ções socia is e n a tu tera is com p lexa s e q u e p o -d e, p ortan to, in correr n os erros m en cion a-d os, d eve ser b u scad o em u m a ob servação d e Skra-b a n ek n o a rtigo d en o m in a d o Th e p overty of ep id em iology(Skra b a n ek, 1992). O a u to r exa -m in ou os resu -m os d os trab alh os ap resen tad os em u m a reu n ião cien tífica d e ep id em iologistas rea liza d a n o s Esta d o s Un id o s, em 1990, e o b -servo u q u e, a p a ren tem en te, q u a lq u er co m b i-n ação ei-n tre exposição e d oen ça se p restou p ara q u e os p articip an tes d o en con tro calcu lassem riscos relativos, od d s ratiose riscos p rop orcion ais, sem qu e levassem em coorcion ta razões d e im -p lau sib ilid ad e b iológica ou elab orassem h i-p óteses q u e su p orta ssem a s a ssocia ções p reten -d i-d as.

Con sid erad os estes fatos, é p ossível ad m itir q u e a socializ ação d as coisas, q u e n ã o p a rece ser p rim o rd ia l p a ra o tem p o ep id em io ló gico, d eve ser, en tã o, p ro cu ra d a fo ra d a d iscip lin a , em o u tro s tem p o s d e d iferen tes á rea s d o co -n h ecim e-n to, com a fi-n alid ad e d e com p lem en -taras an álises ep id em iológicas, d ar-lh es m aior ab ran gên cia e con sistên cia. De tal m od o qu e, a p a rtir d o reco n h ecim en to e a ceita çã o d estes ou tros tem p os d e d iversas d iscip lin as, a ep id e-m io lo gia o p ere e-m elh o r o seu o b jeto, d oen tes em p op u lações, e seja a lça d a a o n ível d e com -p lexid ad e -p ersegu id o -p ela ciên cia atu al.

No qu e d iz resp eito à dialética da du ração – o tem p o h istórico d e Fern an d Brau d el – algu n s asp ectos relativos à visu alização d a cu ltu ra p o-d em ser vir p a ra co m p a ra çõ es in teressa n tes com a ep id em iologia. Foi a an trop ologia, com as recon stru ções d e cen ários a p artir d e vestí-gios arqu eológicos, su a p ercep ção d as p ecu lia-rid ad es sociais d os gru p os h u m an os e d a len ti-d ão ti-d a cu ltu ra, qu e in sp irou a h istória n ovaem seu m ergu lh o n a lo n ga d u ra çã o d o tem p o em b u sca d as exp licações d o even to. Deve ser con -sid erad o qu e ju stam en te a cu ltu ra tem -sid o re-co n h ecid a re-co m o re-co n ceito d e d ifícil o p era çã o p ara a ep id em iologia, p or en volver elem en tos d e d ifícil q u an tificação (Helm an , 1994). Certas q u estõ es, ta is co m o o d escolam en tocu ltu ra l o b ser va d o q u a n d o d o d esen vo lvim en to d e p rogram as d e con trole d e d oen ças em socied a-d es tra a-d icio n a is e q u e tem sia-d o a p o n ta a-d o co-m o d as cau sas p rin cip ais d e algu n s in su cessos d esta s a çõ es (Uch ô a & Vid a l, 1994), p o ssivel-m en te resu ltassivel-m d a in ad equ ação d o tessivel-m p o ep i-d em iológico p ositivista em lii-d ar com estas si-tu a çõ es d o tem p o lo n go. Isto p a rece in d ica r ta m b ém q u e tem p ora lid a d es socia is d istin ta s p erceb id as p ela d ialética d a d u ração d a h istó-ria, n ão o são p elo tem p o ep id em iológico.

A p o ssib ilid a d e d e o b ser va r ep id em ia s-even to s em ergirem d a p ro fu n d id a d e d a lo n ga d u ra çã o d o tem p o e serem exp lica d a s p ela co m b in a çã o estru tu ra -co n ju n tu ra -even to re-p resen ta, sem d ú vid a, re-p ersre-p ectiva in teressan te p ara o con h ecim en to d o ad oecer d as coletivi-d acoletivi-d es h u m an as. Da m esm a form a, os p erfisd e saú d e d as p op u lações im b ricad os n o tecid o so-cial p od erão ser m elh or com p reen d id os se exa-m in ad os sob a d ialética d a d u ração, u exa-m teexa-m p o coletivo, irreversível, com p lexo, n ão-d eterm i-n ista, q u e ab riga e recoi-n h ece tem p oralid ad es m ú ltip las. Tal en foq u e tam b ém d eve sign ificar u m con texto d o tem p o d o con h ecim en to cap az d e p erm itir a fo rm u la çã o d e p revisõ es m a is ad eq u ad as à realid ad e.

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su as con trib u ições p oten ciais à ep id em iologia, é p reciso co n sid era r a a ceita çã o d a s in flu ên -cias d as ciên -cias h u m an as, d eclarad a p elo físi-co-q u ím ico b elga (Prigogin e & Sten gers, 1984; Prigogin e, 1988; 1990). A ten acid ad e d e Prigo-gin e em d efesa d a irreversib ilid a d e d o tem p o físico veio ju stam en te d a su a estran h eza an te o fa to d a evo lu çã o b io ló gica , d a so cio lo gia e d a h istó ria a p o n ta rem p a ra u m tem p o irreversí-vel, en q u an to a física d e Ein stein se orien tava p ara a reversib ilid ad e e p ara u m a id éia d e eter-n id ad e qu e situ ava a física em u m a ieter-n tem p ora-lid ad e. É n este sen tid o qu e Prigogin e (1988) fa-la d a "redescoberta da tem p o"p or p arte d a físi-ca , q u a n d o tra ta d a existên cia d a flech a d o tem p o, d a certeza a resp eito d a irreversib ilid a-d e a q u e o co n a-d u zira m su a s in vestiga çõ es n o cam p o d a term od in âm ica.

De certa m a n eira , Prigo gin e p reten d e h u -m an izar a física. Retirá-la d a p osição avessa e-m rela çã o a o s ru m o s p erceb id o s d a h istó ria e ap roxim ála das ciên cias hum an as. É n este con -texto qu e exp lica a vid a com o ord em qu e ten d e p ara o n ão-eq u ilíb rio, com o in stab ilid ad e q u e p revalece à cu sta d as trocas d e n u trien tesq u e m an tém com o m u n do exterior. Os sistem as vi-vos se a u to-orga n iza m , am p lificam in ovações e, p or con segu in te, cam in h am em com p lexid a-d e crescen te. É u m a ord em p or flu tu ação,q u e oscila, m as n ão é frágil, p orq u e d ep en d e tam -b ém d e u m a con sciên cia h u m an a d e fu tu ro.

Prigo gin e sa b e e d ecla ra q u e o tem p o é con stru íd o. Em su a term od in âm ica gen eraliza-d a con strói u m tem p o físico-qu ím ico e lh e atri-b u i as características d e n lin earid ad e e n ão-d eterm in ism o. É u m tem p o ão-d os elem en tos, ão-d as coisas, d o s o u tro s seresb io ló gico s, m a s ta m -b ém é tem p o h u m a n o. O p ró p rio en velh eci-m en to h u eci-m a n o d iz d a irreversib ilid a d e d o tem p o (Prigo gin e & Sten gers, 1984). O n a sci-m en to d o tesci-m p o, p ara Prigogin e, tran scen d e o u n iverso, m as o tem p o é irreversível, p orq u e a b iologia – ciên cia d a vid a – e a h istória – ciên -cia d o tem p o so-cia l h u m a n o – m ostra ra m -lh e esta irreversib ilid ad e.

Para a ciên cia clássica, su sten tam Prigogin e & Sten gers (1984:7, 22), "o m icroscóp ico é sim -p les"e a n a tu reza é u m a u tô m a to, regid a p o r leis q u e d escrevem o m u n d o segu n d o trajetó-ria s d eterm in ista s e reversíveis, e d ia n te d a q u a l o ser h u m a n o é estra n h o, está só "n u m m u n do m u do e estú pido". Mas, p ergu n tam Pri-go gin e & Sten gers, co m o é p o ssível d istin gu ir u m cien tista m o d ern o d e u m a b a ctéria q u e tam b ém in terroga o m u n d o e n ão cessa d e co-locar à p rova a d ecifração d os sin ais q u ím icos qu e a orien tam ? Na p ersp ectiva d e Prigogin e, a n atu reza n ão é u m au tôm ato, p ois in terroga o

cien tista a to d o m o m en to e, m u ita s vezes, o d esm en te.

Assim , a in trod u ção d o con ceito d e irrever-sib ilid ad e e d a n oção d e in stab ilid ad e refletem u m con texto n o qu al a ciên cia se ab re ao m u n -d o em q u e se -d esen volve. "O tem p o h oje reen -con trad o é tam bém o tem p o qu e n ão fala m ais d e solid ão, m as sim d a alian ça d o h om em com a n atu reza qu e ele d escreve"(Prigogin e & Sten -gers, 1984:15).

No q u e con cern e à ep id em iologia, p ortan -to, com p reen d er o tem p o físico irreversível d e Prigo gin e, o n d e a vid a é o rd em e n ã o -eq u ilí-b rio, im p lica ad en trar n a com p lexid ad e qu e li-ga as socied ad es h u m an as à n atu reza. Dito d e o u tra fo rm a , sign ifica in vestiga r o fen ô m en o d o ad oecer d as coletivid ad es h u m an as, en ten -d en -d o -o segu n -d o p ressu p o sto s n ã o --d eterm i-n istas, p elos qu ais o evei-n to ei-n focad o p ossa ser a d m itid o e p erceb id o co m o p a rticip a n te d e u m a rea lid a d e em co n sta n te tra n sfo rm a çã o, em u m a relação d in âm ica d e in terd ep en d ên cia en tre o cu ltu ral, o h istórico, o social e o b ioló-gico.

Co m o exp lica m Sch ra m m & Ca stiel (1992: 380, 381), a id éia d e com p lexid ad e se alastrou d as ciên cias b iológicas, h u m an as e sociais p a-ra a s ciê n cia s d u ras co m o a física . Est e o lh a r d a co m p lexid a d e co n fere "à p róp ria n atu rez a u m a dim en são essen cialm en te h istórica, vin cu -lada à flech a do tem po (...) a b ifu rcações, a ru p -tu ras d e sim etria, ao acaso"(grifos n o origin al). Trata-se d e u m a visão q u e ad m ite os sistem as vivos vin cu lan d o-se n a troca d e m atéria, en er-gia e in fo rm a çã o co m o a m b ien te, sen d o ta is trocas "m áxim as n os sistem as din âm icos, com o as socied ad es h u m an as, qu e são tip os d e siste-m as d en tre os siste-m ais cosiste-m p lexos". As socied a d es h u m a n a s lid a m co m o d esen vo lvim en to d e p rojetos e satisfação d e d esejos, geran d o in ces-sa n tem en te n ovo s vín cu lo s co m o a m b ien te, d im in u in d o, p ortan to, a cap acid ad e d e con trole e p revisã o so b re o co n ju n t o sist e m a a m -b ien te.

(12)

Finalizando:

o

caso

das "

infecções emergentes

"

Ao fin al serão aven tad as qu estões relacion ad as à s ch a m a d a s in fecções em ergen tes, p ro b lem a q u e tem p reocu p ad o extrem am en te n ão só os ep id em iologistas. Trata-se d e ab ord agem m u i-to b reve à vista d a riqu eza e d a tran scen d ên cia d o assu n to, servin d o ap en as p ara com p or a argu m en tação tecid a até aqu i. Ap en as serão p in -ça d o s a lgu n s p o n to s cen tra is p a ra refo r-ça r o o b jetivo p rin cip a l d este texto, q u a l seja , o d e dem on strar a im portân cia do pon to de vista do tem po para o pen sam en to epidem iológico.

Para Morse (1995:12) as "in fecções em ergen -tes"p od em ser d efin id as com o aq u elas q u e só recen tem en te su rgiram ou qu e já existiam , m as

"rapidam en te au m en tam su a in cidên cia ou ex-ten são geográfica". O au tor su gere q u e, d e m o-d o "op eracion al", esta s in fecçõ es p o d em ser vista s co m o u m "p rocesso d e d u as fases: 1) in -trodu ção de u m agen te in feccioso em u m a n ova p op u lação d e h osp ed eiros (se o p atógen o é ori-gin ad o d o m eio, p ossivelm en te em ou tras esp é-cies, ou com o u m a varian te d e u m a in fecção h u m an a já existen te), segu id o d e 2) estabelecim en to e disseestabelecim in ação adicion al n a n ova popu -lação de h ospedeiros".

Já a o co rrên cia d a s in fecçõ es em ergen tes tem sid o a trib u íd a a fa to res d em o grá fico s, com p ortam en tais, tecn ológico-in d u striais, re-la tivo s a o d esen vo lvim en to a gríco re-la e u so d a terra , a d eslo ca m en to s p o p u la cio n a is, co m o viagen s d e lazer e com ércio, tran sp ortes d e car-ga s e a lim en to s, ca p a cid a d e d e a d a p ta çã o e m u tação b acterian a, além d e falên cia d as m e-d ie-d as e-d e saú e-d e p ú b lica (Lee-d erb erg et al., 1992). É n otório qu e estes fatores respon sáveisp e-la s in fecçõ es em ergen tes, esta cau salid ad e

ap resen tad a, im p lica u m a visão ep id em iológi-ca q u e co n tem p la d esd e elem en to s d a o rd em b iológica até os h istóricos, cu ltu rais, p olíticos, econ ôm icos e sociais. Um a visão q u e p od e ser m elh o r id en tifica d a q u a n d o Wilso n (1994:4) afirm a q u e o en ten d im en to d a em ergên cia d e d oen ças req u er a visu alização d o organ ism o e d o m eio, d o ecossistem a e d a socied ad e, p ara o qu e "u m a perspectiva global é essen cial".

Deve ser visto, n o en tan to, qu e este p osicio-n am eosicio-n to, ao m eosicio-n os osicio-n o q u e d iz resp eito à ep i-d em iologia n orte-am erican a, trai-d u z n ova i-d is-p osição em relação ao con h ecim en to d o ad oecer co letivo h u m a n o, q u e p a rece vir a co m p a -n h a d o ta m b ém d e certa p erp lex id ad ed ia n te d a s in fecçõ es em ergen tes. Assim , Levin s (1994a :406) su sten ta q u e a co n sid era çã o d o p roblem a das in fecções em ergen tes "deve prin -cipiar pela rejeição do m odelo da tran sição

epi-d em iológica (...) qu e su p orta a cren ça n o epi-d eclí-n io d as d oeeclí-n ças ieclí-n fecciosas e em su a su bstitu i-ção p or ou tros p roblem as m éd icos". Segu n d o o m esm o au tor (Levin s, 1994b :xvii), a fru stração d ia n te d a p ersistên cia d a s in fecçõ es "forçou u m a n ova con sciên cia"d e q u e as d oen ças n as-cem e ca em , d esen vo lvem -se e esp a lh a m -se in cessa n tem en te, e q u e, p o r isto "tem os qu e n os preparar para u m am an h ã m ais com plexo". Ressa lte-se q u e a tra n siçã o ep id em io ló gica , em b ora d iscu tid a e criticad a p or algu n s au to-res (Ba rreto et a l., 1993; Po ssa s & Ma rq u es, 1994), é figu ra ep id em iológica qu e até recen te-m en te gozava d e ate-m p la aceitação p ela te-m aioria d os ep id em iologistas.

Para Wilson (1994:1, 11), esta n ova realid a-d e "desafia a n ossa con fian ça n o poder da ciên -cia e d a tecn ologia p ara con trolar a n atu reza", o qu e con d u z a p ergu n tas com o:

"O p rocesso d e em ergên cia (d e d o en ça s in -fecciosas – acréscim o m eu ) está relacion ado ao d e ad ap tação d e u m a esp écie à p resen ça d e ou -tra, sen d o, p or exem p lo, coabitação estável, ou , ao con trário, u m a con seqü ên cia da rem oção de p révios com p etid ores ou p red ad ores? A em er-gên cia d e d oen ças é ju stam en te o fim visível d o esp ectro d o p rocesso con tín u o d e ad ap tação e evolu ção? Há lim itações fu n dam en tais n os con -ceitos de cau salidade qu e dificu ltam os esforços p ara d etectar e acom p an h ar n ovas d oen ças? Com o com p reen d er a com p lex id ad e d os siste-m as qu e in flu en ciasiste-m a p resen ça, abu n dân cia e distribu ição das espécies?".

Ba sta n te estim u la n te é ver o su rgim en to d este tip o d e q u estio n a m en to n o â m b ito d a ep id em iologia n orte-am erican a, p ois en tre os ep id em iologistas latin o-am erican os e b rasilei-ros h á já algu m tem p o são con stru íd as ab ord a-gen s sociaise críticasq u e d iscu tem o s ru m o s d a d iscip lin a. Mais in teressan te ain d a é ver tais qu estion am en tos colocad os a p artir, ju stam en -te, d as d oen ças in fecciosas, berçop or excelên -cia d a d iscip lin a.

Referências

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