• Nenhum resultado encontrado

Educação não formal: arte para o desenvolvimento

No marco do Programa Acordar identificamos uma estratégia de prevenção que merece ser catalogada como boa prática26. Trata-se do subprograma executado pela Casa do Teatro “teatro e Cidadania”. Este

Progr

ama de Prevenção e Eliminação da Explor

ação Sexual

Comercial de Meninas, Meninos e Adolescentes na T

ríplice Fronteir a (Argentina – Br asil – P ar aguai)

programa ofereceu através de uma gama de atrativas atividades artísticas um espaço lúdico e educativo para crianças e adolescentes residentes em cinco bairros marginalizados que contam com uma elevada incidência de exploração sexual comercial entre sua população mais jovem27.

O subprograma foi uma ação inovadora já que estes bairros carecem de atividades e espaços deste tipo, assim a população adulta e as organizações comunitárias mostraram uma grande receptividade à implementação destas atividades para sua população infantil e adolescente carente de espaços de contenção, educação, afeto e relações positivas. São bairros marcados pela violência, carências materiais e de serviços, alta incidência de atividades ilícitas como o tráfico de drogas onde os meninos e adolescentes encontram modelos a seguir.

“Teatro e Cidadania” ao transferir suas atividades de centros de referência específicos conseguiu dar cobertura a um número muito maior de população beneficiária e otimiza os recursos28. Esta transferência permitiu ter um contato direto com as comunidades, o que favorece o conhecimento do contexto de risco de forma cotidiana; ademais, contribuiu para reduzir os tabus e resistências para abordar a problemática da exploração sexual comercial, já que através deste subprograma se incorporam outras ações de sensibilização e mobilização da comunidade logo que não houve rejeição e que em médio prazo podem inclusive alcançar a criação de redes para prevenir e detectar o problema. As comunidades também se envolveram pondo a disposição do subprograma para o desenvolvimento das atividades seus locais comunitários, escolas e locais pertencentes à Igreja.

As atividades artísticas elegidas resultaram muito apropriadas por vários motivos. Por um lado o tipo de metodologias lúdicas e expressivas que favorecem a participação da população que recusa os modelos de educação formal. Estimula-se a brincar e a desfrutar, mas não como fins em si mesmos, se não como instrumentos para o diálogo, a responsabilidade, a participação e a toma de consciência crítica sobre a realidade e o entorno no qual vivem.

Entre as diversas atividades que se desenvolvem diariamente nos cinco bairros destacam o teatro, hip-hop, modelagem, artes visuais e percussão. Estas atividades permitem trabalhar com população de idades diversas, com ambos os sexos de forma simultânea e introduzir questões da vida cotidiana que lhes preocupam e afetam.

PREVENÇÃO E RETIRO

Duas destas atividades, hip-hop e modelagem tiveram uma especial receptividade já que se trata de atividades que estão presentes nas tendências de moda e no imaginário coletivo da infância e da adolescência.

O hip-hop inclui todas as expressões artísticas entorno a esta manifestação cultural: música, composição de letras, grafite, dança. O atrativo principal como estratégia educativa é que permite resgatar os problemas da comunidade, juvenis, pessoais, expressá-los e reflexionar sobre eles de forma lúdica, artística e coletiva.

A atividade de modelagem resultou muito atrativa para todas as adolescentes, mas foi especialmente para as adolescentes vítimas de ESC que foi a atividade mais procurada. A modelagem em “Teatro e cidadania” trata de reverter valores e crenças das adolescentes sobre o corpo, a sexualidade, as pressões da moda e o consumo, e o papel tradicionalmente destinado à mulher na sociedade. Converte um instrumento e símbolo patriarcal em um instrumento de combate ao mesmo, analisando o que implica a modelagem desde um enfoque de gênero. Mediante esta estratégia se conseguiu atrair a uma população que manifesta resistências e se opõe a participar no programa de atenção. Partindo de seus interesses, de uma atividade atrativa e procurada por elas mesmas, se favorece de forma lúdica e informal a toma de consciência da exploração da mulher e de sua própria situação. Além deste enfoque crítico se estabelece também desde um ponto de vista construtivo já que se aborda o cuidado do corpo, a saúde, a educação, os modais, a beleza em um sentido que transcende o meramente físico e a auto-estima. Essa proposta foi desenhada por uma pedagoga com um objetivo artístico-educativo-terapéutico. Estas oficinas são divididas por artistas-educadores da Casa do Teatro, mas pelas possibilidades que brinda este espaço de trabalhar aspectos profundos da identidade, da ESC, ou experiências traumáticas que podem chegar a transbordar emocionalmente (abuso, exploração comercial), se integra na atividade uma psicóloga da Fundação Nosso Lar, responsável do trabalho social e terapêutico que orienta ao educador ou intervém diretamente no desenvolvimento da oficina. Desta forma, estes momentos de crise podem ser canalizados e trabalhados positivamente. Esta experiência é uma prática, inovadora, ética, integradora em quanto aos recursos profissionais e técnicos, e de enfoques metodológicos.

Progr

ama de Prevenção e Eliminação da Explor

ação Sexual

Comercial de Meninas, Meninos e Adolescentes na T

ríplice Fronteir a (Argentina – Br asil – P ar aguai)

Estes tipos de experiências constituem os primeiros passos pelo programa para gerar a possibilidade de mudanças sustentáveis, conseguindo o envolvimento das adolescentes em outras atividades, como a educação formal ou capacitação profissional, que lhes permitam construir alternativas de vida autônomas.

Paralelamente às atividades artísticas nas oficinas se realizam atividades específicas e diretas de informação e sensibilização sobre a ESC (vídeos, palestras, representações cênicas).

Educação formal: a escola como direto e necessidade estratégica

O Programa de ação desenvolvido pela Diocese por meio de CEAPRA em Ciudad del Este deu ênfase em favorecer o acesso e a permanência da população em risco de exploração no sistema educativo formal como estratégia de prevenção.

Especificamente o contexto e perfil da população de Ciudad del Este fazia necessários os esforços neste sentido. A população em risco de ESC que o CEAPRA atendia estava formada em sua maioria por crianças de pouca idade (entre 8 e 12 anos), que eram familiares ou vizinhos de outras meninas vítimas de ESC também atendidas pela PA. Estas crianças se viam obrigadas a abandonar a escola por falta de recursos econômicos e pela necessidade de contribuir com seu trabalho na economia informal para satisfazer suas próprias necessidades básicas e as de sua família. Não são crianças que recusam a educação formal, no em tanto a situação de pobreza extrema e a ausência de qualquer tipo de medidas públicas ou privadas para garantir seu direito à educação as mantinham excluídos da escola. A este fato se acrescentava a pressão de suas famílias direcionada ao trabalho e a pouca valorização em muitos casos com relação à educação. As crianças, além de dificuldades externas do contexto, apresentavam desfaze muito significativos entre sua idade e o nível de conhecimentos formais adquiridos, e em alguns casos dificuldades especiais de aprendizagem devido à falta de estimulação, traumas infantis e desnutrição.

A estratégia desenvolvida pela CEAPRA contém vários dos elementos positivos que definem uma boa prática, tais como inovação, impactos, eficácia, ética, responsabilidade e sustenibilidade. Como o Programa conseguiu isto?

Desenvolveu-se uma estratégia muito completa e integral que apontou a cada uma das dificuldades para o acesso de crianças à escola.

PREVENÇÃO E RETIRO

- Os profissionais orientavam às famílias sobre os trâmites de matricula e mediavam com as escolas para conseguir vagas. Quando não era possível para a família, os próprios profissionais realizavam a matricula das crianças.

- Proporcionaram-se às famílias os recursos materiais necessários mediante becas que cobriam os custos das matrículas29 e outros gastos como; uniformes e material escolar; cesta básica de alimentação30. Estes recursos se facilitavam sob o compromisso das crianças de irem à escola.

- Paralelamente ao apoio material, e para ir além das medidas assistenciais, se trabalhou com as famílias, principalmente com as mães31, na conscientização sobre a importância estratégica da escolarização de seus filhos e filhas e sobre os riscos do trabalho nas ruas. O trabalho com as mães se realizou mediante visitas das trabalhadoras sociais aos domicílios e mediante a execução de oficinas de desenvolvimento pessoal desenhados especificamente para elas no CEAPRA32. O impacto deste trabalho foi muito positivo, não só para as crianças, mas também para um grupo aproximado de 120 mães que participavam de forma regular. Também resultou um processo longo e frustrante em muitas ocasiões, já que significou enfrentar a crenças arraigadas, muita desesperança e falta de expectativas, fatores que dificultam a mobilização e a mudança de atitudes e comportamentos. No entanto um dos impactos foi a sustenibilidade, em muitos casos, da inserção e freqüência à escola de seus filhos e filhas uma vez que as ajudas materiais cessaram. O impacto desta ação é também positivo em quanto à melhoria das relações familiares que são fundamentais para o estado emocional das crianças, para sua estabilidade e rendimento escolar. A motivação por parte das famílias é o principal motor para evitar o fracasso escolar. - Trabalhou-se simultaneamente na sensibilização sobre a ESC com

o professorado e com os responsáveis educativos do departamento de Alto Paraná mediante a realização de oficinas sobre o tema nas escolas alcançando a mais de 200 docentes. Graças a este trabalho e ao compromisso e vontade política da responsável de educação nesta zona se conseguiu apoios constantes e firmes na consecução de vagas para a população do programa, e se conseguiram dois docentes do MEC como apoio para as atividades de reforço escolar que se dividia no centro de atenção.

Progr

ama de Prevenção e Eliminação da Explor

ação Sexual

Comercial de Meninas, Meninos e Adolescentes na T

ríplice Fronteir a (Argentina – Br asil – P ar aguai)

- Além da sensibilização do professorado se realizava um seguimento das crianças na escola mediante visitas aos colégios que serviam como método de apoio e também motivação contínua do professorado. No seguimento muitos professores se envolveram reenviando ao centro de atenção relatórios periódicos sobre a presença e rendimento do alunado.

- Levaram-se em conta as diferentes necessidades e carências educativas da população para as quais se estabeleceram atividades de reforço escolar e nivelação no CEAPRA, assim como educação básica através do PRODEPA33 para os maiores de 14 anos que tinham desníveis importantes com respeito a sua idade.

- Em 2005 diante de uma grande quantidade de beneficiários escolarizados se opta por mudar as atividades educativas do CEAPRA para os colégios que aglutinavam maior número de crianças escolarizadas para realizar o seguimento e apoio escolar in situ. Assim se otimizaram os recursos econômicos e humanos, e se pôde prestar um apoio mais continuado à população já que esta não tinha o inconveniente de se locomover até o centro de atenção. Além do impacto positivo em relação às crianças sobre essa mudança, também facilitou o contato continuado com as escolas e docentes, necessário para sua implicação na prevenção da ESC. Esta estratégia exigiu esforços desde múltiplos âmbitos, mas seus resultados são muito positivos em quanto à restituição e garantia de direitos, a redução de exposição a riscos das crianças nas ruas, e a construção de possibilidades para melhores condições de vida. Más de 600 crianças34 em situação de risco à ESC desfrutaram do direito à educação graças ao desenvolvimento destas estratégias.

· ESTRATÉGIAS DE SENSIBILIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO