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Tempo de colheita

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Academic year: 2018

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TEMPO DE COLHEITA

Francisco Carvalho

Leio Tempo de Colheita - o mais recente livro de poe-mas de Linhares Filho, Doutor em Letras pela Univers1aade F-edeml do Rio de Janeiro e professor do Uepanamento de Letras Vernáculas, do Centro de Humanidades da Universida-de FeUniversida-deral do Ceará.

Conhecendo, de longa data, o seu indiscutível talento poé-ti co e o extremo rigor de sua consciência literária, não cons-tituiu nenhuma surpresa, para mim, o fato de constatar que na sua poesia atual continuam a prevalecer aqueles mesmos pre-dicados e aqueles mesmos valores que a tornaram conhecida, respeitada e admirada entre nós.

Espírito essencialmente crítico, sensibilida·de vigilante, ab· soluto domínio do artesanato e dos complexos problemas da linguagem e das micro-estruturas de que se compõem os con-textos literários, Linhares Filho comporta-se, em todos os momentos, como um poeta que se desincumbe serenamente dos seus privilégios de escritor, um poeta •lUe tudo conhece e tudo sabe sobre os fenômenos de que se constela o universo da poesia.

O aspecto social, o aspecto ético, o aspecto filosófico, o élspecto estético e o a•specto religioso - todas essas dimen-sões, além do aspecto existencial e do metafísico, estão har-moniosamente articula·das na engenhosa trama metafórica dos seus poemas.

Sua poesia, aliás, sempre se evidenciou por uma atmos-fera de religiosidade extraordinariamente marcante. Verifico, ngora, que essa• conotação mística de sua veia poética assu-miu novo colorido e entonações mais profundas. Não apenas }' 0 respira esse clima de religiosidade a partir do título do

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livro, imfjregnado de sugestões bíblicas, niãs sobretudo êrr\

algumas peças de conteúdo religioso explícito, como é o caso dos s0netos " Além da Estrada de Damasco '', " Um dos de Emaús" e " Esperança" e também no poema 'Oferenda", com seu marcado feitio de oração.

Há momentos de verdadeira e intensa poesia nos textos enfeixados em Tempo de Colheita. Escrevendo em versos livres ou praticando a versificação de feitio tradicional , o desempe-nho poético do autor é sempre relevante e sempre nos im-pressiona pela marca pessoal, pelo rigor, pela beleza- e pela expressividade. Unhares Filho é um conhecedor profundo de todos os labirintos da palavra, de todos os matizes e magne-tismos do verso, sem esquecer " os segredos da arte de erguer universos com a constela•ção dos signos", na feliz expressão do crítico Sânzio de Azevedo.

É incontestável a densidade lírica dos poemas do seu úl-timo livro. Algum dos seus sonetos adquirem uma expressivi-dade muito grande e é fora de dúvida que isso acontece pela forma inova·dora como foram elaborados. Um exemplo isolado é a bela quadra com que se inicia o Soneto do Amor Efêmero:

"Fugaz momento o de uma febre acesa no limite da espera e da partida. Viva inquietude a da a•lma dividida pela mão segurada sobre a mesa."

A poesia de Unhares Filho, se não adota o discurso social explícito, em consonância com o figurino da chamada arte poé-tica engajada, nem por isso deixa de ser um documento extre-mamente sensível e extreextre-mamente representativo dos anseios e aspirações da sociedade contemporânea. Sobretudo o seu canto se volta para os oprimidos, para os desamparados da vida-e para os " quvida-e só têm migalha": " Gvida-emvida-e o vvida-ento nortvida-e/ pvida-elos mais sem sorte ) Geme o vento sul/ pelos pobres nus" .

O poema Elegia do Suicida da Torre é outro dos textos do livro que mostram claramente o rumo da bússola poética do autor de Tempo de Colheita.

Extremamente preocupado com os aspectos formais de sua poesia•, cujos processos de elaboração são bastante valo-rizados pela responsabilidade com que o poeta· costuma enca-rar o seu ofício de escritor, Unhares Filho consegue o difícil equilíbrio de 」セ^ョ」ゥャゥ。イ@ as suas ambições de modernidade com a valorização estética• da linguagem literária.

Estou convencido de que este poeta não se coloca ao lado daqueles para os quais só existe poesia a partir da

ex-146 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 <1/2) - jan./dez. 1987

lll'essão ostensivã dà §entlmerltos ideológicos .

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grande Jorge Lw s t:sorges, tarecido recentemente, teve a coragem de dizer que procurava nos livros a emoção estética. E nao sei de

nin-ucm que o tivesse contestado. A mediação estetica, pa•ra U-lillares Filho, é um referencial de indiscutível relevância na lurmu lação do texto literário. Releva salientar que a• densidade rnotafísica é outra dimensão preponderante na poética do

urtor cearense .

Gostaria de fazer um destaque especial parao o poema lwnanceiro de um Morto Vivo, sobre a morte de Tancredo IJovcs. É sabido, aliás, que a morte do político mineiro deu ••nnojo a uma enxurrada de poemas medíocres, conforme se vl u em alguns dos suplementos literários que se publicam no l 'uls . O poeta Unhares Filho, o que não é surpresa para

nin-lllt l rn, ultrapassou brilhantemente essa medianidade literária. Nu realidade, ele escreveu um dos melhores textos poéticos

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livro, imJ')regnado de sugestões bíbiicas, rilàs sobretudo êm algumas peça•s de conteúdo religioso explícito , como é o caso dos s0netos " Além da Estrada de Damasco " , " Um dos de Emaús" e " Esperança" e também no poema 'Oferenda", com seu marcado feitio de oração.

Há momentos de verdadeira e intensa poesia nos textos enfeixados em Tempo de Colheita. Escrevendo em versos livres ou praticando a versificação de feitio tradicional, o desempe-nho poético do autor é sempre relevante e sempre nos im-pressiona pela marca pessoal, pelo rigor, pela beleza e pela expressividade. Unhares Filho é um conhecedor profundo de todos os labirintos da palavra, de todos os matizes e magne-tismos do verso, sem esquecer " os segredos da arte de erguer universos com a constela•ção dos signos", na feliz expressão do crítico Sânzio de Azevedo .

É incontestável a densidade lírica dos poemas do seu úl-timo livro. Algum dos seus sonetos adquirem uma expressivi-dade muito grande e é fora de dúvida que isso acontece pela forma inovadora como foram elaborados. Um exemplo isolado é a bela quadra com que se inicia o Soneto do Amor Efêmero:

" Fugaz momento o de uma febre acesa no limite da espera e da partida. Viva inquietude a da a•lma dividida pela mão segurada sobre a mesa."

A poesia de Unhares Filho, se não adota o discurso social explícito, em consonância com o figurino da chamada arte poé-tica engajada, nem por isso deixa de ser um documento extre-mamente sensível e extreextre-mamente representativo dos anseios e aspirações da sociedade contemporânea. Sobretudo o seu canto se volta para os oprimidos, para os desamparados da vida· e para os "que só têm migalha": "Geme o vento norte/ pelos mais sem sorteJ Geme o vento sul/ pelos pobres nus".

O poema Elegia do Suicida da Torre é outro dos textos do livro que mostram claramente o rumo da bússola poética do autor de Tempo de Colheita.

Extremamente preocupado com os aspectos formais de sua poesia, cujos processos de elaboração são bastante valo-rizados pela responsabilidade com que o poeta· costuma enca-rar o seu ofício de escritor, Unhares Filho consegue o difícil equilíbrio de cc:mciliar as suas ambições de modernidade com a valorização estética• da linguagem literária.

Estou convencido de que este poeta não se coloca ao lado daqueles para os quais só existe poesia a partir da

ex-146 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 <1/2) - jan./dez. 1987

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l .stas notas apenas para dizer das excelentes impressões t11111 1110 causaram os poemas mais recentes de Unhares Filho . 1\11 lodo do grande crítico cuja eficiência todos lhe reconhece-1111111 o aplaudimos, convive, nele, um poeta de superior cate-111111, om perfeita sintonia com os mistérios do mundo e com

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Referências

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