Fundação Getúlio Vargas
Ensaios em Economia da Regulação
Tese submetida à Escola de
Pós-Graduação em Economia da
Fundação Getulio Vargas
como requisito de obtenção do título de
Doutor em Economia
por
Genaro Dueire Lins
Professores Orientadores:
Aloisio Pessoa de Araújo
Luis H. B. Braido
Ensaios em Economia da Regulação
Tese submetida à Escola de Pós-Graduação em Economia da
Fundação Getulio Vargas
como requisito de obtenção do título de Doutor em Economia
por
Genaro Dueire Lins
Banca Examinadora:
Aloisio Pessoa de Araújo (EPGE/FGV)
Jack Schechtman (IMPA)
Aos meus orientadores Aloisio Pessoa de Araújo pela generosidade intelectual
que norteou sua orientação e Luiz Henrique Braido pelo tema, estímulo e
compan-heirismo que foram fundamentais para realização desse trabalho.
Aos professores da EPGE. Em especial ao professor Renato Fragelli Cardoso,
pelo apoio em todas as fases do doutorado.
À Joisa Campanher Dutra agradeço, além da indíspensável ajuda técnica, a
paciência, o apoio e os conselhos sempre apropriados.
Ao Luciano Irineu de Castro, agradeço as horas dispensadas em debates, desde
minha passagem pelo IMPA.
Aos Professores Fernando Campello de Sousa e Francisco de Sousa Ramos
agradeço o investimento na minha formação durante o mestrado.
Ao meu irmão Rafael Dueire Lins e aos colegas Fernando Camacho, Bruno
Fun-chal e Alexey Wanick pelos comentários e sugestões para o aperfeiçoamento desse
trabalho.
Aos amigos do curso de doutorado pelo apoio e pelas horas de diversão e estudo.
Nominalmente, agradeço à Ana Carla Abrão, Ângelo Duarte, Filipe Diniz, Guilherme
Hamdan, Lucas Ferraz, Paulo Cesar Coimbra, Rebecca Barros e Ricardo de Castro
pelas aulas de probabilidade, na prática.
À Lucia Ceylão, Gladys Riviere e Eduarda Berredo pela amizade durante o
período de tese.
Aos meus irmãos Rafael Dueire Lins, Zanoni Dueire Lins e Rilane Dueire Lins,
reconheço e agradeço o amor, também expressado em forma de apoio, em todos os
momentos. Esse foi fundamental em toda minha vida, inclusive para a conclusão dessa
etapa.
Ao meu pai, Zanoni Lira Lins (in memorium), pelo exemplo de dedicação a família e pela crença indiscutível do valor da educação.
À minha mãe, Gilka Dueire Lins, não tenho palavras para expressar a gratidão
que sinto. Agradeço o papel fundamental em cada momento desse doutorado, e até
mesmo antes desse, apoiando minha decisão de sair do doutorado no IMPA.
Por m, mas não menos importante, à minha esposa, Isabela Cahú, pelo amor
que me dedicou durante todo o meu período de doutorado, sem o qual não teria
Introdução
. . .1
1 A Morbidity-Based Test for Asymmetric Information in
Health Insurance
. . .5
1.1 Introduction . . . 5
1.2 Related Literature . . . 8
1.3 Data . . . 11
1.4 Empirical Analysis . . . 15
1.4.1 Speci cation Problems. . . 16
1.4.2 Empirical Results . . . 17
1.4.3 Ordered Analysis . . . 18
1.5 Conclusion . . . 19
1.6 References . . . 21
2 Risco Moral na Utilização de Serviços Médicos: Análise
através de um Choque Contratual Exógeno
. . .24
2.1 Introdução . . . 24
2.2 Risco Moral em Serviços Médicos . . . 28
2.5 Análise Empírica . . . 36
2.5.1 Robustez dos Resultados . . . 38
2.6 Conclusões . . . 39
2.7 Referências Bibliográ cas . . . 40
3 Leilões de Energia no Brasil
. . . .42
3.1 Introdução . . . 42
3.2 Questões Relevantes . . . 46
3.2.1 Problema deHold up . . . 47
3.2.2 Desenho do Leilão . . . 50
3.3 Experimentos . . . 50
3.3.1 Demanda. . . 51
3.3.2 A Sistemática do Leilão . . . 52
3.3.3 Projeto Experimental . . . 53
3.3.4 Critério de Remuneração dos Participantes . . . 56
3.3.5 Principais Observações das Simulações . . . 57
3.4 Os Leilões . . . 59
3.4.1 Primeiro Leilão . . . 60
3.4.2 Segundo Leilão . . . 61
3.5 Conclusão . . . 62
3.6 Apêndice . . . 63
3.6.3 Análise dos Incentivos das Distribuidoras . . . 67
3.6.4 A Sistemática do Leilão . . . 72
3.7 Referências Bibliográ cas . . . 77
Introdução
A idéia da necessidade de uma intervenção do Estado para a melhoria do
bem-estar social é extremamente antiga. Platão em seu trabalho "A República" defendia,
como meio de se maximizar o bem-estar social, uma sociedade onde as decisões
so-bre as alocações de recursos fossem centralizadas em torno de uma elite intelectual.
No século XVII, Adam Smith sugeriu que uma alocação de recursos descentralizada,
obtida como resultado de maximizações das satisfações individuais, seria a forma mais
e ciente de organização social. Um longo percurso intelectual foi percorrido desde
Adam Smith até que no século XX, através dos trabalhos de Kenneth J. Arrow e
Ger-ard Debreu, fosse encontrada formalmente as hipóteses necessárias para validade de
sua tese. A partir da demostração da existência de equilíbrio competitivo e do primeiro
teorema do bem-estar econômico, conclui-se a necessidade das seguintes hipóteses
para ser possível a rmar que uma determinada economia possui um equilíbrio
com-petitivo e ciente: tecnologias de produção e preferências dos consumidores convexas,
ausência de assimetria informacional, ausência de poder de mercado, mercados
com-pletos. Atualmente, têm-se a noção de que essas hipóteses, em diversos contextos, não
são verossímeis. Surge, então, a necessidade de mensurar o grau de validade desses
pressupostos e do desenvolvimento de mecanismos especí cos de regulação.
A presente tese dedica-se a análise de falhas de mercado em dois setores brasileiros:
Companhias de seguro de saúde defrontam-se com enormes di culdades
(téc-nicas e legais) para avaliar o estado de saúde do indivíduo segurado. Isto gera um
problema conhecido na literatura como seleção adversa— indivíduos já doentes ou com alto risco passam-se por indivíduos pouco arriscados, elevando o custo do
se-guro saúde e fazendo com que uma parcela considerável da população opte por não
se segurar. Além disto, teoricamente, um indivíduo segurado tenderia a sobre utilizar
serviços médicos por se defrontar com preços abaixo do verdadeiro custo de provisão
(problema conhecido na literatura comorisco moral).
O estudo aqui realizado visa avaliar pontos referentes a e ciência alocativa do
setor de saúde suplementar, investigando a presença de assimetria informacional na
relação segurado-seguradora. Existem poucos estudos empíricos no Brasil visando
identi car esses problemas mencionados.
O primeiro artigo dessa tese, elaborado em co-autoria com o Professor Luís
Hen-rique Braido, testa empiricamente a presença de assimetria de informação no
mer-cado de seguro saúde brasileiro, utilizando para tanto dados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios conduzida em 1998. Os resultados mostram que para um
grande número de doenças, a probabilidade de um indivíduo estar doente é
positiva-mente correlacionada com seu nível de cobertura (indivíduos segurados tendem a ser
sug-ere que os problemas de informação não seriam apenas uma curiosidade teórica, mas
sim uma característica real de nosso sistema de saúde.
O segundo artigo desse trabalho analisa uma base de dados de uma seguradora
contendo uma mudança contratual exógena. Nesse contexto, identi ca-se (não se
rejeita) a presença de perigo moral através da análise da variação nos gastos com
serviços médicos devido a um aumento substancial na taxa de co-participação,
resul-tante da mudança obrigatória de categoria no momento da aposentadoria de um grupo
de agentes.
A investigação do ambiente regulatório do setor elétrico brasileiro foi motivada
pela solicitação por parte do Mistério da Fazenda de uma análise do mecanismo
uti-lizado no leilão de energia existente empregado para comercialização no Ambiente de
Comercialização Regulada. Os integrantes do grupo formado para tal estudo foram:
Aloísio Pessoa de Araújo, Ph.D; Luciano Irineu de Castro, Doutor; Joisa Campanher
Dutra, Doutora e Genaro Dueire Lins - o candidato ao título de doutorado. Esse estudo
foi a base do terceiro artigo apresentado.
O mercado de energia brasileiro, devido ao seu per l fortemente hidrelétrico,
têm-se custos xos muito altos e custos marginais muito baixos. Um equilíbrio
com-petitivo levaria o preço ao custo marginal, inviabilizando o equilíbrio
uma forte tendência a concentração de mercado, podendo levar a uma expropriação do
excedente econômico pelas rmas geradoras através de uma alocação ine ciente.
A organização deste mercado tem como objetivo central promover a e ciência do
seu funcionamento. Neste sentido dois pontos são fundamentais para uma regulação
e ciente do mercado de geração: (i) a garantia do equilíbrio econômico- nanceiro das empresas, no caso de uma gestão responsável, de forma a estimular investimentos
futuros (evitando o problema dehold up); (ii) a mitigação do poder de mercado para evitar que a as empresas se apropriem do excedente econômico (evitando conluios).
Com base na literatura de regulação de mercados de energia, o terceiro artigo
apresenta uma análise do mecanismo de leilão desenhado para a comercialização de
energia existente. A inexistência de dados que permitissem analisar o mecanismo, bem
como sua complexidade, tornaram indicada a realização de experimentos como forma
de investigar a e ciência do leilão, dentre outros aspectos. Nesse sentido, detalha-se a
sistemática do leilão, a qual é experimentalmente implementada. Como resultado da
investigação experimental, o artigo apresenta ainda um conjunto de recomendações.
Adicionalmente, estão contidos os resultados dos leilões realizados em dezembro de
2004 e em abril de 2005. Por m, apresentam-se observações conclusivas, além de
Chapter 1
A Morbidity-Based Test for Asymmetric
Information in Health Insurance
Abstract
We test for asymmetric information in health insurance by means of a special survey conducted in 1998 in
Brazil. The distinct features of the database are twofold. First, it displays information on individual morbidity—
an issue still unexplored in the empirical literature on insurance. Second, unlike other countries studied in the
literature, the coverage level offered by the Brazilian free public health service is much lower than its private
counterpart—making informational problems more likely. We nd evidence of information asymmetries
associ-ated with some diseases (e.g., hypertension and heart disease) but not with others (e.g., cancer and chronic renal
disease).
1.1 Introduction
Contract theory has become a leading eld in economics, but yet little is known about
which markets these models account for. Recently, the predictions of contract theory
have been confronted with data from different insurance markets. In this paper, we
of a unique survey conducted in 1998 by the Brazilian Institute of Geography and
Statistics (Instituto Brasileiro de Geogra a e Estatística—IBGE).
In 1998, the IBGE included a supplementary health schedule in the
Brazil-ian National Household Survey (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios— PNAD). The PNAD is an annual survey containing general information about
indi-viduals and their living conditions. It is designed to represent the entire Brazilian
population (about 160 million people). The 1998 health supplement provides
addi-tional information about the morbidity of individuals and health insurance coverage.
Two distinguishing features of this work are worth of note. First, the 1998
PNAD displays morbidity information and allows one to measure the risk of an
in-dividual having different types of health problems—namely, arthritis or rheumatism,
bronchitis or asthma, cancer, chronic renal disease, cirrhosis, depression, diabetes,
heart disease, hypertension, lumbar pain, tendonitis, and tuberculosis. The existing
literature on insurance focuses on data about healthcare utilization and indicates that
individuals with extra coverage tend to overuse health services. Here, we test the
conditional independence of individuals' coverage decisions and their risk of
suf-fering from cancer, heart disease, and other types of health problems. This type of
exercise is novel and addresses a controversial issue with important health policy
implications.
The second feature concerns the fact that the free public health service in Brazil
infor-mational problems more likely here than in the countries usually studied in the
litera-ture (such as Australia, USA, France, Switzerland, Argentina, and Chile), where the
public and the private plans are more similar in terms of coverage.
The Test
Traditional models of asymmetric information predict that the conditional
like-lihood of an accident increases with the amount of coverage held by the agent. In
adverse selection models, the agents differ as to their risk of suffering an accident. In
equilibrium, riskier types select contracts with higher premiums and higher coverage
levels, while safer agents prefer contracts with lower premiums and lower coverage
levels (see Rothschild and Stiglitz, 1976). The standard moral hazard theory explores
a different mechanism that delivers the same prediction. In these models, agents
choose contracts and privately observed preventive actions that affect the
probabil-ity of an accident. In equilibrium, agents with more coverage choose lower levels of
preventive actions and suffer accidents more frequently (see Holmstrom, 1979; and
Grossman and Hart, 1983). In order to test the presence of either of these problems,
one must estimate the likelihood of an accident conditional on the insurance coverage
and other observable characteristics.
We perform empirical tests using the entire population as well as a subsample
of individuals living in urban metropolitan areas. We identify presence of asymmetric
information when we pool all diseases together—i.e., there is a positive conditional
dis-eases observed. When analyzing each disease separately, we nd that the probability
of being ill is not statistically affected by the coverage level for diseases like
can-cer, chronic renal disease, and tuberculosis. On the other hand, we nd a positive
risk-coverage relationship for bronchitis, diabetes, heart disease, hypertension,
lum-bar pain, and tendonitis. The results are not conclusive for arthritis or rheumatism,
cirrhosis, and depression.
The remainder of this paper is organized as follows. Section 2 comments on
some related papers; Section 3 describes the data set; Section 4 performs the
econo-metric test; and Section 5 concludes.
1.2 Related Literature
Pauly's (1986) review of the literature points out for a lack of empirical evidence on
the importance of asymmetric information in health insurance. Since then, a large
number of papers have addressed this issue. We discuss a few of them here. This
discussion is not intended to survey the extensive existing literature, but rather present
an overview on the topic.1
Cameron, Trivedi, Milne, and Piggott (1988) test the existence of asymmetric
information using the 1977-78 Australian Health Survey. Four dummy variables are
used to indicate different levels of insurance coverage. Health care utilization is
mea-sured by different variables, such as the number of: visits to a doctor; admissions to
1
a hospital; nights spent in a hospital; consultations to non-doctor health
profession-als; and prescribed and nonprescribed medications used in the previous two years.
Using a negative binomial model, they nd a positive relation between coverage and
demand for health care.2
Dowd, Feldman, Cassou, and Finch (1991) investigate channels through which
health plan membership affect service utilization. They use a discrete-choice
equa-tion to model the agents' decisions among the different health plans and a censored
linear equation to model health service utilization. Household characteristics are
used as control variables in both equations. Deductibles and coinsurance rates are
included as explanatory variables in the service utilization equation. Using a survey
of 10,798 employees, drawn from rms located in the Twin Cities (Minneapolis and
St. Paul, Minnesota, USA), in 1984, they do not reject the null hypothesis of zero
correlation between the error terms of these two equations. Furthermore, utilization
of physician services does not vary across samples with different levels of coverage.
But the number of days spent in a hospital is signi cantly higher for families with
plans that pay providers based on a fee-for-services, as opposed to plans that pay a
at capitation per patient.
Browne (1992) and Browne and Doerpinghaus (1993) use the 1977-78 National
Medical Care Expenditure Survey (USA) and nd that low-risk agents purchase less
2
insurance in the individual market for health insurance than they do in the group
market (which is an environment relatively free of asymmetric information).
More-over, low-risk agents tend to subsidize high-risk consumers, which support pooling
equilibrium models.
Chiappori, Durand, and Geoffard (1998) use longitudinal data from France to
test for moral hazard in the demand for physician services. They explore an
exoge-nous increase in copayment rates for a group of individuals (treatment group) that
was not immediately applied to another part of the population (control group). The
number of medical home visits is smaller for the individuals who faced the increase
in their copayment rates. The effect is not statistically signi cant for of ce visits—a
service in which individuals have substantial non-monetary cost.3
Holly, Gardiol, Domenighetti, and Bisig (1998) apply a simultaneous biprobit
model to the 1992-1993 Swiss Health Survey. The rst equation describes the agents'
demands for supplemental insurance and the second equation models the propensity
to have at least one hospital stay as the patient has used some medical treatment
(controlling for the type of insurance plan). Agents with a supplemental insurance
plan are more likely to have at least one inpatient stay, conditional on some medical
treatment being used.4
3
Helms, Newhouse, and Phelps (1978) and Manning, Newhouse, Duan, Keeler, Leibowitz, and Marquis (1987) also nd evidence of moral hazard by means of experimental data.
4
Cardon and Hendel (2001) study the presence of asymmetric information in the
health insurance market using data from the 1987 National Medical Expenditure
Sur-vey (USA). They test the conditional correlation of insurance coverage and demand
for health services and nd no evidence of information asymmetries.
Finally, there are two recent studies conducted in developing economies.
Bertra-nou (1998) and Sapelli and Vial (2003) use data from Argentina and Chile,
respec-tively, and nd a positive relation between health-insurance coverage and health-care
utilization in these countries.
It is worth stressing that all papers in the literature focus on testing the
relation-ship between insurance coverage and healthcare utilization. We are unaware of any
paper linking health coverage to the occurrence of speci c diseases.
1.3 Data
The data set used here is part of the 1998 Brazilian National Household Survey
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios—PNAD), which is an annual re-search conducted by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (Instituto
Brasileiro de Geogra a e Estatística—IBGE). The PNAD contains permanent ques-tions about general characteristics of household members (such as place of residence,
education level, personal income, and employment status) as well as questions about
rooms in the household). In 1998, the IBGE also implemented a supplementary
health schedule that is used herein.
The 1998 survey has approximately 344,975 interviews distributed across all
regions of the country and intended to represent the entire Brazilian population (about
160 million people). Weights for expanding the sample to represent the national
population were computed by the IBGE, considering the population pattern projected
from the 1980 and 1991 demographic censuses under usual assumptions about the
path for fertility, mortality, and migration rates. (For additional details, seeInstituto Brasileiro de Geogra a e Estatística, 1998.)
The 1998 health supplement contains individual-level data on morbidity—namely,
whether the individual suffers or not from twelve different types of diseases: arthritis
or rheumatism, bronchitis or asthma, cancer, chronic renal disease, cirrhosis,
depres-sion, diabetes, heart disease, hypertendepres-sion, lumbar pain, tendonitis, and tuberculosis.
This information is used to construct different dummy variables intended to measure
the risk of each disease. Furthermore, the data also report whether individuals were
covered by at least one health-insurance plan (other than the free public service)
dur-ing the last year. This information is used to construct a dummy variable indicatdur-ing
the individual coverage status (covered by a health plan versus covered only by the
free public service).
Information describing the individuals and their households is used to create
variables describe: (i) individual general characteristics (such as gender; age,
posi-tion in the family and in the household,5 race, and whether the individual's mother is
still alive); (ii) individual education, type of job, and income; (iii) family and
house-hold characteristics (such as the number of members and income); (iv) family
com-position; (v) home characteristics; (vi) state where the individual lives; and (v) the
person in the household who actually answered the IBGE survey. Table 1 de nes all
variables relevant to the analysis and lists the PNAD codes used to construct them.
[Table 1]
Institutional Context
Health plans in Brazil are fairly homogeneous due to government regulation.
They must cover most of treatment expenditures for all diseases recognized by World
Health Organization. The major carriers are for-pro t enterprises, but not-for-pro t
foundations also offer insurance. The treatments are usually contracted from private
hospitals and doctors. Insurance companies cannot refuse to sell coverage to
some-one based on perceived risk and risk-rate premiums are not allowed.
The Brazilian citizens are eligible to a free public health service (Sistema Único
de Saúde, SUS). In principle, the SUS offers comprehensive coverage. In practice, it presents some structural problems—ranging from long queues to uneven material
conditions across health units—which reduces its effective coverage. A signi cant
5
part of the Brazilian population only searches for assistance at the SUS when not
entitled to other options.
Around 24.5% of the Brazilian population had a health insurance plan in 1998.
When we further divide the sample into males and females, we notice that the
popu-lation is composed of 11.32% of insured males; 13.13% of insured females; 37.67%
of uninsured males; and 37.89% of uninsured females. Table 2 shows the frequency
of each disease in these four different population groups. Each cell in Table 2
dis-plays the average value of the variable listed in the rst column, conditional on the
group described in the rst row. For instance, cell a1 shows that 3.92% of the
in-sured males suffer from arthritis or rheumatism. This number rises to 6.41% in the
group of uninsured males (cell a2). One must be careful when interpreting these
sample means since the characteristics of the insured and uninsured population
dif-fer considerably. Table 3 shows that both groups have similar average ages but that
insured individuals are more educated, belong predominantly to the white race, live
predominantly in urban metropolitan areas, and have average family income about
three times higher than that of uninsured individuals. These patterns are very similar
between males and females.
1.4 Empirical Analysis
In standard adverse selection models, agents are assumed to have different privately
observed levels of risk. In equilibrium, riskier types demand more coverage (see
Rothschild and Stiglitz, 1976). In moral hazard models, agents with lower coverage
voluntarily choose higher levels of preventive actions and end up with a lower
like-lihood of having health problems (see Holmstrom, 1979; and Grossman and Hart,
1983). Thus, independently of the causal direction, the standard models of
asymmet-ric information predict a positive correlation between coverage and the risk of health
problems. These theoretical predictions are derived under the assumption that agents
are homogeneous in their observable characteristics; we then use a parametric model
to control for observed heterogeneity.
Our risk metric is the incidence of different types of health problems. For each
type of disease, letyi be a dummy variable that equals1if individualiis ill;Xibe a
vector of observed characteristics of individuali; andzibe a dummy that equals1if
individualihas a heath insurance plan. Under the null hypothesis of no informational asymmetry, yi must be independent of zi (conditional on Xi). One could thus test
whether:
Pr(yi jXi; zi) = Pr(yi jXi):
This test is performed with different parametric models—namely, the probit,
logit, and linear probability models. We estimate the model:
whereF indicates the underlying distribution function, and test the hypothesis that = 0.
Remark. It is worth stressing that the model is used to compute the conditional
correlation betweenziandyi. Conditional effects do not imply causal relationships—
i.e., we do not suggest that the variables in the left hand side cause yi. In fact, the
opposite is expected to happen if adverse selection is a problem (i.e., in the case of
adverse selection,yi will be exogenous and affect the choice ofzi).
1.4.1 Speci cation Problems
A main issue in empirical tests for asymmetric information is that speci cation errors
could lead one to reject the null hypothesis that Pr(yi j Xi; zi) = Pr(yi j Xi).
Missing explanatory variables as well as wrong functional forms could generate a
spurious correlation betweenyi andzi.
Being aware that one can never be fully protected from this problem, we try to
tackle it on different fronts. Besides using different functional forms for the
distrib-ution functionF, we also use a methodology proposed in Dionne, Gouriéroux, and
Vanasse (2001) and Dionne, Gouriéroux, and Vanasse (2003). This methodology is
intended to smooth linear scoring functions and consists in estimatingE^i = Pr(zi =
1 j Xi) and, then, testing whether Pr(yi j Xi;E^i; zi) = Pr(yi j Xi). As occurs
that were omitted in the model speci cation. Technically, we model:
^
Ei =G(zi = 1jXi);
and
Pr(yi jXi;E^i; zi) = F(Xi + ^Ei +zi );
whereGandF stand for the underlying probability distributions used in the exercise.
1.4.2 Empirical Results
We perform different estimations using the 1998 PNAD. About 140 control variables
are included in the vector Xi. All quantitative and dummy variables described in
Table 1 are considered. Furthermore, in order to account for potential nonlinearities,
we also include four powers of the following quantitative variables: number of rooms
in the household; individual's age, years of schooling, and income; household and
family incomes; total number of members in the household and in the family; number
of other insured members in the family and in the household.
Table 4 presents the results in two blocks. The rst block displays the OLS
es-timations performed without and with the correction term E^i. Similarly, the second
block displays the logit results without and with the termE^i.6 We use a logistic
dis-tribution for Gwhen generating the term E^i. The standard errors are corrected for
potential heteroskedasticity across families and autocorrelation among family
mem-bers (Huber-White cluster correction).
6
The null hypothesis of no informational problems, = 0, is not rejected at
the 5% level of signi cance for the following diseases: arthritis and rheumatism
(for most speci cations), cancer, chronic renal disease, and tuberculosis. There is
evidence of informational problems associated with bronchitis or asthma, cirrhosis,
depression, diabetes, heart disease, hypertension, lumbar pain, and tendonitis. In
general, the point estimation for becomes more positive when the correction term
^
Ei is introduced, suggesting that cross-effects among explanatory variables would
not be driving the results.
[Table 4]
Urban Metropolitan Areas
In order to check robustness of these results we perform the same exercise
using data only from urban metropolitan areas. The results displayed in Table 5 are
essentially the same—except for cirrhosis and depression.
[Table 5]
1.4.3 Ordered Analysis
One could be curious about which results would be obtained if all diseases were
pooled into a single risk metric. This is the exercise performed here. We de ne
wi 2 f1;2; :::;12g as the number of health problems presented by individuali and
model this variable as function ofXi andzi. The results displayed in Table 6 show
health problems presented by individuals. Note that the results do not change when
we introduce the termE^i into the regression model (check the second and the forth
columns). Just as before, the relationship between illness and coverage becomes
marginally more positive once we control for potential speci cation errors.
[Table 6]
1.5 Conclusion
This paper tests for informational asymmetries in the Brazilian health insurance
mar-ket by means of a special schedule attached to the Brazilian National Household
Survey (PNAD) in 1998.
The number of diseases manifested by individuals is found to be positively
related to their insurance coverage level. This same relation is robustly found for
six different diseases: bronchitis or asthma, diabetes, heart disease, hypertension,
lumbar pain, and tendonitis. No risk-coverage correlation is found for other three
diseases: cancer, chronic renal disease, and tuberculosis. The results for arthritis or
rheumatism, cirrhosis, and depression are ambiguous.
We believe this exercise is important for two reasons. First, this is the rst
pa-per testing whether individuals with extra insurance are more likely to suffer from
different diseases (so far, the literature has focused on the correlation between
information in developing economies. Information asymmetries are more likely in
1.6 References
[1] Bertranou, Fabio.“Health Care Services Utilization and Health Insurance Cov-erage Evidence from Argentina.” Mimeo, 1998,AAEP, Argentina.
[2] Browne, Mark J. “Evidence of Adverse Selection in the Individual Health In-surance Market.” Journal of Risk and InIn-surance, 1992, 59, 13-33.
[3] Browne, Mark J.; Doerpinghaus, Helen I.“Information Asymmetries and Ad-verse Selection in the Market for Individual Medical Expense Insurance.” Journal of Risk and Insurance, 1993, 60, 300-312.
[4] Cameron, Andrew C.; Trivedi, Pravin K.; Milne, Frank; Piggott, Jonh.“A Microeconometric Model of the Demand for Health Care and Health Insurance in Australia.” Review of Economic Studies, 1988, 55, 85-106.
[5] Cardon, James H.; Hendel, Igal.“Asymmetric Information in Health Insurance: Evidence From the National Medical Expenditure Survey.” RAND Journal of Economics, 2001, 32, 408-427.
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[8] Dionne, Georges; Gouriéroux, Christian; Vanasse, Charles. “The Informa-tional Content of Household Decisions with Application to Insurance under Ad-verse Selection.” Mimeo, 2003, Venice Summer Institute.
[9] Dowd, Bryan; Feldman, Roger; Cassou, Steven; Finch, Michael. “Health Plan Choice and the Utilization of Health Care Services.” Review of Economics and Statistics, 1991, 73, 85-93.
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[12] Gardiol, Lucien; Geoffard, Pierre-Yves; Grandchamp, Chantal.“Separating Selection and Incentives Effects: An Econometric Study of Swiss Health Insur-ance Claims Data.” DELTA Working Paper 2003-37, 2003.
[13] Grossman, Sanford J.; Hart, Oliver D. “An Analysis of the Principal-Agent Problem.” Econometrica, 1983, 51, 7-45.
[14] Helms, Jay; Newhouse, Joseph P.; Phelps, Charles E. “Copayments and De-mand for Medical Care: The California Medicaid Experience.” Bell Journal of Economics, 1978, 9, 192-208.
[15] Holly, Alberto; Gardiol, Lucien; Domenighetti, Gianfranco; Bisig, Brigitte.
“An Econometric Model of Health Care Utilization and Health Insurance in Switzer-land.” European Economic Review, 1998, 42, 513-522.
[16] Holmstrom, Bengt R. “Moral Hazard and Observability.” Bell Journal of Eco-nomics, 1979, 10, 74-91.
[17] Instituto Brasileiro de Geogra a e Estatística.“Notas Metodológicas: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.” 1998.
[18] Keeler, Emmett B.; Morrow, Daniel T.; Newhouse, Joseph P. “The Demand for Supplementary Health Insurance, or Do Deductibles Matter?” Journal of Po-litical Economy, 1977, 85, 789-801.
[19] Manning, Willard G.; Newhouse, Joseph P.; Duan, Naihua; Keeler, Emmett B.; Leibowitz, Arleen; Marquis, M. Susan.“Health Insurance and the Demand for Medical Care: Evidence from a Randomized Experiment.” American Eco-nomic Review, 1987, 77, 251-277.
[20] Pauly, Mark V. “Taxation, Health Insurance, and Market Failure in the Medical Economy.” Journal of Economic Literature, 1986, 24, 629-675.
[22] Rothschild, Michael; Stiglitz, Joseph. “Equilibrium in Competitive Insurance Markets: An Essay on the Economics of Imperfect Information.” Quarterly Jour-nal of Economics, 1976, 90, 629-649.
Chapter 2
Risco Moral na Utilização de Serviços
Médicos: Análise através de um Choque
Contratual Exógeno
Resumo
O principal obstáculo à identi cação de risco moral na utilização de serviços médicos é a endogeneidade
na demanda por seguro saúde relacionada ao efeito de seleção adversa. O controle desse efeito pode ser alcançado
de duas maneiras: através de um experimento que aloque aleatoriamente os indivíduos em diversos contratos,
ou através de uma mudança contratual não relacionada à decisão individual, como as oriundas de reformas na
legislação. Nesse trabalho analisa-se uma base de dados com a segunda característica. Identi ca-se (não se
rejeita) a presença de perigo moral através da análise da variação nos gastos com serviços médicos devido a um
aumento substancial na taxa de co-participação, resultante da mudança obrigatória de categoria no momento da
aposentadoria.
2.1 Introdução
Relativamente aos demais bens, os serviços médicos apresentam várias
peculiari-dades. A principal delas, refere-se ao fato de o dispêndio com serviços médicos ter,
para o agente, um caráter fortemente aleatório. Beck e Monheit (1992) constataram
que a parcela dos 1% mais demandantes de serviços médicos foi responsável por
possibilidade do gasto médico assumir, de forma idiossincrática, um valor
extrema-mente elevado faz com que a existência de um mecanismo de compartilhamento de
risco entre agentes, seguro saúde, traga uma grande melhoria para o bem estar social.
O seguro saúde, da mesma forma que outros tipos de seguro, defronta-se com
todos os problemas decorrentes das assimetrias informacionais entre seguradora e
segurado. Porém, conforme salientado por Cutler and Zeckhauser (2000), ao
con-trário de outros tipos de seguro, o seguro saúde apresenta uma baixa capacidade de
monitoramento da necessidade do serviço requerido pelo segurado. Por exemplo,
atestar a necessidade de concerto para um carro seria tecnologicamente fácil, ao
con-trário da necessidade de tratamento médico. Pessoas com características observáveis
semelhantes apresentariam gastos ótimos diferentes, em função das diferenças
ap-resentadas na severidade da doença, uma informação privada do paciente. Assim,
ao supor que um aumento do consumo de serviços médicos reduziria o desprazer da
doença, é natural haver uma sobre utilização dos serviços médicos.
A sobre utilização de serviços por parte do segurado é conhecida na literatura
de economia da saúde como problema de risco moral. Do ponto de vista econômico,
esse fenômeno pode ser entendido como um efeito substituição no qual o agente gasta
mais com serviços médicos quando seu preço é mais baixo. Esse efeito diferiria
do efeito renda, resultante do aumento do gasto decorrente da elevação da renda
na-tureza onde o agente econômico está saudável para o estado da nana-tureza onde ele
está doente.
A taxa de co-participação, fração do gasto total do tratamento pago pelo
se-gurado, é a principal forma lidar com o problema de risco moral. Esse tipo de
in-strumento visa compatibilizar os incentivos entre seguradora e o segurado, ao fazer
com que o agente pague uma parcela do tratamento, ele teria incentivo a revelar a
verdadeira severidade da doença. Esse compartilhamento de risco reduz os
benefí-cios do seguro como instrumento de transferência de renda. Contudo, na presença de
risco moral, ao fazer o agente se defrontar com um preço mais próximo do custo de
provisão do serviço, evitar-se-iam gastos excessivos, minorando, assim, as ine
ciên-cias resultantes da assimetria informacional. Portanto, atestar a existência de risco
moral, é fundamental para o correto desenho dos contratos dos seguros saúde.
Existem vários trabalhos na literatura de seguro saúde que tratam do impacto do
risco moral na demanda por serviços médicos. Entretanto, são poucos os que tratam
do risco moral e suas conseqüências nos países em desenvolvimento. Esses países
tenderiam a apresentar ainda um baixo nível de qualidade de saúde pública tornando
ainda mais forte as questões informacionais. O estudo risco moral através de bancos
de dados contento choques contratuais exógenos nesses ambientes é mais exíguo.
Esse artigo visa contribuir para esta área através do estudo de um banco de dados
contendo um choque contratual exógeno ocorrido em um país em desenvolvimento –
Risco moral é estudado nesse trabalho a partir da variação da demanda por
serviços médicos dos segurados de uma operadora de autogestão perante uma
mu-dança contratual exógena. No caso analisado, alguns dos segurados são obrigados,
no momento da aposentadoria do titular do plano, a migrarem para outro plano com
taxas de co-participação bem maiores que as do plano anterior. Dentre todos os
pa-cientes cadastrados 229 enquadram-se entre os que sofreram tal mudança contratual.
Além disso, para estes pacientes, tem-se o registro detalhado da utilização de serviços
médicos entre 1999 e 2003. Nota-se que o exercício proposto está bem especi cado
pois o mesmo controla a variações de demanda não decorrentes da variação do
con-trato, capturando apenas o efeito de risco moral.
A técnica econométrica utilizada para essa análise foi a construção de um
mod-elo estrutural visando eliminar os efeitos de seleção adversa. Os resultados
encon-trados corroboram com a maior parte da literatura no sentido de haver elasticidade
a preços não nula na demanda por serviços médicos. A robustez dos resultados foi
analisada, porém, para os agentes que sofreram tal mudança contratual reportados
nesse banco de dados, não se conseguiu rejeitar a hipótese da existência risco moral.
Esse artigo está estruturado da seguinte maneira: na seção 2, será apresentada
brevemente uma revisão da literatura buscando descrever como a teoria de contratos
empíricos lida com esse problema. Na seção 3, será apresentada as características
utilizado juntamente com os resultados encontrados. Finaliza-se com uma discussão
geral sobre os resultados.
2.2 Risco Moral em Serviços Médicos
O dilema do estudo de assimetria informacional é que dois efeitos economicamente
distintos (risco moral e seleção adversa) geram a mesma conclusão empírica:
corre-lação entre risco (uso de serviços médicos) e cobertura (menor grau de co-participação).
Conforme mostrado nas contribuições seminais de Akerlof (1970) e Rothschild e
Stiglitz (1976), no caso de seleção adversa o efeito é resultado de agentes com
car-acterísticas observáveis idênticas, quando expostos a um menu de contratos, se auto
selecionarem levando em conta alguma informação privada sobre seu de risco, e
re-sultando, assim, em uma correlação positiva entre risco e cobertura.
Risco moral, ao contrário de seleção adversa, é conseqüência da assimetria
in-formacional após a assinatura do contrato. Na inexistência de risco moral, a demanda
por serviços médicos seria a mesma caso o agente recebesse uma transferência
pe-cuniária ao adoecer e se defrontasse com verdadeiro custo de provisão dos serviços
médicos. Porém, na presença de risco moral, o agente ao defrontar-se com um preço
de copartipação abaixo do custo de provisão sobre-utilizaria os recursos médicos.
Assim, a implicação a ser testada empiricamente, a existência de risco moral, seria
equivalente a testar se existe correlação entre a co-participação (cobertura) e o uso
Cutler and Zeckhauser (2000) resumem as conclusões dos principais artigos
relacionados aos estudos empíricos desse tema. Esse artigo constata a existência de
um largo intervalo para as estimativas para a elasticidade preço existentes na
liter-atura — variando entre 14%e 150%, respectivamente encontrados por Phelps e
Newhouse (1972) e Rosett e Huang (1973). Porém, Cutler and Zeckhauser (2000)
salientam que esses resultados não controlam para a endogeneidade da escolha dos
contratos (seleção adversa) comprometendo a consistência da análise.
Em Braido e Lins (2004), testa-se empiricamente a presença de assimetria de
informação no mercado de planos de seguro saúde brasileiro, utilizando os dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios conduzida em 1998. Os resultados
mostram que para um grande número de doenças, a probabilidade de um indivíduo
estar doente é positivamente afetada pelo seu nível de cobertura. Esse resultado,
leva-nos a conclusão que indivíduos segurados tendem a ser mais arriscados, mesmo
controlando para um grande número de características observáveis. Esse exercício
sugere que os problemas de informação não seriam apenas uma curiosidade teórica,
mas sim uma característica real do sistema de saúde brasileiro. Porém esse artigo não
separa o efeito de seleção adversa e risco moral.
A solução natural para esse dilema empírico é o estudo de ambientes
econômi-cos onde o efeito de seleção adversa não esteja presente. Essa abordagem refere-se
a experimentos onde a escolha contratual é exógena, cada agente recebe um contrato
foi realizado pelo governo americano (Rand Health Insurance Experiment),
partici-pando cerca de 6,000 pessoas [vide Newhouse et al.(1993)]. Esse estudo encontrou
presença de risco moral, com a elasticidade preço da demanda por serviços
médi-cos de cerca de 20%. Apesar de permitir a melhor avaliação possível do impacto
de risco moral, esse tipo de estudo possui alto custo nanceiro o que impede sua
reprodução em diferentes contextos.
Uma solução alternativa seria a análise de ambientes econômicos onde o efeito
de seleção possa ser facilmente eliminado. O exemplo mais importante desse caso –
objeto de estudo desse artigo – é aquele no qual apesar de inicialmente ter havido uma
escolha de contratos pelos agentes, houve uma mudança contratual independente de
sua vontade, que o obrigou a rmar outros contratos. Assim, pode-se isolar o efeito
de seleção dado que as características idiossincráticas dos indivíduos permanecem
constantes.
Zweifel e Manning (2000) fazem um levantamento dos estudos de risco moral
em utilização de serviços médicos baseados em experimentos naturais e mudanças
contratuais exógenas. Esse estudo sugere que a demanda por cuidados médicos caía
com o incremento da taxa de co-participação, para uma variedade de populações
e ambientes institucionais. Porém o dado básico para o desenho dos contratos, a
2.3 Base de Dados
Esse trabalho baseou-se em dados cadastrais e de utilização de serviços médicos de
uma operadora de seguro saúde: a ELETROS-SAÚDE. Esse seguro saúde
destina-se aos funcionários, ex-funcionários, e respectivos dependentes7, de um grupo de
empresas estatais do setor elétrico brasileiro. Uma descrição detalhada da base de
dados encontra-se em Pinto (2004).
No contexto desse plano de saúde as despesas com internações hospitalares,
consultas médicas, procedimentos odontológicos, exames laboratoriais,
medicamen-tos e aparelhos corretivos são cobermedicamen-tos pelo contrato através do sistema de pagamento
com posterior reembolso. Nesse sistema, a agente paga diretamente ao provedor do
serviço sendo ressarcido de uma parcela deste gasto. No plano aqui analisado, o grau
de ressarcimento é função da classe de cobertura ao qual o agente está vinculado,
sendo essa a diferença contratual. Assim, tem-se efetivamente a cobrança de uma
taxa de co-participação que seria igual a parcela paga pelo agente que difere para
cada tipo de contrato.
A seguradora ELETROS-SAÚDE dispõe de quatro tipos de contrato. Para
análise proposta utilizar-se apenas dois: os referentes ao plano ELETROS-SAÚDE
antes e depois da aposentadoria. A primeira forma contratual, denominadaPlano ES Antes, relaciona-se a cobertura oferecida pela ELETROS-SAÚDE aos funcionários das empresas enquanto os mesmos permanecem na ativa. A segunda exclusivamente
7
aos funcionários aposentados que permanecem vinculados a seguradora. Essa
cate-goria contratual será aqui denominadaPlano ES Depois.
O banco de dados apresenta obrigatoriedade na adesão ao Plano ES Depois, sendo essa sua principal característica. Ao se aposentar, um funcionário que esteja
vinculadoaoPlano ES Antes, querendo permanecer vinculado à seguradora ELETROS-SAÚDE, será automaticamente inscrito no Plano ES Depois. O número de bene -ciários que pertenciam a Plano ES Antes e migraram para oPlano ES Depois uti-lizando a janela de dois anos é 134 e 95 somando titulares e dependentes.
Outro importante elemento é o grau de variação no nível de cobertura entre
planos. A elevada variação média da taxa de co-participação, entre antes e depois da
variação contratual, permite um teste robusto da hipótese de haver impacto da
vari-ação contratual na demanda por serviços médicos por parte dos agentes. A taxa de
co-participação paga após a aposentadoria em decorrência da variação contratual
au-mentou em 25% para os seguintes itens: exames clínicos laboratoriais; exames de
imagem; odontologia; sioterapia; radioterapia; escleroterapia. Os itens
relaciona-dos aos seguintes serviços: consultas; diárias hospitalares; despesas hospitalares;
honorários médicos em regime de internação ou não tiveram aumentos na taxa de
co-participação ou tiveram em níveis diferenciados (até o limite de 25% de aumento).
Outros serviços deixaram de ser cobertos após a aposentadoria, são eles: prótese;
ortodontia; fonoaudiologia; psicologia8. 8
A base de dados contém de forma discriminada, para cada utilização de serviços
médicos, as seguintes informações: características do agente (identi cação, data de
nascimento, sexo, cidade de residência); classe de serviço, (por exemplo consulta
ou exame); valor da co-participação; valor pago pela seguradora; tipo de contrato e
titularidade (titular ou dependente).
A tabela 1 apresenta as principais características dos segurados que sofreram
variação contratual. Nota-se que, basicamente, são residentes no mesmo estado, Rio
de Janeiro, sede da maioria das empresas vinculadas a ELETROS-SAÚDE. A
vari-ação contratual ocorreu por volta dos 50 anos e concentra-se no sexo masculino no
caso de titulares e no feminino no caso de dependentes.
[ Tabela 1 ]
Vale ressaltar que os funcionários das empresas cobertas pela ELETROS-SAÚDE
possuem uma baixa variação da renda salarial, devido ao regime de aposentadoria ser
integral. Consequentemente, uma variação do per l de consumo não poderia ser
jus-ti cada por meio de uma queda no nível de renda depois da aposentadoria, porém,
explicações alternativas ainda poderiam justi car o mesmo resultado.
Dado o grande volume de tecnologia importada necessária aos exames e serviços
tem-se que uma parcela substancial dos custos dos serviços médicos é reajustada
via moeda estrangeira. Assim, o índice de de acionamento adequado deve re etir
essa parcela do componente cambial, re etindo a variação da remuneração do
Vargas, o qual apresenta a característica de re etir adequadamente as variações
cam-biais9.
2.4 Modelo Econométrico
O modelo econométrico utilizado visa eliminar o efeito da auto seleção na demanda
por serviços médicos. Assim, ao avaliar-se a variação na demanda obtêm-se apenas
o efeito da mudança contratual decorrente da existência de risco moral.A partir das
hipóteses a seguir foi contruido o modelo econométrico: o gasto é função,
estocas-ticamente linear, do tipo de contrato e das características idiossincráticas do agente
que permanecem constantes ao longo de todo o período de estudo. Dessas hipóteses
pode-se construir a seguinte equação para modelar os gastos antes da aposentadoria:
gi = DP lano ES Antes + xi +"i (2.1)
A variável endógena do modelogi, representa o gasto total do indivíduo iem
uma janela de tempo de dois anos antes da aposentadoria na qual não houve variação
contratual para todos os indivíduos– soma dos valores pagos pelo segurado e pela
se-guradora. Como serviços não cobertos após a mudança contratual não são reportados
para esta análise utilisa-se apenas os demais serviços.
9
A variáveldummyDP lanoESAntes, indica o efeito xo comum a todos os agentes
que inclui o fato de serem cobertos pelo planoPlano ES Antes. As características pes-soais observáveis dos agentes são representadas porxi. O componente relacionado
ao erro,"i, refere-se a características idiossincráticas e não observáveis dos agentes,
tais como seu risco. Esse poderia,a priori, estar correlacionado com a demanda por determinado tipo de contrato.
Pode-se construir equações similares a anterior para descrever o
comporta-mento dos gastos depois da mudança contratual. Essas equações serão representadas
a seguir para o indivíduoi:
gAposi =e DP lano ES Depois + xi+e"i (2.2)
Analogamente à descrição anterior, a variável endógena do modelogAposi ,
rep-resenta o gasto do indivíduo i em uma determinada janela de tempo de dois anos depois da aposentadoria. A variável DP lano ES Depois indica um efeito xo nos
gas-tos, uma vez que todos estão vinculados ao contrato relativo aos aposentados –Plano
ES Depois. Da mesma forma que antes, o termo referente ao componente de erro,
e"i , refere-se as características idiossincráticas e não observáveis do agente depois da
aposentadoria.
A solução adotada para lidar com problemas decorrentes da endogeneidade
ob-serváveis constantes na presença de uma mudança contratual exógena. Assim, a
partir da subtração das duas equações (2.1) e (2.2) encontra-se:
gi = +eui (2.3)
Assim, como a endogeneidade resultante da decisão contratual desaparece, e a
estimação dessa nova equação através do método dos mínimos quadrados ordinários
– MQO – torna-se econometricamente consistente.
O coe ciente , que representa o efeito xo, representa o impacto da variação
contratual nos gastos dos agentes. A inexistência de efeitos contratuais na decisão
do agente signi ca que o coe ciente deveria ser nulo. Assim, o efeito de risco moral
na demanda por serviços médicos para cada variação contratual pode ser estimado
consistentemente a partir da equação (2.3) através do estimador de MQO.
2.5 Análise Empírica
O foco básico desse estudo é veri car se um aumento na taxa de co-participação
in-duziria à redução na demanda por serviços médicos. Porém, ao agente se aposentar
pode ter havido uma variação da demanda por serviços médicos devido ao fato da
demanda por lazer ser de alguma forma complementar à demanda por saúde. Para
analisar esse efeito, pode-se utilizar como variável de controle a condição no plano
depen-dentes (esposa ou companheira) sofreram o mesmo tipo de mudança contratual que
os titulares, mas, a não ser via choques, uei, não foram expostos a mudanças
com-portamentais. Assim, de nem-se as seguintes variáveis dummiesem nosso modelo econométrico: (i) O titular doPlano ES Antes é transferido para oPlano ES Depois
(T); (ii) O dependente doPlano ES Antesé transferido para oPlano ES Depois(D). A estimação da equação (2.3), nesse contexto, via MQO torna-se equivalente a
estimação da seguinte equação:
gi =T +D+eui (2.4)
O efeito da mudança contratual pode ser veri cado já pela variação média dos
gastos em serviços cobertos em ambos os tipos de planos (para valores de gastos
de acionados pelo IGP-M). Esse pode ser veri cado através da tabela
[ Tabela 2 ]
O resultado dessa estimação está apresentado na Tabela 4 para valores de gastos
de acionados pelo IGP-M, tendo sido utilizado uma janela de gastos de dois anos.
Pode-se observar que o efeito da variação contratual na demanda total por serviços
médico não pode ser rejeitado para um nível de signi cância de 1%.
2.5.1 Robustez dos Resultados
A equação (2.4) considera, basicamente, que a variação na demanda por serviços
médicos é determinada pela mudança contratual. Variáveis como sexo, idade, estado
de moradia, não explicariam a variação da demanda pois não variaram nesse
inter-valo de tempo. É possível que o efeito de risco moral esteja sendo sobre-estimado
devido a previsibibilidade da variação contratual que agente irá sofrer, antecipação
do aumento da taxa de co-participação. Assim, apesar da própria antecipação do
agente denotar risco moral, revelando um comportamento elástico à uma variação
contratual, buscou-se minorar esse efeito através do uso de uma janela de estudo
rel-ativamente larga: dois anos.
A segunda forma de medir a robustez do modelo é investigar se o resultado
estaria sendo gerado por conta de um de acionamento errôneo. Nesse trabalho,
de aciona-se a série dos gastos pelo índice de in ação IGP-M, não sendo
necessari-amente igual ao índice que os consumidores de fato se defrontaram. Assim, pode-se
estar gerando efeito de risco moral espúrio, não decorrente da variação contratual. A
análise mais parcimoniosa possível seria realizar o mesmo estudo na ausência de
de-acionamento na série dos gastos. O exame dessa hipótese pode ser feito através da
Tabela 4, encontram-se qualitativamente os mesmos resultados anteriores.
2.6 Conclusões
Esse artigo destina-se a identi car a presença de risco moral na demanda de serviços
médicos dentro de uma seguradora inserida no mercado de saúde suplementar brasileiro.
Esse importante tema ainda foi pouco explorado em países em desenvolvimento, os
quais apresentam condições que, teoricamente, evidenciariam ainda mais forte esse
efeito devido ao grau de regulação elevado e ao nível ainda precário de qualidade da
saúde pública.
O banco de dados aqui apresentado tem a forma adequada para esse estudo:
apresenta um choque contratual exógeno. Fazendo uso dessa base de dados foi
pos-sível utilizarmos um modelo extremamente simples e robusto. A identi cação do
efeito de risco moral foi realizada por meio da estimação de um modelo através do
método MQO. Buscou-se explicar a variação na demanda a partir da mudança do
tipo de contrato. A robustez desse teste está intimamente ligada a eliminação dos
efeitos relacionados à demanda de serviços médicos não vinculados exclusivamente
à alteração contratual.
A conclusão do trabalho é que não se rejeita que a mudança contratual exerça
in uência na demanda por serviços médicos. Essa in uência poderia, em
princí-pio, ser devida a diversos fatores diferentes de risco moral, tais como, antecipação
da demanda ou de acionamento não adequado da série de gastos. Entretanto, o
não decorreu de um de acionamento errôneo, pois permaneceu qualitativamente o
mesmo para série não de acionada.
2.7 Referências Bibliográ cas
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[2] Beck,M.L., e Monheit,A.C. (1992), ” The concentration of health expenditures: an update” , Health ffairs 11(4): 145-149.
[3] Besley, T.; Hall, J.; Preston, I. (1999), “The demand for private health insur-ance: do waiting lists matter?” Journal of Public Economics 72 , 155-181.
[4] Braido, L. H. B.; Lins, G. D. (2004) “A morbidity-based test for asymmetric information in health insurance.” Mimeo, EPGE-FGV,.
[5] Cutler, D. M.; Zeckhauser, R. J. (2000), “The anatomy of health insurance.” Handbook of Health Economics, Elsevier Science B.V., Volume I, 563-643.
[6] McAvinchey, I. D.; Yannopoulos, A.(1993), “Elasticity estimates from a dy-namic model of interrelated demands for private and public acute health care.” Journal of Health Economics 12, 17l-186.
[7] Newhouse, Joseph P., and the Insurance Experiment Group. (1993)“Free for All? Lessons from the RAND Health Insurance Experiment” Cambridge, Mass.: Harvard University Press.
[8] Pinto, Luiz Guilherme de França Nobre (2004) "Perigo moral no Setor de Saúde: uma análise empírica."MIMEO projeto nal de Mestrado em Finanças e Economia Empresarial, 2004. Disponível em<http://epge.fgv.br>em março de 2005.;
[9] Rosett, Richard N.; Huang, Lien-fu (1973).“The Effect of Health Insurance on the Demand for Medical Care.” Journal of Political Economy,81, 281-305.
[11] Rothschild, Michael ; Stiglitz, Joseph (1976)”Equilibrium in Competitive In-surance Markets: An Essay on the Economics of Imperfect Information ” The Quarterly Journal of Economics, Vol. 90, No. 4., pp. 629-649.
Chapter 3
Leilões de Energia no Brasil
Resumo
O presente artigo analisa experimentalmente o desenho dos leilões de energia existente e seus resultados
reais. Em decorrência das características tecnológicas da geração hidrelétrica, a comercialização em separado,
via leilões, da energia proveniente de empreendimentos existentes teoricamente levaria a preços excessivamente
baixos. Esse resultado foi identi cado experimentalmente, no contexto de excesso de oferta, e veri cado pelo
verdadeiro Leilão de energia existente de dezembro de 2004. Ademais, estratégias que resultassem em cortes de
demanda, guram tanto dentre os resultados experimentais quanto no Leilão de abril de 2005.
3.1 Introdução
O per l de geração do setor elétrico brasileiro é predominantemente hidrelétrico
(aproximadamente 95%) com propriedade majoritariamente estatal. Sua história
re-cente é marcada por um debate acerca de qual a responsabilidade do Estado neste
setor. Até 1995, basicamente todo o investimento e planejamento era feito pelo
Es-tado, que era detentor de todos os ativos de geração, transmissão e distribuição. Ao
m deste período, houve um forte declínio da capacidade de investimento estatal no
setor elétrico, o que motivou um amplo processo de desestatização. Como resultado
desse processo, houve uma segmentação dos ativos estatais em parcelas privatizáveis
transmissão e distribuição seriam regulados como monopólios naturais, enquanto os
setores de geração e de comercialização estariam sujeitos a livre concorrência. O
pa-pel do Estado, a princípio, seria o de regular os setores onde houvesse monopólio e
garantir a livre concorrência nos demais.
A crise de oferta que resultou no racionamento abriu novamente a discussão
sobre o papel do Estado. Como re exo, em janeiro de 2003, surge um novo
mod-elo que centraliza as decisões de planejamento energético no âmbito governamental
mantendo, porém, a concepção de livre concorrência nos mercados de geração e
com-ercialização e de regulação nos mercados de distribuição e transmissão. A distinção
principal entre o novo modelo e seu predecessor foi a forma de implementação desses
conceitos.
O novo modelo objetivou desenhar mecanismos regulatórios de forma a
ade-quar uma alta con abilidade de suprimento com modicidade tarifária. Nesse
con-texto, foram estabelecidos incentivos para que a distribuidora contratasse toda a
de-manda através de contratos longo prazo como forma de aumentar a previsibilidade, e
conseqüentemente, a con abilidade do suprimento.
Visando à modicidade tarifaria, o mercado de comercialização de energia foi
segmentado em dois ambientes: o ambiente de comercialização regulado (ACR) e
o ambiente de comercialização livre (ACL). O primeiro representa mercado cativo
das distribuidoras e o segundo, o mercado dos grandes consumidores10 não
vincula-10
dos às distribuidoras. Dentro do ambiente de contratação regulada, com objetivo de
alcançar modicidade tarifária, reforçou-se a segmentação de mercado em relação ao
grau de amortização do empreendimento entre energia nova e energia existente
inici-ada no modelo anterior. Nesse contexto, o alto preço resultante da energia nova seria
compensado pelo baixo preço resultante da energia existente, levando ao consumidor
nal a desfrutar de uma tarifa mais baixa.
Em cada um desses mercados, a alocação é feita via leilão e tem-se como
compulsória a participação para as maiores distribuidoras11. Os geradores ofertam
de forma descentralizada para as maiores distribuidoras, cujas demandas são
agre-gadas de acordo com a declaração de carga como um único comprador. Essa
for-mação de mercado se assemelha a um pool, com a distinção de não haver uma en-tidade legal que faça o compartilhamento de risco entre os agentes geradores e os
distribuidores. Cada vendedor rma um contrato com cada uma distribuidoras
par-ticipantes do leilão.
A inexistência de dados que permitissem analisar o mecanismo, bem como sua
complexidade, tornaram indicada a realização de uma análise experimental como
forma de investigar o processo alocativo do leilão nesse mercado. Essa tem sido
usada como uma importante ferramenta para a análise de diversos aspectos
liga-dos a desenho de mercaliga-dos. Esse papel é salientado por Roth (2002) que aponta
a importância de experimentos juntamente com análise teórica e simulação
computa-11
cional para arquitetura de mercados. Esse artigo se baseia em dois exemplos para
ilustrar o argumento: o mercado de trabalho de médicos recém formados nos
Es-tados Unidos e os leilões de rádio freqüência conduzidos pela agência reguladora
de telecomunicações americana, Federal Comunications Commission. O autor re-porta a necessidade do desenvolvimento de modelos simples que contribuam para o
entendimento de como os lidar com a complexidade dos mercados reais.
Adicional-mente, métodos computacionais auxiliariam na resolução de jogos muito complexos
do ponto de vista analítico e experimentos ajudariam a revelar como os agentes se
comportariam de fato no novo ambiente econômico.
Rassenti et al. (2002a) analisam qual o melhor desenho de mercado para os
contextos regulatórios de países como Nova Zelândia, Austrália e Estados Unidos.
Através do uso de experimentos, os autores testam o uso de ferramentas
computa-cionais em mercadosspot de energia, revelando como esses mecanismos funcionar-iam na prática. Adicionalmente, esses experimentos tiveram o objetivo de
treina-mento de potenciais participantes dos novos mercados.
Brandts et al. (2003) descrevem um experimento para investigar qual
importân-cia para e ciênimportân-cia econômica de contratos de longo prazo. Os resultados encontrados
corroboram argumentos teóricos em relação ao tema. Observam-se evidências de um
aumento de bem-estar associado à existência de mercado para contratos futuros.
O presente artigo analisa experimentalmente os mecanismos empregados nos
con-duzidos pelo Ministério das Minas e Energia (MME)12. Nesse sentido, a seção 3.2
descreve quais questões balizaram a discussão durante a elaboração do mecanismo
empregado nos Leilões de Energia Existente. A subseção 3.2.1 analisa a luz da
lit-eratura a importância do problema dehold uppara o ambiente regulatório brasileiro. Questões relativas implementabilidade do mecanismo são examinadas na subseção
3.2.2.
A seção 3.3 detalha a sistemática do leilão, a qual é experimentalmente
imple-mentada no contexto dos dois leilões de energia existente. O projeto experimental
é apresentado na subseção 3.3.3. Como resultado da investigação experimental, a
subseção 3.3.5 apresenta as principais conclusões experimentais.
A seção 3.4 contém os resultados dos leilões realizados em dezembro de 2004 e
abril de 2005. Preços excessivamente baixos no primeiro leilão e ocorrência de corte
de demanda, acarretando baixos níveis de contratação, no segundo leilão reforçam a
importância do estudo experimental para o desenho regulatório.
Por m, a seção 3.5 apresenta observações conclusivas, além de sugerir
exten-sões do projeto experimental. Cabe destacar que um conjunto de apêndices ilustra de
modo rigoroso alguns argumentos que constam do texto.
3.2 Questões Relevantes
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