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PASSADO, PRESENTE E FUTURO DAS DIVISÕES DE BASE NO FUTEBOL DO BRASIL

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Academic year: 2021

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PASSADO, PRESENTE E FUTURO DAS DIVISÕES DE BASE NO FUTEBOL DO BRASIL   

  Tenho  lido  e  ouvido  muitos  comentários  nos  últimos  dias  sobre  o  trabalho  de  formação no Brasil. Algumas pessoas, alguns profissionais do mercado do futebol (jornalistas,  empresários,  treinadores  etc)  com  profundo  conhecimento  do  trabalho  realizado  no  futebol  de base dos clubes, outras nem tanto. 

  Mas a hora é mesmo de questionamentos. Afinal, após muitos anos, ficamos de fora  de um Mundial sub‐20, tivemos uma campanha pífia no Sul‐Americano da categoria e quando  ligamos a TV para ver a Copa São Paulo, com atletas da mesma idade das citadas competições,  dificilmente apreciamos um bom espetáculo de futebol. 

  Em  contrapartida,  temos  visto  a  evolução  do  futebol  como  um  todo  em  países  da  Europa, principalmente Espanha, asiáticos e africanos. 

  Mas  como  temos  memória  curta,  também  esquecemos  rapidamente  que  somos  o  último  campeão  mundial  da  categoria  e  que  das  18  competições  realizadas,  desde  1977,  estivemos onze vezes entre os três primeiros colocados, sendo cinco vezes campeões. 

  Mas o que estará acontecendo com a formação de jogadores de futebol no país que é  sempre tão propagado como sendo o “país do futebol”? 

  Muitos terão a resposta na ponta da língua, como se ela fosse ela a verdade absoluta.  Muitos sequer trabalharam ou acompanham os trabalhos na formação nos principais clubes do  país.  Mas  todos  saberão  a  fórmula  do  sucesso  (será?).  Ou,  o  que  é  muito  pior,  falarão  ou  escreverão sobre o problema sem sequer apresentar soluções ou uma solução que seja.    Pessoas  comuns  que  apreciam  o  futebol  e/ou  profissionais  mais  experientes,  ou  inexperientes,  simplesmente  dirão  que  não  se  forma  mais  como  antigamente;  não  se  treina  mais como antigamente etc. Pessoas comuns que apreciam o futebol e/ou profissionais mais  inexperientes,  ou  experientes,    colocarão  culpa  nos  dirigentes  dos  clubes,  nos  dirigentes  da  base mais especificamente, nos treinadores, nos profissionais da base de um modo geral, nos  atletas etc. 

A maioria apontará apenas uma causa. 

  Penso que são comentários ou soluções simplistas demais para um problema que, no  meu  modo  de  ver,  é  muito  mais  complexo  do  que  se  imagina.  Passa  por  profundas  análises  filosóficas, sociológicas etc. 

  Mas vamos nos ater somente às questões de passado e presente e talvez encontremos  um conjunto de respostas para o que acontece neste momento no futebol brasileiro e, quem  sabe,  no  futuro,  possamos  encontrar  a  solução,  ou  ao  menos  parte  dela.  Importante  é  que  todos  entendam  que  a  causa  não  é  uma  somente,  mas  sim  um  conjunto  de  fatores  que  nos  levam a ter, nesse momento, conquistas efêmeras. 

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  Antes  de  entrarmos  na  questão  do  tempo  é  importante,  e  nunca  é  demais,  lembrarmos  que  o  mundo  evoluiu  como  um  todo.  Vivemos  globalmente  e  o  que  se  faz  aqui  sabe‐se  em  segundos  em  outros  países,  graças,  principalmente,  à  internet.  Profissionais  envolvidos no futebol evoluem e transformam seus conhecimentos, alteram paradigmas, em  questões de dias, horas, minutos ou segundos, sejam eles gestores, treinadores, preparadores  físicos,  treinadores  de  goleiros,  médicos,  fisiologistas,  fisioterapeutas,  nutricionistas,  psicólogos, advogados, massagistas, roupeiros, analistas de desempenho, para citar apenas os  mais  usuais  no  dia  a  dia  dos  clubes.  Por  conta  disso,  e  não  poderia  ser  diferente,  o  futebol  mudou no mundo todo. 

  Os  mais  velhos  precisam  aceitar  essa  mudança.  Os  mais  novos  precisam  entender  a  história do futebol para que compreendam porque ele ainda é hoje essa paixão mundial.    Façamos  então  uma  correlação  entre  passado  e  presente  em  alguns  importantes  aspectos  do  futebol,  e  talvez  possamos  começar  a  entender  onde  estará  a  solução  para  a  formação de grandes jogadores no Brasil (ou simplesmente deixamos de produzi‐los?). 

‐  Categoria  de  base  no  Brasil  como  é  hoje  é  algo  recente  (menos  de  50  anos).  Portanto,  estamos em processo de evolução. 

‐ Comissões Técnicas eram formadas por pouquíssimos profissionais. Hoje existe uma equipe  interdisciplinar, importante não somente para a formação do atleta, mas para a concepção do  trabalho em equipe. 

‐  O  “passe”  do  jogador  pertencia  ao  clube.  Não  existe  mais  o  passe.  Existem  direitos  federativos e econômicos sendo estes últimos, quase sempre, fatiados entre jogadores, clubes  e empresários. 

‐ Jogadores não tinham empresários. Quando muito, tinham advogados que os representavam  para  a  formalização  de  um  contrato  profissional.  Os  empresários  interpretaram  a  Lei  Pelé  muito  antes  dos  clubes  e  aproveitaram  a  fragilidade  de  gestão  dos  clubes  para  criarem  um  mercado próprio.  

‐ Não havia internet e as informações na mídia eram escassas e imprecisas. Hoje os jogadores  têm  assessoria  de  imprensa,  muitas  vezes  pagas  pelos  próprios  empresários  que  os  representam,  e  podem  ser  notícia  em  segundos  para  o  mundo  todo.  Nesse  caso,  devem  raciocinar: “pra que pensar coletivamente?” 

‐ Contratos profissionais eram feitos com jogadores quando estes praticamente atingiam seu  apogeu. Hoje, bons jogadores fazem seu primeiro contrato profissional com  o clube com 16  anos de idade. Em consonância com a Lei, os clubes se obrigam a pagar salários altos a esses  meninos. 

‐  Clubes  e  jogadores  ganhavam  pouco  dinheiro.  Hoje,  clubes  e  jogadores  recebem  valores  financeiros compatíveis com suas marcas. 

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‐  Jogadores  ficavam  em  seus  clubes  de  formação  quase  que  por  toda  vida.  Hoje  há  uma  disputa acirrada dos clubes, no Brasil e no exterior, pelos direitos federativos e econômicos de  um bom jogador. 

‐  Não  se  falava  em  marketing.  Hoje  o  marketing  é  responsável  pela  grande  arrecadação  dos  clubes de futebol de primeira e segunda linhas do futebol mundial. 

‐ As Leis eram mais simples e beneficiavam, principalmente, os clubes. Hoje a Lei Pelé protege,  principalmente, o atleta. 

Entre  o  passado  e  o  presente,  um  dos  aspectos  que  mais  evoluiu  no  futebol,  sem  qualquer dúvida, foi a preparação física dos atletas, o que torna o jogo muito mais dinâmico e  o contato físico muito mais abrangente.  Quanta coisa mudou, não é mesmo? Muitos outros aspectos mudaram, mas ficaremos  por aqui para que o espaço da coluna permita a conclusão.  Algumas questões para ajudar na reflexão:  ‐ Você entende que a família é hoje como era no passado?  ‐ Com a evolução tática do futebol, do treinamento de futebol, você acredita que o atleta pode  ter o mesmo cognitivo que tinha a maioria dos atletas do passado?  ‐ Com o mundo globalizado, com a evolução da mídia impressa e falada, você entende que o  jogador de futebol ainda não se expresse bem, mesmo que em sua língua pátria?  ‐ Você entende que um jovem que queira ser um grande jogador de futebol possa conseguir  ser focado para ser um grande profissional, com tanta coisa acontecendo ao seu redor? 

‐  Você  acha  que  com  todo  envolvimento  de  clube,  profissionais  deste  clube,  família,  empresário, amigos, internet, mídia, com este atleta, ele conseguirá perceber a importância de  se trabalhar em equipe, para que a vitória profissional dele se realize plenamente? 

‐ Você acha, sinceramente, que um jovem de 16, 17, 18, 19 ou 20 anos (você, com certeza já  teve  essa  idade!)  está  preparado  para  entender  que  a  vida  profissional  dele  está  apenas  começando, quando ele recebe cinco, seis, sete, até dez, quinze ou vinte mil reais por mês?  ‐ A Comenbol organiza uma competição Sul Americana sub‐20 em janeiro, época de férias dos  jogadores no Brasil. A maior parte de nossos atletas atua na categoria profissional. Alguns já  recebem  excelentes  salários  em  seus  clubes.  Você  acredita  mesmo  que  esse  menino  possa  estar focado em uma competição deste tipo? 

  Como  gestor  há  quase  30  anos,  posso  assegurar  que  a  maior  parte  dos  profissionais  que  atuam  no  futebol,  diferente  de  outros  mercados  em  que  já  atuei,  fazem  por  amor  ao  ofício, são estudiosos e evoluem em suas áreas de maneira animadora. 

  Os atletas passam 2 (duas) horas de seu dia no clube e têm apoio, não somente dos  professores,  como  de  psicólogos,  nutricionistas,  fisiologistas  etc.  O  restante  do  dia  passam  com terceiros que podem ser, família, escola, amigos, empresários etc. 

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  Desta forma, tenho minhas conclusões para o fracasso na formação de jogadores que  hoje se vê no Brasil, e que passam longe da incapacidade dos profissionais que trabalham na  base dos clubes, como muitos apregoam. 

  Espero  poder  ajudar  na  conclusão  de  vocês  que  estão  lendo  essa  coluna.  Tenho  certeza que, se chegaram até aqui, é porque estão refletindo sobre o assunto, que parece tão  complexo. 

  Apresento  algumas  soluções  que  poderão,  se  não  resolver  100%  o  problema,  certamente minimizar o desperdício da principal matéria prima do futebol, que é o jogador, no  futuro. 

  Todos nós no Brasil, de maneira simplista, tratamos a exceção (Neymar, por exemplo)  como regra, quando deveríamos tratar regra como regra e exceções como exceções. 

  Somente na Copa São Paulo, para citar uma competição sub‐20 mais recente, tivemos  2500  jogadores  inscritos.  Quantos  jogadores  estão  sendo  formados  em  clubes  no  Brasil  por  ano? Quantos serão “Neymar”? Quantos serão bons jogadores? Quantos encerrarão a carreira  aos 20 anos? Quantos permanecerão em seus clubes de formação? 

  Jogadores  somente  atingem  maturidade  no  decorrer  dos  anos.  Alguns  mais  cedo,  outros mais tarde, mas estudam comprovam que a maioria matura entre 20 e 23 anos. 

  Por  que  então  não  se  incentivar  uma  categoria  sub‐23  no  país?  Por  que  a  CBF  não  encampa  essa  ideia  com  uma  competição  ao  estilo  Copa  do  Brasil  para  essa  faixa  etária,  ao  invés da Copa do Brasil sub‐20, que pouco resultado produz na formação dos atletas? Custo?    Se  um  elenco  profissional  trabalha  com  32  atletas,  mais  meninos  da  base,  quando  necessário, por que não poderia trabalhar com 24 jogadores (qualquer treinador iria adorar!),  tendo  um  elenco  de  mais  24  jogadores  na  sub‐23  para  utilizar  quando  necessário?  Essa  conclusão é fruto de debates com profissionais extremamente inteligentes que trabalham no  futebol  há  anos,  como  meus  mestres  René  Simões,  Ney  Franco,  Próspero  Paoli  e  Toninho  Barroso. 

  Precisamos  debater  melhor  a  transição  dos  jogadores  de  futebol  da  base  para  o  profissional. Quantos jogadores são “queimados” prematuramente? 

  As Federações e a CBF necessitam criar seus departamentos de futebol de base para  que os profissionais contratados pensem o Futebol de Formação em seus Estados e no País.    Além  disso,  é  urgente  e  imperioso  que  os  clubes  se  estruturem  para  que  possam  permitir  que  o  jovem  treine,  more,  estude,  faça  suas  refeições,  receba  palestras  periódicas,  tratamentos médicos, psicológicos, melhore seu cognitivo diariamente etc, em seus Centros de  Treinamento,  minimizando,  desta  forma,  toda  influência  externa  que  ele  poderá  receber,  principalmente ao fechar seu primeiro contrato profissional. Alguma semelhança com o clube  que hoje é modelo europeu de formação não é mera coincidência. 

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Carlos Brazil 

Gerente de Futebol de Base – Clube de Regatas do Flamengo 

Formado  em  Administração  com  Especialização  em  Gestão  e  Marketing  Esportivo  pela  Trevisan e Gestão e Direito Esportivo pela FGV/FIFA 

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