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DO NOVO TESTAMENTO À PATRÍSTICA

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Academic year: 2022

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Aula 02

História da Teologia - UNIGRAN

DO NOVO TESTAMENTO À PATRÍSTICA

Caríssimo, na aula 01 você pode entender como o paganismo acaba influenciando e ajudando o cristianismo com suas categorias, com suas ideias e pensamentos, enfim, com a reflexão teológica.

Agora, nesta aula, cujo título é “Do Novo Testamente à Patrística”, estaremos dando um novo passo.

Que tal conhecer os nossos objetivos?

Objetivos de aprendizagem

Ao final desta aula o aluno será capaz de:

• entender a função fundante do Novo Testamento para a Teologia;

• perceber as principais etapas da Patrística;

• compreender as principais características da teologia patrística, bem como sua teologia simbólica.

Seções de estudo

• Seção 1 - O Novo Testamento

• Seção 2 - Quadro geral da Patrística

• Seção 3 - A Teologia Simbólica da Patrística

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Seção 1 - O Novo Testamento

Caro(a) aluno(a), depois de termos iniciado nosso estudo nesta disciplina, História da Teologia, gostaria de chamar sua atenção para algo. Você percebeu que podemos ter muitos objetos de estudo da área histórica. Mas, e aqui devemos nos atentar ao fato de que a História que refletimos é a História da Teologia cristã, ou seja, como é que a Teologia cristã foi desenhando-se no decorrer da história.

O objeto histórico aqui é a Teologia. Portanto, não nos deteremos na história que, por exemplo, a teologia islâmica ou a judaica foram traçando ao longo do tempo, mas à teologia cristã. Isso se faz assaz importante já que aqui estudaremos os textos fundantes da fé cristã contidos no Novo Testamento.

A primeira geração cristã, que compreende o século I de nossa era, realizou verdadeira teologia. Os escritos, que testemunham esse enorme esforço de intelecção para responder às perguntas: “quem é Jesus para nós?” e “quem somos nós a partir de Jesus?”, foram agrupados no que chamamos hoje de “Novo Testamento”.

Pierre Pierrard

Disponível em:

http://partenia2000.

over-blog.com/

article-3263520.html Novo Testamento:

É o nome dado à coleção de livros que compõe a segunda parte da Bíblia cristã, escrito após a morte de Jesus Cristo e é dirigido explicitamente aos cristãos, embora dentro da religião cristã ambos os testamentos, o an go (antes de Cristo) e o novo são considerados, em conjunto, Escrituras Sagradas.

Para que tenhamos como ponto de par da Jesus, vejamos nas palavras de Pierre Pierrard um breve resumo de sua vida histórica:

Jesus nasceu da Virgem Maria, em Belém, no ano 4 ou 5 antes da era que leva seu nome. Deitado em uma manjedoura, teve como primeiros admiradores alguns pastores e, depois, magos vindos do Oriente. Depois de uma estada no Egito, ele se instala com Maria – e José, seu pai ado vo – na aldeia galileia de Nazaré. No ano de 27, de lá saiu para receber o ba smo das mãos de João, que o apresentou às mul dões como “o cordeiro de Deus”.

Foi nas margens do lago Tiberíades que Jesus escolheu seus apóstolos – fundamento de sua Igreja. Foi lá que começou a pregação. Comentando um texto da Lei na sinagoga de Cafarnaum, ele assombra seus ouvintes, pois, contrariamente aos escribas, fala com autoridade, solicitando que se ultrapassem as prescrições farisaicas, afi rmando que não nha vindo para revogar a Torá, mas sim para dar-lhe pleno cumprimento, e anunciando o Reino que virá.

Ainda que Jesus tenha ido a Jerusalém para a celebração da Páscoa, em 28 e em 29, é na Galileia que sua mensagem toma corpo. Foi lá que ele pronunciou suas mais belas parábolas. Foi às mul dões reunidas na Galileia que ele ensinou o “Pai Nosso”, que ele anunciou sua Paixão; foi para elas – famintas e pobres como ele próprio – que mul plicou os pães; foi sobre elas que lançou o estranho e paradoxal programa que deveria ser a carta de uma humanidade nova: “Bem-aventurados os pobres, os mansos, os afl itos, os que têm fome e sede de jus ça, os misericordiosos,

Nascido em 26 de fevereiro de 1920 em Roubaix, morreu em 08 de dezembro de 2005, é um historiador francês.

Foi presidente da Amizade Judaico- Cristã da França 1985-1999.

Em 1984, ganhou o Grande Prémio da literatura católica por seu livro A Igreja e os trabalhadores.

Em 2001, recebeu o Grand Prix Gobert da Academia Francesa por seu trabalho como historiador dedicado às relações entre a Igreja e a sociedade moderna.

(Wikipédia).

Acesso em, 15 jun.

2010, às 23h.30

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Assim sendo, o que é fundamental para a reflexão cristã é o mistério de Cristo Jesus. Isso significa que tudo gira em torno da revelação de Deus em Cristo. Reflexão esta que se faz a partir de uma adesão de fé, que se tornam seguidores daquele que viveu, morreu e ressuscitou.

Para Libânio e Murad (1996, p. 112), o Novo Testamento, visão de diversos autores, não é, justa e propriamente, um compêndio de escritos teológicos.

O Novo Testamento é teologia fontal, paradigmática e estimuladora de toda futura teologia, ao mesmo tempo em que sua base irrenunciável. Simultaneamente, é a

“teologia do princípio” (Karl Rahner) e o princípio da teologia.

No Novo Testamento, o sujeito da teologia, evangelista ou autor de epístola, dirige-se a uma comunidade cristã concreta ou grupo de comunidades.

No entanto, os escritos neotestamentários também se destinam aos grupos que estão fora da comunidade, desde que predispostos a aderir ao grupo de seguidores de Jesus. Conhecemos os diferentes estilos desta reflexão: teologia narrativa dos evangelhos e Atos, literatura epistolar e apocalíptica. Longe de ser, todavia, reflexão acadêmica e especulativa, expressam os resultados da experiência cristã fundante, pretendendo suscitar e alimentar a fé.

A teologia das primeiras comunidades cristãs toca a fonte de onde surge a própria fé. É o encontro com Jesus Cristo, vivo e ressuscitado.

Para Lafont (2000, p. 11), o Cristianismo, desde o princípio, apresentou- se como um “caminho”, ou mais exatamente como o Caminho da salvação, e a razão pela qual houve teologia em seus primórdios é a de que, interiormente à própria vida da comunidade, deve-se renovar incessantemente a atualidade do testemunho com palavras adequadas aos diversos contextos; mas há também uma razão exterior, que consiste em situar o mistério cristão com relação à tradição judaica e à sabedoria grega e buscar formas de se comunicar com elas.

os puros, os que promovem a paz, os perseguidos...”, todos aqueles que o “mundo”

rejeita desde o aparecimento do homem sobre a terra.

Quando, no fi m do ano 29, Jesus desde lentamente até Jerusalém, ele sabe que será entregue aos romanos. A glória dos Ramos precede um pouco a prisão, o processo diante do sumo sacerdote e depois perante Pilatos, a morte na cruz, a sepultura, provavelmente em abril do ano 30.

A morte de Jesus é admi da. Já sua ressurreição choca, escandaliza ou provoca sorrisos. Mas o testemunho dos apóstolos gira em torno da relação entre a morte e a ressurreição de Jesus: aquele que foi visto expirando, morto, foi visto depois de três dias, vivo, idên co a si mesmo, capaz de ser tocado e de par lhar a ceia de seus amigos. Seria Cristo ressuscitado que seus discípulos passariam a pregar. É ele que cons tui o fundamento do cris anismo: “se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé”, escreveu Paulo. Foi no júbilo da ressurreição de Jesus e na expecta va de uma parusia iminente que as primeiras comunidades cristãs se expandiram (PIERRARD, 1986, 16-17).

Karl Rahner Teólogo alemão que exerceu grande infl uência dentro da teologia católica.

Nasceu em 1904 e morreu em 1984.

Evangelistas O termo vem da palavra evangelho. O evangelista proclama as boas novas da redenção para os perdidos.

Os quatro evangelistas são:

Mateus. Marcos, Lucas e João.

Eles escreveram os quatro Evangelhos considerados canônicos pela maioria das confi ssões cristãs.

CrisƟ anismo Religião da fé em Jesus Cristo, de sua é ca e sua promessa de redenção.

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Libânio e Murad (1996, p. 114) mostram sinteticamente que a teologia fontal do Novo Testamento pode ser caracterizada como:

a) Pneumática: a teologia está embutida no Espírito que suscita a continuidade dos seguidores de Jesus;

b) Eclesial: é nascida no seio vivo de uma comunidade a caminho e referida a ela;

c) Missionária: destinada a transmitir e recriar a fé cristã;

d) Vivencial: é repleta de sentimentos, conotações afetivas e força convocatória, proveniente da experiência cristã;

e) Contextualizada: não retrata desejo explícito de fazer reflexão única e universal, válida igualmente para todos. Cria unidade como solidariedade entre os diferentes;

f) Aberta ao futuro: estimula interpretações enriquecedoras, novas releituras situadas.

• Seção 1 - O Novo Testamento

No Novo Testamento, a primeira geração cristã fez verdadeira teologia.

Buscando responder “quem é Jesus para nós?” e “quem somos nós para Jesus?”, ela se torna teologia fontal, paradigmática e estimuladora de toda teologia, devido a sua proximidade com Jesus Cristo em sua vida, morte e ressurreição, cujos escritos são expressão desta experiência cristã fundante.

CONCEITO

Estamos indo muito bem! Vamos relembrar algumas informações relevantes sobre a 1ª sessão?

Suas caracterís cas são:

- pneumá ca;

- eclesial;

- missionária;

- vivencial;

- contextualizada;

- aberta para o futuro.

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Seção 2 - Quadro geral da Patrística

Muito bem! Depois de aprendermos sobre o Novo Testamento, que tal aprendermos um pouquinho sobre a Patrística?

A partir desse momento desenha-se no horizonte do tempo o período patrístico, que se findará no século VIII.

A Patrística é o período que compreende do século I ao século VII, em que encontramos os escritos dos Padres da Igreja em seus primórdios (e de outros também, mas que, neste caso, não considerados padres da Igreja). Os critérios para que se considere um padre da Igreja, segundo a teologia cristã católica, são:

deve viver no período antigo (do século I ao século VII), ortodoxia, santidade de vida e a aprovação da Igreja por meio de algum escrito, por exemplo.

Ora, por teologia patrística se entende toda formulação e desenvolvimento teológico realizado pelos teólogos dos sete primeiros séculos do cristianismo.

Assim, no que se refere à teologia patrística, faz-se, oportuno vislumbrar brevemente certas fases, autores, para, ainda que rapidamente, compreendermos sua extensão.

Do século I ao século II, a teologia patrística é caracterizada pela fase dos Padres Apostólicos, ou seja, “pessoas e documentos que interpretaram e pregaram a mensagem apostólica na primeira geração depois dos apóstolos”

(OLSON, 1999, p. 40), tendo por grandes nomes Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Papias de Hierápolis, a Epístola de Barnabé e Hermas e a Didaché e outros.

No século II, temos os Padres Apologistas ou Apologéticos ou Gregos, cujos nomes que marcam esta fase são: Aristides, Justino, Taciano, Atenágoras, Teófilo de Antioquia, bem como a Carta a Diagoneto, Hérmias e Sentenças de Sexto.

Antes de continuarmos com o nosso conteúdo, que tal definirmos melhor quem são os Padres Apologistas?

Os Padres Apologistas eram escritores cristãos que procuravam defender o cristianismo contra oponentes pagãos, cuja maioria tentou demonstrar semelhanças entre a mensagem e cosmovisão cristãs e o que havia de melhor na filosofia grega.

?

VOCÊ

SABIA Mesmo ainda não tendo morrido o úl mo Apóstolo, já se tem no cris anismo uma série de escritos que tratam de problemas, explicitações, aprofundamentos e defi nições de fé, etc.?

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No século II até 325, ainda, temos a fase da Reflexão sistemática, com Tertuliano, Orígenes, Irineu, Hipólito e outros.

Já do século III ao IV, é a época das escolas teológicas. Na Escola de Alexandria temos Atanásio, Cirilo, por exemplo. Na Capadócia, Basílio, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa. A Escola de Antioquia, Teodoro, Cirilo de Jerusalém, João Crisóstomo.

Do século IV ao século V, temos a fase esplendor, com os nomes de Agostinho, Jerônimo, Ambrósio, Leão Magno, Efrém e outros.

E na fase que podemos dizer ser a final, do século VI ao século VII, onde vemos o declínio da literatura patrística, temos Gregório Magno, Isidoro de Sevilha, Boécio, João Damasceno.

Assim, vejamos o quadro:

A patrística tem valor imenso para a teologia atual, tanto pelos conteúdos que ela gestou, quanto pela forma mesma de compreender a reflexão da fé a serviço da igreja no mundo. Quer os dogmas cristológico-trinitários, quer as práticas sacramentais e muitas atitudes e crenças referentes à vida, à morte e ao pós-morte foram moldados por ela ou repousam em seus alicerces.

SÉCULO FASE NOMES PRINCIPAIS

I-II Padres Apostólicos Clemente de Roma, Inácio

de An oquia, Policarpo de Esmirna, Didaché

SÉCULO FASE NOMES PRINCIPAIS

II Apologistas Jus no, Tanciano, Teófi lo

de An oquia, Carta a Diogneto

II-III Refl exão sistemá ca Tertuliano, Orígenes, Irineu, Hipólito

III-IV Escolas teológicas Alexandria: Atanásio, Cirilo Capadócia: Basílio,

Gregório de Nazianzo, Gregório de Nissa An oquia: Teodoro, Cirilo de Jerusalém, João Crisóstomo

IV-V Fase de esplendor Agos nho, Jerônimo,

Ambrósio, Leão Magno, Efrém

VI-VII Final Gregório Magno, Isidoro

de Sevilha, Boécio, João Damasceno

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• Seção 2 - Quadro geral da Patrística As fases que marcam a Patrística foram:

- Séculos I-II: Padres Apostólicos;

- Século II: Apologistas;

- Séculos II-III: Reflexão sistemática;

- Séculos III-IV: Escolas teológicas;

- Séculos IV-V: Fase de esplendor;

- Séculos VI-VII: Fase final.

Como vimos, a teologia patrística abarca o período de sete séculos, compreendendo desde a geração imediatamente posterior aos apóstolos até a dos que prepararam a teologia medieval. Tem valor imenso para a teologia atual, tanto pelos conteúdos que ela gestou, quanto pela forma mesma de compreender a reflexão da fé a serviço da Igreja no mundo. Quer os dogmas cristológico- trinitários, práticas sacramentais e atitudes e crenças referentes à vida, à morte e ao pós-morte foram moldados por ela ou repousam em seus alicerces.

Seção 3 - A Teologia Simbólica da Patrística

1. Contexto e desafios

Após o período intermitente de perseguições políticas, o cristianismo é reconhecido pelo Império Romano e cresce enormemente. Desenvolve-se assim um processo de iniciação (catequese), que postula reflexão com certo grau de sistematicidade. Após a paz constantiniana, no século IV, a Igreja corre dois grandes riscos: helenizar sua doutrina, operando uma união demasiadamente fácil entre a fé e o pensamento helênico, e secularizar-se, entrando nas estruturas do Império pelo caminho das honras, dos privilégios, do frequente apoio dos poderes públicos. Os padres respondem a esse desafio, mantendo o fermento evangélico nos aspectos existencial, práxico e intelectivo. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 116)

A nostalgia grega do Uno, como fundamento e sentido da inquietante festa do múltiplo, traduzia-se, no plano da mentalidade, no fascínio exercido pelo modelo da gnose sapiencial.

Estamos indo muito bem; certo? Vamos relembrar algumas informações relevantes sobre a segunda seção?

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Havia uma sede de unidade e totalidade, refletida também com a expansão do Império Romano. Orienta-se, então, no pensar teológico, a seguinte pergunta:

como pode existir verdadeira sabedoria fora do Cristo total, e, se existir, como se pode conciliar com a plenitude cristã? Já que o Cristo se encontra recapitulado em tudo o que é verdadeiro, bom e belo presente no universo.

Com a expansão do cristianismo, surgem também grupos radicais, que tendem a descaracterizar a identidade cristã, como donatistas, docetistas, gnósticos, etc. Entretanto, o embate com as heresias estimula o avanço da teologia, pedindo por precisão de termos e fidelidade criativa à Escritura.

2. Características da teologia patrística

A teologia patrística se caracterizou, então, como subjaz a grande parte da reflexão patrística a matriz da gnose sapiencial. Ideal difuso em toda a Antiguidade e expresso em grupos muitos diversos, a gnose, conhecimento superior, não consiste em puro conhecimento conceitual, e sim, numa postura complexa, na qual intervêm afeto, vontade, conceito, raciocínio, intuição e atitudes de vida. Antes de tudo, a gnose ocupa-se da questão humana global e concreta da felicidade do ser humano, de sua perfeição total e unitária (salvação), a partir de suas condições existenciais. Mesmo tendo como componente essencial o aspecto conceitual, inquisitivo e argumentativo, a gnose valoriza sobremaneira o lado intuitivo, experimental, vital e “místico”.

CURIOSIDADE

Segundo Plo no, o Uno refere-se a Deus, dado que sua principal caracterís ca é a indivisibilidade. "É em virtude do Uno [unidade] que todas as coisas são coisas." (Plo no, Enéada VI, 9º tratado).

Você percebeu quantas informações superinteressantes nós temos? Ao lado temos algumas defi nições que facilitará o entendimento.

?

VOCÊ SABIA

Por heresia se compreende a negação de uma verdade de fé.

DonaƟ stas

(Cujo nome advém de Donato de Casa Nigra, bispo da Numídia e posteriormente de Cartago) foi uma seita religiosa cristã, considerada heré ca e cismá ca pelo catolicismo. Surgiu nas províncias do Norte de África na An guidade Tardia.

Iniciou-se no início do século IV e foi ex nta no fi nal do século VII.

[1] Os autores que mais infl uenciaram os dona stas, em termos de doutrina religiosa, foram São Cipriano, Montano e Tertuliano.

(Wikipédia). Acesso em 16 jun. 2010, às 10h

DoceƟ smo

Doce smo (do grego δοκέω [dokeō], "para parecer") é o nome dado a uma doutrina cristã do século II, considerada heré ca pela Igreja primi va.

Antecedente do Gnos cismo, defendia que o corpo de Jesus Cristo era uma ilusão, e que sua crucifi cação teria sido apenas aparente.

Não exis am

"docetas" enquanto seita ou religião específi ca, mas como uma corrente de pensamento que atravessou diversos estratos da Igreja.

(Wikipédia). Acesso em 17 jun. 2010, às 20h.

GnosƟ cismo Movimento religioso, de caráter sincré co e esotérico, desenvolvido nos primeiros séculos de nossa era à margem do cris anismo ins tucionalizado, combinando mis cismo e especulação fi losófi ca.

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Assim, a gnose sapiencial cristã conjuga três estratos: o cultural, comum aos povos da Antiguidade, o hebraico e o especificamente centrado na pessoa de Jesus Cristo.

O princípio patrístico “Crer para entender, entender para crer” ilumina todo esse momento teológico. Compreender e crer condicionam-se mutuamente.

Os protagonistas da teologia patrística, bispos, sacerdotes e leigos, elaboram reflexão de fé de cunho predominantemente pastoral. O material, hoje disponível, provém de diversas fontes: homilias, textos litúrgicos, comentários de textos da Escritura, textos de catequese, obras de caráter polêmico etc. No início do século III, formam-se “escolas teológicas”, sendo as de Antioquia e Alexandria, rivais entre si, as mais conhecidas. Enquanto a primeira tendia à exegese literal da Bíblia, na segunda predominava o sentido espiritual (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 117-118).

Assim, a reflexão de fé dos Padres é marcadamente bíblica, litúrgica, crístico- eclesial, inculturada e plural. E, assim, recorreremos a Libânio e Murad – em Introdução à Teologia (1996) –, que nos ajudarão a entender melhor essas características.

a) Bíblica

Considerar a Escritura como Palavra de Deus escrita, capaz de mudar a vida de seus receptores, consiste no primeiro e fundamental pressuposto da leitura teológica patrística. Já no final do século II, a Bíblia (ou parte dela), verdadeira matriz para a elaboração da linguagem eclesial, circulava em todas as circunstâncias da vida da comunidade.

Compreende-se por gnose uma forma peculiar de conhecimento, patrimônio de um grupo de eleitos, que tem por objeto os mistérios divinos. Desta forma a gnose aparece em diversas correntes fi losófi cas e religiosas.

Dis ngue-se claramente do gnos cismo, o conhecimento dado a conhecer por um revelador-salvador e garan do por tradição esotérica, e é capaz de salvar quem o possui (G.

FLORIAMO apud LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 117).

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Dada a influência da cultura helenística, especialmente por meio de tendências neoplatônicas, da gnose e da perspectiva anagógica que orientam sua leitura, predomina na patrística a interpretação simbólica da Escritura.

O simbolismo, com tal grau de desenvolvimento, traduz-se muitas vezes em hermenêutica alegórica. A interpretação das imagens do texto bíblico extrapola de muito o campo de sentido originário que lhe deu origem.

b) Litúrgica

O termo “teologia”, sobretudo nos Padres gregos, articula o discurso sobre Deus, reflexão sobre o dado da revelação, com o falar para Deus, especialmente nas manifestações culturais. Segundo Salvatore (p. 1178),

a liturgia cristã é essencial e existencialmente teologia, porque é sempre palavra de Deus conhecida na realidade que agora se adquire no rito simbólico. Isso explica sufi cientemente por que, na época patrística, a liturgia era pensada e vivida como momento particularmente feliz de verdadeira e autêntica teologia.

No Oriente, até hoje, considera-se a liturgia como “primeira teologia”.

A liturgia já se apresenta como expressão completa da fé, quando a reflexão teológica começa a se desenvolver. Desse modo, a tradição litúrgica se torna a primeira e mais universal avaliação da ortodoxia da fé. Há, portanto, na patrística, dupla ligação entre teologia e liturgia. A liturgia, como locus theologicus e teologia primeira, discurso dirigido a Deus, alimenta, expressa e faz-se norma de fé e de sua intelecção. A teologia, por sua vez, desemboca na expressão de louvor e adesão a Deus, especialmente na liturgia.

Cultura HelenísƟ ca Cultura helenís ca, vem dos helenos, isto é, gregos. Logo, é cultura dos gregos de então.

Simbolismo

“A alegoria pertence originariamente à esfera do discurso, do logos, sendo pois uma fi gura retórica ou hermenêu ca.

Em lugar daquilo que se quer realmente dizer coloca-se algo diferente, algo mais à mão, mas de maneira que, apesar disso, esse deixa e faz entender aquele outro. O símbolo, ao contrário, não se restringe à esfera do logos, pois não é o seu signifi cado que o liga a outro signifi cado, mas, ao contrário, é seu ser próprio e manifesto que tem ‘signifi cado’.

Na medida em que se exibe, reconhecemos nele algo diferente.”

(Cf. GADAMER, H.-G.

[2007, p. 119-120])

Anagógica

E mologicamente, o termo anagogia vem do grego “na-agogé”

que signifi ca conduzir para cima. Assim, originariamente, o termo signifi ca a elevação do espírito às realidades celes ais, escatológicas.

?

VOCÊ

SABIA A palavra liturgia (do grego λειτουργία, "serviço" ou "trabalho público") compreende uma celebração religiosa predefi nida, de acordo com as tradições de uma religião em par cular; pode incluir ou referir-se a um ritual formal e elaborado (como a Missa Católica) ou uma a vidade diária como as salats muçulmanas.

(WIKIPÉDIA. Acesso em 22 jun. 2010, às 20h15)

Salvatore, Marsili.

Teologia litúrgica em Dicionário de Liturgia.

p.1178.

CURIOSIDADE

Locus theologicus: lugar teológico.

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b) Crística e eclesial

Em sua visão teológica, os Padres contemplam o cosmos em sua totalidade, centrado em Jesus Cristo. A pessoa de Jesus Cristo, em sua relação viva com a Igreja, constitui a chave privilegiada de leitura dos dados da fé.

No período patrístico, grande parte da sua produção teológica emerge da vida da comunidade e para ela se destina, como atesta o imenso patrimônio de homilias, cartas e outros ensaios. Voltada para a Igreja, a reflexão apresenta enorme incidência pública, impregnando a trama social.

Só se alcança o sentido da Escritura mediante a interpretação na Igreja e por ela mesma. A comunidade eclesial se reconhece a si própria nestes livros e sente-se responsável por sua conservação e correta transmissão, pois neles reside o elemento nuclear da fé que a move. A Sagrada Escritura tem sentido, em termos cristãos, porque pertence à comunidade eclesial e a constitui.

c) Criativa, inculturada e plural

A patrística marca a ingente tarefa de inculturação da fé cristã no helenismo. A Igreja vive um período de criatividade e expansão. Abre espaço dentro de um mundo altamente civilizado e dotado de grande cultura intelectual.

Numericamente minoritária, exerce poder de comunicação e atração.

A apropriação de categorias e esquemas filosóficos, especialmente neoplatônicos e estóicos, é comandada pela matriz da gnose sapiencial e pela primazia da experiência da fé. Na patrística oriental, a cristianização do helenismo, utilizando a tradição neoplatônica num sentido ortodoxo, foi obra dos grandes capadócios. Os Padres gregos são concordes em mostrar os limites do nosso conhecimento de Deus (teologia apofática). Na patrística ocidental latina, impressionam a coerência e a unidade que Agostinho estabelece entre a interpretação da Escritura, a síntese cristã e as grandes categorias neoplatônicas.

A ousada atitude dos Padres de reler e aprofundar os dados da fé cristã, formulados originalmente com categorias hebraicas, na pauta da cultura helenista, longe de constituir desvio da identidade cristã, caracteriza a mais bem-sucedida experiência de inculturação da teologia e do próprio cristianismo. A teologia patrística caracteriza-se ainda por relevante pluralismo, ilustrado pelas diferenças entre os padres gregos e latinos e as escolas teológicas.

A necessidade de respostas novas e inusitadas à fé cristã torna o discurso teológico passível de erro. Cria-se, portanto, um rico processo pedagógico de

Você está gostando da nossa segunda aula?

Vamos aprofundar um pouquinho mais?

ApofáƟ ca Teologia ob da a par r da negação sobre Deus. Exemplo:

Deus, em sua natureza divina, não é fi nito.

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tentativas, correções e acertos na elaboração dos dados da fé. As controvérsias teológicas convertem a era patrística na época, talvez, mais interessante de toda a história da Igreja, já que nesse período nascem e se desenvolvem vivamente problemas que, de forma explícita ou tácita, persistem até hoje.

No período patrístico, não raras vezes, concentram-se na mesma pessoa as diferentes funções de bispo, evangelizador, místico e teólogo. Partindo da Bíblia, os Padres realizam a tarefa integradora de alimentar a mística, realizar a pregação e desenvolver a intelecção da revelação. A figura de Jesus Cristo unifica os diversos aspectos da reflexão teológica, nascida no interior da Igreja inculturada e destinada a fortalecer sua presença e atuação na sociedade.

À guisa de conclusão, hoje, quando o tema da inculturação se mostra candente e decisivo, o exemplo da patrística é iluminador. As escolas teológicas testemunham o sadio pluralismo que contribuiu para o aprofundamento da verdade revelada. A teologia simbólica, gerada na patrística, inspira a superação de certa “frieza” de pretenso objetivismo científico que até certo tempo dominava a teologia. A liturgia, berço da teologia patrística, modela a relação original e fecunda entre pensar e celebrar a fé, abrir-se gratuitamente ao mistério inefável e ousar falar sobre ele. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 125)

Ainda, acontece atualmente uma progressiva “desescatologização” e

“des-historização” da teologia. No âmbito da elaboração ontológico-metafísica do dado revelado, os padres se mostram ecléticos, sem conseguir uma filosofia homogênea que também se harmonize com a lógica do pensamento cristão. É deficiente o instrumental filosófico usado na construção da gnose sapiencial.

Além disso, nem sempre é possível superar os limites da filosofia grega, como o dualismo neoplatônico ou o rigorismo ético de outras correntes.

• Seção 3 - A Teologia Simbólica da Patrística

Dentro da Patrística nós encontramos a Teologia Simbólica, que se caracteriza em ser:

- bíblica;

- litúrgica;

- crística;

Desescatologização e des-historização Quando falamos nesses termos, estamos nos referindo a rar ou desconsiderar o conteúdo escatológico de algo. Sendo que escatologia é o estudo das realidades úl mas que o ser humano vivencia.

Desestorização se refere a rar ou desconsiderar o conteúdo histórico de algo. Portanto, esses termos vêm para desconsiderar os conteúdos escatológicos e históricos da teologia, como está escrito no texto.

Vamos relembrar algumas caracterís cas da terceira seção?

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- eclesial;

- criativa;

- inculturada;

- plural.

Retomando a conversa inicial

• Seção 1 - O Novo Testamento

Na seção 1 falamos sobre a história como lugar de se fazer teologia.

Jesus nasce de um povo escolhido, o povo de Israel.

• Seção 2 - Quadro geral da Patrística

Na seção 2 vimos que os Padres apostólicos e os apologetas contribuíram na fundamentação da teologia cristã.

A teologia patrística é importante para a sistematização da teologia fundamental.

• Seção 3 - A Teologia Simbólica da Patrística

Nesta seção esclarecemos que dentro da Patrística nós encontramos a Teologia Simbólica, que se caracteriza em ser bíblica, litúrgica, crística, eclesial, criativa, inculturada e plural.

Muito bem!

Você gostou da aula de hoje?

Na página seguinte temos ó mas sugestões de leituras, sites e fi lmes para você aprofundar ainda mais esse tema.

Um grande abraço e até a próxima aula...

Estamos indo muito bem!

Então, para encerrar nossa aula, vamos recordar?

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Sugestões de leituras, sites e fi lmes

Leituras

ALTANER, Berthold; STUIBER, Alfred. Patrologia. Voda. Obras e Doutrina dos Padres da Igreja. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1982.

BÍBLIA DE JERUSALÉM. 4. ed. rev. ampl. São Paulo: Paulus, 2006.

Sites

• http://patristicabrasil.blogspot.com/

• http://www.scribd.com/doc/13938436/Patristica-o-periodo-Patrisco-do-Cristianismo- 100-a-451-AD

Filmes

Que tal um fi lminho?

• Paixão de Cristo

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