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Reflexos de um projeto de extensão voltado às ciências e ao público feminino: família, comunidade escolar e autoanálise / Reflections of an extension project for sciences and female public: family, school community and self-analysis

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p.70729-70742,sep. 2020. ISSN 2525-8761

Reflexos de um projeto de extensão voltado às ciências e ao público feminino:

família, comunidade escolar e autoanálise

Reflections of an extension project for sciences and female public: family,

school community and self-analysis

DOI:10.34117/bjdv6n9-499

Recebimento dos originais: 08/08/2020 Aceitação para publicação: 22/09/2020

Edirene de Lara

Graduanda em Licenciatura em Química.

Instituição: Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Curitiba/ Departamento Acadêmico de Química e Biologia

E-mail: edirene@alunos.utfpr.edu.br

Ingrid Kich Severo

Graduanda em Licenciatura em Química.

Instituição: Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Curitiba/Departamento Acadêmico de Química e Biologia

E-mail: ingrids@alunos.utfpr.edu.br

Larissa Kummer

Formação acadêmica mais alta: Doutorado em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil

Instituição de atuação atual: Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Câmpus Curitiba/Departamento Acadêmico de Química e Biologia

Endereço completo: Rua Deputado Heitor de Alencar Furtado, 5000. Bairro CIC - CEP 81280-340 - Curitiba - PR

E-mail:lkummer@utfpr.edu.br

Maurici Luzia Charnevski Del Monego

Formação acadêmica mais alta: Doutorado em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal

Instituição de atuação atual: Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Câmpus Curitiba/Departamento Acadêmico de Química e Biologia

Endereço completo: Rua Deputado Heitor de Alencar Furtado, 5000. Bairro CIC - CEP 81280-340 - Curitiba - PR

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RESUMO

A presença de mulheres nas áreas de ciências exatas ainda é baixa quando comparada à inserção em outras atividades e, portanto, depende de vários estímulos para que essa realidade seja diferente. Para tanto, foi desenvolvido um projeto de extensão universitária com um grupo de 15 estudantes e cinco professoras, de cinco escolas públicas diferentes, totalizando um grupo de 20 mulheres. O trabalho foi estabelecido por meio de oficinas experimentais e aulas preparatórias para as Olimpíadas Científicas, realizadas no período de um ano letivo. Assim, o objetivo deste artigo é analisar as respostas dos formulários enviados às estudantes, suas respectivas comunidades escolares e seus familiares para entender a importância do projeto de extensão universitária no contexto de ensino-aprendizagem. Foi possível observar que projetos com esse foco complementam o trabalho da escola e auxiliam na ascensão dessas meninas em carreiras relacionadas às ciências exatas e suas tecnologias.

Palavras-chaves: Extensão Universitária, Ciências exatas, Meninas nas ciências. ABSTRACT

The presence of women in the areas of exact sciences is still low when compared to insertion in other activities and, therefore, depends on various stimuli for this reality to be different. To this end, a university extension project was developed with a group of 15 students and five teachers, from five different public schools, totaling a group of 20 women. The work was established through experimental workshops and preparatory classes for the Scientific Olympics, held over a school year. Thus, the objective of this article is to analyze the responses to the forms sent to students, their respective school communities and their families to understand the importance of the university extension project in the teaching-learning context. It was possible to observe that projects with this focus complement the work of the school and assist in the rise of these girls in careers related to the exact sciences and their technologies.

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1 INTRODUÇÃO

O ensino excludente nem sempre considera a realidade do estudante no contexto de ensino-aprendizagem e isso contribui com uma mecanização da transmissão de conteúdos, além de não contribuir com o engajamento desse sujeito no seu próprio desenvolvimento cognitivo. Pensando nisso, é importante que o professor, em sua práxis, faça uso de diferentes metodologias de ensino para chamar a atenção do estudante concomitantemente à disseminação do conhecimento. Para tanto, umas das alternativas é a utilização da interdisciplinaridade e da experimentação, defendida por vários autores (Freire, P., 1987; Gadotti, M., 2001; Japiassu, H., 1976; Pombo, O., 2008).

De acordo com o modelo construtivista, em que o estudante é colocado como protagonista no processo de aprendizagem, é essencial unir o conhecimento com a realidade vivenciada por esse ator. Para Freire, P. (1987) o educando não deve ser visto apenas como receptor de conteúdos, mas como sujeito ativo de seu próprio processo do pensar. Gadotti, M. (2001) também contribui sobre o tema, explicando que a prática pedagógica deve recriar narrativas de ensino que se adaptem à realidade do estudante. Logo, uma das grandes possibilidades de oferecer diversidade pedagógica durante a aquisição de conhecimento é instigando os estudantes a aprenderem conceitos científicos através da interdisciplinaridade e da experimentação nas práticas de ensino.

No contexto brasileiro, o ensino interdisciplinar se apresentou pela primeira vez na legislação a partir da primeira versão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei no. 5.692/71 (Brasil, 1971). Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), essa abordagem também aparece através da transversalidade de vários temas no ciclo básico de ensino (Brasil, 2000). Sendo assim, de acordo com Pombo, O. (2008), a interdisciplinaridade deve ultrapassar o paralelismo e avançar no sentido da combinação de pontos de vista e de ações. Japiassu, H. (1976), defensor da desfragmentação das disciplinas, revela que a interdisciplinaridade é uma ação que pode ser realizada com o objetivo de aumentar a integração do conhecimento. Portanto, tendo como parâmetro documentos oficiais e o embasamento de teóricos, a abordagem interdisciplinar pode ser defendida por transbordar o olhar tecnicista ao se declarar como um elemento agregador no ambiente escolar.

A experimentação pode ser uma oportunidade de criar situações problemas que possibilitem utilizar a investigação para agregar a aprendizagem, assim o estudante participará ativamente no seu processo de aprendizagem. Tendo em vista que o desenvolvimento científico é concomitante à construção humana, vale ressaltar a importância da representação de cenários reais durante o estudo para propiciar uma aproximação da realidade enfrentada pelo estudante em um contexto de busca ao conhecimento científico. Para Ferreira, L. H.; Hartwig, D. R. e Oliveira, R. C. (2010), as

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atividades experimentais em ensino de ciências são um importante recurso pedagógico para a construção de conceitos. Trata-se de um processo em que o estudante é instigado a apresentar suas concepções, de modo que sejam geradas inquietações para que, mediante a investigação, seja possível chegar à aprendizagem significativa.

1.1 A IMPORTÂNCIA DAS OLIMPÍADAS CIENTÍFICAS: UMA OPORTUNIDADE PARA PROFESSORES E ESTUDANTES

Educadores podem construir novas práticas associando àquilo que já conhecem com ideias trazidas pelos discentes, os quais podem contribuir pois apresentam diferentes experiências em contextos escolares, culturais e sociais diversos. Prontamente, sabendo dessas transformações cujos indivíduos estão submetidos, é de imenso interesse que a formação docente seja continuada. Para Nóvoa, A. (2009), o conhecimento do que é ensinado também importa para o professor, porque assim o profissional estará mais apto a guiar os estudantes no processo de aprendizagem.

Uma das formas de aprofundar conhecimentos da área de ciências exatas é a participação dos estudantes nas Olimpíadas Científicas. Essa atividade depende do incentivo do professor e do interesse do estudante. Dentre as olimpíadas científicas, pode-se destacar a Olimpíada Brasileira de Química (OBQ), que tem como um de seus objetivos descobrir jovens com talentos e aptidões, além de estimular a curiosidade científica e incentivar futuros profissionais na área de Química (Programa Nacional Olimpíada Brasileira de Química, 2020). Eduardo Campos, Ministro da Ciência e Tecnologia no ano de 2005, afirmou que a olimpíada científica serve como inclusão social “uma vez que propicia o descobrimento de talentos, inclusive entre os mais carentes, gente que nunca teve uma oportunidade, e que agora passam a dispor dos meios mínimos para avançar numa carreira com melhores perspectivas” (Caldas, C. C. S. & Viana, C. S., 2016). Essa fala evidencia a importância de atividades extracurriculares que abordam conteúdos interdisciplinares em todas as áreas do conhecimento.

Em 2018, foi realizada a Olimpíada Internacional de Matemática, que reuniu mais de 100 países. Dos participantes, haviam apenas 60 mulheres entre quase 600 estudantes (Mello, O., 2019). No Brasil, o número de mulheres que seguem carreiras relacionadas às ciências exatas ainda é pequeno, elas são 36% dos bolsistas no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). As mulheres são apenas 25% na Matemática e na ciência em geral são 49% (Codeço, C. T. & Dias, C. M., 2018).

Um dos avanços percebidos pela sociedade, diz respeito ao ano de 2011, em que foi comemorado o centenário do Prêmio Nobel em Química recebido por Marie Curie e esse foi um

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dos motivos para que a Organização das Nações Unidas elegesse esse ano como o Ano Internacional da Química. Essa homenagem, partiu da vontade em dar visibilidade ao trabalho de mulheres nas ciências (Cunha, M. B. et al., 2014). Marie Curie foi um marco para a ciência, e seus trabalhos sobre radioatividade foram ignorados na Academia de Ciências até seu marido assinar coautoria (Guimarães, M., 2011). Mesmo que a presença feminina durante a formação universitária seja superior à masculina, quando é observado a ascensão profissional científica, citações e Prêmio Nobel, os homens ainda ganham maior destaque (Naidek, N. et al., 2020).

Nesta perspectiva, este projeto teve como propósito principal popularizar a ciência, além de incentivar pessoas do sexo biológico feminino à área das ciências exatas e suas tecnologias. Este trabalho pretende estabelecer conexões entre a extensão universitária e a realidade escolar de diversas meninas do ensino médio público, as observações singulares foram realizadas por meio de análise das respostas de formulários respondidos pelas estudantes e membros de suas respectivas comunidades escolares.

2 METODOLOGIA

O projeto em questão teve por objetivo inserir meninas do ensino médio público no contexto das ciências exatas. As atividades aconteceram na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Participaram cinco professoras (duas delas ministram a disciplina de Biologia, e as outras três são da área da Química) de escolas estaduais e três meninas de cada uma das cinco escolas participantes, totalizando 15 estudantes. O projeto carinhosamente chamado “Meninas nas Ciências” recebeu as estudantes escolhidas para terem aulas preparatórias para a Olimpíada Paranaense de Química (OPRQ) (aulas com duração de aproximadamente 90 minutos) e em um segundo momento, elas participaram de oficinas sobre diversos temas relacionadas à ciência e sua aplicação em diferentes tecnologias.

Nas aulas preparatórias, as abordagens dos conceitos se deu a partir de diferentes metodologias pedagógicas, como experimentação, CTSA (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente), sala de aula invertida, entre outras. Contudo a abordagem interdisciplinar é inerente à metodologia pedagógica adotada. As oficinas científicas foram realizadas por docentes de vários departamentos acadêmicos da Universidade. Alguns exemplos de estudos realizados, tanto com as estudantes como com as professoras, foram: morfologia do solo, automação de hortas urbanas, modelagem molecular, polímeros, a química dos sentidos, a importância da compostagem e a química orgânica presente nos cosméticos. Além disso, houveram momentos de conversas

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motivacionais, descontração e encontros adicionais para estudos em grupo com o intuído de estimular uma aprendizagem significativa.

As professoras de cada uma das cinco escolas realizaram oficinas de capacitação que sugerem novas abordagens de ensino com enfoque na participação ativa dos estudantes para formação do conhecimento. Desta forma, tanto alunas como professoras foram instigadas a expandir seus conhecimentos para além das fronteiras de cada disciplina.

O projeto apoiou e fez parcerias com diversas atividades vigentes na própria universidade e com a comunidade presente em seu entorno. Houve também o incentivo para que todas as participantes se tornassem multiplicadoras dos trabalhos realizados dentro da universidade em seus ambientes de estudo habitual. Entende-se que o projeto, mesmo que consistente, apresenta um limite de alcance e que por isso, as envolvidas deveriam considerar essa oportunidade para levar seus conhecimentos ao ambiente escolar e familiar. Dessa forma, um maior número de pessoas poderão ter acesso à informação que as estudantes receberam ao participar do projeto.

Para melhor entender a realidade de cada estudante que participou do projeto, foram aplicados dois questionários, enviados via grupo criado por aplicativo de conversa online, que deveriam ser respondidos de forma anônima e individual. Dentre estes questionários, um foi enviado à comunidade escolar (Quadro 1), outro para as próprias estudantes (Quadro 2) que se beneficiaram diretamente com as ações realizadas na universidade, e um terceiro destinado aos familiares das estudantes (Quadro 3).

Quadro 1 – Questionário destinado à comunidade escolar das participantes. Fonte: Autoria própria (2020).

Para Comunidade Escolar

Esse formulário é destinado à comunidade escolar das alunas participantes do projeto. Desta forma, este material deve ser respondido individualmente, tendo como objetivo compreender como as estudantes inscritas no projeto estão se desenvolvendo academicamente.

1. Qual o nome da escola que você frequenta/trabalha? 2. Qual a sua função dentro da escola?

3. Qual o seu sexo biológico?

4. Você possui formação acadêmica? Se sim, qual?

5. Antes de responder este formulário, você já havia ouvido falar do projeto "Meninas nas Ciências"?

6. Na sua opinião, tendo em vista as alunas participantes do projeto, você consegue perceber alguma mudança de postura? Se sim, qual?

7. Na sua opinião, existe alguma melhoria que pode ser feita no projeto "Meninas nas Ciências"? Dê alguma sugestão sobre o que podemos melhorar.

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Quadro 2 - Questionário destinado às alunas participantes do projeto. Fonte: Autoria própria (2020).

Para as alunas

Esse formulário é destinado às alunas participantes do projeto "Meninas nas Ciências". Deve ser respondido individualmente e tem como objetivo entender o significado dos trabalhos realizados para cada uma. Este formulário é anônimo e será utilizado para finalidades de pesquisas acadêmicas.

1. Qual a sua idade?

2. Qual a escola em que está matriculada? 3. Quantas pessoas moram com você? 4. Pensa em fazer um curso superior? 5. Você gosta da disciplina de Química?

6. Em seu colégio tem laboratório de ciências/química? Se sim, você já frequentou?

7. Como é a sua relação com o(a) professora(o) de química em sua escola? Comente sobre isso. 8. Você já havia entrado em uma universidade antes do projeto "Meninas nas Ciências"? 9. O que representa para você participar do projeto "Meninas nas Ciências"?

10. Na sua opinião, existe alguma semelhança entre a sua escola e o projeto "Meninas nas Ciências"? Qual? 11. Você acredita que pode contribuir com o projeto "Meninas nas Ciências"? Se sim, como?

12. Você acredita que os conteúdos aprendidos durante o projeto "Meninas nas Ciências" contribuíram para o seu desempenho na escola?

13. Você já teve a oportunidade de compartilhar com alguém o que aprendeu no projeto "Meninas nas Ciências"? Comente sobre isso.

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Quadro 3 - Questionário destinado aos familiares das participantes. Fonte: Autoria própria (2020).

Para os familiares

Esse formulário é destinado aos familiares das alunas participantes do projeto. Deve ser respondido de maneira individual e tem como finalidade o entendimento que pessoas do convívio das estudantes têm sobre essa atividade extracurricular. Este formulário é anônimo e será utilizado para finalidades de pesquisas acadêmicas.

1. Qual o seu parentesco com a participante do projeto "Meninas nas Ciências?" 2. Qual o seu sexo biológico?

3. Qual a sua idade?

4. Você possui formação escolar? Qual? 5. Quantas pessoas moram em sua residência? 6. Qual a sua profissão?

7. Qual a sua renda familiar mensal?

8. Quais dos veículos de comunicação abaixo você costuma utilizar frequentemente? Marque quantos quiser.

9. Quais as suas expectativas para o futuro acadêmico de seu familiar participante do projeto "Meninas nas Ciências"? 10. Você acredita que através do estudo pode haver transformação no futuro de uma pessoa? Comente sobre sua resposta. 11. Após o início do projeto, você percebeu alguma mudança no comportamento de sua familiar, participante do "Meninas nas Ciências"? Qual?

12. Qual o papel da família no desenvolvimento acadêmico da aluna participante do projeto "Meninas nas Ciências"? 13. Na sua opinião, qual a importância da escola além da formação científica dos estudantes?

Para a comunidade escolar (Quadro 1), as perguntas tiveram referência a observações sobre alguma possível mudança no comportamento social e acadêmico das meninas. Outro objetivo era verificar se o projeto estava complementando o trabalho escolar, e além disso, saber se os membros da escola acreditavam que poderiam contribuir para trabalhos de extensão universitária. Por fim, o formulário destinado às estudantes envolvidas no projeto (Quadro 2) objetivava identificar a afinidade que elas teriam com às ciências exatas, além de também conhecer suas aspirações para o futuro e entender o que significava, para elas, participar de projetos científicos como esse. Ao enviar para o grupo de familiares das participantes do projeto (Quadro 3), o objetivo era investigar o grau de instrução do grupo familiar e verificar a importância que o projeto possuía para os familiares da estudante.

Os formulários foram enviados aproximadamente seis meses após o início do projeto e cada um apresentou características singulares de acordo com seus respectivos objetivos. Todas as questões foram pensadas por um grupo de pesquisadoras, que optaram em deixar algumas respostas semi-estruturadas, enquanto outras foram elaboradas de forma a deixar o participante livre em

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p.70729-70742,sep. 2020. ISSN 2525-8761 opinar da forma que demonstrasse melhor as suas percepções.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 PERFIL DAS RESPOSTAS – COMUNIDADE ESCOLAR

No que diz respeito ao formulário destinado à comunidade escolar (Quadro 1), foi obtido um total de 26 respostas. Dentre os envolvidos na pesquisa, 18 são professores, um(a) diretor(a), quatro pedagogos(as), e um(a) zelador(a). Com o montante de 26 participantes, 18 já conheciam o projeto anteriormente à participação no questionário.

Foi realizado um questionamento para constatar possíveis mudanças nas atitudes das meninas após fazerem parte do projeto e se a comunidade estava ciente sobre o impacto do projeto no desenvolvimento das estudantes. A maioria relatou que elas incentivaram outros colegas a estudar e a se interessar mais por assuntos acadêmicos, aumento de foco e dedicação aos estudos, também apresentaram interesse em continuar a sua formação. Mesmo que se tenha percebido aspectos otimistas, quatro respostas apresentaram ressalvas, noticiando que a postura das estudantes não sofreu alteração. Essa opinião pode ser justificada segundo Tabile, A. F. e Jacometo, M. C. D. (2017), que afirmam que o aprendizado é um processo de construção de grande complexidade, tendo em vista o envolvimento de aspectos emocionais, culturais e cognitivos.

Foi questionado também sobre o que os entrevistados acreditavam que poderia ser melhorado na estruturação do projeto e as respostas foram direcionadas à sua continuidade ofertando um maior número de vagas para os estudantes de escolas públicas. Dos participantes, três pessoas apenas disseram que o desenvolvimento das atividades estava muito bom e duas pessoas não emitiram opinião. Com essas respostas, pode-se refletir sobre possíveis mudanças no desenvolvimento do projeto e pode comprovar a importância de projetos extensionistas no auxílio da comunidade escolar. Dessa maneira, o aprendizado rompe barreiras do ambiente escolar e também expande o ambiente da universidade, havendo uma troca de conhecimento (Barbosa, L. A.

et al., 2019). Isto também pode ser comprovado por Andrade, T. Y. I. e Costa, M. B. (2016), que

afirmam que a relação entre escolas públicas e universidades podem trazer diversos benefícios ao ensino básico.

3.2 PERFIL DAS RESPOSTAS – ESTUDANTES DO PROJETO

Aplicou-se o questionário para todas as estudantes envolvidas nas atividades, que possuem, em sua maioria, 15 anos, sendo que duas delas têm 16 anos. As estudantes, ao serem questionadas (Quadro 2) sobre as suas perspectivas em realizar algum curso superior, dez responderam que

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pretendem seguir os estudos, enquanto cinco responderam que “talvez” vão continuar a estudar. Com relação a obtenção e utilização do laboratório de Química em suas escolas, apenas uma relatou não ter, outras explicaram que a estrutura existe, embora elas não façam uso e as demais “têm e frequentam”. De acordo com os autores Andrade, T. Y. I. e Costa, M. B. (2016), a falta de estrutura dos laboratórios é um dos fatores que dificultam o desenvolvimento de atividades experimentais. Além da falta de infraestrutura, o tempo curricular, a insegurança dos professores e o grande número de alunos influenciam na escassez de aulas práticas no ensino de ciências (Marandino, M.; Selles, S. E. e Ferreira, M. S., 2009).

O relacionamento que as meninas têm com seus professores de química também foi indagado. É importante ressaltar que algumas das professoras que participam do projeto não são professoras de química, duas lecionam biologia. De modo geral, todas mostraram um bom relacionamento com os docentes, algumas muito carinho pelas aulas e reconheceram o esforço dos professores. O vínculo entre professor e estudante torna-se importante quando se compreende que conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções são compartilhados na fixação em busca de novos conhecimentos (Barbosa, R. M. & Canalli, M. P., 2011).

Uma das perguntas foi se elas tiveram contato anteriormente com alguma universidade antes de iniciar o projeto. Apenas uma respondeu que sim, comprovando uma demanda emergente que as universidades têm em se apresentar para a comunidade externa como um veículo útil para ações sociais. Além disso, uma das estudantes evidenciou que a participação nas ações tem a ajudado em suas avaliações escolares. Vygotsky, L. S. (2009) revela que a experimentação e o trabalho em grupo são estratégias relevantes para a construção e socialização do conhecimento. Sob um aspecto geral, todas as respostas foram positivas e muitas relataram estar fazendo parte de uma atividade única e transformadora da própria realidade que influencia positivamente no desenvolvimento delas em sala de aula. Além disso, uma das estudantes relatou interesse em fazer o curso de química, sendo que no início do projeto nenhuma estudante tinha manifestado interesse pelas ciências exatas de modo geral.

Assim, é estabelecido que a “extensão universitária tem potencial para produzir e disseminar conhecimentos e ações que aproximem e tornem concreta a relação transformadora entre a universidade e a escola básica” (Carvalho, M. E. A. et al., 2017). Sobre isso, ao levar em consideração que a ciência é plural, realizada através de conexões, um novo conhecimento leva a mudanças na vida dos sujeitos, mudando completamente seu futuro (Andrighetto, R. E.; Cardoso C. R. & Luchese, T. C., 2019).

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contribuir com o projeto. Muitas responderam que poderiam ajudar divulgando e compartilhando os conhecimentos aprendidos. Outras escreveram que ao se empenharem nas disciplinas mostrarão como estão valorizando todo o trabalho. Esperava-se que elas pudessem pensar em ser voluntárias do projeto ou contribuir com o projeto marcando novos encontros ou sugestões de atividades. É importante destacar que a universidade não é constituída exclusivamente pela construção de conhecimento científico, mas para aplicabilidade social, auxiliando os diversos setores da sociedade, gerando conhecimentos acerca das vivências (Nunes, A. L. P. F. & Silva, M. B. C., 2011).

3.3 PERFIL DAS RESPOSTAS – GRUPO FAMILIAR DAS ESTUDANTES

Ao tratar do formulário destinado aos familiares das estudantes, esperava-se que pelo menos 30 pessoas participassem da pesquisa, número esse referente a dois familiares para cada participante do projeto, mas obteve-se apenas 22 respostas. As participantes mais assíduas foram as mães das meninas, totalizando um montante de sete pessoas. Também responderam pais, irmãos, avós e tios. Com isso, o perfil majoritário do público participante da pesquisa foi feminino e na faixa etária entre 40 e 49 anos. Dentre todos que responderam o questionário, apenas dois familiares apresentam ensino superior. Este fato possibilita concluir que a maioria dos familiares pode não perceber a importância do envolvimento das meninas em projetos como esse. Sobre os demais participantes: três pessoas possuem ensino fundamental incompleto, uma possui ensino fundamental completo, três possuem ensino médio incompleto e dez apresentam ensino médio completo.

Quando solicitados sobre a expectativa do futuro acadêmico da estudante, cinco pessoas escreveram que esperam um “futuro melhor”. Essa resposta ampla e vaga enfatiza a falta de entendimento do significado do projeto dentro do contexto científico e social para muitas pessoas. Para Oliveira, E. N. S. e Terán, A. F. (2019), a educação não é responsabilidade restrita da escola, mas da sociedade como um todo. Ainda sobre a mesma pergunta, sete respostas foram destinadas ao interesse por uma formação superior e apenas uma cita uma possível “evolução intelectual”.

Quando questionados sobre a possibilidade de haver transformação social através do ensino escolarizado, a resposta “sim” foi unânime, com apenas uma ressalva de que “estudo é importante, porém estudo sem oportunidade não é nada”. Provavelmente, essa resposta não considerou que o estudo acadêmico gera uma diversidade de oportunidades, além de ampliar suas capacidades mentais e cognitivas. A participação familiar no processo de aprendizagem possui grande impacto no comportamento e desenvolvimento das participantes. Carvalho, J. S. F. (2007) ressalta que o fracasso escolar geralmente tende a ser concebido por muitos professores e gestores escolares como

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resultante de de obstáculos como orgânicos, afetivos, familiares ou cultura, por isso é necessário todo o cuidado com a formação de cada pessoa.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os questionários aplicados neste estudo demonstraram, através das respostas obtidas, que temáticas interdisciplinares enriquecem a vivência acadêmica através do olhar do sujeito sobre o objeto a ser estudado e sobre si mesmo. Nesse sentido, o projeto contribuiu para a construção do conhecimento científico para cada estudante e isso pôde ser percebido através de suas respostas ao questionário. Assim, o ensino de ciências deve provocar nos estudantes atitudes questionadoras diante dos conhecimentos científicos, formando um cidadão capaz de ter visão crítica e de compreender a realidade a sua volta.

O uso de diferentes aplicações dos conhecimentos científicos é inerente às transformações sociais, tais como: mudança de postura, pensamentos e atitudes. Novos objetivos de vida são traçados e identidades são formadas a partir da convivência entre pessoas com interesses em comum. Mesmo com a desmotivação proveniente de inúmeros problemas no ensino convencional praticado, incentivos como o de oportunizar a inserção de estudantes do ensino médio em atividades na universidade pública revigora o estímulo à docência para estudantes da graduação em química, além de aguçar o interesse de indivíduos do sexo biológico feminino às áreas de ciências exatas e suas tecnologias. Assim, entende-se que é possível construir uma geração feminina mais engajada nas áreas de ciências exatas e suas tecnologias, se esforços forem unidos entre as escolas, a comunidade e as universidades, possibilitando a essas jovens mais confiança em seguir o caminho que desejam trilhar.

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REFERÊNCIAS

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Andrighetto, R. E.; Cardoso C. R. & Luchese, T. C. A vivência formativa de uma estudante do ensino médio no ambiente universitário: olhares para a química e a pesquisa científica. Química

Nova na Escola. v. 41, n. 3, p. 286-299, 2019.

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Barbosa, L. A.; Sales, M. C.; Souza, I. L. L.; Godim-Sales, A. F.; Silva, G. C. N. & Lima-Júnior, M. M. Et Al. Extensão como ferramenta de aproximação da universidade com o ensino médio.

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Referências

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