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3. PODER E SUBJETIVIDADE DO TRABALHADOR

3.1 Desejo de Poder

Segundo Henriques (1992 apud Silva 2007), para iniciar qualquer discussão sobre poder, é necessário citar Maquiavel, um autor da época moderna, que diz que o poder não é algo divino, mas sim, que ele está ao alcance dos homens. Maquiavel não aceita dizer que o poder seja uma dádiva divina, ou da natureza. Mas, ele diz que o poder é humano e que todos os homens devem lutar para obtê-lo. “É necessário ir em busca do poder, sendo este distribuído e conquistado ao longo dos eixos das classes sociais [...] e construído na correlação de forças estabelecidas nas relações sociais”. (SILVA 2007, p. 18). Para Maquiavel, o poder é transitório, e é visto como um processo. Não é algo que se possui, mas que se exerce.

Autores como Adler, Freud e Heidegger surgem na contemporaneidade para falar sobre o poder, tratando-o como “vontade de poder”. “Para Freud, o impulso do poder é um instinto parcial que pode tomar lugar da atividade sexual e Adler considera-o uma compensação patológica para deficiências e traumas ocorridos na infância”. (HENRIQUES, 1992, apud, SILVA, 2007, p. 35). O poder também é considerado enquanto ‘vontade de poder’ quando se estabelece uma relação entre vontade de poder e o desejo de superioridade, ou seja, o desejo de ser reconhecido e valorizado pelas outras pessoas.

Silva (2007) cita Adler, que era considerado um teórico da Personalidade Humana, e que diz que as pessoas são motivadas a buscar o poder principalmente pelo objetivo de superioridade e conquista do meio. O autor fala também sobre a importância da agressão e luta pelo poder, dizendo que a agressão não deve ser vista somente como algo ruim, mas, que ela faz parte da sobrevivência humana e é considerada um incentivo para a superação de obstáculos, e, que a agressão podia se manifestar no homem também como ‘vontade de poder’. O autor diz que tanto a agressão como a vontade de poder devem ser vistas como sendo para alcançar os objetivos de superioridade ou de perfeição, e a luta por essa superioridade e perfeição é como se a pessoa tivesse o objetivo de se aperfeiçoar, desenvolvendo melhor seus potenciais e capacidades, sendo isto algo inato ao ser humano, pois faz parte da vida.

Segundo Adler (1966 apud Silva 2007) o objetivo de superioridade, no decorrer do desenvolvimento psicológico, pode tomar duas direções, uma positiva e outra negativa.

Ele é positivo quando inclui preocupações sociais e interesse pelo bem-estar dos outros, desenvolvendo-se numa direção positiva e saudável. Assume a forma de uma luta pelo crescimento, pelo desenvolvimento das capacidades e habilidades, e pela procura de um modo de vida superior. Ele é negativo quando as pessoas lutam pela superioridade pessoal, quando tentam alcançar um sentimento de superioridade dominando os outros em vez de se tornarem mais úteis a eles. (ADLER, 1996 apud SILVA, 2007, p. 36).

A partir dessa visão, pode-se compreender que um indivíduo saudável seria aquele que luta pelo poder de uma forma construtiva, pensando nos interesses sociais, coletivos, e que apresenta um comportamento de cooperação. Adler (1966 apud Silva 2007) criou o termo “complexo de inferioridade” que diz respeito à inferioridade que as crianças tem pelo seu tamanho pequeno e pela sua falta de poder. Por isso, quando o sentimento de inferioridade na infância predomina, normalmente deixa de existir o interesse social, ou seja, o interesse pelas outras pessoas, pela coletividade, e com isso, o indivíduo depois que cresce, tende a buscar a superioridade pessoal, pensando somente no seu sucesso e em ser prestigiado pelos outros, pois existe a falta de confiança nas próprias habilidades em trabalhar de forma conjunta e de forma construtiva com outras pessoas.

O poder é uma motivação básica do homem e que, segundo Adler (1966) serve para compensar as feridas da primeira infância. O poder, muitas vezes, dependendo da sua maneira de execução, é considerado algo patológico, mas, a patologia está presente no sentimento de inferioridade, apresentando ainda, raiva e vingança que estão centralizados no Eu, e que se opõe a ideias de solidariedade, que se dedica aos outros, e em relacionamentos sociais. (SILVA, 2007). O indivíduo que tem desejo em lutar pelo poder faz isso para tentar diminuir seus defeitos pessoais, mas, faz isso desconsiderando as outras pessoas e passando por cima das normas que regem uma sociedade.

Mas, não se deve relacionar o poder somente com patologias.

O poder pode ser considerado um motivo ou interesse autônomo que se relaciona com um desejo inato de dominação, um dote biológico dos seres humanos, ou com um feixe que se libertam de conflitos infantis, como o complexo de inferioridade. [...] os seres humanos diferem em seu desejo de poder. Uns parecem sentir pouca necessidade dele. Outros podem usar o poder com grande confiança e convicção: outros ainda mostram-se ambivalentes em seu desejo de poder, sentem conflitos relacionados com seus usos e se irritam quando descobrem que poder e status não são garantia de felicidade e de realização. (ZALEZNIK e VRIES, 1981 apud SILVA, 2007, p. 38).

Os motivos que levam o ser humano a buscar poder, diz respeito às características da personalidade do sujeito, e, podem ser compreendidos como “predisposições específicas interiorizadas pelas pessoas por intermédio do processo de socialização, as quais se organizam sob forma hierárquica – sendo diferentes entre os indivíduos, e que imprimem uma determinada direção ao comportamento destes”. (SILVA, 2007, p. 38).

McClelland (1987 apud Silva 2007) fala sobre os motivos de poder dizendo que: [...] o motivo de poder envolve uma orientação para o prestígio e a produção de impacto nos comportamentos ou emoções de outras pessoas. Uma elevada motivação para o poder está associada a atividades cooperativas e assertivas, assim como o interesse em alcançar prestígio e reputação. (p. 39).

As pessoas que possuem extrema necessidade em buscar poder, além de buscar prestígio, tendem a agir de forma mais competitiva e agressiva com os demais membros do grupo. Essas pessoas poderão tornar-se líderes ou gerentes eficazes se ao invés de utilizarem o poder somente para satisfazer seus interesses e necessidades pessoais, apresentarem resultados pensando em atingir metas organizacionais. Se não utilizarem a obtenção do poder para tornarem-se autoritários e autocráticos, e sim, saber da importância de gerenciar as relações interpessoais, preparando assim seus subordinados. (MCCLELLAND, 1987 apud SILVA, 2007).

Sabendo que existem duas faces do poder, sendo que o poder tem a capacidade de movimentar os trabalhadores ou de controla-los, é que em seguir abordar-se-á o poder que pode ser visto de forma positiva ou de forma negativa.

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