Capacidade para o t raba lho ent re t raba lhadores de higiene e lim peza de um hospit al universit ário público1
W ork a bilit y am ong cleaning and hygiene’s w ork ers of a public universit y hospit al
Capacidad pa ra el t rabaj o ent re t rabaj a dores de higiene y lim pieza de un hospit al universit ario publico
Larissa Gut ierrez da SilvaI, Maria do Carm o Lourenço HaddadI I, Rit a de Cássia Dom anskyI I I, Dagm ar Willam owius Vit uriI V 1 Trabalho de conclusão do curso de Residência em Gerência dos Serviços de Enferm agem da Universidade Est adual de Londrina ( UEL). I Enferm eira. Mest randa do Program a de Pós Graduação em Enferm agem ( PSE) da Universidade Est adual de Maringá ( UEM). Maringá, PR.
E-m ail: larissagutierrez@yahoo.com .br.
I I Enferm eira. Dout ora em Enferm agem . Docente do Depart am ento de Enferm agem da UEL. Londrina, PR. E- m ail: haddad@sercom t el.com .br.
I I I Enferm eira. Dout ora em Enferm agem . Chefe da Divisão de Assistência à Saúde da Com unidade da UEL. Londrina, PR. E- m ail:
rita.dom ansky@uel.br.
I V Enferm eira. Mest re em Enferm agem . Coordenadora da Assessoria de Cont role de Qualidade da Assist ência de Enferm agem do Hospital
Universit ário de Londrina. Londrina, PR. E-m ail: dagm ar@uel.br. RESUMO
A capacidade para o t rabalho é a base do bem - est ar para o ser hum ano e a sua m anut enção envolve condições de saúde e t rabalho adequadas. Com o obj et ivo de verificar a capacidade para o t rabalho ent re t rabalhadores de higiene e lim peza, realizou- se um a pesquisa quant itat iva, do t ipo descritivo- exploratória, em um hospital universitário público do norte paranaense, de m arço a j unho de 2008, por m eio da aplicação de um questionário const it uído por dados sócio- dem ográficos e ocupacionais, e pelo Í ndice de Capacidade para o Trabalho ( I CT) . Os dados foram analisados pelo program a Epi I nfo 2002. A população foi com post a por 98 t rabalhadores, sendo que 82,4% possuem m ais de 41 anos e 96,9% são m ulheres. Quanto à avaliação da capacidade para o t rabalho, 45,9% dos ent revistados obtiveram um I CT bom , 23,5% ótim o, 22,4% m oderado e 8,2% baixo, com escore m ínim o de 16 e m áxim o de 49. As doenças m úsculo esquelét icas foram as m ais referidas pelos ent revist ados. Os fat ores relacionados à capacidade para o t rabalho são m últ iplos, assim , as ações para a prevenção e recuperação desta capacidade devem ser discutidas e conciliadas entre em pregados e em pregadores, garantindo um espaço para cont ext ualização e reflexão acerca do processo de t rabalho.
Descrit ores: Avaliação da Capacidade de Trabalho; Serviço de Lim peza; Envelhecim ent o; Saúde do Trabalhador; Enferm agem do Trabalho.
ABSTRACT
The abilit y t o work is t he basis of well- being for hum ans and it s m aint enance involves healt h and working condit ions. This research had t he purpose t o verify t he work capacit y on cleaning and hygiene workers in a Public Teaching Hospit al, using t he Work Capacit y I ndex ( WCI ) . This is a quant it at ive approach st udy, descriptive- explorer kind, consum m ated in a Teaching Hospital of Paraná Nort h, from March to June of 2008, through one quest ionary shaped by social, dem ographic and occupacional data, and t he Work Capacity I ndex ( WCI ) . The dat a was analyzed for the Epi I nfo 2002 program . The population was form ed by 98 workers, where 82, 4% are older than 41 years old and 96, 9% are wom en. Considering t he work capacity evaluat ion, 45,9% of interviewees achieved a good WCR, 23,5% achieved a very good, 22,4% achieved m oderat e and 8,2% low, wit h m inim um score of 16 and m axim um score of 49. The skelet al m uscle diseases were t he m ost m ent ioned. The factors relat ed to the work capacity are m ult iple, this way, the actions for prevention and recovery of this capacit y m ust be discussed and m ediat ed between em ployees and em ployers, ensuring a chance t o analyze the context and reflect about t he work process.
Descript ors: Work Capacity Evaluation; Housekeeping; Aging; Occupat ional Healt h; Occupat ional Healt h Nursing.
RESUMEN
La capacidad de trabaj o es la base del bienestar de los seres hum anos y su m ant enim iento im plica la salud y las condiciones de t rabaj o. Est e est udio t uvo com o obj et ivo verificar la capacidad de t rabaj ar ent re los em pleados de higiene y lim pieza de un hospital universit ario público, utilizando el Í ndice de Capacidad para el Trabaj o ( I CT) . Est e es un est udio de enfoque cuant it at ivo, de t ipo descript ivo y exploratorio, celebrada en un hospital universitario en el norte de Paraná, de m arzo a j unio de 2008, m ediante la aplicación de un cuest ionario que incluía los datos socio- dem ográficos y laborales, y por el I ndice de la Capacidad de Trabaj o ( I CT) . Los dat os fueron analizados m ediante el program a Epi I nfo 2002. La población há sido com puest a por 98 t rabaj adores, m ient ras que 82,4% t enían m ás de 41 años y 96,9% eran m uj eres. En cuant o a la evaluación de la capacidad para el t rabaj o, 45,9% de los encuestados han t enido un buen I CT, el 23,5% m uy bueno, 22,4% m oderado y 8,2% inferior, con punt uación m ínim a de 16 y un m áxim o de 49. Las enferm edades de los m úsculos esquelet icos son las m ás m encionadas. Factores relacionados con la capacidad de trabaj o son m últiplas, de esta m anera, las acciones de prevención y recuperación de est a capacidad deben ser discut idas y conciliadas ent re t rabaj adores y em presarios, garant izando un espacio para la reflexión y la cont ext ualización del proceso t rabaj o.
I N TRODUÇÃO
A capacidade para o trabalho é a base do bem -estar para o ser hum ano e está relacionada à capacidade que o indivíduo tem para executar suas atividades laborais em função das exigências ocupacionais, de seu est ado de saúde e de suas condições físicas e m entais( 1).
Diversos fatores, com o aspect os sociodem ográficos, estilo de vida, processo de envelhecim ento e exigências do trabalho afetam a capacidade para o trabalho, tornando- a insatisfatória ao longo da vida( 1). Dent re est as condições, a saúde
pode ser considerada um dos principais determ inantes desta capacidade( 2).
Assim , a m anutenção da capacidade para o trabalho envolve condições de saúde e de trabalho adequadas, tanto no que diz respeito às relações interpessoais com o am bientais, resultando em um a m elhor qualidade de vida dentro e fora do trabalho, um a m aior produt ividade e um período de aposentadoria m ais proveitoso( 1- 2).
A Organização Mundial de Saúde ( OMS) t em dem onstrado preocupação com a questão do envelhecim ento relacionado ao trabalho e reconhece que m odificações nos vários sistem as do corpo hum ano levam a um a dim inuição gradat iva na eficácia de cada um deles, com dim inuição na capacidade funcional dos indivíduos, podendo gerar discordância entre as exigências do trabalho e a real capacidade funcional( 3).
O im pacto da transição dem ográfica no processo laboral e as m udanças das relações de produção e de trabalho têm m otivado diversos estudos sobre a capacidade para o trabalho desde o início dos anos 90. No Brasil, as pesquisas relacionadas à capacidade e envelhecim ent o funcional iniciaram após a t radução e adaptação do questionário “ Í ndice de Capacidade para o Trabalho” ( I CT) para a língua portuguesa, que ocorreu em 1997( 1).
A avaliação da capacidade para o trabalho auxilia na priorização e na identificação de trabalhadores que necessitam , ou necessitarão num breve período de tem po, do apoio dos serviços de saúde ocupacional. Est a iniciat iva garant e um a at enção precoce que otim izará as condições estabelecidas para prevenir um a dim inuição prem atura na capacidade para o trabalho( 4).
O trabalho de lim peza em am biente hospitalar é um a das atribuições m ais susceptíveis às im plicações sociais e laborais, refletindo prontam ente na segurança e saúde das pessoas inseridas nesse am biente. Conform e determ ina o Manual do Ministério da Saúde – “ Processam ent o de Artigos e Superfícies em Estabelecim entos de Saúde”( 5), o
setor de higiene e lim peza hospitalar é o responsável por toda a rem oção de suj eiras, detritos indesej áveis e m icroorganism os presentes no am biente hospitalar,
m ediante a utilização de processo m ecânico e quím ico. O principal requisito do processo de lim peza hospitalar é a segurança dos pacientes e em pregados cont ra infecções e acident es.
Na condição de residente do segundo ano na área de gerência dos serviços de enferm agem do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná ( HURNP) , um dos cam pos de estágio que despertou grande interesse foi na Assessoria Técnica da Diret oria de Enferm agem , que at ua auxiliando no gerenciam ento das ações adm inistrativas na área de enferm agem .
Tendo com o base os relatórios dos recursos hum anos gerados nest a assessoria, foi possível ident ificar o perfil dos funcionários e det ectar que um a das características da força de trabalho do serviço de higiene desta instituição é o seu envelhecim ent o. Out ro dado im port ant e levant ado é a existência de um a parcela significativa de funcionários deste setor readequados e readaptados, que com põem o quadro geral de funcionários, m as que não estão plenam ente aptos para desenvolver as funções do cargo para os quais foram nom eados( 6).
Tendo em vista que o hospital de estudo é referência no estado do Paraná, e que no m esm o não foram desenvolvidas pesquisas no sentido de analisar qualitativam ente a força de trabalho dos profissionais do serviço de higiene hospitalar, o presente estudo teve com o obj etivo verificar a capacidade para o t rabalho dest es t rabalhadores.
METODOLOGI A
Trata- se de um est udo de abordagem quantitativa, do tipo descritivo- exploratório, de corte t ransversal, realizado no Hospit al Universit ário Regional do Norte do Paraná ( HURNP) , que corresponde ao m aior Hospital Público do Norte Paranaense e o 3º m aior hospital escola do sul do País. É um órgão suplem entar da Universidade Estadual de Londrina- PR ( UEL) , possui 306 leitos, todos à disposição do Sistem a Único de Saúde ( SUS) . A população foi constituída por todos os trabalhadores da equipe de higiene e lim peza que at uam nos diversos set ores do hospit al, lot ados nos quatro turnos de trabalho, totalizando 98 indivíduos.
A coleta de dados foi realizada no período de m arço a j unho de 2008, por duas residentes de enferm agem e um a enferm eira, utilizando um questionário constituído de duas partes, o qual foi aplicado no horário de t rabalho dos ent revist ados.
A prim eira parte do instrum ento, elaborado por Dom ansky( 7), é com posta pela caracterização
sócio-dem ográfica, ocupacional e do processo saúde-doença.
trabalhador, sete dim ensões: capacidade para o trabalho atual com parada com a m elhor de toda a vida, capacidade para o trabalho em relação às exigências do trabalho, núm ero de doenças diagnosticadas por m édico, perda estim ada para o trabalho devido a doenças, faltas ao trabalho por doenças, prognóstico próprio sobre a capacidade para o t rabalho e recursos m entais( 1).
Cada dim ensão do índice possui pontuações m ínim as e m áxim as, e a equivalência de seus valores são ponderadas conform e as características específicas da atividade realizada no trabalho. As respostas das duas questões quanto à capacidade para o trabalho em relação às exigências físicas e
m entais são ponderadas de form a diferente, pois a população em estudo apresenta com o característica de seu trabalho m aior exigência física do que m ent al. Desta form a, a quantidade de pontos obtidos para as exigências físicas foi m ultiplicada por 1,5 e a quantidade de pontos para as exigências m entais foi m ultiplicada por 0,5.
O escore total varia de 7 a 49 pontos, sendo est e subdividido em quatro classificações que diagnosticarão o índice de capacidade para o t rabalho: baixa, m oderada, boa e ótim a, definindo os obj etivos de quaisquer m edidas necessárias a serem t om adas referent es ao avaliado ( Quadro 1) .
Quadro 1 : Classificação da Capacidade para o Trabalho e os obj etivos das m edidas segundo o escore alcançado.
Escore alca nçado Classifica çã o da Capacidade para o Trabalho Obj et ivos das m edidas
7 a 27 pontos Baixa Restaurar a capacidade para o trabalho
28 a 36 pont os Moderada Melhorar a capacidade para o trabalho
37 a 43 pont os Boa Apoiar a capacidade para o trabalho
44 a 49 pont os Ótim a Manter a capacidade para o trabalho
Font e: Tuom i et al( 1)
Os dados foram analisados através do program a Epi I nfo 2002, sendo apresent ado por m eio de est at ística descrit iva. A colet a de dados t eve inicio após a aprovação do proj eto de pesquisa pelo Com itê de Ética em Pesquisa da UEL, parecer nº . 108/ 06 de 23/ 08/ 2006, assim com o da Diretoria de Enferm agem do hospital. Todos os entrevistados
receberam e assinaram o Term o de Consent im ent o Livre e Esclarecido.
RESULTADOS E DI SCUSSÃO
A população do estudo foi com posta por 98 t rabalhadores, os quais apresent aram as características sócio- dem ográficas dem onstradas na Tabela 1.
Tabela 1 : Características sócio- dem ográficas dos trabalhadores do serviço de higiene e lim peza de um hospital universitário público. Londrina- PR, 2008.
Variáveis Cat egoria N %
Sexo Fem inino 95 96,9
Masculino 3 3,1
Faixa et ária (anos)
29 a 40 14 17,6
41 a 50 42 41,2
50 42 41,2
Est ado Civil
União Est ável 52 53,1
Separado/ Divorciado 18 18,3
Solteiro 16 16,3
Viúvo 12 12,2
Renda Fam iliar *
2 9 9,2
3 64 74,5
4 21 21,4
5 3 3,1
6 1 1,0
Escolaridade
Fundam ental incom pleto 13 13,3
Fundam ent al com plet o 23 23,5
Ensino Médio incom pleto 12 12,2
Ensino Médio com pleto 47 47,9
Superior incom pleto 3 3,1
Analisando os dados sociodem ográficos, observa-se que a população do estudo caracteriza- observa-se por observa-ser predom inantem ente fem inina ( 96,9% ) . Houve a prevalência dos indivíduos com m ais de 41 anos ( 82,4% ) , sendo que a m édia da idade foi de 48,7 anos, extrem os de 29 e 65 anos, desvio padrão de 7,94. Quanto ao est ado civil, 53,1% dos t rabalhadores definem com o união est ável. A renda fam iliar prevalente ( 74,5% ) foi de três salários m ínim os e 47,9% dos trabalhadores concluíram o ensino m édio.
Cabe ressaltar a influência do gênero no trabalho de higiene e lim peza, visto que as atividades realizadas ( lavar, lim par, varrer) são culturalm ent e fem ininas, sendo tal fato exem plificado pela presença m arcante do sexo fem inino ent re os ent revistados. Estas m ulheres que trabalham fora de casa convivem diariam ente com conflitos e contradições, pois o trabalho dom éstico e a educação dos filhos, apesar de ainda não serem considerados com o trabalho, im plicam em desgast e físico e m ent al, além de absorver considerável parcela do seu dia( 3,8).
Outro dado im portante é a faixa etária da população com m ais de 41 anos, o que caracteriza o envelhecim ent o da força de t rabalho. O Brasil acom panha um a t endência m undial de envelhecim ento da população, resultado do aum ento da expectativa de vida e da queda da taxa de natalidade. Muitos trabalhadores estão envelhecendo em idade produtiva, evidenciando a necessidade de m elhoria do condicionam ento físico assim com o da redução da dem anda física das tarefas executadas por m eio de m edidas ergonôm icas para que o indivíduo sinta- se m otivado e satisfeito em suas atividades laborais, pessoais e sociais( 1,9).
A distribuição dos servidores segundo o I CT é evidenciada na Tabela 2. Dos ent revist ados, 45,9% obteve classificação do I CT com o “ boa” , 23,5% “ ót im a” , 22,4% “ m oderada” e 8,2% com o “ baixa” capacidade para o trabalho. A m édia dos escores alcançados foi de 37,97. O escore m ínim o foi de 16 e o m áxim o de 49, com desvio- padrão de 7,00. Frent e a este resultado, o obj etivo principal para Tuom i( 1) é
apoiar a capacidade para o t rabalho.
Tabela 2 : Distribuição dos trabalhadores do serviço de higiene e lim peza de um hospital universitário público segundo o Í ndice de Capacidade para o Trabalho. Londrina- PR, 2008.
Capacidade para o t rabalho N %
Baixa ( 7- 27) 8 8,2
Moderada ( 28- 36) 22 22,4
Boa ( 37- 43) 45 45,9
Ótim a ( 44- 49) 23 23,5
Tot al 9 8 1 0 0
Em estudo com trabalhadores do serviço de higiene e lim peza de um hospital universitário constatou- se que 46,4% da população apresentaram a capacidade para o trabalho nas categorias “ m oderada” e “ baixa” , diferindo do trabalho em discussão( 3). I st o pode est ar relacionado ao fat o de
que o próprio trabalhador preenche o form ulário de I CT e grande parte dos entrevistados necessitou de auxílio durante o seu preenchim ento, j ustificado pela dificuldade na com preensão das perguntas e das
respostas, o que caract eriza um a lim itação deste est udo.
Em relação à faixa et ária, os ent revist ados ent re 29 a 40 anos apresentaram um I CT igual ou superior à “ m oderado” , sendo que 57,2% deles obtiveram um a capacidade “ ótim a” . Nos trabalhadores acim a de 41 anos, a m aior prevalência concentrou- se no I CT classificado com o “ bom ” , entretanto 19% dest es servidores consideram sua capacidade para o trabalho “ baixa” ( Tabela 3) .
Tabela 3 : Distribuição da capacidade para o trabalho dos funcionários do serviço de higiene e lim peza de um hospital universitária público segundo a faixa etária. Londrina- PR, 2008.
I CT/ Faixa et ária 2 9 a 4 0 anos 4 1 a 5 0 anos Acim a de 5 0 anos Tot al
N % N % N % N %
Baixa - - 4 9,5 4 9,5 8 8,0
M oderada 1 7,1 10 23,8 11 26,2 22 22,0
Boa 5 35,7 23 54,8 17 40,5 45 45,0
Ót im a 8 57,2 5 11,9 10 23,8 23 23,0
Tot al 1 4 1 0 0 4 2 1 0 0 4 2 1 0 0 9 8 1 0 0
Para a Organização Mundial de Saúde ( OMS) , o conceito de “ trabalhador em envelhecim ento” se aplica para o indivíduo a partir de 45 anos de idade, quando a capacidade funcional necessária à execução
acom panhado pelo aparecim ento e/ ou agravam ento de diversas doenças, o que favorece a deterioração da capacidade funcional, portanto quanto m ais idade m aior a chance de perda da capacidade para o trabalho( 1,3,10).
Com provando o expost o, um est udo realizado com eletricitários de São Paulo, evidenciou que os indivíduos nas faixas m ais j ovens apresent aram m elhor desem penho no I CT, invertendo- se a sit uação a part ir pos 40 anos de idade, o que pode sugerir envelhecim ento funcional m ais precoce ent re estes trabalhadores( 9). A análise dos resultados que
avaliou as condições de trabalho dos servidores da Polícia Rodoviária Federal em Porto Alegre m ostrou tam bém que existe um a tendência de redução do I CT à m edida que aum enta da idade do indivíduo( 11).
Associado ao processo de envelhecim ento, a inserção precoce no m ercado de trabalho, relatada frequentem ente por m uitos trabalhadores do setor de lim peza devido à baixa condição sócio- econôm ica, tem um efeito negativo sobre a capacidade para o trabalho( 12).
Ao serem quest ionados quant o a sua capacidade para o trabalho atual, em um a escala de zero a 10, 30,6% ( n: 30) dos servidores atribuíram oito, seguidos por 18,4% ( n: 18) com o valor sete. Apenas um ent revistado conferiu o valor zero para sua capacidade atual ao trabalho, sendo que 13,3% ( n: 13) dos trabalhadores atribuíram o valor m áxim o.
Em um estudo com em pregados da área adm inistrativa, a satisfação no trabalho, influenciada por fatores psicossociais do am biente organizacional, esteve associada à saúde e consequentem ent e à capacidade funcional dos trabalhadores( 2).
Corroborando com o expost o, um a adm inist ração part icipat iva, com flexibilidade, respeit o e bom relacionam ento interpessoal atuam diretam ente na qualidade de vida dent ro e fora do t rabalho( 13).
Quanto às exigências físicas, 35,7% dos funcionários consideram seu I CT “ bom ” , seguido por 25,5% na cat egoria “ m uito boa” . Ent ret ant o, deve- se considerar que 32,7% atribuíram “ m oderado” em relação à dem anda física do trabalho. Cabe ressaltar que som ent e um t rabalhador at ribui o valor um , ou sej a, “ m uito baixa” , nesta cat egoria.
A busca da preservação da capacidade funcional por m eio de m edidas de prom oção à saúde dos trabalhadores é im prescindível, especialm ente para os indivíduos que tem com o característica laboral a exigência de esforço físico, com o os funcionários do setor de higiene e lim peza, os quais realizam levant am ent o e t ransport e de peso, esforços repetitivos e repentinos, apresentam posturas de trabalho inadequadas, inclinação sim ultânea, sobrecarga postural e do sistem a m úsculo-esquelético, riscos de acidentes de trabalho e exposição a produtos quím icos( 3).
A avaliação das condições de trabalho ( am biente físico, organização, tipos de relações form ais e inform ais) precisa ser considerada de um a form a m ais am pla, pois não se trata sim plesm ente de identificar e tratar um a doença, m as, de prom over a saúde e a qualidade de vida do t rabalhador, o que pode evitar o sofrim ento, o desgaste, a doença ou a m orte, possibilitando o retorno ao trabalho, considerado com o atividade fundam ental na constituição do suj eito e da vida digna( 14).
Verificou- se no presente estudo que 84,7% dos entrevistados j ulgam que o seu I CT quanto à exigência m ent al é m uit o bom / bom . Nenhum trabalhador, nesta questão, considerou a sua capacidade m uito baixa. Entretanto, 15,3% dos funcionários relataram possuir distúrbio em ocional leve/ severo diagnost icado pelo m édico.
Os trabalhadores de lim peza hospitalar, apesar de não lidarem diretam ente com o doente, vivenciam a dor e o sofrim ento diariam ente, sendo suas atividades consideradas com o um a das m ais desgastantes dentro desta organização. Algum as características destes servidores com o a baixa escolaridade, m enor qualificação, falta de valorização profissional, serviços repetitivos, salários inadequados podem elevar a susceptibilidade aos estressores do am biente hospitalar e ao desgaste em ocional( 15). Cabe enfat izar que a inst it uição
pesquisada tem realizado capacitações não m eram ent e t écnicas com a equipe de higiene e lim peza, m as t am bém voltadas ao aspecto em ocional e m otivacional destes trabalhadores, proporcionado espaços para discussão e reflexão acerca das dificuldades vivenciadas.
Em relação às doenças ou lesões auto- referidas pelos trabalhadores, a m aior prevalência foi atribuída às doenças m úsculos- esqueléticas, sendo que 29 indivíduos relataram lesão nas costas, 29 possuem dor nas costas que irradia para a perna – ciática e 10 relat am t er art rite reum at óide. Das doenças diagnosticadas pelo m édico, 25,5% dos t rabalhadores são hipert ensos, 23,5% são obesos, 15,3% referiram ter distúrbio em ocional leve/ severo e 10,2% possuem alergia de pele.
A saúde é considerada um det erm inant e im port ant e da capacidade para o t rabalho( 1- 3). Dest a
form a, quanto m elhor o estado de saúde, m elhor a condição da capacidade para o trabalho, independent e das características dem ográficas e ocupacionais( 2).
Em um estudo realizado com trabalhadores terceirizados do serviço de lim peza de um hospital universit ário público, 36% referiram doenças diagnosticados pelo m édico, sendo que as doenças respiratórias, cardiovasculares, m usculo- esqueléticas e m ent ais leves foram as m ais prevalent es( 12). Já em
de higiene e lim peza hospitalar, 50% relataram problem as osteom usculares nos om bros e 43% apresent aram dor na parte superior das costas. Ao realizar um análise com parativa destes suj eitos com a equipe de enferm agem , foi identificada um a diferença significativa para os trabalhadores de higiene em relação a problem as osteom usculares nos om bros, região superior da costa e pescoço. Além disso, a presença de doenças osteom usculares podem com prom eter a qualidade de vida destes t rabalhadores( 8).
A at ividade física at ua de m aneira eficaz na m anutenção e no restabelecim ento da capacidade para o t rabalho, aum ent ando a oxigenação em nível celular, dim inuindo o est resse e m elhorando a aut o-estim a. No entanto, faz- se necessário adequar os exercícios a faixa etária do individuo, além de considerar a grande dem anda física dos trabalhadores do serviço de higiene e lim peza( 1,16).
Dos entrevistados, 64,3% não consideram que sua doença/ lesão é im pedim ent o para execut ar o seu t rabalho ou não possui doença/ lesão. No ent ant o, 30,6% dos servidores referiram que frequentem ent e, ou algum as vezes, precisam dim inuir o ritm o de trabalho devido à presença de lesão ou doença, sendo que 56,7% destes entrevistados apresentaram um a capacidade m oderada para o trabalho e 23,3% um I CT baixo.
A ut ilização do I CT, desde a adm issão do trabalhador na em presa, possibilita a identificação precoce dos indivíduos que necessitarão de m odificações e m edidas de apoio dos Serviços de Saúde Ocupacional, sem necessariam ente apresent arem danos físicos e/ ou em ocionais que resultem na queda da produtividade destes funcionários( 1).
A preservação da capacidade para o trabalho deve ocorrer em qualquer idade( 1). É fat o que
m edidas preventivas são m ais eficazes do que curar ou reabilitar. A educação perm anent e, nest e cont ext o, t orna- se um a ferram ent a eficaz, pois através do processo de ensino- aprendizagem , o desenvolvim ento profissional é estim ulado com ênfase na responsabilidade e na necessidade de at ualização, produzindo t rabalhadores crít icos e reflexivos, capazes de transform arem seu am biente de trabalho, dom ést ico e social( 17).
Quanto à falta ao t rabalho por doença, 45% dos entrevist ados relataram não t erem nenhum dia de ausência em suas atividades laborais nos últim os doze m eses, entretanto, 38% dos trabalhadores ausentaram - se do trabalho por até nove dias. Observou- se que t rês funcionários apresentaram atestado m édico de 100 a 365 dias, sendo que est es tiveram um I CT baixo/ m oderado, ao passo que 88,9% dos trabalhadores que não faltaram ao trabalho, obtiveram um I CT bom / ótim o.
Dent re os vários setores de um hospital estudado( 18), o serviço de higiene e lim peza
destacou- se pelo alto índice de ausências ao t rabalho. A escassez de funcionários, o risco de acidentes e de transm issão de doenças, o trabalho em turnos, o ritm o de trabalho excessivo, os equipam entos insuficientes e m al conservados, a arquitetura hospitalar inadequada exigindo grandes deslocam ent os devem ser considerados ao discutir o absenteísm o present e entre esses trabalhadores( 18).
Pesquisa desenvolvida com trabalhadores da linha de produção de um a em presa de port e m édio identificou um a associação positiva entre afastam entos longos ( superiores há 100 dias) , dificuldades na realização das tarefas, presença de distúrbio m úsculo- esqueléticos e capacidade para o trabalho( 19).
Cabe ressaltar que, em m uitas instituições hospitalares, o enferm eiro tem se destacado enquanto líder, não som ente da equipe de enferm agem , m as tam bém de serviços de apoio, incluindo o setor de higiene e lim peza. Neste contexto, a avaliação da capacidade para o trabalho contribui no aprim oram ento do gerenciam ento do quadro de recursos hum anos realizado por este profissional.
Não foram incluídos neste estudo, os funcionários em licença m édica devido a doenças, acidentes graves ou outro m otivo. Os estudos de coorte transversal proporcionam a fotografia de um determ inado evento, podendo identificar apenas os sobreviventes ao efeito estudado ( viés de prevalência) , o que caracteriza um a lim itação da pesquisa, denom inada efeito do trabalhador sadio.
CON CLUSÃO
Na população estudada, entre os aspectos sociodem ográficos, destaca- se o envelhecim ento dos trabalhadores e o predom ínio do sexo fem inino, sendo que 82,4% dos entrevistados possuem m ais de 41 anos e 96,9% são m ulheres.
A avaliação da capacidade para o trabalho identificou que 45,9% dos entrevistados obtiveram um I CT bom 23,5% ótim o, 22,4% m oderado e 8,2% baixo. Dest a form a, as m edidas a serem realizadas deverão apoiar a capacidade para o trabalho.
Quanto à faixa etária, 57,2% dos ent revistados entre 29 a 40 anos apresentaram um a capacidade ótim a para o trabalho, entretanto 19% dos indivíduos com m ais de 41 anos consideraram sua capacidade para o trabalho baixa.
hipert ensos, 23,5% obesos, 15,3% referiram t er distúrbio em ocional leve/ severo e 10,2% possuem alergia de pele.
Em relação ao absenteísm o, 38% dos trabalhadores ausentaram - se do trabalho por até nove dias. Observou- se que três funcionários apresent aram atestado m édico de 100 a 365 dias, sendo que estes tiveram um I CT baixo/ m oderado. Por outro lado, 88,9% dos trabalhadores que não falt aram ao trabalho, obt iveram um I CT bom / ót im o.
Os fatores relacionados à capacidade para o trabalho são m últiplos, dest a form a, as ações para a prevenção e recuperação desta capacidade devem ser discutidas e conciliadas entre em pregados e em pregadores, garantindo um espaço para contextualização e reflexão acerca do processo de trabalho, viabilizando m edidas atenuantes e adm inist rando o quadro de recursos hum anos de form a a considerar o I CT dos trabalhadores com o instrum ento gerencial efetivo e eficaz.
O envelhecim ento de trabalhadores ativos traz a reflexão de que não bast a t er m ais anos vividos, faz-se necessário que esfaz-ses anos tenham qualidade, com m elhores condições de vida e saúde, contribuindo dest a form a para a m anut enção da capacidade para o t rabalho.
REFERÊN CI AS
1. Tuom i K, I lm arinen J, Jahkola A, Kat aj arinne L, Tulkki A. Í ndice de capacidade para o trabalho. 2st ed. São Carlos: EdUFSCar; 2005. 59 p.
2. Martinez MC, Latorre MRDO. Saúde e capacidade para o trabalho em trabalhadores de área adm inistrativa. Rev Saude Publica. 2006; 40( 5) : 851-8.
3. Andrade CB, Monteiro MI . Envelhecim ento e capacidade para o trabalho dos trabalhadores de higiene e lim peza hospitalar. Rev Esc Enferm USP. 2007; 41( 2) : 237- 44.
4. Meira LF. Capacidade para o trabalho, fatores de risco para as doenças cardiovasculares e condições laborativas de trabalhadores de um a indústria m etal-m ecânica de Curitiba [ dissertation] . Curitiba: Program a de Pós- Graduação em Engenharia Mecânica/ UFPR; 2004. 114 p.
5. Ministério da Saúde. Coordenação de Controle de I nfecção Hospitalar. Processam ento de Artigos e Superfícies em Estabelecim ent os de Saúde. 2 st ed. Brasília( Brasil) : Ministério da Saúde; 1994.
6. Hospital Universitário do Norte do Paraná, Universidade Estadual de Londrina. Relatório Anual da Assessoria Técnica da Diret oria de Enferm agem . Londrina ( Brasil) : Universidade Estadual de Londrina; 2008. 29p.
7. Dom ansky RC. Adapt ação t ranscultural e validação do instrum ento “ Bowel Funct ion in t he Com m unity”
para a língua port uguesa [ dissertation] . São Paulo: Escola de Enferm agem / USP; 2004. 107 p.
8. Martarello MA, Benatt i, MCC. Qualidade de vida e sintom as ost eom usculares em trabalhadores de higiene e lim peza hospitalar. Rev Esc Enferm USP. 2009; 43( 2) : 422- 8.
9. Martinez MC, Latorre MRDO. Saúde e capacidade para o trabalho de eletricitários do Estado de São Paulo. Ciênc. saúde coletiva. 2008; 13( 3) : 1061- 1072. 10. Martinez MC. Estudos dos fatores associados à capacidade para o trabalho em trabalhadores do setor elétrico [ thesis] . São Paulo: Faculdade de Saúde Pública/ USP; 2006. 164 p.
11. Gaspary LT, Selau, LPR, Am aral, FG. Análise das condições de trabalho da polícia rodoviária federal e sua influência na capacidade para trabalhar. Revista Gestão I ndust rial. 2008; 4( 2) : 48- 64.
12. Chilida MSP, Cocco MI M. Saúde do trabalhador e terceirização: perfil de trabalhadores de serviço de lim peza hospit alar. Rev Lat Am Enferm agem . 2004; 12( 2) : 271- 6.
13. Marqueze EC, Moreno CRC. Satisfação no trabalho e capacidade para o trabalho entre docent es universitários. Psicol. estud. 2009; 14( 1) : 75- 82. 14. Fernandes, ACP. Monteiro MI . Capacidade para o trabalho entre trabalhadores de um condom ínio de em presas de alta tecnologia. Rev Bras Enferm . 2006; 59( 6) : 752- 6.
15. Gonzales BBA, Carvalho MDB. Saúde m ent al de trabalhadoras do serviço de lim peza de um hospital universit ário. Act a Scientiarium . Healt h Sciences. 2003; 25( 1) : 55- 62.
16. Rafonne AM, Henningt on EA. Avaliação da capacidade funcional dos trabalhadores de enferm agem . Rev Saude Publica. 2005; 39( 4) : 669-76.
17. Nietsche EA , Backes VMS, Ferraz F,Loureiro L, Schm idt SMS, Helena Carolina Noal HC. Polít ica de educação cont inuada inst it ucional: um desafio em const rução. Rev. Elet r. Enf. [ I nt ernet ] . 2009 [ cited 2009 set 24] ; 11( 2) : 341- 8. Available from :
ht t p: / / www.fen.ufg.br/ revist a/ v11/ n2/ v11n2a15.ht m 18. Sznelwar LI , Lancm an S, Wu MJ, Alvarinho E, Santos M. Análise do trabalho e serviço de lim peza hospitalar: contribuições da ergonom ia e da psicodinâm ica do t rabalho. Prod. [ I nt ernet ] . 2004 [ cited 2009 fev 10] ; 14( 3) : 45- 57. Available from : http: / / www.scielo.br/ pdf/ prod/ v14n3/ v14n3a05.pdf 19. Walsh I AP, Franco RN, Anetti EEF, Alem MER, Coury HJCG. Capacidade para o t rabalho em indivíduos com lesões m úsculo- esqueléticas crônicas. Rev Saude Publica. 2004; 38( 2) : 149- 56.
Artigo recebido em 23.03.09.