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Detecção de conflitos e problemas ambientais para a pesca artesanal na Lagoa da Ribeira - Quissamã - RJ

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Academic year: 2023

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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E INOVAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO MESTRADO EM ARQUITETURA, URBANISMO E TECNOLOGIAS

MODALIDADE PROFISSIONAL

THAÍS CONCEIÇÃO FEITOSA ALMEIDA

PROTEÇÃO PATRIMONIAL E A ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA:

Proposta de criação de um Circuito Educacional para a defesa e a valorização do Patrimônio Arquitetônico do Centro Histórico de Campos dos Goytacazes, RJ.

Campos dos Goytacazes/ RJ 2022

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THAÍS CONCEIÇÃO FEITOSA ALMEIDA

PROTEÇÃO PATRIMONIAL E A ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA: Proposta de criação de um Circuito Educacional para a defesa e a valorização do Patrimônio Arquitetônico

do Centro Histórico de Campos dos Goytacazes, RJ.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense campus Campos- centro, área de concentração Tecnologias em Arquitetura e Urbanismo, linha de pesquisa Tecnologia, Gestão e Produção, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Arquitetura, Urbanismo e Tecnologias.

Orientador: Dr. Júlio Cézar Pinheiro de Oliveira

Campos dos Goytacazes/ RJ 2022

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CIP - Catalogação na Publicação

Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Biblioteca do IFF com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

A447p

Almeida, Thaís Conceição Feitosa

PROTEÇÃO PATRIMONIAL E A ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA:

Proposta de criação de um Circuito Educacional para a defesa e a valorização do Patrimônio Arquitetônico do Centro Histórico de Campos dos Goytacazes, RJ / Thaís Conceição Feitosa Almeida - 2022.

166 f.: il. color.

Orientador: Júlio Cézar Pinheiro de Oliveira

Dissertação (mestrado) -- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Campus Campos Centro, Curso de Mestrado Profissional em Arquitetura, Urbanismo e Tecnologias, Anton Dakitsch, RJ, 2022.

Referências: f. 119 a 128.

1. Patrimônio Arquitetônico.. 2. Especulação Imobiliária.. 3. Memória.. 4.

Educação Patrimonial.. I. Oliveira, Júlio Cézar Pinheiro de , orient. II.

Título.

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(5)

Dedico este trabalho à minha mãe Jozielma e a minha sobrinha Sarah que se apresentam como motivos para eu alcançar voos maiores e nunca desistir.

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AGRADECIMENTOS

Sou grata à minha mãe pelo apoio incondicional, dedicação e exemplo que me ofereceu durante toda a minha vida. Agradeço por sempre ter fé em mim e em Deus, por ser minha inspiração de força e resiliência.

Agradeço ao meu orientador Júlio Cezar por aceitar conduzir este trabalho de pesquisa, assim como pela orientação ao longo da produção deste estudo.

A todos os meus professores do curso do Mestrado Profissional em Arquitetura, Urbanismo e Tecnologias do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF) Campus Campos-Centro pela excelência da qualidade do ensino, apoio e dedicação de cada um.

Agradeço à professora Simonne Teixeira por me receber em sua disciplina “Natureza e Cultura, Ciência e Arte: novas epistemologias” produzida na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais (PPGPS). E por aceitar fazer parte da Banca Avaliadora e, assim, colaborar tão solicitamente com este trabalho.

Sou grata também a professora Danielly Aliprandi por aceitar fazer parte da Banca Avaliadora desta pesquisa, além de sempre ser solícita e participativa ao longo de todo o curso.

Também agradeço à professora Maria Catharina Reis Queiroz Prata pela transmissão do conhecimento, pelo acompanhamento e dedicação no decorrer do estágio em docência realizado no Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo do IFF campus Campos-Centro.

À diretora Elaine Estaneck por aceitar a realização do produto no Colégio Estadual Nilo Peçanha.

Sou grata também à professora Cristina de Fátima Pontes Rangel dos Santos, mais conhecida como “Tininha”, por aceitar o desenvolvimento do produto junto à sua disciplina de história no Colégio Estadual Nilo Peçanha. Agradeço por ser solícita ao trabalho e por me receber tão cordialmente.

Aos meus colegas do curso pelas trocas e parceria, juntos conseguimos conquistar mais essa etapa de desenvolvimento acadêmico.

Agradeço à Deus, pois sem Ele nada seria possível.

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O local motiva diferentes pássaros a fazerem seu pouso ali e não acolá. Dessa forma, um determinado local atrai espécies com características propícias a ele. Assim, é o ser humano, se o local propicia acolhimento e pertencimento, ele irá permanecer e não simplesmente passar (ALMEIDA, 2019, p. 117).

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RESUMO

ALMEIDA, Thaís Conceição Feitosa. PROTEÇÃO PATRIMONIAL E A

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA: Proposta de criação de um Circuito Educacional para a defesa e a valorização do Patrimônio Arquitetônico do Centro Histórico de Campos dos Goytacazes, RJ. 2022. Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação em arquitetura, urbanismo e tecnologias do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2022.

A configuração urbana de nossas cidades, sobretudo, por suas formas e as relações sociais que as cercam, podem ser analisadas como um amplo espaço de ensino e aprendizagem. Assim, assume-se também a perspectiva que o espaço urbano é um amplo campo de lutas e interesses conflitantes e que o conhecimento e a valorização do Patrimônio Edificado se tornam elementos primordiais para a sua proteção. A defesa do Patrimônio Arquitetônico dialoga diretamente com práticas educacionais que buscam valorizar a nossa história e memória coletiva. Em contraponto a essa perspectiva é importante ressaltar que a especulação imobiliária e os interesses que permeiam o urbano representam atualmente um dos maiores riscos ao Patrimônio Arquitetônico nas cidades brasileiras. Uma das faces mais visíveis da atuação desses interesses é percebida por meio de demolições, improvisações, vazios e descontinuidades, ações essas que buscam sobretudo extrair valor do solo urbano em detrimento da preservação da memória coletiva. A perda desse Patrimônio, para além dos seus efeitos na paisagem urbana, colabora com o apagamento da história, esquecimento cultural e a falta de reflexão sobre a sociedade.

Assim, a educação patrimonial se apresenta como instrumento com grande potencial para aprendizagem sobre o passado, além da apropriação pelo conhecimento e, por vezes, através da reparação histórica com a ressignificação dos usos de locais que outrora foram negados à parte da população. Desse modo, este estudo tem como objetivo ampliar as discussões sobre o Centro Histórico de Campos dos Goytacazes-RJ, a partir da proposição de um circuito educacional virtual que buscou problematizar os efeitos da especulação imobiliária sobre o conjunto patrimonial arquitetônico compreendido por um número significativo de exemplares que foram transformados e/ou modificados. Para isso, a pesquisa foi apresentada aos discentes do terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Nilo Peçanha com o auxílio de cartilhas e Circuito com vídeo disponível no youtube. O circuito educacional explorou as mudanças de usos dos espaços através dos interesses especulativos que podem ser observados através da renovação do solo com terrenos ociosos, estacionamentos improvisados e intervenções com caráter de modernização e embelezamento. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica e histórico- documental, visitas ao Centro Histórico com captura de imagens, mapeamento das áreas demolidas ou degradadas, criação de mapas de usos dos espaços, além de pesquisas realizadas com representantes da sociedade civil e de órgãos governamentais. Nesse viés, o produto foi elaborado através das seguintes etapas: pesquisa de impacto; aprofundamento do objeto de estudo; diretrizes para implantação; preparação do conteúdo; engajamento e divulgação; e monitoramento e feedback a partir de questionários para aferir o impacto do circuito educacional no aprendizado dos alunos do Colégio participante. Por fim, este trabalho resultou na disseminação do conhecimento crítico sobre a cidade e seus relacionamentos, além do interesse do uso do Patrimônio gerado por meio do produto. Contribuiu também com o aprofundamento do debate sobre a proteção patrimonial da região central de Campos e o risco da perda do seu valor histórico, social e cultural.

Palavras-chave: Patrimônio Arquitetônico. Especulação Imobiliária. Memória. Educação Patrimonial.

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ABSTRACT

ALMEIDA, Thaís Conceição Feitosa. PROTEÇÃO PATRIMONIAL E A

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA: Proposta de criação de um Circuito Educacional para a defesa e a valorização do Patrimônio Arquitetônico do Centro Histórico de Campos dos Goytacazes, RJ. 2022. Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação em arquitetura, urbanismo e tecnologias do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2022.

The urban configuration of our cities, above all, due to their forms and the social relations that surround them, can be analyzed as a wide space for teaching and learning. Thus, it is also assumed the perspective that the urban space is a wide field of struggles and conflicting interests and that the knowledge and appreciation of the Built Heritage become primordial elements for its protection. The defense of Architectural Heritage dialogues directly with educational practices that seek to value our history and collective memory. In contrast to this perspective, it is important to emphasize that Real Estate Speculation and the interests that permeate the urban environment currently represent one of the greatest risks to Architectural Heritage in Brazilian cities. One of the most visible faces of these interests is perceived through demolitions, improvisations, voids and discontinuities, actions that seek above all to extract value from urban land to the detriment of the preservation of collective memory. The loss of this heritage, in addition to its effects on the urban landscape, collaborates with the erasure of history, cultural oblivion and the lack of reflection on society. Thus, heritage education presents itself as an instrument with great potential for learning about the past, in addition to appropriating knowledge and, sometimes, through historical reparation with the redefinition of the uses of places that were once denied to part of the population. Thus, this study aims to broaden the discussions on the Historic Center of Campos dos Goytacazes-RJ, from the proposition of a virtual educational circuit that sought to problematize the effects of real estate speculation on the architectural heritage set comprised by a significant number of copies that have been transformed and/or modified. For this, the research was presented to students of the third year of high school at School Nilo Peçanha with the help of booklets and Circuit with video available on YouTube. The educational circuit explored the changes in the use of spaces through the speculative interests that can be observed through the renovation of the ground with idle land, improvised parking lots and interventions with a modernization and beautification character. The methodology used was a bibliographical and historical-documental review, visits to the Historic Center with image capture, mapping of demolished or degraded areas, creation of space use maps, in addition to research carried out with representatives of civil society and government agencies. In this bias, the product was elaborated through the following steps:

impact research; deepening of the object of study; implementation guidelines; content preparation; engagement and disclosure; and monitoring and feedback based on questionnaires to assess the impact of the educational circuit on the learning of students at the participating College. Finally, this work resulted in the dissemination of critical knowledge about the city and its relationships, in addition to the interest in using the Heritage generated through the product. It also contributed to the deepening of the debate on the heritage protection of the central region of Campos and the risk of losing its historical, social and cultural value.

Keywords: Architectural Heritage. Real Estate Speculation. Memory. Heritage Education.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Localização do Objeto de estudo 19

Figura 2: Planejamento de Impacto 55

Figura 3: Matriz de Poder X Interesse 56

Figura 4: Estratégia e táticas para efetivação do produto 57 Figura 5: Representação simbólica da transformação do Patrimônio Arquitetônico 58

Figura 6: Panfleto Educacional e Pesquisa de Campo 60

Figura 7: Quadrilátero Histórico Campista 65

Figura 8: Transformações urbanísticas em Campos/ RJ 67

Figura 9: Casa de Câmara e Cadeia e sua localização 69

Figura 10: Igreja Nossa Senhora do Carmo e sua localização 70 Figura 11: Evolução da Catedral do Santíssimo Salvador e sua localização 71

Figura 12: Evolução da Lira de Apolo e sua localização 72

Figura 13: Colégio estadual Nilo Peçanha e sua localização 73 Figura 14: Theatro São Salvador versus Empresa de Telefonia e internet (Oi) e sua

localização 73

Figura 15: Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens/ Santa Casa de Misericórdia de Campos 74 Figura 16: Terreno sem uso após a demolição X Terreno com o uso de Central Plaza

Shopping/Estacionamento 75

Figura 17: Casa Bancária Aberlado Queiroz versus Banco do Brasil e sua localização 76 Figura 18: Banco do Brasil X Edifício Cidade de Campos e sua localização 77

Figura 19: Cine Teatro Trianon e sua localização 78

Figura 20: Novo Teatro Trianon na Marechal Floriano x Local onde era instalado o antigo

Trianon. 78

Figura 21: Palacete Vicente Nogueira versus Prédio da Justiça Federal 79 Figura 22: Antiga sede da ACIC versus Edifício Ninho das Águias (sede atual da ACIC) e sua

localização 80

Figura 23: Correios e Telégrafos versus Prédio dos Correios atual e sua localização 80 Figura 24: Clube de Natação e Regatas Campista e sua localização 81 Figura 25: Casa Terra versus o estacionamento e sua localização 82 Figura 26: Linha do tempo de demolições mais relevantes da cidade campista 83 Figura 27: Foto montagem de notícias locais no decorrer dos anos 84

Figura 28: Modificação do uso do solo 85

Figura 29: Uso predominante do solo 88

(11)

Figura 31: Levantamento de edificações históricas tombadas 91 Figura 32: Levantamento de situação de imóveis históricos 92

Figura 33: Equipamentos urbanos 94

Figura 34: Levantamento de Manifestações Culturais, Espaços Livres e Residuais 95

Figura 35: Primeira problematização 97

Figura 36: Conclusão do vídeo 98

Figura 37: Demonstrativo Cartilha 98

Figura 38: Turma 3007 do Colégio Estadual Nilo Peçanha 99

Figura 39: Turma 3006 do Colégio Estadual Nilo Peçanha 100

Figura 40: Turma 3002 do Colégio Estadual Nilo Peçanha 101

Figura 41: Turma 3003 do Colégio Estadual Nilo Peçanha 101

Figura 42: Realização da Pesquisa no dia 22/09/2022 102

Figura 43: Turma 3002 após o desenvolvimento do produto 103

Figura 44: Relação com o Centro da cidade 104

Figura 45: Conhecimento acerca da história patrimonial da cidade (antes do produto) 105 Figura 46: Interesse pelo uso do Patrimônio Arquitetônico do Centro da cidade (antes e depois

do produto) 106

Figura 47: Interesse pelos usos dos espaços livres do Centro da cidade (antes e depois do

produto) 107

Figura 48: Memória quanto aos usos 108

Figura 49: Conhecimento acerca da educação patrimonial (antes do produto) 109 Figura 50: Abordagem da história patrimonial arquitetônica em sala de aula 109

Figura 51: Proposta Cultural 111

Figura 52: Apresentação da Proposta Cultura a Presidente do Coppam e da FCJOL 112 Figura 53: Redes Sociais de apoio à transmissão da pesquisa 113

Figura 54: Postagens de preparação do público-alvo 114

Figura 55: Postagens de aproximação do público-alvo 114

Figura 56: Ferramenta reel de apoio a divulgação do produto 115

(12)

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 15

1 INTRODUÇÃO 17

1.1RECORTE TEMÁTICO 17

1.2RECORTE LOCAL 18

1.3JUSTIFICATIVA E PROBLEMATIZAÇÃO 19

1.4QUESTÕES DE PESQUISA 21

1.5OBJETIVOS 22

1.6PRODUTO DA DISSERTAÇÃO 22

1.7ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO 24

2 PRODUÇÃO, REPRODUÇÃO DO ESPAÇO E OS INTERESSES EM JOGO 25

2.1INTRODUÇÃO 25

2.2PLANEJAMENTO URBANO E MERCANTILIZAÇÃO DAS CIDADES 25 2.3 INTERESSES SOBRE O ESPAÇO URBANO E A PRESERVAÇÃO ARQUITETÔNICA 30 2.4 ALGUNS PROCESSOS INDUTORES DE TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO 33 3 A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL COMO POLÍTICA PÚBLICA PARA

PRESERVAÇÃO DE NARRATIVAS CONSTRUÍDAS 35

3.1INTRODUÇÃO 35

3.2PATRIMÔNIO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE PRESERVAÇÃO 35 3.3 GLOBALIZAÇÃO E IDENTIDADE CULTURAL A PARTIR DO PATRIMÔNIO EDIFICADO 38

3.4 MEMÓRIA COLETIVA E IDENTIDADE SOCIAL 40

3.5 PRECEITOS PARA UMA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 43

3.6 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM CAMPOS DOS GOYTACAZES 47

4 PERCURSO METODOLÓGICO 53

4.1INTRODUÇÃO 53

4.2ETAPAS DE ANÁLISE DO OBJETO DE ESTUDO 53

4.3 COMUNICAÇÕES ESTRATÉGICAS 54

4.4ESTRATÉGIAS E TÁTICAS PARA ELABORAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DO CIRCUITO EDUCACIONAL

55 4.5INSTRUMENTOS DE COLETA E TRATAMENTO DE DADOS JUNTO AOS DISCENTES 61

5 LEITURA E DIAGNÓSTICO DO CENTRO HISTÓRICO 63

5.1INTRODUÇÃO 63

5.2CONTEXTO HISTÓRICO URBANO 63

5.3CONTEXTO HISTÓRICO ARQUITETÔNICO: ENTRE PERMANÊNCIAS E PERDAS 69

(13)

5.3.2 Igreja de Nossa Senhora do Carmo 69

5.3.3 Catedral do Santíssimo Salvador 70

5.3.4 Lira de Apolo 71

5.3.5 Lyceo de Artes e Ofícios 72

5.3.6 Theatro São Salvador 73

5.3.7 Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens 74

5.3.8 Casa Bancária Abelardo Queiroz 75

5.3.9 Prédio do Banco do Brasil 76

5.3.10 Cine Teatro Trianon 77

5.3.11 Palacete Vicente Nogueira 79

5.3.12 Edifício da ACIC 79

5.3.13 Edifício dos Correios 80

5.3.14 Clube de Natação e Regatas Campista 81

5.3.15 Casa Terra 81

5.4INTERESSES E AÇÕES NO DESMONTE DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE CAMPOS 82

5.5PATRIMÔNIO, DEMOLIÇÃO E ESTACIONAMENTOS 84

5.6MAPEAMENTO DOS USOS DA ÁREA CENTRAL DE CAMPOS 86 5.7MAPEAMENTO ARQUITETÔNICO DA ÁREA CENTRAL DE CAMPOS 89 5.8CONTEXTO DE USOS E SIGNIFICADOS DA ÁREA CENTRAL DE CAMPOS 93

6 PRODUTO: CIRCUITO EDUCACIONAL 97

6.1INTRODUÇÃO 97

6.2PRODUTO:CIRCUITO EDUCACIONAL 97

6.3IMPLANTAÇÃO: ENGAJAMENTO E DIVULGAÇÃO DO CONTEÚDO AO G1 99 6.4AVALIAÇÃO DO PRODUTO EDUCACIONAL E SEUS RESULTADOS 103 6.5IMPLANTAÇÃO: ENGAJAMENTO E DIVULGAÇÃO DO CONTEÚDO AO G2 110 6.6IMPLANTAÇÃO: ENGAJAMENTO E DIVULGAÇÃO DO CONTEÚDO EM GERAL 112

6.7RESULTADOS 115

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 117

REFERÊNCIAS 120

APÊNDICE 1 – MAPAS DAS ÁREAS OCIOSAS E ESTACIONAMENTOS DA ZCH 130

APÊNDICE 2 – CARTILHA 142

APÊNDICE 3 – CARTA DE APROVAÇÃO DO CEP E PESQUISA DE CAMPO 160

(14)

APRESENTAÇÃO

A construção de um estudo sobre o Centro Histórico da cidade de Campos dos Goytacazes se apresentou como um grande desafio diante de toda a complexidade de relações socioespaciais existentes naquele espaço. Contudo, a questão da proteção patrimonial saltava aos olhos visto que a ausência de políticas públicas para a manutenção e permanência de prédios históricos, evidenciava os interesses dos agentes imobiliários em detrimento dos interesses protecionistas. Entre as motivações que levaram a realização deste trabalho se pode destacar, o envolvimento pessoal pela causa da defesa do Patrimônio Arquitetônico campista que vem sendo objeto de preocupação desde o início de minha graduação. Além disso, esse meio como local de passagem cotidiano, e especialmente, por ter estudado no Colégio Estadual Nilo Peçanha, uma herança edificada situada nessa localidade, me permitiu acompanhar parte do processo de degradação dos prédios e monumentos históricos locais, assim como a própria ausência de ações dos órgãos públicos para a proteção patrimonial.

De forma adicional ao acompanhamento dessas mudanças, também foi possível verificar in loco e de forma dramática que o resultado da ausência de ações do poder público redundava em interdições de prédio por risco de desabamento, seguidas de demolições e fatalmente a transformação dos espaços dos prédios históricos em vazios que posteriormente foram transformados em estacionamentos privados para depois dar lugar a novas edificações que em nada dialogaram com aquele espaço. Por outro lado, a proposição de um produto no formato de um Circuito Educacional virtual também atende as motivações em propor um diálogo direto entre o processo educacional formal e a proteção patrimonial. A escolha do Colégio Estadual Nilo Peçanha como espaço de prática e testagem do produto desta dissertação, também atende às motivações pessoais, pois este colégio também faz parte de minha trajetória formativa e seria o espaço ideal para a proposição de uma visão crítica sobre os processos socioespaciais motivados sobretudo pelos interesses dos agentes imobiliários visto a ser uma edificação histórica local.

Portanto, a partir dessa realidade e das inquietações que esse cotidiano me trouxe, foram formulados os primeiros questionamentos que depois de organizados se transformaram no projeto de pesquisa que deu origem a este trabalho dissertativo e o produto educacional aqui relatados. Além disso, a minha trajetória acadêmica junto ao Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, realizada entre os anos de 2013 e 2019 no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF) campus Campos-Centro, contribuiu para o entendimento que a degradação do Centro Histórico de Campos não era algo singular, mas estava sim inserido em

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conjunto arquitetônico e que Campos por possuir uma dinâmica própria respondia de maneira diferenciada a essas tentativas de mudanças.

Por meio da realização do Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, o que antes fora curiosidade se transformou em afeto. Além das pesquisas e compreensão do que era o

“Patrimônio Arquitetônico”, sobretudo, por meio do grande afeto transbordado pela docente Maria Catharina Reis Queiroz Prata em sua disciplina ministrada com a temática relacionada ao Patrimônio Edificado. Foi possível, então, através das pesquisas e do avanço da compreensão, a construção dialógica da temática junto a percepção das potencialidades histórico-cultural que o Centro Histórico de Campos está inserido. Logo, se aprofundou o afeto e a inquietação por compreender e, principalmente, transmitir esse conhecimento para a população local de forma a contribuir com a democratização do saber patrimonial arquitetônico.

Em 2018, ainda na graduação, participei do Curso de Extensão Universitária, “Educação patrimonial/ambiental e a escola: as interfaces cultura, natureza e arte de um fazer curricular”1, coordenado pela docente Simonne Teixeira que contribuiu para o entendimento sobre a real necessidade da Educação Patrimonial e seus potenciais desdobramentos sobre uma possível cultura da proteção da memória coletiva. Nessa realidade, participei ainda do Projeto de Cultura e Diversidade “Identificando o Patrimônio Cultural”2, no qual foi inventariado exemplares de Patrimônios Arquitetônicos do Centro Histórico da cidade com potencial de preservação e uso.

Cabe ressaltar que toda essa trajetória culminou no desenvolvimento do meu Trabalho Final de Graduação “O Patrimônio Arquitetônico como motivador da requalificação do entorno urbano”3, que teve como objetivo desenvolver um anteprojeto de restauro e intervenção no entorno imediato do objeto de estudo, de modo a contribuir com a compreensão de que o Patrimônio Arquitetônico é inseparável do meio e, assim, a restauração da arquitetura envolve os usuários e a paisagem na qual esse bem se situa.

Por fim, é importante frisar que a finalidade deste mestrado foi de aprofundar o conhecimento sobre as interrelações que cercam as regiões centrais das cidades a partir do caso exemplar de Campos dos Goytacazes. Além de continuar uma caminhada iniciada anos antes e para isso, todas as disciplinas cursadas foram escolhidas para facilitar a metodologia de estudo desta pesquisa. No ano de 2021, além das disciplinas cursadas no Programa de Pós-graduação

1 Curso promovido pela Universidade Estadual do Norte Fluminense e realizado na Casa de Cultura Villa Maria

2 Projeto coordenado e desenvolvido pela Professora Maria Catharina Reis Queiroz Prata junto ao IFF entre 2018 e 2019.

3 Defendido em 2019 sob a orientação da Professora Aline Couto.

(16)

Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo, foi realizada a disciplina “Natureza e cultura, ciência e arte: novas epistemologias” do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Políticas Sociais da Universidade Estadual Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), que tratou prioritariamente da decolonialidade e novas espistemologias.

Nesse mesmo ano, realizei também o estágio em docência junto a disciplina de Patrimônio e Técnicas de Preservação do Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense campus Campos-Centro; de forma a apresentar a temática de Educação Patrimonial aos discentes.

No ano de 2022, a dissertação foi construída com maior consistência, onde, no mês de abril se atribuiu a qualificação do presente trabalho e, em seguida, se verificou a submissão e posterior aprovação do Projeto de Pesquisa no Comitê de Ética do Rio de Janeiro. De modo que possibilitou a realização do Produto e Pesquisa de Campo em que tive o prazer de retornar ao meu antigo colégio e ser recebida pela professora “Tininha”, a qual tinha sido sua aluna anteriormente.

Dessa maneira, este estudo surge a partir da motivação pessoal em contribuir para a preservação do Patrimônio Edificado no Centro Histórico do município de Campos dos Goytacazes, além de um processo gradual da construção do conhecimento. Para além do fato da cidade ser de grande relevância cultural, territorial e econômica, portanto, rica de potencialidades que poderão ser suscitadas e valorizadas por meio da contribuição deste trabalho no âmbito municipal local.

(17)

1 INTRODUÇÃO

1.1RECORTE TEMÁTICO

A complexa relação do ambiente construído e os interesses dos setores privados, que buscam aferir lucro com a produção e a mercantilização do espaço, se apresenta como um dos fatores indutores da grande tensão existente entre a preservação do Patrimônio Arquitetônico4 e a cidade enquanto mercadoria. A visão da urbe enquanto mercadoria expõe de forma dramática essa tensão, pois, por um lado, os múltiplos interesses que atuam sobre o urbano colidem e, por vezes, a renovação do solo é vista como sinônimo de progresso e modernidade, e, por outro lado, a preservação da herança construída5 é percebida como algo ultrapassado.

Assim, parte-se do pressuposto que a preservação da edificação histórica resulta na manutenção da memória coletiva de um povo, carregando consigo até mesmo memórias das mazelas sociais de um grupo, porém, essas mesmas memórias são de suma importância para a reflexão, para que, por meio do aprendizado do passado, possa-se impedir que perversidades sejam repetidas.

Por décadas, um dos maiores riscos ao Patrimônio Arquitetônico nas cidades brasileiras vem sendo justamente a especulação imobiliária, sendo que esse fator vem se agravando na medida em que as áreas centrais dos municípios se tornam mais valorizadas. Corrêa (1989), em seu primoroso livro O Espaço Urbano, indica que é através da especulação imobiliária e distribuição do uso do solo que o espaço se fragmenta e polariza, fomentando assim a segregação e a especialização de áreas sem atribuição da função social. Desse modo, os interesses dos grupos econômicos hegemônicos se sobrepõem aos interesses da população, em geral, de maneira a também guiar as intervenções urbanas através de políticas de renovação do solo.

A partir de um olhar crítico acerca da renovação do uso do solo sobre áreas de preservação do Patrimônio Arquitetônico, Oliveira e Callai (2018, p. 143), afirmam que “as demolições relacionam-se principalmente com a perda da memória da evolução urbana [...]”

que corrobora com o desaparecimento total dessa memória, “[...] indicando a necessidade imediata da preservação do que há, por meio de ações de educação patrimonial e da conscientização da população quanto ao significado e à importância dos prédios existentes, como fator de identidade e pertencimento do cidadão [...]”. Nessa realidade, se ressalta que a proteção do Patrimônio Edificado de uma sociedade perpassa a preservação dos prédios históricos, praças ou bens de uso coletivo, envolvendo diretamente uma mudança de perspectiva

4 Edificação histórica com relevância cultural e histórica.

5 Patrimônio material construído (edificações históricas) deixado por nossos antecessores, Patrimônio Edificado.

(18)

sobre a importância que esses prédios e bens urbanos possuem para a coletividade. Pois somente através dessas ações é que parte da população irá compreender e se conscientizar da necessidade de se preservar o Patrimônio Arquitetônico.

Portanto, essa mudança de perspectiva em vista à Educação Patrimonial se apresenta como um elemento fundamental por meio da contextualização das questões históricas, das correlações de forças que cercam a cidade e de sua morfologia. Embora seja algo de grande valor para formação da cidadania, ela é bastante limitada no contexto da realidade educacional brasileira. Isso porque, o assunto é de competência do ensino fundamental, conforme preconiza a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no ensino de Artes e é conteúdo obrigatório no componente curricular de História para o Ensino Médio apenas no terceiro ano (BRASIL, 2017).

Mesmo sendo parte da estrutura formal educacional brasileira, a proteção do Patrimônio Arquitetônico ainda é pouco explorada junto à produção do conhecimento da educação básica, criando assim grandes vácuos na formação destes alunos e resultando na falta de uma compreensão crítica acerca dos interesses que se sobrepõem a essa temática. Portanto, é imperativo concordar com Corrêa (1989), quando o autor afirma que o espaço urbano é reflexo da condição da sociedade. Assim, o vazio formativo educacional relativo ao Patrimônio Arquitetônico e os interesses que o cercam, em parte, reflete a desvalorização das obras arquitetônicas.

Esse movimento de desvalorização fica evidente quando as áreas centrais, que outrora abrigaram a moradia e o comércio popular em prédios com grande valor histórico passaram a ser vistas como potenciais áreas de realização de lucro, tornando as edificações com valor histórico um entrave para o movimento de acumulação econômica. Pois, para o capital especulativo a proteção do Patrimônio Edificado se torna um empecilho aos seus interesses.

Nesse sentido, a compreensão desses mecanismos de funcionamento, sobretudo, as suas pressões sobre as áreas centrais compostas por obras culturais, tem o potencial de despertar a análise crítica sobre o funcionamento das cidades modernas e os interesses que as cercam.

1.2RECORTE LOCAL

Nessa perspectiva, a qual a preservação e manutenção do Patrimônio Edificado possui um alcance limitado junto aos meios educacionais formais, assim como por toda população brasileira. Se mostra favorável situar um recorte local com grande importância para analisar e compreender como esse fenômeno se comporta na realidade urbana das cidades brasileiras.

Desse modo, o caso particular de Campos dos Goytacazes, município localizado no Norte

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Fluminense (Figura 1) ajuda nessa problematização no sentido da compreensão das relações existentes entre os interesses hegemônicos dos setores imobiliários e a preservação do Patrimônio Cultural. Além dos fatores pessoais já citados, a escolha da abordagem deste estudo foi atribuída pela grande relevância cultural, principalmente, patrimonial arquitetônica existente na Zona de Comércio do Centro Histórico (ZCH) da cidade de Campos dos Goytacazes.

Figura 1: Localização do Objeto de estudo

Fonte: Elaborado pela autora, 2022. Com dados de Mapa de zoneamento adaptado de ANEXO III DA LEI 0016/2020.

É importante ressaltar que Campos dos Goytacazes possui grande relevância no cenário regional, visto que a história do município em muito se confunde com a própria história da Região Norte Fluminense e o seu Patrimônio Arquitetônico em muito reflete essa centralidade.

Campos também possui grande influência da economia regional visto que desde os tempos áureos do setor sucroalcooleiro até se transformar no maior produtor de petróleo do Brasil6, o município passou por diversos ciclos econômicos que podem ser observados em sua rica arquitetura.

1.3JUSTIFICATIVA E PROBLEMATIZAÇÃO

A composição arquitetônica da região central de Campos dos Goytacazes tem em sua marca a arquitetura eclética e contém também uma extensa variedade de outros estilos arquitetônicos com grande valor histórico e cultural. Mesmo sendo um importante e interessante acervo, grande parte se encontra degradado pela ausência de manutenção e ineficiência de políticas públicas, onde inúmeras edificações não vêm exercendo suas funções sociais7. “O Patrimônio é símbolo que expressa grande valor para a coletividade podendo ser visto, sentido e vivido” (OLIVEIRA; MUSSI; ENGERROFF, 2020, p. 25). Logo, a ausência de uma valorização a partir do uso do Patrimônio Arquitetônico em Campos dos Goytacazes, contribui de forma determinante para o seu abandono, o que reflete diretamente no apagamento de parte

6 O título de maior produtor de Petróleo se devia pelo fato da maior parte dos poços de petróleo da Bacia de Campos estarem nos limites oceânicos do município (CRUZ; NETO, 2016).

7 Consiste na atribuição de função de uma propriedade por meio do uso.

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da memória social local. Esse fato contribui para a criação de um sentimento de não identificação de boa parte da população com esse mesmo Patrimônio, ou seja, do desconhecimento e do não reconhecimento se provém o não uso, o que por sua vez afasta a população de parte de sua cultura.

Dessa forma, é importante salientar nos últimos 187 anos de elevação da Villa de São Salvador a cidade de Campos dos Goytacazes, diversas intervenções urbanas foram colocadas em prática e a região central do município foi uma das áreas que mais sofreu intervenções.

Segundo Oliveira (2012) a primeira grande intervenção ficou a cargo do Plano de Desenvolvimento Regional de 1834 que buscava propor melhorias para o acesso à capital, em 1837 o Plano Bellegarde propôs estabelecer uma reorganização da cidade visando a facilitação do fluxo de mercadorias. Em 1842, o Plano de Aformoseamento teve como objetivo a reorganização da área central. Destacam-se, ainda, o Plano de Saneamento de 1902, do engenheiro sanitarista Saturnino Brito, que teve como objetivo promover o higienismo8 e moldar a localidade na tentativa de transformá-la na Capital da Província; e o Plano de remodelamento de 1944 que surgiu para ordenar o crescimento urbano de Campos9.

Apesar de ter tido experiências pretéritas com o Planejamento Urbano, foi apenas a partir de 2008 que foi posto em prática, até mesmo por sua obrigatoriedade10, um Plano Diretor estruturado e que abarcasse boa parte das necessidades de desenvolvimento para o município.

Embora fosse um plano para todo a cidade, o Plano Diretor de 2008 deu ênfase ao urbanismo e conseguiu delimitar várias questões que precisavam de urgente atenção. Foi a partir desse mesmo plano que houve a definição da Área Especial de Interesse Cultural (AEIC) que definiu e delimitou o conjunto arquitetônico de interesse para preservação cultural.

Segundo Wanderlei (2016), nesse momento, as intervenções tenderam a ter o caráter de

“revitalização” com a pretensão do retorno dos usos do Centro Histórico da cidade devido ao interesse do setor comercial local. Em detrimento dessa visão, foi posto em prática o projeto de Revitalização do Centro Histórico de 2012 que foi iniciada, porém não concluída, segundo o arquiteto responsável Cláudio Valadares, em boa parte se deu devido ao impasse entre a prefeitura e a concessionária de energia elétrica que se negou a retirar os postes de eletricidade para fazer a troca pela instalação subterrânea devido ao pagamento não executado pelo governo

8 Neste trabalho é definido como a ação de setorizar a cidade, de maneira que a área central tenha por característica a concentração do capital, do poder privado e das classes sociais de maior poder aquisitivo.

9 Tema discutido por FARIA (2000; 2005).

10 Por meio do Estatuto da Cidade se impôs aos municípios a terem planos diretores participativos baseados na gestão democrática (BRASIL, 2001, LEI No 10.257, Art. 2o ).

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local. Por fim, em 2019 foi instituído o Projeto “Viva o Centro” que previa inúmeras melhorias através de iluminação, paisagismo e infraestrutura, entretanto, não foi executado.

Por vezes, as intervenções que ocorreram no Centro Histórico da cidade tiveram o caráter de modernização e embelezamento, sem, contudo, modificar a compreensão sobre a necessidade de preservação. Como parte de um balanço desses processos na região central de Campos, foi possível perceber a ausência de políticas públicas de preservação vinculadas à Educação Patrimonial, visto que a ausência de uma justificativa para além dos interesses privados crivou essas intervenções públicas como algo notadamente voltado para a valorização econômica do espaço, o que favoreceu a especulação imobiliária.

Assim, a visão do espaço como um suporte para os interesses puramente econômicos entra em conflito com a noção do meio possuidor de outras dimensões que também devem ser observadas para que esse mesmo local não se torne um campo estéril de sentidos e significados para a coletividade. Nesse sentido, Halbwachs (1990), afirma que o lugar se torna fonte de testemunhos quando determinados grupos sociais compartilham memórias coletivas e através dessas memórias há a identificação social. No entanto, a partir de renovações do solo que se derivam na não apropriação dos espaços pela população de maneira geral se incide a ausência de memória cultural que acarreta na não identidade de uma determinada sociedade por esse local em questão.

1.4QUESTÕES DE PESQUISA

A partir da problematização do espaço urbano que compreende a Zona de Comércio do Centro Histórico (ZCH) de Campos dos Goytacazes, este estudo propôs avançar nas discussões acerca das formas de apropriação do espaço, identificação dos interesses hegemônicos que se apropriam do locus e o papel que a Educação Patrimonial poderia possibilitar como parte de resistência a esses processos. Portanto, foram delimitadas duas principais questões de pesquisa:

1. O Centro Histórico da cidade age como objeto de especulação, processo esse que incide diretamente na preservação do Patrimônio Arquitetônico, por meio de demolições e deteriorações?

2. Como a política pública baseada na educação patrimonial arquitetônica poderia restaurar a identidade social por meio da memória coletiva expressa pelas narrativas construídas?

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1.5OBJETIVOS

A forma com que o Centro Histórico de Campos vem sendo abordado por políticas públicas pouco dialoga com formas efetivas de preservação encontradas na literatura. Prata (2018), ao analisar a lógica da ação do poder público no Centro Histórico campista, afirmou que a maioria da população não compreende a lógica dessa ação, visto que até mesmo a política de tombamento de prédios históricos não possui sentido, sobretudo, para os proprietários dos imóveis. Portanto, se defende por meio desta dissertação que uma das saídas para esse entrave seria a prática de se educar para preservar, criando assim condições para a reabilitação desses espaços por meio do conhecimento, pois o saber gera o interesse e esse gera o uso.

Tendo em vista a necessidade de ampliar o conhecimento sobre as dinâmicas imobiliárias vivenciadas no Centro Histórico de Campos partir da Educação Patrimonial este estudo propôs o seguinte objetivo geral:

 Ampliar as discussões sobre o Centro Histórico campista por meio da produção de um Circuito Educacional virtual disponível na plataforma youtube, através do mapeamento das arquiteturas que foram transformadas e modificadas devido aos interesses imobiliários.

Como forma de subsidiar o objetivo geral, este estudo estabeleceu também objetivos específicos que buscaram, sobretudo, viabilizar a disseminação do conhecimento patrimonial junto aos alunos do ensino médio do Colégio Estadual Nilo Peçanha:

 Apontar e explicar o processo de especulação imobiliária sobre o Patrimônio Arquitetônico do Centro Histórico;

 Identificar a causa da desvalorização da arquitetura local, como a ausência de apropriação de prédios históricos do Centro;

 Propagar a cultura patrimonial arquitetônica por meio da transmissão da pesquisa.

1.6PRODUTO DA DISSERTAÇÃO

Como forma de dialogar diretamente com a realidade, este estudo de forma propositiva teve o compromisso de estabelecer um Produto Educacional com o objetivo de difundir a Educação Patrimonial. É importante ressaltar que desde a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1937 ele preconizava o incentivo da introdução do estudo do Patrimônio na grade curricular das escolas. Além disso, a partir da criação de Museus

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durante a “fase heroica”11 do IPHAN, em 1970, o tema garantiu maior destaque com a criação do Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC) e, em 1981 o “Projeto Interação” do CNRC é apresentado em Seminário no documento “Diretrizes para operacionalização da política cultural do MEC”. Em 1983 é introduzido pela primeira vez no Brasil o termo “Educação Patrimonial” e em 1986 é publicado o “Guia Básico de Educação Patrimonial” como uma ação educativa realizada pelo IPHAN.

Após um hiato de ações em prol da Educação Patrimonial, em 2004 entra em vigor o Decreto n° 5.040/04 que teve como objetivo a criação de uma unidade administrativa que seria responsável por guiar e promover a Educação Patrimonial. Em 2009 com o Decreto 6.844 a Coordenação de Educação Patrimonial foi vinculada ao Departamento de Articulação e Fomento (DAF) para promover, coordenar e integrar o programa no âmbito de Educação Patrimonial, assim como inúmeros eventos foram promovidos pelo IPHAN (IPHAN, 2014).

No Norte Fluminense, o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) destaca o início de sua trajetória na Educação Patrimonial no ano de 2008. No município de Campos dos Goytacazes se apresentam ações pontuais e/ou segmentadas por meio de órgãos e instituições locais. Entretanto, de acordo com Almeida (2019), através da pesquisa de campo por meio de entrevistas diretas aos transeuntes do Centro Histórico de Campos dos Goytacazes se pôde perceber o interesse por grande parte desses por conhecer mais sobre a história patrimonial arquitetônica local. Dessa forma, a fim de problematizar os elementos condicionantes da memória coletiva por meio da promoção da cultura patrimonial arquitetônica nas escolas e contribuir, para a expansão do acervo teórico acerca da do Patrimônio Arquitetônico existente em Campos, foram construídos dois produtos como resultantes deste estudo:

1. Cartilha explicativa online acerca dos prédios históricos contidos nesse circuito.

Disponível em: https://www.flipsnack.com/EAA5A9DD75E/circuito-educacional-n- o-patrimonial-3-0.html (APÊNDICE 2);

2. Circuito virtual do Centro Histórico versus a Especulação Imobiliária utilizado na pesquisa de campo com os alunos do Colégio Estadual Nilo Peçanha. Disponível em: https://youtu.be/YZZVSUMEsPU.

Além da cartilha e dos vídeos para divulgação de forma a ampliar o conhecimento, este trabalho se estendeu a outras formas de comunicação desenvolvidas para estudantes, usuários

11 Período de trinta anos em que o IPHAN foi presidido por Rodrigo Melo Franco de Andrade, período em que teve o número mais expressivo de bens acautelados pelo órgão, sobretudo, em estilo colonial (1937-1967) (IPHAN, 2014).

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e comunidade, em geral, pode-se citar, a exemplo, a publicação de artigos científicos. Além disso, em vista de potencializar o alcance dos resultados do estudo em questão, foram utilizadas mídias sociais, como o instagram e o youtube. A partir de então se verificou o potencial do Produto Circuito Educacional Virtual em funcionar como uma ferramenta para a capacitação, tanto para estudantes de escolas, quanto a seus professores, a fim de facilitar a contextualização da educação patrimonial em sua metodologia educacional.

1.7ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Em razão da proposta do presente trabalho com a temática fundamentada na apropriação cultural dos espaços livres e edificados do Centro Histórico de Campos dos Goytacazes por meio da democratização do saber patrimonial arquitetônico, se favoreceu a estruturação do trabalho em cinco partes, além das informações pré-textuais, da apresentação, introdução, resultados, considerações finais, referências bibliográficas com as fontes citadas no escopo desse estudo e apêndices.

O capítulo 2 denominado “Produção, reprodução do espaço e os interesses em jogo”

aborda as relações e processos que formam o espaço urbano. Para isso, se fundamenta em autores como Corrêa (1989), Maricato (2015), Vainer (2002), Lefebvre (2011), Smith (1988), entre outros. O capítulo 3 “A educação patrimonial como política pública para preservação de narrativas construídas” trata da defesa e valorização do Patrimônio Edificado por meio da Educação Patrimonial. Através desse intuito, se baseia nos seguintes autores: Choay (2017), Pollak (1989), Nora (1993), Grunberg (2007), Guimaraens (2002), dentre outros.

O capítulo 4 nomeado como “Percurso metodológico” aborda a metodologia de elaboração da presente dissertação, assim como, as estratégias e táticas para produção do produto educacional. O capítulo 5 “Leitura e diagnóstico do Centro Histórico” trata de toda análise realizada no objeto de estudo. Para isso, se fundamenta em autores locais como: Feydit (1900), Faria e Quinto Junior (2017), Assis (2016), Godoy e Aliprandi (2016), Prata (2018), Puglia (2011), entre outros. Além de revisitar trabalhos anteriores da autora como “O Patrimônio Arquitetônico como motivador da requalificação do entorno urbano do Centro Histórico de Campos dos Goytacazes” produzido em 2019 e “Reabilitação do Patrimônio Arquitetônico através de três pilares de proteção” elaborado em 2022. O capítulo 6 denominado

“Produto: circuito educacional” compreende a testagem do produto junto a sua divulgação e resultados obtidos por meio da análise da pesquisa de campo.

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2 PRODUÇÃO, REPRODUÇÃO DO ESPAÇO E OS INTERESSES EM JOGO

2.1INTRODUÇÃO

Este Capítulo destaca as relações e os interesses que cercam o meio habitado, em especial o Centro Histórico da cidade, como objeto de especulação, processo esse que incide diretamente na preservação do Patrimônio Arquitetônico, por meio de demolições e deteriorações. Além de abordar as formas com as quais o Planejamento Urbano, se utilizado para o interesse da coletividade, é capaz de promover um ambiente urbano que consiga atender às aspirações das distintas classes sociais que conformam o tecido urbano.

Assim, serão abordados: o planejamento urbano e mercantilização das cidades; os interesses sobre o espaço urbano e preservação arquitetônica; e alguns processos indutores de transformações do espaço. Isso porque, segundo Villaça (2000), entender os processos sócio- espaciais intraurbanos alcançados por meio da dominação política e econômica, é compreender a forma territorial e isso é fundamental para entender a especificidade do espaço urbano.

2.2PLANEJAMENTO URBANO E MERCANTILIZAÇÃO DAS CIDADES

O conceito de produção social do espaço, introduzido por Lefebvre, destaca a organização sócio-espacial urbana como produto dos processos econômicos, políticos e culturais que regem o conjunto da sociedade. Porém, na medida em que os estudos sobre a produção espacial avançam, pode-se afirmar que “nenhum modelo isolado de economia política [...] pode ser usado para deduzir os padrões sócio-espaciais atuais do desenvolvimento regional multinucleado”, que é o desenvolvimento a partir do surgimento de inúmeros núcleos, ou seja, o aparecimento de novas centralidades e subcentralidades locais (GOTTDINIER, 1993, p.197).

Uma vez que o Desenvolvimento Polinucleado12 alcançou novas escalas e esse se atribui por meio de inúmeros processos simultâneos e opostos, como centralização e descentralização, os regimes econômicos, políticos e sociais ditaram e, ainda ditam, a estruturação urbana por meio da setorização da sociedade; mas não de forma isolada, a estruturação se dá por meio de inúmeros interesses que juntos favorecem o desenvolvimento desigual do espaço urbano.

Além disso, Gottidinier (1993) afirma que o desenvolvimento desigual do espaço não é fruto somente dos modelos de cidades capitalistas, visto que esse fenômeno aparece indistintamente em todas as tipologias das sociedades industriais por meio de processos que conduzem a constante reorganização urbana. Esse fato se deve principalmente a estruturação

12 Emergência de múltiplas centralidades complexas e diversificadas devido à incidência de novos fluxos derivados pela ação do processo de fragmentação, segundo Spósito (2001).

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espacial que é produzida pela articulação do Estado e Grupos Hegemônicos, de forma a facilitar o desenvolvimento social para lugares que, por motivos especiais, o poder atuante acredite ter potencial para satisfazer seus próprios interesses.

Nesse sentido, o espaço urbano contém usos e funções que delimitam áreas, ou seja, setores geográficos que, por sua vez, sugerem uma organização espacial simultaneamente fragmentada, articulada e reflexo social. Por conta disso, a fragmentação é produto da desigualdade social e ocorre por meio da diferenciação do valor da terra e o poder de compra de determinado grupo social para residir nessa área e obter a infraestrutura básica. Por outro lado, a articulação é notada a partir das relações políticas e os investimentos oriundos dos interesses do capital e se atribui por meio dos jogos de poderes e qualificação de determinado local através de políticas públicas que visam favorecer o interesse privado. Por fim, o Espaço Urbano acaba se tornando um reflexo social que se verifica pela característica do espaço ser mutável de forma a se aderir a determinado contexto histórico o qual a sociedade está inserida e isso ocorre por meio da mutabilidade do espaço para se adequar a determinado momento temporal (CORRÊA, 1989).

Portanto, a organização espacial é um condicionante da sociedade quando há reprodução das condições de produção, de maneira a muitas vezes se derivar em áreas residenciais segregadas. É também um local de reprodução de classes sociais, devido as ideologias, crenças e valores projetados nas formas espaciais como monumentos, locais sagrados e uma rua especial, além de ser um conjunto de símbolos e campo de lutas, pois a fragmentação suscita o conflito social. Desse jeito, Corrêa (1989) afirma categoricamente que o espaço urbano é um produto social devido as características que as relações econômicas e políticas ganham ao se expressar no tecido urbano.

Nesse contexto, a partir da segunda metade do Século XX, o ajuste neoliberal13 junto ao grande processo de reestruturação da produção capitalista14, sobretudo no mundo de trabalho, criou as condições para desregulamentação do trabalho e privatização de serviços públicos através de estratégias que permeiam a política neoliberal que sugere o Estado mínimo15, atingindo diretamente as políticas públicas urbanas. Assim sendo, o sistema político e os

13 Compreendeu processos como: abertura econômica, privatizações e modificação na legislação trabalhista, previdenciária, tributária e administrativa. No caso brasileiro o ajuste Neoliberal ganhou força já no início no governo de Fernando Collor, de 1990 até 1992 e foi aprofundado pelo governo Fernando Henrique Cardoso no período de 1995 a 2002 (BRANDÃO, 2013).

14 O Neoliberalismo no Brasil se atribuiu juntamente a reestruturação global do capitalismo através do mercado como o principal regulador das relações econômicas. Dessa maneira, essa reestruturação se atribuiu nas formas de produção, por vezes através da precarização do mundo do trabalho (BRANDÃO, 2013).

15 Tem como característica a não intervenção do estado, liberdade de mercado e concorrência.

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direitos universais, não evoluíram, acarretando o aumento do desemprego, precarização das relações de trabalho, retrocesso nas políticas sociais, ou seja, aumento da desigualdade social (MARICATO, 2015). Por conta disso, o prejuízo nos direitos sociais e políticas públicas para a sociedade se refletiu em grandes consequências no território, deixando mais evidente as desigualdades e retrocessos políticos, sociais e culturais, dramaticamente perceptíveis no acesso desigual ao solo urbano e piora da qualidade de vida da urbe.

A retração do Estado16 teve efeitos sociais bastante significativos, porém destacam-se o surgimento e o fortalecimento de inúmeros movimentos de lutas em prol das minorias que até então estavam sub representadas, dentre eles destacam-se os movimentos de luta e igualdade das mulheres, negros, LGBTQIA+17, justiça ambiental; entre outros. Quanto à questão urbana pouco se avançou no combate à desigualdade, as Políticas Públicas e Sociais acabaram sendo utilizadas para consolidar o domínio de classe através de amplos subsídios estatais, ou seja, o Estado fez grandes investimentos na infraestrutura urbana com o planejamento urbano aliado ao controle fundiário, como por exemplo, a produção massiva de moradias populares nas periferias dos grandes centros urbanos (MARICATO, 2015).

Para Fayad e Besciak (2017), as rápidas mudanças que ocorrem no interior da cidade contemporânea geraram uma verdadeira revolução urbana, sendo que essas mudanças necessitam de novas formas de planejar, conceber e gerir as mesmas cidades. É importante notar que esse processo, em muito, é consequência de uma sociedade individualista que desemborca em um urbanismo racional e tecnicista que despreza as diversidades locais. Embora se compreenda a urbe como um organismo vivo que pulsa e cresce de acordo com a complexidade das relações e dos variados interesses a ela impostos, se verificou um planejamento urbano baseado no valor de troca como protagonista. Segundo Maricato (2015), com o advento do planejamento urbano modernista, há a consolidação de desigualdades e especulação imobiliária, além de, o processo de modernização se realizar de forma incompleta pois a cidade não é pensada para todos os segmentos sociais.

Segundo Vainer (2012), como resultado da intensificação dos processos de isolamento social e a transformação da cidade em mercadoria, o Planejamento Estratégico surge como forma de gerir a cidade a partir de uma visão empresarial. A partir do Planejamento Estratégico o valor de uso da cidade perde espaço para o valor de troca e passa-se a pensar a cidade como

16 É a diminuição da participação do Estado como agente regulador na economia, o que sugere a menor proteção ao trabalhador por meio de legislações reguladoras.

17 Movimento político e social que defende a diversidade e busca maior representatividade e direitos para a população: lésbicas, gays, bissexuais, transgênero, queer, intersexo, assexual, entre outras identidades de gênero e orientações sexuais.

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uma empresa, ambiente fértil para a arquitetura-espetáculo e cidade mercadoria que consequentemente se torna local para poucos. Nesse sentido, se ressalta o objetivo do urbanismo moderno e neoliberal expresso pela competitividade urbana, onde, de acordo com Santos (2019), o colonialismo, patriarcado e o capitalismo são três formas de dominação atuantes. Por consequência, para Vainer (2002), a cidade é compreendida como uma empresa e uma pátria, que precisa se adequar as regras da concorrência capitalista para competir com outras cidades por investimentos, com grande prejuízo em sua essência da cidade como habitat.

Ao aproximar a cidade do conceito empresarial, o marketing urbano ganha um sentido estratégico e passa ser o objetivo central para as gestões públicas que passam a competir em si.

Segundo Castells e Borja (1996 apud Vainer, 2002, p. 80), nesta lógica concorrencial, os governos locais devem buscar “promover a cidade para o exterior, desenvolvendo uma imagem forte e positiva apoiada numa oferta de infra-estruturas e de serviços [...] que exerçam a atração de investidores, visitantes e usuários solventes à cidade [...]”. Assim, o urbanismo condicionado pelo neoliberalismo prevê o embelezamento da cidade sem ao menos preservar a ordem e os usos já existentes, buscando uma cidade como mercadoria de luxo disponível somente para aqueles que podem comprar, ou seja, a classe de maior poder aquisitivo e o mercado.

Para Castells (1997, p. 190 apud Vainer, 2002, p. 84) “as grandes cidades são as multinacionais do século XXI”, dessa maneira para ele, se atribui a necessidade do planejamento estratégico típico de uma empresa. Nesse contexto, a cidade também é concebida como pátria ao se utilizar de elementos monumentais para sugerir o pertencimento e a identificação do seu povo com o seu próprio local. Em que se faz oposição direta ao pertencimento pela apropriação que um local deveria estimular aos seus cidadãos para acolher a diversidade já existente. Conforme dito abaixo:

Cabe ainda ao governo local a promoção interna à cidade para dotar seus habitantes de 'patriotismo cívico', de sentido de pertencimento, de vontade coletiva de participação e de confiança e crença no futuro da urbe. Esta promoção interna deve apoiar-se em obras e serviços visíveis, tanto os que têm um caráter monumental e simbólico como os dirigidos a melhorar a qualidade dos espaços públicos e o bem- estar da população (BORJA, 1997, p. 14 apud VAINER, 2002, p. 94-95).

Harvey (2014) reforça a ideia de que no sistema capitalista o direito individual se sobrepõe ao coletivo, assim como o direito de propriedade privada se sobrepõe ao direto à cidade, em que, por meio da especulação imobiliária e distribuição do uso do solo o espaço se fragmenta e polariza. Nessa realidade, nas cidades a acumulação do capital se atribui por meio da urbanização, ou seja, através da absorção dos excedentes do capital e do trabalho. De forma similar Lefebvre (2011, p. 28) afirma que “a industrialização se comporta como um poder negativo da realidade urbana: o social urbano é negado pelo econômico industrial”, sendo que

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a estruturação da cidade é estabelecida a partir da divisão do território que é realizada pela divisão do trabalho e de classes sociais e, junto ao poder centralizado se verifica a democracia da “não-liberdade”.

Segundo Smith (1988), o desenvolvimento desigual de uma cidade é resultado da formação da urbe pela lógica capitalista, onde o capitalismo produz a contradição entre as classes sociais e a submissão do trabalho ao capital. Dessa maneira, o capital também produz o espaço e domina a natureza, tendo no poder público a sua sustentação por meio da coação18 da população politicamente vulnerável. Nesse sentido, Harvey (2014) afirma que o poder político tem o potencial de reorganizar as infraestruturas e a vida urbana através de intervenções que criam o sentimento de insatisfação popular ao mesmo tempo que mantém o controle sobre essa mesma população. Para Castells (2013, p.8), na sociedade capitalista “o poder é exercido por meio da coerção19 (o monopólio da violência, legítima ou não, pelo controle do Estado) e/ou pela construção de significado na mente das pessoas, mediante mecanismos de manipulação simbólica”. No entanto, “[...] uma vez que as sociedades são contraditórias e conflitivas, onde há poder há também contrapoder”, em que Castells (2013, p. 8) ainda acrescenta que contra- poder é a capacidade de os atores sociais desafiarem o poder embutido nas instituições da sociedade com o objetivo de reivindicar a representação de seus próprios valores e interesses.

Nesse contexto, o urbanismo democrático que contempla o direito à cidade, à memória coletiva e à prática do relacionamento do ser humano com o outro e com o meio se destaca como oposição direta ao urbanismo neoliberal, tecnicista e racionalista. No planejamento urbano democrático o protagonismo se expressa pelo valor de uso, diversidade e vivência, em que “[...] o valor de troca e a generalização da mercadoria pela industrialização tendem a destruir, ao subordiná-las a si, a cidade e a realidade urbana, refúgios do valor de uso, embriões de uma virtual predominância e de uma revalorização do uso” (LEFEBVRE, 2011, p. 14). Isso porque, para Lefebvre (2011, p.22), “a vida urbana pressupõe encontros, confrontos das diferenças, conhecimentos e reconhecimentos recíprocos (inclusive no confronto ideológico e político) dos modos de viver, dos ‘padrões’ que coexistem na cidade”.

Através de um viés descritivo, Jacobs (2014) argumenta que desse urbanismo ortodoxo variam inúmeras problemáticas como cortiços segregados e perigosos, conjuntos habitacionais de classe média padronizados e monótonos, conjuntos habitacionais de luxo segregados e

18 Ação tomada pelo Estado a fim de garantir o cumprimento de interesses e/ou deveres. Seja por meio do controle do Estado na organização de áreas e setores da cidade ou pela manipulação através do significado de símbolos locais.

19 Idem acima.

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separados da vida da cidade e, principalmente a perda da convivência e vivência dos centros.

Assim sendo, se destaca a grande preocupação quanto ao futuro das cidades devido ao cerne do problema estar sempre associado às aparências, à impressão exterior e não ao real funcionamento da cidade. Pois o “embelezamento” por meio da renovação urbana, por exemplo, não trata o problema e sim o transfere de lugar, de forma a passar a impressão de uma cidade “bela”. Portanto, o intuito destas mudanças seria o de privilegiar o interesse das classes dominantes e do poder privado em detrimento das classes menos abastadas, agindo pela expulsão das mesmas do lugar que outrora se gerava diversidade naturalmente. Assim sendo, Jacobs (2014, p. 21) afirma que “é tolice planejar a aparência de uma cidade sem saber que tipo de ordem inata e funcional ela possui. Encarar a aparência como objetivo primordial ou como preocupação central não leva a nada, a não ser a problemas”.

Embora no urbanismo neoliberal o direito à cidade seja silenciado, no urbanismo democrático o direito à cidade é evidenciado, assim como a convivência e a diversidade são retomadas. Então, “para compreender as cidades, precisamos admitir de imediato, como fenômeno fundamental, as combinações ou as misturas de usos, não os usos separados”

(JACOBS, 2014, p. 103). Nesse contexto, se compreende até aqui a necessidade de prever a infraestrutura urbana acessível a todos, por meio de um modelo de planejamento que gere maior diversidade. Logo, Harvey (2014, p. 245) confirma essa ideia ao afirmar que a cidade é um direito coletivo concentrado e não individual exclusivo, “todos aqueles cujo trabalho está envolvido em produzir a cidade têm um direito coletivo não apenas àquilo que produzem, mas também de decidir que tipo de urbanismo deve ser produzido, onde e como”.

Portanto, segundo Maricato (2015), para se resolver essa problemática urbana que se estabelece até os dias atuais é preciso: atribuir visibilidade da cidade real e dos conflitos, além da reforma administrativa e capacitação de agentes para o planejamento e reforma fundiária.

Pois além de silenciar a diversidade, apreende-se que o urbanismo vigente nas cidades brasileiras, ou seja, o urbanismo neoliberal moderno é uma ferramenta de agentes modeladores do espaço, especialmente, o Estado que juntamente ao interesse privado desenha e delimita a cidade para setorizar a vivencia das classes sociais. Por conseguinte, agir para garantir que a cidade seja objeto de especulação, conforme discriminado no próximo tópico.

2.3 INTERESSES SOBRE O ESPAÇO URBANO E A PRESERVAÇÃO ARQUITETÔNICA

Segundo Corrêa (1989) todos aqueles que atuam no processo de estruturação da cidade de forma a produzir setores espaciais são definidos como agentes modeladores do espaço. A partir dessa premissa pode-se introduzir a questão da transferência do valor de uso para o valor

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