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Consequências naturais são as consequências que acontecem sem a intervenção de ninguém.

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Academic year: 2021

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A Linguagem Secreta da Parentalidade Mia Övén

M

ódulo 5: Comunicação Consciente

CONSEQUÊNCIAS

Utilizamos muitas vezes a palavra consequência em vez da palavra castigo. Diz-se ”Ele tem de sentir as consequências!”. Mas o que é uma consequência mais concretamente?

No fundo existem três tipos de consequências:

1. Consequências naturais. 2. Consequências lógicas. 3. Castigos

Consequências Naturais

Consequências naturais são as consequências que acontecem sem a intervenção de ninguém. Exemplo: O Miguel quer calcar na poça de água, mas está sem galochas.

Consequência natural: O Miguel molha os sapatos e tem de andar com os pés molhados.

Exemplo: A Sara não se quer levantar de manhã para ir a escola. Consequência natural: A Sara vai chegar atrasada.

Exemplo: o João não quer comer à hora do almoço.

Consequência natural: Vai sentir fome antes do lanche.

Para as consequências naturais se poderem transformar em momentos de aprendizagem, temos de evitar salvar a criança. E também temos de evitar emitir comentários como ”Bem te disse que estava frio”, ”Eu avisei que te ias molhar” etc. Em vez disso podemos servir de suporte empático e demonstrar a nossa compaixão, sem resolver a situação e sem criticar.

Ao Miguel podemos dizer:

“Ó pá, ficaste mesmo molhado. Qual a sensação dos pés lá dentro?” À Sara podemos dizer:

“Chegaste atrasada, foi? Mas conseguiste apanhar o segundo autocarro?” Ao João podemos dizer:

“A tua barriga até está a protestar. Tanto barulho! Se calhar podes beber um copo de água para ela aguentar até ao lanche?”

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Existem situações em que nós adultos não podemos deixar as consequências naturais acontecerem. Por exemplo:

• Quando as consequências poderiam ser muito graves (criança corre atrás da bola que atravessa a estrada);

• Quando a consequência irá acontecer passado muito tempo (não quer lavar os dentes, quer muitos doces etc).;

• Quando uma terceira parte será afetada (jogar à bola ao lado das janelas do vizinho, partir os brinquedos de um amigo etc.)

Nestes casos provavelmente será melhor desenvolver consequências lógicas.

Consequências Lógicas

Uma consequência lógica acontece quando alguém intervém na situação e decide qual a consequência que vai haver. Utilizamos este tipo de consequências para ajudar a criança a aprender sobre responsabilidade e a desenvolver a mesma. Uma consequência lógica é uma consequência ligada à situação ou ao comportamento de uma forma lógica. Nunca pode ser uma reação de um adulto zangado e frustrado. Não existe para castigar a criança mas para contribuir para o seu desenvolvimento emocional e comportamental.

É muito importante diferenciar consequências lógicas de castigos.

Consequência lógica

Castigo

Tem ligação lógica ao comportamento/situação

Não tem ligação lógica com o comportamento/situação

Promove responsabilidade Promove obediência

Deixa a criança fazer escolhas de acordo com as suas experiências

A criança fica dependente de outra pessoa para saber o certo e o errado Deixa a criança ser o dono do problema e

da sua solução

Faz a criança ter medo e muitas vezes negar o que fez

Promove contar a verdade. Promove a mentira.

Aumenta a conexão. Desconecta.

Exemplos:

A Rita parte a janela do vizinho:

Consequência lógica: A Rita tem de falar com o vizinho e procurar uma solução Castigo: A Rita não pode ver televisão durante duas semanas.

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O Henrique não quer lavar os dentes:

Consequência lógica: O Henrique não vai poder comer doces nenhuns. Castigo: O Henrique não vai ter história à noite.

A Eva quer ficar a ver televisão durante mais 20 minutos para ver um programa até ao fim: Consequência lógica: Não vai ter história ao deitar.

Castigo: Não vai poder ver mais o programa.

A Ana tem muita dificuldade de se levantar de manhã:

Consequência lógica: A Ana vai ter de se deitar meia hora mais cedo. Castigo: A Ana não vai poder utilizar o computador.

O Rui e o Tiago brincam com o papel higiénico na casa de banho da escola:

Consequência lógica: O Rui e o Tiago vão ter de arrumar e limpar a casa de banho. Castigo: O Rui e o Tiago têm de ficar na sala da Diretora durante a tarde.

Para utilizar consequências lógicas podes seguir os seguintes passos: 1. Pede ajuda à criança.

Arranja um tempo para te poderes sentar com a criança, sem interrupções, sem televisor, telemóvel, jogos, trabalhos de casa etc. Tem de ser um tempo cujo objetivo é ter um diálogo autêntico e honesto. Também é importante ser um momento em que emoções como raiva ou frustração não estejam presentes, nem de uma parte nem da outra. Se não tiveres as condições certas, escolhe outro momento.

A conversa poderia ser assim:

“Inês, eu fico muito stressada com as nossas manhãs e gostava de evitar isso. Parece-me que tens dificuldade em te levantares de manhã. Quando não te levantas e adormeces outra vez, o

que achas que deveríamos fazer?”

Normalmente as crianças conseguem pensar em boas soluções. Deixa a criança pensar e não ajudes no início. A probabilidade de colaboração aumenta muito quando a criança se sente parte do processo e quando a opinião dela também conta e é respeitada.

2. As consequências devem ser lógicas

Será que as consequências têm uma ligação lógica ao comportamento/a situação? (podes ver aqui a diferença entre consequências lógicas e castigos, onde encaixa a consequência escolhida?)

3. Apresenta escolhas que são viáveis para ti

Se desde o início sentires que não vais conseguir deixar a roupa do teu filho espalhada no seu quarto sem a arrumar e lavar, então não apresentes essa alternativa. Se sentires que a hora do

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conto a noite é muito importante para ti e a vossa relação, então não apresentes como consequência retirar a hora do conto.

4. Procurar integrar necessidades

Reflete sobre se consegues integrar a satisfação de uma necessidade forte que a criança têm na consequência lógica. Desta forma reforças emoções positivas e não as negativas (culpa, vergonha, medo- inimigos da auto-estima). A consequência pode ajudar a criança a sentir se importante? A sentir conexão? A sentir mais segurança? A aprender algo novo?

5. Esteja alinhado com o que definiram.

Ou seja, não digas: ”Lembras-te que combinamos que eu só lavava a tua roupa se a pussesses na cesta... sabes, a próxima vez não lavo mesmo.” Perdes a tua credibilidade e vai ser cada vez mais desafiante. Por outro lado podes mudar de ideias, se já não te sentires bem com o que foi decidido podes dizer ”Estive a pensar e acho que não faz sentido...” ou ”Estive a pensar e gostava....”. Mudar de ideias não tem mal nenhum! (ou contrário do que muita gente diz! ;) )

6. Sem expectativas

Procura evitar ter a expectativa de que a criança vai seguir o que foi decidido sem testar a validade/seriedade. Quando a criança testa está a aprender sobre si, sobre ti e sobre o mundo.

7. Segunda oportunidade

Se temos como objetivo o desenvolvimento da responsabilidade temos de deixar as crianças aprenderem com os seus erros. Ou seja, após ter experienciado uma consequência, podemos começar de novo. As emoções e atitudes presentes são amor, compaixão e carinho. Se a criança ”falhar” não precisa de zanga e desilusão.

Se as coisas estiverem a correr bem, comunica isso à criança, não com elogios, mas com feedback genuíno e pessoal. Conta-lhe sobre aquilo de que estás a gostar, descreve o que sentes e conta porquê!

Por exemplo:

“Fiquei mesmo contente hoje quando cheguei a casa e vi que tinhas posto a roupa toda para lavar. Gosto quando as coisas estão mais organizadas.”

“Sinto-me me muito mais tranquila quando utilizas o capacete quando andas de skate. Assim sei que tens a cabeça protegida se caíres.”

“Fico tranquila quando tomas o pequeno-almoço, assim sei que vais ter energia suficiente para aguentar a manhã toda na escola.”

Exemplo pessoal:

Gostaria de partilhar contigo também um exemplo pessoal. Há algum tempo atrás a minha filha de 10 anos perdeu o telemóvel. O meu primeiro impulso era de ralhar e dizer ”bem te disse”. Mas quando observei o desespero da minha filha, voltei rapidamente voltei para o meu centro. O “castigo” emocional que ela já estava a viver era muito grande. E naquele momento a única coisa

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que fiz, foi estar com ela, não era preciso reforçar que eu “tinha razão”, até porque ela sozinha disse ”Ó Mamã… tu tinhas mesmo razão.” Ao que eu respondi: ”Não é uma questão de ter razão ou não, é uma questão de assumirmos responsabilidade por aquilo que acontece na nossa vida.”. Após alguma conversa chegamos à conclusão sobre qual seria a consequência lógica do acontecimento (a consequência natural já foi estar sem telemóvel). Falamos em antecipar uma prenda de Natal, esperar até ao Natal… até chegarmos à conclusão que a minha filha poderia assumir algumas tarefas específicas em casa com quais precisávamos de ajuda, mas que não fazia parte das tarefas normais do dia-a-dia. Chegamos a conclusão que ela iria fazer uma limpeza profunda aos carros e limpar e re-organizar a sala na cave. Esta consequência valeira o dinheiro equivalente para comprar um telemóvel novo. Além de ser uma consequência lógica esta consequência serviu para satisfazer a necessidade de significância e reconhecimento que a minha filha tem. Ou seja, não reforça a sensação de culpa e vergonha que ela já tinha muito forte.

Este tipo de consequência promove uma reflexão sobre a situação, promove a responsabilização, promove a nossa conexão (em vez de quebrá-la).

Referências

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