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Montes Claros/MG - Novembro/2015

Letícia Aparecida Rocha

Ricardo Wilame Santana de Almeida

Psicologia da

Religião

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2015

Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES

Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214

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Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes Fernando Guilherme Veloso Queiroz

Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos

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Admilson Eustáquio Prates Doutorando em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Mestre em Ciências da Religião pela PUC/SP. Especialista em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Especialista em Bioética pela Universidade Federal de Lavras. Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia de Goiás – Câmpus Formosa/GO. Professor no departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes (2004-2014). Coordenador do Grupo de Extensão Filosofia na Sala de Aula – Pró-Reitoria de Extensão/Unimontes (2004-2014). Autor dos seguintes livros: Sala de Espelhos: inquietações filosóficas; e Exu, a esfera metamórfica (publicados pela Editora Unimontes); organizador dos seguintes livros: O fazer Filosófico; Filosofia: educação infantil ao ensino médio; e Temas e estratégias desenvolvidas em sala de aula, também publicados por Editora Unimontes. Harlen Cardoso Divino Pós-Graduado em Ciência da Religião pela Faculdade de Educação e Tecnologia da Região Missioneira (FETREMIS). Pós-Graduado em Didática e Metodologia do Ensino Superior e Graduado em Ciências da Religião pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Graduando-se em Pedagogia pela Universidade de Uberaba (UNIUBE). Formação complementar em Docência e Tutoria para EAD pelo CEAD/ Unimontes. Professor Conteudista e Pesquisador na Universidade Aberta do Brasil atuando como Docente Formador do Departamento de Filosofia no Curso de Ciências da Religião UAB/Unimontes. Professor de Ensino Religioso na Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer de Janaúba-MG (efetivo). Colaborador no Projeto de Inventário para fins de Salvaguarda e de Proteção do Patrimônio Cultural no Vale do Rio São Francisco – pelo Núcleo de História e Cultura Regional (NUHICRE/

Unimontes) e Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA-MG). Egresso do Programa de Educação Tutorial em Ciências da Religião (PETCRE/Unimontes). Letícia Aparecida Rocha Especialista em Neuropsicologia Educacional e Ciências da Religião. Graduada em

Ciências da Religião pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Professora de Educação Religiosa na Educação Básica. Professora formadora e conteudista UAB/Unimontes. Ricardo Wilame Santana de Almeida Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES) e em Ciências da Religião pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Graduado em Didática e Metodologia do Ensino Superior (Unimontes). Pós-Graduado em Ensino da Sociologia pelo Centro Universitário Campos de Andrade (UNIANDRADE) e Pós-Graduado em Ciências da Religião pela Faculdade de Educação e Tecnologia da Região Missioneira (FETREMIS). Atualmente Docente Formador do Departamento de Filosofia no Curso de Ciências da Religião pelo (CEAD - UAB/ Unimontes), e Professor de Sociologia, e Ensino Religioso na Secretaria de Educação de Minas Gerais.

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Sumário

Apresentação. . . .9

Unidade 1 . . . .11

Os Primórdios da Psicologia Científica e da Psicologia da Religião . . . .11

1.1 Introdução . . . .11

1.2 O Início da Psicologia Científica. . . .12

1.3 O Nascimento da Psicologia da Religião. . . .14

1.4 Teorias Psicológicas de Freud e Jung. . . .17

Referências. . . .20

Unidade 2 . . . .23

Aportes Teóricos da Psicologia: Experiência Religiosa . . . 23

2.1 Introdução. . . 23

2.2 Teorias Psicológicas sobre Experiência Religiosa: Abordagem de William James . . 23

2.3 A “Essência” da Experiência Religiosa de Karl Giergensohn: Abordagem “Introspeccionista” . . . .24

2.4 O Aspecto Intelectual da Experiência Religiosa, a Abordagem “Ideográfica” em Allport . . . 25

2.5 Abordagem de André Godin . . . .27

2.6 Clássicos: Estudos Psicológicos da Experiência Religiosa. . . .28

2.7 Instituições de Ensino da Psicologia e seus Estudos sobre a Religiosidade no Brasil . .29 Referências. . . .31

Unidade 3 . . . .33

Experiências Religiosas: Vertente Cultural e Psicológica . . . .33

3.1 Introdução. . . .33

3.2 Transe, Êxtase e Possessão . . . 34

3.3 Psicologia e Religião: Fundamentalismo Religioso . . . .37

Referências. . . 40

Resumo. . . .41

Referências Básicas, Complementares e Suplementares . . . .43

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Apresentação

Admilson Eustáquio Prates Prezado(a)s acadêmico(a)s, este material de Psicologia da Religião tem como proposta ini-cial compor o arsenal teórico acerca do fenômeno religioso. Nós sabemos que para estudar o fenômeno religioso é necessário entender a pisque humana e como essa categoria interfere e é influenciada pela cultura religiosa.

Dessa maneira, o material inicia-se apresentando a origem da Psicologia da Religião e al-guns de seus teóricos clássicos, como Freud e Jung. Antes da exposição sobre a psicanálise e so-bre a psicologia analítica, faz-se um soso-brevoo em torno de Wilhelm Wundt, William James, Erich Fromm, Erik Erikson, Viktor Frankl.

Na sequência do material será discutida a categoria primordial que envolve o fenômeno re-ligioso: a experiência religiosa. Esta, por sua vez, será refletida sobre a luz das teorias psicológicas referente a William James, Karl Giergensohn, Gordon Willard Allport e André Godin. Os teóricos serão apresentados de forma breve, mas sabemos que há muito o se que discutir sobre eles com relação às experiências religiosas.

A próxima temática refere-se à dimensão do êxtase, transe, possessão. Para tanto, o autor discorre sobre o conceito de experiência religiosa e apresenta a diferença e as características de êxtase, transe, possessão. Nesse tópico do material é exposto também apontamentos sobre o fundamentalismo religioso, culpa e maturidade religiosa.

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UniDADE 1

Os Primórdios da Psicologia

Científica e da Psicologia da

Religião

Letícia Aparecida Rocha

1.1 Introdução

Prezado acadêmico, esta unidade tem como objetivo principal fornecer elementos concer-nentes acerca do surgimento e desenvolvimento da Psicologia Científica e da Psicologia da Re-ligião. O estudo sobre o surgimento da Psicologia Científica, apesar de não ser o nosso objetivo, será importante para a compreensão do nosso tema central, a Psicologia da Religião. Este estudo possibilitará a você ter um conhecimento da Psicologia da Religião, subdisciplina que compõe o arcabouço da Ciência da Religião.

Façamos uma memória rápida do primeiro período do curso, em que estudaram a discipli-na de Introdução à Ciência da Religião e puderam ver e discutir questões atinentes às origens, estatuto epistemológicos, objeto de estudo, as subdisciplinas que envolve essa ciência, entre ou-tros assuntos que você recorda. É sabido que a Ciência da Religião tem como objeto de estudo o fenômeno religioso e suas várias facetas e representações, sobretudo no campo religioso brasi-leiro, que é dinâmico e diverso. Essa ciência possui uma marca multidisciplinar no estudo desse fenômeno, devido a sua abrangência, amplitude e complexidade. Nessa perspectiva, a Ciência da Religião utiliza de outras ciências auxiliares que funcionam como lentes reveladoras no sentido de vislumbrar o fenômeno religioso e ampliar os horizontes, buscando a cientificidade necessária para afastar de convicções pessoais.

Iniciaremos nosso estudo evocando a definição de Psicologia Cientifica, uma vez que a Psi-cologia da Religião é uma vertente dessa área do conhecimento. Munidos das considerações re-ferentes à definição, origens, precursores e outras informações importantes sobre a Psicologia Científica,avançaremos no assunto propriamente dito deste estudo que é a Psicologia da Reli-gião. Faremos as definições necessárias em torno do termo, falaremos em definição e não con-ceito, uma vez que em Psicologia da Religião não se admite uma definição que seja definitiva para a religião. Também, conheceremos alguns autores e suas contribuições que são considera-das importantes na construção desse campo do conhecimento. Para terminar a unidade, vere-mos as teorias psicológicas de Sigmund Freud e Carl Gustav Jung, que foram e continuam sendo demasiadamente difundidas no mundo acadêmico. São as mais conhecidas e estudadas. Dessa forma, não podemos furtar nossa atenção desses dois teóricos. Sabemos que outros estudiosos também dedicaram seus estudos a essa área do conhecimento e com suas teorias deram uma contribuição ímpar ao estudo psicológico da religião, o que será trabalhado na Unidade 2. Por ora e momento, nos deteremos nestes já citados.

Assim entendidos, comecemos nosso itinerário em busca de compreensão dos principais aspectos, concernentes a essa subdisciplina que tem muito a nos dizer e a nos auxiliar na com-preensão do fenômeno religioso nos diversos espaços da sociedade e, também, em meio aos educandos das escolas onde você atuará brevemente.

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1.2 O Início da Psicologia Científica

Até o século XIX, a psicologia estava atrelada a ciência milenar da sabedoria, conhecida como filosofia, considerada uma ciência mãe, visto que se encontra como sustentáculo de to-das as áreas do conhecimento, inclusive da psicologia. Vale lembrar que o mesmo ocorreu com a Ciência da Religião, antes de ser reconhecida como uma disciplina autônoma e acadêmica, tam-bém esteve sob o aparato da filosofia e ainda, da teologia, conquistando autonomia na segunda metade do século XIX. Faremos um breve retrospecto acerca dessa relação que se estabeleceu entre filosofia e psicologia. Acompanhemos!

A psicologia éuma ciência milenar, porém, esteve como serva da filosofia durante todos es-ses períodos, sem força e autonomia. Aparece como tema da filosofia, por isso, nesse momento, torna-se importante um olhar mesmo que breve sobre a filosofia como primeira forma de desen-volvimento do pensamento humano de forma racional, e raiz da psicologia.

Os primeiros filósofos gregos, conforme veremos abaixo, envidavam esforços no sentido de compreender e sistematizar o pensamento acerca da pessoa humana. Para esses filósofos, o ser humano possuía algo além de um corpo com carne e ossos. Dessa forma, dedicavam-se ao estudo da alma, considerando que o ser humano era dotado de alma segundo os primeiros pensamentos da psicologia acerca do ser humano. Parece-nos interessante oferecer o significa-do genuíno da palavra psicologia, para fazer uma breve e necessária digressão pela mitologia. O pensamento mítico perpassou e dominou o universo humano durante vários séculos (X a VII a.C.). O pensamento mítico foi utilizado para explicar as relações entre os seres humanos na so-ciedade, a causa e a razão de existência das coisas, as origens de determinados fatos da natureza e outras ações que as pessoas não alcançavam resposta. Os mitos são formas de explicar e enten-der as realidades e, por meio deles, muitas situações foram elucidadas e muitas gerações apren-deram dessa forma. Queremos com essa explanação afirmar que a palavra psicologia emana da mitologia grega. Os autores Bock, Furtado e Teixeira salientam:

O termo psicologia vem do grego PSYCHÉ, que significa alma, e de logos, que significa razão. A alma ou espírito era concebida como a parte imaterial do ser humano e abarcaria o pensamento, os sentimentos de amor, ódio, a irracionali-dade, o desejo, a sensação e a percepção. O termo alma foi alvo de inúmeras dis-cussões entre as pessoas uma vez que, queriam entender a função e a natureza deste elemento (BOCK; FURTADO E TEIXEIRA, 2008, p.33).

Nessa perspectiva, o significado de alma vai permear o pensamento dos pré-socráticos Ta-les de Mileto, Pitágoras, Heráclito, Parmênides, que são conhecidos assim por precederem o filósofo Sócrates. Esses pensadores concebiam a alma como parte da realidade universal, uma abordagem racional, ou seja, que parte da razão. Seguindo esse raciocínio, a alma universal e a alma humana existem juntas numa relação intrínseca. Com esses pensadores adentramos na esfera da subjetividade humana, no sentido de voltar para o interior e entendimento da alma humana. O filósofo Sócrates avançou nessa discussão com entendimento de que o ser humano difere dos animais, ou seja, os humanos são dotados de razão e essa característica os distingue. Nesse sentido, Sócrates inaugura um caminho de teorização da consciência (BOCK; FURTADO E TEIXEIRA, 2008).

Em Platão, o pensamento acerca da alma alcançou outras definições. Seu pensamento dife-riu dos pré-socráticos e buscou avançar o pensamento de seu mestre Sócrates. Sua teoria inovou a forma de pensar tal questão e perdurou por longos anos, adentrou o pensamento cristão da Idade Média, influenciando os pensadores desse período. Esse filósofo divide o ser humano em corpo e alma. A alma é dotada de supremacia e domínio, é soberana ao corpo, assim, a alma car-rega em si o verdadeiro conhecimento. Para Aristóteles, essas duas realidades não poderiam ser separadas, estariam justapostas. A alma pertence ao corpo, assim como o corpo pertence à alma. Na Idade Média, período de domínio e predomínio do cristianismo, surgem inúmeras correntes filosóficas com ideias diversas, cada uma delas contribuiu sobremaneira para fomentar a discus-são acerca da alma. Mas foram as figuras de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino que se destacaram nessa discussão. Santo Agostinho, como exímio cristão, acreditava que a alma está acima do corpo e de qualquer bem material, da ciência, da moral e também da razão, é a fonte primeira de sentido. Numa outra linha de pensamento, Santo Tomás de Aquino defendia que a alma é única e imortal e tende a voltar para Deus.

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Caros acadêmicos, após falarmos do pensamento defendido na Idade Média sobre a alma, daremos um salto e passaremos para o Renascimento e a Idade Moderna. No Renascimento, dá-se um processo de valorização do ser humano, que passa a ser o centro do saber. Nesse momento surge o filosofo René Descartes que em muito contribuiu para o progresso da psico-logia. Este rompe com as lógicas teológicas até então estabelecidas e alimentadas pelas esfe-ras cristãs. Ele propõe a separação da mente (alma-espírito) e corpo. Ou seja, a parte pensante corresponde à alma. O corpo corresponde à biologia, a matéria. A parte de Deus corresponde à teologia. No pensamento de Descartes encontra-se a valorização da razão como fruto da mo-dernidade. Nesse período, surge a figura de Auguste Comte, que inicia uma corrente filosófica intitulada positivismo, que busca ter um olhar sobre a pessoa partindo do impessoal, da in-dividualidade. O positivismo acredita que o conhecimento está fora do ser humano. Utiliza o fato, o argumento para responder às questões. Esse pensamento influencia todas as formas de conhecimento a partir do século XIX. O conhecimento psicológico é fortemente influenciado pelo positivismo.

Depois dessa breve incursão pela filosofia, a fim de conhecermos os primórdios da ciência psi-cológica, vamos agora entender o processo de re-conhecimento da psicologia como ciência.

A psicologia foi reconhecida como um cam-po do conhecimento científico,na Alemanha no final do século XIX, na cidade Leipzig, com a fi-gura de Wilhelm Wundt (1830-1920), que criou o primeiro laboratório de psicologia, em que se for-maram um grande número de psicólogos. Com a criação desse espaço, a psicologia começa a au-ferir autonomia, é o momento em que conquista seu status de ciência à medida que se afasta da filosofia e assume métodos próprios mais próxi-mos à medicina. Assume seu objeto de estudo, nesse caso, o comportamento humano como objeto de análise. Com o status de ciência na Ale-manha, logo ela se expande por outras partes e chega aos Estados Unidos. E é nesse país que essa ciência encontra berço fértil e os estudos avançam.

Nesse período surgem as primeiras correntes teóricas da psicologia que deram origem a inúmeras teorias que hoje existem nessa área (BOCK; FURTADO E TEIXEIRA, 2008).

Vejamos as primeiras abordagens da psicologia:

• Funcionalismo – essa teoria foi desenvolvida pelo americano William James, como veremos

à frente, teórico importante no estudo e no desenvolvimento da psicologia religião. Consi-derada a primeira das abordagens psicológicas, consiste em entender o que faz o ser huma-no e o porquê o faz. O principio dessa teoria é conhecer o funcionamento do organismo e como se adapta ao meio onde está. A atenção e preocupação dessa abordagem centra-se na consciência e, a partir dela, busca compreender o funcionamento no espaço em que se encontra.

• Estruturalismo - o funcionalismo e o estruturalismo buscam compreender o consciente do

ser humano. Essa abordagem foi iniciada por Wilhelm Wundt, mas foi Titchener quem utili-zou o termo estruturalismo pela primeira vez e o diferenciou do funcionalismo. Os estrutu-ralistas se concentraram emestudar as estruturas elementares da consciência. Em outras pa-lavras, o ser humano é entendido como que constituído por estruturas, isto é, inteligência, percepção e raciocínio.

• Associacionismo - um dos expoentes dessa teoria é Edward L. Thorndike. Essa abordagem

difere das anteriores no sentido de ser a primeira teoria sobre a psicologia da aprendizagem. Para Bock, Furtado e Teixeira (2008, p.42), “o termo associacionismo origina-se da concepção de que a aprendizagem se dá por um processo de associação de ideias”. Acredita-se que a pessoa aprende a partir das ideias mais simples as mais complexas.

Após, essa análise perguntamos a você: qual o objeto de estudo da psicologia?

Se você pensou no ser humano, no seu comportamento, na sua psique, na sua consciência, concordamos com você, estamos falando na subjetividade da pessoa humana.

GLoSSáRio Positivismo: Corrente filosófica criada pelo francês Auguste Comte que sustenta a ideia de unidade de todas as ciências e a aplicação da abordagem cientifica na realidade social huma-na. Ou seja, toda ciência deve ser observável, poder ser verificada pela experiência. (GOL-DENBERG, 2004)

◄ Figura 1: Foto de Wilhelm Wundt. Fonte: Blog Janet Lynn. Disponível em <http:// planetjanetlynn.blogspot. com.br/2011/02/steer-clear -of-religion-and-politics. html>. Acesso em 03 mai. 2015.

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Em outras palavras, a psicologia carrega em si o status de ciência que estuda a subjetividade humana. Nesse sentido, essa ciência se interessa por estudar e conhecer a realidade introspectiva da pessoa e sua relação com o meio. Essa afirmação nos induz a pensar na religião como reali-dade inerente ao ser humano, por isso a psicologia desde os inícios possui uma inclinação por investigar a experiência religiosa. Conforme aponta-nos Rodrigues e Gomes:

Já nos primórdios, a Psicologia encontra interesse no comportamento religioso, considerando-o decorrente dos sentimentos humanos. Wundt vê o comporta-mento religioso destituído de aspectos intelectuais, mas carregado de conteúdo afetivo (RODRIGUES; GOMES, 2013, p.336).

De posse e conhecimento desses dados concernentes, as origens da psicologia científica, convido você, acadêmico, a continuarmos nosso estudo, e conhecer a Psicologia da Religião. Acompanhemos!

1.3 O Nascimento da Psicologia

da Religião

Acima vimos que o precursor da psicologia científica Wilhelm Wundt teve uma participação importante na constituição da Psicologia da Religião.Nos estudos realizados em seu laboratório, ele não se dedicou à análise da experiência religiosa propriamente dita, mas a maneira como ele pensou e vislumbrou o comportamento do ser humano favoreceu o estudo psicológico da reli-gião. Ávila (2007, p.22) menciona que, “para Wundt, a religião tem sua origem em processos emo-cionais, principalmente o medo”. Por isso, o elemento afetivo no entendimento de nosso autor se faz importante no reconhecimento e no estudo da experiência religiosa das pessoas. A afirmação de que o medo é a origem da religião nos leva a entender que a experiência religiosa atravessa diversas etapas até alcançar um nível de compreensão e de maturidade por parte dos seres hu-manos. É importante apresentar a definição de religião defendida por nosso autor Wundt, con-forme nos apresenta Filoramo e Prandi (1999, p.159): “religiões são em sua gênese, como repre-sentações fantásticas projetivas, ligadas a reações psicológicas diante do ambiente externo”. Para ele, as religiões não estão no nível do intelecto, mas do sentimento, por isso o comportamento religioso despertou interesse em seus estudos. Seu empenho em entender o comportamento religioso foi decisivo para instaurar os primeiros estudos da Psicologia da Religião. Seu método com base na Psicologia Científica com seus experimentos mensuráveis foi fundamental para que estudiosos da área da Psicologia da Religião empregassem no estudo do comportamento e da experiência religiosa os mesmos métodos utilizados por esse autor. Vale destacar nessa discus-são que nos estudos da Psicologia da Religião encontram-se todas as tendências que existem na ciência psicológica, criadas por diversos estudiosos em todos os tempos. Cada uma tem sua fun-ção em determinados casos e aspectos tratados.

Dito isso, vamosdefinir e conhecer o objeto de estudo da Psicologia da Religião, que é uma área de conhecimento da Ciência da Religião e também da Psicologia Científica, conforme vimos acima. A Psicologia da Religião carrega em si a interdisciplinaridade, uma vez que busca auxílio de outras ciências, como a filosofia, a sociologia e a teologia para compreender o objeto a qual se dedica. Ela destina-se a apreender a experiência religiosa dos adeptos das tradições religiosas e o que advêm dessa experiência. Também, podemos dizer que é a aplicação da ciência psicoló-gica ao estudo do fenômeno religioso. Vejamos uma definição e a descrição do objeto de estudo da Psicologia da Religião proposto por Rodrigues e Gomes:

A Psicologia da Religião é o estudo do comportamento religioso pela aplicação dos métodos e teorias dessa ciência a este fenômeno, quer pelo aspecto social, quer pelo aspecto individual. Nesse sentido, seu objeto de estudo não se refere à prova da existência ou inexistência de um ser ou de seres supramundanos nos quais se crê, nem se trata da defesa ou crítica de alguma religião ou expressão re-ligiosa específica; antes, é o estudo científico, descritivo e objetivo, do fenômeno religioso no que se refere ao comportamento humano – por excelência, o objeto e trabalho da psicologia (RODRIGUES; GOMES, 2013, p.333).

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Em suma, a Psicologia da Religião funciona como uma lente reveladora no sentido de anali-sar o comportamento e a conduta religiosa em todos os níveis e aspectos possíveis, como forma de entender a experiência religiosa das pessoas inseridas no meio religioso. Chamo a atenção de vocês para o objeto de estudo da Psicologia da Religião: o comportamento religioso ou tudo o que envolve tal conduta é tema de estudo destaárea do conhecimento. Também não tem como parâmetro um “deus ou deuses”, ou ainda a ausência desses seres no substrato das tradições reli-giosas. Os autores afirmam que é um estudo científico do fenômeno religioso, ou seja, é um estu-do destituíestu-do estu-do componente religioso, e a área estu-do conhecimentodo universo científico da Ciên-cia da Religião trabalha com a mesma neutralidade. Embora a Psicologia da Religião tenha surgido no mesmo período em que surgiu a Psicologia Científica, a primeira não possui a mesma relevân-cia e reconhecimento nas academias, devido ao seu objeto ser a experiênrelevân-cia religiosa. Também se aponta como um complicador a variedade de referencial teórico e métodos utilizados que advêm da própria Psicologia Científica. Esses são alguns fatos

que impedem o seu total reconhecimento.

Uma vez definido e esclarecido o objeto de estu-do da Psicologia da Religião e também de conhecer os seus desafios como “ciência jovem”, seguiremos nossa discussão conhecendo outros aspectos da ciência psicológica da religião.

Willian James (1842-1910), psicólogo, filósofo e professor, foi uma figura ímpar nos estudos da Psico-logia da Religião e é considerado um dos seus clás-sicos autores. Veremos brevemente alguns aspectos sobre seu trabalho, pois teremos oportunidade de ver com mais detalhes na próxima unidade, que versará sobre os teóricos.

Para James, a experiência religiosa antecede a crença em determinado ser superior e encontra-se no nível dos afetos. Ávila (2007, p.27) afirma que “no pensamento de James há uma redução da religião ao exclusivamente individual”. As emoções, os

sentimen-tos e os afesentimen-tos possuiriam maior importância do que a crença no pensamento desse autor. Esta tendência de estudar apenas a dimensão individual da pessoa humana se deve a sua própria ex-periência religiosa que Ávila (2007, p.25) define como pessoa “um homem inquieto e instável, de uma personalidade complexa, com tendências depressivas, o que se reflete em seus estudos”. W. James é adepto da corrente filosófica surgida nos finais do século XIX, nos Estados Unidos, deno-minada pragmatismo. Nesse sentido, assinala Hock:

James é considerado um representante do pragmatismo religioso, o que tinha uma influência decisiva sobre o seu conceito psicológico-religioso: segundo ele, a pessoa humana procura insistentemente uma atuação que promova sua vida, e esse fenômeno encontra sua expressão também no meio de processos psico-lógicos inconscientes ou pré-conscientes. Segundo James, a religião está sempre configurada na vida individual e, nesse sentido, é também apenas a religião do individuo, a religião subjetiva, “pessoal”, que pode se tornar objeto da Psicologia da Religião (HOCK, 2010, p.164).

Assim, ele emprega esse método no estudo da religião. Reiteramos que a experiência reli-giosa para James está no âmbito restrito da subjetividade, em seu pensamento não coexiste a ideia de que a religião possui uma dimensão coletiva.

Esse método foi utilizado por James em sua célebre obra As variedades da experiência

re-ligiosa, publicado em 1902. James analisou a experiência religiosa vivida por ele e por outras

pessoas religiosas. Ele presume que essa experiência pode ser benéfica ou patológica, tudo de-pende do nível psicológico do indivíduo em questão. Dados autobiográficos de pessoas cren-tes que, tiveram grandes experiências no âmbito religioso serviram de método para compor seu pensamento nessa obra. Tornou-se uma obra de referência no estudo da Psicologia da Religião.

Prezados acadêmicos, W. James é apenas um dos inúmeros nomes que construíram a histó-ria dessa Psicologia. Ainda encontra-se em construção essa ciência, muitas foram as teohistó-rias cons-truídas, no intuito de analisar o comportamento religioso das pessoas.

Vamos conhecer outros três pensadores contemporâneos que concederam ímpar contribui-ção aos estudos da Psicologia da Religião e que não podemos nos furtar de uma breve análise.

◄ Figura 2: Foto de William James Fonte: Disponível em <http://www.en.wikipedia. org>. Acesso em 11 mai. 2015.

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O alemão Erich Fromm (1900-1980) pertence a uma família judaica. Essa tradição religiosa muito influenciou o seu pensamento. Ele estudou sociologia e psicanálise, e foi um dos psicana-listas que mais se preocupou em entender a natureza humana. Essapreocupação encontra-se explícita em sua vasta obra, e aqui citamos algumas: O medo e a liberdade (1941), Ética e Psi-canálise (1947), PsiPsi-canálise e Religião (1950), A arte de amar (1957). Seu pensamento e estudos estão em sintonia com os de Freud, e alguns estudiosos dizem que Fromm faz uma releitura do pensamento de Freud, porém difere desse autor, pois, no que concerne a religião, seu pensamen-to está imbuído de uma espiritualidade religiosa. A religião para Fromm, segundo nos aponta Ávila (2007, p.59), é um “sistema de pensamento e ação, seja qual for, compartilhado por um gru-po que dá ao indivíduo uma orientação e um objeto de devoção”. Assim, Fromm concebia a reli-gião como um sistema portador de sentido e referência para as pessoas.

Erik Erikson (1902-1994) era também alemão. Estuda as fases da teoria psicanalítica para a formação da personalidade do ser humano. É considerado um dos grandes psicanalistas dos últi-mos tempos. Em certa medida, poder ser chamado de psicanalista freudiano, pois evoca muitas das ideias e pensamentos desse autor, embora divergindo em alguns pontos. Em seu pensamen-to, a vida é entendida como algo dinâmico. Assim, dedica-se de especial forma a analisar a dinâ-mica da adolescência. Ele possui diversos artigos e livros sobre essa temática. O livro Infância e Sociedade (1982) é uma de suas obras mais conhecida e difundida, em que aborda extensamente a dinâmica vivida pelo ser humano, e ainda sinaliza para os oito estágios do desenvolvimento humano. Sobre a religião possui uma atitude crítica, advinda da psicanálise, porém, difere-se de Freud. Vejamos o que nos diz Ávila:

Aceita que a fé religiosa dos indivíduos é vulnerável a distorções patológicas e que as religiões aproveitaram-se da fragilidade humana e geraram intolerância, mas admite também, que em sua forma positiva e ativa é vital para a obtenção do amadurecimento humano (ÁVILA, 2007, p.63).

Viktor Frankl (1905-1997), austríaco, médico psiquiatria e judeu foi alguém que viveu as atrocidades dos campos de concentração nazista, durante a Segunda Guerra Mundial e isto o marcou profundamente, auferiu um modo de olhar a vida, o ser humano e também a religião. Nesses campos perdeu sua mãe, pai, um irmão e outros familiares. Ele mesmo experimentou na carne esse fato, por longos anos, foi prisioneiro e sofreu diversas privações. Os campos de con-centração nazista foram espaços de não reconhecimento do humano como verdadeiramente humano. Frankl saiu do campo de extermínio cheio de rancor e amargura, porém, não perdeu o encanto e a esperança pela vida. Talvez inspirado por essa experiência limite, Frankl cria um mé-todo de terapia chamado Logoterapia, que tem suas bases em elementos espirituais, se relaciona com a religião, uma vez que seu fundador a imbuiu de espiritualidade. Assim, tentou extinguir o abismo entre religião e ciência. Acompanhemos a definição de Logoterapia dado pelo próprio Viktor Frankl:

Uma tradução literal do termo “logoterapia” é “terapia através do sentido”. Na-turalmente poderia ser traduzido também como “cura através do significado”, mas isso implicaria num tom religioso alto demais que não está necessariamente presente na logoterapia. Em todo caso, a logoterapia é uma (psico) terapia no sentido (FRANKL, 2005, p. 13).

Depreendemos que a logoterapia é a terapia do sentido, sentido da vida, é a busca pelo en-tendimento dos “porquês”, relacionados à existência humana. Uma realidade subjetiva que não depende de um meio cultural. Nesse sentido, essa terapia está intrinsecamente relacionada com a filosofia e, por sua vez, com a teologia, pois com um olhar mais apurado percebemos que am-bos se interessam em dar respostas ànatureza humana.

É possível fazermos aqui uma comparação entre o pensamento de Frankl e de seu predeces-sor Freud. Ambos fazem parte do círculo de estudos de Viena e buscavam compreender o sur-gimento e a cura para neuroses. Mas cada um possuía uma visão distinta. Para Freud, a origem destas encontra-se nas desordens e desarmonias dos seres humanos, são causadas por ações in-conscientes. Em contrapartida, Frankl encontra a origem das neuroses na inaptidão de encontrar o sentido da vida.

Citaremos abaixo, algumas das teorias mais recentes no estudo da Psicologia da Religião. Depois, analisaremos as teorias de Freud e Jung. Baseado nos escritos do psicólogo Geraldo Pai-va (2013), apontaremos algumas teorias contemporâneas com o propósito de conhecer as ten-dências futuras no campo da Psicologia da Religião.

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BOX 1

Teorias contemporâneas da Psicologia da Religião

Psicologia narrativa: entende a vida psíquica como uma construção e reconstrução dos

episódios vividos dentro de uma trama, em geral com começo, meio e fim. O sentido, que a maioria das pessoas procura para seu passado, para o presente e para o seu futuro encontra-se na perspectiva dessa psicologia, muito mais no encadeamento de suas experiências do que numa relação de resposta a estímulos ou na expressão de impulsos em conflito. A narração supõe, o mais das vezes, um ouvinte.

Teoria da atribuição de causalidade: lida principalmente com uma especial forma de

unidade cognitiva, a saber, a que estabelece unidade entre os disparatados fenômenos da percepção, graças à relação de causa e efeito. Os acontecimentos físicos e humanos, com efei-to, ocorrem numa profusão tal que, não fosse a espécie dotada de filtros perceptivos, o mun-do humano e físico seria vivimun-do como um caos.

Teoria das representações sociais: proposta por Serge Moscovici, visa entender os

va-lores, ideias e práticas que orientam as pessoas em seu mundo material e social, e lhes possi-bilitam controlar esse mundo e comunicarem-se umas com as outras, por meio de um código de nomeação e classificação dos vários aspectos desse mundo e de sua própria história indivi-dual e grupal. É uma teoria psicossocial e não sociológica.

Psicologia cultural da religião: é uma proposta recente para o estudo psicológico da

re-ligião como fenômeno cultural. Como em qualquer ciência, uma proposta recente enraíza em posições teóricas mais antigas. O destacado proponente contemporâneo dessa perspectiva é Jacob Belzan, da Universidade de Amsterdam.

Fonte: PAIVA, Geraldo Jose de. Teorias contemporâneas da Psicologia da Religião. In: PASSOS, João Décio; USARSKI, Frank. Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas, 2013.

É importante levar em consideração que as tendências recentes se entrelaçam e se interli-gam com as mais antigas, coexistem juntas, por isso se faz necessário um olhar nas teorias atuais, mas também nas outras teorias clássicas. Após conhecermos algumas tendências contemporâ-neas e com vistas ao futuro da ciência Psicológica da Religião, vamos avançar e conhecer nessa última parte da unidade o legado de dois grandes teóricos do estudo da Psicologia da Religião, que são: Sigmund Freud e Carl Gustav Jung.

1.4 Teorias Psicológicas de Freud

e Jung

Para entrarmos nas teorias de Freud e Jung, faremos uma breve incursão pela Psicologia Pro-funda, corrente de estudos de onde advêm os dois autores. Os estudos da Psicologia da Religião receberam uma grande influência e contribuição dessa vertente,intrinsecamente ligada às inves-tigações no campo da psicanálise (é a ciência que visa ao estudo do inconsciente, e seu objeto de estudo é o inconsciente). A psicanálise é ao mesmo tempo um modo particular de tratamento do desequilíbrio mental euma teoria psicológica que se ocupa dos processos mentais inconscientes. Freud é o seu fundador e idealizador. Voltemos à compreensão da psicologia profunda.

A Psicologia Profunda, conforme nos apresenta Ávila (2007, p.31), “defende a existência de uma dimensão inconsciente na personalidade, à qual se dá um papel primordial em sua dinâmi-ca”. Com essa afirmação deduzimos que a Psicologia Profunda lança um olhar às realidades ditas inconscientes, ou seja, alheias a consciência, por exemplo: repressão, sexualidade, complexos e outros. Os estudos empreendidos por essa psicologia foram de fundamental importância para fomentar e alavancar a Psicologia da Religião, uma vez que as abordagens sobre religião e com-portamento religioso se faziam necessárias pelo enfoque psicológico.

Sigmund Freud (1856-1939) nasceu na cidade católica de Friburgo, na Morávia-Tchecoslo-váquia. Havia oito irmãos, sendo ele o mais velho. Casou-se com Martha Bernays e tiveram seis filhos, a última chamada Ana Freud, que se tornou uma grande psicanalista, seguiu os passos do

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pai. Freud foi descendente de judeus, portanto, recebeu instruções e ensinamentos sobre essa tradição religiosa. Embora, conhecido por seu ateísmo e renúncia ao elemento religioso em sua vida, recebeu ensinamentos cristãos e judeus.Graduou-se em medicina e, logo, demonstrou in-teresse pelo campo da psicologia, também transitou pela neuropatologia. Todas essas possibi-lidades e experiências conduziram nosso autor a imiscuir no terreno das neuroses (doença que apresenta variações psíquicas na pessoa, como: depressão, ansiedade, fobias), buscou não so-mente remediar, mas buscar as causas que geram essas doenças. Assim, começa a desenvolver a psicanálise. Os estudos empreendidos por Freud foram de fundamental importância para dar no-vos direcionamentos às concepções acerca da sexualidade humana. Sigmund Freud considerava a sexualidade como base da vida psíquica, sendo assim, defende a sexualidade de forma ampla, não restrita sexo/genital. Freud retira a sexualidade do campo restrito genital para ser parte inte-grante dos afetos e desafetos humanos, numa perspectiva mais ampla da pessoa.

Freudianamente falando, há libido (conceito aplicado por Freud para designar a sensação de prazer) em qualquer atividade praticada pelo ser humano, para além do desejo sexual, como dar aula, correr, dançar, bater papo, em um trabalho braçal, etc.

Essa teoria possibilitou,academicamente, uma ampla visão concernente à sexualidade hu-mana. Assim, a teoria freudiana contribuiu para desmistificar esse imenso continente chamado sexualidade humana, auferiu novos significados às relações humanas, transformou a maneira de ver e conceber o termo em sociedade. A revolução sexual desencadeada em meados do século XX é atribuída aos estudos freudianos.

Seguiremos a partir de agora o pensamento de Freud atinente à religião e sua contribuição no campo da Psicologia da Religião. O assunto religião foi algo que permeou a vida de nosso au-tor, conforme sinalizamos acima. Nesse sentido, escreveu várias obras sobre o tema e cada uma delas aborda determinados aspectos da religião. Citaremos as principais obras: a primeira – TO-TEM E TABU – é considerada uma das suas maiores obras e trata da origem da religião, como o ser humano vê e desvela o universo, e também, o caráter coletivo da culpa que gera a religião segundo a visão freudiana. A segunda – O FUTURO DE UMA ILUSÃO – aborda a função da reli-gião na vida do ser humano. Freud define-a como ilusão, no sentido de oferecer a pessoa conforto diante dos infortúnios provocados pela natureza humana e a vida social. A terceira – O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO – e a anterior são consideradas obras de cunho sociológico, pois Freud analisa a religião tendo em vista a vida das pessoas na sociedade. Nessa obra, traça a origem e a função da religião na cultura atual e os impactos que ela causa sobre a vida humana. A quarta – MOISÉS E O MONOTEÍSMO – foi a última que escreveu antes de morrer e retoma as ideias já escritas em Totem e Tabu. As origens da religião, no entanto, buscam uma análise a partir do judaísmo e, após, no cristianismo. A temática da religião vista como uma neurose permeia esses quatro livros de Freud.

No pensamento de Freud, a religião é uma neurose universal, ou seja, de toda a humanida-de. Essa tese é o fio condutor de todo o seu pensamento e não se afasta do mesmo. Mas vejamos em que consiste a neurose. Podemos definir a neurose como um conflito interior de um indiví-duo, que remete ao recalque. O recalque em Freud conforme, apontado por Palmer:

É um mecanismo por meio do qual a mente impede que a experiência traumática passada ou as emoções a ela associadas passem do inconsciente à consciência. Nesse sentido, o recalque é uma espécie de esquecimento, um tipo de guardião ou de censor que posta diante da porta da consciência, impedindo a entrada na memória das reminiscências que julga dolorosas ou vergonhosas (PALMER, 2001, p.28).

Outro ponto de fundamental importância no pensamento de Freud e que está em conso-nância com o que expomos até o presente momento é a ideia de inconsciente. Recorremos uma vez mais a Palmer (2001) para definir esse termo empregado por Freud.

Para Freud, o inconsciente é, por assim dizer, a parte inferior da consciência: é o campo extensivo e dinâmico da vida mental no qual estão as ideias e lembranças censuradas na mente consciente por meio dos fortes mecanismos do recalque (PALMER, 2001, p.125).

Em Freud, essa realidade é algo que remonta a hereditariedade e depende da experiência da pessoa. Esse ponto, ou seja, o inconsciente foi o aspecto que gerou a ruptura entre Freud e Jung, conforme veremos posteriormente ao falar sobre a teoria de Jung. Para entendermos as questões que foram lançadas se faz necessário, também, um olhar sobre a lenda Complexo de Édipo (lenda grega do rei Édipo, este matou seu pai e casou-se com sua mãe), que consiste na relação entre a ideia de libido no contato entre a criança e seus pais. Veja a lenda no box abaixo:

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Complexo de Édipo

Quando o menino (a partir dos dois ou três anos) entra na fase fálica de seu desenvolvi-mento libidinal, tem sensações agradáveis em seu órgão sexual e aprende a se proporcionar essas sensações à vontade através do estímulo manual. Nessa fase ele fantasia ser o amante da mãe. Ele deseja possuí-la fisicamente, tentando seduzi-la ao mostra-lhe o órgão masculino que tem orgulho de possuir. Sua masculinidade despertada busca tomar o lugar do pai ao lado da mãe; seu pai foi até então, um modelo invejado para o garoto, em decorrência da for-ça física que este percebe nele e da autoridade de que o considera investido. Seu pai torna-se agora um rival que se põe em seu caminho e de quem ele gostaria de se livrar. Se enquanto o pai está ausente, ele puder partilhar o leito da mãe e se, quando do retorno do pai, banido dele, sua satisfação quando o pai desaparece e sua frustração quando ele ressurge são expe-riências profundamente sentidas. Esse é o tema do complexo de Édipo, que a lenda grega tra-duziu do mundo da fantasia de uma criança numa pretensa realidade. Sob as condições de nossa civilização, ele está invariavelmente fadado a um fim assustador.

Fonte: PALMER, Michel. Freud e Jung. Sobre a religião. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

Interessante apresentar tal conto para entendermos que a religião, no pensamento freudia-no, parte da onipotência, da grandeza e também um sentimento de impotência diante da rea-lidade vivida. A teoria freudiana da religião consiste no que apresenta Palmer (2001, p.27), “sig-nificação de um complexo paterno para a origem da religião; o papel da religião na renúncia a prazeres instintuais e no grau até o qual ela proporciona segurança e proteção”. Para Freud, as origens da religião e das neuroses estão no Complexo de Édipo. Em outras palavras, a neurose é a sexualidade reprimida, assim, Freud

acredita que a religião é uma neurose, nes-se nes-sentido, ele nes-sexualiza a religião. Encerra-mos esse exposto sobre Freud concordan-do com a afirmação concedida por Palmer (2001, p.84), acerca da contribuição de Freud no campo da Psicologia da Religião, “a contribuição específica de Freud não está em afirmar que a religião é uma ilusão, mas em localizar a motivação dessa ilusão na história recalcada da primeira infância”.

Carl Gustav Jung nasceu em 26 de ju-lho de 1875, na Suíça, e morreu em 6 de junho de 1961. O ambiente familiar favo-receu para que Jung recebesse sólida for-mação acadêmica e religiosa. Seu pai foi um pastor protestante, sua mãe era filha de um vigário. Dos filhos que tiveram, seis tor-naram-se teólogos. Jung casou-se em 1903 com Emma Rauschenbach.

Em 1907, Jung encontra-se com Freud. Eis que começaram uma parceria que duraria apenas seis anos. Jung foi discípulo das teorias freudianas. Após esse período acaboua parceria por di-vergências de pensamento. Posteriormente, voltaremos na ruptura entre Jung e Freud.

O assunto religião ocupa um lugar importante nas obras de Jung, quase todos os escritos tratam sobre tal temática. Vejamos a declaração de Jung sobre a Psicologia Médica que mostra também a sua percepção com relação à religião. Veremos o que no diz o próprio Jung:

Considero minha tarefa mostrar o que a Psicologia, ou melhor, o ramo da Psi-cologia médica que represento, tem a ver com a religião ou pode dizer sobre a mesma. Visto que a religião constitui, sem dúvida alguma, uma das expressões mais antigas e universais da alma humana, subentende-se que todo o tipo de psicologia que se ocupa da estrutura psicológica da personalidade humana deve pelo menos constatar que a religião, além de ser um fenômeno sociológico ou histórico, é também um assunto importante para grande número de indivíduos (JUNG, 2008, p.7). ◄ Figura 3: Foto de Sigmund Freud. Fonte: Disponível em <http://www.horoscopo-virtual.uol.com.br>. Acesso em 21 mai. 2015.

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Sobre tal afirmativa podemos perceber que a religião para Jung exerce grande importância sobre a vida das pessoas e que a psicologia pode contribuir com elementos que lhe são próprios. Em outras palavras, Jung apresenta um conceito positivo de religião, sua visão é positiva diante do fato religioso. Em outro momento, na mesma obra, Jung (2008, p.10) detecta, “a religião como uma atitude do espírito humano”. Para Jung, o entendimento de religião está além de determinadas confissões religiosas. Em sua essência, são os seres humanos construtores do universo religioso.

Avancemos em outros pontos que são primordiais no pensamento junguiano. Em uma obra intitulada Símbolos da transformação, lançada em 1911, e a outra parte em 1912, decisiva no pen-samento de Jung por inovar o sentido de inconsciente já apontado por Freud, dando nome de inconsciente coletivo, na visão junguiana este significa uma camada mais profunda do incons-ciente. Todos os seres humanos nascem com inconsciente coletivo, não é algo que é possível adquirir no curso da vida. Jung avança nessa discussão sobre o inconsciente coletivo ao apre-sentar os conteúdos próprios do mesmo que concede o nome de arquétipos. Vamos entender o

que Jung quer expressar com esse termo. Para Jung (1961, p.68), “os arquétipos são instintos que podem manifestar-se como fantasias e revelar, muitas vezes, a sua presença apenas através de imagens simbólicas”. As imagens simbólicas a qual se refere Jung é que são os arquétipos. Evocamos essas ideias para o campo das religiões. As religiões são ricas em fornecer imagens simbólicas a seus adeptos. As imagens religiosas, ou seja, os arquétipos considerados sagrados, em certa medida, são construídos coletivamente por seus agentes. Apresentaremos a relação entre Jung e Freud, conforme sinalizamos acima. Nessa questão encontra-se o maior mérito de Jung no estudo concernente à Psicologia da Religião.

Sobre a ruptura entre Freud e Jung, cons-ta na bibliografia sobre ambos que Freud con-siderou Jung seu fiel discípulo, alguém desti-nado a levar a cabo sua obra no futuro. Freud nutriu e estabeleceu em relação a Jung uma interlocução que para muitos soava como possessiva. Jung sentiu que tal relação o privava de independência intelectual e que os sentimentos religiosos latentes em Freud haviam sido pro-jetados em sua teoria da sexualidade. Jung não concordava que a religião poderia ser uma neu-rose, acreditava que a ausência da mesma seria a causa da neurose. A ruptura definitiva entre os dois ocorreu quando Jung publicou aobra Símbolos da transformação. Anteriormente citamos a ideia de inconsciente coletivo que Jung lançou nesse livro que diferia do conceito freudiano. O segundo volume foi fator de desentendimento entre eles, pois Jung volta a rechaçar outro termo utilizado por Freud, e concede outras definições. Dessa vez foi a libido, para Jung, a libido é uma “energia psíquica”, energia, movimento, dinâmica. Ou seja, Jung retira a libido do âmbito estrito sexual e avança em tal ideia. Cada um a seu modo deu significativa contribuição aos estudos da Psicologia da Religião.

Referências

BOCK, Ana Mêrces Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias. Uma

introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.

FILORAMO, Giovanni. PRANDI, Carlo. As Ciências das Religiões. São Paulo: Paulus, 1999.

FRANKL, Viktor E. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. 14. ed. Aparecida: Idéias & Letras, 2005.

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Rio de Janeiro: Imago, 1997. DiCA

Para entender um pou-co mais do pensamento,

da criação da psicanáli-se e também da relação

de Carl Gustav Jung e Sigmund Freud, assista ao filme: Um Método Perigoso.

ATiviDADE Faça um paralelo entre a teoria Freudiana e a teoria Junguiana. Compartilhe no fórum correspondente. Figura 4: Foto de Carl

Gustav Jung Fonte: Disponível em <http://www.oarquetipo. wordpress.com>. Acesso em 21 mai. 2015. ►

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FREUD, Sigmund. Totem e Tabu. São Paulo: Saraiva, 2003.

GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar. Como fazer pesquisa qualitativa em Ciências

So-ciais. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007.

HOCK, Klaus. introdução à Ciência da Religião. São Paulo: Edições Loyola, 2010. JUNG, Carl Gustav. o homem e seus símbolos. Nova Fronteira, 1961.

JUNG, Carl Gustav. Psicologia e Religião. 8. ed. Petropólis: Vozes, 2008.

PAIVA, Geraldo Jose de. Teorias contemporâneas da Psicologia da Religião. In: PASSOS, João Dé-cio; USARSKI, Frank. Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas, 2013.

PALMER, Michel. Freud e Jung. Sobre a religião. Edições Loyola, 2001.

RODRIGUES, Cátia Cilene L. GOMES, Antônio Maspoli de A. Teorias clássicas da Psicologia da Re-ligião. In: PASSOS, João Décio; USARSKI, Frank. Compêndio de Ciência da ReRe-ligião. São Paulo: Paulinas, Paulus, 2013.

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UniDADE 2

Aportes Teóricos da Psicologia:

Experiência Religiosa

Ricardo Wilame Santana de Almeida

2.1 Introdução

Prezado(a) acadêmico(a), nesta unidade serão pontuadas as teorias pragmáticas, introspeccionista, ideográfica e psicanalítica. O objetivo da unidade é o de levá-lo a compreender as relevâncias de teóricos renomados da psicologia, o que vai contribuir para os estudos da Psicologia da Religião. Dessa forma, nosso foco é prepará-lo para aprofundar os estudos relacio-nados ao pragmatismo da experiência religiosa, na qual a psicologia será apresentada como teoria essen-cial para esse estudo. Fecharemos a unidade tendo como principais norteadores os pesquisadores Edênio Vale e Antônio Ávila.

2.2 Teorias

Psicológicas sobre Experiência

Religiosa: Abordagem de William

James

Nessa aula, abordaremos os estudos clássicos, daremos ênfase aos teóricos e suas contribui-ções para os estudos psicológicos. Assim, vamos fazer um breve relato da biografia do norte-ame-ricano William James (1842-1910) que em Harvard trabalhou como professor ensinando fisiologia e filosofia. James deu projeção à filosofia norte-americana ao apresentar o conceito de experiên-cia com uma amplitude que antes não lhe havia sido atribuída pelos estudiosos ingleses.

William James, em suas conferências sobre pragmatismo, faz questão de reiterar que o pragmatismo é “um novo nome para os velhos modos de pensar”. O pragmatismo guarda em sua essência a própria designação que os antigos dão à filosofia, ou seja, uma atividade inte-lectual altamente comprometida com os temas e os problemas concretos da humanidade. Ele é claro e direto ao afirmar que “o modo pragmático de considerar a religião é o mais profundo” (VALLE, 1998, p. 76).

Em 1901 coube a William James dar as prestigiosas conferencia em Gifford em Edimburgo na Escócia, onde na ocasião falou sobre “As variedades da Experiência Religiosa”, escritas por ele em 1902 sendo então publicadas depois em um único volume pela The Modern Library em New York, em 1902. Nessa mesma ocasião, James profere uma palestra sobre a “filosofia”, em que mos-tra a impotência da teologia e do idealismo para dar conta da vida em geral e da experiência

mís-DiCA

É possível dividir a obra de William James em dois momentos: um psicológico (que vai da década de 1870 à de 1890) e outro filosófico (a partir de 1890). O primeiro período tem como marco inicial a criação de um pequeno laboratório de psico-logia em 1875 na Uni-versidade de Harvard; e o seu primeiro curso de psicologia, sobre “As relações entre a fisiologia e a psicologia”. Disponível em <http:// psicologado.com/psi- cologia-geral/historia- da-psicologia/william-james © Psicologado. com>. Acesso em 20 jul. 2015.

◄ Figura 5: Onde religião e psicologia se encontram Fonte: Disponível em <http://www.minutopsi-cologia.com.br/uploads/ posts/91/onde-religiao-e -psicologia-se-encontram. jpg>. Acesso em 18 jul. 2015.

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tica em particular. William James é um dos pioneiros a tratar do assunto da religiosidade na pers-pectiva psicológica.

Segundo Valle (1998), a psicologia, para James, tem três pontos de força principais: o prag-matismo, a atenção dada à emoção individual e a variedade das formas as quais aparecem o (os) comportamento(s) religioso(s).

Edênio Valle (1998) escreve ainda que James era consciente de que a religiosidade não é sempre algo sadio e construtivo em termos de concretude pragmática. Para James (1902), exis-tem anomalias neurofisiológicas e patologias psíquicas que se evidenciam com facilidade em ambientes e em personalidades religiosas. James faz a distinção descrevendo dois tipos de reli-giosidades: a doentia e a saudável.

Do ponto de vista do pesquisador Edênio Valle, a religião é um fenômeno humano universal de valor psicológico e cultural positivo. Ainda conforme o autor, o segundo ponto de força prin-cipal na Psicologia da Religião de James é a emoção Individual como base para a religiosidade.

Edênio Valle (1998) esclarece que James usou materiais de pesquisas para estudar minu-ciosamente casos e depoimentos de pessoas anônimas e de “santos” conhecidos, para chegar à conclusão de que são emoções poderosas que podem transformar por completo os rumores da vida de uma pessoa, o redimensionando inteiramente, de modo imprevisto e rápido, mas, muitas vezes, duradouro.

O terceiro e ultimo ponto de força principal na psicologia de James, “As variedades da ex-periência religiosa”, aborda a exex-periência direta e imediata do religioso, só aí estaria à fonte do conhecimento psicológico da religiosidade humana.

James (1902) teve grandes interesses pelos estudos das religiões, em especial o budismo, religião sem Deus. Ainda de acordo com Valle, todos os psicólogos se encontram, assim, antes um dilema: ou estudam caso por caso, sem a possibilidade de generalizar e comparar o que vai descrevendo, ou, então buscam evidenciar que na multiplicidade de formas existentes são verifi-cáveis alguns núcleos comuns e privilegiados os que permitem certo tipo de generalização.

Mesmo James (1902) sendo bem definido, ou seja, conhecedor do tema em questão, ele foi cauteloso na escolha do seu objeto de pesquisa. Na época, James se empenhou a estudar os fe-nômenos do parapsíquismo, comprovando através de seus estudos fraudes de materiais escritos sobre os fenômenos parapsíquismo.

2.3 A “Essência” da Experiência

Religiosa de Karl Giergensohn:

Abordagem “Introspeccionista”

Karl Giergensonh nasceu em 1875 em Kaarma, Estônia. Depois de um breve período de estudo em Berlim, nos anos 1900 e 1901, Girgensohn concluiu seu doutorado em 1903 na Uni-versidade de Tartu, onde trabalhou como professor de Teologia Sistemática. Após a declaração

de independência da Estônia, em 1918, retorna à universida-de tornando-se professor catedrático e reitor da Faculdauniversida-de universida-de Teologia de Tartu. Entre 1919 e 1922 foi professor na Universi-dade de Greifswald, em 1922, e depois na UniversiUniversi-dade de Lei-pzig, onde morreu em 1925.

Giergensonh, em seus estudos, sofreu influências teóricas de vários outros pensadores, entre eles William James, e, assim como eles, enfatizou o lado místico-subjetivo da experiência. Karl Giergensonh foi um crítico de sua época, ele acreditava ser necessária a distinção entre moral, metafísica e religião. De acordo com Valle (1998), essas três dimensões estabelecem a relação do homem com o absoluto, mas com finalidades dis-tintas e complementares.

Karl Giergensohn, durante um período compreendido en-tre os anos de 1910 a 1920, fez observações sobre a teoria hi-GLoSSáRio

Pragmatismo: Segundo Mauro Junji Araki (2003), pragmatismo é “caracterizado princi-palmente por defender que a verdade deve ter como critério sua efi-cácia ou utilidade. Um conhecimento é

verda-deiro não só quando explica alguma coisa ou um fato, mas, sobretudo quando permite retirar conseqüências práticas e aplicáveis. William Ja-mes (1842-1910) foi um dos principais

represen-tantes dessa corrente filosófica, e em uma sé-rie de oito conferências proferidas entre 1906 e 1907 ele caracteriza o que é o pragmatismo e algumas aplicações dessa teoria. O termo deriva da mesma pala-vra grega prágma, que

significa ação, do qual vêm as nossas palavras “prática” e “prático”. Em filosofia foi introduzida pela primeira vez por Charles Peirce, em 1878.” Disponível em <http:// www.ufscar.br/~bdsep-si/175a>. Acesso em 20 jul. 2015. DiCA O Funcionalismo foi uma consequência lógica da propagação do darwi-nismo e sua doutrina de

“sobrevivência do mais forte.” Psychological

fun-cionalismo sublinhou a importância de técnicas como a inteligência testes, controladas e ex-perimentos para medir a capacidade de animais para aprender e resolver problemas (Galton

expe-riências). Disponível em <http://psicopsi.com/pt/ funcionais-de-william-james/>. Acesso em 20 jul. 2015. Figura 6: K. Girgensohn Fonte Disponível em <https://www.google. com.br/?gws_rd=ssl#- q=imagem+de+K.+Gir-gensohn&spell=1>. Acesso em 07 mai. 2015. ►

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potética postulada por Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher. Segundo Valle (1998), Karl Giergen-sohn via nessa teoria a “essência” da experiência religiosa no sentido de absoluta dependência que o ser humano tem do absoluto. Na Alemanha, Karl Giergensohn dava um conceito especial às fontes históricas e comparativas para chegar à natureza do fenômeno religioso.

Com suas pesquisas durante quase dez anos sobre a essência da experiência religiosa, Karl Giergensohn usou técnicas complexas e sofisticadas de suas observações para chegar aos seus resultados, entre uma delas a da “livre associação” (roteiro composto por textos poéticos, relatos e orações religiosas, como, por exemplo, a oração de São Francisco de Assis, na qual os sujeitos são apresentados e estimulados as suas livres associações).

Com o resultado final de suas observações foi escrito um compêndio de 700 páginas que teve enorme interesse por parte de outros pensadores, mas também foi alvo de muitas críticas. Nas suas pesquisas, Karl Giergensohn identificou três elementos estruturais que comporiam a ex-periência religiosa:

• Em primeiro lugar, existem os “sentimentos”, palavra genérica que designa diversos estados, sensações e instituições coligadas a sentimentos de bem -estar/ou de mal-estar. Conectam-se, também, a “funções do ego”.

• Imagens ou representações, que Karl Giergensohn define como “reprodu-ções de sensa“reprodu-ções físicas experimentadas como evidencias tangíveis”. • Processos da vontade, ou seja, “funções do ego combinadas com a

cons-ciência da liberdade e da autodeterminação direcionadas para um compor-tamento específico” (VALLE, 1998, p. 83).

Outra forma alinhada são os fenômenos que trazem a evidência de que não é provável a fé religiosa e a tomada de costume do ego sem que haja elementos reais de referência na mente e no espírito da pessoa.

Giergensonh foi um pensador de suma relevância pelas suas contribuições para a psicologia e principalmente para os estudos da experiência religiosa.

• Os “sentimentos”, uma palavra compreendida como genérica, ao qual designa vários esta-dos, sensações e intuições, conectada diretamente as funções do ego.

• As “imagens ou representações”, definidas como reproduções de sensações físicas experi-mentadas como evidências que são consideradas tangíveis.

• A “vontade”, esta sendo uma junção combinadas entre as funções do ego junto à consciên-cia da liberdade, chegando assim a um comportamento específico.

Dessa forma, suas observações o levaram a descobrir que o pensamento sistemático é de suma importância para a vida religiosa.

2.4 O Aspecto Intelectual

da Experiência Religiosa, a

Abordagem “Ideográfica” em

Allport

A notória contribuição para a psicologia no campo da pesquisa se dá a partir de Gordon Willard Allport, nascido no ano de 1897 e falecido em 1967. O autor deixou seu legado à psico-logia com a Escala de Allport, definida em seu livro A natureza do preconceito, de 1954. Nesse livro, o pesquisador deixa a fórmula para mensurar a extensão do preconceito numa determi-nada sociedade.

Allport (1954) trouxe uma importante contribuição à teoria motivacional, desvendando a sua natureza dinâmica. Para ele havia uma tendência em acreditar que a motivação seria estática e pouco interativa. Por essa razão, ele criou a teoria da autonomia funcional da motivação, ou seja, pode-se começar um comportamento com apenas uma motivação e, com o passar do tem-po, ainda ter o mesmo comportamento, porém, por razões diferentes das iniciais. Allport (1954)

GLoSSáRio Parapsíquismo: É o sensitivo homem ou mulher que exerce o parapsíquismo ou fa-culdade psicofisiológica parapsíquica de sentir, perceber ou captar a influência direta das dimensões extrafísicas e das consciexes, inclusive das consciências intrafí-sicas projetadas do cor-po humano ou soma. Disponível em <http:// parasinapse.blogspot. com.br/2012/10/parap-siquismo.html>. Acesso em 20 jul. 2015. ATiviDADE Faça uma pesquisa na internet sobre a aborda-gem introspeccionista de Karl Girgenhn, e discuta o resultado da pesquisa com seus cole-gas no fórum desta uni-dade. Obs. Citar a fonte da pesquisa conforme normas da ABNT.

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aplicou conceitos e métodos das ciências sociais para estudos psicológicos e desenvolveu uma teoria original de personalidade, expostos em obras como Personalidade: uma interpretação psi-cológica (1937).

O pesquisador Allport, segundo Valle (1998), é considerado um dos eminentes nomes da psicologia mundial do século XX, em função da sua preocupação com a visão integral da perso-nalidade e do comportamento. Ele discute principalmente o aspecto intelectual da experiência religiosa, e da personalidade e da conduta humana, incluída a religiosa. Segundo Rosa (1971), a religião além de ser experiência tipicamente individual, pessoal e íntima, constitui-se como um fator de integração da personalidade do indivíduo.

Para Allport, a religião além de ser experiência tipicamente individual, pessoal e íntima, constitui-se como um fator de integração da personalidade do indiví-duo. Nesse caso, assim como a personalidade só pode ser encontrada sob a for-ma individual, muito embora seja um fenômeno universal; a religião também se constitui como uma experiência individual, mas ao mesmo tempo universal e por isso mesmo, a ciência precisa estudar o fenômeno religioso (OLIVEIRA, 2010, p. 24).

Allport apresenta a personalidade como uma organização dinâmica de sistemas psicofísicos que determinam o comportamento e o pensamento do indivíduo, referindo assim à singularidade do sujei-to. A personalidade apresenta-se na individualidade, é claro também que o homem é um ser dialético, ou seja, constitui-se nas relações com os outros, possibi-litando, assim, a passagem do singular ao universal no interior de sua própria personalidade.

Uma marca registrada de Allport foi a preocupa-ção como uma visão integral da personalidade e do comportamento. Seu nome está intimamente relacio-nado com o desenvolvimento da psicologia da perso-nalidade, que desde 1920 foi estabelecida como uma disciplina autônoma psicológica.

No trabalho de Gordon Allport tem-se como des-taque a singularidade do comportamento humano in-dividual e crítica à teoria freudiana, ao behaviorismo e às teorias radicais de personalidade baseadas, em gran-de parte, na observação do comportamento animal. Também sublinha a consistência do comportamento e da importância dos determinantes conscientes. Ainda de acordo com Valle (1998), para uma boa compreensão da teoria psicológi-ca da religião de Allport é importante conhecer seu modo de descrever a personalidade, assim como conhecer alguns dos seus conceitos centrais.

• A personalidade é uma organização dinâmica de tendências e caracterís-ticas próprias (traits) parcialmente inconscientes, mas potencialmente di-rigidas aos processos do ego. Sua evolução ideal conduz a uma passagem nem sempre harmoniosa da desorganização à organização emocional in-telectiva e social. A criança é por definição “desorganizada”, egocêntrica, imediatista, inconsciente de seus impulsos, necessidades e motivações de base e, paralelamente, do mundo e das pessoas que a cercam. Isto já não acontece com o adulto que evolui no sentido de suas potencialidades biopsicossociais;

• Allport está interessado, antes de qualquer coisa, em captar o que constitui “o próprio” de cada indivíduo; não o que é comum e sim o que é singular. O objetivo do estudo da personalidade não pode deter-se nas leis gerais e de-terminações “nomotéticas”, ou seja, ao que define característica e diferencia o modo peculiar do ser e do agir de cada um.

O principio da autonomia funcional das motivações é o ponto-chave da teo-ria allportiana sobre personalidade. É a chave também para analise de sua religiosidade. Como se disse acima, a motivação, como a própria personali-dade, não é redutível a pulsões e reflexos orgânicos que tem total domínio do comportamento da criança em suas primeiras fases evolutivas (VALLE, 1998, p. 90-91).

DiCA Como suporte instru-cional faça leitura dos livros: A natureza do preconceito (1995) e Filo-sofia y Psicologia (1968).

Não sendo possível o acesso a essas litera-turas, buscar em sites especializados artigos com esses referenciais.

Figura 7: Gordon Willard Allport Fonte: Disponível em <ht-tps://www.google.com. br/?gws_rd=ssl#q=ima- gem+de+Gordon+Willar-d+Allport>. Acesso em 07 mai. 2015. ►

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