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Caixa 2 ainda sem solução
Diário do Comércio
Marcos Cinora – 06/06/2006
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) resolveu que grande parte da Lei 11300, aprovada em maio deste ano para regular as campanhas políticas, valerá já para as eleições de 2006. Foi uma surpresa, uma vez que mudanças nas regras só poderiam ser aplicadas após um ano a partir da vigência da lei. Tal decisão se justifica em função da desmoralização que o órgão sofreu com a crise deflagrada quando a realidade da política praticada no País veio à tona com a descoberta do Caixa 2.
O TSE foi exposto ao ridículo quando toda a sociedade passou a conhecer o ambiente hipócrita que domina as campanhas políticas e a rotina dos partidos. Dinheiro público é desviado para abastecer uma estrutura operada através de Caixa 2 e, por isso, não pode aparecer nas contas oficiais apresentadas à Justiça Eleitoral.
Quando se viu fortemente acuado, o TSE tentou dar alguma satisfação dizendo que passaria a fiscalizar
candidatos, comitês eleitorais, doadores e fornecedores de campanhas políticas, de forma a dificultar a prática de Caixa 2. A intenção seria fazer, já nas eleições de 2006, o cruzamento das doações e das despesas declaradas dos candidatos com as declarações de renda dos doadores e fornecedores.
A solução apresentada surpreendeu pela ingenuidade. Não se combate o crime do Caixa 2 aumentando a burocracia. Novos relatórios, mais frequentes e mais detalhados, exigidos dos políticos e de seus financiadores, serão mais uma mera maquiagem em uma estrutura frágil e mentirosa.
A proposta burocrática do TSE não evoluiu e a saída foi a adoção das determinações da Lei 11300 já para as eleições deste ano. De um modo geral, a chamada minirreforma proíbe eventos com artistas, distribuição de brindes, propaganda em outdoors e doações em dinheiro. Exige, ainda, que o candidato divulgue pela internet as doações recebidas e prevê a perda de mandato e cassação de político que praticar Caixa 2.
As medidas avançam em alguns pontos ao reduzir os custos de campanha e a vantagem dos candidatos com mais dinheiro, mas não torna o processo livre de Caixa 2. Exigir que o candidato divulgue relatórios pela internet não significa que as informações serão verdadeiras. A questão não é expor para o público o que os políticos declaram, mas se o que eles relatam condiz com a realidade.
A alternativa para acabar com o Caixa 2 se resume a exigir dos candidatos a abertura de uma conta bancária conjunta, onde os titulares seriam o candidato e o próprio TSE. Pagamentos de campanha só poderiam ser feitos mediante movimentação desta conta-única. Com isso, qualquer movimentação financeira poderia ser acompanhada pelo órgão eleitoral a qualquer momento. Todo pagamento a fornecedor ou prestador de serviço nas campanhas eleitorais será acompanhado de uma “filipeta” comprovando o recebimento dos recursos via conta-única. Sem ela, qualquer gasto implica na cassação da candidatura.
Infelizmente, apenas com as medidas divulgadas pelo TSE o maldito Caixa 2 ainda continuará a ser praticado em 2006.