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O ambiente institucional e as transações na produção de uva de mesa da região noroeste de SP.

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O ambiente institucional e as transações na produção de uva de

mesa da região noroeste de SP.

Paulo Augusto Ramalho de Souza (UFAM) paramalho@gmail.com Kelly Wolff Cordeiro (UFMS) kellywolffms@yahoo.com.br Cicero Antônio Oliveira Tredezini (UFMS) tredezini@uol.com.br

Resumo: Dada a importância da viticultura para a região noroeste de SP, esta pesquisa tem como objetivo identificar como o entendimento da ECT e das Instituições nas relações entre produtores e atacadistas pode afetar as transações. A orientação metodológica adotada para este estudo é o da pesquisa indutiva com emprego da abordagem qualitativa, mediante utilização de pesquisa documental e pesquisa de campo. 'o estudo empírico, foram realizadas entrevistas com 50 produtores de uva, 7 atacadistas, 3 varejistas, com dirigentes da cooperativa local e com agentes de instituições presentes na região. A análise dos dados demostra que a viticultura contribui de forma relevante para a economia da região pesquisada, por representar para o pequeno produtor rural uma alternativa de ocupação e geração de renda. Sendo que a não utilização de contratos formais na realização das transações leva o sistema produtivo a necessitar de um ambiente institucional bem estruturado e sustentável. Palavras-chave: Viticultura, Instituições, Custos de Transação.

1. Introdução

O desenvolvimento das práticas produtivas na agricultura mundial deu-se com a revolução produtiva da década de 50. Assim, em virtude de seu desenvolvimento o agronegócio se tornou setor de relevante importância, pois o mesmo concentra entre seus agentes variáveis estratégicas para alguns setores da economia.

Segundo dados da Confederação da Pecuária e Agricultura do Brasil as exportações do Agronegócio brasileiro cresceram 22,9% no ano de 2008, o que gerou um saldo para o setor na casa dos US$60 bilhões, o que garantiu mesmo com a crise, aproximadamente US$25 bilhões de superávit para a balança comercial brasileira em 2008 (CNA, 2009).

A uva nos últimos anos consolidou-se como uma fruta de importância econômica para o Brasil, e conseqüentemente para o estado de São Paulo, pois é o segundo maior produtor de uvas do país. No Estado de São Paulo, em 2007, de acordo com dados do IBGE produziu-se 198.2 mil toneladas de uvas, perdendo somente para o Rio Grande do Sul com uma produção de 704.1 mil de toneladas. De 2000 a 2008, esta fruta mostrou um incremento no valor da produção, de US$54 milhões para US$171,5 milhões de dólares, apresentando um crescimento de cerca 315% em 8 anos. A cadeia produtiva da uva fina de mesa contribuiu para as exportações brasileiras, em 2008, com uma participação financeira aproximadamente 28% do total das frutas exportadas no Brasil, (IBRAF, 2009).

A aplicação do arcabouço teórico da Economia dos Custos de Transação (ECT) em conjunto com a Teoria Economica das Instituições, permite avaliar a competitividade sistemas produtivos, por meio de aspectos relacionados às transações

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existentes no mesmo. A governança de um Sistema Agroindustrial pode variar de acordo com o produto em análise, de acordo com as estratégias individuais de relacionamento, das mudanças do ambiente institucional e entre outros fatores. A minimização dos custos de transação é o vetor que orienta a escolha do mecanismo de governança mais apropriado, tornando o custo da transação e suas especificidades à unidade de análise prioritária de um sistema produtivo.

Tendo em vista estas considerações, a questão proposta para este trabalho é: as instituições presentes na região noroeste de SP facilitam as transações entre os produtores e os atacadistas? Assim a pesquisa, tem como objetivo identificar como o entendimento da ECT e das Instituições nas relações entre produtores e atacadistas pode afetar as transações.

2. Procedimentos Metodológicos

A orientação metodológica adotada para este estudo é o da pesquisa indutiva com emprego da abordagem qualitativa, mediante utilização de pesquisa documental e pesquisa de campo. Os dados foram coletados de forma direta e indireta, desenvolvendo-se o levantamento secundário com o auxílio de pesquisa de caráter documental e bibliográfica e o levantamento primário mediante a aplicação de questionário (VIEIRA, ZOUAIN, 2004; BRYMAN, 1989; VERGARA, 2006).

As entrevistas foram realizadas, primeiramente, com agentes potenciais diretamente envolvidos na dinâmica local do sistema produtivo da uva de mesa da região noroeste de São Paulo, utilizando a observação para obter informações relevantes sobre o setor.

As instituições entrevistadas foram: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), Banco do Brasil, Sindicato Patronal, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a Cooperativa Agrícola Mista dos Produtores da Região de Jales. O critério de escolha dos entrevistados em cada uma dessas instituições foi o seu conhecimento e atuação na viticultura. Tal pesquisa foi feita utilizando um questionário semi-estruturado para que assim fosse possível a captação de mais informações possibilitada pela liberdade deste tipo de entrevista.

Foi realizado um teste do questionário, aplicado em Janeiro de 2008, o pré-teste teve como objetivo testar a eficácia do questionário com a abrangência de um grupo de 8 produtores da cidade de Jales-SP, os quais não foram incluídos na amostragem definitiva. Posteriormente foram entrevistados 50 produtores de uva, 7 atacadistas e 3 varejistas.

3. Economia Institucional

No artigo Economía Institucional (2003) de Commons, consta o que é a economia institucional e no que ele se baseia para montar a sua abordagem. Portanto, o que será exposto aqui terá base neste texto dele e além disso, tal autor é tido como um expoente do que se convencionou chamar de “velhos institucionalistas”.

Commons (2003) aponta a dificuldade de se definir o que são as instituições dentro do escopo econômico. Dependendo do contexto, pode significar o marco legal, o comportamento dos agentes econômicos, a ação do conjunto no lugar do indivíduo.

A efinição de instituição para este teórico se baseia na ação coletiva, ou seja, a ação que pode controlar, ampliar e liberar o comportamento do agente. Essa ação

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coletiva considera os costumes, a família, a empresa, associação comercial, o sindicato e o Estado.

A ação coletiva, ou seja, as instituições são regidas por um princípio que é o controle, a liberação em maior ou menor grau do individuo perante o coletivo. Conseqüentemente isso resulta em perda ou ganho para as partes envolvidas na transação, isso na linguagem de Commons (2003) é o crédito e a dívida.

As ações coletivas em alguns casos são mais eficientes que ações do Estado conforme Commons (2003), como por exemplo uma empresa de investimentos, sindicatos, associação patronal ou comercial. Isto acontece, pois, estas organizações, podem criar regras e tem mais facilidade ou agilidade para o cumprimento das regras estabelecidas.

Considera que o ponto principal da existência das organizações estabelecerem o que pode ou o que não pode ser feito ou os direitos e os não diretos é o principio da escassez, da eficiência e do que pode acontecer no futuro. Por isso, o comportamento dos agentes precisam ser regulados por regras que minimizem problemas nas transações.

Com relação as transações, Commons (2003) a divide em três grandes tipos, as transações de negociação, de administração e de racionamento. Nas palavras de Commons “los participantes en cada una de ellas son controlados y liberados por las reglas de funcionamiento del tipo particular de interés moral, económico ou político en cuestión” (COMMONS, 2003, p.6).

A transação de negociação é semelhante ao mecanismo de mercado de organização da interação dos agentes, ou seja, os melhores vendedores e compradores interagem. Neste tipo de transação há possibilidade de ter quatro tipos de conflitos de interesse, são eles: competição, discriminação, poder econômico e regras de funcionamento.

O primeiro conflito esta relacionado com a disputa entre compradores e compradores e vendedores e vendedores e por isso, cabe aos tribunais definirem as regras dessa transação para que a torne menos desleal.

O conflito do tipo discriminação esta ligado as oportunidades dos agentes de escolherem com quem desejam transacionar, dessa forma, as instituições aparecem para elaborar regras para coordenar a interação. Mas as regras podem ser razoáveis ou não para a coletividade. Com relação ao poder econômico, esta ligado ao poder de barganha nas negociações. E por fim, as regras de funcionamento, as quais podem ser tendenciosas e por isso gerar conflito.

A transação denominada administração, é considerada por Commons (2003) as que produzem riquezas. A relação ocorre por meio de uma hierarquia, na qual tem um superior e um inferior e baseada na eficiência. Exemplo dessa transação é uma transação entre um presidente de uma empresa com seu gerente, este deve obedecer as ordens de seu superior para que não haja conflito.

O terceiro tipo de transação é denominado de racionamento e também apresenta-se sob uma hierarquia. A relação também acontece entre duas partes, mas a diferença esta no escopo do agente. Neste tipo de transação o agente superior é coletivo ao passo que os inferiores são os indivíduos. Exemplos dessa transação são: o poder legislativo de um país e decretos de ditaduras.

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Dessa forma, nota-se que as regras de funcionamento nem sempre são harmoniosas conforme as hipóteses do direito natural e do equilíbrio mecânico das escolas clássicas. Então, é a partir do conflito de interesses que se criam as regras (COMMONS, 2003).

Deve-se ficar claro que a economia institucional não se separa da escola clássica, e sim foca no futuro, ou seja, a teoria não estuda a produção das mercadorias ou o controle físico das mesmas, e sim o controle legal das mercadorias e do trabalho, bem como os costumes e tradições que norteiam as transações dos agentes, sendo estas denominadas como regras informais.

3.1 Teoria dos Custos de Transação

A economia dos custos de transação (ECT) estuda como parceiros em uma transação protegem- se dos riscos associados às relações de troca (AZEVEDO, 1996). A redução dos riscos implica a redução dos custos de transação.

Os custos de transação foram definidos como custos ex-ante de preparar, negociar e salvaguardar um acordo, bem como os custos ex-post dos ajustamentos e adaptações quando a execução de um contrato é afetada por falhas, erros, omissões e alterações inesperadas. Em suma, são os custos de conduzir o sistema econômico (WILLIAMSON, 1993, apud ZYLBERSZTAJN, 1995, p. 14). Arrow (1969) apud Williamson (1996) conceitua custos de transação como os custos de conduzir um sistema econômico. Enquanto Commons (2003), custos de transação representa a unidade básica de análise econômica é a transação.

Com base nas teorias abordadas os atributos das transações são organizados em dimensões distintas: especificidades dos ativos, freqüência e incerteza. Devemos identificar também os pressupostos comportamentais, pois afetam de forma direta e indireta os custos transacionais.

Ativos específicos não podem ser usados de forma alternativa aquela para tal finalidade foi desenvolvidos, a não ser com perdas de valor (Azevedo, 1996). Assim, os riscos relacionados à este investimento, aliado a pressupostos como, oportunismo e incompletude contratual, geram sensíveis custos de transação.

Assim, quanto maior o investimento em ativos específicos envolvido em uma transação, maior seriam os riscos e os problemas de adaptação, ou seja, maiores os custos de transação. Para Williamson (1985), a continuidade da relação deve ser analisada ao se analisar este atributo, a existência ou não de salva-guardas contratuais e, ainda, os pressupostos comportamentais (racionalidade limitada e oportunismo) e a incerteza. Com isto, apesar da importância dada à especificidade do ativo como atributo relevante para a análise da transação, este só faz sentido em conjunto com os pressupostos comportamentais e na presença de incerteza.

A freqüência torna-se um atributo a ser analisado na escolha de uma transação, pois a repetição de uma espécie de transação é um dos elementos relevantes para se determinar as estrutura de governança adequada para atomização dos custos. Williamson (1985) utiliza duas classificações para determinar como se comporta a freqüência em uma transação, sendo, recorrentes ou ocasionais e desenvolve modelos de governança combinando a especificidade do ativo e a freqüência.

Na literatura, um dos aspectos pelos quais a incerteza é analisada é o informacional que considera a assimetria informacional, o mesmo apresenta a falta de

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reconhecimento de quais informações são relevantes para o desenho de um contrato como fatores geradores de incertezas (AZEVEDO, 1996).

A compreensão da ECT passa pela aceitação dos pressupostos comportamentais, racionalidade limitada e oportunismo. Pode-se afirmar que o ponto de partida para a existência de custos de transação é o reconhecimento de que os agentes econômicos são racionais – porém limitadamente – e oportunistas.

A racionalidade limitada, para Williamson (1996) entende-se como um comportamento com o qual os indivíduos não conseguem desenvolver de forma plena a sua capacidade cognitiva, deixando a desejar em algumas situações por essa limitação. Ou seja, a racionalidade limitada refere-se ao comportamento que pretende ser racional, mas consegue sê-lo apenas de forma limitada devido à condição de competência cognitiva limitada de receber, estocar, recuperar e processar a informação. Todos os contratos complexos são inevitavelmente incompletos devido à racionalidade limitada

O oportunismo pode ser definido como a busca do auto-interesse com avidez (WILLIAMSON, 1985). De forma genérica, oportunismo relaciona-se com a informação, quer seja sobre a sua disponibilidade, quer seja pelo seu formato (a informação pode ser distorcida ou não). Assim, oportunismo e assimetria informacional caminham juntos.

A Figura 1 traz a forma com a qual estas variáveis se inter relacionam de modo a induzir formas de governança que viabilizem a redução de custos de transação. Desta forma, as características básicas da transação determinam um formato contratual que, sob um determinado ambiente institucional e comportamento dos agentes, induz a estrutura de governança mais apropriada.

Figura 1 Esquema da Indução das Formas de Governança Fonte: Zylbersztajn, 1995.

4. Análise e discussão dos Dados

Nesta sessão será feita a discussão dos dados divididas em duas partes, sendo que a primeira versará sobre o aspecto institucional e a segunda sobre as transações e algumas características dos produtores entrevistados.

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4.1 Ambiente Institucional

O ambiente institucional, conforme Commons (2003) pode ter várias definições e por isso ser dificil definir uma conceituação comumente aceita. Mas de acordo com este autor o arranjo institucional pode ser as regras formais, o comportamento dos agentes econômicose a ação do coletivo no lugar do indivíduo.

Sendo assim, a região de Jales possui um aparato institucional diversificado, visto que possui regras formais para regulamentação do uso do solo, recursos hídricos, uso de agrotóxicos e equipamento de proteção individual (EPI). Além disso, possui instituições ligadas a várias partes da produção, como pesquisa tecnológica, assistência técnica, associações como sindicatos e cooperativas e bancos para concessão de financiamento.

De acordo com as entrevistas realizadas, os produtores realizam análise de solo objetivando verificar se os mesmos estão adequados para a produção de uvas, e realizam as adequações recomendadas a partir da análise, caso haja necessidade e, há ocorrência de visitas técnicas por parte da CATI ou da Prefeitura quando solicitadas pelos mesmos. Os recursos hídricos são utilizados, predominantemente, para dois tipos de irrigação: aspersão e microaspersão; que são os indicados para a região. Quanto ao uso de Equipamentos de Proteção individual (EPI), observou-se o não cumprimento da norma por parte de alguns produtores, que relataram que apesar de não utilizarem o EPI, costumam tomar cuidados durante a aplicação de agrotóxicos/fungicidas. Todos os produtores pesquisados relatam tomar cuidados com embalagens vazias, lavando-as conforme recomendação e entregando em local indicado para a região.

Verificou-se que a região de Jales possui um ambiente local desenvolvido, em termos de infra-estrutura e no que diz respeito à presença de instituições educacionais (Fatec e Escola Agricola) de pesquisa e de apoio técnico (EMBRAPA e CATI), em que as mesmas demonstraram possuir bom grau de conhecimento quanto às especificidades da produção de uvas, de forma que duas dessas organizações desenvolvem pesquisas e são responsáveis por disseminar conhecimento quanto a tecnologias e inovações quanto à atividade, bem como realizam treinamentos com os mesmos quantos as exigências do mercado sendo as mesmas a CATI e EMBRAPA.

A presença do sindicato na região serve como apoio tanto para os trabalhadores como aos proprietários, no que tange aos direitos e deveres de cada um, sendo que a pesquisa revelou que predomina o sistema de parceria entre os mesmos, em que há um vinculo maior com o produtor e a unidade produtiva, o que por sua vez, pode minimizar incertezas. Esse sistema costuma-se ser utilizado em culturas que requerem mão-de-obra intensiva como a uva, por isso é uma prática comum na região de Jales (SILVA et all, 2008).

A Cooperativa Agrícola de Jales revelou através da pesquisa que possui pouca confiança por parte dos produtores devido à dívida adquirida após a abertura comercial, tendo em vista o alto valor investido no negócio, com a aquisição de câmaras e túneis de resfriamento, estruturas de packing house, entre outros, de forma que possui uma estrutura adequada para coordenar as atividades do APL, mas não funciona de forma eficiente por falta de interação entre os agentes ou mesmo por desinteresse dos agentes participantes da atividade.

O Banco do Brasil atua na região como instituição de fomento, sendo bastante conhecido pelas linhas de créditos agrícolas disponíveis. A pesquisa com essa

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organização revelou que o mesmo possui muito conhecimento referente às especificidades da atividade, uma vez que possui técnicos disponíveis para os produtores que se utilizam das linhas de crédito, e estes fazem cotações referentes aos custos dos insumos para a produção, com o objetivo de avaliar a necessidade real de financiamento para o empreendimento.

De acordo com a CATI, no ano de 2008 foram fechados 188 contratos (DAF - PRONAF) para a região da Jales, avaliados em R$ 2.371.353,28. Para o FEAP, também no mesmo ano, foram fechados 31 contratos para a região. Relacionada as linhas de créditos oferecidas para a agricultura, os produtores relataram conhecê-las e fazer uso das mesmas.

Retomando o conceito de ação coletiva de Commons (2003), pode-se notar que a ação do conjunto ou seja, de uma instituição como EMBRAPA, CATI e COOPERATIVA tem poder de influenciar mais os produtores do que o marco legal estabelecido pelo Estado no que concerne as regras de uso de EPI e agrotóxicos por exemplo. Isso ocorre em função da proximidade com os produtores e conhecimento das especificidades locais, tal como as regras informais, traduzidas em costumes. E além disso, tais instituições tem mais chances de monitorar as regras por elas estabelecidas justamente por estarem em contato diretamente com os produtores.

4.2 Transação entre Produtores e Atacadistas

Com a realização das pesquisas, identificou-se que o sistema produtivo da uva de mesa da região noroeste de SP possui cerca de 943 hectares de uva platandos, distribuidos em 22 municipios onde as cidades de Jales, Urania e Palmeira do Oeste concentram as maiores areas destinadas a viticultura da região de noroeste de SP.

Os produtores entrevistados relatam que as informações referentes às tecnicas de produção da uva de mesa foram adquiridas por meio do relacionamento com seus vizinhos (produtores das redondezas) em cerca de 90% das vezes.

Para os produtores presentes no arranjo produtivo da uva de mesa da região de Jales SP, a uva representa cerca de 55% de sua renda, mostrando relevante importancia da atividade para o sustento de suas familias.

Em se tratando da mão-de-obra na viticultura da região noroeste de SP, esta pode ser caracterizada como familiar seja ela desenvolvida pelo proprietário da terra, ou ainda pelo “meeiro”, modalidade de parceria muito freqüente na região, que também utiliza sua família como fonte de mão-de-obra. Assim segundo (SOUZA at all, 2009).

Estas familias que se dedicam ao cultivo da uva habitam a região, em média, a 37 anos e a grande marioria , aproximadamente 80% das familias, é oriunda da região de Jales ou do noroeste paulista.

A pesquisa identificou que dos produtores inseridos na viticultura, 97% encontram-se na atividade a mais de 5 anos, corroborando para a idéia de que existe uma tradição regional para a realização da atividade e que os produtores inseridos na atividade possuem relevante experiência no trato com a uva, em virtude de seu tempo na atividade. Tal fato pode sugerir relações de reciprocidade entre estes agentes no sentido da consolidação do desenvolvimento da atividade.

No que se refere ao nível de educação formal, medido aqui pelo grau de escolaridade, verifica-se que aproximadamente 70% dos produtores possuem o primeiro

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grau completo e 27% possuem o segundo grau completo. Nesta direção Andrietta (2004) constata, também, que o grau de escolaridade dos trabalhadores rurais da fruticultura do Estado de São Paulo é o ensino fundamental e, para Arruda et all, (2005) este fator teria pouca influência na produtividade da atividade, uma vez que as atividades realizadas são simples, mas exigindo alto grau de especialização.

Do ponto de vista da governança do sistema, o baixo nível de escolaridade dos produtores pode implicar em um aumento do grau de incerteza nas transações uma vez que os agentes poderiam ter mais dificuldades na analise das informações disponíveis sobre a transação.

Os atacadistas que transacionam com os produtores da região de Jales estão situados em sua maioria no CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) que desde 1969 é referencia nacional no abastecimento de alimentos. Estes atacadistas estão em media, 20 anos na atividade. Os atacadistas trabalham com um numero expressivo de produtores de todas as regiões produtivas de uva do país. Em virtude de trabalharem com uma grande variedade de frutas e de fornecedores de uva de várias regiões do país, não foi identificado à existência de algum tipo de “dependência produtiva” por parte dos atacadistas, para com produtores da região. A pesquisa identificou que a uva de mesa representa de 3% a 5% do faturamento desta empresas, exceto nos meses de dezembro e janeiro onde a demanda aumenta impulsionada pelas festas de fim de ano.

Na região foi identificada a figura do “mateiro”, que possui a função de fazer a intermediação da comercialização entre produtores e atacadistas, o mesmo possui vínculo com atacadistas com o intuito de buscar qualidade e as quantidades necessárias para a realização da transação, além de manter um relacionamento de proximidade com o produtor.

A pesquisa buscou aprofundamento na transação entre produtor e atacadista/CEAGESP em virtude de sua relevancia para o sistema produtivo, pois cerca de 70% das transações que envolvem estes respectivos agentes.

O produto transacionado é a uva de mesa fina in natura, que é vendida em grandes quantidades, em caixas retornáveis, plásticas ou de madeira, embaladas em caixas de papelão ou em cumbucas, que armazenam 5 kg de uva.

Na busca pela identificação dos atributos relevantes que servem de incentivo para a ocorrência da transação, pode-se observar que para a realização da transação um dos atributos colocados como importante é a confiança entre os atores envolvidos na transação, em virtude de várias perdas ocasionadas pelo não cumprimento de compromissos firmados. A qualidade do produto aparece em segundo lugar, seguido pelo preço e pelo prazo de entrega.

Quando analisados os aspectos que se referem à qualidade da uva transacionada, foram identificados os mesmos atributos em quase todas as transações. Segundo os entrevistados as bagas devem possuir um tamanho padrão e uniforme, doçura ou grau brix que informa o teor de açúcar da uva. Para a identificação destes atributos, tanto produtores pequenos como os de maior tamanho, não são utilizados equipamentos, a avaliação é feita com base em suas experiências.

Quanto ao agente coordenador das transações, o atacadista/CEAGESP é quem define o preço a ser pago pela uva transacionada. Os produtores entregam seu produto

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sem saber quanto vai ser pago e em alguns casos quando o pagamento referente a esta transação será efetuado. Os atacadistas/CEAGESP detém as informações sobre o preço final pago pela uva, as perdas com transporte e as referentes a comercialização.

Não existem contratos formais assegurando a transação. E por meio da pesquisa podemos perceber que não existem indícios de que se pretenda elaborar contratos para reger tais transações.

Na ECT, as especificidades dos ativos são variáveis importantes a serem estudadas em uma transação. Ao identificar as categorias de especificidade de ativos existentes nas transações, quando analisada sobe ponto de vista dos produtores, existem especificidades de ativos físicos, de lugar, de marca, de ativos humanos e especificidade temporal. A Firura 2, apresenta a especificidade dos ativos na transação.

Figura 2 Especificidades dos ativos envolvidos na transação

Fonte: elaborado pelos autores com base na pesquisa de campo.

Pode-se observar, na Figura 2, que as especificidades temporais e de lugar são as que tem a maior representatividade no sistema produtivo da uva de mesa da região noroeste de SP. Estas especificidades são importantes em virtude da uva ser um produto com um prazo curto para sua comercialização e em virtude da dificuldade do produtor em transacionar seu produto fora de sua propriedade.

A especificidade de ativos humanos está presente, mesmo com o baixo nível de formação educacional podemos perceber que a força de trabalho relacionada a viticultura da região possuem relevante aprendizado referente ao manejo da uva, que em muitos casos foi adquirido de seus familiares, e existem cada vez menos parceiros dispostos a executar a tarefa, pois os mesmos devem absorver os riscos juntamente com o produtor (SOUZA at all, 2009).

A espeficificidade dos ativos quando analisada sob o ponto de vista dos atacadistas/CEAGESP, foi identificada apenas em seu aspecto temporal, pois em determinado período do ano a região noroeste de SP é a unica que apresenta relevante produção de uva de mesa.

Quanto à freqüência da transação pode-se verificar que a as transações entre os agentes é recorrente e baseadas em relações de confiança e fidelidade na transação. Os

97,5% 97,5% 46,4% 36,6% 27,5% 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Temporal Lugar Fisicos Humanos Marca

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agentes tendem a manter relações comerciais constantes, este comportamento pode ser visto com proteção a possíveis “calotes”, pois com o tempo os agentes tendem a se sentir inibidos de ter um comportamento que afete sua reputação.

Para a transação, foram constatadas a presença de incertezas na análise, estas apresentam-se apenas para os produtores. Isso pode ser explicado em virtude dos produtores possuírem poucas informações referentes as transações nos demais elos do sistema produtivo e não serem estipulados preços e prazos no ato da transação, sendo a entrega do produto realizada sem garantias formais aos produtores.

5. Considerações Finais

A análise dos dados demostra que a viticultura contribui de forma relevante para a economia da região pesquisada, por representar para o pequeno produtor rural uma alternativa de ocupação e geração de renda.

A pesquisa identificou que a estrutura de governança utilizada no sistema produtivo é a via “mercado spot”, com garantias fracas, pois mesmo sendo identificado a presença de um relevante nível de risco, este só é notado pela ótica dos produtores, uma vez que para o atacadista a uva de mesa representa cerca de 3% de seu faturamento. Além do risco, a especificidade do ativo também tem maior relevância para o produtor que para o atacadista, já que a uva vendida é padrão e não possui nenhum diferencial se comparada com outras uvas.

A não utilização de contratos formais na realização das transações leva o sistema produtivo a necessitar de um ambiente institucional bem estruturado, e que de forma sustentável, tente prover mecanismos que salvaguardem estas transações, com o intuito de prover subsídios para que os produtores possam diminuir o impacto da racionalidade limitada e dos custos associados a transação.

O ambiente institucional verificado na região de Jales pode ser considerado amplo no sentindo que possui instituições ligadas a várias áreas da produção de uva de mesa. O arranjo define a produção de uva na região, desde os tipos de uvas recomendadas para produção na região, os tipos de solos indicados, requisitos quantos as sementes e mudas, cuidados com solo e recursos hídricos, utilização de agrotóxicos e EPI, além disso, apresenta as normas para utilização dos créditos agrícolas que podem ser concedidos aos produtores.

Apesar de existir um aparato legal que regula a utilização de agrotóxicos e EPI, nota-se que não há fiscalização do Estado diretamente nas propriedades. O que existe são cursos de capacitação oferecidos em conjunto pela CATI e EMBRAPA, sem reregularidade, para os produtores para explicar a importancia de se atentar para o uso correto destes materiais. Portanto, esta é uma falha institucional no ambito da produção, mas que não influencia a comercialização a curto prazo.

Outra forma de visualizar o ambiente institucional, é pela ótica informal, a qual esta relacionada ao comportamento tanto dos produtores como dos atacadistas. As principais características são que os viticultores tem o costume de cultivar a uva conforme a tradição, visto que estao há mais de 10 anos na atividade. Isso implica em certa resistência a instruções recebidas por agrônomos da CATI e da EMBRAPA, principalmente no que tange a utilização de agrotóxicos como os fungicidas que são os mais utilizados para o combate a pragas.

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Com relação aos atacadistas, como já foi dito, não há contratos para a comercialização da uva. Novamente, o costume, o que Commons (2003) chama de comportamento dos agentes, regula a transação. Se há confiança entre os agentes a transaçao ocorre, caso contrario não há comercialização. Não há regulação formal para a comercialização entre estes agentes.

Para que o arranjo institucional da região de Jales – SP se consolide é necessário a presença de um agente coordenador das transações entre produtores e instituições para que aumente a sinergia e assim promova o crescimento e fortalecimento da atividade.

Estudos relatam a dificuldade de união dos produtores e que isso compromete a atividade. Silva et all (2008) estudando a produção de uva em Jundiaí, fala da necessidade de incentivar e fortalecer a cooperação entre os produtores e as organizações locais para promover a viticultura.

Corroborando com o trabalho de Silva et all (2008) notou-se que os produtores da região de Jales não dispostos a trabalhar de forma associada ou cooperada apesar de reconhecerem as melhorias que podem ser proporcionadas principalmente no que diz respeito aos preços de insumos que poderiam ser menores caso fosse adotado a compra em conjunto. Neste sentido, a ação das empresas inovadoras não é disseminada e os efeitos da aglomeração são incipientes.

Referencial Bibliográfico

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