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PREVENÇÃO E RETIRO. Organização Internacional do Trabalho

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Programa de Prevenção e Eliminação da

Exploração Sexual Comercial de Meninas, Meninos

PREVENÇÃO E RETIRO

COLEÇÃO Boas Práticas e Lições Aprendidas em prevenção e erradicação da exploração sexual comercial (ESC) de meninas, meninos e adolescentes

Organização Internacional do Trabalho

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PREVENÇÃO E RETIRO

Marta Casal Caharrón

Programa de Prevenção e Eliminação da Exploração

Sexual de Meninas, Meninos e Adolescentes

na Tríplice Fronteira (Argentina-Brasil-Paraguai)

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Copyright© Organização Internacional do Trabalho 2005 Primeira Edição 2005

As publicações da Oficina Internacional do Trabalho gozam de proteção dos direitos de propriedade intelectual, em virtude do protocolo 2 anexo à Convenção Universal sobre Direitos do Autor. Não obstante, certos resumos breves destas publicações podem ser reproduzidos sem autorização, com a condição de que se mencione a fonte. Para obter direitos de reprodução ou de tradução deve-se enviar solicitações correspondentes ao Escritório de Publicações (Direitos do Autor e Licenças), Oficina Internacional do Trabalho, CH-1211 Genebra 22, Suíça. Os pedidos serão bem-vindos.

As denominações empregadas, conforme a prática das Nações Unidas, e a forma como se apresentam os dados nas publicações da OIT, não implicam nenhum juízo por parte da Oficina Internacional do Trabalho sobre a condição jurídica de nenhum dos países, zonas ou territórios citados ou de suas autoridades, tampouco à delimitação de suas fronteiras. A responsabilidade das opiniões expressas nos artigos, estudos e outras colaborações assinadas incumbe exclusivamente a seus autores e sua publicação não significa que a OIT as sancione.

As referências a empresas, processos ou produtos comerciais não implicam aprovação alguma pela Oficina Internacional do Trabalho e o fato de não mencionar empresas, processos ou produtos comerciais não implica em nenhuma desaprovação.

As publicações da OIT podem ser obtidas no escritório para o Brasil: Setor de Embaixadas Norte, Lote 35, Brasília - DF, 70800-400, tel.: (61) 2106 4600, nos escritórios locais de vários países, ou solicitando a: Las Flores 275, San Isidro, Lima 27 – Peru. Apartado 14-24, Lima, Peru.

Visite nosso site: www.oit.org.pe/ipec CASAL CAHARRÓN, Marta.

OIT/IPEC. Colecçaõ de boas práticas e lições aprendidas em prevenção e erradicação da exploração sexual comercial (ESC) de meninas, meninos e adolescentes:

PREVENÇÃO E RETIRO.

Asunción: OIT, 2005. 104p. Trabalho infantil, boas práticas, prevenção, exploração sexual, trabalho perigoso, meninos, meni- na, programa de acção, Brasil, Paraguai, Pub OIT. 02.02.1 ISBN: 92-2-817880-9 (Versão impressa)

92-2-817881-7 (Versão Web PDF)

92-2-817890-6 (Colecção completa impressa) 92-2-817891-4 (Colecção completa PDF)

Dados de Catalogação da OIT

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Essa publicação foi financiada pelo Departamento de Trabalho dos Estados Unidos. Essa publicação não reflete, necessariamente, o ponto de vista ou as políticas do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, nem a menção de marcas registradas, produtos comerciais ou organizações implica no respaldo do Governo dos Estados Unidos.

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Programa de Prevenção e Eliminação da Exploração Sexual Comercial de Meninas, Meninos e Adolescentes na Tríplice Fronteira (Argentina – Brasil – Paraguai)

Índice

Apresentação __________________________________________ 7 Siglas utilizadas ________________________________________ 9 Resumo executivo ____________________________________ 11 1. Introdução ______________________________________ 15 2. Objetivos e metodologia ____________________________ 17 2.1. Objetivos e atividades __________________________ 17 2.2. Notas conceituais e metodológicas ________________ 18 2.3. Trabalho de campo ____________________________ 19 2.4. As técnicas de investigação ______________________ 20 2.5. Algumas considerações sobre as limitações

do trabalho de campo __________________________ 20 3. O contexto dos programas de ação ___________________ 23 3.1. O contexto político-institucional __________________ 24

· Paraguai - Ciudad del Este _________________________ 24

· Brasil - Foz do Iguaçu _____________________________ 27 3.2. Manifestações e caracterização da ESC _____________ 29

· Ciudad del Este __________________________________ 30

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· Foz do iguaçu ___________________________________ 33 4. Estratégias e metodologias de retiro,

atenção e prevenção ______________________________ 37 4.1. Descrição dos programas de atenção direta _________ 37

· A estratégia e metodologia de atenção direta em

Ciudad del Este __________________________________ 39

· A estratégia e metodologia de atenção direta

em Foz do Iguaçu ________________________________ 42 5. Modelos de boas práticas ___________________________ 49 5.1. Boas práticas em prevenção _____________________ 50 5.2. Boas práticas em retiro _________________________ 61 5.3. Impactos dos programas de atenção ______________ 77 6. Lições aprendidas _________________________________ 83 7. Conclusões e próximos passos _______________________ 95 Bibliografia ___________________________________________ 97 Anexos _____________________________________________ 101 Anexo I: Documentação do projeto revisado _______________ 101 Anexo II: Atividades do trabalho de campo ________________ 103

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Programa de Prevenção e Eliminação da Exploração Sexual Comercial de Meninas, Meninos e Adolescentes na Tríplice Fronteira (Argentina – Brasil – Paraguai)

Apresentação

O livro que você tem em suas mãos neste momento forma parte de uma série de publicações sobre Lições Aprendidas e Boas Práticas relacionadas com a prevenção e erradicação da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes. Dita série é produto de um projeto do Programa Internacional para a Erradicação do Trabalho Infantil (conhecido pela sigla em inglês IPEC) da Oficina Internacional do Trabalho (OIT), que com financiamento do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos se levou a cabo nas três fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai no período entre setembro de 2001 e outubro de 2005.

Dito projeto resulta da adoção unânime do Convênio 182 da OIT (em 1999) contra as piores formas de trabalho infantil. Este Convênio considera o tráfico de pessoas, o tráfico e a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes como práticas análogas à escravidão e convoca a todos os países membros a que definam medidas urgentes e imediatas para sua proibição e erradicação.

Durante sua execução, o projeto nas três fronteiras recolheu muitas lições aprendidas e boas práticas que servirão aos países membros de ajuda nesta tarefa. Este livro recolhe lições aprendidas e boas práticas relacionadas com as estratégias de prevenção e retiro de crianças e adolescentes da exploração sexual comercial.

Os outros livros na série analisam as lições aprendidas e boas práticas na aplicação da legislação na Argentina e Paraguai, por um lado, e no

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Brasil por outro; e ademais existem estudos feitos sobre lições aprendidas

e boas práticas no campo da sensibilização, fortalecimento institucional e finalmente – a geração de recursos econômicos.

Esperamos que este livro seja de utilidade na luta para prevenir o regulamento de crianças e adolescentes às diferentes modalidades de exploração sexual comercial, à proteção e garantia de direitos às vítimas e à repressão e castigo de seus exploradores, não somente nos três países envolvidos no projeto, como também em outras partes do mundo.

Paraguai setembro 2005

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Programa de Prevenção e Eliminação da Exploração Sexual Comercial de Meninas, Meninos e Adolescentes na Tríplice Fronteira (Argentina – Brasil – Paraguai)

Siglas utilizadas

BP Boas Práticas

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

CAIA Centro de Atenção Integral à Infância e Adolescência CDN Convenção dos Direitos da Criança

CEAPRA Centro de atenção, prevenção e acompanhamento de crianças e adolescentes.

CPI Comissão Parlamentaria de Investigação de Delitos ESC Exploração Sexual Comercial de crianças e adolescentes

EU Estados Unidos

IPEC Programa Internacional para a erradicação do Trabalho Infantil

ITS Infecções de transmissão sexual MEC Ministério de Educação e Culto MERCOSUR Mercado Comum da América do Sul NASA Núcleo de ação solidária à Aids

NU Nações Unidas

OIM Organização Internacional para as Migrações OIT Organização Internacional do trabalho ONG Organização não Governamental

PA Programa de ação (denominação utilizada pela OIT/IPEC para projetos de intervenção direta com crianças e suas famílias)

PETI Programa de erradicação do trabalho infantil

PRODEPA Programa de Alfabetização e Educação Básica de Jovens e Adultos

SCNSA Sociedade Civil Nossa Senhora Aparecida UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

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Programa de Prevenção e Eliminação da Exploração Sexual Comercial de Meninas, Meninos e Adolescentes na Tríplice Fronteira (Argentina – Brasil – Paraguai)

O presente estudo sistematiza as boas práticas e lições aprendidas sobre metodologias de prevenção do recrutamento de crianças e adolescentes na exploração sexual comercial, e sobre retiro e atenção às crianças e adolescentes vítimas desta forma de exploração em Foz do Iguaçu (Brasil) e Ciudad del Este (Paraguai), no contexto do projeto da OIT nesta zona, que se levou a cabo desde 2001 até meados de 2005.

Os programas de ação para a atenção, retiro e prevenção do recrutamento à ESC foi desenvolvido por ONG´s locais que vinham trabalhando no âmbito da proteção e atenção à infância, e por outras criadas para levar adiante estes programas.

Para a elaboração deste relatório se realizou uma revisão da documentação gerada no transcurso dos programas de ação em ambos os contextos, documentação que dá conta dos avanços, dificuldades, aprendizagens e resultados alcançados. A análise desta documentação se complementou com a realização de um trabalho de campo em Ciudad Del Este e Foz do Iguaçu em fevereiro de 2005 no qual se realizaram entrevistas aos profissionais dos programas de ação e a população beneficiária dos mesmos, e no qual se pôde realizar observação direta das atividades levadas a cabo por estes programas.

Neste documento se analisam as boas práticas e lições aprendidas, os resultados e os desafios pendentes, à luz da informação disponível.

Resumo executivo

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Estas análises se fazem em estreita relação aos contextos locais nos

que se desenvolvem os distintos programas, que pese a sua proximidade, apresentam diferenças significativas com respeito às capacidades institucionais e políticas, igual que as características da ESC. Estas diferenças e particularidades geraram evoluções, resultados e boas práticas distintas em cada contexto, o que enriquece muito mais a aprendizagem sobre as estratégias exitosas no combate à exploração sexual comercial.

Com respeito às metas fixadas nos programas, a informação gerada indica o alcance e superação das metas relacionadas com as ações de prevenção de recrutamento à ESC. Neste âmbito não só se superou as metas quantitativas fixadas, mas também se desenvolveu múltiplas e inovadoras estratégias que podem ser replicadas em outros contextos similares. Tanto em Foz do Iguaçu como em Ciudad del Este as ações orientadas à mobilização da comunidade e de atores chave próximos à infância e adolescência constituíram as vias mais efetivas e sustentáveis para a prevenção da ESC. As metodologias aplicadas para isso são descritas e analisadas detalhadamente ao longo do relatório, mas à margem destas se evidencia que a prevenção requer, não só, nem principalmente, trabalhar com as crianças e adolescentes, mas com todos os autores da sociedade civil e do setor governamental responsável de seu bem-estar e proteção.

Com respeito ao retiro da situação de exploração das crianças e adolescentes, as metas quantitativas estabelecidas nos programas não foram satisfeitas em sua totalidade. Isto, no entanto não significa que não se tenham desenvolvido boas práticas neste sentido, mas que obedece em boa parte a complexidade da problemática e a necessidade de aplicar diferentes tipos de estratégias que possam ser efetivas para todos os perfis da população afetadas pelas ESC. Assim, as estratégias e metodologias de retiro iniciadas pelos programas manifestaram que podem ser muito efetivas para um tipo de população vítima de ESC e não para outra. A exploração sexual comercial é uma violação de direitos fundamentais, e também causa e conseqüência de outras muitas carências e negações de direitos que é necessário abordar de forma integral em processo de retiro, o qual o converte em um processo longo e muito complexo. São várias as boas práticas e metodologias identificadas para o retiro da exploração em ambos os contextos: a educação não formal, a educação formal, o desenvolvimento pessoal e fundamentalmente a consolidação de vínculos afetivos. No entanto, seguramente o aporte mais importante da experiência destes programas

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Programa de Prevenção e Eliminação da Exploração Sexual Comercial de Meninas, Meninos e Adolescentes na Tríplice Fronteira (Argentina – Brasil – Paraguai)

ao retiro da exploração sexual são as múltiplas lições aprendidas, fruto do trabalho, a inovação, a criatividade e flexibilidade que se requerem na busca de soluções a esta complexa tarefa.

As lições aprendidas que se sintetizam neste documento se refere às características da exploração sexual e da população vítima; aos aspectos que devem ser levados em conta no momento de desenhar os programas de ação ou no momento de selecionar os e as profissionais que o executarão, assim como cada fase e momento dos processos de retiro e prevenção.

Por último se expõem os passos que devem ser dados para consolidar o caminho iniciado na luta contra a exploração sexual comercial nas três fronteiras. Os programas de ação deram um impulso inquestionável na abertura deste caminho, em visualizar suas potencialidades e os meios mais efetivos para recorrê-lo. No entanto, os seguintes passos deverão de ser dados necessariamente com todos os atores que desde o setor governamental, empresarial e da sociedade civil têm uma potencial chave para chegar ao final deste caminho: a erradicação da exploração sexual comercial da infância e adolescência apela a todos eles.

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Programa de Prevenção e Eliminação da Exploração Sexual Comercial de Meninas, Meninos e Adolescentes na Tríplice Fronteira (Argentina – Brasil – Paraguai)

A área das Três Fronteiras que compreende as cidades de Ciudad del Este (Paraguai), Foz do Iguaçu (Brasil) e Puerto Iguazu (Argentina) se caracteriza por uma forte atividade comercial e turística que gera uma grande mobilidade transfronteiriça de pessoas. Nesta zona se manifestou, através do trabalho de organizações não governamentais que trabalham no âmbito da infância e adolescência, assim como de investigações sociológicas, a existência de uma forte incidência de exploração sexual comercial de crianças e adolescentes em todas suas formas (prostituição, tráfico de pessoas e pornografia infantil). Esta exploração se vê favorecida, entre outros motivos, pela ausência de controle das autoridades competentes nestas fronteiras. Precisamente por este freqüente e elevado movimento de uma cidade a outra, a implementação de um Projeto orientado a combater a exploração sexual comercial, requeria da intervenção integrada e simultânea nos três contextos.

A OIT através do Programa Internacional de Erradicação do Trabalho Infantil (IPEC) dá inicio em 2001 ao Projeto de Prevenção e Eliminação da Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes na s Três Fronteiras Argentina - Brasil - Paraguai. Para isso contou com o financiamento do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos e com instituições públicas e privadas que participaram como contrapartes locais. O Projeto inicia o caminho recorrido em Ciudad del Este e Foz do Iguaçu em setembro de 2001, incorporando a cidade de Puerto Iguazu

1. Introdução

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em Junho de 2002. Este Projeto se desenvolveu em uma primeira fase

desde 2001 até agosto de 2004, e depois de uma revisão pareceu conveniente estender sua duração até outubro de 2005.

O Projeto estabeleceu uma estratégia de ação em torno a seis componentes complementares fundamentais no combate da exploração sexual comercial.

Por uma parte se criou uma estrutura institucional que permitisse unir recursos, esforços e vontade através da conformação de Comitês locais de luta contra a exploração sexual comercial em Foz, Ciudad del Este e Puerto Iguazu e de ações coordenadas entre os três comitês. Entorno a estas instâncias se articularam atores significativos para o combate da ESC de entidades públicas e privadas.

A geração de conhecimento sobre a ESC foi outro componente fundamental através de investigações sobre aspectos como as capacidades institucionais, o marco jurídico ou as características da ESNA e das pessoas afetadas em Foz do Iguaçu e Ciudad del Este.

O componente de sensibilização e mobilização social teve como tarefas a realização de diversas ações dirigidas à sociedade em geral mediante campanhas de sensibilização massiva, e outras atividades mais específicas orientadas a mobilizar o setor governamental e os atores chave da sociedade civil para implicá-los na abordagem da ESC e no desenvolvimento do Projeto a nível local e nacional.

Todos estes componentes reforçaram as estratégias integradas de atenção e retiro da ESC que foram executadas pelos Programas de ação direta (PA) em Foz de Iguaçu e em Ciudad del Este. A execução destes PA esteve a cargo tanto de ONG’s já existentes como de outras criadas para isso.

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Programa de Prevenção e Eliminação da Exploração Sexual Comercial de Meninas, Meninos e Adolescentes na Tríplice Fronteira (Argentina – Brasil – Paraguai)

2.1. Objetivos e atividades

O objetivo deste estudo é a sistematização das boas práticas e lições aprendidas sobre metodologias de prevenção do recrutamento de crianças adolescentes à exploração sexual comercial, e sobre retiro e atenção às crianças e adolescentes vítimas desta forma de exploração em Foz do Iguaçu (Brasil) e Ciudad del Este (Paraguai) 1.

Para isso se realizaram as seguintes atividades:

Compilação de documentos elaborados pelos Programas de ação nos quais se descrevem avanços, dificuldades e resultados na execução dos mesmos e outros documentos sobre as atividades específicas dos programas e suas metodologias como: planificações internas, planos e projetos pedagógicos, etc.

Compilação de outros documentos gerados no marco do Projeto significativos para esta sistematização e de bibliografia sobre a ESC.

Trabalho de campo para a coleta de informação direta dos profissionais dos programas e da população beneficiária.

Sistematização e analise de toda a informação.

Elaboração do documento final.

2. Objetivos e metodologia

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PREVENÇÃO E RETIRO 2.2. Notas conceituais e metodológicas

“A sistematização é aquela interpretação crítica de uma ou várias experiências, que a partir de seu ordenamento e reconstrução descobre ou explícita a lógica do processo vivido, os fatores que intervieram em dito processo, como se relacionaram entre si, e por que foi feito deste modo». Guia Programas de Ação.

Sistematização. IPEC América do Sul. Fevereiro 2003.

““. quem sistematiza não busca só saber mais sobre algo, mas principalmente ser e fazer melhor; o saber está a serviço do fazer; um melhor fazer só é possível graças a um melhor compreender, e isto inclui não só aquilo sobre o qual se intervém diretamente, mas também os objetivos dessa intervenção incluindo os de longo prazo. Ou seja, quem sistematiza tem que fazer explícito e questionar o sentido da ação, a coerência entre esta e suas intenções. “Uma sistematização deveria dar lugar a propostas que orientem novas ações” Barnechea, M; González, E;

Morgan, M. “La producción de conhecimentos en sistematização”. La Piragua. Revista Latinoamericana de educação y política. nº 16. 1999.

O trabalho proposto para este estudo está dentro do marco de uma investigação orientada à sistematização de experiências de ação no campo da intervenção social, especificamente para a identificação de boas práticas e lições aprendidas. Uma boa prática pode ser definida como:

“... qualquer experiência que, em sua totalidade ou em parte, funciona para combater o trabalho infantil e que podem ter implicações para a prática a qualquer nível em outro contexto ou situação.” Guias de DED:

“Boas Práticas”. OIT-IPEC, Genebra, 2001.

Uma questão chave é que uma boa prática é algo que realmente foi experimentado e que se foi comprovado que funciona. O princípio fundamental de uma boa prática é a utilidade para estimular novas idéias ou para atuar como guia sobre como conseguir maior eficácia em algum aspecto relacionado com a prevenção ou eliminação do trabalho infantil.

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Programa de Prevenção e Eliminação da Exploração Sexual Comercial de Meninas, Meninos e Adolescentes na Tríplice Fronteira (Argentina – Brasil – Paraguai)

Existem sete critérios chave para determinar que uma prática seja “boa”.

Estes critérios são:

Inovação ou criatividade Eficácia/Impacto

Replicabilidade Sustentabilidade Pertinência

Ética e responsabilidade Eficiência e execução

As boas práticas podem ser ademais classificadas em três níveis diferentes e seguindo a classificação da OIT, são os seguintes:

Nível 1: Práticas inovadoras

Nível 2: Práticas exitosas demonstradas Nível 3: Boas práticas replicadas

Finalmente, uma lição aprendida (ou ensinamento extraído, segundo a terminologia da OIT) é uma conclusão derivada da execução de um projeto sobre os fatores que conduziram ao bom ou mal desempenho de determinadas ações. Uma lição aprendida também funciona como guia sobre como conseguir maior eficácia nas iniciativas dirigidas à prevenção ou eliminação do trabalho infantil.

2.3. Trabalho de campo

Previamente à realização do trabalho de campo se realizou a revisão de material documental relevante para a compreensão dos contextos nos quais os Programas estão sendo executados, das características da população meta, os objetivos e atividades dos Programas ação em Ciudad del Este e Foz do Iguaçu (Ver Anexo I).

No desenho do trabalho de campo se incluiu a participação dos profissionais que estão implicados na execução dos Programas de ação, como responsáveis das principais áreas de atenção e as figuras coordenadoras de centros e programas. Neste sentido não existiram dificuldades, já que os e as diferentes profissionais mostraram disponibilidade e receptividade a ser entrevistados e a abrir algumas de suas atividades à presença de uma observadora.

Elaboraram-se diferentes instrumentos de coleta de dados em função dos objetivos marcados, dos eixos temáticos definidos a priori, e do

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tipo de ator a entrevistar ou atividade a observar: roteiros de entrevista,

roteiros de observação e caderno de campo.

2.4. As técnicas de investigação

Como se indicou, as técnicas elegidas se enquadram dentro da metodologia qualitativa orientada a conhecer processos, significados, relações, percepções e vivências subjetivas.

Observação participante e não participante em atividades dos programas

Entrevistas semi-estruturadas a profissionais de programas de atenção

Entrevistas semi-estruturadas às beneficiarias indiretas (mães dos e das beneficiarias).

Entrevistas conversacionais grupais e individuais: profissionais técnicos, outros profissionais, beneficiários diretos e indiretos.

Grupos de discussão com as equipes multidisciplinares dos programas.

O trabalho de campo teve uma duração de duas semanas consecutivas no mês de fevereiro de 2005 (ver Anexo II).

2.5. Algumas considerações sobre as limitações do trabalho de campo

O trabalho de campo se viu afetado por dois motivos:

Em Ciudad del Este se produziu uma suspensão inesperada das atividades do Programa de ação durante o mês de dezembro de 2004 e janeiro de 2005 devido a motivos institucionais internos da organização responsável da execução. Estavam reiniciando as atividades quando se realizou o trabalho de campo, pelo qual o centro de atenção e suas atividades estavam em um nível de atividade baixo com respeito a outros momentos.

Em Foz de Iguaçu o Programa de ação desenvolvido entre 2003 e 2004 já havia finalizado o que impossibilitou entrevistar os profissionais que o executaram. O novo Programa Acordar começou a execução das ações de atenção direta a finais de janeiro por tanto a experiência ainda não era muita, mesmo assim foi possível visualizar já resultados significativos.

Estas debilidades se viram em boa parte aliviadas porque em 2004 se realizou uma extensa sistematização intermédia das metodologias dos

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deste informe o que contribuiu a paliar as lacunas de informação do presente trabalho de campo. Na experiência desenvolvida em 2004, se levou a cabo durante um mês um amplo trabalho de campo em ambos os programas de ação durante o que se pode entrevistar a todos os profissionais, a beneficiários/as diretas e participar em quase todas as atividades executadas pelos programas, assim como entrevistar a outros atores chave no combate à ESC pertencentes a ONG’s e a instituições públicas. Esta experiência e o documento resultante2 foram tomados como insumo base para esta sistematização.

1 O projeto nas três fronteiras só enfocou o componente de fortalecimento institucional e sensibilização em Puerto Iguazu.

2 Casal Caharrón, Marta (2004), Análise e sistematização dos resultados da metodologia adotada para os serviços de atenção direta oferecidos a crianças e adolescentes e suas famílias nos centros de referencia instalados nas três fronteiras (Ciudad Del Este, Foz do Iguaçu), Mímeo, Assunção-Paraguai.

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Programa de Prevenção e Eliminação da Exploração Sexual Comercial de Meninas, Meninos e Adolescentes na Tríplice Fronteira (Argentina – Brasil – Paraguai)

Os programas de ação orientados à prevenção e o retiro da exploração sexual comercial se desenvolveram em Ciudad del Este e Foz do Iguaçu.

Apesar de tratar-se de cidades limítrofes, unicamente separadas pelo rio Paraná, constituem contextos com diferenças e particularidades com respeito a analise que nos ocupa. Estas diferenças têm que ver, como desenvolvimento mais adiante, com as características e manifestações da ESC, com os recursos e capacidades institucionais para seu enfrentamento, e com suas características sócio-demográficas e econômicas.

Apesar destas diferenças, ambas as cidades tiveram um processo de desenvolvimento e crescimento paralelo no tempo, assim como de declive progressivo, entorno a dois fenômenos e acontecimentos chave. Por uma parte, a construção da represa hidroelétrica de Itaipu converteu nas décadas de 70 e 80 a estas duas cidades em pólos de desenvolvimento econômico e atração para contingentes importantes de trabalhadores e suas famílias. Por outra parte, Paraguai criou em Ciudad del Este uma zona de livre comércio que incrementou a migração interna em direção a esta cidade e sua área de influência. Foz do Iguaçu foi também afetada pela emigração interna e internacional atraída pela atividade comercial da fronteira e o turismo de compras gerado pelo país vizinho.

3. O contexto dos

programas de ação

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A partir de 1995 se rompe o ciclo de crescimento econômico e

demográfico entorno à atividade comercial devido ao desenvolvimento dos mercados globais, e à consolidação do MERCOSUR. Ciudad del Este começa uma etapa de declive a qual, no momento, não são apresentadas alternativas viáveis. Por sua parte, Foz do Iguaçu inicia uma fase de auge do turismo interno e internacional atraído pelas Cataratas do Iguaçu. O turismo constitui atualmente sua principal fonte de divisas, mas resulta insuficiente para dar resposta às necessidades laborais de uma população que teve um grande crescimento, desordenado e sem planificação.

Ambos os contextos se encontram atualmente com amplos setores da população em situação de exclusão social, com uma população muito jovem, sem estratégias de desenvolvimento alternativas que em curto prazo possam paliar os problemas de desemprego, de crescimento do setor informal, de desarraigo, de carências de recursos educativos, sanitários, culturais e os conflitos familiares, sociais e comunitários que se geram tais como a insegurança a violência ou o crescimento de atividades ilícitas e ilegais, tais como o tráfico de drogas.

As situações de exclusão social e seu impacto sobre a degradação e desestruturação pessoal, familiar e comunitária; a migração massiva e desorganizada; o turismo; a atração da população flutuante pela atividade comercial, ademais da falta de atenção social e política sobre a exploração sexual comercial, criaram um caldo de cultivo no qual se encontram muitos dos fatores geradores da oferta e da demanda deste tipo de exploração, que com particularidades em cada cidade foi se incrementando neste âmbito fronteiriço3.

Indicaremos algumas das particularidades de cada contexto no momento em que se iniciou o Programa de prevenção e eliminação da exploração sexual comercial na Tripla Fronteira em 2001. Estas particularidades foram muito significativas para o desenvolvimento dos programas de atenção direta, para sua evolução, resultados, alcançar as metas e lições aprendidas.

3.1. O contexto político-institucional

· Paraguai - Ciudad del Este

Quando o Projeto de prevenção e erradicação da ESC começou seu andadura nas Três Fronteiras, as ações da política de Paraguai para abordar esta violação de direitos da infância não transcendiam de

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Programa de Prevenção e Eliminação da Exploração Sexual Comercial de Meninas, Meninos e Adolescentes na Tríplice Fronteira (Argentina – Brasil – Paraguai)

algumas iniciativas no plano formal e declarativo. Neste sentido, é necessário ter em consideração a incipiente criação da estrutura institucional encarregada de velar pelos direitos da infância, ainda frágil e em processo de desenvolvimento. Em 2001 se constitui a Secretaria da infância e adolescência criada a partir da aprovação do novo Código da Infância e Adolescência aprovado neste mesmo ano (Lei 1680/01) 4. O código estabelece também a criação e regulamentação de um Sistema Nacional descentralizado de Proteção e Promoção integral da Infância e adolescência (SNPPI) através da criação dos seguintes organismos: um Conselho Nacional da Infância e Adolescência; Conselhos Departamentais da Infância e Adolescência; Conselhos Municipais, e as Conselherias da Infância (CODENI). Ademais começam a ser tomadas medidas para a adequação normativa ao novo Código e aos compromissos internacionais que o país adquiriu, iniciativas sempre estimuladas pelo papel fundamental do setor não governamental e dos organismos internacionais. Embora as medidas desenvolvidas pelo Estado nos últimos dez anos foram imprescindíveis como pontos de partida para o combate a esta forma de exploração5, constituem unicamente o marco no qual as ações concretas ainda serão materializadas.

O mencionado Projeto se inserta por tanto em um contexto de debilidade institucional, de carências orçamentárias severas para abordar a incidência qualitativa e quantitativa da vulneração de direitos da infância no país. A ausência de políticas públicas efetivas em matéria de saúde, emprego e educação que superem as ações e respostas conjunturais, descoordenadas e efetistas diante de situações de urgência6, agrava este contexto de vulnerabilidade.

Especificamente as ações contra a exploração sexual comercial da infância se reduziam as medidas próprias da doutrina da situação irregular, más que de uma doutrina de proteção integral. As batidas policiais e o enfoque penal do problema constituíam quase a única manifestação de atenção desde o setor público, evidenciando um enfoque e sensibilidade muito limitada para com a ESC que redundava na criminalidade, estigmatização e revitimização das meninas, meninos e adolescentes afetados.

Só desde o setor não governamental e desde alguns organismos internacionais se estavam dando alguns passos na direção de visualizar o problema, denunciá-lo e ensaiar medidas para seu enfrentamento.

Assim desde UNICEF e OIT se realizou um primeiro diagnóstico sobre o tema no ano 1997 em Ciudad del Este e Assunção que visualiza a

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existência desta problemática e começa a caracterizá-la7; posteriormente

em 2000 a ONG Beca no marco do projeto A.M.A. R realiza um segundo estudo nas mesmas cidades8.

Dentro do marco do Projeto de Prevenção e Eliminação da Exploração Sexual Comercial nas Três Fronteiras se realizaram também, em seus inícios, diversos diagnósticos orientados à geração de conhecimento sobre o tema. Um deles teve como objetivo realizar um diagnóstico institucional em que se evidenciou ademais da ausência de Estado na atenção do problema, a escassa experiência e capacidade institucional para abordá-lo também desde o setor não governamental. Se bem que se detectaram 13 instituições no país que desenvolviam alguma ação relacionada com o combate à ESC, só uma instituição o fazia de forma específica e direta na atenção às vítimas. Esta única experiência, realizada em Assunção pela ONG Lua Nova, começou a desenvolver-se em 1999.

Trata-se de um programa de atenção integral a meninas e adolescentes vítimas de ESC que se iniciou com o financiamento do Programa IPEC da OIT e continuou com o apoio financeiro da cooperação internacional.

Na Ciudad del Este não existia previamente à aplicação do Programa da OIT nenhuma experiência similar ou organização que abordasse a problemática da ESC desde nenhum âmbito. As organizações que trabalhavam no âmbito da infância na cidade tinham muitas limitações para desenvolver ações de atenção direta devido à falta de recursos.

Estas ações se caracterizavam pelo assistencialismo ante a grave falta de cobertura das necessidades básicas de amplas capas da população;

pela falta de especialização e experiência de trabalho articulado e em rede o que dificultava abordar questões complexas como a ESC. Além da falta de sensibilidade, o desconhecimento e um enfoque limitado do problema constituíam uma debilidade que afetava não só o sector governamental, se não também a muitas das organizações não governamentais de atenção à infância e adolescência.

Desde 2001, quando começa a andadura do Programa na Tripla Fronteira, se inicia um período no qual se produzem avances com respeito à atitude governamental neste tema. A pressão e o acompanhamento das organizações não governamentais e dos organismos internacionais foi chave nestes avances entre os que destacam:

A elaboração da Política Nacional de Infância e Adolescência que implicou a elaboração e aprovação, entre outros, do Plano de Erradicação do Trabalho Infantil e proteção do trabalho adolescente,

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e do Plano Nacional contra a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes9.

Ratificação do Protocolo Adicional à Convenção dos Direitos da Criança relativo à venda de crianças, prostituição e pornografia infantil.

Assim mesmo, em 2004 foi ratificado o Protocolo para prevenir, reprimir e sancionar o tráfico de pessoas, especialmente mulheres e crianças, que complementa a Convenção das Nações Unidas contra a delinqüência organizada transnacional.

O inicio desde 2004 de diversas ações contra o tráfico de pessoas com fins de exploração sexual no marco de projetos financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Organização Internacional para as Migrações ou a Embaixada dos Estados Unidos.

O desafio que se apresenta atualmente na materialização em ações e resultados concretos dos compromissos adquiridos com a assinatura de instrumentos jurídicos internacionais e com a elaboração das políticas públicas que, até o momento, são em grande medida unicamente declarações de intenções. Por outro lado é fundamental que o Estado assuma suas responsabilidades, e o desenvolvimento da capacidade para abordá-las uma vez que o apoio técnico, econômico e a pressão dos organismos internacionais tenham desaparecido.

· Brasil - Foz do Iguaçu

O Brasil dispõe de uma trajetória, experiência, estrutura institucional e políticas públicas que pese a suas limitações e debilidades oferecem um cenário mais propício para a instalação do Programa de atenção em Foz do Iguaçu.

O Brasil contava no momento da instalação do Projeto na fronteira, com o Estatuto da infância e adolescência já bastante desenvolvido desde sua aprovação em 1990, constituindo um instrumento inovador por seu fiel seguimento da doutrina da proteção integral em consonância com a Convenção dos Direitos da Criança. Contava, além disso, com políticas específicas contra o trabalho infantil (PETI) e outras políticas públicas com incidência direta sobre a prevenção do mesmo, assim como da ESC, tais como: a bolsa escola, distintos programas de ajuda às famílias (cesta básica; renda mínima), programas de capacitação profissional para adolescentes em situação de risco; programas de saúde infantil e adolescente, etc.10. Trata-se de políticas governamentais de

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PREVENÇÃO E RETIRO

âmbito nacional, desenvolvidas de forma descentralizada pelas

municipalidades. São políticas fundamentais na prevenção da ESC, mas cuja designação orçamentária é insuficiente para abordar as brechas de desigualdade e profundas carências que afetam a maioria da população brasileira.

No âmbito específico de combate à ESC destacam tanto as ações desenvolvidas pelo setor não governamental, em muitos casos com o apoio e financiamento do governo e de organismos internacionais, como as iniciativas de políticas governamentais em diferentes partes do país orientadas à sensibilização, investigação, prevenção e atenção direta às vítimas11. Embora se trate de experiências insuficientes para abordar a magnitude, profundidade e complexidade do problema foram imprescindíveis para sua visibilidade, para sensibilizar e para situá-lo na agenda política de maneira permanente. Todas estas ações se cristalizaram em 2001 na elaboração de um Plano Nacional de enfrentamento à violência sexual infanto-juvenil, e de um programa federal –SENTINELA12- que é desenvolvido em diferentes prefeituras, e que atende a meninos, meninas e adolescentes vítimas de abuso e exploração sexual comercial.

Em Foz do Iguaçu se realizou, assim como em Ciudad del Este, um diagnóstico institucional no marco deste Projeto em 200213. Neste diagnóstico se relevam 74 organizações do setor não governamental que têm relação com a intervenção social. Nenhuma destas instituições abordavam de forma direta ou específica à problemática da ESC, no entanto algumas delas prestavam atenção a meninas e adolescentes nesta situação e as suas famílias no marco de programas mais genéricos contra a exclusão social. Apesar deste vazio em quanto à atenção específica à ESC, as organizações não governamentais apresentam um potencial e um contexto favorável para a implementação do Programa por sua experiência no trabalho com a infância através de projetos educativos, recreativos, culturais, de formação vocacional, etc. A debilidade a ser superada se encontrava no trabalho descoordenado, dissimulado e isolado entre todos estes recursos o que reduzia seu potencial e a possibilidade de responder de forma mais eficaz ao crescimento das necessidades sociais e da exclusão. Outra das debilidades indicadas no diagnóstico institucional foi a inexistência de programas de atenção a pessoas drogo dependentes na cidade, carência que tem neste contexto um especial impacto devido à elevada incidência do consumo de drogas entre a população vítima de ESC e que constitui,

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em ocasiões, não só uma conseqüência da mesma, se não que também forma parte do complexo emaranhado das causas.

Desde o âmbito público as instituições principais com respeito às políticas relativas à infância são a Secretaria Municipal da Criança e o Conselho Tutelar. Além disso, na cidade se encontrava a oficina regional da Secretaria de Estado e Assuntos da Família14. Desde as instituições públicas se promovem programas de atenção a famílias carentes e à infância em situação de risco15. Estes programas têm uma cobertura limitada com respeito à demanda crescente e necessidades da população.

Como ação específica de combate à ESC foi implantado, de forma piloto, em 2002 o Programa Sentinela. Naquele momento tinha como meta a atenção a 50 vítimas de abuso ou exploração sexual e contava com recursos humanos e infra-estrutura muito limitada, mas constituía um ator chave e uma potencialidade e fortaleza de cara à implementação do Programa de atenção.

O contexto de Foz do Iguaçu se apresentava por tanto com maiores potencialidades à implementação do Projeto e ao estabelecimento de redes para a atenção às vítimas de ESC e para a prevenção desta forma de violência por sua maior fortaleza e capacidade institucional com respeito a Ciudad del Este. Mas a dificuldade deste contexto vinha marcada pela invisibilidade e resistência ao reconhecimento do problema nas famílias, a saciedade e as instituições públicas, resistência relacionada, entre outros aspectos, com a organização desta forma de exploração dentro de grupos do crime organizado, relacionados também com outras atividades ilegais, e que gozam de proteção e impunidade16. Em Ciudad del Este a naturalização e não problematização da ESC, e em Foz do Iguaçu o tabu e a negação da mesma, constituíam fatores chave que favoreciam a existência, permissividade e crescimento desta violação de direitos da infância no contexto da Tripla Fronteira. Estes aspectos socioculturais, unidos à degradação socioeconômica da região geraram um contexto cujo enfrentamento requer da articulação de todos os atores sociais, de recursos e de vontade política.

3.2. Manifestações e caracterização da ESC

A população de vítimas ou em risco de exploração sexual comercial atendida pelos programas de atenção direta resultou ser uma população muito diversa. Se bem que todas as crianças e adolescentes compartilham o fato de ser vítimas desta violação de direitos humanos, ou de estar em uma situação de risco à mesma, são muitas as variáveis

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que os diferenciam entre si. Sob a ESC há uma complexidade de fatores

causais, condicionantes, assim como diferentes perfis em função de variáveis sócios demográficas, de contexto local e modalidade de exploração.

Além das diferenças de idade, sexo, etnia ou classe social, existem diferenças relativas a: o tipo de exploração; o tempo que levam nessa situação; a implicação em outros tipos de atividades ligadas, nestes contextos, à exploração sexual, tais como o tráfico ou o consumo de drogas; a situação familiar ou a percepção e valorização subjetiva que tem cada pessoa da situação que vive. Todos estes fatores, entre outros, manifestaram que as iniciativas orientadas ao retiro e prevenção da ESC terão em conta estas variáveis para responder às particularidades, necessidades e interesses de cada criança ou adolescente com o qual se trabalhe. Assim, o que para uma vítima pode dar resultado com respeito a seu retiro, não serve para outra. Umas podem comprometer- se e interessar-se pelo programa de atenção e suas propostas em questão de dias, e outras podem tardar um ano ou mais, ou não fazê-lo nunca.

Previamente ao início dos Programas de atenção se realizaram em Foz do Iguaçu e em Ciudad del Este dois diagnósticos com o objetivo de oferecer uma panorâmica da incidência da ESC e das características e necessidades da população afetada. O início dos centros de atenção indicou que além dos perfis oferecidos pelos diagnósticos, existiam outros que acrescentavam diversidade e complexidade ao fenômeno e a sua dinâmica, o que é um desafio para os PA que tiveram que adotar estratégias flexíveis, dinâmicas e criativas para dar resposta a muitas diferentes subjetividades, situações sociais e pessoais.

· Ciudad del Este

Um diagnóstico rápido sobre a ESC em Ciudad del Este foi elaborado em 2001 dentro do marco do Programa da OIT17. Este diagnóstico foi elaborado como estratégia prévia à implementação do programa de atenção direta às vítimas e população em risco de ESC. No mesmo se fez uma aproximação ao perfil das vítimas e aos lugares e modalidades de exploração sexual comercial. Este diagnóstico guiou o trabalho dos profissionais do programa de atenção nos primeiros seis meses de execução. O diagnóstico desenhou um perfil majoritário, a partir de uma mostra de 101 meninas e adolescentes, que apresentavam as seguintes características:

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Principalmente adolescentes do sexo feminino entre 15 e 17 anos de idade;

Procedem de famílias numerosas com graves carências materiais e afetivas;

Migraram a Ciudad del Este sozinhas para trabalhar desde zonas rurais ou são migrantes de segunda geração;

Não residem com seus pais;

Sabem ler e escrever e terminaram a primária logo depois abandonaram o sistema escolar;

Estão vinculadas de forma “profissional” à exploração sexual comercial, ou seja, faz disso seu meio de vida, sua única fonte de renda com a que podem cobrir suas necessidades básicas e ter certo nível de consumo;

A atividade de contato com os “clientes” se realiza na rua e áreas públicas identificadas tradicionalmente como lugares de contato:

zona centro da cidade, rotas principais de comunicação, discotecas e bares, mercados, Ponte da Amizade, etc.;

Estão vinculadas ao consumo de drogas ilegal.

Se bem que este perfil de população explorada sexualmente existe em Ciudad del Este e se move nos circuitos mais “profissionais” ou institucionalizados da prostituição, a mesma não se mostrou receptiva inicialmente às propostas do programa de ação. Os profissionais de CEAPRA através do trabalho de contato realizado nas ruas detectaram outro perfil de população que estava sendo vítima de exploração sexual comercial, de forma mais difusa e invisível e a margem destes circuitos e lugares tradicionalmente associados ao comércio sexual. Se bem que no diagnóstico se indicou a existência de meninas de curta idade que estavam sendo afetadas por esta forma de exploração, não foi até que o programa de atenção estava em pleno desenvolvimento que saltou à luz uma elevada incidência de exploração sexual comercial entre meninas de 8 a 14 anos de idade, que são exploradas em suas próprias comunidades por vizinhos e/ou familiares, ou nos âmbitos no qual desenvolvem atividades profissionais dentro da economia informal, tais como: venda ambulante, recolher verduras em mercados, limpa-vidros, vendedoras de loteria, etc.

Estas meninas e adolescentes forma o principal perfil com o qual trabalhou o programa de atenção direta em Ciudad del Este. Trata-se de una população muito jovem; em uma situação de exploração mais

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difusa e esporádica. O dinheiro que obtêm é muito pouco está destinado

a cobrir necessidades básicas próprias e da família18. O contexto familiar está caracterizado pelo fato de se tratar de famílias muito numerosas, a cargo unicamente da mãe e nas quais pode existir um concubino que costuma ser fonte de violência e conflitos que recaem sobre as meninas.

Habitam em bairros marginalizados, carentes de recursos, muito violentos e nos quais a exploração sexual comercial forma parte do cotidiano, não é problematizado desde um enfoque de direitos, e forma parte das histórias de vida das mulheres e meninas como uma forma a mais de acesso a satisfação de suas necessidades básicas.

São meninas e adolescentes que não se identificam como “prostitutas”, naturalizam em certo modo as relações de exploração sexual já que são freqüentes em seu entorno e entre seus pares, não adquiriram os códigos dos ambientes e relações próprias da exploração sexual comercial mais institucionalizada; mantém vínculos com sua família e habitualmente vivem com ela; não costumam consumir drogas ilegais. Trata-se de meninas, que querem seguir sendo meninas e que de alguma forma se resistem à situação que estão vivendo, pelo qual se mostram receptivas às propostas e atividades do programa de atenção que responde a seus desejos, necessidades, interesses e expectativas de vida. Por sua curta idade têm interesse em estudar, formar-se, brincar, estar em ambientes de proteção e ainda aspiram ter uma boa relação familiar. Para elas a rua ainda não representa os benefícios que subjetivamente percebem as adolescentes de maior idade, as quais já romperam seus laços familiares, buscam na rua liberdade, recursos econômicos para sustentar- se e para poder manter certo nível de consumo que lhes permita “ser alguém” em seu entorno e certo reconhecimento social.

O marco contextual que gera a oferta para a exploração sexual comercial em Ciudad del Este vem marcado pela extrema pobreza, a exclusão social e o deterioro das condições de contenção familiar e comunitária para a infância e adolescência. Estas são condições vulneráveis à exploração sexual do perfil majoritário de população com o qual trabalhou o Programa de atenção em seus anos de execução.

É fundamental ter em consideração todos estes elementos, com referência ao perfil principal que chegou o Programa de atenção, para valorizar as ações desenvolvidas, sua evolução, suas vitórias, dificuldades e boas práticas.

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· Foz do Iguaçu

Em Foz do Iguaçu não existiam investigações prévias ao diagnóstico que se elaborou no marco do Projeto da OIT. Neste sentido a importância e riqueza do diagnóstico foram cruciais para visibilizar a incidência e diversidade de manifestações da ESC existente na cidade, que como se indicou anteriormente, era negada e ignorada.

O diagnóstico manifestou a existência de quatro níveis ou manifestações diferentes de exploração sexual em virtude do perfil da população, os lugares de exploração e a rede de relações entorno a esta. Estes níveis foram os seguintes:

· Primeiro nível: uma exploração da qual eram vítimas meninas e adolescentes em situação de pobreza extrema e que trabalham na economia informal (como vendedoras ambulantes, passando mercadoria de contrabando, etc.) próximas a Ponte da Amizade que une as cidades de Foz e Ciudad del Este. São meninas, meninos e adolescentes que vivem com suas famílias e que ajudam com o que ganham. A estas meninas no contexto de trabalho os homens lhes oferecem dinheiro por prestar-se a relações sexuais, ou se oferecem elas mesmas. Em outras ocasiões têm proxenetas em sua própria família ou rede de relações próximas. É habitual que consumam drogas ou colaborem na escala mais baixa do tráfico realizando tarefas de vigilância “olheiros”. A exploração sexual nestes casos responde a um contexto de satisfação de necessidades básicas, e apenas proporciona o mínimo para subsistir.

· Segundo nível: nesta modalidade se encontram adolescentes de ambos os sexos que têm como lugar de contato com seus “clientes” as ruas e praças da cidade, muitas vezes lugares tradicionais do comércio sexual. Neste nível se dissimula a exploração sexual com a venda de drogas em pequenas quantidades, atividades que lhes permitem manter a si mesmas, e em muitos casos a família costuma desconhecer sua atividade. É freqüente que os e as adolescentes já não convivam com sua família ainda que mantenham vínculos com ela.

·Terceiro nível: se tratam de adolescentes que são exploradas em pequenas casas que funcionam como prostíbulos, em bares, locais de diferente tipo. São também consumidores de drogas e costumam residir nestes locais que trabalham.

· Quarto nível: se caracteriza pela exploração de adolescentes de classe media em locais de nível médio e alto (boates, prostíbulos, hotéis). O recrutamento destas adolescentes se realiza através de empresas de

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modelo e entre elas mesmas. Trata-se do segmento mais invisível,

clandestino e do qual se tem menor informação.

Nos três primeiros níveis as vítimas pertencem a estratos econômicos que vão desde a extrema pobreza a classes baixas que não requerem dos ingressos da exploração sexual para a subsistência, mas estes ingressos se destinam ao consumo de artículos e serviços inacessíveis de outra forma (roupa, tecnologia, ócio, drogas, etc.). Estes três níveis foram atendidos pelo Programa de atenção direta fundamentalmente.

Trata-se principalmente de adolescentes, mulheres principalmente, a partir dos 14 anos que vivem uma diversidade de problemáticas muito complexas. Procedem de bairros marginalizados da cidade; em grande parte são consumidores de drogas muito destrutivas e com alta capacidade de viciar como o crack; vivem a margem de suas famílias em muitos casos ou passam períodos de tempo sem manter contato com elas; para estes adolescentes “a rua” é seu meio físico, simbólico, que lhes provêm de recursos, diversão, identidade, sentimento de pertencer a algum lugar e afetos; estes adolescentes não são só explorados sexualmente, também são utilizados pelas redes de tráfico de drogas para atuar como vigilantes ou transportá-las o que é vivido por eles como um “ascenso de status”. As causas da ESC neste contexto não estão necessariamente ligadas com a pobreza extrema, com a necessidade de satisfazer carências materiais básicas como no caso de Ciudad del Este. Se bem que procedem de contextos carenciados, sua vinculação com a ESC tem que ver mais com a possibilidade de aumentar o nível de consumo, com a busca de aventura, com a percepção de que sua situação lhes aporta certo glamour e diferenciação, com a adaptação ao grupo, a rebeldia ante situações de exclusão social e de conflitos familiares. A falta de critérios e valores claros na família, na comunidade e em geral na sociedade; a pressão do consumismo, e sobre a sexualidade, unido à falta de contenção e de expectativas os leva a decisões críticas.

Se o elemento principal que contextualiza o trabalho do Programa de atenção em Ciudad del Este é a extrema pobreza das vítimas, em Foz do Iguaçu se acrescentam os contextos de delinqüência e experiências longas de morar nas ruas com a repercussão que isto tem na conformação de identidades pessoais e grupais muito ligadas a este meio.

Embora o Programa tivesse como foco de ação a ESC, outras características do perfil, além do fato de ser vítimas de exploração sexual,

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determinam em maior medida suas necessidades, prioridades e por tanto as que teriam que ser as estratégias de trabalho do PA. Assim o PA enfrentou o desafio de oferecer alternativas a tudo o que representa o meio e a “cultura da rua”. Devido às características do perfil, necessariamente sua implicação na proposta do programa é muito lenta e necessitou de um trabalho de educação, estimulação e de uma toma de consciência crítica muito sólida sobre sua situação vital.

3Em maio de 2003, o projeto executado pela OIT estimou que em toda a região fronteiriça existiam aproximadamente 3,500 crianças e adolescentes vítimas de algum tipo de violência sexual, o que representava um fator de risco pois em algum momento poderiam ser envolvidas em situação de exploração sexual comercial.

4Este Código vem sustituir ao anterior Código do Menor, o qual estava baseada na doutrina da situação irregular e, por tanto, entrava em contradição com a doutrina da proteção integral, orientadora da Convenção dos Direitos da criança, da qual Paraguai é signatário desde 1991.

5Suscrição ao Convênio da Haya relativo à Proteção de crianças e a Cooperação em Matéria de Adoção internacional; Adoção da Convenção Interamericana sobre Tráfico Internacional de Menores; Suscrição ao Convênio Nº 182 da OIT e a Recomendação 190 sobre a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e a Ação Imediata para sua eliminação; além do Convênio 138 sobre a Idade Mínima de Admissão ao Emprego e sua Recomendação 162.

6Paraguai tem o gasto social menos significativo dos países da região.

7Acosta, M. y Acosta,N. (1997): Exploração sexual de meninas e adolescentes em Assunção e Ciudad del Este. UNICEF; Moreno, A. (2001): Aa exploração sexual infantil no Paraguai. BECA.

8Moreno, A. (2001): La exploração sexual infantil en Paraguai. BECA

9Ainda que em 1996 Paraguai já se havia comprometido a elaborar um plano desta natureza por sua adesão à Declaração de Estocolmo, este não é aprovado até 2003. A elaboração do Plano foi resultado da pressão de ONGs´ que trabalhavam em temas de infância pertencentes à Coordenadora pelos direitos da Infância -CDIA- e do apoio da OIT/IPEC e UNICEF. Foi realizado mediante um processo participativo com atores do setor governamental e não governamental. Apesar de que o Plano foi aprovado pela Secretaria da Infância e Adolescência em dezembro de 2003, isto se realizou como um requisito formal mas vazio de conteúdo, já que ainda não existe um plano de implementação, orçamento ou medidas concretas para desenvolvê-lo.

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10 Analise das políticas e Programas sociais no Brasil. OIT Programa IPEC América do Sul. 2004. Brasília.

11 “Sistema Nacional de Recepção, Tratamento, Acompanhamento, Monitoreio e Avaliação de Denúncias de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes”;

“Campanha Nacional de Prevenção contra a violência sexual praticada contra crianças e adolescentes”: “Programa de combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes”.

12 O Programa Sentinela é um programa federal presente em 395 municípios brasileiros e que tem como objetivo o combate à violência sexual e exploração sexual comercial infantil e adolescente. No estado do Paraná está gerenciado pela Secretaria de Trabalho, Emprego e Promoção Social – SETP.

13 Gilka, A. (2002): A Oferta Institucional para responder às necessidades de atenção e promoção dos direitos das crianças e adolescentes atingidos pela exploração sexual comercial infanto-juvenil em Foz do Iguaçu – Brasil. OIT

14 No momento de elaboração do diagnóstico institucional esta Secretaria de Estado manifestou desconhecer “oficialmente” a existência da ESC na cidade de Foz do Iguaçu devido a que não existem dados oficiais sobre este assunto.

15 Programa de Apoio Sócio Familiar; Programa da Rua para a Escola; Programa de Erradicação do Trabalho Infantil; Programa S.O.S.; Programa de Iniciação ao Trabalho e o Programa de Prestação de Serviços à Comunidade.

16Em 1995 se levou a cabo uma Comissão Parlamentária de Investigação de Delitos sobre a prostituição Infantil no Estado de Paraná a partir de uma série de denúncias e de um dossier elaborado por várias ONGs. Apenas teve impacto esta Comissão de Investigação e não foi significativa em quanto à persecução e atenção ao problema.

Este fato aponta à proteção da que gozam os grupos que organizam a exploração sexual em Foz e a conexão destes, a partir de dados testimoniais, com o tráfico de drogas. Foi indicado em várias ocasiões a implicação de autoridades nestes delitos e com o crime organizado.

17Britos, J. (2002): Exploração Sexual Comercial de Meninas e Adolescentes. Paraguai – Ciudad del Este. Avaliação Rápida. OIT

18O dinhero que podem obter nestas relações de exploração oscila entre os 10.000 e 30.000 guaraníes (entre 1 e 5 dólares) segundo manifestaram as profissionasi do programa de atenção.

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4.1. Descrição dos programas de atenção direta

O Projeto executado nas Três Fronteiras se articulou em vários componentes estratégicos, todos eles dirigidos a incidir em aspectos institucionais, sociais, culturais, jurídicos, que podem contribuir à redução da magnitude da ESC na região e a sua progressiva erradicação. O Projeto teve como objetivo geral contribuir para a geração de capacidades institucionais, atitudes e experiência para isso. Assim o Projeto aglutina e articula ações nos âmbitos de:

Geração de conhecimento Articulação de atores sociais Sensibilização

Programas de ação direta (PA’s)

Nosso foco de analise específico são os programas de ação direta com as crianças e adolescentes, se bem que esta não foi uma estratégia isolada dos outros componentes do Programa global e se viu fortalecida por estes e vice-versa.

A população a qual vão dirigidos estes programas são crianças e adolescentes em situação de exploração sexual comercial ou em situação de vulnerabilidade à mesma, e suas famílias.

4. Estratégias e

metodologías de retiro,

atenção e prevenção

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PREVENÇÃO E RETIRO

A OIT considera vítima de ESC a toda criança menor de 18 anos que foi

objeto desta exploração em qualquer de suas formas: prostituição, pornografia ou trafico de pessoas. O conceito de retiro, de acordo às definições da OIT, se refere aos meninos, meninas e adolescentes em situação de exploração sexual comercial que devido às intervenções do projeto ingressam em uma rede de proteção (atenção pedagógica- terapéutica através de Centros de referência). Refere-se tanto as meninas e aos meninos que foram retirados como aqueles que se encontram em processo de retiro pelo fato de terem sido matriculados no sistema de educação formal, ou por terem recebido educação não formal ou capacitação vocacional, além do necessário apoio psico-social.

Podem ter sido beneficiados por um conjunto de serviços não relacionados com a educação (saúde, nutrição, etc.)19.

Os programas de ação direta orientaram também suas ações à prevenção do recrutamento na ESC. O trabalho de prevenção se orienta a crianças e adolescentes em situação de risco (por sua situação familiar ou de convivência; por proximidade de atividades econômicas propensas a empregar crianças e adolescentes, que abandonaram ou estão em risco de abandonar a escola). Os critérios de vulnerabilidade específica à ESC estabelecidos pelo Projeto se referem a:

O fato de que a criança ou o adolescente se encontre em um entorno familiar ou comunitário onde outras crianças tenham sido vítimas.

Meninos e meninas cujo entorno familiar ou social é propenso ao abandono escolar e ao trabalho infantil

Meninos e meninas vítimas de abuso sexual intra-familiar sistemático ante os quais a família nega a situação.

Crianças que vivem em áreas próximas aos prostíbulos ou zonas de prostituição de rua

Meninos e meninas que têm algum familiar adulto na prostituição.

O Projeto estabeleceu como metas o retiro de 700 vítimas de ESC, a prevenção de 1200 e o apoio a 400 famílias.

Descrevemos a continuação de forma impressionista os programas de ação para posteriormente profundizar na análise dos componentes e metodologias que se conformaram como boas práticas.

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