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ECLI:PT:TRP:2009: C

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ECLI:PT:TRP:2009:0848033.3C

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRP:2009:0848033.3C

Relator Nº do Documento

Custódio Silva rp200905130848033

Apenso Data do Acordão

13/05/2009

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Rec Penal. negado provimento.

Indicações eventuais Área Temática

Livro 369 - Fls 281. . Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores

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Sumário:

I - Na fixação da indemnização pela perda do direito à vida deve atender-se a todas as

especificidades da vítima e da sua vida, assumindo especial relevância a idade, o estado de saúde e as perspectivas de vida.

II - É adequado fixar por esse dano a indemnização de € 75 000,00, sendo a vítima um jovem de 21 anos de idade, saudável, com a profissão de desenhador, desempregado, mas com perspectivas de emprego.

Decisão Integral:

Acórdão elaborado no processo n.º 8033/08 (4ª Secção do Tribunal da Relação de Porto)**1. Relatório

Na sentença, com data de 17 de Julho de 2008, consta, do dispositivo, o seguinte: “Nestes termos, e pelos fundamentos aduzidos, o Tribunal decide:

d) Condenar a demandada civil (Companhia de Seguros B………., S. A.) a pagar:

a. ao demandante Hospital ………., EPE, a quantia de € 5.634,56 (cinco mil, seiscentos e trinta e quatro euros e cinquenta e seis cêntimos), acrescida de juros de mora, à taxa legal, a contar da notificação do pedido cível à demandada até efectivo e integral pagamento;

b. aos demandantes C………. e D………., na qualidade de pais da vítima, a quantia global de € 55.801,87 (cinquenta e cinco mil, oitocentos e um euro e oitenta e sete cêntimos), acrescida de juros de mora,

à taxa legal, a contar da notificação do pedido cível à demandada, sobre a quantia de € 1,87 (um euro e oitenta e sete cêntimos), e desde a presente data até efectivo e integral pagamento, sobre a quantia de € 55.800,00 (cinquenta e cinco mil e oitocentos euros), ambos até efectivo e integral pagamento;

c. ao demandante C………., por si próprio, a quantia global de € 15.000,00 (quinze mil euros), acrescida de juros de mora, à taxa legal, desde a presente data até efectivo e integral pagamento; d. à demandante D………., por si própria, a quantia global de € 21.000,00 (vinte e um mil euros), acrescida de juros de mora, à taxa legal, desde a presente data até efectivo e integral

pagamento”.**A parte civil, Companhia de Seguros B………., S. A., veio interpor recurso, tendo a motivação terminado pela formulação das seguintes conclusões:

“1ª - A vítima do acidente destes autos, E………., concorreu, a par do arguido condutor, de igual modo, para a produção do acidente que o vitimou.

2ª - Por essa razão, na graduação da responsabilidade civil para efeitos de indemnização, deve fixar-se em 50% para cada um deles e, não, 60% para o condutor arguido e 40% para a vítima, E………. .

3ª - A indemnização pelo direito à vida da vítima do acidente dos autos deve fixar-se, em abstracto, em € 60.000,00, e, em concreto, em € 30.000,00.

4ª - A indemnização do dano próprio da vítima, com dores, sofrimento e percepção da morte, deve, em abstracto, fixar-se em € 10.000,00, e, em concreto, em € 5.000,00.

5ª - Os danos não patrimoniais dos pais da vítima, como direito próprio pela perda do filho, devem fixar-se, em abstracto, em € 20.000,00, para a mãe, e € 15.000,00, para o pai, e, em concreto, respectivamente, em € 10.000, e € 15.000,00.

6ª - Por força da 2ª conclusão, a indemnização a pagar ao Hospital ………., por tratamentos, é de € 4.695,47 e, não, € 5.634,56”.**2. Fundamentação

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pedido) formuladas quando termina a motivação, isto em conformidade com o que dispõe o art. 412º, n.º 1, do C. de Processo Penal - v., ainda, o ac. do Supremo Tribunal de Justiça, de 15 de Dezembro de 2004, in Colectânea de Jurisprudência, Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça, n.º 179, ano XII, tomo III/2004, Agosto/Setembro/Outubro/Novembro/Dezembro, pág. 246.**Há que, então, face às enunciadas conclusões, delimitar o âmbito do presente recurso pela definição das questões que se colocam para apreciação e que são as seguintes:

1ª - Por um facto culposo de E………. ter concorrido para a produção dos danos, a gravidade da sua culpa e da do arguido impõe que a indemnização seja reduzida, na proporção de metade e, não, na de, respectivamente, 40% e 60% (art. 570º, n.º 1, do C. Civil)?

2ª - As indemnizações, para além disso, por danos não patrimoniais deviam ter sido fixados em quantitativos mais reduzidos?** Consta da sentença, em termos de enumeração dos factos provados e dos factos não provados, bem como da exposição dos motivos de facto que

fundamentaram a decisão e da indicação e exame crítico das provas que serviram para formar a convicção do Tribunal, o seguinte:

“II, Fundamentação. i. Factos provados.

Discutida a causa, resultaram provados, com interesse para a decisão da causa e com exclusão de conclusões e conceitos jurídicos, os seguintes factos:

a) Ao fim da tarde do dia 12/09/2003, o arguido pediu a E………. para o ajudar a carregar e transportar uma tábua com as dimensões de 3 m x 1 m, que se destinava a fazer de mesa num jantar de

convívio, para a F………., sita em ………., pedido ao qual o mesmo acedeu.

b) Assim, carregaram a referida tábua para uma carrinha de caixa aberta de marca Toyota, modelo ………., matrícula NQ-..-.., com um comprimento máximo de caixa de 2,11 m.

c) Como a tábua não cabia na referida caixa, apoiaram uma das extremidades daquela no chão da parte traseira da caixa da carrinha e o outro lado apoiado na cabine, após o que prenderam-na com elásticos e cordas atadas às partes laterais das grades da carrinha.

d) Constatando que parte significativa da tábua ficava levantada acima da referida cabine, o arguido e E………. acordaram que este para ali subisse e segurasse na tábua durante o seu transporte, para evitar que a mesma caísse, o que E………. fez, ciente dos perigos para si próprio, com o acordo e consentimento do arguido.

e) Posto isto, e com E………. transportado na caixa do veículo, junto à cabine, a segurar a tábua que ali estava encostada, partiram da Rua ………., em …………., com destino a ………. .

f) Cerca das 20h00m, e após terem percorrido cerca de 1 km, o arguido tripulava o referido veículo, pela hemi-faixa direita da ………., atento o sentido que levava (sul/norte), quando, em consequência da movimentação do veículo e das supra referidas condições em que circulavam a tábua e E………., este e a respectiva carga foram arremessados para fora da caixa do veículo em que seguiam, vindo a cair na referida via de rodagem.

g) Como consequência directa e necessária da queda, E………. sofreu as lesões traumáticas crânioencefálicas, as quais foram causa directa e necessária da sua morte, ocorrida no dia 20/09/2003.

h) O arguido bem sabia que não podia transportar carga que excedesse o comprimento da caixa do veículo que tripulava, nem transportar ninguém fora dos assentos, nomeadamente, na caixa

destinada ao transporte de mercadorias, comprometendo, assim, a segurança, integridade física e visa do transportado.

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j) O arguido agiu com falta da diligência e cautela que lhe eram exigíveis e de que era capaz, omitindo o cuidado normal de prever as consequências da sua conduta e agindo com falta de consideração em relação às normas estradais.

k) O arguido agiu sabendo que a sua conduta era proibida e punida por lei. Do pedido cível do Hospital ………. (exclusivamente)

n) Na sequência do acidente, o falecido E………. ficou gravemente ferido, pelo que teve de ser socorrido e tratado nos serviços do Hospital demandante, onde veio a falecer a 20 de Setembro de 2003.

o) Os encargos da assistência prestada importaram a quantia de € 9.390,40.

p) O proprietário do veículo automóvel matrícula NQ-..-.. havia transferido para a demandada seguradora a sua responsabilidade civil por danos provocados pelo veículo, através da apólice n.º …... .

Do pedido cível de C………. e D……….

q) Os demandantes C………. e D………. estão inscritos no registo civil como pai e mãe, respectivamente, do supra referido E………., falecido em 20 de Setembro de 2003.

r) O proprietário do veículo automóvel matrícula NQ-..-.. havia transferido para a demandada seguradora a sua responsabilidade civil por danos provocados pelo veículo, através da apólice n.º ………..

s) O falecido E………. nascera em 21 de Dezembro de 1981. t) E………. teve a percepção da sua morte.

u) Tendo sofrido dores quando, após ter sido projectado pelo ar, caiu no asfalto da via em que o veículo conduzido pelo arguido seguia.

v) Tendo sofrido, por esses momentos, dores, angústia e terror pela morte. w) À data do acidente, o falecido E………. era solteiro.

x) Era saudável, robusto e ágil.

y) E vivia estavelmente com os pais, a quem prestava auxílio.

z) O falecido E………. estava desempregado à data do acidente, recebendo, então, da Segurança Social, subsídio de desemprego.

aa) Contudo, o falecido E………. era desenhador e tinha perspectivas de emprego.

bb) Entre os demandantes C………. e D………. e seu filho E………. havia união, amor e carinho.

cc) Os demandantes C………. e D………., reformados e padecendo de problemas de saúde, tinham na companhia do filho, além do auxílio, uma razão de viver.

dd) Os demandantes C………. e D………. sofreram um choque emocional com a notícia da morte do filho E………. .

ee) Os demandantes C………. e D………. sofreram e sofrem uma grande dor e desgosto com a morte do filho E………. .

ff) Sendo que, nessa sequência, a demandante D………. necessitou de tratamento e acompanhamento psiquiátrico.

gg) Pelo menos, a demandante D………., nos tempos que se seguiram à morte do filho, visitou, quase todos os dias, a campa onde este está sepultado, no cemitério da Freguesia de ………. .

hh) Sendo que ambos os demandantes C………. e D………. continuam a chorar e lamentar a falta do filho, de quem se recordam permanentemente, com grande dor e saudade.

ii) Os demandantes C………. e D………. gastaram com o funeral do filho e respectivos preparativos o montante de € 2.142,72, tendo sido reembolsados pela Segurança social em € 2.139,60.

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Não se provou que:

a) O falecido circulasse na caixa do veículo exclusivamente a pedido do arguido. b) O acidente provado tivesse ocorrido após terem percorrido cerca de 350 metros. Do pedido cível de C………. e D……….

c) As dores sofridas por E………. antes da sua morte tivessem-se prolongado por cerca de oito dias. d) O subsídio de desemprego auferido pelo falecido E………. fosse de € 9,75 diários.

e) O falecido E………. possuísse curso de desenhador da indústria metalomecânica e experiência profissional que lhe permitiria fácil inserção no mundo do trabalho, com emprego presumivelmente estável e bem remunerado.

f) A companhia do filho E………. fosse a maior razão de viver dos demandantes C………. e D………. . g) O demandante C………., após o falecimento do filho, passasse a visitar todos os dias a campa onde este está sepultado.

iii. Motivação de facto.

Quanto aos factos provados que vinham imputados ao arguido na acusação, o arguido acabou por confessá-los no essencial.

Na verdade, de relevante, o arguido apenas não confessou que tivesse pedido ajuda ao falecido para transportar a tábua e que a circulação do falecido E………., na caixa do veículo, tenha sido acordada com o arguido, tendo dito que E………. e o arguido decidiram, em conjunto, transportar a tábua e que E………. fora para a caixa do veículo por sua exclusiva iniciativa, a que o arguido não se opôs.

De qualquer modo, esta parte da versão do arguido não foi convincente.

Concretamente, resultou coincidente da prova produzida (desde logo, das declarações do arguido, mas, também, dos depoimentos das testemunhas G………. - irmão do arguido, que estava presente no café de onde partira o veículo -, H………. - cunhada do arguido, que também estava presente aquando da partida do veículo - e I………. - é amigo e primo afastado do arguido, sendo que também estava presente na altura da partida do veículo) que a tábua a transportar pertencia ao pai do arguido, tal como o veículo, tendo, inclusive, a testemunha G………. afirmado que, do que se apercebera, E………. tinha-se prontificado a ajudar o arguido a carregar a tábua para a festa para que o arguido estava a colaborar. Mostra-se, pois, consistente a versão da acusação no sentido de que fora o arguido que pedira a E………. ajuda, sem prejuízo de admitir-se que, dada a relação de amizade existente entre ambos, o pedido tivesse sido aceite imediatamente.

Além disso, quanto à circulação de E………. na caixa do veículo, do próprio depoimento do arguido resultou, ainda que implicitamente, que este e E………. decidiram em conjunto a forma como iriam fazer o transporte da tábua, sendo que, aliás, se não fosse preciso ir alguém a segurar a tábua e se tal não tivesse sido concluído por ambos, certamente que E………. tinha ido no interior da cabine, onde havia lugar (como o arguido confirmou). Importa, de qualquer modo, salientar que o próprio arguido confirmou que, pelo menos, não se opusera a que E………. circulasse na caixa do veículo, seguindo ao volante deste, ciente de tal facto. Em todo o caso, não se fez prova suficiente de que a iniciativa e decisão de E………. seguir na caixa do veículo tivesse sido exclusivamente do próprio

E………., sendo admissível que tal tivesse constituído uma decisão conjunta entre o arguido e E………. . Quanto ao mais, o arguido suscitou a dúvida sobre se a hora do acidente estava correcta,

afirmando ter a ideia de que era uma hora mais cedo. Nesta parte, apesar da irrelevância da dúvida suscitada, o certo é que dos registos da assistência médica prestada (cfr. fls. 56) resulta que o INEM chegou ao local para a assistência pelas 20h10m, o que é compaginável com um acidente ocorrido cerda de 10 minutos antes, mas, não uma hora antes, tendo em conta a natural urgência

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do socorro e considerando que foi logo chamado o INEM.

O arguido afirmou, ainda, que tinha percorrido mais de 350 metros, tendo passado por duas

rotundas, o que foi corroborado pelas testemunhas G………., H………. e I………., resultando coincidente destes depoimentos que a distância entre o café de onde o arguido partira e o local do acidente

fora de cerca de 1 km, tal como provado.

Especificamente quanto à morte de E………. e suas causas, o Tribunal atendeu aos documentos clínicos de fls. 40 a 41 e 56 a 142 e ao relatório de autópsia de fls. 145 a 151. Atendeu-se, ainda, ao assento de nascimento de fls. 399.

Os factos provados do foro subjectivo do arguido resultaram das suas próprias declarações, confessórias quanto ao essencial, e dos juízos de experiência comum.

Daí os factos provados sob as als. a) a k) e os factos não provados sob as als. a) e b).

Os factos provados quanto à apólice de seguro resultaram da apólice de fls. 425 - facto provado sob as als. p) e r).

Os factos provados do pedido cível do Hospital ………. resultaram dos episódios de urgência e internamento de fls. 57 a 142 e dos relatório e factura de fls. 393 e 394 - factos provados sob as als. n) e o).

Os factos provados traduzidos nos elementos sujeitos ao registo civil do falecido E………. resultaram do assento de nascimento de fls. 399 - factos provados sob as als. q) e s).

Os factos provados quanto ao sofrimento do falecido E………. antes da sua morte resultaram, desde logo, da experiência comum, uma vez que, atenta a sequência do acidente, mostra-se consistente que, pelo menos entre o momento em que o falecido se apercebe de que a carga e o próprio vinham/estavam a ser projectados pelo ar e o momento do embate no solo, o falecido tivesse sofrido a percepção da morte e as dores e angústia inerentes.

Acresce que, conforme resultou coincidente do depoimento do arguido e da testemunha J………. (depôs de forma credível e desinteressada - que circulava na mesma via e vira o acidente, tendo, de imediato, acorrido ao local onde estava a vítima), o falecido E………., quando estava no solo e, pelo menos, nos primeiros momentos, ainda gemia, o que conduz à conclusão de que sofrera dores com o impacto no solo e nos momentos subsequentes. Estes depoimentos não foram contraditados por qualquer prova relevante, sendo que foram estes os únicos depoentes que contactaram logo com a vítima.

É certo que a testemunha K………. (que morava na zona do acidente, tendo ouvido o estrondo e acorrido ao local) disse que, quando chegou ao local, o falecido E………. não falava, nem gemia. No entanto, esta testemunha também afirmou que demorou cerca de 5 minutos a sair de casa e chegar ao local do corpo, o que não lhe permitia saber qual o comportamento do falecido, pelo menos nesse período, para além de que a natural confusão gerada não facilitava a percepção exacta do sucedido, nomeadamente se o falecido ainda estava consciente ou se gemia.

Além disso, apesar de da informação clínica de fls. 40 e ss. constar que o falecido E………. dera entrada no Hospital em estado de coma e de estar já em estado de coma reactivo quando fora assistido no local, o certo é que tais registos não têm a virtualidade de ‘certificar’ o momento em que o falecido entrara nesse estado de coma, nem quando perdera a consciência, não permitindo pôr em causa que o falecido tivesse efectivamente sofrido dores e gemido entre o momento do acidente e o coma ou perda de consciência. Aliás, cumpre salientar que dos registos médicos referidos resulta que o falecido fora sedado.

De qualquer modo, atento o estado de coma do falecido E………. no período que antecedera a sua morte, não se pode considerar, ou, pelo menos, não se produziu prova nesse sentido, que o

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mesmo tivesse sentido dores ou sofrimento nos oito dias em que estivera de coma, sendo que, aliás, a capacidade de percepção da realidade durante o coma é matéria discutida na ciência médica.

Daí os factos provados sob as als. t) a v) e os factos não provados sob a al. c).

Relativamente aos factos provados quanto às condições pessoais do falecido, quanto ao

relacionamento com os pais demandantes civis e quanto às consequências para estes da morte do filho, o Tribunal formou a sua convicção com base nos depoimentos credíveis, com conhecimento de causa e coincidentes, na parte em que cada um depôs, das testemunhas L………. (que era irmão do falecido), M………. (que, além de amigo do arguido, era tio e padrinho do falecido) e N………. (que era vizinha dos pais do falecido e era deste também), para além de se atender, ainda, aos juízos de

experiência comum, especialmente quanto ao sofrimento dos demandantes.

De qualquer modo, não se fez prova sobre o concreto valor do subsídio de desemprego auferido pelo falecido, nem sobre as concretas habilitações literárias e experiência profissional deste.

Além disso, quanto ao facto não provado de E………. ser a maior razão de vida dos seus pais, a prova foi insuficiente, sendo que apenas se apurou, desde logo pelos juízos de experiência comum e

pelas consequências emocionais e psíquicas sofridas pelos demandantes, que o falecido E………. era uma das razões de viver dos demandantes.

Por sua vez, quanto às visitas diárias do cemitério, dos depoimentos das testemunhas L………., M………. e N………., sem que tivessem sido contraditadas, resultou que a mãe do falecido fora a que ficara

mais afectada e que era esta que, pelo menos nos tempos seguintes, ia todos os dias ao cemitério (não associando o pai do falecido a este comportamento), tendo resultado também dos

depoimentos em causa que a mãe do falecido, em face dos problemas psiquiátricos sofridos, uns tempos depois da morte do filho (cerca de 2 anos), deixara de ir ao cemitério.

Daí os factos provados sob as als. w) a hh) e os factos não provados sob as als. d) a g).

Relativamente às despesas do funeral, o Tribunal atendeu aos documentos de fls. 393 e 394 (de onde resulta que os demandantes pagaram o valor provado), atendendo aos documentos de fls. 217 a 222 e ao depoimento da testemunha M………. (que confirmou ter sido ele a tratar do reembolso das despesas de funeral junto da segurança social) quanto ao facto de a segurança social ter

reembolsado o valor provado - factos provados sob a al. ii)”.**Atentemos na primeira das questões acima enunciadas: por um facto culposo de E………. ter concorrido para a produção dos danos, a gravidade da sua culpa e da do arguido impõe que a indemnização seja reduzida, na proporção de metade e, não, na de, respectivamente, 40% e 60% (art. 570º, n.º 1, do C. Civil)?

A este propósito, discreteou a sentença nos seguintes termos: “Da culpa do lesado e da redução ou extinção da indemnização

Dispõe o art. 570º, n.º 1, do CC, que, «quando um facto culposo do lesado tiver concorrido para a produção ou agravamento dos danos, cabe ao tribunal determinar, com base na gravidade das culpas de ambas as partes e nas consequências que delas resultaram, se a indemnização deve ser totalmente concedida, reduzida ou mesmo excluída», sendo que a ‘culpa’ relevante para este

efeito deve traduzir-se num juízo de censura imputável ao lesado concorrente na produção do dano ou do agravamento deste.

E, de facto, o caso dos autos traduz, efectivamente, uma situação de concurso de culpa do lesado para a produção do dano (a sua própria morte), tal como supra exposto, aquando da

fundamentação da responsabilidade criminal do arguido, cujos argumentos agora se reproduzem por facilidade de exposição e interpretação:

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de cuidado do arguido, também é certo que a própria vítima também contribuiu para o resultado verificado, ou seja, para a sua morte.

Na verdade, a vítima também participou, consciente e activamente, na decisão e na execução da conduta do arguido sob censura, mais concretamente na decisão e execução atinente ao transporte de carga que excedia os limites da caixa do veículo e na decisão e execução atinente à circulação da vítima fora do assento do veículo e em cima da caixa deste, sem observância das elementares regras de segurança para a sua própria vida e integridade física.

A falecida vítima, ao aceitar e aderir ao transporte da carga sem observância das regras de segurança e ao aceitar e aderir ao seu próprio transporte na caixa do veículo e também sem observância das regras de segurança, assumiu uma posição de auto-colocação em perigo, submetendo-se voluntariamente aos riscos inerentes à circulação do veículo nessas condições, com especial aptidão para provocar acidentes e lesões na sua própria pessoa.

Importa salientar que, no caso, o falecido E………. não se expôs apenas ao risco típico decorrente da condução automóvel ou da circulação rodoviária, mas expôs-se, voluntária e conscientemente, à perigosidade específica e acrescida inerente à falta de observância das condições de segurança necessárias e exigidas pela própria lei.

Verifica-se, pois, um concurso efectivo e culposo da vítima, decorrente de um acto livre e consciente que é representativo da sua contribuição para o resultado e, no fundo, da sua auto-responsabilização e autocolocação em perigo.

No fundo, no caso dos autos - usando as palavras de Brandão Proença, em A Conduta do Lesado como Pressuposto e Critério de Imputação do Dano Extracontratual, Teses, Almedina, p. 639, a propósito, exactamente, do concurso de culpa do lesado e da autocolocação em perigo para efeitos de responsabilidade civil -, o resultado danoso ocorrido deriva da interferência recíproca de duas condutas culposas: a do arguido e a da vítima, em que o perigo, ultrapassando o grau de uma aptidão danosa normal ou típica, não encontrou uma resposta adequada por parte do lesado, o qual actualizou, sem necessidade e com a sua atitude imprevidente e temerária, aquele perigo.

Ora, estes fundamentos expostos para efeitos da responsabilidade criminal do arguido são

susceptíveis de integrar os pressupostos da redução da indemnização, nos termos do art. 570º do CC, atento o concurso de culpa do lesado. Conforme se disse no ac. STJ de 07.02.2008, proc. 07A4598, em www.dgsi.pt, «assente a responsabilidade do condutor criador imediato do perigo, o conhecimento da exposição voluntária ao mesmo por um passageiro (assunção voluntária do risco), conjugada com a possibilidade de ocorrer o facto danoso, verificada que esteja a adequação causal entre esses pressupostos e o dano, pode configurar-se o concurso da ‘culpa’, a justificar a

redução da indemnização prevista no art. 570º».

Assente que está que a vítima concorreu culposamente para o dano, resta quantificar o seu grau de contribuição, avaliando e confrontando a gravidade das culpas do arguido e da vítima.

Para este efeito, importa ter em conta o já por demais referenciado dever especial do arguido, na qualidade de condutor do veículo e de exclusivo (por confronto com a vítima) titular do domínio das decisões e contingências decorrentes da circulação do veículo, em observar as regras de

segurança impostas por lei e pelo bom senso, o que o arguido não observou. Estas circunstâncias importam um juízo de censura acrescido da conduta do arguido, por comparação com o juízo de censura inerente à conduta da vítima, que, de certa forma, se ‘limitou’ a tolerar conscientemente o perigo, sem dominar as vicissitudes deste na sequência da condução. Em todo o caso, a culpa da vítima é consistente e especialmente relevante na criação e assunção do perigo e,

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ou aceitasse circular no veículo nas condições provadas. Ao não o ter feito, a vítima expôs-se voluntária e conscientemente ao perigo, de tal modo que se mostra justo e equitativo que o mesmo partilhe com o arguido a responsabilidade pelo dano.

Atentos os fundamentos expostos, entende o Tribunal como adequado à gravidade da culpa do arguido e da vítima, sendo a daquele superior à deste, graduar a responsabilidade em 60% para o arguido e 40% para a vítima”.

A discordância da parte civil, Companhia …, como se assaca das pertinentes conclusões acima mencionadas, posta-se, somente, na graduação da responsabilidade efectuada pela sentença e que acabou de explicitar-se, sendo que, no corpo da motivação ou na motivação propriamente dita, na sequência, referiu que “se é certo que fora o arguido condutor que colocara em marcha o

veículo, menos verdade não é que a decisão sobre o modo de colocação da tábua de madeira no veículo fora de ambos, os dois acordaram que E………. subisse para a caixa de carga para segurar a tábua, o que E………. fez consciente dos perigos para si próprio”, para concluir que “inexistem, pois, razões, para que a responsabilidade de cada um daqueles não seja de 50% para cada um deles …”. Podemos dizer, sem hesitação, que os fundamentos vertidos na sentença são os mais ajustados. Na verdade, e com isto dizemos tudo (para lá, obviamente, do que, pertinentemente, consta da sentença e que não vale a pena repetir, ainda que por outras palavras; aliás, não deixou a própria parte civil de, em certos termos, reconhecer isto mesmo, como se constata pelo acima citado …), não podemos esquecer que, no caso, o criador imediato do perigo, dos riscos por assim circular, fora o condutor, nem mais nem menos do que o arguido, sendo certo que a lei estradal considera responsável pela contra-ordenação o condutor do veículo e, não, o passageiro (art. 135º, n.º 3, al. a), do C. da Estrada) - v. o ac. do Supremo Tribunal de Justiça, de 5 de Fevereiro de 2009, in www.dgsi.pt/jstj.

Portanto, e em termos de conclusão, decisória, para a questão em apreço, apesar de um ( o

conhecido ) facto culposo de E………. ter concorrido para a produção dos danos, a gravidade da sua culpa e da do arguido impõe que a indemnização seja reduzida, sim, mas na proporção fixada na sentença, 40% e 60% (art. 570º, n.º 1, do C. Civil).**Atentemos na segunda questão: as

indemnizações por danos não patrimoniais deviam ter sido fixados em quantitativos mais reduzidos?

Escreveu-se na sentença a este propósito: “Da indemnização da perda do direito à vida

A perda do direito à vida é um dano não patrimonial cuja gravidade justifica que mereça

compensação, nos termos do art. 496º do CC, o que hoje se mostra quase pacífico na doutrina e na jurisprudência.

Relativamente ao quantum da compensação, não existe regra legal que o determine com mínima precisão, tal como sucede quanto aos danos não patrimoniais em geral, impondo-se ao tribunal que decida de forma equitativa, nos termos do art. 496º, n.º 3, do CC, sopesando todas as

circunstâncias relevantes.

Como se escreveu no ac. da RP de 06.12.2006, proc. 0416668, em www.dgsi.pt, que sufragamos na totalidade, «no dano morte … valoriza-se e atende-se ao bem jurídico vida. Este bem, este valor, inerente a todo o ser humano, não é valorado e vivido de igual modo por cada ser humano. O viver traduz-se, na prática, passar por um determinado número de experiências pessoais, sociais,

profissionais, culturais, artísticas, tristezas, alegrias, viagens e tantas outras durante um certo período de tempo, mais longo ou mais curto, em regra, consoante o estado de saúde natural de cada um (que pode ir do nascimento até à morte natural). O ser humano, cada pessoa, pode ter

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mais apego à vida, vivê-la mais intensamente, valorizá-la em cada momento ou vivê-la de um modo mais penoso, desinteressado, desmotivado, sem alegria, ao ponto de, em casos extremos, lhe pôr, mesmo, fim, com o suicídio, que não é caso tão raro no nosso País. Tomando como referência a “esperança média de vida” e a idade natural de cada pessoa, é verdade que uma vida “ceifada” em consequência de um acidente aos 10, 15 ou 20 anos tem um significado diferente enquanto esperança de ainda viver mais determinados anos, se ocorrer aos 80 ou 90 anos. Não se confunda que pretendemos dizer ou afirmar que a vida aos 90 anos, enquanto valor absoluto, tem menos valor que aos 10 anos! Enquanto valor vida tem o mesmo significado. Enquanto sentido e

valorização da vida, até pode ser superior à de uma pessoa com 20 ou 30 anos. E podemos chegar ao caso, também bem real e actual, de uma vida puramente vegetativa. Mas, se o que se pretende indemnizar é o direito à vida, o direito a viver durante determinados anos de acordo com as regras naturais e de esperança média de vida, tudo o que acabamos de dizer não pode ser indiferente à quantificação da indemnização».

Deve-se, pois, na fixação da indemnização pela perda do direito à vida, atender a todas as

especificidades da vítima e da sua vida, assumindo especial relevância a idade, o estado de saúde e as perspectivas de vida, o que varia de pessoa para pessoa.

Claro está que “a vida não tem valor”. De qualquer modo, o que se pretende com a atribuição da indemnização por danos não patrimoniais não é propriamente a ressarcibilidade do prejuízo, como sucede com os danos patrimoniais, mas sim uma compensação equitativa face ao dano não quantificável.

Sobre valores em concreto, a jurisprudência, apesar de algumas variações pelas especificidades de cada caso concreto, tem assumido como valor médio de referência a quantia de € 50.000,00 - cfr. elenco exemplificativo exposto no ac. RP de 06.12.2006, já supra citado. No entanto, importa notar que a jurisprudência a que se alude no dito acórdão reporta-se aos anos situados, essencialmente, entre 2000 e 2004, tendo no próprio acórdão citado, que data de 2006, sido fixada a compensação justa em € 60.000,00.

Ora, quanto ao caso dos autos, tendo em conta a idade jovem da vítima (21 anos de idade à data da morte), a sua saúde e a sua integração e relacionamento social, familiar e profissional que constam dos factos provados sob as als. w) a bb), bem como as perspectivas inerentes de vida, não permitem, hoje (2008), face ao actual valora da moeda e custo de vida, considerar como

equitativa uma compensação pela perda do direito à vida de uma pessoa com as características da vítima em causa nos presentes autos em valor inferior a € 75.000,00, sendo este um valor

adequado e justo ao caso concreto.

Da indemnização pelo sofrimento da vítima que antecedeu a sua morte

O dano traduzido no sofrimento da vítima que antecede a sua morte não pode deixar de ser positivamente valorado para efeitos de atribuição de indemnização compensatória e,

consequentemente, autonomamente indemnizável, pois tal dano traduz um quadro de alteração não consentido e indesejado, acompanhado de uma temporária afectação do bem estar físico e/ou psíquico da vítima - essencialmente neste sentido ver, entre outros, ac. RP de 06.12.2006, supra citado.

Ora, no caso dos autos, resulta dos factos provados que a vítima sofreu a percepção da sua morte, tendo sofrido dores, angústia e terror pela morte quando foi projectado pelo ar e caiu no asfalto da via, para além de que faleceu, ‘apenas’, oito dias depois do acidente - cfr. als. q) e t) a v) dos factos provados.

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Relativamente à quantificação do valor dos danos em causa, face ao actual valor da moeda e custo de vida, entende o Tribunal como equitativa uma compensação pelo sofrimento aludido no valor de € 18.000,00, sendo este um valor adequado e justo ao caso concreto.

Da indemnização devida pelos danos sofridos pelos pais do falecido

Conforme dispõe expressamente o art. 496º, n.º 3, do CC, os danos não patrimoniais sofridos pelos próprios demandantes C………. e D………., na qualidade de pais do falecido e titulares do direito à indemnização prevista no n.º 2 do mesmo preceito legal, são indemnizáveis.

No caso dos autos, resultam provados danos não patrimoniais sofridos pelo pai e pela mãe do falecido merecedores da tutela do direito, dada a elevada gravidade dos mesmos - cfr. als. bb) a hh) dos factos provados -, aliás típicos de quem vê perder um filho jovem, contra a natural sequência da vida.

De qualquer modo, independentemente das razões, o certo é que dos factos provados resulta que a demandante D………. sofreu danos superiores aos do demandante C………., especialmente ao nível psiquiátrico.

Relativamente à quantificação do valor dos danos em causa, face ao actual valor da moeda e custo de vida, entende o Tribunal como equitativa uma compensação pelo sofrimento aludido no valor de € 35.000,00 quanto aos danos sofridos pela demandante D………. e no valor de € 25.000,00 quanto ao demandante C………., sendo estes valores adequados ao caso concreto”.

A parte civil, para sustentar a sua discordância (concretizada pela afirmação de que as quantias fixadas na sentença eram exageradas), como o expressou no corpo da motivação ou motivação propriamente dita, destacou, sem esquecer, obviamente, o que, no pertinente, na sentença, se enumerou como provado, em relação à primeira delas (que considerou dever postar-se em € 60.000,00 ), a idade da vítima mortal (“jovem com menos de 25 anos”).

Começando já por aqui, não devemos esquecer (para lá do que disse, a respeito, a sentença, e que é ocioso repetir …) que o que está em causa é a indemnização pela privação de um direito, o direito a viver, à vida, e este, como direito que é, sem mais, isto é, só por isso, facultaria ao seu portador a possibilidade (expectativa) de dele retirar todas as ajustadas utilidades; e, nesta perspectiva,

singela, mas impressiva, o tempo, natural, de existência desse direito mais influência, incidência iria ter na efectivação dessa possibilidade.

Vale isto para dizer que, à partida, a privação desse direito é muito mais significativa quando ocorre em momento em que o mesmo, previsivelmente, segundo a ordem natural das coisas, podia

perdurar por muito mais tempo, com a consequente, inerente, projecção do correlato benefício. Pondera-se aqui, e por aproximação ao caso, a idade (a vítima mortal, relembre-se, tinha, feitos, 21 anos …).

Podemos dizer duas coisas, a propósito: a vida é um bem, em si mesmo, absoluto, mas, porque finito, é, igualmente, relativo e, nesta relatividade, a expressão maior vem do que ela mesma pode permitir, o que se vai ajustando, para menos, com o decurso do tempo.

Por isso é que, pela primeira das razões, não deve ser-se parcimonioso, ainda que observando regras, dadas pela experiência, de proporcionalidade, e, pela segunda, deve acentuar-se o que de relativo, exponencialmente, se frustrou [isto mesmo - esta relevância da idade - é demonstrado pela Portaria n.º 377/2008, de 26 de Maio, no seu art. 5º, Anexo II, Direito à Vida (C); já agora, e em relação a este diploma legal, referido, também, pela parte civil, para sustentar a sua discordância, geral, não podemos deixar de consignar que foi ele mesmo que expressamente previu a

possibilidade de fixação de valores superiores aos propostos, em termos razoáveis, para efeitos, registe-se, de apresentação aos lesados no sentido indemnização do dano corporal - art. 1º, n.ºs 1

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e 2].

Daí que entendamos não ser de ter por desmesurada a quantia fixada, na sentença, pela perda do direito à vida.

No que se reporta, por sua vez, ao que a parte civil teve por indemnização pelo sofrimento da vítima, que a sentença postou em € 18.000,00 e que aquela entendeu postar em € 10.000,00, sustentando-se, naturalmente, nos factos, pertinentes, que foram, na sentença, enumerados como provados.

E aqui, apesar de, na sentença, para fundamentar a fixação de tais danos, se ter mencionado que a vítima viera a falecer oito dias depois do acidente, o certo é que, pela referência aos factos

provados (als. q) e t) a v)), este facto (contido na al. g), ajustado pelo mencionado na al. a)) parece não ter sido ponderado, e isto porque foi enumerado como não provado, na sentença, que as dores sofridas por E………. se tinham prolongado por cerca de oito dias (ainda que se não possa, nem deva, necessariamente, e em tese, em geral, em princípio, confundir-se dores com angústia ou sofrimento pela percepção da morte, na motivação consignada para sustentar a decisão proferida sobre a matéria de facto, ambas as situações foram, de certo modo, e aqui, pelas razões consignadas, de forma acertada, equiparadas).

Temos para nós que, neste âmbito, genericamente, se não dá o devido valor a um sofrimento que se tem de haver por inaudito, certamente indescritível, que está bem para lá do causado pelas dores (que se espera atenuar, que pode ter paliativos, mais tarde ou mais cedo), e que é o da percepção da morte, naturalmente intensíssimo no momento da sua eclosão, brutal, destruidor, e que não necessita de parangonas emocionais baratas para ser compreendido.

E é exactamente por isto que entendemos estar a quantia fixada, na sentença, a este título, ajustada.

No que diz respeito, agora, e finalmente, ao que a parte civil teve por (indemnização pelos) danos não patrimoniais dos requerentes cíveis pela perda de seu filho, indemnização esta que a sentença postou em € 35.000,00 (para a mãe) e € 25.000,00 (para o pai) e que aquela pretende, com base, uma vez mais, nos factos, pertinentes, enumerados como provados na sentença, seja fixada em € 20.000,00 e € 15.000,00.

Também aqui entendemos que não se nos deparam como excessivas tais indemnizações, desde logo, porque defendemos, como já dissemos acima, que as indemnizações em referência não podem ser perspectivadas de um modo parcimonioso, por uma comezinha razão, qual seja a de que o sofrimento, não podendo ser eliminado, tem de ser respeitado, positivamente, e depois, porque, no caso, foi um filho que aqueles perderam, é certo, mas, naturalmente, um filho que, para eles, também, tinha uma vida pela frente, era alguém a quem, pela sua idade, ainda não tinham visto caminho existencial significativo percorrido, estabilizado, definido, como realização integral da sua intervenção de, e como, pais (expressivamente, enumerou-se como provado, que era, este filho, para os mesmos, uma razão de viver).**Aqui chegados, é tempo de concluir: o recurso não merece provimento.**3. Dispositivo

Nega-se provimento ao recurso.

Condena-se a demandada Companhia …, por ter decaído totalmente, nas custas - arts. 520º, al. a), do C. de Processo Penal, e 446º, n.ºs 1 e 2, do C. de Processo Civil.**

Porto, 13 de Maio de 2009

Custódio Abel Ferreira de Sousa Silva Ernesto de Jesus de Deus Nascimento

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