1 EssetrabalhoépartedadissertaçãodeLivre-Docência,defendidana UniversidadedeSãoPaulo,em2003.Aautoraagradecealeituracrítica deCristianoValériodosSantoseoapoiofinanceirodoCNPq. 2 Endereço:UniversidadedeSãoPaulo,Av.Prof.MelloMoraes,1721,
SãoPaulo,SP,Brasil05508-900.E-mail:hunziker@lexxa.com.br
ODesamparoAprendidoRevisitado:EstudoscomAnimais
1MariaHelenaLeiteHunziker2 UniversidadedeSãoPaulo
RESUMO–Odesamparoaprendidotemsidodefinidocomoadificuldadedeaprendizagemapresentadaporindivíduosque tiveramexperiênciapréviacomestímulosaversivosincontroláveis.Oobjetivodestetrabalhoéfazerumarevisãocríticados estudossobreodesamparoaprendido,comanimais.Nessaanálise,sãoconsideradosaspectosconceituaisemetodológicos dosestudosemquestãoeasinterpretaçõesteóricassobreesseefeitocomportamental.Aborda-seaevoluçãohistóricadesses estudos,bemcomoalgunsaspectoscontroversosdaspublicaçõesqueseacumularamaolongodequatrodécadasdepesquisa. Aassociaçãododesamparoaprendidocomadepressãoclínicaéanalisadacriticamente,destacando-seanecessidadedemaior rigormetodológicoeconceitualnosestudosdaárea.
Palavras-chave:desamparoaprendido;depressãoexperimental;controleaversivo;modeloanimaldedepressão.
LearnedHelplessnessRevisited:AnimalStudies
ABSTRACT–Learnedhelplessnessisalearningdeficitproducedbythepreviousexperiencewithuncontrollableaversive stimuli.Thepresentpaperaimsatcarryingoutacriticalreviewofstudiesonanimallearnedhelplessness.Conceptualand methodologicalquestionsrelatedtolearnedhelplessnessareconsidered,alongwithitstheoreticalinterpretation.Weanalyze boththehistoricalevolutionofstudiesonlearnedhelplessnessandsomecontroversialexperimentalresultsobtainedduring fourdecadesofresearch.Therelationshipbetweenlearnedhelplessnessandclinicaldepressionisalsodiscussed,withemphasis onthenecessityforarigorousmethodologicalandconceptualanalysis.
Keywords:learnedhelplessness;experimentaldepression;aversivecontrol;animalmodelofdepression.
dessescãesproduziaqualquermodificaçãonoschoques,que eram,portanto,incontroláveis.Posteriormente,essesanimais foramcolocadosemumacaixaondeumtomantecediacho-quesporumintervalofixodetempo:casoosujeitosaltasse paraocompartimentoopostodacaixa,osomeradesligado e o choque evitado (contingência de esquiva).Ao longo desseteste,oCSluz(utilizadonaprimeirafase)eratambém apresentado,independentementedacontingênciadeesquiva emvigor,comafinalidadedeverificarseesseCSteriase tornadoaversivoapontodeaumentaraprobabilidadedares-postadesaltar.Contrariandoateoriaemavaliação,obtiveram quealuznãoaumentouaprobabilidadedesaltar.Contudo, umresultadoinesperadolheschamouaatenção:apesarde estarvigorandoumacontingênciadereforçamentonegativo, arespostadeesquivanãofoiaprendida.Essesresultados, paralelosaosobjetivosdapesquisa,sugeriramquechoques incontroláveispodiamafetarnovasaprendizagensoperantes negativamentereforçadas(Overmier&Leaf,1965).
Em função desses resultados, Martin Seligman (outro pós-graduando daquele laboratório) se associou a Bruce
Overmier,passandoainvestigaressainterferênciadaincon-trolabilidade sobre a aprendizagem. Para isso, expuseram gruposdecãesachoquesincontroláveisouanenhumchoque e,posteriormente,submeteramessesanimaisaumacontin-gênciadereforçamentonegativo.Nasuaprimeirapublicação sobreotema,OvermiereSeligman(1967)mostraramqueos animaisanteriormentesubmetidosachoquesincontroláveis nãoaprenderamarespostaprevistanoteste,aocontráriodos cãesnãosubmetidosaoschoques,queaprenderamaresposta defugarapidamente.
Apesar de ser pioneiro nessa área, esse trabalho não separouexperimentalmenteosefeitosdoschoquesdaqueles
decorrentesdasuaincontrolabilidade.Issofoifeitoemse- guida,tendoSeligmaneMaier(1967)estudadosimultanea-mentetrêssujeitos,cadaumpertencenteaumgrupodistinto, caracterizando o que se passou a chamar “delineamento triádico”. Na primeira fase, dois cães foram submetidos simultaneamente a choques elétricos, enquanto o terceiro animalpermanecianacaixaexperimental,semchoques.O controlesobreoschoqueserapermitidoapenasaumdos cães que, submetido a uma contingência de fuga, podia desligá-losemitindoumarespostapreviamenteselecionada (pressionarumpainelcomofocinho).Quandoissoocorria, suarespostatambémdesligavaochoquedosegundosujeito, cujasrespostasnãotinhamconseqüênciaprogramada.Assim, apesardeambososcãesreceberemchoquessimilares(noque dizrespeitoanúmero,intensidade,intervalo,etc.),apenas oprimeiropodiaexercercontrolesobreessesestímulos;o segundoanimal,pornãopoderalteraraduraçãodoscho-ques, encontrava-se exposto à condição definida como de incontrolabilidade.Vinteequatrohorasdepois,cadasujeito foiexpostoaumasessãonaqualarespostadecorrerera negativamentereforçada.Osresultadosmostraramquetanto osanimaispreviamentetratadoscomchoquescontroláveis, comoosnãoexpostosachoques,aprenderamigualmente arespostadefuga,mostrandolatênciasgradualesistema-ticamentemaisbaixasaolongodasessão.Aocontrário,os animais previamente expostos aos choques incontroláveis nãoemitiramarespostadefugaou,quandoofizeram,não houveaumentosubseqüentenaprobabilidadedeocorrência dessaresposta.Comoresultadogeral,essessujeitosapre-sentaramlatênciasaltasdurantetodaasessão;portanto,não aprenderamarespostadefuga.
A essa dificuldade de aprender uma relação operante, decorrentedaexposiçãopréviaaeventosaversivosincontro-láveis,deu-seonomedeefeitodeinterferência(Overmier& Seligman,1967;Seligman&Maier,1967).Apesardeessa denominaçãoserbastantedescritivadoefeitocomportamen- talemestudo,elafoirapidamentesubstituídapelotermo“de-samparoaprendido”(learnedhelplessness),oqualtambém denominou uma das hipóteses explicativas do fenômeno, conformeseverámaisàfrente(Maier,Seligman&Solomon, 1969;Maier&Seligman,1976).Poralgunsanos,houvea tentativa de manutenção da terminologia original, isenta de conotação teórica (Crowell &Anderson, 1981; Glazer &Weiss,1976a).Contudo,otermodesamparoaprendido foiomaisdifundido,afirmando-secomodenominaçãodo efeito(Seligman,1975;Peterson&cols.1993),apesarda indesejávelsimbiosequeseestabeleceuentreoefeitoeasua interpretaçãoteórica.
Algumasvariaçõesnoprocedimentobásicopossibilita- ramaexpansãodaanálisedodesamparoaprendido.Doispro-cedimentospodemserdestacados,umvoltadoà“prevenção” eoutroao“tratamento”dodesamparo.Paratestara“preven-ção”,foianalisadaaimportânciadaordemdeaprendizagem estabelecida.Considerando-sequeocomportamentoéum fenômenocumulativoequeaexposiçãoàincontrolabilidade promoveaaprendizagemdequeoestímuloindependeda resposta,édeseesperarqueumaprimeiraaprendizagemde controlesobreesseestímulopossaminimizarosefeitosde experiênciasfuturascomasuaincontrolabilidade.Paraveri-ficarexperimentalmenteessasuposição,umgrupodecãesfoi
submetidoaumaprimeirasessãocomchoquescontroláveis (fuga/esquiva),seguidaporoutranaqualeramexpostosa choques incontroláveis.Verificou-se que, quando testados posteriormenteemfuga/esquiva,essesanimaisaprenderam normalmentearespostanoteste.Esseefeitofoichamadode
imunização,poissugeriaqueocontroleexercidonaprimeira sessãoteria“imunizado”ossujeitoscontraoaprendizado posteriordaincontrolabilidade,deixando-osaptosaapren-derem a relação operante estabelecida no teste (Seligman &Maier,1967).Portanto,oestudodoefeitodeimunização mostrouqueahistóriadereforçamentopodeserumavariável críticanaprevençãocontraodesamparo.
Haveriaumprocedimentoquepoderiareverterodesam-paro,depoisqueessepadrãodecomportamentojáestivesse estabelecido? Para responder a essa questão, Seligman e Maier (1967) selecionaram cães que haviam apresentado desamparo e os re-expuseram à contingência de fuga do teste,forçando-osfisicamenteaexperimentaroreforçamento. Issofoifeitoprendendocorreiasaoseucorpoecolocando osanimaisnovamentenacaixadeteste,queeradivididaem doiscompartimentosporumapequenabarreira.Aoiniciar o choque, os experimentadores puxavam os cães com as correias, na direção da barreira, até que eles a saltassem, indoparaocompartimentooposto.Essarespostadesaltar eraimediatamenteseguidapelotérminodochoque.Acada choque, esse procedimento era reiniciado. Depois de ex-postosseguidamenteaessacontingênciadefugaforçada, oscãespassaramaemitirarespostadefugasemaajuda dosexperimentadores,mostrandoareversãododesamparo. Com outro procedimento, buscou-se “tratar” os animais previamenteexpostosachoquesincontroláveisexpondo-os repetidamenteacontingênciasdereforçamentopositivo.Os estudostêmmostradoque,emborainicialmenteosanimais apresentembaixataxaderespostas,ocontatorepetidocomo reforçamentopositivoreduzosefeitosdaincontrolabilidade doschoques(Erbetta,2004).
Interpretaçõesteóricas
Aanáliseteóricadosprocessosenvolvidosnodesamparo aprendidotomouduasdireçõesopostas:umaquedefende que,adespeitodoarranjoexperimental,osujeitoaprende acontrolaroestímulo(pormeiodecontingênciasaciden-tais),eoutraquepropõeoaprendizadodaimpossibilidade decontrole.Aprimeirainterpretaçãoembasaahipóteseda
inatividadeaprendida.Elaconsideraqueodesamparonão éumefeitodiretodaincontrolabilidadedoschoques,mas simfrutodecontingênciasacidentais,queseestabelecemde formanãoprogramadapeloexperimentador,eselecionando baixa atividade motora. Conseqüentemente, se o animal aprendeaficarpoucoativo,eleficamenosaptoaemitira resposta de fuga no teste, caso essa resposta envolva alta movimentaçãocorporal(talcomocorrer,saltaroupressionar abarra).Essaproposiçãoconsidera,portanto,queaincon-trolabilidadenãoatuadiretamentesobreocomportamento, masapenasestabeleceacondiçãopropíciaparaquesurjam contingênciasacidentais.Umapossibilidadeseriaqueagran-demovimentaçãocorporaleliciadapelosprimeiroschoques coincidiriacomacontinuidadedosmesmos,gerandouma
Outroprocessoacidentalpossívelenvolveriareforçamento negativodainatividade.Elafoisugeridapelaobservaçãode queamovimentaçãocorporaltendeasereduzirapósalguns segundosdechoque,possibilitandoqueotérminodochoque coincidacombaixaatividademotora(Glazer&Weiss,1976a, 1976b).Portanto,isoladamenteouemconjunto,essasduas contingênciasacidentaislevariamàinatividade,gerandoo desamparoaprendido.
Emdireçãocontráriaàanterior,ahipótesedodesamparo aprendidopressupõequeoefeitoobtidoéfrutodiretoda impossibilidadedecontroledoambiente:osujeitoaprende quenãoexisterelaçãoentresuasrespostaseosestímulos, aprendizagemessaquesecontrapõeàaprendizagemseguinte queenvolvecontingênciadereforçamento(Maier&cols., 1969;Maier&Seligman,1976).
Deve-seressaltarquea“hipótesedodesamparoaprendido” extrapolaaanálisedasrelaçõesfuncionaisobjetivamenteesta-belecidasnacondiçãoexperimentaleconsideracomocríticos algunsprocessoscognitivos/mentalistas,inferidosapartirdos dados.Segundoseusproponentes(Maier&cols.,1969;Maier & Seligman, 1976), a variável independente crítica para o desamparonãoéaincontrolabilidadeestabelecidaexperimen-talmente,massimaexpectativadesenvolvidapeloindivíduode queelenãopodecontrolaroambiente.Essaexpectativaatuaria emdiferentesníveis,promovendoumconjuntodeefeitosque comporiamodesamparocomoumasíndrome,enãocomoum simplescomportamento,queabarcariatrêstiposdedéficits: motivacional,cognitivoeemocional.Odéficitmotivacional seria,dopontodevistadescritivo,caracterizadopelabaixa probabilidade da resposta no teste. No nível interpretativo cognitivista,ésugeridoqueapósoschoquesincontroláveiso sujeitocriaa“expectativa”dequeoreforçamentonãovem eporissonãotemmotivoparaemitirrespostasnoteste.Por suavez,odéficitcognitivoéobjetivamentecaracterizadopelo fatodoanimalnãoterseucomportamentomodificadopelo reforçamentonegativo:mesmoqueoanimalemitaalgumas respostasdefuganotesteeexperimentequeessarespostaé seguidapelotérminodochoque,seucomportamentonãofica sobocontroledessarelaçãodeconseqüenciação.Segundo ainterpretaçãocognitivistadesseefeito,eledecorredeuma alteração na forma como o sujeito processa a informação relativaànovacontingência.Seriaesse“errodeprocessamen-to”,causadopela“expectativa”deincontrolabilidade,queo levariaanãoregistrararelaçãodedependênciaqueháentre suasrespostaseasmudançasnoambiente.Porfim,odéficit emocional é caracterizado por alterações fisiológicas, tais comomudançasdociclodesonoedeingestãodealimentos, imunossupressão,entreoutras.Nainterpretaçãocognitivista, a“crença”dequeoreforçonãovirá,produzestadosalterados deemoções(ansiedadeedepressão)que,porsuavez,levam aessasalteraçõesfisiológicas.
A hipótese do desamparo tem, portanto, dois níveis de apresentaçãoqueprecisamseranalisadosseparadamente:(1) oníveldescritivo,quedizrespeitoaosdadosexperimentais obtidos, e (2) o nível interpretativo, baseado em processos mentalistasquesãoinferidosdosdadosexperimentais.Oní-veldescritivoébemestabelecidocientificamente,permitindo previsãoecontroledoscomportamentosemestudo.Asinter- pretaçõesmentalistasnãosãoaceitasporunanimidade,prin-cipalmentenaperspectivadobehaviorismoradical(Skinner,
1974).Alémdessadivergênciafilosófica,deve-seconsiderar queocaráterexplicativodadoàsuposta“expectativa”cria umacircularidadedeanálisebastanteindesejávelcientifica-mente:adificuldadedeaprendizageméodadoqueindicaa “expectativa”,eessa“expectativa”éacausadadificuldade deaprendizagem(ouseja,diz-sequeosujeitoapresentao desamparoporquecriouaexpectativadenãotercontrole sobreomeio,esabe-sequeelecriouessaexpectativaporque apresentoudesamparo).Comessascaracterísticas,ahipótese dodesamparopermiteapenasexplicaçõesposthoc:sóse podededuzirodesenvolvimentoda“expectativa”atravésda dificuldadedeaprenderenãopelaexposiçãopuraesimples àincontrolabilidade.Assim,nãoexisteprevisãoderesultado antesdeotrabalhoserrealizado.Resultadosnegativos(apren-dizagemmesmoapósexperiênciacomincontrolabilidade) podemserexplicadossemrefutarahipótese:seosujeitonão apresentouodesamparoéporque,apesardaexperiênciacom incontrolabilidade,elenãodesenvolveua“expectativa”de impossibilidadedecontrole(veranálisedessacircularidade emLevis,1976).
Apesardessespontoscriticáveis,ahipótesedodesamparo temaseufavorofatodeconsiderarqueocomportamento ésensívelàcondiçãodeincontrolabilidade,suposiçãoessa compatívelcomasensibilidadejáidentificadaapequenas variações no contínuo de dependência entre resposta (R) eestímulo(S),descritapelosanalistasdocomportamento (Catania,1998).Dopontodevistalógico,sehásensibili-dade para variações no contínuo de controlabili(Catania,1998).Dopontodevistalógico,sehásensibili-dade (nas diferentes contingências operantes), deve haver também paraacondiçãodeincontrolabilidade.Assim,sobapers-pectivadobehaviorismoradical,oexpurgodomentalismo nahipótesedodesamparoaprendidopodetorná-laútilcomo instrumentodeanálisedosresultadosexperimentais:ava-riávelindependente,incontrolabilidadedoschoques,pode serdefinidaoperacionalmentee,portanto,nãodependede julgamentos subjetivos do experimentador; a emissão da respostadefuga,emfunçãodoreforçamentonegativo,éa variáveldependenteemestudo.Assim,têm-seemmãosas variáveisnecessáriasparasefazeraanálisefuncionaldos comportamentosemitidos,envolvendobasicamenteproces-sosoperanteserespondentes,semsernecessáriofalarem motivação/incentivo/expectativa.
dochoquecontingenteaela,semqueissoaumenteaproba-bilidadefuturadeemissãodessaresposta.Deacordocom essahipótese,ainsensibilidadeaoreforçamentonegativose deveàaprendizagempréviadeausênciaderelaçãoR-S,que éopostaàaprendizagemdefugaqueenvolveumarelaçãode dependênciaentrearespostaeotérminodochoque.Sendo opostasessasaprendizagens,édeseesperarqueaprimeira dificulteaseguinte,produzindoodesamparo.
Essaanálisepermitepreverabaixaatividadegeralque seobservaaofinaldasessãodechoquesincontroláveis,bem comoodesamparonoteste,sem,contudo,vincularumefeito comocausadooutro.Opontocríticoéquenãoháseleção operantenasessãodeincontrolabilidade,condiçãooposta à do teste, que busca selecionar uma classe específica de respostas.Portanto,oprocedimentoempregadonosestudos sobredesamparopermiteconfrontardoistiposdeaprendi-zagens, relativas à incontrolabilidade e à controlabilidade doambiente,sendoasuaordemdeocorrênciacríticaparaa produçãodosefeitosdedesamparooudeimunização.
Ashipótesesdodesamparoaprendidoedainatividade aprendida oferecemprevisõesdeefeitoscontráriosemde-corrênciadealgumasmanipulações,oquepermiteseuteste experimental.Diversosestudosforamrealizadoscomesse fim,amaioriadelesmostrandoresultadoscontráriosàhipó-tesedainatividade.Porexemplo,YanoeHunziker(2000) realizaramdoisexperimentosparaconfrontaressashipóteses, nosquaisavariávelmanipuladafoiograudeatividadefísica requerido pela resposta de fuga no teste. Considerando o propostopelahipótesemotora,seoindivíduoaprendeaficar inativoduranteoschoquesincontroláveis,entãoodesamparo sóocorresearespostadetesteenvolveraltaatividademotora, podendomesmohaverumafacilitaçãodaaprendizagemno casodearespostarequererbaixaatividadeparaseremitida. Aocontrário,ahipótesedodesamparo–quepostulaquea variávelcríticaéaaprendizagemdequeoseventosdomeio nãosãopassíveisdecontrole–permitepreverqueograude atividademotoraexigidaparaemissãodarespostanoteste éirrelevanteparaaocorrênciadodéficitdeaprendizagem. Portanto, os sujeitos expostos aos choques incontroláveis deveriamapresentarodesamparoindependentementedea respostadetesteenvolveraltaoubaixaatividademotora.Nes-seestudo,foramutilizadasduasrespostasdefugadiferentes: “saltar”e“focinhar”(colocarofocinhoemumorifíciona parede).Considerou-sequeerespostadefocinharpoderia serclassificadacomorespostadebaixaatividademotorauma vezque,parasuaemissão,éindispensávelqueosujeitoesteja parado,comocorpovoltadoparaoorifíciodaparedeeo focinhonaalturadomesmo,sendoaúnicamovimentação requeridaadeesticaropescoço,deformaaintroduzirofoci-nhonoorifício.Aocontrário,arespostadesaltarpoderiaser classificadacomodealtaatividademotora,poissuaemissão requerodeslocamentoglobaldosujeitoquedevesairdeum compartimentoechegaraooutro,doladoopostodacaixa. Portanto,oreforçamentonegativodessasduasrespostasse-lecionapadrõesopostosdeatividademotora.Osresultados do primeiro estudo mostraram igual nível de desamparo nostestescomasrespostasdesaltaredefocinhar,confir-mandoaprevisãodahipótesedodesamparoecontrariando oprevistopelahipótesemotora.Nosegundoexperimento, foramtestadasasprevisõessobreoefeitode“imunização”.
Segundoahipótesemotora,oefeitodeimunizaçãodepende-riadacombinaçãoentreograudeatividademotoraexigido pelasrespostasdaprimeiraeúltimasessão,considerandoas sessõesdepré-treino/incontrolabilidade/teste.Searesposta defugadopré-treinorequeressebaixaatividademotorae arespostadefuganotesteenvolvessealtamovimentação corporal(combinaçãobaixa/alta),oprevistoseriaumefeito dedesamparoaprendidomuitoacentuado,contrárioaoefeito deimunização.Nacombinaçãooposta(alta/baixa),oprevisto seriaimunizaçãoacentuada(ouseja,aprendizagemdefugaa despeitodaexposiçãopréviaaoschoquesincontroláveis).Na previsãodahipótesedodesamparoaprendido,aimunização sedariaindependentedessacombinação,poisosujeitoteria aprendidonaprimeirasessãoqueeletinhacontrolesobre oschoques,aprendizagemessaqueo“imunizaria”contra aaprendizagemopostadaincontrolabilidadenasessãode tratamento. Portanto, apenas na combinação baixa/alta as previsõesdiferiamentreessashipóteses.Utilizando,portanto, essacombinação(comasrespostasdefocinhar/saltar),os resultadosmostraramacentuadaimunização,confirmando aprevisãodahipótesedodesamparoaprendido.
Outroexperimentoconfrontouambasashipóteses,sendo sualógicabaseadanaequaçãoquedefineaincontrolabilida-de:p[S/R]=p[S/nR],ondeaprobabilidade(p)doestímulo (S)ocorrerapósumaresposta(R)éigualàsuaprobabilidade deocorrernaausênciadessaresposta(nR).Hunziker(1981) manipulouaocorrênciadeRoudenRduranteoschoques incontroláveis,deformaqueotérminodochoque(S)seguiria umaououtra,operacionalizandoaequaçãoacimaeevitando assupostascontingênciasacidentais.Parafazeresseteste, foiconstruídaumaroda-de-atividadebastanteestreita,quesó permitiaaosujeitoaopçãodecaminhar(R)ouficarparado (nR).Acopladaàrodahaviaummotorquepoderiagirá-la, travá-laoudeixá-lalivre.Quandoomotorgiravaaroda,o ratoeraforçadoacaminhar(R),equandoatravavaorato eraforçadoaficarparado(nR).Nasituaçãoderoda-livre, osmovimentosdarodaeramdeterminadospelosujeito:a emissãodeRfariaarodagirarecomnRarodaficariaimóvel. ConsiderandocomounidadedeRcada¼degirodaroda, comonRaausênciademovimentaçãodaroda(menosque ¼degiro)eotérminodochoquecomooSemestudo,esse equipamentopermitiaamanipulaçãodep(S/R)edep(S/nR).
eroda-livre,sendoqueosdemaisgruposaprenderamfuga, independentementedeteremounãosidopreviamenteexpos-tosaoschoques.Taisresultadosconfirmaramasprevisõesda hipótesedodesamparoaprendido,alémdeteremvalidado oprocedimentoconvencional(equivalenteaoderoda-livre) comoapropriadoparaoestudodaincontrolabilidade,definida pelaequaçãodescrita.
Evoluçãodaspesquisassobredesamparocomanimais
Ao longo de quase quatro décadas de pesquisas, for-mou-seumconjuntoconsideráveldeinformaçõessobreo desamparo aprendido.Alguns dos aspectos investigados apresentam resultados bastante consistentes entre si, mas outrostêmresultadosaindacontroversos.
Dentre os aspectos bem estabelecidos está a generali-dadeentreespécies:alémdeobtidocomsujeitoshumanos, o desamparo aprendido vem sendo obtido com diferentes espécies de sujeitos não-humanos, tais como cães, gatos, ratos,camundongos,pombos,peixes,baratas(verrevisãoem Peterson&cols.,1993).Apesardessaamplageneralidade entreespécies,éimportanteressaltarqueamaiorpartedas pesquisasutilizouratoscomosujeitos.
Tambémsãobemestabelecidasasalteraçõesfisiológicas produzidaspelaincontrolabilidadedoschoques.Alémdas alteraçõesnosníveiscentraisdealgunsneurotransmissores (Weiss, Stone & Harwell, 1970), estudos relataram que a exposiçãoachoquesincontroláveispodetambémalterara temperaturacorporal(Endo&Shikari,2000),produzirace-leraçãonodesenvolvimentodetumoreserebaixamentogeral dosistemaimunológico(Bem-Eliyahu,Yirma,Liebeskind, Taylor&Gale,1991;Laudenslager,Ryan,Drugan,Hyson & Maier, 1983; Mormede, Dantzer, Michaud, Kelley & Moal,1988).
A incontrolabilidade dos choques tem sido apontada comoavariávelindependentecríticanessesestudos(Peterson &cols.1993),emboraaimprevisibilidadedoestímulotam-bémtenhasidosugeridacomopossivelmenterelacionadaa ele(Overmier,1985;Overmier&LoLordo,1998).Contudo, osdadosexperimentaisnãotêmconfirmadoessaúltimahi-pótese(porexemplo,Castelli,2004).Deumamaneirageral, aanáliseda(im)previsibilidadedoschoquestemsidopouco consideradanagrandemaioriadostrabalhospublicadossobre odesamparoatéomomento.
Característicasdoestímulomanipuladotambémjáforam identificadascomocríticasnaproduçãododesamparoem animais.Amaioriadosestudosserestringeaousodechoques elétricosque,comoemoutrosprocessoscontroladosaver-sivamente(Fantino,1973),têmcomopropriedadescríticas suaintensidade,freqüência,duraçãoedensidade(Altenor, Volpicelli&Seligamn,1979;Crowell&Anderson,1981; Crowell,Lupo,Cunninghan&Anderson,1978;Glazer& Weiss,1976ab;Lawry&cols.,1978;Rosellini&Seligman, 1978).Poucasvariaçõesdoestímuloaversivoforamfeitas, todasemestudoscomhumanosqueutilizaramsonsestri-dentesousoluçãodeanagramas(Hiroto&Seligman,1975; Matute,1994).
Afora as características do estímulo, diversos estudos vêmmostrandosistematicamentequeodesamparotambém podedependerdacontingênciautilizadanasessãodeteste.
Ao contrário dos cães utilizados nos primeiros estudos, ratos não apresentaram o desamparo quando testados em umacontingênciadefugaqueexigiadelescorreremparao compartimentoopostoaoqueestavam(Maier,Albin&Testa, 1973).Omesmoseverificousedeleseraexigidaaemissão deumarespostadepressãoàbarra(Seligman&Beagley, 1975).Contudo,quandoseexigiramduasrespostasdecor-rer(razãofixaouFR2)outrêsdepressãoàbarra(FR3), osestudosrelataramdesamparocomratos(Maier&cols., 1973;Seligman&Beagley,1975).Apósessasdemonstra-ções,acontingênciadereforçamentodefugaemFR2para arespostadecorrerpassouaseroprocedimentodeteste padrãoparaestudododesamparoemratos(Peterson&cols., 1993).Contudo,essascontingênciasproduzemresultados bastanteinconsistentesquepodemcomprometeraanálise dodesamparoemratos(Hunziker,1977).Estudosrecentes demonstraramqueaimportânciadaescolhadarespostade testenãoéumameraquestãodeaumentaracontingênciade razãoparareforçamento,massimdeestabelecerclaramente oseucontrolepelasconseqüências.Contingênciasquenão gerampadrãodeaprendizagemdefuganosanimaisingê-nuos (como se verifica em muitos trabalhos publicados), nãosãoadequadasparaoestudododesamparoaprendido (Hunziker,2003).Asupostaausênciadodesamparo(quando sãoutilizadascontingênciassimplesqueexigemumaúnica resposta),nãoseconfirmou,quandoforamtomadasmedidas paragarantiroseucontrolepelasconseqüências:odesampa-rotemsidoobservadoemanimaisutilizando-seumaúnica respostanotestedefuga,quersejaessarespostasaltarou focinhar(Hunziker,1981;2003;Mestre&Hunziker,1996; Yano&Hunziker,2000).
Portanto,estáamplamentedemonstradoqueaexperiên-ciacomaincontrolabilidadedomeioproduzmudançasno organismo,damesmamaneiraquealgumasalteraçõesdo organismo produzem diferenças na forma como o sujeito lidacomaincontrolabilidadedomeio.Querporidentificar ossubstratosfisiológicosdocomportamento,querporiden-tificaroscontextosambientaisquemodificamoorganismo emdiferentesníveis,osestudossobreosefeitosdaincontro-labilidadequeenvolvemvariáveisambientaisefisiológicas têmpermitidoqueseamplienãosomenteacompreensãodo desamparoaprendido,mastambémdocomportamentocomo umtodo.Essetipodepesquisaoferecesustentaçãoempírica paraaasserçãopolêmicadeSkinnerdeque“ ocomporta-mentodeumorganismoésimplesmenteafisiologiadeuma anatomia”(1966,p.1.205).
Aspectoscontroversosnoestudododesamparo
Apesardareplicaçãododesamparoemdiferenteslabora-tórios,comnumerosasespécies,hádeterminadosresultados quesãodivergentes.Umdelesdizrespeitoàreplicabilidade entresujeitos:enquantoMaiereSeligman(1976)relataram quecercadeumterçodosanimaisexpostosachoquesin-controláveisnãoapresentamodesamparo,háestudosque obtiveram desamparo com todos os ratos expostos a esse tratamento (Mestre & Hunziker, 1996;Yano & Hunziker, 2000).
aprendido não é obtido com fêmeas de ratos ou camun-dongos(Calderone,George,Zachariou&Picciotto,2000; Steenberger,Heinsbroek,VanHaaren&VandePoll,1989; 1990), embora diversos estudos tenham demonstrado de-samparoequivalentecomratosmachosoufêmeas(Gouveia Jr, 2001; Hunziker & Damiani, 1992;Yano & Hunziker, 2000).
Ageneralidadedodesamparoparacontextosapetitivos tambéméumfatordediscordância.Estímulosapetitivos,tais comoalimentoouágua,ministradosnotratamentoe/ouno teste,foramutilizadosemalgumaspesquisas,comresultados contraditórios(Calef&cols.,1984;Capelari&Hunziker, 2005;Enberg,Welker,Hansen&Thomaz,1972;Ferrandiz &Vincent,1997;Job,1988,1989;Oakes,Rosenblum&Fox, 1982;Rosellini,1978).Ouseja,atéomomento,nãosepode afirmarseodesamparoocorreemcontextosqueenvolvam estímulosquenãosejamaversivos.
Os efeitos de drogas antidepressivas (principalmente, daimipramina)têmsidodescritosdeformadiversa:alguns estudoscomimipraminaindicamqueodesamparosóde-sapareceapóstratamentocrônico,masnãoapósumaúnica administraçãodadroga(Petty&Sherman,1979;Sherman&
cols.,1982);contudo,resultadoscontráriosforamdescritos, mostrandoausênciadedesamparoemanimaispreviamente tratadoscomchoquesincontroláveisquereceberamumaúni-cainjeçãodeimipramina(Graeff&Hunziker,1988;Gouveia Jr,2001;Hunziker,Buonomano&Moura,1986).
Quantoaoenvolvimentodosistemaopióidenodesam-paro,foidescritoqueahipoalgesiasóseverificavaquandoo testeerarealizadoapósare-exposiçãodosanimaisachoques (Jackson, Maier & Coon, 1979; Maier, Drugan & Grau, 1982).Contudo,Hunziker(1992)demonstrouhipoalgesia opióide decorrente dos choques incontroláveis, sem essa re-exposiçãoaoschoques.
Porfim,sãotambémdiscordantesosresultadosrelativos aosefeitosdaliberaçãodeumestímuloneutroapóstérmino doschoquesincontroláveis:enquantoalgunsestudosapon- tamqueesseprocedimentoimpedeaocorrênciadodesam-paro,produzindoochamado“efeitofeedback”(Jackson& Minor,1988;Maier,Jackson&Tomie,1987;Volpicelli,Ulm &Altenor,1984),outrosdescrevemqueessetratamentofoi inócuo,umavezqueodesamparosedeuapesardosestímulos pós-choque(Damiani&Hunziker,1996).
Algunsdessesresultadoscontraditóriospodemserdecor- rentesdeumabasegenéticaquedeterminediferentessensibi-lidadesaotratamentocomchoquesincontroláveis,conforme sugeridorecentemente(Caldarone&cols.,2000).Contudoé tambémprovávelqueessasdiferençassedevam,aomenosem parte,aquestõesmetodológicasquetêmsidonegligenciadas emdiversosestudos,queseapresentamcomimprecisõesno delineamentoexperimental(Hunziker,2003).
Odesamparoaprendidocomomodeloanimalde depressão
A proposição do desamparo como um modelo animal de depressão (Seligman, 1975) foi motivada por algumas similaridadesentreocomportamentodepessoasdeprimidas eocomportamentodosanimaisquepassavampeloschoques incontroláveis. Essas similaridades foram apontadas na
sintomatologia, etiologia, prevenção e cura da depressão/ desampro. Por exemplo, a passividade dos animais frente aoschoques,noteste,poderiaseassemelharàpassividade do indivíduo deprimido, que não atua sobre o seu meio. Quanto à etiologia, sabe-se que eventos traumáticos, fora docontroledosujeito,podemserdesencadeantesdealguns tiposdedepressãohumana,bemcomoosãonodesenvol-vimentododesamparoemanimais(Willner,1984;1985). Alémdisso,alteraçõesbioquímicasencontradasempacien-tesdepressivosforamtambémencontradasemanimaisque apresentaramodesamparoaprendido(Willner,1991).Por suavez,aprevençãoeotratamentoclínicopoderiamterum paralelocomportamentalnosestudossobre“imunização”e “reversão”,alémdoparalelodafarmacoterapia,dadoque drogasquetêmcomprovadoefeitoantidepressivoemsujeitos humanostambémimpedemoaparecimentododesamparo emanimais(Petty&Sherman,1979).Essesresultadostêm justificadoousododesamparo,empesquisascomanimais, paraidentificaçãodenovosfármacoscompotencialantide-pressivoemhumanos(Willner,1985;1991).
Essa suposta representatividade da depressão humana deuumgrandeimpulsonainvestigaçãododesamparo,esta-belecendoumaatrativaponteentreolaboratórioeaclínica (Maier&Seligman,1993;Peterson&cols.,1993;Willner, 1984,1991).Alémdoaspectodefarmacoterapia,aanálisedo comportamentodepressivotambémtemsidoatendidacom essesestudos.Porexemplo,umaspectocríticododesamparo éareduçãodasensibilidadeàscontingênciasdereforçamento emvigor,ouseja,aalteraçãodeumdosmecanismosconsi-deradosbásicosnaadaptaçãodosindivíduosaoseuambiente (Skinner,1981).Assim,acompreensãodeumprocessoque enfraqueceapossibilidadedeseleçãopelasconseqüências assumeimportânciacríticaparaacompreensãodocompor-tamento,especialmentedaquelesconsideradospatológicos, quesãosinônimosdemáadaptaçãodoindivíduo.Funcio-nalmente,seconsiderarmosqueapessoadeprimidasofrede faltadereforçadores(Ferster,1973),podemosdizerqueo desamparo,porreduzirasensibilidadeaoreforçamento,pode serpotencialmenteumbommodeloanimaldedepressão. Nolaboratório,essaperdadafunçãoreforçadorapodeser indicadapelanãoalteraçãodaprobabilidadedarespostade fuga,apresentadanotesteporalgunssujeitos,conformejá relatado.Nadepressãohumana,afaltadereforçadorespode seranalisadapelo“desinteresse”,muitasvezesverbalizado pelosindivíduos,relativoaaspectosdoseuambientequejá foramreforçadores,oumesmopelafaltadafunçãoreforça-doradealgunsestímulos,que,emboraocorramcontingentes àsrespostas,nãoasmantém.
psicopatologia,setransformaemaplicaçãosimplista,que nãoproduzavançodoconhecimento.
Perspectivasdeinvestigação
Deumamaneirageral,aperdadorigormetodológico, aliadaadiversasinterpretaçõescognitivistasdoefeito,afas-touosanalistasdocomportamentodoestudododesamparo (Hunziker,1996).Issopodeserconstatadonaausênciade trabalhossobreotemanosperiódicosmaisrigorososdaárea, talcomooJournaloftheExperimentalAnalysisofBehavior. Aconseqüênciadessaexclusãofoiqueodesamparopassou a ser investigado por pesquisadores não interessados nas questõesteóricasemetodológicasenvolvidasnocomporta-mentoemestudo.Comisso,perdemostodos:porumlado, osanalistasdocomportamento,quedeixaramdeladoum delineamentoexperimentalricoparaoestudodocompor-tamento, e, por outro, a comunidade científica, repleta de estudosmalconduzidosmetodologicamentequecriarama ilusãodeumfenômenomuitoestudado,masqueé,defato, poucoconhecido.
Háaindamuitoparaserinvestigadosobreodesamparo aprendido, com procedimentos confiáveis e generalizações cuidadosas.Suavinculaçãocomadepressãohumanatorna, sem dúvida, bastante desafiante o estudo do desamparo. Porém,asanálisesprecisamsersólidas,baseadasemdados experimentais.Porexemplo,écríticoquesetenhamaisbem estabelecidaarelaçãoentreoscontextosaversivoeapetitivo, tantonaproduçãododesamparocomodasuaimunização. Essesdadospodemtrazerinformaçõesqueajudemnacom-preensãodaetiologia,tratamentoeprevençãododesamparo e, talvez, da depressão humana. Será esse efeito/patologia determinadoapenasporcontextosaversivos?Asuareversão podesedarcomtratamentosbaseadosemreforçamentopo-sitivo?Étambémrelevantequeseexplorecomoorepertório comportamentalpréviointerferenasensibilidadeaodesen-volvimentododesamparo.Seráquehistóriasdereforçamento quegeramdiferentespadrõescomportamentais(taiscomo, variabilidadeourepetição)podeminfluenciardiferencialmente ofuturodesenvolvimentododesamparo?Outrofatorcrítico éograudesociabilidadedossujeitos:indivíduoscriadosem grupoouisoladamentereagemigualmenteaeventosaversivos incontroláveis? Seustatus social no grupo de convivência (dominanteousubmisso),podeserumfatorqueinfluenciano desenvolvimentododesamparo?Enfim,perguntasnãofaltam. Oqueessaáreaprecisaédeestudosdesenvolvidoscomrigor metodológicoeconceitual.Semisso,arelaçãododesamparo comadepressãoclínicatorna-semeraespeculação.Cabeaos analistasdocomportamentoassumiressaempreitada.
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Recebidoem28.06.2004 Primeiradecisãoeditorialem31.01.2005 Versãofinalem03.03.2005