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Reflexôes sobre o fenômeno do poder nas organizações e suas implicações no trabalho, laço social e na subjetividade do trabalhador

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO – DHE CURSO DE PSICOLOGIA

BIANCA FERRARI HEMMING

REFLEXÔES SOBRE O FENÔMENO DO PODER NAS ORGANIZAÇÕES E SUAS IMPLICAÇÕES NO TRABALHO, LAÇO SOCIAL E NA SUBJETIVIDADE DO

TRABALHADOR

Ijuí 2019

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BIANCA FERRARI HEMMING

REFLEXÔES SOBRE O FENÔMENO DO PODER NAS ORGANIZAÇÕES E SUAS IMPLICAÇÕES NO TRABALHO, LAÇO SOCIAL E NA SUBJETIVIDADE DO

TRABALHADOR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ como requisito parcial a obtenção do título de Bacharel em Psicologia. Orientador(a): Janete Teresinha de Aquino Goulart

Ijuí 2019

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“O poder só é aceitável, desde que esconda uma parte substancial do mesmo. Seu sucesso é proporcional à sua capacidade de ocultar os seus próprios mecanismos”.

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AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho, bem como, a etapa de conclusão de curso, exigiu muita dedicação e determinação. Certamente este processo teria sido mais difícil sem a presença de pessoas que, direta ou indiretamente, fizeram parte da minha formação.

Agradeço imensamente aos meus pais, Jaime Luís Hemming e Alexsandra Ferrari pelo amor incondicional, por todo o apoio, e ensinamentos transmitidos. Por não medirem esforços para auxiliar na realização dos meus sonhos, por sempre confiarem nas minhas capacidades e por se dedicarem ao máximo para que fosse possível a realização desta graduação, me incentivando do início ao fim. Sem eles nada disso seria possível.

Ao meu irmão, Bernardo Ferrari Hemming, pela parceria que temos, pelos momentos compartilhados e por sempre estar ao meu lado.

Ao meu namorado, Willian Moura, pelo apoio, incentivo, por não me deixar desistir dos meus objetivos, e por estar comigo em todos os momentos, segurando a minha mão principalmente nas dificuldades.

A minha orientadora, Professora Janete Teresinha de Aquino Goulart, pelo auxílio e ensinamentos transmitidos durante toda a graduação, mas especialmente na realização deste trabalho. Agradeço imensamente por ouvir minhas angústias e dúvidas, me incentivando sempre a buscar mais conhecimentos.

Aos meus amigos que foram a base em todas as dificuldades da minha formação, deixando-me mais segura e com a certeza de que nunca estive sozinha durante este percurso tão importante.

A toda a minha família pelo apoio e força recebidos durante toda a formação, mas especialmente, na etapa de conclusão de curso.

Deixo aqui minha eterna gratidão a todos que de alguma forma contribuíram com o meu processo de formação!

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RESUMO

O presente trabalho aborda o poder, suas relações e seus impactos no ambiente de trabalho. Como este se coloca na vida e na subjetividade do trabalhador. O poder possui diferentes concepções, existindo diferentes áreas de estudo e de conhecimentos que se propuseram a estudá-lo. Toma-se dentre estas, a ideia de que todas as pessoas possuem algum tipo de poder, ou seja, algum potencial de influência sobre os outros. Nas organizações de trabalho, pode-se dizer que pessoas de alto cargo possuem capacidade de influenciar outras, mas, pessoas de baixa hierarquia também possuem poder sobre as outras. O poder é um conceito que estabelece conexão com outros conceitos, por exemplo, com o conceito de “mando” e de “influência”, compreendendo que tem poder aquele que influencia outras pessoas ou que de algum modo tem a capacidade de influenciar ou de modificar resultados organizacionais. O poder somente pode ser percebido, tomado ou exercido dentro dos vínculos sociais ou mesmo pela compreensão de que os laços sociais são tecidos e estruturados pela linguagem. Considerando-se que o ambiente de trabalho é o local onde o sujeito passa a maior parte do seu tempo, pode-se dizer que o trabalho auxilia na construção da subjetividade do trabalhador. Existem diversas maneiras de influenciar alguém e de exercer o poder em qualquer contexto social, sendo que em todos os lugares é preciso do poder para dar início aos trabalhos, porém, ele pode ser exercido de forma positiva ou de forma negativa. Quando exercido de forma adequada auxilia no trabalho e nas relações entre os trabalhadores, mas, quando exercido de forma inadequada, considerando o exercício do poder de forma abusiva controla os sujeitos e os seus trabalhos, e, influencia de forma negativa na produtividade do trabalho dos sujeitos, aumenta a rotatividade dos trabalhadores, influencia negativamente a vida dos trabalhadores até mesmo fora do local de trabalho, impactando assim, a subjetividade dos trabalhadores podendo conduzir à muitos desdobramentos imperceptíveis e até mesmo ao adoecimento.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 6

1. PODER, TRABALHO E LAÇO SOCIAL: relato de caso ... 9

1.1 O que é Poder: diferentes concepções ... 11

1.2 O que é Trabalho e sua importância para a construção subjetiva do trabalhador ... 15

1.3 Laço Social: o poder na construção de vínculos entre sujeitos ... 21

2. O LUGAR DO PODER NO TRABALHO ... 29

2.1 Poder e Política Organizacional: Gestão e Liderança ... 30

2.2 Autoridade e Legitimidade ... 37

3. PODER E SUBJETIVIDADE DO TRABALHADOR ... 41

3.1 Desejo de Poder ... 42

3.2 Poder: visão positiva e negativa ... 44

3.3 Abuso de Poder e seu Impacto na Subjetividade do Trabalhador ... 47

CONCLUSÃO ... 53

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INTRODUÇÃO

O presente estudo aborda o exercício do poder nas organizações de trabalho, bem como, o impacto que ele pode produzir na subjetividade do trabalhador. Esta temática surgiu pensando na expressividade existente sobre o poder nas organizações, que pode ser exercido de diferentes formas, visto que, se faz pela linguagem, no laço social e dependendo do modo e direção que se dá sua configuração, o poder tem a capacidade de movimentar e até mesmo controlar os trabalhadores.

O estudo aborda o que o poder é capaz de fazer com os trabalhadores, pensando nos efeitos subjetivos em quem detém o poder, na subjetividade de quem se submete a ele, e as implicações do poder na organização e produtividade do trabalho.

A temática do poder já vinha se fazendo presente durante praticamente todo percurso acadêmico, porém, se fez mais presente e de forma mais clara ao adentrar no último ano do Curso de Psicologia, mais especificamente com o Estágio Supervisionado em Psicologia Organizacional e do Trabalho. O Estágio realizou-se no INSS – Instituto Nacional do Seguro Social de Ijuí, com o qual se percebeu o quanto o poder é uma questão que se faz presente dentro do trabalho, e o quanto impacta tanto a subjetividade daquele que detém o poder, com a emergência de comportamentos verificáveis como, expressão do sentimento de superioridade frente aos outros trabalhadores, quanto, na subjetividade dos trabalhadores submetidos ao poder.

Este tema é de suma relevância para proporcionar a reflexão das influências que as relações de poder podem ocasionar na vida do trabalhador, levando-se em conta a importância de um ambiente de trabalho adequado para o bom rendimento do trabalho e para a qualidade de vida do trabalhador.

Diante disso, tem-se o intuito de identificar o impacto das configurações de poder organizacional, respondendo aos seguintes questionamentos: O que o poder faz com a

subjetividade do trabalhador e o que o trabalhador faz com o poder após ocupar essa posição? Como fica o trabalhador que é submetido muitas vezes a um “abuso de poder”? Levando em consideração esta forma de poder, o que se coloca nesse contexto de trabalho e gestão? E, o que faz o trabalhador ficar capturado nesta forma de organização?

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O primeiro capítulo deste trabalho foi intitulado Poder, Trabalho e Laço Social: relato

de caso, sendo subdividido em três subitens – O que é Poder: diferentes concepções, O que é Trabalho e suas implicações para a construção subjetiva do trabalhador e Laço Social: o poder na construção de vínculos entre sujeitos.

Inicialmente, é relatado um estudo de caso, o qual teve seus fragmentos colhidos dentro do campo de formação e cujas questões foram relatadas por um trabalhador, para poder refletir melhor sobre o poder nas organizações e a influência sobre a subjetividade do trabalhador, bem como, sobre a produção do seu trabalho. Este capítulo traz as diferentes concepções existentes sobre o poder, buscando autores e áreas de conhecimento que se dedicaram a estudar este fenômeno.

Também, o primeiro capítulo trata das implicações que o trabalho traz para a construção subjetiva do trabalhador, visto que, o trabalho é parte importante desta construção. Dependendo da forma com que ele se coloca para o trabalhador, pode favorecer ou dificultar, influenciando na subjetividade e na vida do sujeito-trabalhador, e por extensão à própria produção do seu trabalho. No meio disso tem-se o exercício do poder, pois, dependendo da forma com que o poder se organiza no campo do trabalho, e como se concretiza nos vínculos e laços sociais diz respeito a forma como o trabalho se organiza para o sujeito. E, por fim, este capítulo traz a relação que se estabelece entre poder e laço social, haja visto que o poder só existe se for pensando enquanto “relações de poder”, pois ele só pode ser exercido dentro das relações sociais, tendo duas ou mais pessoas envolvidas.

O segundo capítulo intitulado: O Lugar do Poder no Trabalho trata sobre, pessoas que, ao assumirem posições de gestores, supervisores, chefias, acabam prejudicando o andamento e produtividade dos trabalhos. Este capítulo foi subdividido em dois subitens –

Poder e Política Organizacional: Gestão e Liderança, que aborda a relação existente entre o

poder e a política que já existe dentro da organização, e a diferença entre gestão e liderança, sendo que o gestor já tem seu cargo determinado pela própria hierarquia da organização, e a liderança não é um cargo, mas qualquer pessoa dentro da empresa pode assumir esta posição. Porém, deve-se levar em conta que tanto a gestão quanto a liderança necessitam da obtenção do poder. O segundo subitem deste capítulo é: Autoridade e Legitimidade, que também aborda a diferença dessas duas palavras e a importância que elas representam quando se refere ao exercício do poder nas organizações.

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O terceiro capítulo intitulado: O Poder e a Subjetividade do Trabalhador; é subdividido em três subitens: Desejo de Poder que aborda a atração que muitas pessoas apresentam em exercer o poder, em ocupar essa posição exercendo superioridade sobre as outras pessoas. O segundo subitem é: Poder: visão positiva e negativa, que aborda sobre as diferentes maneiras que as pessoas utilizam o poder, podendo ser de maneira adequada ou inadequada; positiva ou negativa. E, por fim, o terceiro subitem deste capítulo – Abuso de

Poder nas Organizações e seu impacto na subjetividade dos trabalhadores aborda sobre o

poder exercido especificamente de forma negativa e inadequada, considerando neste subitem “de forma abusiva” e que além de impactar na produtividade do trabalho causando diversas consequências para o sujeito e para a organização, acaba afetando diretamente nas esferas da vida individual e social do trabalhador.

Este estudo pode contribuir para as empresas, trazendo questionamentos com relação aos modelos de poder e sua influência na produção, demonstrando que a gestão coletiva da organização do trabalho permite a transformação do sofrimento ou do prazer e possibilita o engajamento do trabalhador na atividade sem prejuízos à sua saúde mental. Assim estudar a vida psíquica dos indivíduos e suas manifestações nas organizações ajuda a entender os processos sociais de controle e de poder, que podem contribuir para a criação de um ambiente mais saudável e propício à realização.

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1. PODER, TRABALHO E LAÇO SOCIAL: relato de caso

A temática do poder, além de ser um tema da atualidade, é sem dúvidas, um dos mais polêmicos e antigos estudos das ciências humanas, podendo ser compreendido a partir de diferentes vertentes. As diferentes concepções que a palavra poder é submetida, e, sendo objeto de pesquisa de diversas ciências, nos mostra o quão complexo é esse fenômeno e que ele permeia as relações humanas nos diferentes contextos sociais no qual o ser humano está inserido.

Os esquemas hierárquicos e funcionas que a própria organização propõe para descrever a conduta dos seus membros são insuficientes para explicar: a integração dos executivos e trabalhadores [...], a sobrecarga de trabalho aceita e mesmo procurada por muitos, a aceitação de uma ideologia de lucro e de expansão, apesar dos conflitos e sofrimentos que a acompanha, e as influências exercidas sobre cada um na complexa arquitetura da grande organização. Eis alguns motivos para se pesquisar o poder nas organizações [...] (PAGÈS et al, 1987 apud SILVA, 2007, p. 50).

O poder apresenta um lugar essencial nas organizações de trabalho visto que é considerado uma importante ferramenta para compreender a dinâmica e o modo de funcionamento de uma organização. Para tanto, inicia-se o presente trabalho com um breve relato de caso que se dá por meio de fragmentos colhidos no campo de formação e que produziram algumas reflexões.

A questão é relatada por um trabalhador da área do comércio: trata-se de uma empresa familiar de grande porte, com filiais em diversas cidades do Estado do Rio Grande do Sul, e que tem em seu quadro administrativo um grande número de funcionários. Esta empresa sempre teve reconhecimento por todos os funcionários e pela comunidade em geral. A maioria dos funcionários que nela trabalhavam eram antigos na empresa e, talvez, em função disso, tinham um salário elevado. A empresa foi fundada há mais de 50 anos, e a gestão da mesma inicialmente se deu pelo seu fundador; cuja origem era a agricultura. Após seu desligamento por volta de 1990 a gestão passou para o filho do fundador da empresa, sendo que, os andamentos dos trabalhos e o bom relacionamento entre os funcionários mantiveram-se até o ano de 2011, quando a gestão da empresa passou para um sobrinho; neto do fundador. E, a partir disso, algumas questões começaram a se colocar.

O novo gestor colocou câmeras de vídeos escondidas dentro dos veículos de funcionários, que viajavam a serviço da empresa para supervisionar filiais em outras cidades.

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Os objetivos de tais câmeras não se explicitaram, mas quando descobertas produziram um constrangimento que não poderia ser tomado pela psicologia unicamente, mas possivelmente também pelo sujeito jurídico.

Com a crise econômica, os funcionários que trabalhavam há anos na empresa, que possuíam cargos superiores e consequentemente salários elevados, foram todos demitidos da empresa com a promessa de que após seis meses, estes mesmos funcionários seriam recontratados pela empresa, porém, recebendo metade do salário. Muitos funcionários não concordaram com este “acordo”, colocando a empresa na justiça. Muitos decidiram abrir seu próprio negócio, outros buscaram novas oportunidades de trabalho e, alguns trabalhadores retornaram à empresa com o salário reduzido.

Pelo relato do funcionário, 40 anos de idade, que trabalhava há mais de 20 anos na empresa, passou a ser pressionado a ocupar a função de realizar a demissão de funcionários; pessoas que até então eram colegas, que trabalharam durante muito tempo juntos, e sem clareza acerca dos objetivos para tais demissões.

Após algum tempo, o gestor começou a pedir para o funcionário que modificasse sua maneira de se vestir, para que ele estivesse sempre na “moda” de forma que os outros funcionários pudessem se espelhar nele. Outro funcionário da mesma empresa, formado em moda, foi contratado para ir até a casa deste funcionário, olhar e analisar suas roupas e lhe “ensinar” maneiras consideradas “corretas” e na “moda” para se vestir.

Então, além de constituir uma ferramenta que permite a maior produtividade, efetividade e auxiliar no modo de funcionamento de uma organização, o poder é um conceito essencial para compreender a gestão organizacional. Segundo Paz et al (2004), “o sucesso da organização é função do modo como seus membros coordenam suas atividades, e isso remete ao exercício do poder”. (p. 382).

Por outro lado o trabalho é fundamental para o ser humano ocupar seu lugar e ser reconhecido na sociedade. E isso requer a compreensão acerca do laço social.

Tendo em vista o contexto de que o trabalho só pode existir a partir do laço social, e que o sujeito só pode se inserir e permanecer em um campo de trabalho a partir do momento em que ela se reconhece dentro de um campo social, é que será abordado “laço social”, discutindo sua importância para o lugar do poder no trabalho, e que, não podemos falar de

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trabalho e de poder dentro das organizações sem falar de laço social, pois sem laço social não existiria trabalho, tampouco poder.

1.1 O que é Poder: diferentes concepções

Para realizar o estudo do qual se propõe, é necessário, primeiramente, situar o significado da palavra Poder. Poder vem do latim: potere, que significa o direito de deliberar, agir e mandar. Esta palavra é definida por diferentes ciências, e por este motivo, é considerado um conceito complexo e difícil de ser mensurado.

[...] No Direito é definido como autoridade para praticar o ato jurídico-lei, na Economia dominação exercida com consequência da posse de grandes recursos financeiros, na Política, controle exercido sobre a população, capacidade de agir e fazer os outros agirem por meio do uso de um aparato legal e burocrático do Estado, na Filosofia, potência exercida de modo difuso, e não necessariamente explícito, pelo conjunto das relações sociais sobre os indivíduos e que lhes impõe determinações que regulam seus modos de ser: comportamentos, interesses, ideologias etc [...] (SILVA, 2007, p. 15).

O poder, em sua concepção mais conhecida e utilizada, significa segundo Lebrun (2009), o momento em que alguém consegue fazer com que outro alguém faça algo, de que não teria feito sem o comando daquele que detém o poder. Com essa definição pode-se pensar que é a dependência de uma pessoa em relação à outra que reforça o poder desta primeira, que é quem detém e exerce o poder, ou seja, “a fonte do poder repousa nesta dependência [...]” (CLEGG, 1996, p. 51).

Segundo Silva (2007), poder é definido também como habilidade, capacidade ou força, atribuindo ao poder uma qualificação de “posse”, referindo-se a: alguém possui a capacidade, a habilidade ou a força. Esses três elementos podem advir das características pessoais da pessoa, da própria organização, ou também, da percepção da outra pessoa, pois muitas vezes é determinada pessoa que dá poder a outra quando aceita essa submissão.

O termo “poder” pode ser compreendido como competência ou capacidade de exercer a autoridade, ou a posse do domínio e da influência. (BOBBIO, 1999, apud, BRÍGIDO, 2013). Entendendo que o poder está fortemente associado com influência, precisa-se reportar

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ao significado deste termo. Influência é o ato de alguém “invadir” as relações entre as pessoas na tentativa de provocar mudanças no comportamento destas intencionalmente. Influência é utilizada em quase todas as definições de poder, para dizer que “influenciar é exercer poder, tem poder quem influencia”. (SILVA, 2007, p. 54). Ou seja, pode-se dizer que quando uma pessoa tem a capacidade de modificar o comportamento e as ações de outras pessoas significa que ela está exercendo a influência sobre os outros e consequentemente, o poder.

De acordo com Katz e Kahn (1976) a influência pode ocasionar efeitos positivos ou negativos, sendo positivo quando a influência apresentar os efeitos que o influenciador espera, e negativa quando apresenta resultados contrários ao que o influenciador espera. A influência, segundo esses autores, é qualquer ato que produza algum efeito, podendo manifestar-se no comportamento, no estado psicológico do sujeito, ou em qualquer de suas condições.

Referindo-se ainda a influência, Leavitt et al (1980, apud Krausz, 1988) afirmam que um dos principais componentes do poder é a capacidade que uma pessoa apresenta em influenciar ou controlar o comportamento de outras pessoas. Os autores consideram o poder como a capacidade de influenciar as ações de indivíduos ou grupos. Assim, o poder pode ser compreendido como um recurso que leva as pessoas a determinados resultados, ou seja, é um potencial de influência sobre os outros. Com isso, torna-se necessário mencionar também os conceitos de controle e autoridade, pois, esses conceitos, juntamente com o conceito de poder, são derivados da influência.

Controle diz respeito a influência produzida no sujeito que tem o efeito que o influenciador deseja, ou seja, controlar o sujeito, suas ações e comportamentos. Quando se fala em falta de controle, não quer dizer que não se teve influência, ou que não se teve controle, mas, significa dizer que as tentativas para tais não ocorreram de modo efetivo. Poder significa a capacidade que uma pessoa tem em influenciar outras utilizando meios de coerção para exercê-la. Autoridade é o poder que uma pessoa tem devido a sua posição determinada pela hierarquia organizada pela própria organização. É o poder considerado legítimo, ou seja, que é aceito pelos demais membros da instituição. É o poder considerado legal. (KATZ; KAHN, 1976).

Enquanto alguns autores utilizam a palavra influência para definir poder: “capacidade de influenciar outrem a fazer algo contra sua própria vontade, ou capacidade de influenciar resultados organizacionais”. (MINTZBERG, 1983 apud SILVA, 2007, p. 27). Srour (1998)

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diz que existem diferenças entre esses conceitos. O poder, segundo esse autor, atua sobre os corpos e sobre as vontades das pessoas por meio de ameaças, força física, violência, e imposição. E, a influência quer dizer tentar fazer com que as outras pessoas façam aquilo que se considera correto sem haver o uso de força.

Para estudar a definição de poder, é necessário também pensar nos conceitos de domínio, coerção e legitimidade, pois mesmo havendo divergências, essas palavras constituem aquilo que denominamos poder.

Dominação diz respeito à probabilidade de que um indivíduo mande e os outros obedeçam a determinado conteúdo. Refere-se a um comando que não depende do consentimento das pessoas, e que é exercido de qualquer forma, se as pessoas aceitarem ou não. “Já o uso da autoridade, está relacionado com a aceitação da mesma, [...] enquanto a coerção reside na aplicação de 1sanções com a finalidade de assegurar o cumprimento de determinações”. (VIEIRA; CARVALHO, 2003, p. 75).

Mintzberg (1983, apud Silva, 2007) é o autor mais utilizado, na contemporaneidade, para entender o poder nas organizações como forma de compreender melhor a dinâmica organizacional. O autor diz que o comportamento organizacional é um jogo de poder, onde todos os jogadores – chamados de influenciadores – tem o objetivo de controlar as decisões e ações nas organizações. Para ele todos os membros que fazem parte da organização – membros internos, que é todos aqueles que trabalham na organização desde as pessoas de alta hierarquia até as pessoas de baixa hierarquia, e os membros externos à organização, que são as pessoas que estão de fora da organização, mas que de alguma forma participam dela, seja os clientes, fornecedores etc, todos esses possuem a capacidade de influenciar, ou seja, pode-se considerar que todas essas pessoas de alguma forma, possuem poder.

O poder pode ser visto também como um mundo de disputa onde existe uma tensão permanente, presente não só em todas as pessoas como também nos seres vivos. É uma força que serve para conduzir um grupo de pessoas com o intuito de buscar algo em comum. Pode ser visto como uma necessidade ou utilidade de um grupo, sendo uma função que faz parte das relações sociais entre os seres humanos.

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Estudos da sociologia definem o poder como a habilidade de impor uma vontade sobre os outros, mesmo havendo resistência. É algo que vem de uma classe superior e mantém o domínio e o comando sobre uma classe inferior. A partir dessa compreensão, poder significa a probabilidade de impor a própria vontade, dentro de uma relação social, mesmo contra a vontade das outras pessoas envolvidas. (SILVA, 2007).

Além de impor uma vontade sobre os outros, Vieira e Carvalho (2003) dizem que o poder refere-se à capacidade que o indivíduo ou a organização possui de impor ideias a partir da sua própria estrutura interna. Com a imposição de extrapolações da estrutura interna da organização ou do próprio individuo compreende-se que “estes possuem algo, 2atávico ou ‘genético’, capaz de dar direção impositiva a relações externas, seja por meio da autoridade ou da coerção”. (VIEIRA; CARVALHO, 2003, p. 72). A partir dessa direção, a psicossociologia ao realizar estudos sobre o poder considera-o uma integração entre os aspectos psíquicos do sujeito e os aspectos objetivos (econômicos, políticos e ideológicos), por isso, ao estudar as organizações deve-se relacionar os níveis econômicos, políticos e ideológicos com as estruturas internas do sujeito trabalhador, ou seja, com o seu inconsciente. Enriquez (2001) introduz um novo modo de pensar o poder, que parte das próprias instituições. Ele diz que o sistema de poder já está instaurado dentro das instituições. Ou seja, é a própria instituição que exerce o poder sobre a psique e as condutas humanas, pois mesmo que a conduta do sujeito seja derivada do seu desejo, a instituição que proporciona à pessoa certa autonomia, “definindo a estrutura hierárquica, a divisão do trabalho, o detentor da palavra e o sistema de sanções”. (VIEIRA; CARVALHO, 2003, p. 95). Assim, mesmo que o individuo ocupe algum papel na estrutura de poder, este não é atribuído do individuo, mas sim, é uma capacidade ou condição que a organização proporciona para o sujeito, sendo que a ação de poder é decorrente do seu papel na organização.

O poder é uma relação de caráter sagrado de tipo assimétrico, que se estabelece de um lado, entre um homem e um grupo de sujeitos que formam um conjunto ou um aparelho especifico que define os fins e as orientações da sociedade, dispondo do uso legitimo da violência e de outro lado, um grupo mais ou menos amplo de indivíduos que dão seu consentimento às normas editadas. Este consentimento pode ser obtido pela interiorização de valores societais, pela adesão ativa às orientações propostas, pela fascinação ou sedução exercida pelos dominadores ou pelo medo de sanções. (VIEIRA; CARVALHO, 2003, p. 93)

2 Transmitido ou adquirido de maneira hereditária; que se refere ao atavismo, ao reaparecimento em alguém das

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Dito isso, pode-se compreender que o poder não se constitui como algo que se deve obedecer a alguém. Apesar de o poder ser compreendido como uma relação, ele não é percebido dessa forma, pois este acaba sendo reconhecido como objeto de medo e de que deve ser respeitado. Nesse sentido, a instituição é colocada no lugar do poder, “como mobilizadora de 3pulsões, como órgão de regulação da sociedade, como concretização do poder, como formação e socialização das pessoas para torná-las dóceis e satisfeitas com sua submissão” (VIEIRA; CARVALHO, 2003, p. 96).

Então, o próximo tópico deste capítulo abordará: o que é trabalho e sua importância para a construção subjetiva do trabalhador, tendo em vista que o trabalho é o local onde o sujeito passa a maior parte do seu tempo e da sua vida, por isso é considerado um local de grande relevância e que apresenta grandes implicações para a construção da subjetividade do sujeito. Dependendo da maneira da organização do trabalho, remetendo a forma com que o poder muitas vezes é exercido causa consequências para a produção do trabalho do sujeito e também para a sua vida fora desse ambiente, na sua subjetividade.

1.2 O que é Trabalho e sua importância para a construção subjetiva do trabalhador

O trabalho humano é uma atividade determinada e transformadora na vida do sujeito, que por vezes consiste em ser uma atividade penosa, contudo, necessária. A palavra “trabalho” pode ser compreendida como uma atividade profissional, remunerada ou não, criativa ou produtiva, exercida com determinada finalidade. O trabalho é um comportamento, no qual sua natureza é de fácil compreensão, porém, um termo difícil de ser definido, pois, possibilita diversos olhares e diferentes compreensões, podendo ser de caráter positivo ou negativo, dependendo do contexto ideológico de determinada época.

O trabalho se estrutura historicamente e politicamente, de forma que, não podemos pensar o trabalho separado da existência humana, tendo em vista que ao longo da historia da humanidade esta atividade sempre exerceu um papel fundamental e determinante na vida do homem. (JACQUES, 1996 apud NEVES et al, 2017).

3 Segundo Freud (1916), pulsão é o conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como o

representante psíquico dos estímulos que se originam no corpo - dentro do organismo - e alcança a mente, como uma medida da exigência feita à mente no sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo.

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Existem abordagens que se referem ao trabalho como fonte de satisfação e auto realização, que possibilita a expressão do sujeito, atribuindo-lhe reconhecimento perante a sociedade. Mas por outro lado, o trabalho também pode ser considerado um esforço rotineiro e repetitivo, que não proporciona liberdade, e que consome o sujeito. (JACCARD, 1960).

Na maioria das vezes, a visão negativa atribuída à palavra “trabalho” está relacionada a uma representação de maldição, coerção, castigo, e esforço, servindo apenas para a sobrevivência material do sujeito, pois, nesse contexto, o individuo trabalharia apenas para garantir sua sobrevivência e não pelo seu bem-estar e satisfação. (NEVES et al, 2017). Nessa mesma perspectiva, podemos encontrar o trabalho associado à noção de sacrifício, esforço incomum, carga e atividade esgotante, ou até mesmo, dor, tortura e fadiga. Jaccard (1960) diz que, de acordo com o Antigo Testamento esta palavra também está associada ao termo de punição que é de onde se originam as noções de obrigação, dever e responsabilidade.

O termo “trabalho”, antes do século XV, originava-se das palavras: besogne, que vem de besoin, e significam respectivamente, trabalho e necessidade; e labor, que vem do latim –

labare e laborare, e significa fazer muito esforço. (JACCARD, 1960). Porém, a partir do

século XV, esses termos foram substituídos pela palavra – tripalium – que significa instrumento de tortura. Antigamente, este termo era utilizado para referenciar a um instrumento feito de três paus aguçados que às vezes tinham ponta de ferro e que era utilizado pelos agricultores para rasgar e esfiapar o trigo, espigas de milho e o linho. Utilizando o termo “torturar”, é justamente nesse sentido que a terminologia trabalho significou durante muito tempo, fazendo conotação ao sofrimento. Pode-se compreender então, que a avaliação negativa da palavra “trabalho” está associada com o termo que a originou. Porém, “desse conteúdo semântico de sofrer, passou-se ao de esforçar-se, laborar e obrar”. (ALBORNOZ, 1994, p. 10).

As diferentes concepções de trabalho dependem da evolução dos modos e das relações de produção e da organização da sociedade como um todo. Segundo Coutinho (2009) “trabalho é uma atividade humana, de cunho individual ou coletivo, de caráter social, complexa, dinâmica e que se diferencia de qualquer prática animal por ser de natureza reflexiva, consciente, propositiva, estratégica, instrumental e moral”. (p. 191). Dito isso, compreende-se que, o que diferencia o trabalho humano de qualquer outro animal é a capacidade que o homem possui de realizar alguma atividade planejada e consciente, e por meio desta, transmitir significado à natureza. Por este motivo, Neves et al (2017) afirma que o

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trabalho envolve uma dupla transformação, pois além de transformar o homem, transforma o meio em que ele vive.

Em outras compreensões, o termo trabalho é encontrado como “a operação humana de transformação da matéria natural em objeto de cultura”. (ALBORNOZ, 1994, p. 08). Referindo-se a isso, podemos pensar no trabalho enquanto uma tarefa ou atividade que o sujeito realiza para transformar alguma coisa material em algo cultural. Nesse sentido, trabalho é o ser humano em movimento para satisfazer-se e assim, se realizar.

Se abríssemos, por exemplo, um dicionário da Grécia Antiga, possivelmente encontraríamos o trabalho como atividade exclusivamente física, que se reduzia ao esforço que deviam fazer as pessoas para assegurar seu sustento, satisfazer suas necessidades vitais que não era valorizada socialmente. (BOCK 2006 apud NEVES et al, 2017, p. 320).

Para a alma hebraica e para a grega o trabalho era considerado como um castigo e sofrimento, porém, “o trabalho sempre foi, para o homem, simultaneamente, alegria e tormento. Pela sua própria natureza implica um esforço, tensão, constrangimento, que, [...] pode ir até ao sofrimento”. (JACCARD, 1960, p. 22). Devemos considerar então, que o trabalho enquanto atividade de satisfação não existe se não for fonte de sofrimento, e ao mesmo tempo, fonte de alegria.

Chiavenatto (1983, apud Rizzo, 2011) afirma que segundo a concepção da Administração Cientifica de Taylor e de seus seguidores, o homem em relação com seu trabalho, busca somente por dinheiro e recompensas salariais, contudo, percebeu-se que o salário não é o único fator que motiva o trabalhador perante o seu trabalho, mas, o homem é motivado muito mais por recompensas sociais e simbólicas. Nessa mesma linha, Jaccard (1960) diz que o trabalho satisfaz três necessidades fundamentais da natureza humana, que seriam: a necessidade de subsistir (função econômica), a necessidade de criar (função psicológica) e a necessidade de colaborar (função social). Com isso, podemos compreender o trabalho enquanto estruturante do sujeito, de forma pessoal e social.

O trabalho pode ser compreendido como uma função psicológica e uma necessidade, porém, este termo não era reconhecido dessa forma antes da era do Socialismo e da Grande Indústria, que ocorreram no século passado. Antigamente, o homem executava suas atividades visando apenas às necessidades básicas, como se alimentar e se vestir. Na Antiguidade, Idade Média e parte da Modernidade o próprio homem não reconhecia o valor da atividade que

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realizava e a sua razão de existir. Então, pode-se dizer que não havia consciência sobre a dignidade do trabalho.

Para os povos antigos a noção de trabalho não era vista de forma clara e definida, pois eles caçavam animais somente para seu sustento, sendo que esta era uma atividade ocasional, que não era exercida de forma rotineira e regular. O trabalho nesse sentido tinha função econômica, ou seja, servia apenas para a sobrevivência dos seres humanos. Apesar de o trabalho não ter o seu reconhecimento, também exercia função psicológica e social, pois por meio dele os povos podiam expressar suas mais profundas necessidades. Porém, somente após os artesãos, criadores de gado e agricultores exercerem uma continuidade nas suas atividades, exercendo-as com regularidade, é que a noção de trabalho modificou, se definiu e passou a ser reconhecida. Com essa estabilidade em relação a agricultura e ao artesanato, a noção de trabalho se modificou, pois “fabricando e aperfeiçoando seus utensílios, o homem do passado tinha em vista um fim preciso e consciente; não ignorava o sentido e a natureza do trabalho”. (JACCARD, 1960, p. 15).

Compreende-se a maneira que o trabalho era visto antigamente também, com a classe operária. Durante o Século XIX, a classe operária lutava por melhores condições de trabalho. A duração do trabalho era em torno de 12, 14 ou 16 horas diárias, as crianças eram obrigadas a trabalhar na produção industrial, os salários eram muito baixos, insuficientes para o próprio sustento. Havia falta de higiene, esgotamento físico, acidentes de trabalho e condições para uma alta morbidade e mortalidade. Ou seja, nesta época, segundo Dejours (1992) lutar pela saúde era a mesma coisa do que lutar pela própria sobrevivência.

O trabalho era exigido de forma tão intensa, que além de sofrimento, causava risco a própria vida dos operários trabalhadores. Pode-se compreender que a luta dos operários tinha claramente dois principais objetivos, que eram o direito à vida e a liberdade de organização. Assim, uma das principais conquistas da classe operária foi a redução da jornada de trabalho, bem como, a conquista pelo seu direito de viver.

Nota-se que a temática do trabalho sempre esteve presente no decorrer da história da humanidade. Então, é importante indagar a seguinte reflexão: o que no trabalho seria fonte agressiva para a saúde mental dos trabalhadores? Segundo Dejours (1992), os operários lutavam pela sua sobrevivência devido a duração excessiva do trabalho, e, lutavam pela saúde do corpo pelas condições de trabalho a que os trabalhadores eram submetidos. Respondendo

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ao nosso questionamento, o autor nos diz ainda, que o sofrimento mental é resultante da forma que o trabalho está organizado.

Quando se refere a condições de trabalho, precisa-se pensar em primeiro lugar ao ambiente de trabalho – ambiente físico (temperatura, pressão, altitude...), ambiente químico (produtos manipulados, gases tóxicos...) e ambiente biológico (vírus, bactérias...). Ainda devem ser consideradas as condições de higiene e a segurança do local de trabalho. Por fim, pode-se pensar na organização do trabalho, que se refere à divisão do trabalho, a hierarquia, as relações de poder, entre outros fatores que condizem com a maneira que o trabalho se organiza. (DEJOURS, 1992).

No decorrer do século XX, o trabalho recebeu outra configuração, pois foram surgindo novas formas de organizar o trabalho, bem como, novas formas de trabalho. Pode-se observar que os empregos não são mais duradouros como antigamente, em que o trabalhador permanecia no mesmo emprego até a idade de exercer a aposentadoria. Foram surgindo novas tecnologias, substituindo muitas vezes os próprios trabalhadores; novos modelos de gestão e novas possibilidades de produtividade. Essas modificações redefiniram o lugar e o sentido de trabalho na vida de cada sujeito, visto que, trouxeram implicações objetivas e subjetivas, pois, o trabalho tem valor tanto socioeconômico, como também valores socioculturais, sendo a experiência que o trabalho traz para cada pessoa.

No mundo capitalista, o trabalho passou a alienar o homem à medida que ele precisa vender sua força de trabalho apenas para sua sobrevivência, tornando o trabalho dissociado da pessoa que o realiza. Por isso dizemos que o trabalho, fonte de satisfação e de prazer, pode-se tornar também fonte de sofrimento e adoecimento quando o trabalho se torna muito rígido e repetitivo, impossibilitando o sujeito de qualquer criação e transformação da sua tarefa. Com isso, o sujeito acaba realizando somente aquilo que lhe é solicitado, sendo impedido de criar ou pensar no seu próprio trabalho. (BORGES; RIBEIRO, 2013).

Com isso, percebe-se que a competitividade e disputas no ambiente de trabalho tem se intensificado. Os trabalhadores são submetidos a exigências para cumprir metas, apresentar mais resultados e mais produtividade na organização. Devido a isso, há concorrência entre os trabalhadores para garantir sua permanência no emprego. A organização exige o aumento da dedicação do trabalhador, fazendo com que o sucesso se torne uma obsessão, que vai para além do âmbito de trabalho. Neves et al (2017) referindo-se a isso vai dizer que “o trabalhador

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subordinado ao capital não tem mais controle do produto nem do processo de seu trabalho, pois estes estão centralizados nas mãos do capitalista” (p. 320).

Essas inúmeras pressões que os trabalhadores são submetidos na sociedade atual acaba gerando uma insegurança psicossocial. Com isso o estresse aumenta e consequentemente afeta o próprio caráter do trabalhador, que é capaz de passar por cima dos outros trabalhadores para conseguir o que almeja. Esses sentimentos advindos do próprio ambiente de trabalho podem afetar a construção da autoestima do sujeito, e acabar fragilizando outros relacionamentos sociais, como por exemplo, o ambiente familiar do trabalhador. (NEVES et al, 2017).

Dejours (1996) afirma que o indivíduo que perde o emprego passa por um processo de dessocialização, e apresenta sua identidade afetada, por não ter mais condições de sustentar sua vida e da sua família. Por outro lado, o indivíduo que permanece no emprego vivencia essa permanência com medo de perdê-lo.

De acordo com Antunes (2000 apud Neves et al 2017), o sentido do trabalho deve ser relacionado com o sentido na vida. Ou seja, não há como encontrar sentido na vida, se não nos sentirmos satisfeitos e realizados no âmbito do trabalho. O trabalho passa a ter sentido para o sujeito, na medida em que ele se torna capaz de atribuir valor àquilo que produz, pois somente a partir desse momento é que o trabalhador vai se sentir realizado ao executar determinada atividade.

Quando se tinha certa estabilidade no emprego, o trabalhador sentia que ele próprio era o autor da sua história, visto que, a vida fazia sentido ao trabalhador por meio das conquistas que o fruto do seu trabalho lhe proporcionava. Com essa estabilidade, não existia tantas cobranças e exigências, nem disputas internas entre os trabalhadores. Com o capitalismo e ideias neoliberais cada vez mais presentes, o individuo passa a não ter mais controle da sua vida, pois é sua a responsabilidade de se manter no emprego, passando a viver com ansiedade por não saber mais o que acontecerá com o seu futuro e da sua família.

Gaujelac (2007, apud, Neves et al 2017) afirma que os novos modelos de gestão e direção das empresas são responsáveis pelo sofrimento psíquico dos trabalhadores.

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Na sociedade contemporânea a lógica financeira faz sentido por si, e os elementos significativos do trabalho se dissolvem em primazia das necessidades econômicas e gerencialistas. Assim, institui-se um imaginário social, onde a sociedade inteira tem de se colocar a serviço da economia, ocultando essa perda progressiva do significado do trabalho que leva a contrassensos, antagonismos e incertezas. Assim, o ato do trabalho se perde em um sistema concreto, abstrato e que não permite mais ao trabalhador circunscrever concretamente os frutos de sua atividade. (p. 322).

Os indivíduos, na sociedade moderna, apresentam o trabalho como referência para a vida, por isso pode-se dizer que a nossa cultura se organiza em torno do trabalho. Ou seja, a produção da atividade do sujeito funciona como mediador para a realização de trocas sociais, e isso facilita com que o trabalhador passe a gostar daquilo que faz a ponto do seu trabalho se tornar uma vocação. A partir desse ponto de vista, o trabalho é uma marca registrada, onde o sujeito muitas vezes passa a ser conhecido, socialmente, por ser “dentista”, “psicólogo”, ou, “professor”. Ou seja, pelo reconhecimento do trabalho que realiza.

No texto “mal-estar na civilização”, Freud (1930) refere-se ao trabalho como uma das formas que faz com que o sujeito encontre um pouco de felicidade, porém, principalmente na atualidade o trabalho também tem sido fonte de sofrimento e patologia. O mal-estar no trabalho seria fruto do próprio discurso que articula e desarticula o laço social na contemporaneidade. A seguir, abordar-se-á sobre laço social e sua relação com o poder nas organizações, visto que, o poder só existe se for pensado nas relações sociais.

1.3 Laço Social: o poder na construção de vínculos entre sujeitos

O laço social constitui-se como um campo amplo de pesquisa, especialmente para a psicanálise, visto que, as mudanças na cultura, bem como, o capitalismo presentes no nosso tempo, afetam e causam impactos diretamente sobre o laço social.

Inicialmente, será utilizado como principal referencial teórico a obra Totem e Tabu, de Freud, onde “a superação da horda primeva4 pelo totemismo representa uma mudança de paradigma que demarca um corte que origina o laço social.” (MALCHER; FREIRE, 2016, p.

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A horda primeva descrita por Freud em Totem e Tabu é formada por um bando de irmãos que vivem sob a liderança e repressão sexual de um pai violento, que possui e vigia todas as fêmeas contra as possíveis investidas sexuais dos filhos machos, e, enciumado os expulsa do bando. Tão logo eles se tornam grandes o suficiente para por em risco o poder absoluto do pai. (FREUDESLIZAR, 2010).

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70). Nessa obra Freud (1912-1913), faz uma comparação entre os tabus totêmicos e o Complexo de Édipo, referindo-se a dois tabus fundamentais que são o assassinato do animal totêmico e a proibição do incesto, dizendo que assim como as pessoas, principalmente nas sociedades primitivas, tinham o desejo inconsciente de descumprir essas leis, os neuróticos também apresentam inconscientemente o desejo de afastar o pai para ter a mãe.

A atitude da criança para com o pai é matizada por uma ambivalência peculiar. O próprio pai constitui um perigo para a criança, talvez por causa do relacionamento anterior dela com a mãe. Assim, ela o teme tanto quanto anseia por ele e o admira [...] Quando o indivíduo em crescimento descobre que está destinado a permanecer uma criança para sempre, que nunca poderá passar sem proteção contra estranhos poderes superiores, empresta a esses poderes as características pertencentes à figura do pai [...]. Assim, seu anseio por um pai constitui um motivo idêntico à sua necessidade de proteção contra as consequências de sua debilidade humana. (RIZZO, 2011 apud FREUD, 1927, p. 38).

Em Totem e Tabu, o pai ocupava lugar de líder da horda, representado como um lugar de exceção e de violência. O líder não faz laço com os outros membros, pois, ele é o único que tem direito de se aproximar das mulheres da horda, proibindo aos outros tal aproximação. Por este motivo, os filhos ao crescerem desafiam este pai, se reúnem com o mesmo objetivo que é o de eliminar o pai. O líder exerce sua lei de forma violenta, e, é interessante notar que o lugar de exceção ocupado pelo líder implica na lei somente para os outros indivíduos, e não para ele próprio.

Neste momento submetemo-nos a uma situação um tanto irônica, pois, aquele que não faz laço acaba favorecendo o laço social entre os membros da horda primitiva, na medida em que o líder torna-se o inimigo, e todos insatisfeitos realizam uma reunião com o intuito de acabar com ele. Somente ter o mesmo pensamento, de acabar com o líder, não os faz manterem o laço social, mas lhes dá a oportunidade para isso. “Se individualmente, os vencidos e expulsos pelo pai primevo não se sentiram fortes o suficiente, reunidos mostraram-se capaz de eliminá-lo”. (MALCHER; FREIRE, 2016, p. 71). Os filhos insatisfeitos matam o pai que ocupava lugar de líder, lugar de exceção e apresentam o intuito de obter o poder do pai, se identificando com ele. Dito isso, compreende-se que o nascimento de um grupo de pessoas ocorre quando existe o mesmo pensamento, os mesmos objetivos.

Freud (1912-1913) diz que as pessoas que pertencem ao mesmo grupo precisam cometer um crime em conjunto, pois é esse crime comum que faz os seres humanos

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tornarem-se irmãos e tornarem-semelhantes. Mas, na medida em que os irmãos cometem o crime visando o mesmo objetivo, pode causar um efeito contrário, provocando a rivalidade entre eles. O intuito comum entre os irmãos é tomar o lugar do pai, ou ficar no lugar do filho preferido, ao qual o pai proporciona uma parte do seu poder. Para que o pai aceite dividir seu poder ou para que o pai tenha um filho preferido, faz-se necessário que o pai se perceba enquanto pai, pois a partir do momento dessa percepção é que a civilização nasce. Com isso, os seres percebem que existe um vinculo libidinal que os une no ódio comum contra o pai, e passam a se identificar uns com os outros.

A primeira vez que as pessoas, dentro de uma instituição ou sociedade, sabem o que querem é quando podem falar sobre aquilo que elas não concordam e não gostam, assim, o grupo começa a partilhar do mesmo pensamento. O objetivo disso não é simplesmente fazer esse outro “desaparecer”, mas principalmente se apropriar da potência e desta violência originária existente nesse outro. Esse ato de incorporação e de assassinato ao pai é que faz com que o grupo exista de forma durável, formando o que chamamos de laço social.

O banquete coletivo, onde as pessoas possam incorporar as virtudes e os poderes do pai, é o momento em que o grupo vive um sentimento coletivo, [...] é o momento em que cada um pode visualizar no olhar do outro o mesmo contentamento e o mesmo ódio, se identificando com o outro na medida em que este se torna seu semelhante pela incorporação da mesma potência. (ENRIQUEZ, 1990, p. 32)

Esse momento suscita um sentimento de força comum, favorece a coesão do grupo e permite o nascimento dos irmãos. É então necessário interiorizar as capacidades desse que agora está como “morto” a fim de garantir uma origem ideal, que transforme os membros do grupo em fragmentos representativos deste ideal e em seres humanos. (ENRIQUEZ, 1990).

Segundo Freud (1912-1913), se o ódio é o que transforma os seres submissos em irmãos, é o assassinato que transforma o chefe da horda em pai. O chefe é aquele que provoca temor e angústia, que passa por cima dos outros. E o pai é aquele que provoca a ambivalência de sentimentos: amor e ódio. É aquele que sufoca e que castra, e que deve ser morto ou pelo menos, vencido.

O acesso à cultura precisa passar pela referência paterna, sem esta referência não é possível construir uma cultura. Com isso, torna-se importante fazer uma diferenciação entre cultura e as relações sociais. Em ‘o mal estar na civilização’, Freud (1930) traz que a cultura

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pode ser compreendida como uma instituição de justiça que, por meio do estabelecimento de normas e regras, priva muitas vezes a liberdade dos sujeitos. A cultura é um princípio de regulação que atua sobre as relações sociais. Então, podemos considerar como característica de uma cultura a forma como as relações humanas são reguladas.

De acordo com Freud (1912-1913, apud, Enriquez, 1990) um grupo só existe se houverem projetos em comum. Ele propõe que o primeiro projeto, aquele que permite a tomada de contato e formações de relações sociais, é uma conspiração contra outro, contra um poder vivenciado como ameaçador para o grupo. Ainda segundo este autor, a organização da sociedade se dá em dois tempos: o tempo do acontecimento, que seria o momento em que acontece o assassinato do pai da horda. E o segundo tempo, que é onde a organização fraterna padece do retorno desse ato primitivo, podendo ser na prescrição de algo que deve ser seguido, que é o totem, ou de alguma proibição que impede a satisfação do sujeito que seria o tabu.

No primeiro momento, o assassinato do pai proporciona aos irmãos um sentimento positivo, sendo somente em um segundo momento que esse sentimento torna-se negativo, representando-se pelo supereu e ideal do eu, ou seja, pela consciência e a moral. Nesse sentido o eu opera de forma a “perceber” a internalização de sentimentos agressivos que conduziram ao assassinato do pai, sendo que isso pode ser compreendido também como uma tentativa de um dos irmãos tomarem o lugar do pai. Com essa tentativa a comunidade reage impondo uma interdição em forma de Lei.

A interdição formulada como proibição contra o incesto, impede a reedição real da horda primitiva ao mesmo tempo em que a realiza simbolicamente. Tal é a dupla face da lei ao representar o retorno do pai da horda: estabelece a culpa coletiva como principio de organização social pela internalização dos impulsos agressivos e institui a figura do ideal do eu que mantém os membros do grupo ligados libidinalmente entre si. (POLI, 2004, s.p).

É preciso levar em consideração que o sujeito, bem como, a sociedade ou qualquer organização e instituição precisa ter uma lei que organize determinado grupo de pessoas. Freud (1912-1913) diz que o desejo do incesto está presente em todas as sociedades, se manifestando especialmente nas sociedades primitivas. Por este modo existe uma lei que proíbe as pessoas que são da mesma família casarem ou manterem relações sexuais uns com os outros. A proibição do incesto não é somente algo que vai reger o funcionamento de uma

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família e a estruturação do sujeito, mas é um elemento essencial para a construção de uma sociedade e sua organização.

A questão do Édipo se coloca no desenvolvimento do psiquismo individual, mas também é uma questão decisiva à qual todo corpo social deve responder para fazer parte de uma cultura, vivendo relações estabilizadas e simbolizadas. E para isso, a única alternativa é a criação de uma instância repressora, afinal, a civilização nasce com e pela repressão. Não pode existir corpo social (instituição, organização), sem a instauração de um sistema repressor. Da mesma forma, não existe sociedade sem ser regida por um sistema de parentesco, ou seja, de regras de aliança e filiação. (ENRIQUEZ, 1990).

Compreende-se agora porque o assassinato ao próprio pai é fundamental para a criação da cultura: ele nos introduz no mundo da culpabilização, da renúncia (realização do desejo ou desejo da realização), da instituição de uma função paterna na origem da humanidade, da necessidade da referência a uma lei externa transcendente, que se manifestará em organização social e restrições morais.

Então, finalmente, pode-se compreender que a cultura refere-se ao tempo mítico que seria o assassinato do pai da horda, pois este tempo é o que funda o princípio que vai regular a relação entre os indivíduos. O laço social refere-se às diferentes maneiras de lidar com as consequências do retorno deste ato primitivo, no decorrer da história. Pode-se dizer que o elemento cultural funda a humanidade, e os laços sociais “estabelecem a história, eles inscrevem ao longo do tempo as formas de enlace que os humanos constituem entre si”. (POLI, 2004, s.p). Ou seja, podemos pensar que o laço social é as relações entre os indivíduos construídas historicamente.

O laço social pode assumir diferentes modalidades dependendo do contexto de determinada época e cultura. “[...] É uma forma de fazer laço com o outro que se conecta, e ao mesmo tempo separa, pois se sustenta sobre um vazio, que abrigará a causa do sujeito, sua singularidade”. (TIZIO, 2006, s.p).

O sujeito se constitui por meio das relações sociais, sem isto, não existiria sujeito. Freud (1930) diz que o relacionamento com os outros é a maior causa de sofrimento do homem, ou seja, pode-se considerar que o mal-estar na civilização afeta os laços sociais. Os laços sociais são causa e consequência do mal-estar. Os laços sociais são estabelecidos por

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meio da linguagem, e, por este motivo, podem ser denominados discursos. A linguagem é fundamental para a construção e o estabelecimento de uma cultura, pois é o que permite a comunicação entre os seres humanos, por isso, as trocas sociais, trocas de ideias e também o pensamento fica impossibilitado se a linguagem falhar.

O sujeito apresenta um discurso contendo as construções fantasmáticas dos grupos sociais no qual ele se insere. “O discurso é então atravessado pelo imaginário social, pelo imaginário individual, pela simbólica social [...] e pelas tentativas da simbólica individual”. (ENRIQUEZ, 1990, p. 18). Isso quer dizer que não deve ser somente pensado no sofrimento individual, mas que existe um sofrimento social que também precisa ser trabalhado, como por exemplo os medos coletivos em uma determinada sociedade, a angustia de castração5, os efeitos do recalcado6 e a repressão existente na sociedade. O sintoma do indivíduo nunca é singular, mas sempre tem marcas do social onde o individuo está inserido.

A sociedade só é construída a partir de um desejo, e o desejo só se faz ouvir na medida em que responde a uma lei de organização. Para tanto, a pulsão está sempre presente, e somos obrigados a escutar que na sociedade deve existir de forma contínua proibições extremamente rigorosas, servindo para proteger a sociedade. Se as sociedades primitivas criaram tantas interdições foi porque as primeiras instituições sociais foram as que serviram para reprimir, organizar e canalizar a sexualidade.

O primeiro drama da humanidade é de que o homem sempre vai ter o desejo de ultrapassar essas interdições, mesmo sabendo que se concretizar esta ultrapassagem poderá causar a destruição do social e do individuo.

Nota-se, também, que a presença de um líder em grupos sociais é bem mais antiga e complexa, pois os clãs totêmicos analisados por Freud, organizações sociais primitivas sem desenvolvimento algum, deram origem às atuais sociedades, trazendo no nosso inconsciente a herança dessas relações.

5

“o sentimento inconsciente de ameaça experimentado pela criançaquando ela constata a diferença anatômica entre os sexos” (ROUDINESCO, 1998).

6 marca que fica no inconsciente. Essas marcas permanecem e são uma forma de fuga de conteúdos internos que

ameaçariam o ego. Desta forma, permanecem no inconsciente, no entanto, não sem causar consequências e determinar comportamentos e atitudes. Pelo contrário, quanto maior o duelo entre o conteúdo reprimido que deseja vir à consciência e a força que o ego faz para manter o ameaçador fora, mais se alojam consequências negativas na rota da vida do sujeito.

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Relacionando especificamente o poder com o laço social, Srour (1998) conceitua o poder como uma relação social, pois a principal fonte do poder está na capacidade de coagir ou de estabelecer domínio sobre os outros, de produzir algum efeito sobre os outros, ou de controlar as ações dos outros. “Poder” pressupõe uma relação. Relação entre duas ou mais pessoas, entre grupos, entre empresas, cidades, países etc... Essa relação é uma relação desigual contando que existe uma hierarquia determinada muitas vezes pela organização do trabalho, onde existe o chefe, gerente, subordinado... Ou seja, existem pessoas que são superiores a outras, que possuem cargos superiores. Existem pessoas que possuem mais capacidade de influenciar do que outras, e essas outras pessoas parecem depender desse poder. Isso não quer dizer que as pessoas com cargos inferiores não possuem condições ou capacidades para influenciar e exercer o poder na mesma medida, ou capacidade de resistir ao poder exercido sobre elas, essa resistência ao poder chama-se contrapoder.

O poder afeta no mínimo duas pessoas, e é considerado uma relação que está presente em todos os contextos sociais, tanto nas sociedades maiores quanto em pequenos grupos, sendo que se torna mais visível quando trata-se de coordenar ou controlar alguma atividade.

De acordo com o pensamento de Foucault (1986), o aparelho do Estado é um instrumento especifico de um sistema de poderes, mas, o poder não está unicamente localizado no Estado, pois, mesmo que houvesse luta e tentativa para destruir o Estado, não seria possível fazer desaparecer as relações de poder que existem na sociedade. Não se pode partir do Estado para explicar as relações de poder e os saberes que se constroem na sociedade capitalista, pois muitas vezes, o poder constrói-se fora do Estado. Isso que ele coloca não significa dizer que o poder não se situa no Estado, mas sim, que o poder não se institui em um lugar específico da estrutura social. Que o poder não apresenta limites e fronteiras, estando presente somente em um lugar. Por isso pode-se dizer que o poder não é uma coisa como algo que alguém possui, e outra pessoa não possui. O poder só existe se for pensado como relações de poder, como algo que se efetua, que é exercido, e sobretudo, como algo que funciona. Que funciona como uma máquina, situado em toda a sociedade, por todas as partes, se disseminando por toda a estrutura social. “Ele é luta, afrontamento, relação de força, situação estratégica. Não é um lugar, que se ocupa, nem um objeto, que se possui. Ele se exerce, se disputa. E não é uma relação unívoca, unilateral; nessa disputa ou se ganha ou se perde.” (FOUCAULT, 1986, p. 15)

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O poder é uma relação de forças, que existe em todos os lugares. As pessoas não existem sem as relações de poder, pois, o poder é uma prática social, e não um objeto natural e, enquanto prática social constitui-se historicamente. Foucault (1986, p. 14) afirma que:

O poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns. [...] O poder funciona e se exerce em rede. Em sua malha, os indivíduos não só circulam, mas estão sempre em posição de exercer este poder e de sofrer sua ação.

Então, o poder não pode ser visualizado a partir de uma dominação de um individuo sobre os outros e de uma classe sobre as outras. O poder não pode ser pensado a partir de que um grupo de pessoas tem o poder e outro grupo de pessoas não tem, pois, o poder está agindo em todas as partes, na sociedade inteira e em todas as pessoas. “Através de seus mecanismos, o poder atua como uma força, coagindo, disciplinando e controlando os indivíduos”. (BRÍGIDO, 2013, p. 60). E, quando executado na forma de controle, impossibilita o sujeito de realizar adequadamente e produtivamente suas atividades, prejudicando sua convivência e relações sociais no ambiente de trabalho. Assim, o capítulo a seguir trata mais especificamente sobre o lugar do poder no contexto organizacional.

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2. O LUGAR DO PODER NO TRABALHO

O ser humano é um ser individual, pois se representa por interesses diferentes e por vezes conflitivos. Para abordar o lugar que o poder apresenta no trabalho, torna-se importante falar além de poder, sobre a política existente nas organizações. Segundo Arendt (1999), por este motivo, estabelece-se uma relação entre política e poder, visto que, tanto a política quanto o poder surgem da necessidade que o sujeito possui em conciliar essas diferenças e organizar-se em sociedade. Assim, pode-organizar-se considerar que a política e o poder são fenômenos naturais e que são essenciais para as relações sociais na sociedade, mas também nas organizações de trabalho. Como já mencionado, o poder é definido como a capacidade ou habilidade que uma pessoa tem em influenciar o comportamento de outras pessoas ou de afetar os resultados organizacionais, e a política é definida como a maneira; a forma com que o poder é exercido.

Thorne (1987, apud Krausz, 1988) afirma que:

Num mundo empresarial que muda rapidamente, muitos executivos ascendentes estão sendo promovidos para posições de poder sem estarem preparados para enfrentar suas crescentes responsabilidades... Para evitar a perda de mercados ou conflitos intraorganizacionais desgastantes, será necessário, mais do que nunca, conhecer e entender o que as pessoas fazem com o poder e o que o poder faz com as pessoas [...] (THORNE, 1987, apud, KRAUSZ, 1988, p. 11).

O poder é considerado um fenômeno essencial para o desenvolvimento e processo de liderança, bem como, para resolver conflitos e decisões no ambiente organizacional. O poder também é algo natural, visto que se encontra presente em qualquer grupo de pessoas ou organização, sendo que seu estudo é fundamental para compreender melhor o comportamento organizacional, podendo colaborar para uma gerência ou liderança mais qualificada e eficiente. Mintzberg (1987 apud Silva 2007) afirma que o comportamento organizacional é como se fosse um jogo de poder, querendo dizer com isso, que ao compreender o poder em uma organização, podemos ter a compreensão da dinâmica e funcionamento dela, sendo que o poder pode auxiliar para gerenciar os processos organizacionais com mais eficiência.

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2.1 Poder e Política Organizacional: Gestão e Liderança

É inevitável o surgimento de conflitos e incertezas no ambiente de trabalho, visto que, fazem parte das organizações pessoas com diferentes valores, objetivos, interesses e percepções. Nas organizações, as decisões, são tomadas na maioria das vezes de forma conjunta, de modo que cada pessoa tem direito a fazer a sua interpretação, na tentativa de utilizar meios para favorecer seus interesses pessoais. Dessa forma, existe uma relação entre poder e política nas organizações, na medida em que a política seria um meio de utilizar o poder para resolver conflitos e se chegar a decisões, que se não fosse por esse meio, não se conseguiria. A política organizacional também é uma maneira que os gerentes, supervisores, ou as pessoas superiores utilizam para exercer o seu poder e assim, protegê-lo.

Referindo-se a política existente na organização, Cherques (1993 apud Silva 2007) diz que se as pessoas prestarem atenção vão perceber que ocorre uma pequena tragédia todas as vezes que uma nova gerência assume o poder na organização, e que isso tende a se repetir todas as vezes, como se sem essa tragédia não fosse possível a renovação da instituição. O poder nunca é fácil, de graça, mas, sempre é conquistado. Com isso, o autor utiliza a obra de Maquiavel – “O príncipe” para falar sobre o esquema dos leões e das raposas, e sua relação com a liderança.

Não importa que alguém tenha conquistado um cargo de liderança, por mérito ou acaso, ou que um posto lhe tenha sido outorgado por sorte, herança ou conveniência. Só domina, só chega a elite – entendendo-se por elite a minoria ocupante das situações estratégicas – aquele que tem força e astúcia, que tem a Virtú7. Assim, caminha para o poder aquele que equilibra a força dos leões – grandeza de ânimo, fé na justiça, o propósito e a astúcia das raposas – colocando a própria sobrevivência acima dos ditames das normas e da moral. (CHERQUES, 1993 apud SILVA, 2007, p. 18).

Sobre isso o autor ainda causa a reflexão de que nas organizações, atualmente, as pessoas que pretendem alcançar o poder ou se manterem no poder, seja chefe, presidente, administrador ou gerente, podem agir como leões ou como raposas.

Poder e liderança não são conceitos totalmente distintos; um complementa o outro, pois de certo modo para ser líder é necessária a obtenção do poder, visto que, os líderes

7 Para Maquiavel (1987), a virtú é a destreza do governante em obter o sucesso pelos favores da fortuna,

alcançando com isso a glória e a manutenção do poder. A virtú era a astúcia política, o segredo da excelência e o sucesso do príncipe.

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