PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Síntese de zeólitas e argilas ácidas pilarizadas a partir de matérias
primas naturais
Lindiane Bieseki
Orientador:
Profa. Dra. Sibele B. C. Pergher.
Dissertação n.º 101 /PPGCEM
SÍNTESE DE ZEÓLITAS E ARGILAS ÁCIDAS PILARIZADAS A PARTIR DE
MATÉRIAS PRIMAS NATURAIS.
Dissertação apresentada ao programa de
Pós-graduação em Ciências e Engenharia de
Materiais da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Mestre em Ciências
Engenharia de Materiais.
Orientadora: Profa. Dra. Sibele B. C. Pergher
Catalogação da Publicação na Fonte. Bibliotecário / Edmilson Eugênio
Bieseki, Lindiane.
Síntese de zeólitas e argilas ácidas pilarizadas a partir de matérias primas naturais / Lindiane Bieseki. – Natal, RN, 2012.
127 f. : il.
Orientadora: Sibele B. C. Pergher.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Exatas e da Terra. Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais.
1. Zeólitas – Dissertação. 2. Argilas – Dissertação. 3. Tratamento ácido – Dissertação. 4. Pilarização e resíduo sílico-aluminoso – Dissertação. I. Pergher, Sibele B. C. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
Aos meus pais Ireno e Maria Lidia, para mim,
exemplos de vida, força e coragem.
Aos meus irmãos, pelo apoio, incentivo e a
segurança de saber que sempre estão ao meu
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelos dons da sabedoria e paciência frente aos desafios
encontrados.
À meus pais e irmãos, pelo amor e carinho demonstrados em
forma de apoio incondicional e incentivo durante todos os
momentos de minha vida.
A Profa. Dra. Sibele B. C. Pergher, minha orientadora pelo
apoio e confiança depositada em mim. Pelos momentos de
conversa, onde seus ensinamentos foram, sem dúvida,
importantes para meu crescimento acadêmico e pessoal.
Aos colegas do Laboratório LABPEMOL, pela amizade que
construímos através do trabalho em conjunto e experiências
vividas.
Ao Centro de Ciências Exatas e da Terra e ao Programa de
Pós-graduação em Ciências e Engenharia de Materiais pela estrutura
e oportunidades de aprendizagem.
BIESEKI, L. Síntese de zeólitas e argilas ácidas pilarizadas a partir de matérias primas naturais. 2012, junho. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Modificações estruturais de resíduos para síntese de zeólitas é tema de muitos estudos
desenvolvidos na área de síntese de peneiras moleculares. Estes materiais são chamados de
peneiras moleculares por possuírem tamanho de poros bem definido e por terem a capacidade
de selecionar as moléculas pelo tamanho. Neste trabalho foram estudados os processos de
síntese de dois tipos de peneiras moleculares: argilas ácidas pilarizadas, utilizando como
matéria prima natural uma argila montmorilonita, e também a síntese de zeólitas a partir de
um resíduo sílico-aluminoso subproduto da extração de Lítio do -espodumênio. A
preparação de argilas ácidas pilarizadas foi realizada em duas etapas: 1° tratamento ácido das
amostras de argila (estudos de tempo e temperatura) e 2° pilarização das mesmas com Al13 (íon de keggin). As variáveis temperatura e concentração do ácido influenciaram na retirada
de cátions estruturais e na porosidade do material obtido. A partir das análises de difração de
raios-X (DRX) e espectroscopia de infravermelho (IV), observou-se que o aumento da
severidade do tratamento ácido compromete a organização estrutural do material. Também a
distribuição no tamanho de poros fica menos uniforme. Mesmo apresentando menor
organização estrutural, as amostras foram pilarizadas. Foi comprovado por DRX o aumento
do espaçamento basal e por adsorção de N2 o aumento da área específica e uniformização dos poros. Com relação às peneiras moleculares microporosas, foram sintetizadas zeólitas A e
NaP1 a partir de um resíduo sílico-aluminoso, subproduto da extração de Lítio. A temperatura
e o tempo de agitação durante o processo de síntese são parâmetros importantes para a
obtenção da zeólita A. O envelhecimento do gel e o maior tempo de cristalização promoveram a formação da zeólita NaP1, utilizando uma relação Si/Al = 3,2.
Palavras chave: zeólitas, argilas, tratamento ácido, pilarização e resíduo
BIESEKI, L. Synthesis of zeolites and pillared acidic clays from natural raw materials.
2012, June. Thesis – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Structural changes in waste for zeolites synthesis are subject of many studies carried
out in the synthesis of molecular sieves. These materials are named molecular sieves because
they have well defined pore sizes and they have the capacity of select molecules by its size. In
this work, it was studied the synthesis processes of two types of molecular sieves: pillared
acid clays using as starting material one natural montmorillonite clay and the synthesis of
zeolites from a silico-aluminous residue. This residue is a byproduct of the extraction of
lithium -spodumene. The preparation of pillared acid clays was performed in two steps: 1°
acid treatment of clay samples (time and temperature studies) and 2°pilarization of them with
Al13 (Keggin ion). The temperature and acid concentration affect the removal of cations in the structure and porosity of the material obtained. The analysis of X-ray diffraction (XRD) and
infrared spectroscopy (IR), showed that increasing the severity of the acid treatment
compromises the structural material. Also the pore size distribution is approximately uniform.
Despite presenting a structural disorganization, the samples were pillared. As evidenced by
XRD increasing the basal spacing, specific area and uniform porosity by adsorption of N2. Regarding the microporous molecular sieves were synthesized zeolites A and NaP1 from a
silico-aluminous residue, a byproduct of extracting lithium. The temperature and time of
agitation during the synthesis were the most important factors for obtaining zeolite A. The
aging of the gel and the highest crystallization time promoted the formation of zeolite NaP1
using a Si / Al ratio = 3.2.
CAPÍTULO 3
FIGURA 3.1: Unidades estruturais dos argilominerais...23
FIGURA 3.2: Representação estrutural das lâminas 1:1 e 2:1...24
FIGURA 3.3: Esquema de organização de uma argila lamelar. (A) representação de uma lâmina e/ou camada, (B) uma partícula originada de camadas empilhadas de forma que podem ou não formar poros com tamanhos ou formatos diferentes, (C) partículas organizadas de foram a originarem um espaço interpartícula e (D) vários agregados de partículas formando um poro ainda maior...26
FIGURA 3.4: Estrutura idealizada de uma Esmectita (2:1). - Átomos de Oxigênio; - Grupos –OH; - Átomo de Silício e O - Átomo de Alumínio...28
FIGURA 3.5: Esquema dos tratamentos aplicados em argilominerais...29
FIGURA 3.6: Esquema de uma argila 2:1 expansível pilarizada...31
FIGURA 3.7: Comparação entre diferentes métodos de pilarização...32
FIGURA 3.8: Estrutura do íon de Keggin. Os círculos maiores representam átomos de alumínio; os menores são átomos de oxigênio...33
FIGURA 3.9: (a) Rede tridimensional (4:2) conectada. (b) Unidade de construção primária de uma zeólita SiO4 e AlO4-. Os átomos de oxigênio situam-se nas arestas, entre os dois átomos T(Si, Al) de cada vértice...35
FIGURA 3.10: Classificação de algumas estruturas de acordo com o tamanho da abertura de poro...37
FIGURA 3.11: Unidades secundárias de construção das zeólitas...38
FIGURA 3.12: Poliedros presentes nas estruturas zeolíticas: α (26-edro Tipo I) o cubooctaedro truncado; (14-edro Tipo I) o octaedro truncado; D8R o duplo anel de oito membros; D6R o duplo anel de seis membros (prisma hexagonal); (18-edro); e (11-edro); D4R o duplo anel de quatro membros...39
FIGURA 3.13: Ilustração representativa da construção de três diferentes estruturas a partir da caixa sodalita...40
FIGURA 3.16: Corte da comunicação entre supercavidade α, cavidade sodalita e um prisma
hexagonal, ligados por anéis de 6 e 12 oxigênios...43
FIGURA 3.17: Representação do tipo de estrutura GIS: a) cadeia de anéis de 4 membros, b) folha é chamada de 4,82 e c) estrutura do tipo GIS...43
FIGURA 3.18: Diagrama da superfície da rede estrutural de uma zeólita. a) Zeólita como sintetizada, Na+ como cátion compensador de carga; b) Troca do Na+ por NH4+; c) Com o aquecimento remoção da amônia, criação de sítios ácidos de Brönsted, a estrutura pode existir em duas formas em equilíbrio e d) formação de sítios ácidos de Lewis...45
FIGURA 3.19: Esquema representativo das variáveis envolvidas no processo de síntese de zeólitas...47
FIGURA 3.20: Esquema geral para o mecanismo de síntese de zeólitas...52
FIGURA 3.21: Esquema representativo da Lei de Bragg...54
FIGURA 3.22: Difratograma de uma zeólita Y...55
FIGURA 3.23: Isotermas de adsorção para uma amostra de argila montmorilonita natural e pilarizada (a) e de uma zeólita do tipo NaY (b)...57
CAPÍTULO 4
FIGURE 1: Diffratogram of clay A treated with HCl, H2SO4 and HNO3 with 4 mol.L-1 at 50°C for 6 h...77FIGURE 2: Pareto charts of main and interactions effects of independent variables on (a) Mg2+, (b) Fe2+ and (c) Al3+ removal during acid treatment...80
FIGURE 3: FTIR spectra of leached samples...82
FIGURE 4: XRD diagrams of clay A and samples treated with HCl, on concentrations of 1, 4 and 7 mol.L-1 at 25, 50 and 75 °C for 6 h...84
FIGURA 3: Distribuição do tamanho de poros para as amostras tradadas com ácido clorídrico...97
FIGURA 4: Difratograma das argilas natural e tratadas pilarizadas. Fases identificadas (M) montmorilonita e (Q) quartzo...98
FIGURA 5: Distribuição do tamanho de poros para as argilas ácidas pilarizadas e calcinadas com ácido clorídrico...101
FIGURA 6: Curvas termogravimétricas das amostras: a) argila pilarizada; b) argila pilarizada adsorvida com n-butilamina; c) P3M-65C; d) P3M-65C n-butilamina; e) 3M-65 e f)3M-65n-butilamina...103
CAPÍTULO 6
FIGURA 1: Fluxograma do procedimento de síntese para obtenção das amostras
ZA1 e ZA2...113
FIGURA 2: Difratograma e micrografia do resíduo sílico-aluminoso...115
FIGURA 3: Gráfico da Analise TG (linha continua) e DTG (linha tracejada) para o resíduo sílico-aluminoso...115
FIGURA 4: Difratograma e micrografia da amostra ZA...117
FIGURA 5: Difratogramas e micrografias das amostras sintetizadas utilizando resíduo sílico-aluminoso ...118
CAPÍTULO 3
TABELA 3.1: Classificação dos argilominerais a partir de sua organização
estrutural... ...25
TABELA 3.2: Relação de alguns trabalhos utilizando fontes alternativas de silício e alumínio
para a síntese de zeólitas...49
TABELA 3.3: Atribuições para as principais bandas de absorção dos espectros de IV que
pode ser aplicadas para zeólitas...62
CAPÍTULO 4
TABLE 1: Matrix of CCD 22 (real and coded values) used and responses in terms of mass of cations dissolved during acid treatment………...75
TABLE 2: Clay A mass composition (wet sample)………...76
TABLE 3: Mass of cations dissolved during acid treatment on concentration of 4 mol.L-1 at 50oC for 6 h (mg of cation/ g of clay)………..……….77
TABLE 4:. Specific areas (BET) for samples leached with HCl, H2SO4 and HNO3 with 4
mol.L-1 at 50°C for 6 h………..………78
TABLE 5: Empirical models that predict the cations removal (mg of cation/ g of Clay) as a function of temperature and HCl concentration for each cation
evaluated………...81
TABLE 6: Analysis of variance for each model presented in Table 5...81
TABLE 7: BET specific areas for samples treated with HCl using experimental design methodology ...83
CAPÍTULO 5
TABELA 3: Efeitos calculados para o planejamento fatorial 22 + 3 pontos centrais para a lixiviação de alumínio...94
TABELA 4: Efeitos calculados para o planejamento fatorial 22 + 3 pontos centrais para a lixiviação de ferro...94
TABELA 5: Efeitos calculados para o planejamento fatorial 22 + 3 pontos centrais para a lixiviação de magnésio...94
TABELA 6: Parâmetros texturais para as amostras tratadas com ácido e argilas ácidas
pilarizadas...100
TABELA 7: Faixas de temperatura e respectivas perdas de massa obtidas das curvas
TG/DTG ...104
TABELA 8: Densidade e força relativa dos centros ácidos das amostras, obtidos através da
dessorção de n-butilamina por termogravimetria (TG/DTG)...104
CAPÍTULO 6
AA Adsorção atômica
ABET Área específica pelo método BET
ATD Análise térmica diferencial
At-plot Área de microporos pelo método t-plot
BET Brunauer, Emmett e Teller – equação para o cálculo da área superficial
BJH Barret-Joyner-Halenda – método usado para calcular distribuição de tamanho
de poro
CBL Companhia Brasileira de Lítio
CCD 22 Central composite design - Planejamento fatorial 22
CTC Capacidade de troca catiônica
d001 Espaçamento basal
DRX Difração de raios-X
FAU Arranjo estrutural tipo faujazita característico de zeolitas X e Y
GIS Arranjo estrutural do tipo gismodine característico de zeólitas do tipo P
IUPAC International Union of Pure and Applied Chemistry – União Internacional de
Química Pura e Aplicada
IV Espectroscopia de Infravermelho
IZA International Zeolite Association - Associação internacional de Zeólitas
LTA Tipo de arranjo estrutural característico da zeólita NaA
MEV Microscopia Eletrônica de Varredura
SBU Unidades secundárias de construção
SOD Tipo de rede estrutural característico do material Sodalita
Al ) no interstício formado.
VBJH Volume de poro método adsorção cumulativo BJH
Vtotal Volume total de poro para poros menores que 193,82Å a p/p0 = 0.95
Vt-plot Volume de microporos pelo método t-plot
C
APÍTULO1
...
171.1 INTRODUÇÃO ... 17
C
APÍTULO2
... ...
202.1 – OBJETIVOS ... 20
2.1.1 - Objetivos específicos ... 20
C
APÍTULO3
... ...
213.1 - REFERENCIAL TEÓRICO: Peneiras moleculares...21
3.1.1 Peneiras moleculares a base de argilas...21
3.1.1.1 Argilas – Estrutura ... ...22
3.1.1.2 Propriedades gerais das argilas... 25
3.1.1.3 Grupo das Esmectitas ... 27
3.1.1.4 Modificações em argilas por tratamentos ácido e pilarização . ... 29
3.1.2. Peneiras moleculares do tipo zeólita. ... 35
3.1.2.1Estruturas das zeólitas. ... 37
3.1.2.2Alguns Tipos de Zeólitas. ... 39
3.1.2.3 Propriedades das zeólitas. ... 44
3.1.2.4Síntese de zeólitas ... 46
3.2 TÉCNICAS MAIS UTILIZADAS PARA CARACTERIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE PENEIRAS MOLECULARES. ... 53
3.2.1 Difração de raios-X ... 53
3.2.2 Termogravimetria e Análise térmica diferencial...55
3.2.4 Análise Textural por Adsorção de N2. ... 56
3.2.5 Análise Química. ... 59
3.2.5.1 Espectrometria de Fluorescência de Raios X. ... 59
3.2.5.1Espectroscopia de Adsorção Atômica ... 60
C
APÍTULO4
...
71ARTIGO – USING A FACTORIAL DESIGN METHOD FOR THE ACID TREATMENT MONTMORILLONITE – RICH CLAYS FOR PREPARING CATALYSTS.. ... 71
ABSTRACT ... 71
Introduction... ... 72
Material and Methods ... 74
Materials ... 74
Leaching using different acids. ... 74
Experimental design for leaching with HCl ... 74
Characterization of Samples ... 75
Results and discussion ... 76
Leaching with different acids. ... 76
Experimental Design for Leaching with HCl ... 79
CONCLUSIONS ... 84
ACKNOWLEDGEMENTS ... 85
REFERENCES ... 85
C
APÍTULO5
...
87ARTIGO - MATERIAIS POROSOS OBTIDOS EM PROCESSO DE TRATAMENTO ÁCIDO SEGUIDO DE PILARIZAÇÃO, A PARTIR DE ARGILAS MONTMORILLONITAS. ... 87
RESUMO ... 87
Introdução... ... 88
Experimental... ... 90
Tratamento ácido das argilas. ... 90
Pilarização das argilas lixiviadas. ... 91
Calcinação das amostras pilarizadas. ... 91
Medida de acidez. ... 91
Caracterização dos materiais. ... 92
Resultados e discussão ... 93
AGRADECIMENTOS ... 106
REFERÊNCIAS ... 106
C
APÍTULO6
...
109SÍNTESE DE ZEÓLITAS UTILIZANDO RESÍDUO SÍLICO-ALUMINOSO PROVENIENTE DO PROCESSO DE EXTRAÇÃO DE Li. ... 109
RESUMO: ... 109
Introdução... ... 110
Experimental... ... 111
Síntese dos materiais zeolíticos:... 111
Caracterização: ... 113
Resultados e discussão ... 114
Síntese de Zeólitas ... 116
CONCLUSÕES ... 120
AGRADECIMENTOS ... 120
REFERÊNCIAS ... 121
C
ONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕESF
INAIS...
125CAPÍTULO 1
1.1 INTRODUÇÃO
Estudos envolvendo síntese de peneiras moleculares têm cada vez mais espaço no
meio científico. Estes materiais possuem uma rede estrutural organizada, que permite separar
moléculas em função de seus tamanhos. Segundo classificação da IUPAC (IUPAC Manual of
symbols and terminology, 1978), essa classe de materiais pode ser dividida em materiais
microporosos com poros menores que 2nm, mesoporosos que apresenta tamanho de poro
intermediário entre micro e macroporos, na faixa de 2nm a 50nm e por fim os macroporosos
com poros acima de 50nm de diâmetro. Zeólitas, sólidos mesoporosos como MCM-41,
SBA-15 e argilas pilarizadas são classificados como peneiras moleculares. Estes materiais, citados
como exemplo, apresentam diferentes aplicações industriais que abrangem desde a área de
catálise e adsorção, pigmentos, cargas em polímeros, entre outras.
Devido à sua importância industrial e comercial, muitos estudos são realizados em
torno da síntese destes materiais. Alguns dos trabalhos tratam da utilização de fontes
alternativas de Si e Al. Estas fontes podem ser naturais, como argilas, ou podem ser resíduos
sílico-aluminosos, por exemplo: cinzas do carvão mineral e da casca de arroz. Os materiais
obtidos, dependendo grau de pureza e rendimento, podem ser aplicados como adsorvente ou
catalisadores. Por exemplo, zeólitas obtidas a partir das cinzas do carvão apresentaram uma boa capacidade de adsorção de metais pesados. Outro exemplo é o uso de argilas ácidas para
branqueamento de óleo vegetal.
As argilas podem ser definidas como materiais sílico-aluminosos, sendo uma das
razões para seu uso como matéria prima na síntese de zeólitas. Como exemplo, pode-se citar a
síntese de zeólita A, (ALKAN, 2005) zeólita X, Y (CHANDRASEKHAR; PRAMADA,
2004) e zeólita ZSM-5 a partir do Caulim e da montmorilonita (MIGNONI et al., 2008). As
argilas também podem ser utilizadas como peneiras moleculares após modificações
estruturais. Os constituintes principais das argilas são os argilominerais, na maioria
filossilicatos cuja organização das folhas tetraédricas e octaédricas e composição química
capacidade de adsorção e troca catiônica. Devido a estas propriedades, modificações
estruturais nestes materiais por tratamento ácido (ativação ácida) e processo de pilarização são
possíveis, para a formação de peneiras moleculares com boa capacidade de adsorção e
atividade catalítica.
O tratamento ácido em argilas aumenta a porosidade e também a quantidade de sítios
ácidos. Quanto mais severo for este tratamento, maior é a presença de sítios ácidos de
Brönsted em relação aos sítios de Lewis no material (KOMADEL; MADEJOVA´, 2006). O
aumento da acidez possibilita o uso destes materiais em diferentes reações com uma maior
seletividade em relação às moléculas de produtos e/ou reagentes.
Existem argilas ácidas comerciais, como: KSF e K-10. Estas argilas são obtidas a
partir de tratamentos ácidos com diferentes graus de severidade, que podem desorganizar ou
amorfizar o material de partida. A composição mineral e química da argila tratada pode levar
a produção de materiais com características diferentes após ativação ácida. Desta forma, é
importante um estudo do processo em relação ao material que se quer modificar para
obtenção de determinadas características de acidez e porosidade.
A pilarização de argilas é outro método muito empregado para produzir um material
com característica de acidez de Lewis, micro e/ou mesoporoso. O agente pilarizante mais
comumente utilizado é o Al13 (íon de keggin). Os oligômeros de Al são intercalados entre as camadas de argila e após processo de calcinação se transformam em óxidos, conferindo ao
material uma estrutura porosa permanente (PERGHER et al., 2005). Um dos requisitos para
que ocorra a pilarização destas argilas é que possuam uma boa organização estrutural e uma
boa capacidade de troca catiônica.
Estes dois processos podem ser aliados para a produção de um material com
características distintas de acidez. O ferro geralmente presente em argilas pode ser um
interferente em alguns processos catalíticos, direcionando as reações para a formação de
produtos indesejáveis. Um tratamento ácido prévio dos materiais à serem pilarizados pode ser
uma alternativa para a remoção do ferro. O estudo das variáveis do tratamento ácido é
importante, na medida em que, estes tratamentos podem comprometer a estrutura lamelar,
impossibilitando o processo de pilarização.
Neste trabalho foram sintetizadas zeólitas utilizando um resíduo sílico-aluminoso
argilas ácidas pilarizadas. Esta dissertação esta dividida em capítulos, sendo este 1o capítulo uma introdução dos temas abordados. No 2o capítulo, são apresentados os objetivos propostos para este trabalho. Um referencial teórico do tema estudado faz parte do 3o capítulo. Os capítulos 4, 5 e 6 são artigos que foram ou serão submetidos a revistas especializadas.
No capítulo 4 é descrito o tratamento ácido de uma argila montmorilonita utilizando
três diferentes ácidos HCl, HNO3 e H2SO4. O HCl apresentou melhores resultados em relação a remoção de Fe. Também por DRX observou-se que o material apresentou maior
organização estrutural, do que os materiais tratados com ácido sulfúrico e nítrico. Um
planejamento estatístico fatorial 22 foi utilizado para otimizar o tratamento com HCl, avaliando a influência da concentração e temperatura no processo. Neste estudo observou-se
que a temperatura exerce maior influência na retirada de Fe seguida pelo aumento da
concentração.
É apresentado no capítulo 5 um estudo do tratamento ácido com HCl de amostras de
argila do tipo montmorilonita, que posteriormente foram pilarizadas com Al13. Para todos os materiais o processo de pilarização foi efetivo com um aumento da área específica em relação aos materiais somente ativados. As argilas ácidas pilarizadas apresentaram resultados
diferentes em relação a densidade de sítios ácidos fracos e moderados dependendo do grau de
severidade do tratamento ácido empregado anteriormente a pilarização.
As argilas muitas vezes são empregadas como matéria prima para síntese de zeólitas.
Teoricamente, qualquer material de composição SiO2 e Al2O3 poderia ser utilizado para síntese de materiais microporosos. O uso de resíduos em síntese de zeólitas desperta interesse,
devido ao fato de agregar valor a estes materiais. O resíduo sílico-aluminoso utilizado neste
trabalho e obtido como subproduto da extração do lítio do mineral espodumênio. Na extração
do lítio o mineral espodumênio, após processo de calcinação (1000ºC – 1100oC) é tratado com um ácido ou um álcali, sendo obtido ao final o produto de interesse (carbonato ou
hidróxido de lítio) e um resíduo sílico-aluminoso (BRAGA, P. F. A.; SAMPAIO, 2008), o
qual foi utilizado neste estudo.
No capítulo 6 são descritos diferentes procedimento de síntese de zeólita a partir de
um resíduo sílico-aluminoso fornecido pela Companhia Brasileira de Lítio (CBL). Foi
possível sintetizar uma mistura de zeólita A e Sodalita e a fase zeólita NaP1. Os
procedimentos de síntese para ambos os materiais obtidos foram hidrotérmicos. No trabalho
CAPÍTULO 2
2.1 - OBJETIVOS
O objetivo principal deste trabalho é preparar peneiras moleculares (zeólitas e argilas
ácidas pilarizadas) a partir de matérias-primas naturais (argilas) e alternativas como um
resíduo sílico-aluminoso fornecido pela CBL (Companhia Brasileira de Lítio).
2.1.1 - Objetivos específicos
- Avaliar o efeito do uso de diferentes ácidos no tratamento ácido de uma argila rica
em montmorilonita com elevada capacidade de troca catiônica.
- Avaliar o efeito da temperatura e concentração do HCl no tratamento ácido de uma
argila montmorilonita.
- Verificar a influência da retirada de cátions estruturais no comprometimento da
estrutura do material de partida e sua influência na porosidade das amostras.
- Pilarizar com polioxocátions de Al amostras de argilas tratadas com ácido em
diferentes temperaturas e concentrações, verificando a influência na porosidade e acidez dos
materiais.
- Sintetizar as zeólitas A e NaP1 utilizando um resíduo sílico-aluminoso, subproduto
do processo de extração de Lítio do -espodumênio.
- Verificar a influência dos parâmetros tempo, temperatura e agitação na etapa de
dissolução da sílica (resíduo), durante a síntese da zeólita A.
- Avaliar o tempo de envelhecimento antes do processo de cristalização, na síntese de
CAPÍTULO 3
3.1 - REFERENCIAL TEÓRICO: PENEIRAS MOLECULARES
A propriedade de separação de moléculas por exclusão de tamanho pode ser citada
como a característica principal dos materiais denominados peneiras moleculares. Isto, porque
estes materiais podem apresentar poros de tamanho micro (>2nm) ou meso (2nm a 50nm), e
dependendo do tamanho da molécula é ou não permitido, que a mesma, passe pela abertura do
poro. Esta propriedade seletiva é importante para aplicações como: em catálise onde pode
selecionar os reagentes e produtos de uma determinada reação ou em processos de adsorção,
separando moléculas de diferentes tamanhos, como por exemplo, hidrocarbonetos lineares de
ramificados.
Entre os materiais que pertencem a este grupo podemos citar as zeólita, argilas
pilarizadas, entre outros. Estes materiais podem ser obtidos por modificações estruturais em
matérias primas (argilas) ou sintetizados utilizando como fonte de SiO2 e Al2O3 resíduos sílico-aluminosos.
3.1.1 Peneiras moleculares a base de argilas
Teoricamente todos os materiais que apresentem em sua composição silício e alumínio
são passíveis de tornarem-se matéria-prima para produção de zeólitas. Dentre as fontes
naturais mais utilizadas para síntese destes materiais temos as argilas, que são formadas
3.1.1.1 Argilas – Estrutura
Argila é um material encontrado em grande quantidade sendo utilizada como
matéria-prima importante na agricultura, mecânica de solos, e também em várias aplicações indústrias
tais como cerâmica, papel, metalúrgica e petrolífera. Segundo Gomes (1988), as argilas são
rochas constituídas em sua maior parte por argilominerais. Além de matéria orgânica, podem
estar presentes outras fases minerais como quartzo, por exemplo. As argilas possuem em sua
maior parte partículas com diâmetro esférico equivalente abaixo de 2 µm. Ao ser misturada a
água torna-se plástica, e ao ser seca adquire rigidez. Quando queimada a temperaturas
elevadas adquire grande dureza.
A presença de diferentes tipos de argilominerais é responsável pelas propriedades e
características das argilas. Eles podem estar presentes de forma isolada ou misturados a outros
tipos de argilominerais e/ou juntamente com outros minerais, por exemplo: quartzo, feldspato,
mica (GOMES, 1988; SANTOS, 1989).
Os argilominerais são formados principalmente por unidades estruturais divididas em
dois grupos fundamentais: grupos tetraédricos e octáedricos. Estes grupos são formados pelo
arranjo tridimensional de átomos de oxigênio ou de íons hidroxila, ao redor de pequenos
cátions, principalmente Si4+ e Al3+ nos grupos tetraédricos e Al3+, Mg2+, Fe2+, Ti4+ nos grupos octaédricos (SANTOS, 1989).
Na Figura 3.1(A) pode-se observar a representação esquemática de uma unidade
tetraédrica. Estas unidades se unem através de 3 vértices Ob (oxigênio basais) formando uma
folha com anéis de 6 membros (tetraedros). As unidades octaédricas se ligam umas as outras
a partir das bordas, e podem apresentar duas diferentes topologias relacionadas à posição dos
grupos OH (Ooct), orientação cis e trans, (BRIGATTI et al., 2006). Estas duas posições e a
FIGURA 3.1: Unidades estruturais dos argilominerais.
Fonte adaptado de: (BRIGATTI et al., 2006)
A folha tetraédrica se une a outra, geralmente uma folha octaédrica com as valências
livres (Ooct) apontando no sentido contrário, em relação à folha tetraédrica. Os oxigênios
apicais (Oa) de todos os tetraedros apontam para o mesmo lado da folha e conectam as folhas
tetraédricas e octaédricas de forma a se observar um plano comum com as posições Ooct
aniônicas (Ooct = OH, F, Cl, S), estes ânios acabam ficando no centro dos aneis formados por
6 tetraedros (Figura 3.1(A)). A união de uma folha tetraédrica e uma folha octaédrica forma
uma lâmina 1:1 (TO) (Figura 3.2(a)) e quando se unem duas folhas tetraédricas com uma
FIGURA 3.2: Representação estrutural das lâminas 1:1 e 2:1.
Fonte adaptado de: (BRIGATTI et al., 2006)
Embora os íons dentro folhas estejam ligados entre si por ligações fortes, são as
ligações parcialmente iônicas e com caráter covalente que mantem as folhas unidas. Estas
ligações são fracas e responsáveis pela fácil clivagem paralela aos planos basais, de onde
resulta a forma e morfologia destes materiais (SANTOS, 1989).
As argilas podem ser classificadas em função da organização de suas camadas:
estruturas 1:1, 2:1 ou mistas 2:1:1 como observado na Tabela 3.1. São também subdivididas
em di e tri octaédricas. A classificação di e tri octaédrica baseia-se na população de átomos
da folha octaédrica que pertence a unidade estrutural. Numa camada 1:1, a célula unitária
inclui seis sítios octaédricos e quatro sítios tetraédricos. Na estrutura 2:1 seis sítios
octaédricos e oito sítios tetraédricos compõem a celula unitária. Estruturas com todos os seis
sítios octaédricos ocupados são conhecidas como trioctaédrica. Se apenas quatro dos seis
octaedros estiverem ocupados, a estrutura é referida como dioctaédrica. Na Tabela 3.1 são
TABELA 3.1 Classificação dos argilominerais a partir de sua organização estrutural.
Organização das
camadas Grupo
Caráter
octaédrico Espécies
2:1
Pirofilitas – talco
Tri- Talco
Di– Pirofilita
Esmectitas Tri- Saponita; Hectorita; Stevensita Di- Montmorilonita; beidelita; nontronita
Vermiculitas Tri– Trioctahedral vermiculita Di– Dioctahedral vermiculita
Micas Tri– Flogopita; biotita; Lepidolita
Di– Muscovita; Paraganita; Ilita
2:1:1 Cloritas
Tri– Mg-clorita; Fe-clorita Di– Al-clorita; Al-Li-clorita Di-tri Cookeita, sudoita
1:1
Caulim
Tri– Antigorita; amesita; cronstedita Di– Caulinita; Haloisita
Di-tri- Odinita
Fonte adaptado de: (GOMES, 1988; LAGALY, 2006).
3.1.1.2 Propriedades gerais das argilas
As propriedades das argilas estão relacionadas às características dos argilominerais,
que fazem parte de sua composição. Estas propriedades tornam seu uso muito diversificado
abrangendo desde aplicação em catálise, adsorção, cerâmica, aditivos em polímeros, entre
outras. Dentre estas propriedades, se destacam: a granulometria, porosidade e capacidade de
Granulometria:
Devido à dimensão dos argilominerais ser muito pequena (<2 m), em água as argilas
produzem suspensões estáveis ou instáveis (desfloculadas ou floculadas). A estabilidade
destas suspensões está vinculada a grandeza da carga elétrica negativa intrínseca dos cristais,
hábitos cristalinos e a natureza dos cátions trocáveis. Na cerâmica a granulometria das argilas
vai influenciar na plasticidade das pastas e textura, permeabilidade, resistência mecânica dos
corpos verdes ou secos. Pois todas estas características estão relacionadas às dimensões de
grão (GOMES, 1988).
Porosidade:
A superfície específica de uma argila está relacionada à superfície planar (planos
basais externos), a superfície de borda, bem como superfície interna (intercamada). Esta
característica é muito importante na catálise, adsorção, cerâmica, entre outras aplicações.
(GOMES, 1988; LAGALY, 2006). Na Figura 3.3 estas superfícies são melhor representadas.
FIGURA 3.3: Esquema de organização de uma argila lamelar. (A) representação de uma lâmina e/ou
camada, (B) uma partícula originada de camadas empilhadas de forma que podem ou não formar poros com tamanhos ou formatos diferentes, (C) partículas organizadas de foram a originarem um espaço interpartícula e (D) vários agregados de partículas formando um poro ainda maior.
Todos os filossilicatos são porosos, e na Figura 3.3 observa-se como se formam as
diferentes porosidades. A porosidade destes materiais não se restringe ao espaço entre as
lâminas ou camadas, mas está relacionada à organização de partículas formadas a partir das
lâminas e também nos poros formados pela organização destes agregados.
Capacidade de troca catiônica (CTC):
A capacidade de troca de cátions está relacionada à quantidade de cátions que um
mineral argiloso ou argila pode adsorver ou trocar (GOMES, 1988). A CTC nas argilas é
devida a substituições isomórficas que ocorrem na estrutura da argila produzindo um
desequilíbrio de cargas que são compensadas por cátions trocáveis. Além desta deficiência
catiônica causada pelas substituições isomórficas, existem ligações quebradas nas bordas e na
superfície externa, assim como dissociação de grupos hidroxila acessíveis que contribuem
para deficiência de carga positiva (AUERBACH et al., 2004). O processo de troca de cátions
é um processo estequiométrico segundo o qual cada equivalente de um íon adsorvido pelo mineral argiloso, vai provocar a liberação de um equivalente do cátion anteriormente fixado.
O poder de troca de um cátion será maior quanto maior for sua valência e menor for sua
hidratação (GOMES, 1988).
3.1.1.3 Grupo das Esmectitas
Os cristais de montmorilonita são de dimensões muito reduzidas (média 0,15 µm) e
entre as camadas estruturais existem moléculas de água com arranjos orientados e regulares
coordenando cátions trocáveis que podem dar lugar a certas moléculas orgânicas (GOMES,
1988). A ligação entre camadas é devida a forças de Van der Walls. Na Figura 3.4 é
FIGURA 3.4:Estrutura idealizada de uma Esmectita (2:1). - Átomos de Oxigênio;
- Grupos –OH; - Átomo de Silício e O - Átomo de Alumínio.
Fonte adaptado de (GOMES, 1988).
A montmorilonita é um mineral, cujas características são: Fórmula Química - (Na,Ca)0,3(Al,Mg)2Si4O10(OH)2.nH2O. Composição - Silicato de alumínio, magnésio e cálcio hidratado. Cristalografia – Monoclínico.
O espaçamento entre as camadas adjacentes pode variar de 10 a 17,5 Å, sendo de
+ 12,5Å quando o cátion intercalar é o Na+ e de + 15,5Å quando o cátion intercalar é o Ca2 + (GOMES, 1988). As substituições isomórficas em percentagens moderadas de Si4+ por Al3+ nas posições tetraédricas, e nas folhas octaédricas o alumínio por Mg2+, Fe2+, ou Li+ resultam em uma camada de carga negativa, compensada por cátions hidratados adsorvidos no espaço
interlamelar (PERGHER et al., 1999). c
b
a
AlO
6SiO
4SiO
4SiO
4
3.1.1.4 Modificações em argilas por tratamentos ácido e pilarização.
As modificações estruturais realizadas em argilas podem ser físicas ou químicas, de
forma a aumentar a capacidade adsortiva ou melhorar seu uso em catálise, criando sítios
reativos para determinadas reações. A Figura 3.5 apresenta um esquema dos tipos de
modificações realizadas em argilas.
FIGURA 3.5:Esquema dos tratamentos aplicados em argilominerais.
Estas modificações nos argilominerais podem envolver a modificação fisica utilizando
altas temperaturas ou alterando grupos funcionais e aumentando a capacidade de adsorção por
modificações estruturais (HUSSIN et al., 2011). Os tratamentos básico e ácido visam aumento
da área especifica das argilas, ambos os tratamentos podem ser realizados com o uso de
temperatura. No tratamento básico pode ser usado o NaOH, e em tratamentos ácidos
comumente são utilizados ácidos HCl e H2SO4. Em termos de eficiencia no aumento de área específica, a utilização de ácidos é mais efetiva. Os tratamentos térmicos o uso de
temperaturas entre 400 e 500oC, promove mudanças de estrutura e composição nas argilas. O tratamento por microondas também pode modificar estas características, mas com redução de
tempo e energia gasto no processo. As argilas podem ser hidrofobizadas por tratamentos
orgânicos envolvendo intercalação de surfactantes na estrutura do material (HUSSIN et al.,
Dentre estes processos são destacados neste trabalho os processos de tratamento ácido
e pilarização que envolvem modificações que tornam as argilas materiais de interesse para
aplicações em catálise e adsorção.
Pilarização de argilas
As argilas do tipo lamelar apresentam características diferenciadas que fazem destes
materiais objeto de estudos na síntese de novos catalisadores heterogêneos. As argilas
esmectítas apresentam uma alta capacidade de troca catiônica, entretanto sua capacidade de
adsorção é limitada pela sua área específica. Uma solução encontrada foi a pilarização destes
materiais, dando origem aos sólidos denominados sólidos laminares pilarizados, classe a qual
pertencem às argilas pilarizadas. (PINNAVAIA, 1995 apud PERGHER, et al., 2005).Esta
classe de materiais é produzida introduzindo compostos químicos que funcionam como
pilares de dimensão molecular entre as lamelas da argila, mantendo-as afastadas impedindo
que colapsem quando o meio de solvatação é eliminando. Os materiais pilarizados são
termicamente estáveis e possuem micro e/ou meso porosidade. Esta estabilidade térmica e a
porosidade os distinguem de compostos somente intercalados. (SCHOONHEYDT et al.,
1999).
Os compostos químicos que funcionam como suportes (ou pilares moleculares) entre
as lamelas da argila induzindo uma estrutura de poros são denominados agentes pilarizantes
(SCHOONHEYDT et al., 1999). A simples introdução do agente pilarizante por troca iônica,
dá origem às argilas intercaladas. O processo de calcinação que se segue, elimina a água
presente entre as lamelas produzindo a microporosidade característica das argilas pilarizadas.
FIGURA 3.6:Esquema de uma argila 2:1 expansível pilarizada.
A – Lâmina elementar 2:1 d001– Espaçamento basal
B – Espaço interlaminar E – Distância entre os pilares
P – Unidade pilarizante - Grupo funcional
D – Distância entre as lâminas - Cátions trocáveis residuais
Fonte: (PERGHER et al., 2005)
Entre as camadas 2:1 (A) tem-se os pilares (P) eles mantém as camadas separadas a
uma distância D. O espaçamento basal, de d001, é definido como a distância entre as bases de camadas separadas pelos pilares. Os cátions interlamelares naturais da argila que não são
trocados continuam num espaço interlamelar (B) e estão representados na figura como cátions
residuais ( ). Os pilares possuem grupos funcionais ( ) que lhes darão certas propriedades
catalíticas e os pilares estão separados uns dos outros por uma distância interpilar (E)
(PERGHER, et al., 2005).
O processo de pilarização consta na preparação do agente pilarizante (oligomerização)
e da pilarização propriamente dita que seria a troca catiônica dos cátions naturais da argila
pelos oligômeros preparados. Este processo envolve os seguintes passos quando realizado em
(1) Preparação do agente pilarizante.
(2) Preparação da suspensão de argila.
(3) Adição da suspensão ao agente pilarizante (pilarização).
(4) Filtração e lavagem.
(5) Calcinação da argila seca (estabilização do material).
Neste mesmo trabalho (AOUAD et al., 2005), apresentam um estudo onde a síntese
objetiva o aumento de escala utilizando uma síntese externa e interna comparando estes dois
procedimentos. Na Figura 3.7 é apresentado um esquema dos diferentes métodos de
pilarização com síntese interna e externa.
FIGURA 3.7:Comparação entre diferentes métodos de pilarização.
A preparação do agente pilarizante pode ser realizada por síntese externa ou interna.
Na síntese interna, a formação da estrutura interlamelar é gradual e pode ser considerada
como um processo natural simulado. Já na síntese externa, o agente pilarizante é preparado
separadamente, e em seguida, é adicionado ao argilomineral realizando uma troca dos cátions
naturais da argila pelos oligômeros preparados. A reação de troca é rápida. Ambas as sínteses,
externa e interna, podem ser utilizadas para produzirem argilas pilarizadas, porém a síntese
externa é a mais adequada, porque possui grande versatilidade e admite a preparação do
agente pilarizante num sistema puro e sob condições controladas.
A maior parte dos trabalhos encontrados na literatura trata da introdução de
polioxocátions, principalmente de alumínio, zircônio, ferro e titânio como agentes
pilarizantes. Essas espécies catiônicas além de serem relativamente estáveis termicamente e
hidrotermicamente, também podem atuar como centros cataliticamente ativos.
Soluções contendo polioxocátions de alumínio são preparadas pela hidrólise de um sal
de alumínio, tipicamente AlCl3, e posteriormente neutralizadas com hidróxido de sódio até uma razão [OH]/[Al] entre 1,8 e 2,4. Soluções preparadas dessa forma contêm basicamente três espécies: alumínio monomérico hidratado, o polioxocátion [Al13O4(OH)24(H2O)12]7+ , conhecido como íon de Keggin, e alumínio polinuclear. O íon de Keggin (Figura 3.8), o
precursor de agente pilarizante mais comum, é formado por um tetraedro de AlO4-envolvido por doze octaedros de hidróxido de alumínio (PERGHER et al., 2005).
FIGURA 3.8:Estrutura do íon de Keggin. Os círculos maiores representam átomos de alumínio; os
menores são átomos de oxigênio.
A relação OH/Al máxima que pode ser utilizada para hidrolise do Al13 é 2,5. Em soluções onde esta relação for menor ou igual a 1,5 estarão presentes em maior quantidade
cátions monoméricos (STERTE, 1988).
O interesse nas argilas pilarizadas para aplicação industrial já era conhecido desde
1970, aproximadamente, pois estes materiais podem ser aplicados em processos de adsorção e
catálise atuando diretamente ou como suporte. Pergher e colaboradores (2005, p.30) fizeram
um levantamento bem abrangente das principais aplicações desta classe de materiais. As
aplicações englobam desde reações de craqueamento, desproporcionação, isomerização,
oligomerização, alquilação, reações de oxidação entre outras.
Tratamento ácido em argilas
Em muitos casos ao se trabalhar com resíduos ou mesmo materiais naturais torna-se
necessário um tratamento prévio. Por exemplo, no uso de cinzas do carvão para síntese de
zeólita, o material de partida (cinzas) é muitas vezes tratado com HCl para retirada de Fe. No
caso das argilas, o tratamento ácido tem função de aumentar a área especifica do material,
aumentando sua capacidade de adsorção. É um tratamento aplicado em argilas para seu uso
em clarificação de óleos, por exemplo (NGUETNKAM et al., 2011).
O tratamento ácido em argilas vai influenciar na sua capacidade de troca catiônica,
devido à diminuição da carga negativa da lâmina o que leva a uma diminuição da CTC
(PENTRÁK et al., 2012). Isto devido à dissolução das camadas octaédricas
(MADEJOVA et al., 2009), pela retirada de cátions como Al+3, e átomos presentes como substituição isomórfica, tais como: Fe3+ e Mg2+. No processo de ativação vários parâmetros podem ser variados, como temperatura, concentração do ácido, razão ácido/argila, agitação e
também se o tratamento for realizado em sistema aberto ou fechado.
O aumento da severidade do tratamento diminui a atividade catalítica das argilas
devido ao comprometimento das camadas octaédricas, refletindo na diminuição da acidez de
Brönsted, que é maior nos materiais tratados com ácido em concentrações mais baixas
(KOMADEL, 2003).
As modificações realizadas pelos processos de ativação ácida e pilarização ampliam a
argilas são materiais sílico-aluminosos o que possibilita também seu uso como matéria prima
na síntese de zeólitas.
3.1.2. Peneiras moleculares do tipo zeólita.
Estudos envolvendo materiais com estrutura microporosa, do tipo de zeólitas obtidas
apartir de materiais alternativos tem cada vez mais espaço no meio científico. Segundo
classificação da IUPAC (IUPAC manual of symbols and terminology, 1978) esta classe de
materiais apresenta tamanho de poro abaixo de 2nm.
Zeólitas são materiais de estrutura cristalina, podem ser naturais ou sintéticos e
apresentam características comuns. Estes materiais são estruturados por combinações
tridimensionais de tetraedros T(O4) comumente de SiO4 e AlO4- (Figura 3.9), mas relatam-se estruturas onde ocorre a substituição isomórfica dos átomos de Si e Al na armação estrutural l
por outros átomos como: B, Be, Co, Ga, Ge. Outra definição também abordada na 6o edição do Atlas de estruturas do Tipo Zeólitas (BAERLOCHER, 2007), qualquer rede tridimensional
composta por átomos tetraedricamente coordenados e com uma densidade estrutural entre 19
e 21 átomos de oxigênio coordenados tetraedricamente por 1000Å3 podem ser considerados como sendo materiais semelhantes ás zeólitas.
FIGURA 3.9: (a) Rede tridimensional (4:2) conectada. (b) Unidade de construção primária de uma
zeólita SiO4 e AlO4
-. Os átomos de oxigênio situam-se nas arestas, entre os dois átomos T(Si, Al) de cada vértice.
Fonte adaptado de: (BRAGA; MORGON, 2007).
Os tetraedros TO4 se unem entre si através dos átomos de oxigênio comuns e são eletricamente neutros quando não há substituição isomórfica dos átomos de silício por
alumínio. Após a incorporação do Al na rede estrutural, a rede fica carregada negativamente,
pois o Al tem carga 3+, desta forma e necessário equilibrar cada tetraedro de AlO4 com uma carga positiva, isto requer a presença de cátions de compensação. Estes cátions podem ser
inorgânicos (Na+, K+, Ca2+, etc.) ou cátions orgânicos, eles se localizam dentro da estrutura e desta forma a rede se mantém neutra (GIANNETTO et al., 2000; LOBO, 2003). Devido a
substituições isomórficas que podem ocorrer na armação estrutural a fórmula da cela unitária
de uma zeólitas pode ser descrita como:
M
x/n[(SiO
2)
x(AlO
2)
y] . zA
onde:
M = cátion de valência n (x > 0);
A = água, moléculas diversas, pares iônicos (z > 0);
z = moles de água de hidratação;
n = valência do cátion de compensação;
(x+y) = número total de tetraedros por cela unitária.
As zeólitas possuem cavidades ou poros, que confere a estes materiais uma estrutura
interna muito grande em relação à superfície externa. Estes poros são ocupados por
moléculas de H2O presente na síntese e também por cátions solvatados. A água e cátions podem ser removidos por processos térmicos ou químicos. Nas zeólita o espaço intracristalino
é mantido e consequentemente sua estrutura, isto não acontece com outros materiais porosos
hidratados, ex. CaSO4 (PAYRA; DUTTA, 2003).
O tamanho dos poros é o que limitará o ingresso de íons ou moléculas no espaço
intracristalino dos canais e cavidades, pois moléculas com dimensões acima de certo valor
crítico não podem transferir-se do meio que envolve a zeólita para seu interior. O tamanho de
onde as moléculas ou íons tem acesso ao interior da zeólita. Zeólitas podem ter poro
extragrande, grande, mediano e pequeno com < 12, 12 , 10 e 8 átomos de oxigênio formando
a abertura, respectivamente (GIANNETTO et al., 2000). Na Figura 3.10 apresenta-se a
classificação de algumas zeólitas de acordo com o tamanho dos poros.
FIGURA 3.10:Classificação de algumas estruturas de acordo com o tamanho da abertura de poro.
Fonte adaptado de: (PAYRA; DUTTA, 2003).
3.1.2.1 Estruturas das zeólitas.
As aplicações industriais de diferentes zeólitas, tanto em processos físicos de
separação como em processos químicos de refino e petroquímica é definida de acordo com
sua estrutura. A configuração tetraédrica de quatro átomos de oxigênio rodeando um átomo de
Si ou Al é a “unidade básica de formação” das zeólitas. Estas armações estruturais unem-se
por compartilhamento dos vértices formando ligações de oxigênio não lineares. Esta simples
“unidades secundárias de construção” (SBU)1
(Figura 3.11), que combinadas levarão a
formação de uma estrutura espacial contínua complexa.
FIGURA 3.11:Unidades Secundárias de Construção das zeólitas.
Fonte adaptado de: (BRAGA; MORGON, 2007).
Estas SBU’s podem ser consideradas uma característica particular de cada grupo ou
família de zeólitas, sendo possível então uma classificação estrutural a partir destas unidades
de construção. Em destaque na Figura 3.11 observa-se um anel de 8 membros, na construção
destas unidades os átomos T encontram-se nos vértices e os átomos de oxigênio entre eles
fazendo a ligação. A combinação destas unidades no espaço permite a construção de unidades
terciárias mais complexas, por isso em muitos casos uma estrutura zeolítica pode ser descrita
mais facilmente através de destas unidades como, por exemplo, as poliédricas (Figura 3.12).
FIGURA 3.12: Poliedros presentes nas estruturas zeolíticas: a (26-edro Tipo I) o cubooctaedro
truncado; b (14-edro Tipo I) o octaedro truncado; D8R o duplo anel de oito membros; D6R o duplo anel de seis membros (prisma hexagonal); (18-edro); e (11-edro); D4R o duplo anel de quatro membros.
Fonte adaptado de: (GIANNETTO et al., 2000).
Segundo Braga e Morgan (2007, p. 182), estas unidades terciárias têm papel
importante durante a síntese, podem tornar-se precursores para o crescimento dos cristais no
meio reacional, diferentes combinações podem originar novas estruturas. Também são
importantes no que diz respeito a localização de cátions como contraíons, diâmetro de poros e
cavidades dos poliedros são limitantes quanto ao tamanho de moléculas adsorvidas e tem
papel importante na classificação destes materiais.
3.1.2.2 Alguns Tipos de Zeólitas.
Sodalita (SOD)
O material tipo sodalita possui uma limitada capacidade de adsorção, pois possui um
poro pequeno (abertura de poro anel de 6 membros) e uma densidade de rede de 17,3 de
como, a partir da unidade sodalita podem ser montadas as redes estruturais zeólita A (LTA),
zeólitas X e Y (FAU).
FIGURA 3.13: Ilustração representativa da construção de três diferentes estruturas a partir da caixa
sodalita.
Fonte adaptado de: (PAYRA; DUTTA, 2003).
Zeólita A (LTA)
Esta zeólita apresenta uma relação Si/Al = 1, sendo normalmente sintetizada na forma
sódica, e de acordo com GIANNETTO et al. (2000, p.43), com fórmula química podendo se
expressar na forma:
(Na2O)48 [(SiO2)96 (Al2O3)48] . 27H2O
SAR2 (SiO2/Al2O3) = 2
Sua estrutura pode ser descrita pela união de octaedros truncados de 24 tetraedros,
também conhecidas como cavidade ou sodalita e por arranjos cúbicos simples de oito
tetraedros (Figura 3.14).
FIGURA 3.14:Representação da estrutura da Zeólita A.
Fonte adaptado de: (DUAN et al., 2009).
Esta organização estrutural de acordo com Gianetto et al. (2000, p. 45) origina uma
supercavidade com diâmetro interno igual a 11,4 Å cortada por canais tridimensionais que
podem conectar-se através de poros delimitados por 8 oxigênios de abertura livre igual a 4,2Å
ou aberturas de diâmetro 2,2 Å formadas por 6 átomos de oxigênio originados de conexões
alternadas de cavidades sodalita (cavidade ß) e cavidades . O diâmetro destes canais é fator
delimitante para a entrada de moléculas orgânicas ou inorgânicas e pode variar dependendo
do tipo de cátion de compensação adsorvido.
Zeólita X ou Y (FAU)
A diferença entre estas duas zeólitas X e Y está na razão Si/Al da estrutura cristalina,
na zeólita X esta relação fica em torno de 1,0 e 1,5 e na zeólita Y onde a proporção de sílica é
encontram na forma sódica e hidratada e dependendo da relação Si/Al, apresentam parâmetro
de célula unitária variável 24,18 a 25,0 Å.
As Zeólitas X e Y apresentam a mesma estrutura cristalina (FAU) entre si e mesma
unidade de construção que a zeólita A, a cavidade sodalita. Estas zeólitas diferem da Zeólita
A quanto às unidades que ligam estas cavidades, sendo que nas zeólitas X e Y, estas unidades
de construção são ligadas entre si por anéis duplos de seis átomos de oxigênio 6-6 e não por
unidades de construção de anéis duplos de quatro átomos 4 - 4. Braga e Morgan (2007, p.185)
relatam que ocorre também a formação de uma supercavidade com diâmetro interno igual a
12 Å, com uma abertura de poro delimitada por anéis de 12 átomos e diâmetro de 7,4 Å. Esta
combinação, da supercavidade entre si e com as caixas sodalita origina a estrutura final da
zeólita X ou Y (Figura 3.15).
FIGURA 3.15:. Zeólita X / Y (faujazita).
Fonte adaptado de: (NAKANO, T. et al., 2006).
Ocorre também nas zeólitas X e Y, a formação de um sistema de canais
tridimensionais com abertura de poro de 6 oxigênios e diâmetro igual a 2,2 Å formado pela
FIGURA 3.16: Corte da comunicação entre supercavidade α, cavidade sodalita e um prisma
hexagonal, ligados por anéis de 6 e 12 oxigênios
Fonte: (BRAGA; MORGON, 2007)
Zeólita NaP1 (GIS)
Esta zeólita tem uma estrutura do tipo GIS e pode ser descrita como o empilhamento
de matrizes tridimensionais de eixo excêntrico duplo. Possui canais de abertura de 8 membros
paralelos ao eixo X e Y, deslocados um em relação ao outro no eixo Z. Na Figura 3.17 é
possível observar um esquema representativo como é esta estrutura.
FIGURA 3.17:Representação do tipo de estrutura GIS: a) cadeia de anéis de 4 membros, b) folha é
chamada de 4,82 e c) estrutura do tipo GIS.
a) b) c)
Na Figura 3.17(a) observa-se uma cadeia de anéis de 4 membros, a união destas
cadeias explica a rede estrutural das zeólitas tipo GIS. O ponto de junção das cadeias é
chamado de nó, no caso da GIS cada nó está associado a 2 anéis de 8 membros e 1 anel de 4
membros por isso a folha é chamada de 4,82. Em uma visão tri-dimensional, a orientação das cadeias pode ser descrita como na Figura 3.17(b), onde U significa que a cadeia está para
cima e D para baixo. Na Figura 3.17(c) é possivel visualizar melhor essas posições, onde a
orientação das cadeias é apresentada na parte sombreada (MCCUSKER; BAERLOCHER, 2001).
3.1.2.3 Propriedades das zeólitas.
A utilização de zeólitas em diferentes segmentos industriais, agrícolas e de controle
ambiental deve-se a diferentes propriedades que lhe conferem vantagem em relação a outros
materiais. Estas vantagens estão relacionadas abaixo:
Maior superfície interna e externa devido a sua estrutura microporosa;
são seletivas quanto a forma e tamanho devido a canais e cavidades regulares e
uniformes presentes em sua estrutura;
permitem a troca de íons e desidratação reversível, por possuírem cátions de
compensação e moléculas de água em suas cavidades;
acidez interna;
grande estabilidade térmica que aumenta com o decréscimo da quantidade de
alumínio reticular e no caso do aumento da razão Si/Al também há um aumento da acidez.
Atividade catalítica.
As zeólitas apresentam muitas vantagens quando comparadas a catalisadores amorfos.
Por apresentarem uma estrutura organizada lhes confere a vantagem de serem seletivas em
função do tamanho de poro, podem ser reproduziveis quanto a síntese e podem acomodar
uma quantidade muito maior de moléculas no interior de seus poros (SMART; MOORE,
A acidez nas zeólitas é atribuída a presença de sítios ácidos resultantes da presença de
Al na rede estrutural. A combinação somente de tetraedros de SiO4 levaria a uma estrutura sem carga. A presença de Al na rede estrutural faz com que a mesma fique carregada
negativamente e desta forma justificando-se a presença de cátions inorgânicos. A quantidade
de Al pode ser manipulada de forma a obter diferentes estruturas. Com o aumento da razão
Si/Al a estabilidade térmica e hidrofobicidade também vão aumentar. (PAYRA; DUTTA,
2003). Existem dois grupos de zeólitas: as que podem ser obtidas na forma ácida sem colapso
da estrutura cristalina e aquelas que podem ser preparadas pela troca catiônica com íons
amônio (GIANNETTO et al., 2000). Na Figura 3.18 é apresentado um esquema da supefície
de uma zeólita acidificada pela troca iônica com íons amônio.
FIGURA 3.18:Diagrama da superfície da rede estrutural de uma zeólita. a) Zeólita como sintetizada,
Na+ como cátion compensador de carga; b) Troca do Na+ por NH4 +
; c) Com o aquecimento remoção da amônia, criação de sítios ácidos de Brönsted, a estrutura pode existir em duas formas em equilíbrio e d) formação de sítios ácidos de Lewis.
Si O Si O Al O Si
O O O O O O
Si Si O O O O Na+ -Si O Si O Al O Si
O O O O O O
Si Si
O
O O
O
-NH4+
Si O Si O Al O Si
O O O O O O
Si Si O O O O -H+ Si O Si Al O Si
O O O O O O
Si Si
O
O O
O OH
Troca com íon amônio
Aquecimento a 300 a 400oC.
Equilibrio a) b) c) Si O Si Al O Si
O O O O O O
Si Si
O
O O
O
+
d) Desidroxilação entre 550 e 650
oC.
A troca com íons amônio é utilizada quando o tratamento direto com um ácido não é
possível, pois a estrutura da zeólita é comprometida. O primeiro passo ocorre com a troca dos
cátions de compensação da estrutura zeolítica por íons amônio. O aquecimento da estrutura
provoca a liberação de amônia deixando a superfície do material protonada (H-zeólita).
Segundo Giannetto et al. (2000) estudos de IV na região de vibração dos grupos –OH
indicam que a H-zeólita pode existir nas duas formas representadas na Figura 3.18 (c). Com a
desidroxilação em uma temperatura mais alta em torno de 500 a 650oC o íon alumínio tricoordenado é exposto, tem-se então a presença de sítios ácidos de Lewis.
3.1.2.4 Síntese de zeólitas
Na atualidade o processo de síntese de zeólitas se tornou uma rotina em muitos
laboratórios de pesquisa. Vários tipos de síntese já foram estudados detalhadamente e tornados padrão para a produção de certos materiais, muitos métodos experimentais podem
ser obtidos na literatura, um exemplo de fonte é o Manual emitido pela comissão de síntese
International Zeolite Association (IZA)(ROBSON, 2001)
.
De forma geral a síntese dezeólitas é um processo hidrotérmico onde todas as variáveis envolvidas desempenham um
papel de maior ou menor grau para a produção de fases zeolíticas puras, síntese de alta
FIGURA 3.19: Esquema representativo das variáveis envolvidas no processo de síntese de zeólitas.
Em seu livro Giannetto et al. (2000) descreveu algumas destas variáveis como os
principais fatores que afetam a síntese de materiais zeolíticos.
Fontes de Si e Al
A escolha das fontes de silício, alumínio ou de um heteroátomo que vão ser utilizadas
em síntese de zeólitas, tem um papel importante na produção destes materiais. Estas fontes
são selecionadas através de critérios relacionados à sua reatividade, disponibilidade, custo e
química, geralmente são utilizados fontes na forma de oxido e amorfas, (CUNDY, 2005).
Esta fontes podem ser suspensões coloidais de Si, materiais naturais como argilas com
diferentes proporções SiO2 e Al2O3 na sua composição (GIANNETTO et al., 2000) ou rejeitos que possuam Si e Al em sua composição, um exemplo são as cinzas do carvão mineral.
Soluções coloidais com o sólido disperso em um líquido (Sol) ou soluções onde um líquido é
disperso em um sólido (gel) são as fontes mais reativas para produção das zeólitas mais metaestáveis (GIANNETTO et al., 2000). Outro fator importante é a composição da mistura
reacional, pois a relação Si/Al além de direcionar a composição da rede, a quantidade de