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O ambiente de trabalho no setor bancário e o bem-estar

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Academic year: 2017

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(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

O AMBIENTE DE TRABALHO NO SETOR BANCÁRIO E O

BEM-ESTAR

Dissertação de Mestrado

Cynthia Suennia Damasceno Lucena de Paiva

(2)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

O AMBIENTE DE TRABALHO NO SETOR BANCÁRIO E O

BEM-ESTAR

Cynthia Suennia Damasceno Lucena de Paiva

Orientadora: Dra. Livia de Oliveira Borges

Dissertação submetida como requisito parcial para a obtenção do

grau de Mestre em Psicologia

Natal, maio de 2005.

(3)

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Programa de Pós-graduação em Psicologia

A dissertação “O ambiente de trabalho no setor bancário e o bem-estar”, elaborada por Cynthia Suennia Damasceno Lucena de Paiva, foi considerada aprovada por todos os membros da Banca Examinadora e aceita pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia, como resquisito parcial à obtenção do título de MESTRE EM PSICOLOGIA.

Natal, RN, 30 de maio de 2005.

BANCA EXAMINADORA

José Arimatés de Oliveira ___________________________

Sônia Maria Guedes Gondim ___________________________

(4)

Está ocorrendo uma robotização do ser

no trabalho bancário.”

Liceu Carvalho – Presidente do Sindicato dos bancários

AGRADECIMENTOS

ADeus, por existir em minha vida.

Aos meus pais, pelo intenso amor e por orientarem-me pelo caminho justo e da verdade. Às minhas irmãs, pelo amor compartilhado, amizade e companheirismo e por acreditarem num futuro melhor.

(5)

A professora Drª Livia de Oliveira Borges, pelo cuidado com que orientou este trabalho e, mais que isso, agradeço pelo profundo companheirismo compartilhado durante os anos em que participei da base de pesquisa Saúde Mental e Trabalho, anos esses bastante ricos de conhecimentos e sinceras amizades, que ficarão marcados em minha vida.

Ao professor João Carlos Alchieri, que com muito zelo co-orientou este trabalho.

À base de pesquisa Saúde Mental e Trabalho (GEST) pela amizade proporcionada, trocas de conhecimentos, pelos incentivos propagados e pelas boas gargalhadas... sentirei muitas saudades.

Às amigas Karen Fantine e Luciana Gianasi por terem compartilhado momentos especiais.

Às amigas doutorandas Palloma Andrade e Sandra Chaves, suas sinceras amizades e que com tanto empenho e dedicação contribuíram para a finalização deste trabalho.

À amiga Pollyanna Gê pela amizade sincera e calorosa, que se iniciou no ano de 1999 quando, juntas, começávamos a fazer parte do GEST. Agradeço também a ela pela grande contribuição que tem proporcionado à base de pesquisa e pelo constante incentivo por uma Psicologia Organizacional melhor.

Aos professores de Pós-graduação de Psicologia, em especial a Maurício Tamayo e

Rosângela Francischini, que me proporcionaram uma visão de mundo diferente. ACilene, secretária da Pós-graduação, pela amizade e companheirismo e por tudo o que realizou em favor da Pós-graduação, dos alunos e professores.

AoSindicato dos Bancários de Natal, que acreditam na importância do bem-estar entre os bancários.

A todas as agências colaboradoras que, sem o apoio proporcionado, este trabalho não teria acontecido.

ACapes, pela concessão da bolsa de mestrado.

SUMÁRIO

Lista de Figuras... viii

Lista de Tabelas ... ix

Resumo ... xii

(6)

Introdução ... 15

1 – Saúde mental e trabalho... 20

1.1 Saúde Mental ... 20

1.2 Saúde Mental no Trabalho... 39

2 – Reestruturação Produtiva ... 51

2.1 Historiando a reestruturação produtiva... 51

2.2 A reestruturação produtiva nos bancos... 68

2.3 Reestruturação Produtivo-bancária e saúde mental ... 75

3 – Método ... 84

3.1 População/Amostra... 84

3.2 Variáveis, indicadores e instrumentos... 85

3.3 Procedimento de coleta de dados... 100

3.4 Procedimento de análise de dados... 101

4 – Análise dos Resultados ... 105

4.1 Bem-estar psicológico ... 105

4.2 Fatores ambientais ... 114

4.3. Percepção da reestruturação produtiva ... 121

4.4. O teste das hipóteses ... 135

(7)

Lista de Figuras

Figura Página

1 Representação do modelo de saúde de Warr ... 33

2 Gráficos dos escores no fator disponibilidade econômica e os

(8)
(9)

Lista de Tabelas

Tabela Página

1 Comparação do processo de transformação da reestruturação

produtiva e o modelo vitamínico ... 62

2 Dimensões do bem-estar psicológico segundo o modelo de Warr e a escolha dos questionários... 86

3 Análise Fatorial das Escalas de Saúde Mental... 87

4 Estrutura Fatorial do Questionário de Saúde Geral – 12 ... 88

5 Estrutura fatorial da Escala de Afetos Positivos e Negativos... 90

6 Estrutura Fatorial da Escala de Satisfação com a Vida ... 92

7 Estrutura Fatorial da Escala de Aspiração ... 93

8 A mensuração dos fatores ambientais segundo a teoria de Warr (1987) ... 94

9 Estrutura fatorial da Escala de Condições, Organização e Relações de Trabalho ... 98

10 Estrutura fatorial da escala de situação econômica ... 99

11 Reformulação das hipóteses ... 103

12 Escores do resultado da saúde mental no primeiro fator do QSG-12 ... 106

13 Escores do resultado dos afetos positivos e negativos ... 107

14 Escores do resultado de satisfação com a vida ... 107

15 Escores nos fatores satisfação com a vida e depressão e tensão emocional ... 108

16 Escores do resultado da saúde mental nos fatores do QSG-12 ... 109

(10)

18 Correlações entre as medidas tomadas como indicadores de saúde

mental ... 111

19 Grupos de participantes pelas combinações dos escores nos diferentes indicadores do bem-estar psicológico ... 113

20 Escores dos resultados da escala de organização, condições e relações de trabalho (EOCRT) ... 115

21 Escores sobre principais fontes de renda ... 22 Escores acerca da renúncia a realizar atividades do dia a dia devido à escassez de dinheiro ... 116 118 23 Escores do resultado sobre Objetivos gerados no meio ... 118

24 Escores do fator ambiental Posição Social Valorizada ... 119

25 Intenção de mudar de emprego ... 122

26 Facilidade de encontrar um trabalho ... 122

27 A intenção de mudar de emprego de acordo com a facilidade percebida de mudar de emprego ... 123

28 Expectativa de mudança que possa pôr em risco o emprego ... 124

29 Atitudes com relação a novos equipamentos ... 125

30 Condições de trabalho com as novas tecnologias ... 126

31 Expectativas de mudança no posto de trabalho ... 126

32 Crença de perigo derivado da mudança no posto de trabalho no futuro ... 127

33 Possibilidades de adaptação aos avanços tecnológicos ... 128

34 Resultados por idade por crença na possibilidade de adaptação ... 128

35 Sentimento com relação à renovação tecnológica ... 129

(11)

Econômica conforme a intenção de mudar de emprego ... 131

37 As médias nos fatores da ECORT e no fator Disponibilidade

Econômica conforme a facilidade de encontrar um emprego ... 132

38 As médias nos fatores da ECORT e no fator de Disponibilidade

Econômica conforme o risco de perda do emprego por mudança

organizacional ... 133

39 As médias nos fatores da ECORT e no fator de “Disponibilidade

Econômica” conforme a expectativa de mudança no posto de trabalho ... 134

40 Médias de disponibilidade econômica por tipos de funcionamento

integrado ... 136

41 Correlações entre os escores no fator Disponibilidade Econômica e

os escores nos indicadores de saúde mental ... 137

42 Aplicação da ANOVA nas médias dos escores nos indicadores

(fatores) de saúde mental conforme a posição social valorizada ...

43 Clusters por posição social valorizada (quatro níveis) ...

141

143

44 Escores no fator Organização do trabalho por tipos de funcionamento

integrado (ANOVA) ... 144

45 Escores da saúde mental a partir da percepção da organização do

trabalho ... 145

46 Escores no fator Relações do trabalho por tipos de funcionamento

integrado (ANOVA) ... 146

47 Correlação entre Relações sociais do trabalho por clusters do

funcionamento integrado ... 148

(12)

integrado (ANOVA) ... 149

49 Correlações da saúde mental a partir do fator condições de trabalho 150

O AMBIENTE DE TRABALHO NO SETOR BANCÁRIO E O BEM-ESTAR

Cynthia Suennia Damasceno Lucena de Paiva

RESUMO

(13)

detrimento da saúde do trabalhador. Foi dada ênfase ao trabalhador bancário, uma vez que os bancos e agências bancárias foram um dos setores que mais sofreu o impacto da reestruturação produtiva nos últimos anos. Participaram da pesquisa 200 bancários, sendo 41,9% do sexo feminino e 58,1% do sexo masculino, 60,9% apresentando estado civil casado, seguido de 28,4% de solteiros. Os participantes responderam os seguintes instrumentos: Escala de Afetos Positivos e Negativos, Questionário de Saúde Geral - QSG-12, Escala de Organização, Condições e Relações de Trabalho, Escala de Aspiração(própria autoria), Escala sobre situação econômica,Escala de Satisfação com a Vida, Escala de ReestruturaçãoProdutivo-bancária e uma ficha sócio-demográfica.

Com o objetivo de testar os instrumentos de medida, foram verificados os parâmetros psicométricos das escalas desta pesquisa. Verificou-se que têm sido mais positivos que negativos para a saúde mental, porém foram encontrados indícios de depressão e insatisfação com a vida em parte da amostra. Conclui-se que a o ambiente de trabalho pode ter um impacto na saúde mental do bancário. Assim, ações de intervenção no sentido de promover a saúde do trabalhador poderão ser fundamentadas.

Palavras-chave: Bem-estar, bancários, trabalho, reestruturação produtiva.

ABSTRACT

(14)

following of 28,4% of single. The participants answered the following instruments: Scale of Positives and Negative Kindness, General Health Questionaire – GHQ – 12, Scale of Organization, Conditions and Labor Relations, Scale of Desire (own authorship), Scale about economic situation and a social-demographic record car. With the objective of trying the instruments of measure, it was checking the psychometric parameter of the search scales. We could verify that it has been more positive than negative ones for the mental health, but it was found some kind of depression and unsatisfied with their lives in some pieces of the sample. We can finally say that the work place has an impact at the mental health of the bank clerks. So, some interventions actions to promote the worker health

could be essential.

(15)

_________________________________________________ INTRODUÇÃO

Introdução

Sabe-se que o ser humano, diferentemente dos outros animais, estabelece relações

com a natureza de modo consciente, intencional e propositalmente. Indo além da simples

relação de sobrevivência é que ele estabelece vínculos que dão significado às tarefas que

realiza e um dos locais onde isso mais se reflete é no ambiente de trabalho. É por meio do trabalho que o homem evolui, com novas descobertas, construindo e reconstruindo o

mundo ao seu redor. É a partir dessa relação que se configuram os significados existentes

entre o homem e seu trabalho, a repercutir diretamente no seu bem-estar psicológico (Marx,

1967/1982).

Qualquer que seja a sua forma, o trabalho é dinâmico, estando em permanente

(16)

na imprensa, aquelas mudanças a partir da segunda metade do século XX. Estas

transformações são advindas, entre outros fatores, de aspectos estruturais macrossociais,

tais como a política governamental adotada, a economia globalizada, a necessidade das

empresas adotarem uma gestão inovadora e diferenciada, a fim de acompanharem os ritmos

da concorrência no mercado empresarial. Enfim, está-se todo o tempo neste cenário em que

são exigidas, também, transformações por cada trabalhador.

Como reflexo do que o parágrafo anterior aponta, têm crescido as preocupações com

a saúde do trabalhador e/ou sobre os modos como esse trabalhador tem lidado com

transformações no local de trabalho e, por extensão, no entorno maior que influencia esse

ambiente.

Verificou-se que foi destaque nesses últimos anos a adoção de práticas anti-estresse

utilizadas por algumas empresas, apesar de nem sempre serem as mais adequadas, visto que

os problemas advindos da organização do trabalho estão mais vinculados à gestão e/ou às

políticas organizacionais que relacionadas com o próprio trabalhador, segundo a linha de

pensamento dos autores Maslach e Leiter (1999).

É por essas considerações que se fazem necessários estudos acerca do tema

“trabalho”, uma vez que é no trabalho que o homem passa tempo bastante significativo da

sua vida e é pelo trabalho que o homem se constrói e, concomitantemente, constrói a

sociedade. Além disso, a saúde mental/bem-estar do trabalhador, tema principal desta

dissertação, carece de atenção em meio ao cenário que se configurou a partir da

reestruturação produtiva, processo pelos quais os países foram se moldando e que

dificilmente há outro percurso a fazer, a não ser este da acumulação flexível, visto que é o

modo de produção capitalista que dita as regras do mercado e dos novos planejamentos

estratégicos e de gestão que as empresas passaram a utilizar. A categoria profissional

(17)

mais vivenciou as transformações advindas do mundo do trabalho, em especial as

transformações tecnológicas.

Neste trabalho de pesquisa, tem-se como objetivo compreender o bem-estar do

trabalhador bancário a partir das condições do ambiente de trabalho em que os mesmos

estão inseridos, e de identificar os aspectos que têm implicações mais relevantes na saúde

do trabalhador que vive tal processo de transformação.

Assim, esta dissertação está subdividida nos seguintes capítulos: no primeiro

capítulo, – Saúde Mental e Trabalho – aborda-se a evolução de tal campo de estudo,

sintetiza-se a visão sobre o desenvolvimento do conceito de saúde mental e apresenta-se o

modelo teórico que norteará o desenvolvimento do estudo: modelo ecológico; no segundo

capítulo – Reestruturação produtiva – inicia-se pela conceituação do que seja tal processo,

descrevendo-se o mesmo, procurando identificar suas principais características para em

seguida, numa subseção, tratar das características do processo que assume no setor

bancário; no terceiro capítulo – Reestruturação produtiva no setor bancário e saúde mental

– aplica-se o modelo ecológico para analisar as características da reestruturação produtiva

nas suas implicações para a saúde do bancário, apresentando as hipóteses de pesquisa; no

quarto capítulo – Método – descreve-se o desenvolvimento da pesquisa, instrumentos

utilizados e procedimentos de coleta e análise dos dados; no quinto capítulo – Resultados –

abordar-se-á o que foi encontrado na pesquisa, verificando as influências das condições de

trabalho a partir da reestruturação produtivo-bancária na saúde mental dos bancários, tendo

como fundo teórico da saúde mental a Teoria do Modelo Ecológico de Warr (1987) e, por

(18)
(19)
(20)

1 – Saúde Mental e Trabalho

1.1 – Saúde Mental

Também chamada de saúde psíquica ou bem-estar psicológico, a saúde mental tem

sido referência geral para os estudos em Psicologia. Em qualquer área em que o psicólogo

atuar, via de regra, vai explorar os fatores que estão deteriorando e/ou promovendo a saúde

mental dos indivíduos: se o psicólogo trabalha num consultório clínico, trabalhará com a

demanda do cliente, no que este traz em seu mundo interior; se num hospital, facilitando os

processos de cura do paciente, juntamente com sua família; se na escola, promovendo a

aprendizagem do aluno ao observar todas as condições em que estão se dando essa

aprendizagem; se numa organização, contribuindo para o progresso organizacional, tendo

como foco o bem-estar do trabalhador. A saúde psíquica é central para todo psicólogo que

esteja verdadeiramente comprometido no exercício de sua profissão. A saúde mental ou

bem-estar psicológico, ao permear todas essas áreas, é um fim último que todo psicólogo

almeja alcançar para seus clientes e para o entorno do qual os mesmos fazem parte.

Assim, a exemplo do conceito de saúde e em conformidade com a evolução da

própria Psicologia, o conceito de saúde mental tem percorrido um longo caminho de

transformações, tendo como parâmetros o contexto cultural e o contínuo aperfeiçoamento

entre diferentes abordagens sobre o tema. Na tentativa de compreender esta evolução,

resgatou-se sucintamente esse percurso.

Partindo da Idade Média, um indivíduo que era mentalmente perturbado não era

classificado como tal, mas sim como possuído por demônios. A frase de Martinho Lutero

ilustra essa idéia quando diz: “Nos casos de melancolia... devo concluir que se trata apenas

de trabalho do demônio... Aqueles que (o demônio) possui corporalmente são loucos; o

demônio tem permissão de Deus para humilhá-los e agitá-los, porém não tem poder sobre

(21)

no qual o louco era um doente ignorado e os conceitos que o determinavam eram

permeados de significações religiosas e mágicas.

Mais adiante, o modelo biomédico segue a concepção cartesiana na definição de

saúde (geral), no qual considera um indivíduo saudável aquele que apresenta ausência de

doença em seu organismo, ou seja, estar com saúde é não estar doente. Considera, também,

uma rigorosa divisão entre corpo e mente, um sendo independente do outro, não

estabelecendo relações entre si. É um modelo reducionista de saúde, perdendo de vista o

todo do ser humano, pois avalia apenas partes desse todo (Capra, 1982). Tal modelo

também se refletiu na concepção de saúde mental implicando que as questões de ordem

psicológica eram totalmente independentes das de ordem social, biológica e ambiental, não

havendo uma interligação entre esses campos na compreensão da saúde mental. Isso

significa que as causas dos problemas psíquicos eram buscadas no próprio psiquismo.

Atualmente, alguns autores (por exemplo, Ogden, 1999; Spink, 1992; Vaitsman,

1992) criticam essa abordagem biomédica e defendem a adoção de um conceito de saúde

mais amplo, que respeite a própria natureza humana, que é extremamente complexa e que

vai além da biologia.

Em referência aos estudos de saúde mental, Bücher (2003), corroborando o resgate

histórico de Ogden (1999), diz que “no campo da medicina, ainda no início do século XX,

dentre as inúmeras abordagens da época, destacou-se a psicossomática, como um desafio

ao modelo biomédico tradicional e como resposta ao modelo freudiano da relação

mente/doença física (...)” (p. 219). A psicossomática veio provocar reações diferenciadas

nos profissionais de saúde, alertando para a necessidade desses profissionais ampliarem o

conceito de saúde, a fim de garantirem maior respeito às reais necessidades da população

(22)

Um dos primeiros conceitos de saúde, que atende à complexidade e abrangência hoje

reivindicada, partiu da OMS – Organização Mundial de Saúde – definindo a saúde como

“um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente como ausência de

enfermidades” (OMS, 1948, sem página). Observa-se que este conceito engloba diferentes

facetas, determinantes para a promoção/deterioração da saúde. É congruente com a idéia de

que a enfermidade física é apenas uma das várias manifestações de um desequilíbrio do

organismo e que há de se levar também em consideração os aspectos psicológicos e sociais

no compreender a saúde.

Esforço mais recente ocorreu na atenção aos pequenos transtornos psíquicos que não

são, necessariamente, de ordem psiquiátrica (Goldberg, 1972/1978, citado em Banks, et al.,

1980). Tal atenção desenvolveu-se com uma proposição de ação preventiva por intermédio

de uma concepção diferente do modelo biomédico. Goldberg (1972/1978, citado em Banks

et al., 1980) formulou o QSG – Questionário de Saúde Geral – capaz de avaliar transtornos

psiquiátricos leves, não-psicóticos. Diferentemente da filosofia dicotômica do modelo

biomédico, acredita-se que, mesmo aparentando estar saudável, um indivíduo pode sofrer

transtornos psicológicos leves, baseado nos diferentes graus em que isso possa ocorrer e na

multivariação do fenômeno. O QSG é um questionário capaz de discriminar entre casos

patológicos e o normal e, nesses casos normais, discriminando os vários graus do estado

psicológico do indivíduo, não estando o mesmo, necessariamente, comprometido

patologicamente. Seu uso tem se tornado comum em estudos ocupacionais e do

desemprego. Trata-se de um questionário auto-administrável, no qual os itens investigam

possíveis sintomas e comportamentos que o indivíduo vivenciou ultimamente. (No capítulo

de Método, tem-se a descrição mais detalhada do questionário).

Com o desenvolvimento da Psicologia da Saúde (a partir da década de 1980), foram

(23)

psicológico, mas também a prevenção e promoção da saúde, ao levar em consideração

também os contextos sociais, culturais e ambientais como grandes protagonistas da saúde.

Enquanto o modelo biomédico considera o profissional de saúde o único ativo no processo

de cura, a Psicologia da Saúde compartilha com o paciente, também, a responsabilidade

pelo tratamento, uma vez que o indivíduo apresenta significados, crenças, atitudes e

comportamentos que contribuem para a manutenção, melhoria ou deterioração de sua

saúde.

Capra (1982) pontua que as atitudes do paciente são cruciais para a

promoção/deterioração da saúde. O que se tem feito para melhorar a saúde? As pessoas têm

praticado exercício físico? Adotam uma refeição balanceada? Fumam? Em que se acredita

para a promoção da saúde?

Warr (1987) assinalou que a saúde mental é um termo difícil de conceituação pelo

fato de ser interpretada por variadas formas e linguagens; alguns autores são mais

específicos no conceito, outros são mais generalistas. Além disso, o conceito é carregado de

diferentes valores na sociedade, dificultando, dessa forma, uma conceituação homogênea

sobre o assunto.

É em referência ao fator cultural, que o autor Kleinman (1988/1986/1980, citado em

Coelho & Almeida Filho, 2002) refere-se ao conceito da saúde. Considera três setores

fundamentais que participam da interação saúde-doença, quais sejam: o setor da cura

profissional, o setor das curas populares e o setor popular das crenças, escolhas, decisões e

interações. Coelho & Almeida Filho (2002) por conseqüência, destacam:

Assim, os padrões de saúde e enfermidade variam não só em diferentes

sociedades, mas no interior de uma mesma sociedade, a depender da posição

socioeconômica e da subcultura de quem os concebe: se um médico, um doente

(24)

A concepção de saúde positiva, relativista e ecológica continua em voga, presente nos

argumentos de publicações atuais. Assim, Coelho e Almeida Filho (2002) demonstram

claramente que a saúde deixa de ser discutida como algo generalizável a toda e qualquer

população e a todo e qualquer ser humano, sendo necessário considerar que os contextos e

as influências de uma dada população podem ser diferentes e suscitar medidas de

tratamento e de prevenção da saúde também distintas. Atenta ainda que a saúde deve ser

observada mediante os significados relacionados à saúde/doença.

Páez, Adrián e Basabe (1992), assim como Warr (1987), associam a saúde mental

ao entorno em que o indivíduo se insere. Paez e cols. (1992) dão ênfase aos efeitos

qualitativos dos estados de ânimo do indivíduo, ou seja, quando nos indivíduos prevalece

um estado de ânimo positivo, eles “apresentam uma estratégia cognitiva mais relaxada e

flexível: tomam decisões mais rápidas e com menos informação, são mais criativos,

realizam mais condutas menos usuais e tomam decisões mais ‘arriscadas’”(p. 212).

Enquanto isso, naqueles em que prevalece um estado de ânimo negativo, apresentam

um estilo qualitativo de pensamento mais conservador e rígido, segundo os autores. Watson

e Clarck (1984, citado por Tamayo, 2002) definem que alguns indivíduos são predispostos

a experimentar emoções negativas e a apresentar um autoconceito desfavorável. Nesse

sentido, são considerados propensos a ter aflição e insatisfação bem como a focalizarem o

lado negativo do mundo, trazendo como conseqüência uma visão de si próprios menos

favorável. Essa “tendenciosidade” positiva ou negativa pode ser fruto tanto das

predisposições individuais quanto do ambiente em que estão inseridos; não basta apenas a

vontade do indivíduo e seu pensamento positivo se ele se encontra num ambiente negativo,

e nem adianta, também, gerar um ambiente estimulante e positivo, se o indivíduo se

encontra com baixa auto-estima em seu mundo interior. Ser positivo constantemente

(25)

Chaves (2003) discute a saúde mental a partir dos valores dos indivíduos, do que eles

escolhem para suas vidas para se sentirem felizes ou como procuram os meios para

alcançar o bem-estar e a satisfação psicológica. A referida autora cita Ryan e Deci (2001),

os quais apontam para duas perspectivas que orientam o bem-estar subjetivo. Uma delas é a

perspectiva hedônica, na qual associa o bem-estar ao prazer ou felicidade, especificamente

no que se refere aos valores externos ao indivíduo, numa busca constante de prazer sem

limites. Segundo Fromm (1976, citado em Chaves, 2003), as pessoas que têm esses valores

hedônicos tendem a se sentir solitárias, ansiosas, medrosas e deprimidas.

Em contrapartida, a perspectiva eudaimônica orienta-se através do humanismo e

enfatiza que o indivíduo alcança o bem-estar ao satisfazer suas necessidades de crescimento

pessoal, de auto-realização. Estas foram consideradas como promovedoras do bem-estar

psicológico, uma vez que a constante busca pela auto-realização é um indicativo saudável e

benéfico para a saúde mental, indo de encontro ao que é íntimo do ser humano e ao que há

de mais significativo.

Um outro indicador de bem-estar é a vitalidade subjetiva que cada indivíduo carrega

em si (Ryan & Frederick, 1997, citado em Chaves, 2003). Consiste numa disposição tanto

biológica quanto psicológica do indivíduo, no sentido de ter energia e vitalidade para fazer

algum tipo de atividade, estar alerta e com disposição tanto física como mental e

psicológica.

Warr (1987) e outros autores mais recentes como Ogden (1999) e Bücher (2003)

afirmam que o indivíduo não deve ser considerado “saudável” ou “não-saudável”, mas sim, ser localizado num contínuo entre essas duas formas, vacilando dinamicamente no

intervalo. Essa noção de contínuo supera a dicotomia, porém é ainda insuficiente para

abranger a complexidade da saúde, posto que tem se argumentado pelo seu caráter

(26)

Chaves, 2003; OMS, 1948). Há de se levar em consideração fatores biológicos, sociais,

psicológicos, enfim, uma pluralidade de fatores que se interpõem, determinando a saúde do

indivíduo. As influências para a promoção/deterioração da saúde dependem da articulação

dessas facetas e são as psicológicas e sociais que comportam as crenças, atitudes e

comportamentos onde a Psicologia da Saúde se detém.

Warr (1987), abrangendo os aspectos culturais que levantou em relação ao conceito

de saúde, concebeu os estudos sobre saúde mental a partir de um modelo ecológico, pois

relaciona o indivíduo com o social, com o entorno do qual faz parte, estudando a saúde

mental a partir dessas relações que se estabelecem.

Corroborando com essa perspectiva de saúde mental do autor Warr (1987) ao

relacionar o indivíduo com o ambiente, a autora Jahoda (1987) realizou estudos

comparativos entre empregados e desempregados. Em seus estudos pôde observar que,

quando desempregado, o indivíduo sofria uma perda de “status” na sociedade, acarretando

numa diminuição da posição social valorizada que, segundo Warr, traz prejuízos à saúde

mental, uma vez que o indivíduo sente-se desvalorizado socialmente. Jahoda também

constatou a importância do trabalhador ter controle sobre o meio, seu entorno imediato,

corroborando com uma das dimensões ambientais de Warr. Assim, a autora revela que “(...)

o maior desejo dos trabalhadores é, tal e como tem sido demonstrado em mais de 100

estudos (...), adquirir o controle sobre seu entorno imediato e sentir que, tanto seu trabalho,

como eles mesmos são importantes” (p. 102).

Da mesma forma que Warr (1987), Jahoda (1987) destaca para a importância do

trabalhador ter atividades variadas e que, também, tenha controle e domínio sobre o que

está fazendo. Estes são aspectos que fazem emergir uma melhor saúde mental ao

trabalhador. A autora ainda faz uma crítica para a forma de organização do ambiente de

(27)

que ações deliberadas pelos gestores. Muitas dessas ações não encerram as reais

necessidades da classe trabalhadora, havendo muitos casos em que omitir parece ser uma

escolha mais fácil de gerenciar.

A noção de contínuo único contradiz inclusive o próprio modelo ecológico de saúde

de Warr (1987), o qual leva em conta características individuais e ambientais. Warr

relaciona cinco dimensões que integram o bem-estar psicológico, quais sejam:

1. Bem-estar afetivo: refere-se a quanto o indivíduo sente-se bem internamente,

estando essa dimensão muito relacionada com a auto-estima. Considera duas

dimensões do bem-estar afetivo, que são o prazer e a excitação. Um particular nível

de prazer pode ser acompanhado por altos ou baixos níveis de excitação, e um

particular nível de excitação pode ser também prazeroso ou desprazeroso. A

qualidade específica do afeto deriva de ambas as dimensões (prazer/excitação). Por

exemplo, sentimentos de depressão são caracterizados por baixos escores em cada

dimensão, e de sentir-se feliz pode ser descrito em termos de altos escores no

prazer e na excitação.

2. Competência: é um dos recursos psicológicos de que as pessoas se utilizam para

resolver variados tipos de problemas, sejam eles decorrentes da cognição, da

emoção, de fatores físicos, dentre outros;

3. Autonomia: refere-se à importância de se ter habilidades pessoais para resistir às

influências ambientais e determinar sua própria opinião e ação. Entretanto, muita

autonomia bem como pouca é vista como indesejável. Quando ocorre a falta de

autonomia (ou pouca), o indivíduo é determinado por acontecimentos externos,

podendo ocasionar excessivo conformismo, não saber discordar dos outros,

depender da ajuda de outras pessoas muito excessivamente, etc. Por outro lado, o

(28)

influências exercidas por outros, intolerância, desejo de ser completamente

independente de outros e não aceitar ajuda;

4. Aspiração: uma pessoa mentalmente saudável é vista como alguém que tem o

interesse em engajar-se no ambiente. Um elevado nível de aspiração é refletido em

comportamentos motivados, alerta para novas oportunidades, e um esforço para

encontrar mudanças que são pessoalmente significantes. Por outro lado, um

indivíduo com baixo nível de aspiração costuma manter suas atividades num

mesmo ritmo, no sentido de não inovar nem de ultrapassar metas. Quando o mesmo

passa a aceitar o estado presente e não há uma preocupação em melhorar e ampliar

suas possibilidades, verificamos que o indivíduo se encontra em baixo nível de

aspiração;

5. Funcionamento integrado: refere-se à pessoa como um todo, perfazendo as

múltiplas inter-relações entre os outros quatro componentes. Uma aproximação para este componente está em relação a três largas áreas do funcionamento do papel

social, referentes como “amor, trabalho e lazer”. Conflitos entre essas áreas podem

se originar. Tem sido sugerido que a pessoa saudável é alguém que equilibra a

importância das três áreas, evitando, por exemplo, o comportamento “viciado no

trabalho” em detrimento da vida familiar. As pessoas psicologicamente saudáveis

exibem uma certa harmonia e equilíbrio.

A competência, a autonomia e a aspiração estão muito mais relacionadas com o

ambiente no qual o indivíduo faz parte. Segundo Reis e cols. (2000), corroborando com

Warr (1987) a competência e a autonomia são necessidades humanas básicas que

contribuem para o bem-estar emocional dos indivíduos. Uma organização extremamente

(29)

recursos disponíveis, impedindo, dessa forma, galgar metas e ultrapassar obstáculos,

deixando baixo, por exemplo, seu nível de aspiração.

Warr (1987) relaciona nove características como fatores ambientais determinantes na

saúde mental, quais sejam:

1. Oportunidade para exercer controle sobre o meio: refere-se a quanto as

condições do ambiente de trabalho possibilitam que o indivíduo controle

atividades e outros eventos. Níveis baixos ou muito altos de controle sobre o

meio causam conseqüências negativas para a saúde mental (DA); 1

2. Oportunidade para a utilização e desenvolvimento dos conhecimentos e

capacidades pessoais: o ambiente pode inibir ou encorajar o indivíduo a

utilizar e desenvolver habilidades pessoais, pois as organizações rígidas

podem tolher capacidades e o autodesenvolvimento de seus trabalhadores. A

oportunidade do indivíduo responder perante diferentes demandas do meio,

de utilizar seus conhecimentos e desenvolver-se são psicologicamente

beneficiosos (DA);

3. Existência de objetivos gerados no meio: um indivíduo sente-se muito mais

satisfeito quando se encontra num ambiente em que há objetivos a serem

alcançados; um ambiente em que não há demanda sobre a pessoa, deixa-a

sem perspectivas e sem objetivos diante das situações (DA);

4. Variedade: atividades repetitivas e sem variedade contribuem para a

deterioração mental, daí a importância em incluir estímulos variados para a

promoção da saúde mental. Por outro lado, um excesso de variação também

não promove o bem-estar psicológico, sendo necessário ter-se equilíbrio no

uso da variedade (DA);

(30)

5. Clareza ambiental: o ambiente em que o indivíduo se encontra deve estar

suficientemente claro, compreensível, na promoção de sua saúde mental. Um

exemplo da clareza ambiental pode ser observada na falta ou não de feedback

sobre uma ação, na clareza sobre o cargo ocupado e quais as relações desse

cargo com os demais na organização, enfim, a clareza ambiental revela ao

indivíduo acerca do “terreno” em que o mesmo se encontra; quanto mais

compreensível for o ambiente, melhores repercussões terão sobre a saúde

mental. Por outro lado, o excesso de clareza ambiental pode levar a

acomodação, à monotonia (DA);

6. Disponibilidade econômica: é um fator que influencia a saúde mental,

principalmente por estarmos inseridos numa sociedade capitalista, porém a

disponibilidade econômica vai além disso. Uma família com carência

econômica, por exemplo, é inibida em utilizar atividades que requerem

dinheiro, procurando, pelo menos, manter em sua mesa a alimentação de cada

dia. Esses e outros fatores relacionados à disponibilidade econômica são

determinantes para a saúde mental (EC); 2

7. Segurança física: os ambientes precisam proteger a pessoa de ameaças ao

corpo, provendo um adequado nível de segurança, tais como níveis normais

de umidade, temperatura, estímulos visuais e auditivos, de modo que todos

esses estímulos sejam razoavelmente permanentes, não vacilando

extremamente de um ponto a outro (EC);

8. Oportunidades para desenvolver as relações interpessoais: os ambientes

também diferem nas oportunidades que eles promovem interações entre as

pessoas. Os contatos reduzem a solidão e exaltam sentimentos como amizade

(31)

e companheirismo. Além disso, ter relações interpessoais provê ajuda de

vários tipos (suporte social), que podem ser de origem emocional e/ou

instrumental. Ter muitas relações interpessoais também não é saudável,

passando a prejudicar a saúde mental do indivíduo, pois o mesmo deixa de ter

controle da sua própria vida para estar em função dos outros (muitas reuniões,

por exemplo) (DA);

9. Posição social valorizada: refere-se à posição em que o indivíduo se encontra

dentro da estrutura social em que está inserido. Seja na comunidade, no local

de trabalho ou na família, o indivíduo ocupa posições sociais (associadas em

geral ao desempenho de papéis sociais) que podem ser mais valorizadas que

outras e isso afetará seus sentimentos de auto-estima e conseqüentemente, sua

saúde mental (EC).

O modelo ecológico proposto por Warr (1987) para compreender a saúde mental

estabelece uma relação dialética entre o indivíduo e o meio. Para efeito de exposição, o

autor faz uma analogia entre as influências das vitaminas para a saúde física e as

influências do ambiente para a saúde psíquica. Vejamos como Warr estabelece essas

relações.

O organismo adoece quando as vitaminas lhe faltam e necessita das mesmas para

manter-se em bom estado de funcionamento. À medida que ingere determinados níveis de

vitaminas, gradativamente, o organismo vai melhorando seu estado. No decorrer do tempo,

no entanto, a ingestão de algumas vitaminas não terão benefício ulterior, tornando-se

constantes as reações do organismo. Warr (1987) chamou a essas vitaminas de EC, que

significam “efeito constante”. Enquanto as vitaminas EC tornam-se constantes com o

tempo, no sentido de não surtir efeitos no organismo após várias doses, outras porém, com

(32)

que significam “diminuição adicional”. Em outras palavras, existindo uma situação de

deficiência das vitaminas, o organismo, gradualmente, melhora o seu estado nas primeiras

doses; num determinado período, após várias dosagens das vitaminas, ou o organismo sente

os efeitos constantes (vitaminas EC) ou o organismo tende a reagir contra o excesso dessas

vitaminas (vitaminas DA), tornando-se prejudiciais ao organismo.

A fim de compreender a influência do meio na saúde mental, Warr (1987) substituiu

as vitaminas pelas características do ambiente, ou seja, é o meio que circunda o indivíduo

que está, constantemente, causando uma deterioração ou benefício na saúde psicológica,

dependendo de como essas influências são apresentadas ao indivíduo, como o mesmo as

interpreta e com que freqüência aparecem. Como foi visto anteriormente, segundo o

referido autor, há nove categorias ambientais influenciando a saúde mental. Essas

categorias ambientais poderão surtir efeitos benéficos na saúde psicológica, tornando-se

constantes com o tempo ou chegando a trazer prejuízos, dependendo da freqüência com

que surgem ao indivíduo, como surgem e quais as interpretações advindas dessas relações.

Warr (1987) chama a atenção para a dinamicidade do processo e a necessidade de

interpretarmos sua teoria a partir de uma visão não-linear, mas processual. Supõe uma

relação dialética entre indivíduo e entorno, já que a caracterização de um depende do outro,

por exemplo, a adequação (no sentido do efeito sobre a saúde psíquica) da variedade do

ambiente depende da competência do indivíduo e de seus níveis de aspirações e o indivíduo

tende a ajustar (em certa medida) seus níveis de aspiração e desenvolver suas competências

compatibilizadas às oportunidades do entorno.

Corroborando a linha de pensamento do autor Warr (1987), Jaffe (1995) afirma que a

saúde organizacional é ampla, não se restringindo à saúde dos funcionários, mas devendo

(33)

Uma organização é considerada saudável quando alcança a satisfação não só dos seus

funcionários, mas também quando envolve a satisfação dos clientes, fornecedores,

proprietários diretores da empresa e até da comunidade local. A saúde organizacional está

implicada, então, à eficácia organizacional (Jaffe, 1995).

Outra perspectiva de se ter uma organização saudável refere-se aos valores que ela

tem. Uma empresa que valoriza o trabalhador e investe no seu desenvolvimento pessoal e

profissional traz valores que repercutem na saúde organizacional (Jaffe, 1995).

Warr (1987) representa em um gráfico (Figura 1) as relações dos componentes

ambientais na saúde mental.

Alto S A Ú D E M E N T A L

Efeito Constante

Diminuição Adicional

Baixo

CARACTERÍSTICAS DO MEIO

AÚDE M ENTAL S

Alto

Figura 1. Representação do modelo de saúde de Warr (Copiado de Álvaro & Paez, 1996)

Assinalamos que o modelo de Warr (1987) contribuiu principalmente classificando os

fatores ambientais e esclarecendo os efeitos diferenciais dos fatores ambientais na saúde

psíquica. A analogia com as vitaminas é compreendida apenas como um recurso de

exposição.

Para compreender a variabilidade da saúde mental entre os indivíduos, uma

(34)

saúde mental como positiva, relativa à cultura e multidimensional, é apresentada por

Tazelaar (1989, citado por Álvaro-Estramiana, 1992) que se fundamenta na teoria da

incongruência mental. Essa teoria consiste em comparar duas situações que ocorrem num

mesmo indivíduo: a avaliação cognitiva da situação e a avaliação idealizadora da mesma

situação. Por exemplo, numa situação de desemprego o indivíduo avalia cognitivamente

sua situação de desempregado, que entra em dissonância cognitiva com a idealização da

situação que seria estar empregado. Esse tipo de situação leva à corrosão cognitiva e ao

sofrimento psíquico do indivíduo.

Quando um indivíduo lida muito freqüentemente com situações de dissonância

cognitiva está fadado a contrair grande sofrimento psíquico. Situações dentro do próprio

trabalho, tais como a necessidade de crescimento profissional (avaliação idealizadora) e a

verificação de uma realidade em que não há como “fazer carreira” na empresa (avaliação

cognitiva) geram uma dissonância cognitiva, causando sofrimento psicológico. Em seu

livroTeoria da Dissonância Cognitiva, Festinger (1975) explana acerca da estruturação de

elementos cognitivos e as influências que os mesmos repercutem na saúde psíquica. O

referido autor revela que as pessoas, de um modo geral, esforçam-se por estar num estado

de coerência cognitiva consigo mesmas. Fora desse “estado” (que podemos chamar de

momentâneo, pois as influências são constantes no tempo), sentem um desconforto

psicológico, visto que elementos cognitivos incoerentes entre si participam do processo. O

autor cita um exemplo de dissonância cognitiva ao relatar sobre um indivíduo que planeja

um piquenique no dia anterior, acreditando que no outro dia vai fazer bastante sol.

Acontece que o dia amanhece chuvoso, indo contra toda uma programação e expectativas

de que iria usufruir de um piquenique num belo dia ensolarado. O elemento cognitivo

(fazer sol), em contato com a realidade (chuva), gera desconforto cognitivo, fazendo com

(35)

A geração de dissonância ou consonância cognitiva perpassa, necessariamente, pela

cognição do indivíduo, comportamentos (tanto do indivíduo quanto de outras pessoas),

meio (contexto em que ocorre a dissonância/consonância), valores (perfazendo um

caminho dialético entre os próprios valores e de outras pessoas) e cultura. Nota-se que a

variabilidade é extensa no influenciar os fatores cognitivos, uma vez que podem participar

elementos da própria realidade, como fatores ditos por outras pessoas que, também,

influenciam essa realidade. Para Festinger (1975), a dissonância pode abranger variadas

magnitudes, dependendo de quanto os elementos são importantes e de valor para a pessoa.

Quanto mais importantes os elementos, maior a magnitude da dissonância cognitiva.

Quando os indivíduos se encontram em situações de grande dissonância, procuram meios

que justifiquem ou racionalizem essa dissonância, na tentativa de procurar conforto

cognitivo e manter-se razoavelmente bem psicologicamente.

A partir da década de 1990, intensificaram-se muito as pesquisas e publicações na

perspectiva da Psicologia da Saúde. Assim, corroborando essa tendência, Campos (1992)

realça a estreita relação entre saúde/doença e psiquismo, apontando que os conflitos

internos, estresse, problemas emocionais podem materializar-se em forma de doença, seja

ela psíquica e/ou física. Primar pelo que realmente causa a doença é fundamental, a fim de

que não sejam tomadas ações paliativas em seu tratamento e nem se deixe de assumir uma

postura ética. Ainda assim, a origem de algumas doenças ainda é uma incógnita: por que surgem em determinados indivíduos e não em outros? Ou ao contrário: por que alguns

gozam de boa saúde em contexto semelhante? Que atitudes e comportamentos tomam em

suas vidas em função de seu bem-estar?

Na conjuntura atual de velocidade das informações, de incentivo ao individualismo e

das pressões do mercado de trabalho, surgem as chamadas “doenças da civilização”, tais

(36)

associam-se a variados aspectos da vida cotidiana como o estresse, o sedentarismo, a

poluição do meio ambiente, a contaminação do ar, da água e dos alimentos, o consumo de

drogas, a excessiva ingestão de proteínas, os acidentes de trânsito e os problemas de saúde

mental, agravados no contexto das megalópoles e do desenraizamento social. As pessoas

estão sendo influenciadas todo o tempo por este ambiente nervoso, por mais que adotem

medidas “anti-estresse” na tentativa de amenizar toda essa conturbação. Sem esperar, as

pessoas se deparam comportando-se com “(...) um impulso excessivamente competitivo,

impaciente, hostilidade e movimentos rápidos” (Holtzman et al., 1988, p. 268), uma vez

que é a partir do ambiente que estabelecem interações, havendo, portanto, uma necessidade

em intervir, pelo menos localmente (como no ambiente de trabalho) com medidas

preventivas e corretivas no combate a essas formas de deterioração psicológica.

Castilla del Pino (1989, citado por Ozámiz, 1992), referindo-se à estruturação

psicológica, comenta:

(...) os acontecimentos vitais influenciam no pensamento e seu ordenamento,

assim como na cognição conseqüente, e que todo ele se reflete no

comportamento e na estrutura psicológica do indivíduo e dos grupos, e desse

modo, também na psicopatologia e em diversos transtornos mentais (p. 76).

Por extensão, Ozámiz (1992) pontua que, dependendo da interação que o indivíduo

estabelece com o ambiente, se vem a causar ou não riscos cognitivo-emocionais, o

resultado dessa avaliação pode repercutir em respostas neuroendocrinológicas e fisiológicas

no sujeito.

Por mais que os estímulos aconteçam igualmente para vários indivíduos, cada um irá

observá-los diferentemente devido às próprias diferentes vivências no decorrer da sua vida

e por conseqüência, responderão diferentemente também, dependendo de como avaliaram o

(37)

nesses termos, dá-se a partir do contexto em que o indivíduo está inserido, levando em

consideração a avaliação cognitiva da experiência ao resgatar vivências passadas e como o

indivíduo estabelece futuras ações a partir do resultado encontrado entre os fatores

cognitivos, emocionais e fisiológicos, todos se influenciando mutuamente. Fala-se nesses

fatores, mas é difícil separá-los, visto que a cognição resgata fatores emocionais e que

resgata respostas neuroendocrinológicas e fisiológicas no sujeito. Quando um indivíduo se

encontra em acentuado bem-estar psicológico, pode-se entender que houve uma boa

“coordenação” entre esses conjuntos, estando os mesmos refletidos no comportamento e na

estrutura psicológica do indivíduo.

O autor Marin (1992) discute praticamente todos os conceitos até agora aqui

expostos sobre saúde mental de uma maneira ao mesmo tempo sintética e abrangente, ao

dizer que ...

A saúde mental da pessoa depende, desde sua gestação, de um normal

desenvolvimento neurobiológico, de fatores hereditários, da educação familiar

e escolar, do nível de bem-estar social no seio da comunidade, do grau de

realização pessoal no meio sócio-ocupacional, de uma relação de equilíbrio

entre a capacidade do indivíduo e as demandas sócio-ocupacionais,

socioeconômicas, socioculturais e psicossociais, e de um envelhecimento

digno (p. 103).

Mediante esse conceito mais amplo de saúde, destaca-se a posição de Canguilhem

(1963/1943, citado por Coelho & Almeida Filho, 2002) ressaltando a importância em

considerar o fenômeno a ser investigado e passando a ter uma preocupação com outras

dimensões, tais como o social e o ambiental. Contandriopoulos (1998) resume esse

pensamento na seguinte afirmação: “(...) que os pesquisadores de cada disciplina repensem

(38)

encarem horizontes temporais diferentes e conseqüentemente que modifiquem a maneira de

conceber os fenômenos que estudam” (p. 5). Respeitar o fenômeno que se está estudando e

pesquisando é obrigação de todo pesquisador. Alguns se fecham em suas próprias teorias,

métodos de trabalhar e de intervir, perdendo-se consideravelmente o cerne da problemática

– o sofrimento que está acometendo a um indivíduo – e dessa forma, deixam de agir

eticamente em respeito às reais necessidades do ser humano, na demanda trazida pelo

mesmo e agem embutidos em suas próprias concepções do que venha a ser o “tratamento

adequado”.

Pelo exposto, observa-se que a saúde/doença faz parte de uma convergência entre o

psiquismo, as relações sociais e o ambiente (Guattari, 1990 citado em Vaitsman, 1992).

Está-se, todo o tempo, envolvido nessas relações, uma influenciando a outra, seja para a

promoção ou deterioração da saúde. Hoje, considera-se que saúde mental é sinônimo de

estar, sendo que esse estar não pode ser reduzido às suas partes, mas um

bem-estar global do ser humano ao estabelecer relações dialéticas entre as concepções

biológicas, psicológicas, sociais e ambientais.

Urge, portanto, a necessidade de compreender a saúde do ser humano perante uma

visão processual e sistêmica de saúde, em que os diferentes profissionais da saúde possam

estabelecer um diálogo no tratamento e prevenção da saúde dos indivíduos.

1.2. Saúde Mental no Trabalho

Neste subtópico, tratar-se-á da esfera do trabalho como campo de discussão,

buscando delinear o tema da saúde mental nesse entorno, compreendendo os conceitos

(39)

ampliações acerca deste tema na área do trabalho. Diante da exposição da seção anterior, o

trabalho é apenas um dos vários entornos e/ou aspectos que podem afetar a saúde. Apesar

da natureza restritiva, essa relação tem ocupado a atenção de muitos psicologistas e

psicólogos.

São muitas as razões que têm conduzido estudiosos a focar a discussão sobre saúde

psíquica neste campo. Por exemplo, segundo a revista American Psychologist (1991),

citado por Codo e Jacques (2002), o sofrimento psicológico é a segunda causa de

afastamento no trabalho nos Estados Unidos. Dados revelam que só a esfera do trabalho é

capaz de especificar mais de 35 doenças diferentes (Baker & Ladrigan, 1990 in Danna &

Griffin, 1999) e que o trabalho tem se tornado cada vez mais arriscado devido a mudanças

estruturais do sistema econômico, na medida em que se implementam novas tecnologias,

mudança nas relações de trabalho e nos postos de trabalho em geral (Berry, 1997 in Danna

& Griffin, 1999). Constatações como essas preocupam, uma vez que o trabalho é uma das

esferas mais significativas para o Homem, é onde o Homem se realiza, produz para a

sociedade e se produz concomitantemente, contribuindo para o progresso e o

desenvolvimento geral de uma Nação.

Apesar do reconhecimento atual da importância dos estudos sobre saúde mental e

trabalho, o desenvolvimento deste campo pode ser considerado bastante tardio. Uma das

explicações para isso é a persistência durante um longo período do conceito negativo de

saúde mental (ausência de doença) tratado na seção anterior. Além disso, a visão cartesiana,

que conduzia a explicar o psiquismo pelo próprio psiquismo também funcionava como um

impedimento para buscar compreender a relação aqui enfocada.

Outra explicação origina-se nas características da organização do trabalho: enquanto

(40)

parcelado, mecânico e dissociado radicalmente na execução das tarefas da concepção

criativa das mesmas, o bem-estar dos indivíduos não interessava às organizações.

A primeira linha de pesquisa neste campo a prosperar tematizou os efeitos do

desemprego sobre a saúde mental. Entre esses, destacam-se os estudos pioneiros de Jahoda

(1987) sobre as reações dos indivíduos diante da situação do desemprego duradouro. Mas

muitos estudos ocorreram e continuam a ser desenvolvidos (por exemplo, Banks et al.

1980; Álvaro-Estramiana, 1992). Muitos deles fizeram uso extensivo do QSG-12 para

comparar a saúde mental dos empregados e dos desempregados. Portanto, fica claro que a

atenção aos pequenos transtornos psíquicos na Psicologia da Saúde os influenciou.

Tais estudos demonstraram que os desempregados tendem a apresentar uma saúde

mental mais precária. No entanto, permaneceu a dúvida: é realmente o desemprego que

influencia negativamente a saúde mental (causação social) ou são as pessoas com

transtornos mentais que tendem a perder o emprego (seleção social)?

Na tentativa de responder tal questão, Mirowsky e Ross (1989) desenvolveram

pesquisas confrontando a validade dos modelos explicativos da saúde mental – a causação

social e a seleção social – e os resultados tornaram-se um marco importante no campo de

conhecimento. Tomando como exemplo, a depressão, o modelo da causação social

relaciona a baixa renda familiar à reduzida participação no sistema econômico e social,

observando-se, por conseqüência, num aumento da vulnerabilidade à depressão. Este

modelo leva em conta os fatores sociais, econômicos, políticos relacionados para explicar

os efeitos psicológicos decorrentes. Em contrapartida, o modelo da seleção social afirma

que é a depressão a causadora de um baixo nível econômico e social. Neste modelo,

observa-se que as causas estão nos indivíduos, por isso é chamado de seleção social e que a

depressão, neste exemplo, é a causa do insucesso individual. Os autores mostraram, por

(41)

social explica melhor a maior parte dos casos. Por outro lado, não se pode desconsiderar o

modelo da seleção social, pois existirão casos em que estar desempregado estará,

realmente, na causa individual. O autor Warr (1987), visto anteriormente, realça essas

considerações em sua teoria, demonstrando a natureza dialética entre os aspectos internos e

externos ao indivíduo, em como essas relações estão imbricadas no promover ou deteriorar

a saúde mental.

Mas enquanto crescia a linha de pesquisa sobre os efeitos do desemprego, muitos

começaram a duvidar se todo trabalho promove a saúde mental das pessoas. Neste

contexto, consolidou-se também a perspectiva que ficou conhecida como Psicopatologia do

Trabalho, que tem Dejours (1980) entre um dos nomes de destaque.

E é referente ao meio, mais especificamente, ao local de trabalho, que Dejours (1980)

faz referência à importância atribuída à saúde mental dos indivíduos. Comenta sobre as

tristes conseqüências psíquicas advindas de uma organização de trabalho extremamente

rígida e insignificante no conteúdo das tarefas. “(...) quanto mais a organização do trabalho

é rígida, mais a divisão do trabalho é acentuada, menor é o conteúdo significativo do

trabalho e menores são as possibilidades de mudá-lo. Correlativamente, o sofrimento

aumenta” (Dejours, 1980, p. 52).

Ao referir-se sobre a fadiga laboral, Dejours (1980) não se refere apenas a um

excesso de trabalho, mas também, a uma inatividade, aquela que reprime e engessa o

trabalhador, principalmente quando o mesmo se encontra numa organização inorgânica e

altamente hierarquizada. “Essa inatividade é fatigante porque não é um simples repouso

mas, ao contrário, uma repressão – inibição da atividade espontânea” (Dejours, 1980, p.

130).

Como disto se depreende, as análises de Dejours dirigem-se ao trabalho organizado

(42)

os limites das afirmações de Dejours, quanto para se perceber a importância de sua

contribuição na elucidação dos efeitos dos diferentes tipos de trabalho.

Interessante observar que, segundo a voz de empregadores, esse adoecer psíquico diz

respeito muito mais ao indivíduo do que ao contexto laboral em que o mesmo se encontra,

demonstrando uma persistência da concepção biomédica de saúde no senso comum.

Nesse mesmo sentido, acredita-se que em nossa sociedade estar saudável é poder

produzir, trabalhar; esse é o discurso da ideologia dominante comprometida com a

manutenção do sistema capitalista, em que supõe que os trabalhadores existem para

produzir. Adicionalmente, se uma determinada doença não se manifesta visivelmente, por

exemplo, a depressão, então há uma tendência a considerar que o indivíduo não está

doente, não se configurando em impedimento para trabalhar. Ressalva-se aqui que não se

está supondo que a depressão não tenha influências orgânicas, mas apenas que não é tão

visível quanto uma doença contagiosa, como o sarampo e várias outras. Corroborando com

a idéia da difusão da crença de que estar saudável é poder produzir, Traverso (2002) mostra

que o homem simples a absorve em seu próprio discurso e prática cotidiana.

Fazendo um paralelo entre os modos de gestão e organização do trabalho tayloristas

que, segundo Legge (1995, citado em Sato, 2002), caracteriza-se por um modelo duro, hoje

o modelo é leve, com a diferença de que no primeiro caso havia uma postura passiva do

trabalhador e seguia-se uma hierarquia rígida de organização do trabalho. Atualmente,

vendo a necessidade cada vez maior em resgatar a potencialidade e criatividade do

trabalhador, as empresas utilizam um modelo leve, no qual se caracteriza por um modo de

“controlar” mais ameno, depositando nesse trabalhador grandes responsabilidades e, no

qual, segundo Spink (1994, citado em Sato, 2002), há uma mudança no discurso ao falar

sobre envolvimento, qualidade, participação etc. “Daí, porque observa-se a preocupação

(43)

presentes apenas física e externamente” (Sato, 2002, p. 37). Heloani (1996), corroborando

Sato, defende que houve uma ampliação do controle a partir do inconsciente das pessoas.

Pelo fato desses mecanismos serem controlados mais simbolicamente do que externamente,

observa-se a dificuldade em diagnosticar e desenvolver ações corretivas e preventivas para

o bem-estar do trabalhador. Muitas vezes, nem o próprio trabalhador acredita que seus

males sejam decorrentes da organização do trabalho e sim, que ele necessita superar as

“dificuldades” para ser cada vez mais “competitivo e empreendedor”, já que é dessa forma

que a organização espera que ele seja.

Os autores Maslach e Leiter (1999) recorrem, igualmente, à organização do trabalho,

ao modo de gestão e às relações de produção para falar das conseqüências psicológicas

advindas do trabalho que possam representar prejuízos à saúde do trabalhador e

conseqüentemente, à sua satisfação no trabalho. Relacionam seis fatores determinantes do

esgotamento físico e emocional: o excesso de trabalho; a falta de controle sobre o próprio

trabalho; a falta de recompensas pelas contribuições no trabalho; a falta de união entre os

trabalhadores; a falta de eqüidade entre a organização e os trabalhadores e o conflito de

valores entre estes e a empresa. Uma organização que se descuida desses fatores necessita

fazer uma reavaliação de sua gestão em recursos humanos, no que ela pode estar perdendo

no que tange aos aspectos humanos da empresa ou à desvalorização de um fator que é

considerado o mais significativo na manutenção da organização viva: a energia dos seus

trabalhadores. Falta muito para que os empregadores reconheçam a necessidade em se

investir no trabalhador; por enquanto a saúde psíquica ainda é irrelevante para eles.

Maslach e Leiter (1999) afirmam que a saúde física e emocional dos trabalhadores é

dependente da estrutura organizacional com a qual os mesmos têm relação cotidianamente

no seu trabalho, apontando que a causa da baixa produtividade empresarial decorre de toda

(44)

supervalorizam os lucros e/ou os resultados sem saber que na melhoria dos rendimentos é

indispensável investimentos humanos, investimentos que possam resgatar a sinergia

organizacional por meio de seus trabalhadores.

Segundo os autores Maslach e Leiter (1999), os empregadores ainda têm uma visão

míope frente a essas considerações, uma vez que visam apenas seus próprios interesses e

“reduzir custos”, discurso mais freqüentemente por eles utilizado. Nesses termos, deixam

de contratar mais funcionários a fim de reduzir custos, benefícios e, no entanto, acabam

tendo prejuízos na qualidade dos serviços, deixando com um único funcionário, por

exemplo, uma gama de atividades que, a médio e longo prazos, causarão, no mesmo,

seqüelas psicológicas graves e tolhendo por conseguinte, o compromisso do funcionário

com o trabalho. Se o que movimenta uma empresa são seus trabalhadores, não há nada

mais claro que a necessidade de investir nos mesmos, não só por intermédio de cursos e

treinamentos técnicos, mas principalmente, respeitando-os e assumindo uma posição

equânime com eles. Maslach e Leiter (1999) destacam esse pensamento na seguinte frase:

“Ao assumir a responsabilidade de lidar com o desgaste físico e emocional, a empresa está

se administrando de uma forma que lhe assegurará um pessoal produtivo por muito mais

tempo” (p. 104).

A linha de pensamento dos autores Maslach e Leiter (1999) corrobora com a

justificativa de que a saúde mental responde melhor quando explicada através da teoria da

causação social dos autores Mirowsky e Ross (1989), anteriormente citada. O sistema é que

é inadequado, antes de procurar possíveis “desordens” no trabalhador, principalmente

quando toda uma organização encontra-se doentia, sem ânimo para o trabalho. As soluções

para os problemas precisam ser buscadas na estrutura organizacional, na política e na

(45)

Os autores Peiró, González-Romá, Meliá e Zalbidea (1992) assinalam a importância

do conflito e ambigüidade de papéis como aspecto estressor e causador de deterioração

mental. Quando o trabalhador encontra-se em conflito de cargo, “(...) a situação ambiental

se caracteriza pela presença de expectativas de papel incompatíveis que exigem

conformidade na conduta da pessoa focal” (Peiró et al. 1992, p. 123). E no caso de

ambigüidade do cargo, faltam informações suficientes para o trabalhador desempenhar suas

tarefas de forma adequada e consciente da sua função.

Há também, autores que estudam a saúde mental a partir do estresse do trabalhador,

palavra comumente usada no dia a dia das pessoas, em geral, e no ambiente de trabalho, em

particular (Filgueiras & Hippert, 2002). Posen (1995, citado em Filgueiras & Hippert,

2002), propõe uma série de atividades para diminuir o estresse, tais como

(...) mudanças de comportamento, modo de pensar, estilo de vida, e da própria

situação em que o indivíduo se encontra. Recomenda ainda moderar a ingestão

de cafeína, praticar exercícios regularmente, relaxamento ou meditação, e

aponta para a importância de se dormir bem e ter atividades de lazer. Além

disso, afirma que o indivíduo deve ter expectativas realistas na vida, bom

humor, e procurar fazer reinterpretações das situações estressantes, reavaliando

suas crenças (p. 118).

Apesar dos autores enfocarem aspectos individuais, não se pode desconsiderar os

fatores ambientais, sociais e organizacionais para a avaliação da saúde mental no trabalho,

como descrito anteriormente.

Quando as relações entre o indivíduo e o trabalho tornam-se cada vez mais

ansiogênicas e geradoras de grande sofrimento psíquico, havendo uma incompatibilidade

entre os âmbitos objetivo e subjetivo, tem sido comum o surgimento da “doença dos

(46)

perturbações estomacais, dificuldades com o sono, inquietação, incapacidade para se

concentrar, tremores, sensações de formigamento no corpo, tonturas, entre outros”

(Jacques, 2002, p. 100).

Jacques (2002) também enfatiza que esse adoecer psíquico não deixa de ser a

manifestação de uma vivência subjetiva, em que as relações entre o indivíduo e o trabalho

“se explicam em um esquema cognitivo-representacional, próprio a um determinado

contexto sociocultural” (Jacques, 2002, p. 109-110). Assim, o indivíduo irá vivenciar

emocional e cognitivamente o seu adoecer, atrelado aos fatores socioculturais que o

determinam. É importante notar que os argumentos de Jacques são coerentes com autores

citados anteriormente na seção sobre o conceito de saúde mental tais como Warr (1987) e

Kleinmann (1988/1986/1980, citado em Coelho & Almeida Filho, 2002).

No cenário a que se vislumbram as organizações, observa-se um contexto de grandes

mudanças e de velocidade dos acontecimentos e da tecnologia, causando menos controle do

indivíduo sobre seu trabalho, caso não se realize uma política de investimento para o

trabalhador. Paralelamente ao pensamento de Warr (1987), o autor Jaffe (1995) destaca a

importância do trabalhador ter controle no seu ambiente de trabalho. Os problemas de

saúde e estresse acontecem quando ocorrem altas demandas e baixo controle no ambiente

de trabalho. Segundo Karasek e Theorell (1990, citado por Jaffe, 1995), quando o trabalho

passa a criar maiores oportunidades aos trabalhadores e quando os mesmos também

experimentam que são capazes de ter controle sobre a tarefa, além de ter suporte social na

empresa onde trabalham, então mais saúde terá a organização.

Karasek e Theorell (1990, citado por Jaffe, 1995) destacam que as organizações

rígidas, muito verticalizadas e que seguem um regime de trabalho baseado em pressões e

ameaças geram um clima organizacional prejudicial à saúde dos trabalhadores, tornando-os

Imagem

Figura 1. Representação do modelo de saúde de Warr (Copiado de Álvaro & Paez, 1996)
Figura 2. Gráficos dos escores no fator “Disponibilidade Econômica” e os escores nos  demais variáveis indicadoras de saúde mental (contínuas)

Referências

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