• Nenhum resultado encontrado

GRUPO DE TRABALHO 9 ESTUDOS SOCIOCULTURAIS DO ESPORTE

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "GRUPO DE TRABALHO 9 ESTUDOS SOCIOCULTURAIS DO ESPORTE"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

GRUPO DE TRABALHO 9

ESTUDOS SOCIOCULTURAIS DO ESPORTE

ANÁLISE DA VIOLÊNCIA E SEGURANÇA

OCORRIDAS NOS JOGOS CLÁSSICOS

ENVOLVENDO OS CLUBES DA CAPITAL

PARANAENSE CORITIBA, PARANÁ E ATLÉTICO

NOS ANOS DE 2009 E 2010

Ana Paula Cabral Bonin

Fernando Marinho Mezzadri

(2)

ANÁLISE DA VIOLÊNCIA E SEGURANÇA OCORRIDAS NOS JOGOS CLÁSSICOS ENVOLVENDO OS CLUBES DA CAPITAL PARANAENSE CORITIBA, PARANÁ E

ATLÉTICO NOS ANOS DE 2009 E 2010 Ana Paula Cabral Bonin1 Fernando Marinho Mezzadri2 Universidade Federal do Paraná

Resumo

O futebol é um esporte onde o contato físico está quase sempre presente o que propicia o aparecimento de cenas violentas. Independente de classe social, status, cor ou grau de escolaridade, todos aqueles que cometem cenas de violência tem plena consciência do ato extremo de marginalidade ao qual estão submetendo-se. Árbitros, treinadores, jogadores, mídia, policiais, governo, enfim, todos aqueles que fazem parte da sociedade de uma forma ou outra estão envolvidos nesse complexo fenômeno esportivo. O presente texto tem como finalidade analisar a violência e segurança ocorridas nos jogos clássicos envolvendo os clubes da capital paranaense (Coritiba, Atlético e Paraná), mais precisamente, quais ações públicas são realizadas para combater esse episódio presente no futebol paranaense. A Polícia Militar, a Guarda Municipal, a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, e os dirigentes dos clubes são agentes direta e indiretamente ligados ao tema em questão, portanto serão esses agentes os pesquisados em relação ao que fazem para combater a violência extra-campo. A análise dos dados ocorrerá a partir do referencial teórico de Norbert Elias no que tange o processo civilizador da sociedade, a excitação promovida pelos jogos de futebol e a possível mudança no comportamento daqueles que assistem ao espetáculo esportivo.

Palavras chave: Futebol, Violência, Ações Públicas

Introdução

Todos os esportes tem como característica a competição e consequentemente conduzem à agressão e à violência. O futebol se apresenta como um dos esportes em que existe um confronto simulado entre grupos distintos, sendo assim, constitui-se como uma oportunidade para a expressão da violência física (Dunning, 1992).

Desde o surgimento do hooliganismo no futebol a violência é muito vinculada às torcidas organizadas, porém, hoje em dia sabe-se que a violência no futebol é algo muito mais abrangente e com muitos mais envolvidos do que simplesmente torcedores organizados; ela abrange um universo de totalidade que engloba jogadores, técnicos, dirigentes, árbitros, torcidas, etc. São várias as causas dessa violência: infra-estrutura inadequada, impunidade, falta de controle policial, fanatismo exacerbado, decisões e declarações dos envolvidos, dentre outras. (REIS,2006). Para Heloísa Reis a violência no futebol não é um caso isolado e causado por um determinado tipo de pessoa, esse

1

Aluna do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Federal do Paraná. Integrante do grupo Cepels

2

(3)

fenômeno engloba uma série de personagens ligadas direta e indiretamente ao futebol. A mesma autora relata que “a violência tem início a partir da idéia equívoca de que esporte é espaço de legitimação da masculinidade. Além disso, não podemos esquecer de fatores como a questão econômica e social, além da corrupção nos clubes, impunidade em relação aos que praticam atos violentos e desigualdade social”. Normalmente as raízes da violência apóiam-se em problemas sociais como o alcoolismo, o abuso e consumo de outras drogas e o racismo, e estão relacionadas ao processo civilizador da sociedade. A violência é uma tendência mundial do futebol espetáculo, visto que muitos jovens buscam a excitação de jogos para interromper a monotonia cotidiana (REIS, 2006).

Não cabe atribuir as causas da violência, exclusivamente às questões de classe social, ou fatores estritamente econômicos. Na composição de uma “torcida” participam pessoas que respondem a processos criminais, viciados, estudantes, trabalhadores, pais de família, jovens, mulheres e crianças, enfim uma miscigenação enorme que caracteriza muito bem as torcidas (Pimenta, 2004).

Os primeiros passos que evidenciam a violência no futebol resumem-se em virar as costas para torcedores adversários, xingar o árbitro, atirar objetos para o terreno de jogo, etc. Isto fica claro ao observar o comportamento crianças que estão começando a acompanhar o esporte e a freqüentar estádios e campos de futebol (CONTRERAS, 1990, citado por TAVERNA, 1995). Palavrões fazem parte da vida do torcedor que o utiliza quando o time perde gol, quando o jogador perde a bola ou para agredir à torcida rival; sendo assim o futebol é um meio de expressão de sentimentos onde estão presentes ódio, raiva, paixão, vingança, fidelidade, fé, humilhação e prazer. A utilização de palavrões é algo inserido de tal forma pelos torcedores que esses até os incluem em hinos e canções destinadas à torcida rival. As crianças crescem nesse meio e assemelham isso, não é difícil encontrar uma criança xingando e fazendo gestos obscenos à torcida adversária. A partir dessa explanação sobre o universo do futebol e suas implicações quanto à violência e a falta de combate à mesma problematizamos o presente texto no seguinte questionamento: Que ações públicas existem para combater a violência extra-campo nos jogos clássicos ocorridos no estádio Couto Pereira envolvendo os clubes paranaenses Coritiba, Atlético e Paraná nos anos de 2009 e 2010? O objetivo geral do trabalho em questão é: Identificar as ações públicas existentes que combatem a violência extra-campo nos jogos clássicos envolvendo os clubes paranaenses Coritiba, Atlético e Paraná nos anos de 2009 e 2010. A partir desse objetivo geral elencamos alguns objetivos específicos que nos permitem seguir um esboço de questionamentos a serem respondidos no decorrer do texto: conhecer as ações realizadas pela Polícia Militar e Guarda Municipal para promover a segurança nos clássicos de 2009 e 2010; identificar qual o papel da SMEL no combate à violência nos jogos clássicos ocorridos no estádio Couto Pereira; verificar se as ações públicas implantadas são capazes

(4)

de assegurar a segurança e o bem-estar do torcedor; identificar se as ações públicas realizadas são punitivas, preventivas ou ambas; reconhecer através de entrevistas com os torcedores do Coritiba o que eles esperam da segurança dentro e fora do estádio Couto Pereira; conhecer a opinião do secretário de segurança pública sobre as ações realizadas pelos órgãos públicos para combater a violência nos jogos clássicos realizados no Couto Pereira. A pesquisa é de natureza qualitativa, ou seja, buscar-se-á adotar um caráter interpretativo em relação aos dados obtidos nas entrevistas. A entrevista será realizada com 13 indivíduos ( 9 torcedores do Coritiba Football Club freqüentadores do estádio Couto Pereira – 3 torcedores de cada anel do estádio (Cadeiras sociais / Mauá / Arquibancada), coronel da polícia militar responsável pela segurança do estádio Couto Pereira nos jogos clássicos, indivíduo da guarda municipal responsável pela segurança do estádio Couto Pereira nos jogos clássicos, Secretário de segurança pública de Curitiba e dirigente esportivo do Coritiba Football Club A entrevista adotada será do tipo semi-estruturada pois considera-se pertinente ao tema desenvolver mais profundamente uma questão que venha surgir no discurso do entrevistado e que anteriormente não estava presente no roteiro.

Identidade Nacional

Em especial o Brasil tem uma afeição enorme pelo futebol visto que é o único país a conquistar cinco copas do mundo. A nação brasileira possui uma identidade social com o futebol e essa identificação é reforçada pela mídia que espetaculariza o esporte.

A mesma identidade que o torcedor de futebol brasileiro possui pelo esporte em si e pelo selecionado nacional esse indivíduo possui por seu clube de coração. E é esse clubismo (DAMO,2007) que expressa a identidade dos torcedores de futebol profissional, que mesmo bombardeados por uma lógica econômica, permanecem inertes em sua fidelidade, sua paixão e seu sentimento de pertença ao clube.

Esses sentimentos de pertença do torcedor3 para com seu clube permitem-no extravasar em determinados momentos dentro e fora do estádio. Esse extravasar podemos caracterizar de diversas formas: gestos, cantos, representações e até mesmo de palavrões. Essa conduta do torcedor de futebol é bem diferente que do torcedor de tênis, por exemplo, que não grita, não vaia, não batuca e não faz algazarras como o primeiro, o que nos mostra que os aspectos econômicos, políticos ou sócio-culturais influenciam no comportamento, na atitude e na vida cotidiana do espectador (CIRULLI e MACHADO,1997).

Talvez possamos dizer que as alianças que se formam no futebol são uma espécie de superioridade e de aumento de poder e observamos isso nas alianças existentes principalmente entre

3

[...]torcedor é alguém que torce. A expressão, derivada do verbo torcer, indica a idéia de revirar-se, retocer-se, volver-se sobre si mesmo, como quem estivesvolver-se volver-sendo submetido a um torneio físico ou tortura. (DAMATTA,1982 p.26)

(5)

torcidas organizadas de cidades diferentes por exemplo: Mancha Verde (Palmeiras) e Império (Coritiba), dentre outras. Essas associações decorrem do que Harrison denomina de “síndrome beduína” a qual segue os seguintes princípios: o amigo de um amigo é um amigo; o inimigo de um inimigo é um amigo; o amigo de um inimigo é um inimigo; o inimigo de um amigo é um inimigo (Dunning, 1992 p. 370).

O torcedor é um dos grandes responsáveis pelo evento esportivo, e ele também merece ser estudado com grande afinco tanto em seus processos fisiológicos, cognitivos e afetivo-emocionais, sendo este último o estudado mais profundamente neste trabalho. Esses torcedores com a globalização e os rumos tomados pelo futebol “espetáculo” moderno passaram a consumir cada vez mais os produtos de seu clube, tornando-se para esse acima de tudo clientes.

Neste Mercado, o cliente final é o torcedor de uma quipe ou o fã do espetáculo. Consome produtos relacionados ao futebol, sejam eles, ofertados diretamente pelos clubes quando vai ao estádio ou numa loja de seu clube) ou por meio de intermediários como emissoras de televisão e empresas de materiais esportivos. AIDAR, OLIVEIRA e LEONCINI in RIBEIRO,L. Futebol e Globalização)

Violência

A agressão é uma manifestação presente em quase todos os esportes visto que a maioria dos esportes é competitivo e tende gerar uma manifestação de violência por parte dos participantes e/ou espectadores.

Ao estudarmos o futebol precisamos levar em conta sua história que se inicia nos finais do século XIX na Inglaterra. Não demorou muito para que a violência estivesse presente nos jogos de futebol afinal esse jogo era caracterizado por: grande número de jogadores, sem qualquer limite, regras orais vagamente definidas, ausência de uma organização exterior de controle para definir as regras e atuar como tribunal de apelo em casos de conflitos (Dunning, 1992 p. 334). Ou seja, se compararmos o futebol em seu início com o futebol atual nos parece claramente uma significação “não civilizada” para esse esporte. No seu texto ligações sociais Dunning relata sobre a transformação da violência; segundo o autor, a utilização da violência instrumental faz com que o indivíduo perca o autocontrole e isso faz com que uma violência se transforme em outra . Os indivíduos estão conectados por ligações sociais que permitem que se formem redes de interdependência e nessas redes há uma dinâmica social que permite criar determinada violência (Dunning, 1992 p. 338).

Se voltarmos a analisar e comparar os tipos de violência que ocorrem dentro e fora dos gramados podemos encaixá-las em cada aspecto do que Dunning caracteriza como os tipos de violência humana. Sejam jogadores ou torcedores cada um deles caracteriza-independente de classe social, status, cor ou grau de escolaridade, todos aqueles que cometem cenas violência tem plena

(6)

consciência do ato extremo de marginalidade ao qual estão submetendo-se. Os tipos de violência são diversos e complexos. Podem ser distintas quanto: aos meios utilizados; os motivos dos atores que a cometem e os níveis de intencionalidade envolvida; e alguns parâmetros sociais que contribuem para distinguir as formas de violência umas das outras. Quando pensamos nos tipos de violência que podem ocorrer, mais especificamente em uma partida de futebol, encontramos em escritos desse mesmo autor a distinção dos tipos de violência: se a violência é real ou simbólica- se apresenta a forma de agressão física direta ou simplesmente atitudes verbais ou não verbais; se a violência é uma simulação ou é real; se armas são ou não utilizadas; caso as armas sejam utilizadas se os atacantes estabelecem contato direto; se a violência é intencional ou conseqüência acidental; se a violência é iniciada sem provocação ou como sendo uma resposta a um ato violento; se a violência é legítima ou ilegítima em relação aos valores e normas socialmente prescritos; se a violência toma uma forma racional ou afetiva. (Dunning, 1992 p. 329).

O estádio favorece o aparecimento de atitudes agressivas e violentas promovidas pelo afrouxamento de autocontrole e das condutas sociais. As expressões de violência não podem ser compreendidas pelo viés econômico pois o futebol deve ser entendido por um contexto mais ampliado (PIMENTA,1997). Dentre as diversas formas de violência citamos como primordiais para o estudo da violência no futebol a violência física e a simbólica e por isso notamos como cabíveis de explicação a diferenciação de ambas. Violência física para Marilena Chauí (1999) é todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém. Violência Simbólica para o sociólogo Pierre Bordieu (1997) é uma violência que se exerce com a cumplicidade tácita dos que a sofrem e também, com freqüência, dos que exercem, na medida em que uns e outros são inconscientes de exercê-la ou de sofrê-la. Nos estádios de futebol ambas as violências fazem-se presente em todos os jogos, e ambas ocorrem entre jogadores e torcedores.

Quando a violência perpassa os gramados e penetra nas arquibancadas do estádio envolvendo torcedores o assunto fica com maior teor de complexidade pois existem pessoas que se satisfazem ao cometer cenas de violência e muitas vezes essas cenas de violência aumentam cidade adentro sendo que diversos patrimônios públicos e privados são destruídos com voracidade e diversas pessoas que não fazem parte dessas organizações já perderam a vida simplesmente por estarem “no caminho” pelo qual essas pessoas passavam. Não cabe aqui denominar os vândalos que cometem atos violentos, porém, é importante destacar um tema bastante freqüente quando o assunto é a violência no futebol: os hooligans. Elias classifica os hooligans como “grupo apoiante de um clube”, já Pimenta designa o termo para torcedores ingleses exaltados. Utilizando-se qualquer um dos autores são esses hooligans que causaram a derrota da Inglaterra para país-sede da Copa do Mundo de 2006 pois eles feriram 56 pessoas na Eurocopa de 2000 e a sede da copa passou para a

(7)

Alemanha e o Comitê Executivo da UEFA queria até expulsar a Inglaterra da competição. (AGOSTINO,2002).

Segundo um estudioso no assunto, Prof. Maurício Murad, da UERJ- Universidade Estadual do Rio de Janeiro:

(..) os atos violentos praticados por ocasião dos jogos estão restritos a alguns grupos. Não raro, são os mesmos que também se infiltram nos bailes funks, nos grandes shows musicais e nas festas de carnaval para causar confusões e brigas. São grupos formados predominantemente por jovens entre 15 e 24 anos, que vivem em áreas de risco ou dominadas pelo crime organizado, onde serviços públicos como saúde, educação e lazer praticamente inexistem. (Artigo: “Violência no futebol, 08/05/2007, do site www.educacaofisica.org)

A violência sempre existiu nos estádios e nos jogos pois a competição por si só faz com que os indivíduos “necessitem” de uma superioridade perante os adversários. Antigamente a violência simbólica era mais presente, com o decorrer do tempo e da mudança do habitus4 dos indivíduos, a violência de certa maneira deixou de ser simbólica e passou a expressar-se através de palavras e ações por parte dos seus praticantes. A violência passou a ser símbolo de prazer para indivíduos pertencentes a grupos rivais.

Ações Públicas

A sociedade em que vivemos é extremamente competitiva e isso nos torna competitivos sendo que ganhar é a satisfação completa, e a vitória tem um significado enorme para o torcedor (CIRULLI e MACHADO, 1997). Essa paixão evidentemente também está presente no futebol paranaense principalmente nos clubes Coritiba, Paraná e Atlético que situam-se na capital paranaense.

Gostaríamos de fazer nesse momento uma aproximação do tema futebol com o poder público - nosso objetivo nesse estudo. Ao analisarmos as políticas públicas para prevenção da violência nos estádios de futebol em âmbito nacional merece destaque o Estatuto de Defesa do Torcedor criado em 2003. Após analisarmos o porquê de sua criação em decorrência da violência procuramos na lei o que o EDT prevê para o combate à mesma e podemos destacar três artigos (13,14,17)5 presentes no capítulo IV que refere-se à segurança do torcedor partícipe do evento esportivo.

4

Para maior conhecimento a cerca do conceito de habitus sugerimos a consultar: BOURDIEU, Pierre. Programa para

uma sociologia do esporte. In BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas; tradução: Cássia R. da Silveira e Denise Moreno

Pegorim; revisão técnica: Paula Monteiro. – São Paulo: Brasiliense, 2004;

5

Art 13. O torcedor tem direito a segurança nos locais onde são realizados os eventos esportivos antes, durante de após a realização das partidas

Art 14. [...] a responsabilidade pela segurança do torcedor em evento esportivo é da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo e de seus dirigentes, que deverão: I- solicitar ao Poder Público competente a presença de

(8)

Quando analisamos o futebol paranaense podemos ver que nesse, como em qualquer outro estado brasileiro, também há o problema da violência no futebol. Os clubes da capital literalmente “se enfrentam” quando o jogo é um clássico e a preocupação toma conta das autoridades e agentes envolvidos no complexo fenômeno esportivo. Dados mostram que em 2008 foram gastos R$ 250 mil pela prefeitura de Curitiba para reparar danos causados pelo vandalismo de torcedores de futebol6. Esse número é alarmante tendo em vista que Curitiba é pequena quando comparada à capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, imaginando-se assim o gasto com o vandalismo que estas capitais possuem. Mas se atentarmos à prevenção no caso paranaense surge então um projeto que segue para aprovação no congresso que busca garantir mais segurança nos estádios. O projeto é uma “continuação” do estatuto do torcedor, porém, inclui a alteração de que as torcidas organizadas devem responder civilmente pelos atos de seus associados. Quanto à punição para os torcedores o estatuto determinaria de um a dois anos de prisão para as pessoas que praticarem atos violentos antes, durante e depois das partidas. Se o réu for primários a punição prevista será de três meses à três anos de proibição da ida ao estádio. Os responsáveis pelas torcidas locais foram ouvidos quanto à nova proposta de mudança e as respostas foram diversas. Alessandro Kishino representante da torcida do Paraná Clube ressaltou que segundo a lei já existem meios de punir os baderneiros, porém, a lei não é cumprida, fazendo uma alusão de que as mudanças são positivas desde que sejam cumpridas. Surge então uma campanha da prefeitura cuja intenção é mostrar que o dinheiro gasto para reparar danos causados pelo vandalismo no futebol poderia ser gasto com outros fins para a população. O cartunista Thiago Recchia cria então “Los 3 Inimigos” personagens que representam os três clubes da capital. Não achamos essa solução a mais inteligente visto que reforça a idéia de que os clubes e consequentemente seus torcedores são inimigos. A solução para o problema não é imediata, pois não envolve apenas o campo esportivo como também a economia, a educação e a política, porém, criar personagens que de maneira implícita reforçam o caráter militar de confronto no futebol não parece ser a melhor solução para resolução desse problema social.

O combate à violência não foi tomado como meta por todos os atores sociais porém já é de grande valia observar que as autoridades estão começando a dedicar maior credibilidade e importância à questão da violência no futebol. No dia 06 de maio de 2009 a câmara de deputados aprovou o projeto de Lei 451/95, do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que estabelece regras para prevenir e punir atos de violência nos estádios de futebol e em outros locais onde haja práticas desportivas com a presença de grande público. A matéria ainda será analisada pelo Senado. A partir

agentes públicos de segurança, devidamente identificados, responsáveis ela segurança dos torcedores dentro e fora dos estádios e demais locais de realização de eventos esportivos.

Art 17.É direito do torcedor a implementação de planos de ação referentes a segurança, transporte e contingências que possam ocorrer durante a realização de eventos esportivos.

(BRASIL. Lei nº 10.671 de maio de 2003)

6

(9)

dessa medida podemos analisar que a prevenção e combate à violência começam a tomar as devidas proporções de preocupações. É passível de observação que o cidadão que comete atos violentos merece uma punição estabelecida por lei que o indivíduo como infrator, sendo assim passível de multas e /ou reclusão. O projeto de lei descrito anteriormente prevê punições acerca dos infratores e seus atos violentos:

No caso do crime de promover tumulto ou praticar ou incitar a violência, o juiz poderá transformar a pena de reclusão em proibição de comparecimento aos estádios por três meses a três anos, de acordo com a gravidade da conduta. Essa pena alternativa poderá ser aplicada se o réu for primário, tiver bons antecedentes e não houver sido punido anteriormente por esse crime. O juiz poderá, ainda, exigir que o sentenciado fique em um local específico duas horas antes e duas horas depois de determinadas partidas. (Fonte: Site www.camara.gov.br acessado em 20 de maio de 2009)

Assim como comentamos anteriormente sobre as ligações funcionais presentes nos trabalhos de Dunning vale a pena ressaltar e que vêm de encontro com o tema do trabalho é que o Estado tem um monopólio sobre o direito de utilização da força física. O Estado tem a capacidade de impedir os cidadãos de utilizarem armas de forma manifesta e de os castigar por usarem a violência de um modo ilegítimo, isto é, em situações nas quais se reserva o monopólio para os seus próprios agentes. (Dunning, 1992 p. 346). O problema é que muitas vezes o uso da força física é expresso sob a forma de comportamento violento, sendo esse considerado inviável por homens e mulheres que possuem um baixo limiar de repugnância quanto a atos violentos.

Ainda sobre a violência no futebol percebemos ônibus quebrados, cabines de telefone depredadas, muros pichados, carros destruídos, patrimônios privados e públicos devastados: infelizmente muitas vezes esses são alguns acontecimentos que sucedem uma partida de futebol. As medidas de prevenção e combate à violência surgem em estados onde o número de catástrofes envolvendo torcedores é maior, porém, não se pode esquecer que outros estados carecem de estudos e aplicações pois apesar do número de incidentes não ser tão significativo qualquer cena de violência que acarrete danos não só físicos mas também morais aos indivíduos merece ser combatida. O tema em questão apesar de bastante conhecido e discutido é ainda carente de estudos aprofundados e é por isso que nos desafiamos com o propósito de estudá-lo.

Considerações Finais

Neste texto procuramos expor de maneira bastante sucinta o objetivo de pesquisas posteriores quanto à violência no futebol paranaense, mais precisamente nos jogos clássicos. Mostramos que os jovens, por considerarem o futebol como forma de lazer, cada vez mais participam das partidas de seu clube favorito e expressam os mais variados tipos de sentimentos em

(10)

relação à esse e ao time adversário. Essa expressão porém, muitas vezes é realizada de forma exagerada e caracterizando seus adeptos como pessoas perigosas e violentas , como os hooligans por exemplo. O futebol tem uma relação de identidade nacional com o povo brasileiro que demonstra seu amor tanto à seleção nacional quanto ao seu time favorito. O clubismo caracteriza-se por um sentimento de pertença do torcedor com seu clube mas essa paixão faz com que cada vez mais o torcedor passe a ser consumidor de produtos do seu time. Essa relação cliente-clube faz com que o torcedor aumente esse sentimento de pertença visto que, em sua visão, é ele que auxilia o clube a manter-se. Observamos através da análise bibliográfica que há diversos tipos de violência humana que acontecem contra torcedores de futebol e por eles próprios contra patrimônios públicos e privados. Um projeto de Lei chega com bastante força para combater esse episódio presente o futebol brasileiro; basta torcer para que esse projeto seja consolidado e efetivamente cumprido.

(11)

Referências Bibliográficas

AGOSTINO, Gilberto Vencer ou Morrer: futebol, geopolítica e identidade nacional. Rio de Janeiro- RJ: FAPERJ: Mauad, 2002

BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 1997

CIRULLI,Amália;MACHADO,Afonso. A torcida e o momento esportivo. In: MACHADO,Afonso A. Psicologia do Esporte- Temas Emergentes I. Jundiaí: Ápice,1997.

DAMO, Arlei Sander. O ethos capitalista e o espírito das copas. In GASTALDO, Édison Luis e GUEDES, Simoni Lahud (organizadores) - Nações em Campo: Copa do Mundo e identidade nacional. – Niterói: Intertexto, 2006;

ELIAS,Norbert;DUNNING,Eric. A busca da excitação. Lisboa: Difel,1992

MURAD,Maurício. A violência e o futebol: dos estudos clássicos aos dias de hoje. Rio de Janeiro: Editora FGV,2007 In BOSCHILIA.

PIMENTA, Carlos A.M. Violência entre torcidas organizadas de futebol. – Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária - O Futebol como Meio para o Processo de Construção da Cidadania. Belo Horizonte – 12 a 15 de setembro de 2004

REIS, Heloísa Helena Baldy. Futebol e violência. Campinas, SP: Armazén do Ipê (Autores Associados), 2006.

RIBEIRO, Luiz (org). Futebol e Globalização. Jundiaí,SP: Fontoura,2007.

Referências

Documentos relacionados

A tem á tica dos jornais mudou com o progresso social e é cada vez maior a variação de assuntos con- sumidos pelo homem, o que conduz também à especialização dos jor- nais,

A placa EXPRECIUM-II possui duas entradas de linhas telefônicas, uma entrada para uma bateria externa de 12 Volt DC e uma saída paralela para uma impressora escrava da placa, para

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

A solução, inicialmente vermelha tornou-se gradativamente marrom, e o sólido marrom escuro obtido foi filtrado, lavado várias vezes com etanol, éter etílico anidro e

Gravatinha de queijo, Triângulo de frango, trouxinha de carne Pastelzinho de azeitona, Mini empada de

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

Para preparar a pimenta branca, as espigas são colhidas quando os frutos apresentam a coloração amarelada ou vermelha. As espigas são colocadas em sacos de plástico trançado sem