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3. PODER E SUBJETIVIDADE DO TRABALHADOR

3.2 Poder: visão positiva e negativa

O poder pode ser caracterizado como força que mobiliza as organizações e instituições sociais. Nesse sentido, para investigar o fenômeno do poder, precisamos constatar a existência da sua visão positiva, mas também, de sua visão negativa. O poder, nessa perspectiva, pode ser visto como um comportamento, em que uma pessoa tende a colocar a própria vontade sobre as outras, independente das outras opiniões e ideias existentes. O desejo em obter poder,

que é algo natural do ser humano, acaba afetando a condição de vida da pessoa, pois o poder provoca tensão e um estado de luta permanente ao ser humano.

A visão negativa do poder é também aplicada às relações de produção, tendo o poder como alvo a reprodução de uma dominação de classe, tornando possível o desenvolvimento de uma modalidade de apropriação de forças produtivas. O poder é então visto como a manutenção e reprodução das relações econômicas que constituem relações desiguais de exploração do trabalho pelo capital. Assim o poder é concebido como coerção, repressão, manipulação e dominação, muitas vezes utilizando um discurso que legitima práticas sociais eivadas de crueldade, por vezes disfarçadas e sutis. (PAZ et al, 2004, p. 138).

Nesse sentido podemos confirmar o quanto o poder pode mobilizar uma organização ou instituição, prejudicando o desenvolvimento dos trabalhos, bem como, as relações sociais. Referindo-se ao poder exercido de forma a ser disfarçado, podemos falar da relação entre um grupo dominador e um grupo subordinado, ou, uma pessoa superior e outra subordinada. Muitas vezes o grupo dominador, ou a pessoa que domina cria um padrão, uma expressão que no primeiro momento satisfaz a todos os integrantes, ou ao seu subordinado. Primeiramente é atribuído, a princípio, o mesmo papel a todas as pessoas, dos dois grupos. Mas, essa ideia seria um mecanismo, estando a instituição a disposição apenas do grupo dominador, ou da pessoa dominadora, que serve não só para proteger o grupo dominador, mas principalmente, para controlar as atividades das pessoas subordinados. Este meio é utilizado pelo grupo de dominadores com o objetivo de manter, produzir e reproduzir o estado de subordinação. Ou seja, manter-se na posição de dominantes, mantendo também a posição das outras pessoas como subordinadas.

Segundo a análise realizada por Apfelbaum (1979, apud, Paz et al, 2004), o poder pode ser visto como “jogos de poder” em que o objetivo é manter relações de dominação e submissão, e, por este motivo o poder é utilizado para coagir e intimidar as pessoas submissas à ele. Sendo assim o poder apresenta um caráter perverso e desestruturante.

O poder também pode ser compreendido a partir de uma visão positiva, sendo visto como algo construtivo tanto a nível individual ou coletivo, pois até mesmo os subordinados podem sentir-se libertados com essa conotação do poder. Os dominadores não podem pensar que estarão e permanecerão sempre nesta posição, pois, pode haver um momento em que os subordinados irão questionar e discordar dessa posição, bem como, da forma que essa posição é exercida.

Referindo-se ao poder enquanto um fenômeno positivo, como já mencionado anteriormente, Foucault (1986) traz que o poder não pode ser pensado somente em algo repressivo, pois se o poder fosse algo que só dissesse ‘não’, ele seria obedecido? Ele complementa dizendo que a dominação capitalista não se manteria se fosse baseada, exclusivamente, na repressão. O poder não é somente uma força que diz não. Mas ele também atravessa relações, produz coisas, forma saber e produz discurso. Não podemos pensar no poder somente enquanto algo que reprime, mas sim, como uma prática discursiva que formula práticas sociais. Foucault diz que não existe sociedade sem relações de poder. “A estrutura social seria atravessada por múltiplas relações de poder que não se situam somente em um local especifico, como no aparelho de Estado, mas que são imanentes ao corpo social”. (MARQUES, 2006, p. 03).

[...] Não vejo quem – na direita ou na esquerda – poderia ter colocado este problema do poder. Pela direita, estava somente colocado em termos de constituição, de soberania etc., portanto em termos jurídicos; e, pelo marxismo, em termos de aparelho do Estado. Ninguém se preocupava com a forma como ele se exercia concretamente e em detalhe, com sua especificidade, suas técnicas e suas táticas. Contentavam-se em denunciá-los no “outro”, no adversário, de uma maneira ao mesmo tempo polêmica e global: o poder no socialismo soviético era chamado por seus adversários de totalitarismo; no capitalismo ocidental, era denunciado pelos marxistas como dominação de classe; mas a mecânica do poder nunca era analisada. (FOUCAULT, 1981 apud MARQUES, 2006, p. 03).

Os indivíduos possuem características de personalidade diferentes uns dos outros, mesmo, fazendo parte muitas vezes, do mesmo grupo – ou de dominantes ou de subordinados. Por este motivo, as estratégias utilizadas pelo grupo dominador podem provocar diferentes reações sobre o grupo de subordinados. Como nos diz Paz et al (2004), “se para alguns provoca o silêncio, para outros estimula o uso da voz; se para alguns incita a atração, para outros causa repulsa; se conseguem amedrontar alguns, certamente revoltarão outros”. (p.382).

Assim como em todos os lugares – seja na família, na escola... Todas as pessoas possuem poder, nas organizações também as pessoas sempre tem algum poder, sendo visto como a capacidade de influência sobre outros. O poder, exercido dentro das organizações, apresenta a capacidade de mudar seus membros, pois, podemos dizer que a maioria dos relacionamentos são equilibrados em torno do poder. Assim como nos diz Handy (1976, apud, Paz et al, 2004):

Podemos dizer que não existe poder positivo e negativo, mas, existe a finalidade para qual o poder é utilizado, que esta sim, pode ser positiva ou negativa. Por isso que podemos considerar que os membros da organização, em sua maioria, especialmente referindo-se a gerência e liderança, possuem pouco conhecimento sobre o poder nas organizações, principalmente, no que diz respeito a comportamentos organizacionais. Para compreender melhor a dinâmica de funcionamento de uma organização, torna-se necessário conhecer os aspectos do poder organizacional. [...] A falta de habilidade politica daqueles que comandam, seja empresas, escolas, hospitais, ou qualquer tipo de instituição, pode acarretar em crises de liderança. (p. 140)

Dito isso, compreende-se que, mais do que nunca compreender o poder nas organizações, quem o exerce e como ele é exercido é fundamental para compreender como o trabalho está organizado e como a organização funciona. Diz-se que o poder pode ser utilizado com diferentes finalidades, podendo elas ser consideradas positivas ou negativas, e, por este motivo, os superiores – gestores e líderes – que são as pessoas que costumam exercer o poder precisam conhecer e compreender melhor sobre o poder nas organizações, tendo em vista, a sua pouca compreensão sobre o assunto, para poder facilitar na sua execução do poder e que este seja realizado da melhor forma.

A seguir, abordar-se-á sobre o abuso de poder, suas formas mais conhecidas e utilizadas nas organizações e o impacto que esta forma de poder causa na subjetividade do sujeito trabalhador.

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