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GETULIOjaneiro 2009
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Entre os autores pátrios, o destaque vai para Machado de Assis e Euclides da Cunha: este, autor do clássico nacional, Os Sertões. Entre a literatura técnica de arbitragem,
sobressaem as obras de Selma Lemes. Já no cinema, a bela lição sobre arte como valor e não como fruição em Um Bom Ano, do diretor Ridley Scott.
mente as obras francesas, de Phillipe Fouchard e Jean Robert, autores que já tratavam da arbitragem nos anos 1960 e 1970, quando começaram a se desenvol-ver as arbitragens internacionais. Porque essas arbitragens da área internacional, antes dessa época, existiam, mas não eram freqüentes. Do Jean Robert cito o livro Arbitrage International, um título publicado ainda na década de 1940, e ainda hoje um clássico. Tem ainda o li-vro de Berthold Goldman, que também é uma obra de arbitragem muito boa, o
Traité del’Arbitrage Commercial Interna-tional. De maneira geral foram os fran-ceses, que eram mais próximos à nossa cultura, que mais inluenciaram no nas-cedouro da arbitragem brasileira.
Agora, em relação à mediação, há ainda uma grande confusão que se faz, há pouca prática de mediação, ainda há muito que consolidar. Ela é conhecida no Direito Internacional Público, pela mediação entre Estados, mas há certa identiicação entre mediação e conci-liação, que são coisas diferentes. Eu já tive em mãos escritos que diziam que, na mediação, o mediador aproxima as partes para negociar. Não é isso. A me-diação é uma coisa mais complicada, o mediador apresenta projetos, planos, sugestões, para as partes negociarem. Já o conciliador procura fazer com que as partes conciliem, sentem juntas e come-cem a conversar. Você vê isso na Justiça do Trabalho, em que o juiz diz: “Você quer fazer um acordo? Ele está pedindo 10 mil” e o empregador fala: “Não, eu concordo em pagar 5 mil”. O juiz ajuda a chegar ao meio termo entre o que pede o trabalhador e que o empregador está dis-posto a pagar, poderia ser, no exemplo, 7
mil. A mediação é mais complicada. O mediador tem que conhecer e entender o problema, ter o pedido das duas partes e aí tentar encontrar uma solução que as duas partes aceitem. Há um envolvi-mento do mediador, mas ele não decide, como na arbitragem. Como disse, isso é pouco conhecido no Brasil. Já li textos so-bre mediação airmarem que o mediador faz as partes icarem negociáveis. Isso não é função do mediador, mas do concilia-dor. Até por ser um pouco desconhecida, não existe formação suiciente nessa área. Existe a cadeira de negociação, o próprio GVlaw tem isso, mas é curso especíico. Na verdade, tanto na arbitragem quan-to na mediação, não há um curso que forme o especialista. É algo a ser intro-duzido nas matrizes curriculares. Mas o importante é conhecer Direito. Direito Civil, Direito Comercial, Direito Socie-tário. O resto é processo, mecanismo. In-clusive, a Câmara FGV de Conciliação e Arbitragem é uma das melhores na área e um ótimo exemplo, e conta com prois-sionais conceituados como Ary Oswaldo Mattos Filho, José Emílio Nunes Pinto, Marcelo Mansur Haddad. Eles realizam um trabalho belíssimo nesse sentido.
Clássicos da literatura, música e cinema
O nome mais signiicativo na litera-tura brasileira, para mim, é Machado de Assis. O grande brasileiro do passa-do. Aprecio Graciliano Ramos e Jorge Amado – outro grande escritor –, mas
minha obra predileta é Os Sertões, de
Euclides da Cunha. É o grande clássico de nossa literatura. Em Portugal, Eça de Queiroz, um autor que marcou minha geração, a poesia de Fernando Pessoa.
Considero José Saramago o maior es-critor português de hoje. De suas obras,
minhas favoritas são História do Cerco
de Lisboa e A Levantada do Chão. Saiu este último e gostaria de ler.
Música, aprecio bastante, sobretudo Mozart, Beethoven, Bach, meus com-positores prediletos. De cinema tam-bém gosto muito. Outro dia vi um ilme
muito bom, chamado Um Bom Ano, do
diretor Ridley Scott, que mostra a vida na Provence, na França. Fica nítido o contraste entre a vida na cidade e a vida no interior, principalmente do ponto de vista dos investidores da Bolsa, esses ga-rotos que só querem ganhar dinheiro. O personagem principal, interpretado por Russell Crowe, recebe um vinhedo como herança de seu tio e passa a ter que lidar com essa nova realidade, a de uma vida calma, simples, em que o dinheiro não conta. Mostra bem esse contraste. Tem até uma cena muito interessante, em que o protagonista, dono de um escritó-rio em Londres, mostra para um sujeito um quadro e ele diz “Que quadro bonito você tem”. E o executivo responde que aquela era apenas uma cópia, o original estava no cofre. A resposta é fantástica, o sujeito pergunta “Então, à noite, antes de dormir, você abre o cofre, tira a obra original, olha, depois guarda no cofre e fecha?” Era mais um bem de valor do que uma obra de arte. Ele deixava a có-pia no escritório para não ser roubado e a original icava em um cofre, fechado. Deixa clara a mentalidade de que aquilo era apenas um investimento, não a frui-ção de uma criafrui-ção artística.
[Depoimento recolhido por Gabriella de Lucca]
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ou formado pela Faculdadede Direito da Universidade de São Paulo (USP) e minha in-clinação pela área de Direito Internacional Público e Direi-to Internacional começou na década de 1960, quando fui assistente do professor Vicente Marotta Rangel. Foi assim que eu comecei a minha carreira na área internacional e depois vim a me tornar professor de Direito Internacional tam-bém na Escola do Largo de São Francis-co. Estive na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e iz mestrado na Law School, em Direito Internacional, em 1973. Foi uma excelente oportunidade de contato com mestres notáveis, como com o grande professor da área do direi-to internacional Myres Smith McDougal
Myres Mcdougal, um docente america-no brilhante, autor de uma obra mar-cante nos Estados Unidos, sobre a nova ordem, direito do mar e outros temas do direito internacional. Ele lecionou em Yale por mais de cinqüenta anos e escreveu seis importantes tratados. Mor-reu há dez anos. Talvez ele tenha sido a maior inluência que recebi na área internacional. Além dele outro grande professor foi o Michael Reesman, de Harvard. Pessoas marcantes que inluen-ciaram bastante a minha vida acadêmica e também a minha formação.
Na área de arbitragem brasileira, o professor Celso Albuquerque Mello é uma grande referência e tem uma vas-ta obra sobre isso, em especial o livro
Direito Constitucional Internacional. A obra de Hidelbrando Accioly também me marcou muito, em especial o seu livro clássico Direito Internacional. Mais recentemente foi publicado um livro de Patrick Daillier, Direito Inter-nacional Público, um trabalho bastante extenso, talvez o melhor trabalho atual desse assunto. Tem uns artigos que eu gosto especialmente, de cursos que são ministrados na Academia de Haya, da Hague Academy of International Law, eles estão na coletânea Recueil Des Cours. São aulas dadas na academia de direito internacional e todo ano são con-vidados professores para escrever esses artigos, sobre diversos temas do Direito Internacional. Esse repositório já tem mais de 100 volumes e é muito interes-sante. Recomendo para todos que estão interessados no Direito Internacional: contém artigos sobre Direito Interna-cional, Público, Privado, Comércio In-ternacional, Meio Ambiente. Essa cole-tânea vem sendo publicada desde 1922. Para mim é a maior obra de expressão internacional nessa área do direito.
Mas também tenho muito prazer na leitura de obras clássicas do direito e
en-tre meus autores preferidos está Pontes de Miranda. Eu o considero, sem dú-vida, como o grande jurista brasileiro, uma referência de todos os tempos. Ou-tro nome digno de elogios é o de José Frederico Marques. Atualmente, com a reforma do código, está ultrapassado, mas foi também um importante jurista
da área penal. Seu Tratado de Direito
Penal, em quatro volumes, publicado pela primeira vez ainda na década de 50, foi um ponto alto do ensino do di-reito. Dos autores mais recentes, apre-cio Luis Gastão de Barros Leans, da área de Direito Comercial. Na área de arbitragem há um número expressivo de pessoas pesquisando, escrevendo e publicando nos dias de hoje, e que são muito bons. Na Faculdade de Direito da FGV tem a professora Selma Lemes, na Universidade de São Paulo (autora do
Árbitro. Princípios da Independência e da Imparcialidade), o professor Carlos Alberto Carmona, o José Emílio Nunes Pinto. São pessoas que se destacam na arbitragem e têm bastante expressão. Só estou lembrando desses, que são os mais próximos, mas existem muitos outros re-alizando um ótimo trabalho.
Mediação e arbitragem
No campo daarbitragem, os livros
que me inluenciaram foram
inicial-Especialista em arbitragem, o professor José Carlos
de Magalhães indica as obras mais significativas dessa
área, além de falar sobre seu gosto pela literatura brasileira
e a velha paixão pelo Direito Internacional
OS TÍTULOS
QUE FIZERAM
MINHA CABEÇA
Foto/Rafael de Queiroz