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Os títulos que fizeram a minha cabeça

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Academic year: 2017

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GETULIO

março 2009

B I B L I O T E C A

março 2009

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Os documentários de João Moreira Salles, como Nelson Freire, e a Má Educação, de Almodóvar, estão entre as referências audiovisuais deste refinado intelectual, que valoriza Primo Levi, Caio Prado Jr., Hobsbawn e Palter Thompson, numa galeria que vai de Foucault a Fernando Henrique Cardoso.

Vargas, uma radiograia do Estado Novo em que ele introduz essa noção. O Bra-sil é um estado fascista? Ele dizia que não, que é autoritário, durante esse pe-ríodo. O Fernando Henrique, de certa forma, recupera essa visão em sua obra. Quando voltei ao Brasil, fundei, com o meu colega Michael Hall, o Arquivo de História Social Edgar Leuenroth, na Unicamp. Hoje um centro de primeiro mundo, vai completar 35 anos, funda-do em volta funda-do arquivo desse anarco-sindicalista. Na época, basicamente a leitura mais inluente foi de Edward Palmer Thompson, A Formação da Classe Operária na Inglaterra, e toda a obra do Eric Hobsbawm, que está agora traduzida para o português. Eu o convidei a vir aqui em 1995, quando nos visitou pela primeira vez, e organi-zamos uma conferência internacional sobre história e ciências sociais.

Daí por diante houve uma nova fase, em que comecei a lidar com uma bibliograia de direitos humanos. Na última fase quem mais me inspirou foi Norberto Bobbio, ilósofo italiano que tem uma ininidade de livros sobre democracia e direitos humanos. Outro colega meu a quem eu devo muito é Michel Debrum, autor de um livro so-bre a ideologia brasileira, mas tem tam-bém uma coleção – que ajudei a editar, até – Estratégia da Conciliação. Foi meu colega na Unicamp. É evidente que há vários autores brasileiros, como Francisco Weffort, que têm toda a rein-terpretação do movimento das classes

trabalhadoras. Pode-se destacar O Po-pulismo na Política Brasileira e Por Que

Democracia. O Raymundo Faoro e seu

clássico Os Donos do Poder, foram es-senciais para muita coisa que iz depois, além de toda a obra de Caio Prado Jr.

A paixão por literatura americana e Almodóvar

Há dois autores de que li toda a obra. Gore Vidal, com uma série de roman-ces históricos, e também o Edmund Wilson, crítico literário importante, desde os anos 1920, nos Estados Unidos. Outro dos grandes é Primo Levi, um so-brevivente de Auschwitz, que tem uma autobiograia belíssima. Atualmente estou lendo o livro de necrológios do The Economist, que é extremamente fascinante, e também The Hemings of Monticello. Conta a história da família escrava de Thomas Jefferson, é extre-mamente interessante. Os obituários, apesar de serem meio mórbidos, são bastante inspirativos, é o que estou gos-tando mais de ler. Também estou lendo uma biograia da Cleópatra.

Não li toda a obra de Guimarães Rosa, mas gosto. Entre os 7 e os 15 anos li a obra infantil de Monteiro Lobato. Mais tarde, alguns livros dele, como Correspondência e O Presidente Negro, que é extremamente racista e acabei de reler agora. De João Ubaldo Ribeiro, o livro Viva o Povo Brasileiro também passa por releitura. Quando li pela pri-meira vez gostei demais.

Vou bastante ao cinema, mas me

esqueço dos títulos dos ilmes [risos]. O último que posso me lembrar de que gostei é aquela comédia de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona. Achei formidável. O melhor ilme que vi ano passado foi A Vida dos Outros, que é so-bre intelectuais e artistas na Alemanha Oriental, extraordinário. Foi escrito e dirigido pelo alemão Florian Henckel von Donnersmarck.

Em documentários, eu acho que João Moreira Salles é um gênio e gosto de toda sua produção. Notícias de uma Guerra Particular é absurdamente ge-nial. O ilme sobre o mordomo do pai dele, Santiago, também. Maravilhoso é seu outro longa, sobre Nelson Freire. Outro de que eu gostei bastante é o do-cumentário sobre o Vinicius de Moraes, de Miguel Faria Jr. Emocionante. Tem um depoimento do Chico Buarque, meu ex-colega de colégio, muito bonito.

Gosto muito e acho que vi todos os ilmes do Pedro Almodóvar. Meu pre-ferido é Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos. Outro de que gosto demais e se parece muito com meu antigo colé-gio Santo Inácio, no Rio de Janeiro, é Má Educação. Ele faz parte da minha cinemateca com referências à escola, que inclui ainda o Amarcord, do Fellini. Este retrata uma escola muito parecida com a dos jesuítas, onde estudei. Mas Má Educação é fantástico pois mostra uma educação moral que não tem prin-cípios. É impressionante.

[Depoimento a Gabriella de Lucca]

B I B L I O T E C A

E

u me formei em direito na PUC-RJ, em 1967. Certamen-te, dessa época posso falar de disciplinas que me impressio-naram, mas sempre essa relei-tura do passado é realizada à luz do que aconteceu depois. Havia um professor bastante luente, Celestino Basílio, que lecionava Teoria Política. Foi com ele que ouvi falar pela primeira vez de sociologia e teoria do Estado. Essa introdução ao pensamento político aconteceu com um livro muito bom, de Jean-Jacques Chevallier, História do Pensamento Político. Nessa época, também comecei a ler os clássicos, de Maquiavel e Rousseau a Locke. Mas o que faço hoje tem mais a ver com mi-nha pós-graduação. Depois de me gra-duar fui para Paris, com uma bolsa do governo francês.

Nos últimos anos da faculdade de direito, iz um curso de introdução à ciência política, na Faculdade Cândido Mendes, no velho convento do Carmo, Praça XV, no centro do Rio. Vários au-tores eram conferencistas e descobri a ci-ência política norte-americana, que até então não conhecia. Alguns autores de que posso me lembrar são Alex Inkeles, que depois vim a ler mais em termos de medição da democracia; Dankwart Rus-tow e Jean-Marie Domenach – que diri-gia a revista Esprit, na França. Creio que eles me orientaram para fazer sociologia

e depois o doutorado em ciência política. Também foi útil ter ido, em 1964, a um programa da Associação Universi-tária Intra-Americana. Passava-se uma semana numa família, uma semana em Washington e 15 dias em um curso de verão em Harvard. Era ministrado por um sociólogo famoso, David Ries-man, e depois por um assessor do John Kennedy, Ted Sorensen – o Kennedy já estava morto, era o governo Lyndon Johnson. Esses 15 dias no curso de verão em Harvard me introduziram mais nas ciências sociais. Minha maior inluên-cia foi do padre Fernando Bastos de Ávi-la, um sociólogo jesuíta, e através dele passei a ler e tomar conhecimento das encíclicas do papa João XXIII, especial-mente a Mater et Magistra, e outra do Paulo VI, Populorum Progressio. Eram textos lidando com a reforma e a justiça social. Olhando para trás acho que esse período foi importante para mim. Com Bastos de Ávila ouvi falar de pobreza, violência, injustiça e direitos humanos.

Foucalt, Fernando Henrique e Bobbio

Fui a Paris recomendado pelo pro-fessor Alceu Amoroso Lima, importan-te pensador católico, com uma obra vastíssima ilosóica, mas também de incidência política. Era um colabora-dor freqüente do Jornal do Brasil e foi o primeiro a falar do terrorismo de Es-tado, durante o regime militar. Ele e o

professor Celestino Basílio me deram a carta de recomendação para eu obter bolsa na França. Ali iz uma licença em Sociologia, no Institut d’Etudes Politi-ques. Meu orientador foi o padre Jean Yves Calvez, autor de um livro muito inluente sobre o pensamento de Karl Marx. Durante quatro anos ele foi o abonador da minha tese.

Em 1968 cursei a Universidade de Vincennes, fundada depois dos protestos estudantis de maio daquele ano. Um li-vro que certamente me marcou foi o do grego Nicos Poulantzas, Poder Político e Classes Sociais. Outro de seus grandes livros, Fascismoe Ditadura, era o curso que ele estava dando e que freqüentei, sobre a Terceira Internacional Comu-nista, o fascismo e suas interpretações. Li também muitos escritos do Michel Foucault. Fiz a licença em sociologia, o mestrado em sociologia e o doutora-do em ciência política, tudoutora-do em Paris, entre 1967 e 1971. Uma parte foi simul-tânea, porque freqüentava o instituto e ao mesmo tempo fazia a licenciatura. A tese de doutoramento foi sobre o Brasil nos anos 1920. Nessa época li também a obra de Fernando Henrique Cardoso, extremamente reveladora para o Brasil a que voltei depois. FHC trabalhava com a categoria de autoritarismo, que não era então muito comum. Nessa área há outro livro, de um constitucionalista famoso, Karl Loewenstein, Brazil Under

O sociólogo fundador do Núcleo de Estudos da Violência

da USP fala sobre os autores que influenciaram sua

carreira na ciência política e revela gosto pela obra do

cineasta Pedro Almodóvar

OS TÍTULOS

QUE FIZERAM

MINHA CABEÇA

Foto/Rafael de Queiroz

Por Paulo Sérgio Pinheiro

FOTOS/RAF

Referências

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