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Intimidade e mercado: o cuidado de idosos em instituições de longa permanência.

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Inimidade e Mercado:

o cuidado de idosos em

insituições de longa

permanência

Analía Soria Baista1 Anna Bárbara Araújo2

Resumo: Este arigo discute a mercanilização da vida ínima, isto é, o cuidado de pessoas idosas em Insituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) re

-alizado por cuidadoras, em troca de um salário, no Brasil. O estudo, baseado em etnograias, observação paricipante, entrevistas com cuidadoras, pessoas idosas e dirigentes de ILPIs do Distrito Federal, focou no trabalho das cuidadoras abordado em seus dinâmicas internas, ou seja, nas interações com as pessoas idosas e na sociabilidade das mulheres, tradicionalmente construída nas famí

-lias. Analisa o habitus feminino de cuidado, enquanto disposições afeivas (emo

-ções e senimentos) e morais adquiridas pelas mulheres nas famílias e recriadas nas interações entre as cuidadoras e os idosos, observando as suas especiicida

-des nas insituições asilares. O estudo apontou que a imposição de uma ordem do trabalho de cuidado taylorizada nas insituições estudadas instrumentaliza as aividades das mulheres cuidadoras, limitando a realização do cuidado ade

-quado, que não se resume na competência técnica da cuidadora, mas exige um complemento de afeividade e moralidade.

Palavras-chave: Inimidade, Mercado, Envelhecimento, Cuidado, Habitus, Afeto.

1. Introdução

O

arigo discute a mercanilização da vida ínima (cf. HOSCHSCHAILD, 2008), isto é, o cuidado das pessoas idosas da família realizado por mu

-lheres cuidadoras em insituições, em troca de um salário. O estudo foca nas práicas afeivas (emoções e senimentos) e morais do trabalho de cuidado em Insituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) localizadas no Distrito Federal do Brasil. As ILPIs são residências coleivas que atendem tanto pessoas idosas em situação de carência de renda e/ou de família, quanto aquelas com diiculdades para o desempenho das aividades diárias, que necessitam de cui

-dados prolongados (CAMARANO & KANSP, 2010, p.234).

Recebimento: 09.08.2010 Aprovado: 05.02.2011 1. Doutora em So

-ciologia, professo

-ra do Insituto de Ciências Sociais-ICS- Departamento de Sociologia da

Universidade de

Brasília e pesqui -sadora de dois

Nú-cleos do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares-CEAM da UnB:

Núcleo de Estudos

e Pesquisas sobre Gênero, Violência e Direitos- NEPEM e

Núcleo de Estudos sobre Violência e

Segurança- NEVIS. Também forma

parte da

coordena-ção do Laboratório Trabalho, Afeto e Cultura - TAC, do Departamento de Sociologia. Áreas de interesse: traba

-lho, cultura, segu

-rança pública. Uli

-mas publicações • SORIA BATISTA, Analía. Estado e Controle nas Pri

-sões. In: Cadernos CRH, Dossiê: Socio

-logia Pública, 2009. • SORIA BATISTA, Analía. Os Outros.

Ensaios sobre

iden-idade, violência e Exclusão. 1. ed. Bra

-sília: Verbis, 2010. v. 500. 96 p. • SORIA BATISTA Anália et. alii. En

-velhecimento e De

-pendência: Desaios para a Organização da Proteção So

-cial. 1. ed. Brasília: Ministério da Pre -vidência Social/

Se-cretaria de Políicas de Previdência So

(2)

Tradicionalmente, o cuidado das pessoas idosas foi realizado na inimidade fa

-miliar. Práicas de reciprocidades e solidariedades construídas entre as diferen

-tes gerações da família incumbiam os mais jovens e, entre eles, especiicamente as mulheres, da realização dos cuidados. Essas aividades, invisíveis e discretas, da perspeciva da coleividade, e experimentadas como proteção naturalizada pelos membros do grupo familiar não eram consideradas “trabalho”.

A separação entre as esferas privada e pública resultou em que as relações de poder e econômicas fossem atribuídas apenas ao espaço público (cf. MOLLER OKIN, 2008), contribuindo, desse modo, para a compreensão das dinâmicas fa

-miliares como sendo “isentas”, em outras palavras, invisibilizou os efeitos po

-líicos e econômicos da dinâmica sexuada de reciprocidades e solidariedades familiares, no marco da qual podem ser compreendidas as disposições afeivas e morais das mulheres para o cuidado.

A mercanilização do cuidado dos mais velhos pode ser compreendida no marco do processo de precarização das relações familiares3. Autores como Bauman (2001, 2004) e Beck (2006) apontam que, com a desariculação do Estado de Bem-Estar Social e a lexibilização da economia, tem lugar o desmembramento da família nuclear e do mito moderno que foi construído em torno dela e que a vinculava ao amor perdurável, à proteção e ao cuidado dos vulneráveis, à esta

-bilidade emocional, ao projeto de vida em longo prazo e à idelidade. A precari

-zação dos vínculos familiares se apresenta como experiência afeiva combinada de insegurança (das condições de vida, dos meios de subsistência), incerteza (no que diz respeito à estabilidade presente e futura) e desproteção (do próprio corpo, das pessoas, entre outros).

A nova situação não signiica, somente, uma ruptura na dinâmica das reciproci

-dades e solidarie-dades familiares – isto é, as ilhas não cuidarão de seus pais, as netas não cuidarão de suas avós ou de seus avôs, ou as mais jovens da família de qualquer outro familiar – mas, ao mesmo tempo, que as disposições afeivas e morais incorporadas historicamente pelas mulheres na socialização familiar adquirem a feição de mercadoria, assumindo valor econômico no espaço do ínimo e nas empresas e insituições que cuidam das pessoas idosas.

O recurso analíico do conceito de habitus feminino de cuidado implica

consi-derar que as disposições afeivas e morais do cuidado dos mais velhos, incorpo

-radas nas famílias pelas mulheres, no marco da desigualdade de gênero, serão recriadas por estas nas práicas do cuidado de pessoas idosas insitucionaliza

-das, que não pertencem às suas famílias e, em troca de um salário, isto é, no contexto da mercanilização da inimidade.

Assim, a construção quoidiana da inimidade, nas interações entre as

3. Na sociologia contemporânea, a precarização cons

-itui uma realidade para além dos mu

-ros dos espaços da produção econô -mica propriamente

dita, caracterizando relações inscritas na vida social em geral. 2. Aluna do Curso de Ciências Sociais, ha

-bilitação em Socio

-logia, do Insituto de Ciências Sociais

da Universidade de

Brasília e pesquisa

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cuidadoras e as pessoas cuidadas nas insituições leva a marca do valor uni

-versal das mercadorias, o dinheiro, de forma peculiarmente desvalorizada, em função dos baixos salários das cuidadoras e das condições de trabalho precárias. O cuidado, feixe de disposições afeivas e morais, transigurado em mercadoria desvalorizada, é feiche que oculta e revela o savoir-faire do ínimo, envolvido e produzido historicamente na aprendizagem social dos cuidados pelas mulheres.

É comum que o cuidado das pessoas idosas fragilizadas seja pensado social

-mente como aividade que toda mulher pode realizar, isto é, como aividade naturalizada ou como trabalho que exige um saber especializado e inimamente vinculado às aividades da enfermagem. Em geral, tem sido uma aividade pou

-co estudada pelos cienistas sociais Observamos que a maior parte dos estudos sobre cuidados vem da área médica e da enfermagem.

Qual é a construção social mais comum sobre as mulheres que cuidam de pes

-soas idosas nas insituições brasileiras? Em geral, considera-se que se trata de mulheres pobres, despreparadas e, talvez, propensas à violência, que precisam ser monitoradas, ou técnicas em enfermagem ou enfermeiras, bem capacitadas, mas bastante desumanizadas.

Para uma mirada sociológica sobre as aividades de cuidado das pessoas idosas, é necessário entender a natureza do trabalho de cuidado, através de suas roi

-nas diárias, da sociabilidade das cuidadoras, das relações entre as cuidadoras e as pessoas idosas, e entre as cuidadoras e os familiares das pessoas insitucio

-nalizadas. E, para evitar os riscos de uma compreensão distanciada do trabalho de cuidado, enquanto disposições afeivas e morais incorporadas pelas mulhe

-res, não resulta supérluo cuidar e/ou ter cuidado de pessoas idosas ísica e/ou mentalmente fragilizadas, tê-las alimentado, banhado, trocado suas roupas e escutado.

O arigo está estruturado da seguinte forma. Discute-se uma analíica do tra

-balho de cuidado, os métodos de pesquisa uilizados, os moivos do ingresso das pessoas idosas nas insituições estudadas e as caracterísicas etnográicas dessas insituições. Em seguida, analisa-se quem são as mulheres cuidadoras estudadas, do ponto de vista sociodemográico e proissional; as relações entre os cuidados e a ordem taylorista do trabalho que prevalece nas insituições e as evidências sobre a recriação do habitus feminino de cuidado nas insituições, considerando as relações entre o afeto, a moral e o poder nas interações quo

-idianas entre as mulheres cuidadoras e as pessoas idosas cuidadas. Na seção dedicada às considerações inais, discuimos a recriação do habitus feminino de cuidado no contexto de sua mercanilização.

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Em geral, as mulheres incorporam habitus de cuidado das pessoas mais frágeis, isto é, disposições práicas, afeivas e morais não conscientes, que possibilitam o cuidado dos outros. A socialização familiar que insitui as mulheres como as principais cuidadoras das pessoas vulneráveis, com todas as obrigações e sacri

-ícios que isso implica para elas, inscreve-se de forma durável em seus corpos e crenças. O habitus produz práicas individuais e coleivas segundo esquemas engendrados pela história, garanindo, desse modo, a presença aiva das experi

-ências passadas que, depositadas em cada organismo sob a forma de esquemas de percepção, de pensamento e de ação, tendem, de forma mais segura que todas as regras e que todas as normas explícitas, a garanir a conformidade das práicas e sua constância ao longo do tempo (BOURDIEU, 2009, p. 90).

Para compreensão do habitus feminino de cuidado nas ILPIs, consideramos as condições sociais de sua ação. As disposições afeivas e morais das mulheres transformaram-se em mercadoria, isto é, consituem um serviço prestado pelas mulheres cuidadoras em troca de um salário. As interações entre as cuidadoras e as pessoas idosas, caracterizadas por status desiguais que favorecem às cuida

-doras, são moldadas por determinadas prescrições. De fato, a prestação do ser

-viço é regulada e moldada pelas normas do contrato de trabalho assalariado4, que estabelece os deveres e direitos das cuidadoras; pela ordem do trabalho taylorista, que organiza os métodos e tempos nas aividades de cuidado; e pelo

Estatuto do Idoso5, que versa sobre os direitos das pessoas mais velhas.

O trabalho de cuidado diz respeito a um conjunto de apoios que a cuidadora precisa oferecer à pessoa idosa, no momento do banho, da alimentação, da locomoção, entre outros. Para realizar esses apoios, a cuidadora necessita de esperteza técnica, sobretudo quando tem que cuidar de pessoas com limitações funcionais severas. Essa esperteza, que diz respeito a como lidar com o corpo do outro, inclui outros saberes que permitem o reconhecimento dos cheiros, dos semblantes, das temperaturas, das posturas corporais, dos ritmos respiratórios, das dores que revelam o bem-estar ou mal-estar das pessoas. Mas o trabalho de cuidado é mais do que isso. A cuidadora tem que tocar no corpo da pessoa cuidada, para proceder à higiene ou aplicar curaivos; tem que trocar fraldas, entrando em contato visual e olfaivo com a urina e os excrementos da pessoa cuidada. O conjunto dos aspectos, que tornam o trabalho de cuidado dos ido -sos um dirty work, um trabalho sujo (cf. TWIGG, 2000)6, demanda da cuidadora

discrição, tato, consideração pelo outro, compaixão, aspectos que se traduzem em estratégias empregadas pelas cuidadoras nas interações do trabalho de cuidado. Há, pois, um savoir-faire do ínimo no trabalho das cuidadoras, saber complexo incorporado, que se adquire, ao mesmo tempo em que se revela, na práica social que lhe dá senido.

4. A principal norma legislaiva brasileira referente ao Direito do Trabalho é a Con

-solidação das Leis do Trabalho (CLT). 5. O Estatuto do ido

-so estabelece, por lei, os direitos dos idosos, fazendo-os

plenamente

reco-nhecidos na socie -dade

contemporâ-nea. Trata-se da lei n. 10741, de 1º de outubro de 2003,

sancionada e

assina-da pelo Presidente da República junto à Subcheia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil. Nesse Estatuto são abor -dados os pontos em

que os direitos dos

idosos devem ser

garanidos, tal qual a

prioridade no

aten-dimento de saúde, transporte coleivo gráis e garanias

contra violências e

abandonos, com pe

-nalidade de prisão para quem praicar tais atos.

6. A categoria de

dirty work foi ela

(5)

As cuidadoras possuem disposições afeivas e morais para o cuidado dos outros adquiridas na socialização familiar. Contudo, as mulheres não estão preparadas do mesmo modo para o trabalho de cuidado, o qual não pode ser considerado apenas como moral de bons senimentos. As disposições afeivas (emoções e senimentos) das mulheres cuidadoras podem se expressar no amor, na discri

-ção, no temor, na paciência, no tato, na piedade, na devoção; ou no resseni

-mento, no ódio, na inveja, no nojo, na violência psíquica e ísica. As disposições morais do trabalho de cuidado, produtos da dinâmica sexuada de solidarieda

-des e reciprocida-des familiares, supõem sempre, em alguma medida, a entrega sacriical das mulheres do grupo. A viabilização do grupo familiar, enquanto tal, demanda um contrato luído entre seus membros, o que na práica os produz ora como sacriicantes, ora como víimas (cf. HUBERT & MAUSS, 1981). O sa

-criício do cuidado dos mais velhos pelas mulheres da família constrói o senso de proteção do grupo. E é nesse senido que pode restaurar os laços afeivos que foram aingidos pelos percalços da convivência familiar ou, ao contrário, ir acompanhado de práicas perversas, produzindo maior sofrimento nos en

-volvidos. No trabalho de cuidado mercanilizado, as disposições morais podem manifestar-se no senso do dever e de responsabilidade da cuidadora, na abne

-gação ao trabalho, no sacriício, ou a cuidadora pode ser indiferente e irrespon

-sável com relação às necessidades da pessoa idosa (cf. ZALAZAR, 2001, p.117, apud. PALOMO, 2008, p.22).

Por úlimo, para analisar as interações entre as cuidadoras e as pessoas idosas, nos orientamos pela iguração dinâmica de estabelecidos e outsiders (ELIAS & SCOTSON, 2000). Os estabelecidos consituem grupos sociais coesos portado

-res de uma autoimagem inlacionada de honra, p-resígio e poder com relação a outros grupos menos coesos, considerados pelos estabelecidos como dei

-citários do ponto de vista dessas qualidades e, portanto, inferiores. Em nosso caso, as cuidadoras representam o grupo social consituído por mulheres jovens e adultas saudáveis – e as pessoas idosas estão fora desse grupo. Deter-nos-emos, neste arigo, sobre as estratégias afeivas e morais que reproduzem e, sob determinadas condições, perturbam a assimetria entre quem cuida e quem é cuidado.

3. Métodos de Pesquisa

Desenho de pesquisa

Selecionamos um desenho qualitaivo de pesquisa para ideniicar melhor a re

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ILPIs do Distrito Federal do Brasil. O estudo foi baseado em etnograias, obser

-vação paricipante, entrevistas com cuidadoras, pessoas idosas e dirigentes de ILPIs.

Coleta dos dados e análise

Foram pesquisadas quatorze (14) das 15 (quinze) ILPIs formalmente cadastra

-das no Distrito Federal. Realizou-se etnograia em duas (2) dessas insituições. A observação paricipante implicou o engajamento num curso para cuidadoras e nas aividades práicas do curso realizadas nas ILPIs. Ainda, a práica do trabalho voluntário nas insituições possibilitou auxiliar no cuidado das pessoas idosas e observar o relacionamento das cuidadoras e das pessoas idosas com os familia

-res, durante os inais de semana. No total, foram cinquenta entrevistas (50), cara a cara, realizadas na privacidade dos estabelecimentos e que duraram, em mé

-dia, uma hora, abarcando cuidadoras (25), pessoas idosas (11) e dirigentes das insituições (14)7. As entrevistas seguiram um esquema semiestruturado, mas os

paricipantes foram encorajados a apontar aspectos importantes para eles. An

-tes de realizar esta pesquisa, uma das autoras deste arigo, já inha passado pela experiência do cuidado familiar de pessoas idosas fragilizadas e doentes em fase terminal e, nesse senido, o trabalho aqui apresentado está também baseado nessas experiências pessoais. As entrevistas foram gravadas com permissão dos entrevistados e completamente transcritas. As transcrições foram lidas repei

-das vezes e foi feita a análise de conteúdo.

4. Resultados da Pesquisa e Discussão

4.1. Precarização dos vínculos familiares e insitucionalização da pessoa

idosa

Antes que as práicas da insituição total (GOFFMAN, 2003) operem seu efeito deletério sobre a idenidade das pessoas idosas, o fato delas serem privadas de suas condições usuais de vida, pela decisão de insitucionalização (os ilhos ou familiares decidem internar a pessoa idosa ou ela mesma o decide), na maior parte das vezes, indica a realidade da precarização dos vínculos familiares. E essa ruptura na ordem geracional das reciprocidades e solidariedades do grupo consitui sintoma da decadência do mito que permiiu, durante a modernidade sólida (BAUMAN, 2001), o cuidado das pessoas na inimidade dos lares.

Por vezes, acompanham a insitucionalização reclamações dos familiares so

-bre o comportamento pretérito da pessoa idosa, um pai experimentado como ausente, distante e/ou violento pelos seus ilhos, por exemplo, ou uma mãe considerada por eles como castradora. Mas o mito, quando presente, clausura

7. O trabalho de campo que serviu de

base para

elabora-ção do presente ar

-igo é parte de uma pesquisa realizada em ILPIs do Distrito Federal e de Goiás, cujos objeivos fo -ram mais amplos e

diversiicados. Essa pesquisa, initulada “Envelhecimento das Mulheres: Prái

-cas Insitucionais de

Violência e

Abando-no”, foi inanciada pela Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP e realizada

durante os anos de

(7)

a possibilidade de desisir da proteção dos fragilizados em função do julgamen

-to de seus comportamen-tos individuais. O pai de caráter duro, a mãe repres

-sora, as preferências dos pais no que diz respeito a algum dos ilhos ou dos avós com relação a algum dos netos ou netas não afetarão os deveres morais do cuidado. Quando esses comportamentos individuais se tornam, não apenas, alvo do julgamento pelos membros da família, mas também jusiicações para o rompimento do contrato de reciprocidades e solidariedades familiares, é por

-que o mito deixou de funcionar, isto é, de proporcionar a energia necessária para que os comportamentos individuais dos membros da família sejam por todos desconsiderados e para que o cuidado dos mais velhos e doentes seja feito, principalmente, pelas mulheres, por amor e/ou dever, e insigado pelos senimentos de abnegação sacriício e culpa.

Observaram-se pessoas idosas que ingressaram por moivação própria nas ILPIs. Pessoas sem familiares ou que estão na insituição devido às transgressões mo

-rais de seus ilhos ou netos, experimentadas como desrespeito. Mas, na maior parte das vezes, a pessoa idosa foi levada contra sua vontade ou depois de um período de intensas negociações com os familiares. Não raro, essas negociações implicam em trocas confusas entre os familiares e a pessoa idosa, sobretudo quando esta apresenta algum nível de Alzheimer.

Nessas situações, a adaptação da pessoa exige o esforço conjunto dos dirigen

-tes da insituição e da família. Observamos casos de pessoas idosas levadas à insituição contra a sua vontade, sendo submeidas a um período de adaptação, com a presença mais permanente dos familiares, e de convencimento sobre a necessidade de icar no estabelecimento. Frequentemente, a pessoa idosa mos

-trava aitude suplicante, chorando e pedindo para voltar para casa. Em geral, a reirada dos ilhos gerava agitação ao idoso, que se locomovia intensamente, indo de um lugar ao outro das dependências da insituição. Nesses casos, era alvo de repreensões carinhosas por parte das cuidadoras, mediadas por discur

-sos relaivos à importância de compreender as necessidades do grupo familiar e os beneícios de icar na insituição com outras pessoas da mesma idade.

Os dirigentes das insituições e os familiares das pessoas idosas coincidem no que diz respeito à necessidade de insitucionalização, apontando para as limi

-tações do cuidado nas residências, a falta de espaço nas casas e apartamen

-tos, as roinas familiares de trabalho, os conlitos entre as pessoas idosas e os netos, entre outros. Sempre o discurso insitucional é dirigido no senido de amenização do senimento de culpa dos familiares. A insituição está aí para acolher o conjunto dos desprotegidos: os ilhos e os pais, os netos e os avós, os sobrinhos e as ias. Por outro lado, quem cuida tem uma aitude mais críi

-ca com relação aos familiares, apontando, em geral, para seus comportamen

(8)

4.2. Apontes sobre o Novo Lar dos Idosos

Em geral, as ILPIs se localizam na periferia das cidades ou nos setores de chá

-caras, mas também existem casos de localizações centrais, como no Plano Piloto da cidade de Brasília. Não se observou um padrão de construção ca

-racterísico das ILPIs, mas parece recorrente a uilização de casarões ou cons

-truções feitas para outros ins que foram adaptadas às novas necessidades. Há diferentes ipos de ILPIs e estas recebem nomes diferentes. Há os abri

-gos, as vilas, os lares, entre outros. As insituições mencionadas como vilas pretendem traduzir o convívio comunitário, os lares, o aconchego da família.

Nas ILPIs, ingressam pessoas idosas com e sem problemas de limitações fun

-cionais, o que determina as especiicidades que assume o trabalho de cuidado. Observou-se que, nas insituições que albergam pessoas idosas sem limitações funcionais, o cuidado se concentra mais na solução dos conlitos interpessoais e familiares dos(as) idosos(as). Nas que albergam pessoas com limitações funcio

-nais, o cuidado também é medicalizado.

As adaptações feitas nos casarões ou ediícios onde funcionam as ILPIs e o uso dos espaços traduzem a ideia de coleivo e inluenciam no processo de mor

-iicação do eu (cf. GOFFMAN, 1999), na medida em que exigem adaptações performáicas para as pessoas idosas, obrigadas à convivência com quem não escolheram. De fato, toda insituição possui uma área social desinada à reunião dos idosos em torno de um televisor, quase sempre anigo. Há indícios de que o programa televisivo não se escolhe e, em geral, corresponde à TV Globo. Na parede das áreas sociais existe um mural onde se colocam mensagens diversas, algumas indicam o mês de aniversário das pessoas idosas, apontando que os festejos são coleivos. Há, também, poesias que enaltecem a velhice e a vida. Em uma insituição, observamos mensagens apontando para a necessidade de lutar contra os estereóipos da velhice, airmando “o idoso não é feio” ou “o idoso tem desejo sexual”. Há fotograias dos eventos anuais, como aniversários, dia do idoso, festas juninas, entre outros. Esses anúncios são coloridos e com desenhos infanis, que lembram uma sala de creche ou dos primeiros graus de escolaridade.

Assim, a área social traduz um ideal de convivência comunitária na insitui

-ção, na medida em que há referências amorosas a seus membros e fotogra

-ias que exaltam a alegria referida às comemorações ípicas, passeios e ou

-tros eventos. Essa preservação, em imagens, das cerimônias insitucionais contrasta com o comportamento roineiro das pessoas que usam as áreas sociais. Nesses espaços, por vezes, observamos que pessoas dormitam, ou

-tras icam despertas e quietas, sem praicamente fazer comentários. Eventu

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Algumas das poucas falas ouvidas permiiam perceber algum ipo de conlitua -lidade8. Observamos que o silêncio na sala social pode ser relaivo ao estado de

saúde das pessoas que permanecem reunidas. Há insituições que albergam um número signiicaivo de pessoas com limitações mentais e/ou ísicas, impossi

-bilitadas de se locomoverem. Nesses casos, as pessoas são colocadas em semi

-círculo, recostadas ou sentadas em poltronas em torno do televisor. A maioria delas dormita com os lábios entreabertos e respirando com calma, outras per

-manecem acordadas com o olhar ausente. As cuidadoras as observam de um canto da sala, por vezes conversando entre elas.

Um espaço socialmente valorizado nas insituições é o jardim, sempre bem gra

-mado e enfeitado com lores de cores variadas e com palmeiras, fruíferas e ár

-vores ípicas da região. Nas insituições geridas por religiosas católicas, pode ha

-ver construções de pedra no formato de grutas que guardam imagens de santas, com fontes de onde jorra água e vasos com lores. Nos jardins, as cuidadoras organizam brincadeiras para provocar a interação entre as pessoas idosas, tanto quanto sessões de massagens relaxantes e/ou para aivar a circulação das per

-nas. Em algumas insituições, observamos um espaço desinado a aividades de artesanato, sendo que a produção das pessoas idosas pode ser comercializada.

É comum as insituições possuírem quartos coleivos, que comportam entre duas e quatro camas de solteiro. As camas de madeira não maciça têm seus lençóis, almofadas com fronhas e cobertores. Algumas pessoas idosas perma

-necem deitadas durante o dia. Nem todos os quartos possuem janelas. Nas pa

-redes, pode haver fotos dos familiares. Em geral, os armários são da cor mar

-rom e seus espaços internos se desinam às roupas das pessoas idosas. Nesses, há lugares especíicos para colocar a roupa de cada pessoa, ideniicados com seus nomes. Às vezes, existem cômodas comuns uilizadas para colocar outros pertences, como bonecas ou imagens religiosas. Não parece ser comum haver quartos individuais; nos casos em que existem, resultam mais caros. Os banhei

-ros possuem cadeiras para sentar, chuveiro alto e um vaso sanitário. Há poucos espelhos.

Nos lembretes de aniversário, como os souvenirs e fotograias, nos quadros com frases “ediicantes” sobre o envelhecimento, nas fotos dos familiares nos quar

-tos, nos jardins coloridos, entre outros, paira a ausência contraditória dos laços familiares. A construção material generosa do aconchego exacerba essa per

-cepção. Ausência e visibilidade dos laços familiares consituem a teia complexa sobre a qual se inscrevem as práicas afeivas e morais do trabalho de cuidado mercanilizado. Os objetos, as plantas, as cuidadoras, de maneira contraditória, airmam e negam o real ou imaginário aconchego pretérito do lar de cada um.

8. Por exemplo, uma senhora idosa ganhou, de uma cui

-dadora, uma bone

-ca e, a parir desse momento, começou a icar durante o dia

inteiro com ela no

colo. Uma outra a criicava aduzindo que não inha mais

idade para brincar

(10)

4.3. Mulheres Cuidadoras: quem são elas?

Nas ILPIs, quem cuida é mulher, muito embora em alguns estabelecimentos se registre a presença de homens contratados para ajudar na movimentação das pessoas com diiculdades de locomoção, mencionados como “circulantes”. Isso porque o cuidado de pessoas idosas dependentes exige considerável esforço í

-sico, como levantar a pessoa, irá-la da cama, entre outros. Quando há ausência de homens, as mulheres assumem essa função colaborando entre si.

As mulheres cuidadoras têm entre 25 e 50 anos e, em sua maioria, são casa

-das. Inseridas em um ambiente familiar, convivem, não raro, com a experiência do envelhecimento de seus pais e/ou avós. São recrutadas nas classes sociais menos favorecidas, tendo nível de escolaridade fundamental ou médio. Têm, pelo comum, dois (2) ilhos e residem nas anigas cidades – hoje, denominadas satélites, Regiões Administraivas do DF9. Recebem, em média, um salário míni

-mo (R$ 510,00) por seu trabalho. A renda familiar das cuidadoras é, em média, de mil reais (R$ 1.000,00). É comum que as mulheres cuidadoras trabalhem em jornadas organizadas em função de turnos, de 12h por 36h.

Ser cuidadora consitui um modo de se inserir no emprego a parir do contrato de trabalho. Nas insituições do DF, 60,6% são funcionários assalariados, 34,7% voluntários e 4,6% cedidos, provavelmente funcionários públicos cedidos às ins

-ituições ilantrópicas. Aividades como: cuidar dos residentes, da limpeza da casa, da roupa e funções mistas são desempenhadas, basicamente, pelos fun

-cionários contratados (CAMARANO, 2008, p.39).

Nas quinze (15) ILPIs formalmente cadastradas no DF, o número de funcionários chega a 495. A função que concentra o maior número de proissionais é a de cuidar dos residentes. Os cuidadores representam 24,0% do quadro funcional. Em seguida, estão os encarregados da cozinha e da limpeza geral, sendo res

-ponsáveis por, respecivamente, 17,2% e 13,1% do total de servidores. Entre os proissionais especializados, os de enfermagem (auxiliar, técnico e enfermeiro) são os mais encontrados e totalizam 10,1% dos funcionários. O restante destes corresponde a 22,2% do total. Outras funções, tais como coordenador, porteiro, vigia, motorista etc. absorvem 7,3% dos funcionários (CAMARANO, 2008, p.39).

Contudo, na práica, o cuidado das pessoas idosas envolve proissionais das mais diversas áreas e, na cultura das insituições ilantrópicas, todos costumam ser chamados de cuidadores. Cozinheiras, arrumadeiras, nutricionistas, entre ou

-tros, são consideradas, nas práicas coidianas da insituição, cuidadoras. Mais de 60% das cuidadoras entrevistadas têm curso técnico de enfermagem. Pou

-cas têm uma formação especíica para o cuidado de idosos. Existem cursos de treinamento com uma carga horária de 40 horas, mas que ainda são pouco

9. Especialmente em Regiões Administra

-ivas, como Gama, Brazlândia, Paranoá, Ceilândia, Planal

-ina, Samambaia, Santa Maria, Recan

-to das Emas, Riacho Fundo, Varjão e Ita

(11)

procurados.

O número de idosos nas insituições pesquisadas varia de 10 a 100, com pre

-dominância de mulheres idosas. O estudo de Camarano (2008, p. 32) indicou que, das 555 pessoas idosas que residem nas quinze (15) insituições do DF, as mulheres representam 63,2% dessa população. Outro aspecto consitui o nú

-mero de proissionais dedicadas ao cuidado em relação ao nú-mero de pessoas idosas, existem poucos proissionais para uma demanda grande de trabalho, em média são 13,22 idosos para cada cuidadora, em sua maioria, com problemas de dependência funcional10.

4.4. Cuidado, Inimidade e Ordem do Trabalho nas Insituições

Nas ILPIs, onde ingressam pessoas debilitadas ísica e emocionalmente, existe a prescrição insitucional da inimidade. A higiene é regulamentada do ponto de vista dos horários impostos: sempre as pessoas idosas devem tomar banho pela manhã, independentemente do seu desejo, com apoio parcial ou total das cuidadoras. As manifestações de desejo sexual são interditadas e qualquer ipo de encontro ínimo é tenazmente combaido pelas cuidadoras. No centro da gestão do ínimo, há um corpo considerado sem beleza, saúde, vigor, viço e autonomia. Os corpos envelhecidos tornam-se alvo de interdições que se põem também de manifesto nos luxos e cadências das roinas quoidianas que a ins

-ituição constrói.

A gestão da inimidade das pessoas idosas se expressa em diferentes níveis, rela

-ivos à natureza do vínculo de dependência funcional de quem é cuidado. Em ge

-ral, essa acontece em coninuum, caracterizado por graus que vão desde propor

-cionar uma ajuda pontual, como alcançar os alimentos, supervisionar o banho, acompanhar para realização de determinadas aividades externas (ir ao banco ou ao supermercado, etc.), até alimentar, dar banho, trocar fraldas e aí por diante. Ao mesmo tempo, há a gestão das relações das pessoas idosas com seus familiares.

Em insituições totais, existem determinadas roinas, mas observa-se que, na

-quelas que acolhem as pessoas idosas, há roinização maior da jornada. De fato, há horário para acordar e tomar banho, para fazer o lanche e para o almoço. O almoço é servido e a pessoa tem que se alimentar no momento preciso, sen

-indo fome ou não. À tarde, tem lugar o banho de sol, mais ou menos como nos presídios, só que essa aividade das pessoas idosas é, normalmente, silen

-ciosa; quase todas dormem ou conversam com alguma cuidadora, interagindo pouco entre elas. Vê-se que a roina insitucional é mandatória, deixando pou

-ca margem de decisão ao idoso. A alimentação, por exemplo, é padronizada, não atendendo, em geral, às necessidades médicas e preferências individuais.

10. A diferença do

encontrado em

nos-so estudo, a pes

(12)

Por isso mesmo, a roina igura-se como uma forma de moriicação do eu (cf. GOFFMAN, 2003).

O trabalho de cuidado consitui um feixe de disposições incorporadas, saberes afeivos e morais que se revelam, criam e recriam em práicas quoidianas visí

-veis e invisí-veis. A dimensão visível do cuidado é alimentar, trocar as fraldas, aju

-dar a vesir-se e a tomar o banho, acompanhar ao supermercado ou ao banco, entre outros. A dimensão invisível ou imaterial é relaiva aos afetos e moralida

-des recriadas e criadas nas práicas quoidianas. Ao mesmo tempo, nas insitui

-ções, há uma ordem do trabalho de cuidado, visível nas roinas dos horários im

-postos, nas exigências de polivalência para os funcionários, no número reduzido de trabalhadores alocados, entre outros. Essa ordem do trabalho impõe etapas, aividades, luxos e cadências dentro de uma lógica de racionalização que pene

-tra a imaterialidade afeiva e moral dos cuidados, moldando-os e impondo-lhe limitações que, paradoxalmente, ameaçam a realização dos cuidados.

Assim, o trabalho de cuidado nas ILPIs é produto do conlito entre a instru

-mentalidade advinda da ordem do trabalho e as disposições das cuidadoras, recriadas e criadas nas práicas do seu trabalho. Conlito que não se resolve, na medida em que o peso esmagador da ordem taylorista imposta no trabalho molda a afeividade e a moralidade dos cuidados. No quoidiano, esse conlito se expressa, fundamentalmente, nas imposições para criar “novos” hábitos nas pessoas idosas e na compressão do tempo que é possível dedicar aos cuidados de indivíduos concretos. Roinas como a de dar banho, alimentar, trocar fraldas, vesir, entre outras, acontecem como luxos taylorizados, exigindo da cuidadora maior economia de tempo e movimentos, o que acaba inluenciando no seu estado emocional e no da pessoa idosa, e na qualidade do serviço de cuidado que se realiza.

Parece-me que a ordem do trabalho nas ILPIs conduz as cuidadoras ao seni

-mento de impotência, que acaba sendo superado realizando as aividades de cuidado da forma que essa ordem permite e silenciando o julgamento moral em face da “necessidade” de cumprir com o mandato insitucional. O que as cuida

-doras denominam “estado de carência” da pessoa idosa, e que elas atribuem à ausência das famílias, resulta também da ordem do trabalho. O déicit afeivo é lido pelas cuidadoras nos comportamentos das pessoas idosas, nas “birras”, na negaiva frente à necessidade de tomar banho, alimentar-se ou levantar-se, por exemplo, já que nem sempre a pessoa idosa manifesta de forma direta o que está senindo. Mas as manifestações do “estado de carência” da pessoa idosa são também a manifestação do cuidado que se encolhe prisioneiro dos luxos e cadências do trabalho racionalizado.

(13)

nas práicas quoidianas das famílias, são interpeladas nas interações com as pessoas idosas e, nesse senido, recriadas e criadas, tanto quanto são moldadas pelas prescrições insitucionais. Essas disposições relaivas ao habitus feminino de cuidado podem ser variadas entre as cuidadoras. Isso signiica que não há um único padrão que seja relaivo ao habitus, muito embora seja possível observar algumas tendências comuns. Ainda, a mercanilização dos cuidados contribui para incorporação de outras práicas afeivas e morais, de um lado, na medida em que a oferta de cursos de treinamento que se apropriam de formas variadas

do savoir-faire do ínimo contribuem para isso e, de outro lado, pelas novas condições impostas às aividades de cuidado nas insituições.

4.5.

Habitus feminino de cuidado

: relações entre o afeto, a moral e o po

-der

O habitus feminino de cuidado, enquanto incorporação inconsciente de prái

-cas afeivas e morais no seio das famílias possibilita às cuidadoras exercitarem o cuidado nas condições insitucionalmente impostas, respondendo de forma práica e espontânea aos desaios da situação presente, tanto quanto elabo

-rando estratégias e táicas conscientes desinadas ao cuidado dos mais velhos.

Na análise a seguir, mostramos a recriação, nas insituições, das práicas afeivas e morais do cuidado, nas interações entre as cuidadoras (grupo estabelecido) e as pessoas idosas (na condição de outsiders). As práicas afeivas e morais re

-criam e -criam essas relações de assimetria entre quem cuida e quem é cuidado, estabelecendo uma sociodinâmica quoidiana de equilíbrios e desequilíbrios nas relações de poder.

A seguir, analisamos a produção de estratégias afeivas, tais como a paciência, o ingimento, o medo e a infanilização da pessoa idosa no trabalho de cuidado mercanilizado.

Paciência

Nos úlimos tempos, tem sido bastante comum virem à luz violências comeidas contra as pessoas idosas em insituições e na inimidade das famílias, causando espanto e indignação na população, apontando, mais uma vez, que os cuidados, caracterizados pela sua discrição, icam evidentes quando algo de errado acon

-tece. No entanto, nosso interesse aqui não é apontar essas violências comei

(14)

a manifestação dessas violências, consituindo estratégias que operam de ma

-neira bastante eiciente, garanindo a realização dos cuidados.

Para isso, é necessário lembrar que, no trabalho de cuidado, a dominação sim

-bólica se expressa nas relações entre estabelecidos (cuidadora) e outsiders (pes

-soas idosas). As cuidadoras parilham de uma autoimagem de superioridade moral com relação às pessoas idosas, que se torna visível nos falas sobre as demandas afeivas do trabalho, que apontam como principais requisitos do cui

-dado a paciência e o amor. Essa afeividade é relaiva à consideração da pessoa idosa como criança e víima, ao mesmo tempo. Para as cuidadoras, as pessoas idosas são “como crianças”, na medida em que manifestam seus senimentos com rebeldias e agressões, por exemplo, a rejeição da comida e do banho, as reclamações em geral, a masturbação pública, as brigas interpessoais, as agres

-sões ísicas e verbais às cuidadoras, no fato de tratá-las “como criadas”, humilhá-las, entre outros comportamentos apontados.

Mas, também, as pessoas idosas são consideradas víimas, em função de seu sofrimento ísico e psíquico. Para as cuidadoras, a pessoa idosa sofre e se deses

-pera numa situação de encurralamento que terá, como desenlace inevitável, a morte. O sofrimento ísico diz respeito à decrepitude do corpo que deinha. O afeivo se aigura sempre como carência de amor, abandonos familiares, solidão, indiferenças. Assim, essas apreciações, que são, ao mesmo tempo, autoimagens das pessoas idosas – desprotegidas e viimizadas – contribuem para o fortaleci

-mento da autoimagem das cuidadoras como pacientes, tolerantes e amorosas.

A moral do estabelecido consegue restabelecer o desequilíbrio momentâneo dos poderes em face das agressões ísicas e verbais dos outsiders – “ uma pessoa daquela idade, que vive trancada...”.

Apesar das agressões verbais e ísicas às cuidadoras, estas, na medida em que consideram as pessoas idosas como inferiores – e nesse senido ica claro para elas que não estaria certo revidar –, apelam à paciência que modula e controla esse desejo. A pessoa idosa, que não reage, não tem força, não tem mais gover

-no sobre seu corpo, pode inspirar a agressão das cuidadoras; aquela que reage, agride, ofende pode moivar o revide das cuidadoras. Mas, ao mesmo tempo, a moral de estabelecida da cuidadora, revelada na práica da paciência e do amor pela pessoa idosa fragilizada, permite, na maior parte das vezes, que o trabalho de cuidado seja realizado de forma socialmente razoável.

Arte de ingir

No trabalho de cuidado nas insituições, é recriado e aperfeiçoado um con

-junto de práicas que rotulamos como “arte de ingir”. A depender das expe

(15)

trabalhar nas ILPIs. Mas, desde o primeiro momento, “sabem” que devem ingir que consideram corriqueiro encontrar grupos de pessoas idosas coninadas em insituições. Ainda, “devem” demonstrar que não sentem rejeição pelas defor

-midades ísicas a que, por vezes, o processo de envelhecimento submete, ou pelos maus cheiros, ípicos desses estabelecimentos (que derivam não apenas de problemas de higiene, mas também, dos odores relaivos a algumas das do

-enças), ou pelas recorrentes, curtas e repeiivas histórias contadas pelas pesso

-as que padecem de Alzheimer, por exemplo.

O ingimento também é demandado na luta contra o aumento da situação de dependência da pessoa idosa. Nesses casos, as cuidadoras empregam estra

-tégias e táicas afeivas que lhes permitem travar uma luta que, de antemão, sabem que é impossível de ser vencida. A estratégia afeiva implica a crença das cuidadoras na possibilidade de conquistar e manter, até onde seja possível, uma pequena vantagem sobre o processo de deterioro ísico e/ou mental da pessoa idosa, controlando, com base em táicas afeivas pontuais, o tempo re

-laivo ao processo de aprofundamento inevitável da situação de dependência. A luta contra a dependência se resume na seguinte crença: “o idoso não pode se entregar”.

A cuidadora luta contra a ausência de vontade da pessoa idosa, seja esta ca

-rência relacionada à tristeza ou à doença. Em face de uma vontade, não raro, cada vez mais claudicante, a da pessoa idosa, levanta-se a vontade de um outro, a cuidadora, que lhe negará “criteriosamente”, isto é, em graus variá

-veis segundo a circunstância, ajuda que, ela supõe, o conduzirá à inércia. Da perspeciva da cuidadora, isso se faz pelo bem da pessoa idosa, que não sabe o que é bom para ela; moral arrogante da cuidadora, moral de estabelecido que age pelo bem do outro. A vontade claudicante, isto é, a perda da auto

-nomia das pessoas cuidadas é subsituída pela ordem heterônoma da cuida

-dora, que obriga a pessoa ao esforço de autocuidado, sob seu olhar vigilante.

Nesse contexto, o ingimento da cuidadora adquire um senido táico, na medi

-da em que, para controlar o aumento precipitado do grau de dependência -da pessoa cuidada, ela inge que lhe oferece apoios na hora de se levantar da cama ou da cadeira, na hora de pegar a roupa e de se vesir, e aí por diante. Assim, in

-ge que lhe puxa a roupa, que segura os seus braços, que levanta as suas pernas, que lhe abre a porta do armário, alcança o sabonete, etc.

A “arte de ingir” da cuidadora se faz presente na mediação das relações en

-tre as pessoas idosas e seus familiares. Nas insituições, as cuidadoras são in

(16)

idosa. Isso se traduz em visitas cada vez mais esporádicas, em não responder quando chamados para levar à pessoa ao médico ou em função de seu estado emocional críico.

As cuidadoras tentam evitar a ruptura na dinâmica das reciprocidades e

solida-riedades familiares, mediante reprimendas moralizantes dirigidas a ilhos, ne

-tos e sobrinhos das pessoas insitucionalizadas. Ao mesmo tempo, no que diz respeito à pessoa idosa, não raro as cuidadoras se esforçam por construir-lhes reciprocidades e solidariedades familiares icícias, criando desculpas aceitáveis para o que secretamente consideram como ausência de amor e responsabili

-dade dos parentes: “seu ilho está chegando... não vem porque teve que viajar à trabalho...”. De um lado, consideram que os familiares devem prestar mais atenção aos idosos; de outro, a produção e manutenção de icções familiares posiivas consitui uma estratégia afeiva eicaz para o controle ísico e emocio

-nal das pessoas cuidadas.

Quando a pessoa idosa está triste, devido à ausência dos familiares, a cuidado

-ra promete que estes virão em breve; se está nervosa demais, ameaça contar para os parentes sobre seu comportamento inadequado; se reclama do aban

-dono, inventa desculpas honrosas para os familiares, e aí por diante. Ainda, a cuidadora sabe que, quando assim o desejar, pode destruir esse mundo de ic

-ções familiares posiivas, abandonando o esforço inconsciente de manutenção do mito familiar. Evidentemente, a pessoa idosa e seus familiares estão “em suas mãos”, porque dela depende a manutenção e reprodução fantasiosa do mito da família protetora, suas lealdades, reciprocidades e solidariedades.

Desse modo, conirma-se, na práica, a autoimagem de superioridade da cuida

-dora com relação aos idosos e seus familiares.

Releimos que a dinâmica histórica sexuada de reciprocidades e solidariedades familiares contribuiu para criar um mito poderoso, isto é, uma força suprema para realização dos cuidados das pessoas frágeis da família. Na “pública inimi

-dade” do trabalho de cuidado nas insituições, esse mito em decadência coni

-nua a ser manido pelo habitus das cuidadoras, no marco de transformações so

-ciais que desacreditam a família protetora e da mercanilização da inimidade.

Observamos, pois, que a “arte de ingir” revelou-se importante no trabalho de cuidado. É necessário ingir que não se ajuda a pessoa idosa, porque ela pode realizar as aividades de autocuidado, e que as reciprocidades e solidariedades familiares ausentes coninuam a exisir. Uma parte signiicaiva do trabalho de cuidado repousa sobre o ingimento, que produz e conirma o lugar de estabe

(17)

Medo da Cuidadora e Infanilização do Idoso

Sob determinadas circunstâncias, a cuidadora pode metamorfosear-se em outsi-der. Em geral, a possibilidade das “armas mudarem de mãos” durante as práicas do cuidado acontece quando são gerados conlitos entre as cuidadoras e as pes

-soas idosas, que alteram o estado emocional destas úlimas, podendo colocar em risco a sua saúde. Esses conlitos giram em torno das resistências ísicas e verbais das pessoas idosas frente aos apoios das cuidadoras para realização das aividades básicas da vida diária (tomar banho, alimentar-se, trocar fraldas, en

-tre outros), sob a pressão da ordem do trabalho.

Assim, durante as aividades de cuidado, são produzidas situações que ques

-ionam os poderes e hierarquias estabelecidas, como a do medo da cuidadora em face dos possíveis desdobramentos dos conlitos quoidianos no estado de saúde da pessoa idosa (aumento da pressão arterial, infarto, acidente vascular cerebral, entre outros).

O deterioro mental das pessoas idosas causa maior perturbação nas cuidadoras, seja este ocasionado por alguma doença ou como corolário da insitucionaliza

-ção. Com suas alterações mentais, reais ou imaginárias da perspeciva das cui

-dadoras, a pessoa idosa anula as divergências entre adultos e crianças e, a qual

-quer momento, volta a ser criança. Há uma mente que se deteriora e é libertada das amarras do tempo e das interdições sociais, e as lembranças de um outro tempo e de uma outra vida podem se transformar em realidade, aqui e agora. Não raro, por medo dos desdobramentos emocionais da situação, a cuidadora ingressa no delírio da pessoa.

Essa afeividade medrosa age como mecanismo de regulação dos poderes da cuidadora sobre a pessoa idosa, sobretudo nos casos em que, mesmo por vezes confusa, a comunicação entre elas acontece. O medo das cuidadoras contribui para o equilíbrio instável dos poderes nos trabalhos de cuidado e sua rendição momentânea, em face da alteração emocional da pessoa idosa, contribui para tornar menos desiguais os poderes entre ela e a pessoa que cuida.

No trabalho de cuidado, coloca-se a circunstância moral implícita na construção de uma “inimidade do ínimo”. Esta diz respeito à necessidade da cuidadora ter que tocar no corpo da pessoa idosa para sua higiene, trocar as fraldas, as roupas, entre outros.

Observamos que, durante essas aividades, não raro, as cuidadoras acionam a memória das pessoas idosas, lembrando-as de que já foram crianças e que, nesses casos, eram cuidadas pelas suas mães, do modo como são cuidadas ago

-ra, ou dizem para os idosos que eles são seus ilhinhos. Essa estratégia se re

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no momento da troca de fraldas, do banho ou da repreensão em face de uma manifestação pública de desejo sexual:

Porque eles se tornam ilhos da gente, tá velhinho... você vai colocar fralda nele de novo, tem uns que fala assim “nunca coloquei fralda minha ilha, agora tô colocando”, “ah, você virou criança de novo” falo assim pra elas, e elas “é mesmo minha ilha, a gente vira criança mesmo”, aí pronto vai numa boa.

A convivência social excluiu a inimidade do intercâmbio social, privaizando-a, e, desse modo, fez surgir uma angúsia socialmente insilada, como os seni

-mentos de vergonha e embaraço. A contenção dos insintos e esses senimen

-tos disinguem o adulto da criança (cf. ELIAS, 1994). Nas práicas do cuidado mercanilizado, as funções corporais e as manifestações dos desejos insinivos se revelam publicamente. O cuidado produz uma inimidade além do espaço do ínimo, com seus toques corporais, higienizações, ajudas que penetram nos corpos, práicas relaivas ao savoir-faire dos cuidados. Nas interações entre cui

-dadoras e pessoas idosas, o habitus feminino possibilita recriação de práicas do universo familiar materno-infanil enquanto estratégia afeiva na circunstância moral do embaraço que provoca a inimidade com o corpo do adulto fragilizado.

5. Considerações inais

O mito da família moderna produziu indivíduos, especialmente as mulheres, com disposições afeivas de cuidado e com uma moral que as tornou capazes de sacriicar-se pelos membros do grupo familiar, por amor, dever moral e culpa. Na “modernidade líquida” e devido a mudanças em fatores de natureza econô

-mica, social, políica e cultural combinados, tornou-se visível a precarização das reciprocidades e solidariedades familiares, situação que acena com a necessida

-de -de mercanilização do cuidado das pessoas idosas.

Para analisar as dimensões sociais da inimidade e do mercado, evitando cair em dicotomização analíica, focamos no trabalho de cuidado das pessoas idosas transigurado em mercadoria, acenando para a venda de saberes práicos afei

-vos e morais incorporados pelas mulheres. Observamos o habitus feminino de cuidado fora do núcleo familiar, interpelado na insituição total em troca de um valor monetário baixo, em interações sociais entre cuidadoras e pessoas idosas que criam e reproduzem status desiguais.

Perguntamos sobre as relações entre a vida ínima e o mercado, focando na análise das manifestações insitucionais do habitus feminino de cuidado. Ob

(19)

pelas mulheres cuidadoras são recriadas em conlito com a ordem do trabalho imposta, que insitui tempos e cadências, luxos taylorizados, exigindo, das cui

-dadoras, economia de movimentos, de olhares, de falas, de toques. O trabalho de cuidado, que tem lugar na densidade afeiva e moral do lar, é moldado agora pelas prescrições insitucionais relaivas à ordem do trabalho taylorista e pelas prescrições derivadas das insituições que regulam o trabalho assalariado na so

-ciedade e os direitos das pessoas idosas.

Ainda, analisamos as interdependências entre cuidadoras e pessoas idosas cui

-dadas, a complexa trama afeiva e moral em torno do senso de superioridade da cuidadora e o abandono, a solidão e a decrepitude da pessoa idosa; diversidade de estratégias do lado das cuidadoras e das pessoas cuidadas, que consituem o quoidiano nas insituições. Em um espaço social normalmente ignorado, há riqueza de práicas afeivas e morais de cuidado, possibilitadas pelas incorpo

-rações tradicionais das mulheres nos lares, e que aparecem, não obstante, sob envoltório de mercadoria de valor aviltante. Ainda, nas insituições, a cuidadora se insitui em guardiã do mito decadente das solidariedades e reciprocidades fa

-miliares, lutando pela sua manutenção, ao mesmo tempo em que o instrumen

-taliza como estratégia de controle sobre os familiares e as pessoas coninadas.

Uma observação inal e, talvez, a mais importante é que, no trabalho de cuidado de pessoas idosas com limitações funcionais (ísicas e/ou psíquicas), a compre

-ensão do outro pode não derivar facilmente da linguagem verbal ou de códigos gestuais conhecidos. O savoir-faire do ínimo, nas interações do trabalho de cui

-dado, é saber moral e afeto para além das linguagens diretamente manifestas. O bem-estar do outro não é apenas corroborado, da perspeciva da cuidadora, pela ação discursiva ou gestual da pessoa cuidada, e também não é o trabalho instrumentalizado que pode garanir o triunfo da inimidade entre os dois seres vivos.

O habitus feminino de cuidado, essas disposições complexas incorporadas, sob determinadas circunstâncias, se ergue como possibilidade de suspeição da do

-ença e/ou da crise emocional que se avizinha. É esse habitus que permite lidar com o embaraço que o cuidado provoca, recriando as relações materno-infanis, ao mesmo tempo em que impulsiona a cuidadora, em face do distanciamento dos familiares, à produção de arimanhas para manter o mito da proteção fami

-liar, controlando, desse modo, a afeividade dos parentes e das pessoas idosas.

É esse habitus que está presente no amor e na paciência invocados pelas cuida

-doras quando se trata de controlar o desejo de revidar em face das invesidas das pessoas idosas. E, por im, é o habitus feminino de cuidado que entrelaça, em práicas quoidianas construídas historicamente, as cuidadoras e as pessoas idosas, para enfrentar a decadência insuportável do período de vida que ante

(20)

Abstract: This aricle discusses the commodiicaion of inimate life that is the care of elderly people performed by salaried caregivers in the Long Term Insitu-ions in Brazil. The study used ethnographies, paricipant observaion, interviews with caregivers, with elderly people and with the leaders of the insituions in the Federal District. It focused on the work of caregivers and on their interac-ions with the elderly people. It examines the “feminine habitus of care” as a set of afecive and moral disposiions acquired by women in the family group. In their work caregivers recreate these disposiions, during their interacions with the elderly in the Long Term Insituions. The study found that the imposiion of a taylorist work organizaion in the insituions prevents the realizaion of the care work. Care work requires caregiver´s technical competence and further more a complement of emoions and morality.

Keywords: inimacy, market, aging, care, habitus, afecion.

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