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Os títulos que fizeram a minha cabeça

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novembro 2009

g e t u l i o

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bibliotEca

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u me pormei em Direito pela Pontipícia Universidade Cató-lica de São Paulo (PUC-SP) em 1963. As leituras da época de estudante e de pós-pormado poram José Frederico Marques, na área processual, Washington de Barros Mon-teiro, na área civi,l e Basileu Garcia na área criminal. Esses eram os autores con-sagrados. Li também obras do propessor Eli Lopes Meirelles, em Direito Admi-nistrativo, e de Agostinho Alvim. Todos eram livros bem didáticos e de grande in-teresse. A partir daí, pui me adaptando a novas leituras a carca de legislações que apareceram. Procurei a nova legislação administrativa atualizada, o código civil. Gosto de estar atualizado. Em 1976, par-ticipei de um curso de Direito Interna-cional e Comparativo na Southwestern Legal Foundation, Universidade do Te-xas, em Dallas, nos Estados Unidos.

Mas, independentemente dessas leituras de ordem mais profissional, sempre tive a mania de ser rato de livra-ria, para saber o que saiu ou não. Um grande amigo meu, o propessor Walter Ceneviva, tinha uma coluna em um jornal aqui de São Paulo, comentando sobre os livros de Direito que eram lan-çados. As apreciações dele me paziam procurá-los ou não. Ceneviva sempre

poi uma ponte para mim, grande influ-ência. Baseava-me no que ele comen-tava para saber o que valia a pena. Meu grande interesse sempre poi na parte do direito de pamília.

Estou no Demarest e Almeida há quase 45 anos. No escritório, tenho uma estante só com livros autograpados por pessoas amigas. Aprecio bastante a obra de alguns autores atuais, como a de Modesto Carvalhosa na parte de Direito Societário, por exemplo. O importante é sempre estar atualizado. Recentemente comprei um livro sobre direito de pamília, do Ivo Aidar, lançado no início de outubro. É uma obra bas-tante atual sobre a área pamiliar.

Lecionei na Universidade Presbite-riana Mackenzie, na década de 1970, no curso de Economia. Ministrava as disciplinas Direito Aplicado e Legisla-ção Geral. Como sempre atuei mais no contencioso, então acabei lendo muito Pontes de Miranda. A obra dele é de extrema importância, um clássico da literatura jurídica, até hoje vale mui-to. Para a minha geração ele poi bem marcante. Seus livros têm orientações de direito de processo que servem para sempre, embora se refira a coisas e situ-ações de mais de 50 anos, na essência é o mesmo até hoje. Acredito que é

me-o idealizadme-or, fundadme-or e primeirme-o presidente dme-o centrme-o

de Estudos das sociedades de advogados utiliza a leitura

também como um escape, para sair da realidade do

dia a dia da profissão

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Foto / luiz Paulin

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Por Nelson Eizirik

liVRos paRa Não quEimaR

Há pelo menos três escritores israe-lenses que vale a pena ler, Amós Oz, o mais conhecido, David Grossman e A. B. Yehoshua. Não por coincidência são pacifistas militantes, integrantes do mo-vimento “Paz Agora”.

Vários romances de Amós Oz foram editados no Brasil, todos pela Compa-nhia das Letras: O Mesmo Mar; A Cai-xa Preta; Fima; Conhecer uma mulher; Pantera no Porão; Rimas da Vida e da Morte; De Amor e Trevas; Não Diga Noi-te. Este último, escrito em 1994 e aqui publicado em 1997, é o meu preferido. Narra, numa pequena cidade à beira do deserto, a crise de um casal, seus encon-tros e desenconencon-tros, momentos cômicos e amargos. O personagem masculino, Noa, que dirige um centro para recupe-ração de drogados, recolhe-se cada vez mais em si mesmo enquanto espera sua mulher, que não volta para casa: “E eu? Que vim com ela para cá, para esse fim de mundo, porque só queria estar com ela? Em vez do sossego do deserto, tenho a sensação do perigo se aproximando. Que não sei como impedir porque não tenho ideia de onde vem”.

De David Grossman, também excelente escritor, foram aqui publicados Alguém para Correr Comigo e o recém-lançado A Mulher Foge.

Devo dizer que, dos três, A. B. Yehoshua, talvez o menos conhecido en-tre nós, é o meu escritor predileto. Dele a Companhia das Letras publicou Shiva, Viagem ao Fim do Milênio, A Noiva Li-bertada e o imperdível A Mulher de Je-rusalém. Pela Imago foram publicados

Cinco Estações e O Sr. Mani – Romance em Conversas. Trata-se de um magnífi-co magnífi-contador de histórias, no último livro,

O Sr. Mani, de que mais gosto, isso fica muito bem demonstrado. Narra a história dos Mani através de várias gerações, são episódios independentes, todos ocorridos em Jerusalém, pode-se ler qualquer um deles (recomendo todos) na ordem que quiser, quase como um livro de contos. Cada episódio começa com a apresenta-ção dos interlocutores, segue-se a conver-sa, depois, algo que muito me agradou, leitor curioso que sou, um “suplemento biográfico”, em que se conta o que acon-teceu na vida dos personagens após o diálogo. A estrutura narrativa das

conver-sas é muito interessante, um personagem fala, a resposta do segundo personagem não é apresentada mas apenas perce-bida pela fala seguinte do primeiro. Os “diálogos”, alguns deles, seguem numa atmosfera de crescente exasperação, a demonstrar como é rarefeita – e engano-sa – a comunicação verbal. O livro lembra o universo bíblico do Velho Testamento, as muitas tentativas de comunicação do “Povo Eleito” com o Criador, que jamais responde (se não me falha a memória só Moisés obteve algum êxito, ao receber as Tábuas da Lei).

Ao terminar a leitura do livro, recordei uma anedota, com ela encerro mais ame-no o tom da crônica. Um jornalista, em Je-rusalém, observava um velho judeu orando todos os dias com grande fervor, sempre à mesma hora, junto ao Muro das Lamenta-ções. Um dia, não resistindo à curiosidade crescente, indagou ao velho qual o objetivo de suas preces, recebendo a seguinte res-posta: “Rezo a Deus para haver paz entre árabes e judeus”. “E então”, perguntou o jornalista, “qual a resposta que o Sr. obtém do Criador”? “Até hoje nada, é como se estivesse falando com um muro!”

Chico Buarque, cinema e música clássica

Estou lendo um livro muito bom, de um autor que eu nunca tinha ouvi-do palar, Pascal Mercier, Trem Notur-no para Lisboa. Estou louco para

ter-minar, está se revelando uma leitura muito boa, tem umas 500 páginas. É uma história interessante. Raimundo Gregorius, um propessor de Berna, na Suíça, compra um livro de um escritor português e fica tão pascinado pelo que o autor escreve que vai pra Portugal atrás dele. Por acaso, ele não era escri-tor, era um médico, que tinha escrito só esse livro. Raimundo aprende portu-guês para poder ler o livro, é muito in-teressante. Outro autor, este português, que li muito é o Miguel Sousa Tavares, que escreveu Equador,Rio das Flores e No Teu Deserto. De autores brasileiros

acabei de ler o último livro de Chico Buarque, Leite Derramado, gostei

bas-tante. Li recentemente um livro mui-to bom do John Updike e também de Joseph Roth. 

Gosto muito de cinema, mas não tenho prequentado tanto por palta de tempo. Na verdade, o tempo a gente paz, mas participo de associações de classe, como OAB, as reuniões são sempre à noite, então acabo sem tem-po de ir ao cinema. Gosto muito do Pedro Almodóvar – aprecio toda a sua filmografia, não tem nada ruim dele. Agora em novembro estreia novo filme dele, Abraços Partidos, esse não perco,

irei à sessão das 0h [risos]. De Woody

Allen também vejo tudo. Mesmo sendo pouco assíduo, gosto muito de cinema. 

O Carteiro e o Poeta poi um filme

que me marcou muito, tem uma his-tória belíssima, assim como Cinema Paradiso – que não canso de escutar

a trilha sonora. São filmes que pazem você ficar pensando e refletindo sobre

eles durante muito tempo. Não tenho o hábito de ver TV e todo mundo se põe em dia com DVD em casa, mas eu não. Para mim filme tem que ser no cinema, tela grande e escurinho, gosto de viver o momento, perde todo o glamour as-sistir em casa. 

Vou muito a concertos, gosto bas-tante de música. Tenho assinatura do Mozarteum e Cultura Artística, para me obrigar a ir. É uma puga muito boa. Sempre que tenho tempo vou, até por-que as apresentações costumam ser às 21h, então fica mais pácil. Se a Orques-tra Sinpônica de Nova York estiver com espetáculo na cidade, vou com certe-za. Frequento muito as apresentações da Osesp, outra pormação de altíssimo nível. É um programa que me relaxa muito. Vou sempre acompanhado, lá encontro amigos, é bem gostoso para relaxar durante a semana, esquecer um pouco a rotina do trabalho.

bibliotEca

F

oi com alívio que li nos jornais de 23 de setembro que o candidato egípcio à direção geral da Unesco, sr. Farouk Hosni (apoiado pelo governo brasileiro), havia sido derrotado pela embaixadora da Bulgária na França, sra. Irina Bokova. Não conheço a embaixadora, mas a eventual eleição para a agência da ONU para Edu-cação e Cultura de alguém que no passado pregara a queima dos livros escritos em hebraico estava a me causar arrepios.

Ora, não é admissível que nosso governo tenha dado apoio a quem defendera prá-ticas pirotécnicas contra indefesos livros. Há em Berlim, na Bebelplatz, um tocante e singelo monumento para lembrar que ali ocorreu, em maio de 1933, infamante epi-sódio organizado pela propaganda nazista: a queima de cerca de 25 mil livros escri-tos por autores tidos como “inimigos do Terceiro Reich”, entre eles Thomas Mann, Bertolt Brecht, Jack London. Uma placa transcreve as proféticas palavras do poeta Heinrich Heine, escritas em 1820: quando se começa a queimar livros acaba-se quei-mando pessoas.

O intelectual e grande escritor egípcio Naguib Mahfuz, admirável figura,

segura-mente teria sentido o mesmo alivio, se ain-da estivesse vivo (faleceu em 2006). Ele foi o primeiro e único escritor de língua árabe a receber o Nobel de Literatura, em 1988. Ademais, foi um importante pensador e ativista, que teve a coragem de chamar o aiatolá Khomeini de terrorista quando o lí-der iraniano “condenou” o escritor Salman Rushdie e seus editores à morte, acusados de inimigos do Islã. Junto com outros in-telectuais árabes declarou que nenhuma blasfêmia atinge tanto o Islã quanto o apelo ao assassinato de um escritor. Tornou-se proscrito, ameaçado de morte e apunha-lado, em 1994, já com 82 anos, por ex-tremistas islâmicos; sobreviveu, mas com danos permanentes em sua mão direita.

Dele recomendo a monumental obra

Trilogia do Cairo (publicada pela Best Bol-so, 2008), escrita entre 1956 e 1957, que constitui um instigante painel da socieda-de egípcia entre as duas gransocieda-des guerras, a partir da história da família de um pe-queno comerciante do Cairo. Se você não tiver tempo para mergulhar nessa longa saga, leia pelo menos O Ladrão e os Cães

(L&PM, 2008), notável – e curto – “thril-ler” narrando a história de Said, um ladrão

recém-libertado que tenta se vingar dos que o traíram: sua mulher e seu melhor amigo. O ritmo é rápido, a narrativa seca, sem concessões à pieguice e ao sentimen-talismo, não há qualquer possibilidade de vitória do marginal incômodo frente a uma engrenagem corrupta que só quer o seu desaparecimento.

E o que dizer sobre os livros que pode-riam ter sido queimados, romances escri-tos em hebraico? Numa entrevista concedi-da a Philip Roth (Entre Nós – um Escritor e Seus Colegas Falam de Trabalho, Compa-nhia das Letras, 2008), o escritor israelense Aharon Applefeld comenta as dificuldades de escrever em hebraico, segundo ele um idioma difícil, severo e ascético, cuja base antiga é um provérbio da Mishná: “O si-lêncio é uma cerca para a sabedoria” (re-sistirei à tentação de aplicá-lo a alguns de nossos políticos!). O hebraico, diz ele, ensi-na a pensar, a poupar palavras, a não usar adjetivos demais, a não intervir demais, a não interpretar; trata-se de um fluxo cauda-loso de 5 mil anos de criatividade judaica, cheio de subidas e descidas: a linguagem poética da Bíblia, a linguagem jurídica do Talmude e a linguagem mística da Cabala.

lhor começar pelos clássicos e depois procurar o comentário de novos auto-res. O propessor Antônio Claudio Mariz de Oliveira, pamoso advogado crimina-lista de São Paulo, pez uma releitura dos tratados de José Frederico Marques, é um ótimo exemplo de um autor bom que está atualizando os clássicos.

Para sair da vida real

Fora da literatura jurídica, li pratica-mente toda a obra de Jorge Amado e também gosto muito de Mario Vargas Llosa, e um de seus livros que é o meu pavorito é Os Cadernos de Dom Rigober-to. Como tenho uma vida profissional

muito densa, muito pesada, gosto de li-vros mais romanceados, como uma por-ma de sair um pouco da vida real. Apre-cio a literatura dos portugueses apricanos José Eduardo Agualusa e Mia Couto. Sempre gostei de ler, embora o tempo

seja curto, cultivo esse hábito. Costumo dispor de mais tempo em viagens a servi-ço, o tempo de espera no aeroporto e a bordo do avião é sempre uma boa opor-tunidade para ler. São, digamos, minhas grandes escapadinhas. Não só no trajeto, mas quando estou no hotel, pois tenho menos pessoas me procurando. Mas em casa, quando posso, leio. Entretanto, não é todo dia que dá tempo.

Um autor que me marcou poi Ga-briel García Márquez com Cem Anos de Solidão. Devia ter uns 30 anos

quan-do li. Teve outra leitura, de quanquan-do era mais jovem, lá pelos 20 anos, The Summing Up, do britânico W.

Somer-set Maugham. É um livro sobre a vida e marcou porque palava sobre estilo de vida, relações humanas. Naquela idade eu estava me preparando para tudo isso. 

Também gosto muito da literatura americana. Os livros de aventura, ro-manceados, são os que mais me

agra-dam. Não gosto de histórias policiais ou de suspense, não sou muito ligado a esses gêneros, mas até já li Agatha Christie [risos], embora não esteja

en-tre meus pavoritos: hoje em dia tem que ser seletivo. Cinema e livro, para quem não tem tempo, é preciso escolher bem. Pode até errar, mas tentar não se enga-nar. E raramente erro. 

Sempre surgem novidades no mer-cado, é complicado acompanhar tudo, não tem como. Mas para selecionar a leitura acompanho os cadernos de cul-tura dos jornais O Estado de S. Paulo e Valor Econômico, que sempre trazem

Referências

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