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Revista
Brasileira
de
CIÊNCIAS
DO
ESPORTE
ARTIGO
ORIGINAL
Associac
¸ão
entre
aptidão
cardiorrespiratória
percebida
e
func
¸ão
do
assoalho
pélvico
em
mulheres
Cinara
Sacomori
a,∗,
Isabela
dos
Passos
Porto
a,
Fernando
Luiz
Cardoso
be
Fabiana
Flores
Sperandio
caUniversidadedoEstadodeSantaCatarina(Udesc),CentrodeCiênciasdaSaúdeedoEsporte,ProgramadePós-Graduac¸ãoem
CiênciasdoMovimentoHumano,Florianópolis,SC,Brasil
bUniversidadedoEstadodeSantaCatarina(Udesc),CentrodeCiênciasdaSaúdeedoEsporte,DepartamentodeCiênciasda
Saúde,Florianópolis,SC,Brasil
cUniversidadedoEstadodeSantaCatarina(Udesc),CentrodeCiênciasdaSaúdeedoEsporte,DepartamentodeFisioterapia,
Florianópolis,SC,Brasil
Recebidoem10demarçode2013;aceitoem13desetembrode2014
DisponívelnaInternetem29dejaneirode2016
PALAVRAS-CHAVE
Assoalhopélvico; Atividadefísica; Forc¸amuscular; Aptidãofísica
Resumo A musculaturadoassoalhopélvico(AP) exerceimportantepapel naestabilizac¸ão pélvico-lombarduranteatividadesfuncionais.
Objetivo: Verificaraassociac¸ãoentreaptidãocardiorrespiratóriapercebidaeafunc¸ãodoAP nocontroleporidade.
Métodos: Foramavaliadas269mulheresadultascomaEscaladeCapacidadePercebidaeexame dafunc¸ãomusculardoAPporpalpac¸ão.
Resultados: 70,2%dasmulheresconseguiammanterapenasumacaminhada por30 minutos. Aproximadamente46,9%tinhamcontrac¸ãoobjetivafraca doAP.Estiveramassociadosauma melhorfunc¸ãodoassoalhopélvico:aptidãocardiorrespiratóriapercebida(conseguircorrerpor 30minutos)enãoapresentarqueixasdeperdasdeurinanodiaadiaeduranteapráticade atividadefísica.
©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´e umartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).
KEYWORDS
Pelvicfloor; Physicalactivity; Musclestrength; Physicalfitness
AssociationbetweenPhysicalFitnessPerceptionandPelvicFloorFunctioninWomen
Abstract Pelvic floor(PF) musclesplayanimportantrole instabilizinglumbar-pelvic area duringfunctionalactivities.
Objective: Toinvestigatetheassociationbetweentheratingofperceivedcapacityandpelvic floorfunctioncontrollingage.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:cinarasacomori@gmail.com(C.Sacomori). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2015.12.011
Methods:Weevaluated269adultwomenwiththeRatingofPerceivedCapacityandperineal musclefunctionpalpationexam.
Results:70.2%ofthewomencouldjustkeepwalkingfor30minutes.Approximately4%failed toperformthecontractionofthePFmusclesand46.9%hadanobjectivelyweakcontraction. AbetterPFmusclefunctionwasassociatedwithperceivedcardiorespiratoryfitness(beingable torunfor30minutes),notpresentingcomplainsofurinelossduringdailylifeandduringphysical activity.
©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Thisisan openaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense( http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
PALABRASCLAVE
Suelopélvico; Actividadfísica; Fuerzamuscular; Condiciónfísica
Asociaciónentrelapercepcióndelacondicióncardiorrespiratoriaylafunción delsuelopélvicoenmujeres
Resumen Lamusculaturadelsuelopélvico(SP)ejerceunimportanterolenlaestabilización pélvico-lumbarenlasactividadesfuncionales.
Objetivo:VerificarlaasociaciónentrepercepcióndelacondiciónfísicayfuncióndelSP con-troladaporedad.
Métodos: Seevaluóa269 mujeresadultasconlaEscaladeCapacidadPercibidayelexamen defuncióndelamusculaturadelsuelopélvicoporpalpación.
Resultados: El 70,2% de las mujeres consiguieron mantener solamente una caminata de 30 minutos.Aproximadamenteel46,9%teníaunacontracciónobjetivadébildelSP.Unamejor funcióndelSPseasocióconlapercepcióndelacondicióncardiorrespiratoria(conseguircorrer durante30 minutos)ynomanifestarquejasdepérdidadeorinaeneldíaadíaydurantela prácticadelasactividadesfísicas.
©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Estees unart´ıculoOpenAccessbajolalicenciaCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).
Introduc
¸ão
Acapacidadefísicapercebidaéumamedidasubjetivaque consiste em estimar a aptidão cardiorrespiratória sem a necessidadedetestesdeesforc¸o.Éusadaparaestimar os níveisdeaptidãocardiorrespiratória,oquetornaessa estra-tégia uma opc¸ão viável em pesquisa epidemiológica, por contadasimplesaplicabilidadeedobaixocustoemcampo (MaranhãoNetoetal.,2008).Talmedidafoiavaliadaquanto assuasqualidadespsicométricaseequivalência transcultu-ral,apresentaramumcoeficientedeconcordâncialinearde 0,78(0,55-1,00)eumcoeficientedecorrelac¸ãointerclasse de 0,8 (0,50-0,93) (Maranhão Neto et al., 2008). A apti-dãocardiorrespiratóriaestárelacionadacomváriosaspectos desaúde,éummarcadorobjetivodapráticadeatividade física, uma vez que é, primariamente, determinada pela práticadessa(Hoehneretal.,2011).
Apráticadeexercíciosfísicosregularespodeinfluenciar afunc¸ãodoassoalhopélvico (AP), umavez que age posi-tivamentenomecanismodacontinência(Townsendetal., 2008). Os exercícios físicos influenciam na manutenc¸ão dopeso corporale na prevenc¸ão daobesidade(Townsend etal.,2008).Aobesidadepodecausarelevac¸ãocrônicada pressão intra-abdominal, enfraquecimento das estruturas desuportepélvicoe,consequentemente,aumentamorisco para desenvolver incontinência urinária (IU) (Townsend etal.,2008).Assim,apráticadeatividadefísicamoderada
em longo prazo pode reduzir o risco de desenvolver IU, especialmentedeesforc¸o,pormeiodamanutenc¸ãodopeso corporal(Bø,2004).
Embora os níveis elevados de atividade física, como em atletas de elite, possam induzir à incontinência em algumas mulheres, questiona-se a respeito dos efeitos da atividadefísicamoderadasobreafunc¸ãodoassoalhopélvico (Townsend etal., 2008).Foi demonstrado que em mulhe-res nulíparas, com sintomas de incontinência urinária de esforc¸o,oexercíciofísicointenso(90minutosintervalado) origina uma reduc¸ão da pressão da contrac¸ão da muscu-latura doassoalhopélvico,com consequentefadiga dessa musculatura(Reeetal.,2007).
Os estudos que relacionam a func¸ão do assoalho pél-vico com o exercício físico sãocontraditórios (Bø, 2004). Enquantoparaamaioriadosmúsculosdecontrolevoluntário docorpohumanoexistempadrõesesperadosde funcionali-dade(Quartlyetal.,2010),poucosesabesobreafunc¸ãodos músculosdoassoalhopélvico(AP)emmulheressem incon-tinênciaurinária.Contudo,autores afirmamque mulheres continentes apresentam maior forc¸a e resistência dessa musculaturaquandocomparadascommulheres incontinen-tes(Thompsonetal.,2006).
forma,amusculaturadoassoalhopélvicoexercepapelna estabilizac¸ão pélvico-lombardurante asatividades funcio-nais(Sapsford,2004),temfunc¸ão sinérgicaà musculatura abdominal (Sapsford et al., 2001). Os eventos que ocor-remduranteavidadamulher,comoagravidez,oparto,o aumentodepeso,amenopausaeoenvelhecimento,acabam porafetaraforc¸adosmúsculosdoassoalhopélvicoeoutras estruturas que dãosuporte aos órgãos pélvicos(Phillipse Monga,2005).Diantedessecontexto,oobjetivofoi verifi-cararelac¸ãoentreamedidasubjetivadecapacidadefísica eafunc¸ãodamusculaturadoassoalhopélvicoemmulheres adultasecontrolaridade,IMCeparidade.
Material
e
métodos
Estudo transversal do tipo descritivo correlacional feito junto à unidade de referência no Combate ao Câncer de Florianópolis,SC,Brasil.FoiaprovadopeloComitêdeÉtica em PesquisadaUniversidadedoEstado deSanta Catarina (n◦.156/2010)eseguiuoscritériosdaresoluc¸ãodoConselho
NacionaldeSaúde169/1996.
Amostra
Participaram 269 mulheres maiores de 18 anos, não ges-tantes e que procuravam a unidade para o exame de rastreamento do câncer de colo uterino de novembro de 2010 a dezembro de 2011. A idade das participantes nãofoi delimitada, umavez queo objetivo doestudo foi identificaroperfildasmulheresadultasquefrequentavam essecentrodereferênciaem Florianópolis,semhora mar-cada,paratalexamenastardesdequintafeira,diaemque havia espac¸o disponívelna instituic¸ão para asavaliac¸ões. Foramexcluídasasgestantes,mulherescomidadeinferiora 18anos,comdoenc¸asquecomprometessemadeambulac¸ão ouneurológicas.Dadoqueforamavaliadastodasas mulhe-resqueaceitavamparticipardoestudoequefrequentaram ainstituic¸ãonodiadascoletaseperíododerealizac¸ãodo estudo,nãofoiefetuadocálculoamostral.
Procedimentos
Asparticipantesforamabordadascoletivamentenasalade espera, onde foram apresentados a proposta e os proce-dimentos da pesquisa e, com auxílio de um painel com elementos gráficos, explicavam-se os procedimentos da coleta.Aseguir,cada mulherfoiavaliadaindividualmente pormeiodaescaladecapacidadepercebidaedaavaliac¸ão funcionaldoAP.
Paraverificaracapacidadepercebidaaplicou-seaEscala de Capacidade Percebida (Rating of Perceived Capacity), desenvolvida por Wisén, Farazdaghi e Wohlfart (2002) e validadanoBrasilporMaranhãoNetoetal.(2008),que apre-sentounotestee reteste umcoeficiente deconcordância linearde 0,78(0,55-1,00) e umcoeficiente decorrelac¸ão interclassesde0,8(0,50-0,93).Essaescalaécompostapor umalistadeatividades emque oparticipanteselecionao queécapazdefazerporumperíodomínimode30minutos (fig.1).Foiescolhidaporserrecomendadaemsituac¸õesde
Qual dessas atividades você consegue manter por pelo menos 30 min? 1 Ficar sentado
2
3 Caminhar devagar
4
5Caminhar em um ritmo normal/Pedalar devagar
6
7
8 Correr devagar (“cooper”)/Pedalar
9
10 Correr
11
12 Correr rápido/Pedalar rápido
13
14
15 Correr muito rápido
16
17
18 Realizar treinamento aeróbio para competição (mulheres)
19
20 Realizar treinamento aeróbio para competição (homens)
Figura1 Escaladecapacidadepercebida(MaranhãoNetoet al.,2008).
camponasquaismedidasdiretassãodifíceisdeobter,como nocasodeumambienteclínico.
Como variáveis de controle, foram obtidas medidas antropométricas(massacorporal,altura,circunferênciada cintura),dadosobstétricos (númerode gestac¸ões) e soci-odemográficos (idade, escolaridade e estado marital). As variáveisocorrênciadeepisódiosdeperdadeurinanodiaa diaeduranteapráticadeatividadefísicaforamobtidaspor meiodoautorrelatodasparticipantes,pormeiodas pergun-tascomrespostasdicotômicas:‘‘Vocêcostumaperderurina? Sim/não’’;‘‘Você costuma perder urina ao praticar ativi-dadefísica?Sim/não’’.Taisvariáveis,segundoaliteratura, podemterinfluênciasobreacondic¸ãodoassoalhopélvicoe daaptidãocardiorrespiratória(Caetanoetal.,2007).
Este teste foi feito pelo mesmo examinador em todas asmulheresparticipantes paraevitar divergênciasquanto àclassificac¸ãodaforc¸amuscularperineal.
Análisedosdados
OsdadosforamtabuladosnoprogramaestatísticoSPSS ver-são18.0 e analisados por meiode recursosda estatística descritiva (frequência absoluta e relativa, média e des-viopadrão). Quantoà análiseexploratóriadadistribuic¸ão dos dados, não foi identificada normalidade pelo critério deKolmogorov-Smirnov,adotaram-setestesnão paramétri-cos.Paraanáliseusaram-se acorrelac¸ãodeSpearman eo testedequi-quadradoeadotou-seumníveldesignificância p<0,05.Para interpretac¸ãodoscoeficientesdecorrelac¸ão foi usada a classificac¸ão de Munro (2001) (fraca<0,49; moderada 0,50-0,69; forte 0,70-0,89 e muito forte 0,90-1,00).
Procedeu-se à análise de regressão de Poisson com variância robusta para obtenc¸ão de estimativas brutas e ajustadasdasrazõesdeprevalência,considerandop<0,05. Paraajustedasassociac¸ões,foiconsideradaavariávelidade categorizada(0=até40anos;1=41anosoumais).
Resultados
Aidadedasmulheresvarioude18a76anos,médiade41,3 (dp±13,7). A caracterizac¸ão do grupo quanto à escolari-dadeeaoestadocivilpodeserobservadanatabela1.
Considerando as respostas das mulheres na escala de capacidade percebida, identificou-se que a maioria delas (70,2%) referiu conseguir manter apenas uma caminhada pelotempode30minutos.Aescaladecapacidade perce-bidafoidicotomizadaem(1a7=capazesdefazersomente caminhadapor30minutos;8a18=capazesdepelomenos correrdevagarpor30minutos).Foiencontradaassociac¸ão (X2=4,8; gl=1; p=0,031) entre a escala de capacidade
percebidadicotomizada e autorrelato de perdas deurina durante prática de atividade física. Porém, as maiores proporc¸õesdeperdasduranteaatividadefísicaaconteciam nasmulheres quereferiamconseguirapenascaminharpor 30minutos.
Quanto à func¸ão do assoalho pélvico, uma pequena proporc¸ão de mulheres (4,1%) não conseguiu fazer a contrac¸ão,enquanto46,9%delastinhamcontrac¸ãoobjetiva fracadamusculaturae49,2%tinhamcontrac¸ãomaisforte. Aproximadamente40%dasmulheresreferiramjáter apre-sentadopelomenosumepisódiodeperdaurinária,16%delas asentiramduranteapráticadeatividadesfísicas.
A func¸ão da musculatura do assoalho pélvico esteve correlacionada com a escala de capacidade percebida (rho=0,224;p<0,05), idade(rho=---0,153;p<0,05), esco-laridade (rho=0,17; p<0,05),número degestac¸ões(rho= ---0,156; p<0,05), circunferência da cintura (rho=---0,167; p<0,05)eMC(rho=---0,345;p<0,001).Taiscorrelac¸ões indi-camquequantomelhorafunc¸ãodamusculaturadoassoalho pélvico, melhor a capacidade física percebida e maior a escolaridade das mulheres. Enquanto que quanto melhor afunc¸ãodoassoalhopélvico,menoreseraaidade,onúmero degestac¸õeseacircunferênciadacintura.
Com o objetivo de controlar a possível influência da idade,paridadeesobrepeso/obesidadenacorrelac¸ãoentre acapacidadefísicaeafunc¸ãodamusculaturadoassoalho pélvico,procedeu-seaumaanálisedecorrelac¸ãoentretais variáveisemduascategoriasdeidade:idademenorouigual a 40 anos e idade maiordoque 40 anos. Foi identificada correlac¸ão significativa entre func¸ão do AP e capacidade físicapercebidaapenasnogrupodemulheresmaisjovens ---comaté40anos(rho=0,305;p<0,001).
A fim de compreender melhor essas associac¸ões, procedeu-seaumaanálisederegressãodePoissonbrutae ajustadapelaidade(tabela2).Naanálisebruta,estiveram associadosaumamelhorfunc¸ãodamusculaturadoassoalho pélvico uma melhor aptidão cardiorrespiratória percebida (conseguircorrer por30minutos),nãoapresentarqueixas deperdasdeurinanodiaadiaeduranteapráticade ati-vidadefísica.Essasassociac¸õespermanecerammesmoapós ajustepelaidade.
Discussão
Arelevânciadesteestudoestánofatodeapresentardados da populac¸ão feminina em geral. Foi observado que pou-casmulheres(29,8%)referiramconseguircorrerdevagarpor 30minutos,issorefleteapoucaaptidãocardiorrespiratória e,indiretamente,demonstraapoucapráticadeatividade física(Krauseetal.,2007).Abaixacapacidadedoorganismo deusarometabolismooxidativonaproduc¸ãodeenergia ---baixaaptidãocardiorrespiratória---estárelacionadacomo desenvolvimentodedoenc¸ascrônicasdegenerativas,como aincontinênciaurinária,quepodeserconsequênciada fra-queza dos músculos do assoalho pélvico (Barbosa et al., 2008).
Quanto à func¸ão do assoalho pélvico, uma pequena proporc¸ão de mulheres (4,1%) não conseguiu fazer a contrac¸ão conforme a instruc¸ão e 46,9% delas tinham contrac¸ão objetivafraca. Estudo feitonos EUA, queusou outraescalademensurac¸ãodamusculaturadoAP, identi-ficouque24%dasmulheres nãoconseguiram contrairessa musculatura(7%efetuavamvalsalvae15%contraíamapenas osmúsculosacessórios,istoé:abdominais,glúteose aduto-resdacoxa)e9%nãoconseguirammanteracontrac¸ãopor maisdetrêssegundos(Moenetal.,2007).
Tantoo presenteestudo comoo deMoen etal. (2007)
foramfeitoscommulheresdapopulac¸ãoemgeralqueiam fazer exame ginecológico de rotina ou de rastreamento deproblemas nocolo uterino.Ambosos estudos apresen-tamdadosapontandoquemuitasmulherestêmdificuldades para contrairadequadamente o AP.A ativac¸ão da muscu-laturadoAPérequeridaduranteatividadesquerequerem aumentodapressãointra-abdominal,tempapelimportante na estabilizac¸ão do tronco durante atividades funcionais (Sapsford,2004).
Tabela1 Descric¸ãodasparticipantesquantoaestadomarital,escolaridade,capacidadefísicapercebida,func¸ãodoassoalho pélvicoeperdasurinárias(n=269)
Variáveis n %
Faixaetária
Menorouiguala40anos 138 51,5
Maiorouiguala41anos 131 48,5
Estadomaritala
Casada 168 62,6
Solteira 66 24,6
Separada/Divorciada 23 8,6
Viúva 11 4,2
Escolaridadea
EnsinoFundamental 94 34,9
EnsinoMédio 19 44,2
EnsinoSuperior 51 18,9
Capacidadefísicapercebida
Caminhardevagar(3e4) 20 7,5
Caminharnumritmonormal(5) 66 24,4
Caminharmaisrápido(6e7) 103 38,3
Correrdevagar/pedalar(8e9) 47 17,3
Correr(10a18) 33 12,5
Func¸ãodoassoalhopélvico
Grau0(semfunc¸ãoperinealobjetiva,nemmesmoàpalpac¸ão) 11 4,1
Grau1(func¸ãoperinealobjetivaausente,contrac¸ãoreconhecívelsomente
àpalpac¸ão)
60 22,4
Grau2(func¸ãoperinealobjetivadébil,contrac¸ãoreconhecívelàpalpac¸ão) 66 24,5
Grau3(func¸ãoperinealobjetivapresenteeresistênciaopositoranãomantida
maisdoquecincosegundosàpalpac¸ão)
60 22,4
Grau4(func¸ãoperinealobjetivapresenteeresistênciaopositoramantidamais
doquecincosegundosàpalpac¸ão)
72 26,8
Autorrelatodeepisódiosdeperdasurinárias 102 37,9
Autorrelatodeepisódiosdeperdasurináriasdurantepráticadeatividadesfísicas 44 16,4
Classificac¸ãoIMCa
Normal/magreza 93 56,7
Sobrepeso 48 29,3
Obesidade 23 14
Paridadea
Nulípara 58 32,4
Primípara 36 13,4
Multípara 85 47,5
Costumavamperderurina 102 37,9
Costumavamperderurinaduranteatividadesfísicas 44 16,4
a Usadaporcentagemválidaemfunc¸ãodosdadosfaltantes(missingcases).
sãonecessáriasparaatividadesdevidadiária.Alémdisso, osmúsculos doassoalho pélvicoapresentam, majoritaria-mente,fibrasdecontrac¸ãolentaoxidativa(Corton, 2009), oquejustificaacorrelac¸ãoexistenteentreafunc¸ãodessa musculaturaeaaptidãocardiorrespiratóriapercebida.Uma melhor aptidão cardiorrespiratóriaaumenta o débito car-díaco e eleva o fluxo sanguíneo muscular, o que, por sua vez,aumentaoconsumodeoxigênio(Robergsetal.,2002). Adicionalmente, foiverificada associac¸ão entremelhor func¸ão damusculaturadoAP enãoapresentarqueixas de episódiosdeperdasdeurina(nodiaadiaedurantea prá-ticadeatividadefísica).SegundoBernardes etal. (2000),
umassoalhopélvicocomfunc¸ãomusculardeficienteou ina-dequadaéumpreditorparaaocorrênciadaIU.SegundoBø (2004),simultaneamente ao aumentoda pressão abdomi-nalduranteoexercíciofísicoocorreumacontrac¸ãoreflexa dosmúsculosdoassoalhopélvico.Assim,orecrutamentoda musculaturaabdominal regularmente poderia aumentar o volumedosmúsculosdoassoalhopélvico,torná-loscapazes decontrairduranteoaumentodapressãointra-abdominal (Reeetal.,2007).
Tabela2 Variáveisassociadasàmelhorfunc¸ãodosmúsculosdoassoalhopélvicoemmulheres(n=269)
Variáveis Func¸ãodoassoalhopélvico RegressãodePoisson
Melhora
(n=130)
n(%)
Piorb
(n=139)
n(%)
Análise bruta
RP(IC)
Análiseajustada
poridade
RP(IC)
Escaladecapacidadepercebida
Conseguiamapenascaminharpor30min. 76(40,2) 113(59,8) 1 1
Conseguiamcorrerpor30min. 54(67,5) 26(32,5) 1,68(1,33-2,11) 1,63(1,27-2,09)
p<0,001 p=0,001
Perdasurina
Sim 35(34,3) 67(65,7) 1 1
Não 95(56,9) 72(43,1) 1,66(1,23-2,24) 1,60(1,17-2,19)
p=0,001 p=0,003
Perdasdeurinanaatividadefísica
Sim 13(29,5) 31(70,5) 1 1
Não 117(52) 108(48) 1,76(1,10-2,82) 1,69(1,05-2,72)
p=0,019 p=0,031
RP,razãodeprevalência;IC,intervalodeconfianc¸a.
aEquivalenteavaloresnaescaladeOrtizde0a2(Grau0:semfunc¸ãoperinealobjetiva,nemmesmoàpalpac¸ão;Grau1:func¸ão perinealobjetivaausente,reconhecidasomenteàpalpac¸ão;Grau2:func¸ãoperinealobjetivadébil,reconhecidaàpalpac¸ão).
b EquivalenteavaloresnaescaladeOrtizde3a4(Grau3:func¸ãoperinealobjetivaeresistênciaopositora,nãomantidaàpalpac¸ão; eGrau4:func¸ãoperinealobjetivaeresistênciaopositoramantidaàpalpac¸ãopormaisde5segundos).
exercícios de alto impacto, tais como correr e saltar. Os autores acreditam que isso gere um maior aumento da pressãointra-abdominal,comparadoàsoutrasmodalidades esportivas. Infelizmente a mensurac¸ão da intensidade do esforc¸onãofoi feita,assim comoa associac¸ão dotipode exercíciofísico.
A idade é um fator importante quando se refere à forc¸adoassoalhopélvico(Trowbridgeetal.,2007;Norton, 1993).O presenteestudo encontrouque quantomelhor a func¸ãodoassoalhopélvico,menor eraaidadedas mulhe-res.Trowbridgeetal.(2007),aoavaliarmulheresnulíparas entre21e70anos,identificaramqueapressãomáximade fechamento uretral foi 40% melhor nas mulheres jovens. Não existe na literatura uma padronizac¸ão de qual seria a func¸ão muscular normal do AP para mulheres levando--seemconsiderac¸ãooestratoetário.Osestudossalientam, semespecificidade, apenasa diminuic¸ão daforc¸a muscu-lardoAPesuarelac¸ãocomaIU (MoreiraeArruda,2010).
Norton(1993)observouquenasmulheresmaisvelhasocorre areduc¸ãodecolágenonosmúsculospélvicosenasfáscias, oquefavorecediminuic¸ãodaelasticidadee, portanto,da forc¸amuscular.
Foiobservadacorrelac¸ãopositivaentreafunc¸ãodoAPe onúmerodegestac¸ões.Deacordocomaliteratura,a gravi-deze a via departo sãofatoresderisco paradiminuic¸ão da forc¸a muscular perineal, pois provocam mudanc¸as na posic¸ãoanatômicadapélvis,naformadamusculatura pél-vica e noperíneo (Bump e Norton, 1998; Dolan e Hilton, 2010). Em relac¸ão à funcionalidade da musculatura pél-vicaeonúmerodepartosnormais, pôde-seconstatarque conformeaumentaonúmerodepartososmúsculosdoAP deteriorizam-se(Barbosaetal.,2005).
O presente estudo encontrou que quantomenor a cir-cunferência da cintura e o IMC, melhor a func¸ão do assoalho pélvico. Foi demonstrado que a análise isolada
da circunferência da cintura é um importante preditor para incontinência urinária em mulheres idosas. Assim, a obesidade é comumente encontrada em mulheres com incontinênciaurinária(BumpeNorton,1998).SegundoSilva
etal.(2011),amenorforc¸adecontrac¸ãoemenor resistên-ciado assoalhopélvico encontrada nogrupo de mulheres obesas sugere que o IMC acimade 30 contribui parauma deficienterespostadessasunidadesmusculares.
Conclusão
Osdadosapontamumaassociac¸ãoentreafunc¸ãoda muscu-laturadoassoalhopélvicoeacapacidadefísicapercebida, mesmoapósajustepelaidade.Odesenhodesteestudonão nos permiteinferir causalidade.Seriam necessários novos estudos experimentais com mulheres jovens --- saudáveis, com peso normal e nulíparas --- para investigar melhor o efeitodapráticadeatividadefísica---consequentes melho-riadapercepc¸ãocorporalecondicionamentofísicogeral ---na func¸ãodamusculaturadoassoalhopélvico.Ouaindase umamusculaturadoassoalhopélvicomaisfortefacilitaria atividadesfísicasmaisintensas.
Apartirdesteestudopreliminar, sugere-seque na prá-ticadotreinamentofísicosejamrecomendados exercícios específicosdefortalecimentodoassoalhopélvicoecontrole postural,comprofissionalespecializado,principalmentenas mulheres que desenvolvem atividades de impacto e que aumentam continuamente a pressão intra-abdominal. Tal trabalho incluinão somente o treino de forc¸a e resistên-cia, mastambém a questão docontrole motor durante a estabilizac¸ãolombo-pélvicaanteseduranteoexercício.
comomelhoraráapercepc¸ãocorporalduranteapráticade exercício.
Financiamento
EstetrabalhocontoucomauxíliofinanceirodaUniversidade doEstadodeSantaCatarinaparacusteiodematerialede umabolsadeiniciac¸ãocientíficaparagraduac¸ão.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
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