• Nenhum resultado encontrado

MEIO AMBIENTE DE TRABALHO RURAL (condições ambientais de trabalho agrícola nos cerrados piauienses)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "MEIO AMBIENTE DE TRABALHO RURAL (condições ambientais de trabalho agrícola nos cerrados piauienses)"

Copied!
178
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI)

Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste

(TROPEN)

Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA)

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA)

THAIS BARBOSA REIS

MEIO AMBIENTE DE TRABALHO RURAL

(condições ambientais de trabalho agrícola nos cerrados

piauienses)

TERESINA - PIAUÍ 2010

(2)

THAIS BARBOSA REIS

MEIO AMBIENTE DE TRABALHO RURAL

(condições ambientais de trabalho agrícola nos cerrados

piauienses)

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito para a qualificação de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de Concentração: Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa: Políticas de Desenvolvimento e Meio Ambiente. Orientadora: Prof. Dra. Maria Dione Carvalho de Morais

TERESINA - PIAUÍ 2010

(3)

THAIS BARBOSA REIS

MEIO AMBIENTE DE TRABALHO RURAL

(condições ambientais de trabalho agrícola nos cerrados

piauienses)

COMISSÃO EXAMINADORA

_______________________________________________ Prof. Dra. Maria Dione Carvalho de Morais - UFPI ______________________________________________

Prof. Maria do Carmo Bédard Membro

_____________________________________________ Prof. José Ribamar de Sousa Rocha

(4)

Ora, àquele que é poderoso para

fazer infinitamente mais do que

tudo

quanto

pedimos

ou

pensamos, conforme o seu

poder que opera em nós.

(5)

OFEREÇO

Aos meus pais, Zelene e Homero

À minha filha Anne

(6)

AGRADECIMENTOS

À Deus, pela vida, saúde e capacidade para o trabalho.

À professora orientadora Dra. Maria Dione Carvalho de Morais, pela competência, dedicação e compartilhamento seus conhecimentos.

Ao meu pai, pelo apoio, conversas, viagens, troca de conhecimentos e por ser um grande exemplo de vida

À minha mãe, por ser avó e mãe nos períodos de minha ausência e pela dedicação, apoio, encorajamento, paciência e amor.

À minha filha Anne, por ser minha fonte de inspiração e por entender minhas ausências.

Ao meu querido José Abreu, pelo amor, companheirismo, paciência e ajuda neste trabalho.

Ao meu irmão André, pelos encontros em Uruçuí, pela ajuda e troca de idéias.

À minha irmã Nathalie, pelo apoio, dedicação e amor. Ao meu Danielzinho, pela alegria e amor.

Aos meus avós Nimpha, Jarbas, Zenaide e Waldomiro, pelas orações e apoio.

Aos meus cunhados, pela amizade e encorajamento. Aos professores, amigos e funcionários do mestrado. Especialmente, agradeço:

A trabalhadores, trabalhadoras, empresários rurais e administradores das fazendas Brasil Agrícola, Canel, Cimpar, Condomínio União 2000, Itália e Progresso, os quais, nas entrevistas e conversas, possibilitaram a execução desta pesquisa

Ao Sr. José Azevedo, técnico de segurança do trabalho, pela viagem de pesquisa, conversas, troca de informações e amizade construída.

Ao Sr Altair Domingos Fianco, esposa e filhas, pela amizade, conversas e troca de experiências.

Aos amigos do STTR de Uruçuí, na pessoa de Manoel Messias de Sousa

Aos auditores e auditoras fiscais da Superintendência Regional do Trabalho do Piauí, nas pessoas de Dr Luis Lima, Dra. Soraya, e Dra. Paula Mazullo.

(7)

RESUMO

O amplo desenvolvimento do capitalismo, após a segunda metade do século XX, fez com que a sociedade incorporasse a ciência e a tecnologia no sistema de produção, com importantes desdobramentos, dentre os quais as consequências para o meio ambiente de trabalho. No setor rural brasileiro, o meio ambiente de trabalho agrícola passou gradativamente por profundas mudanças, a partir de 1950, devido à implementação de novas tecnologias na produção, as quais tomaram corpo nos anos de 1960 e 1970. No caso dos cerrados do sudoeste do Piauí a partir da segunda metade de 1980, tem início uma ocupação, que se intensificou na década de 1990, com a instalação de grandes projetos agropecuários voltados para a produção de grãos, em especial da soja, para exportação. O município de Uruçuí tem papel histórico nessa trajetória, sendo o local empírico desta pesquisa. Nesse contexto, a presente pesquisa se propôs a verificar as condições ambientais de trabalho em empresas agropecuárias de grande porte, incluídas no complexo carnes/grãos, com vistas a analisar o meio ambiente de trabalho, utilizando como recursos metodológicos observação direta com entrevistas, diário de campo e registros fotográficos. As conclusões da presente pesquisa são que as empresas agropecuárias dos cerrados piauiense vêm, ao longo dos anos, se adequando às normas ambientais laboras, destacando-se a NR 31, embora ainda apresente problemas importantes. A visão dos trabalhadores sobre o meio ambiente laboral é a de um ambiente perigoso, desprotegido, exaustivo.

Palavras-chaves: meio ambiente de trabalho, trabalhador rural, cerrados,

(8)

ABSTRACT

The extensive development of capitalism after the second half of the twentieth century, meant that the company incorporates science and technology in the production system, with important consequences, among them the consequences for the working environment. In rural Brazil, the agricultural work environment has undergone profound changes gradually, from 1950, due to the implementation of new technologies in production, which took shape in the 1960s and 1970s. In the case of the ―cerrados‖ of southwestern Piauí from the second half of 1980, opened an occupation, which intensified in the 1990s with the establishment of large agricultural projects aimed at the production of grains, especially soybeans for export . The municipality has Uruçuí historic role in this trajectory, and the location of this empirical research. In this context, this research aimed to verify the environmental conditions of employment in large agricultural enterprises, including in complex meat and grain, in order to analyze the work environment, using methodological resources direct observation with interviews, field journal and photographic record. The findings of this research are that the agricultural companies of Piaui are closed over the years, adapting themselves to environmental standards work, emphasizing the NR 31, but still important problems. The sight of workers labor on the environment is an environment dangerous, unsafe, exhausting.

(9)

LISTA DE FIGURAS

p.

Figura 01 – Distribuição geográfica do cerrado brasileiro ... 30

Figura02 - A região do cerrado brasileiro ... 31

Figura 03 – Distribuição geográfica do cerrado no Piauí ... 42

Figura 04 – Distribuição das cidades do Piauí. Projeção do município de Uruçuí... 44

Figura 05 – Distribuição geográfica as mesorregiões do Piauí ... 45

Figura 06 – Fotografia do alojamento da Faz. Brasil Agrícol, em 09/02/2009 ... 75

Figura 07 – Fotografia do alojamento da Faz. Canel com presença de trabalhador, em 10/02/2009 ... 75

Figura 08 – Fotografia do alojamento da Faz. Progresso, em 05/05/2009 ... 75

Figura 09 – Fotografia do alojamento da Faz. Itália, em 05/02/2009 ... 75

Figura 10 – Fotografia do banheiro da Faz. Canel, em 10/02/2009 ... 76

Figura 11 – Fotografia do banheiro da Faz. Itália, em 05/02/2009 ... 76

Figura 12 – Fotografia do banheiro da Faz. Itália, em 05/02/2009 ... 77

Figura 13 – Fotografia do banheiro da Faz. Progresso, em 02/05/2009 ... 77

Figura 14 – Fotografia do refeitório da Faz Progresso, em 02/05/2009 ... 78

Figura 15 – Fotografia do refeitório da Faz Itália, em 05/02/2009 ... 78

Figura 16 – Fotografia do refeitório da Faz Cimpar, com presença de trabalhador, em 09/02/2009 ... 78

Figura 17 – Fotografia do refeitório da Faz Canel, em 10/02/2009 ... 78

Figura 18 – Fotografia da cozinha da Faz. Canel, com presença de cozinheira, em 10/02/2009 ... 79

Figura 19 – Fotografia da cozinha da Faz. Progresso, com presença de cozinheiro, em 02/05/2009 ... 79

Figura 20 – Fotografia da cozinha da Faz. Cimpar, com presença de cozinheira, em 09/02/2009 ... 80

Figura 21 – Fotografia da cozinha da Faz. Itália ... 80

Figura 22 – Fotografia do campo de futebol da Faz. Cimpar em 09/02/2009 ... 81

Figura 23 – Fotografia da sala de televisão da Faz. Cimpar, com presença de trabalhador, em 09/02/2009 ... 81

(10)

Figura 24 – Fotografia da sala de televisão da Faz. Progresso, em 02/05/2009 ... 81 Figura 25 – Fotografia da mesa de sinuca da Faz. Brasil Agrícola, em

09/02/2009 ... 81 Figura 26 – Fotografia do galpão de máquinas da Faz. Itália, em 05/02/2009 ... 82 Figura 27 – Fotografia do galpão de máquinas da galpão de máquinas. Faz.

Canel, em 10/02/2009 ... 82 Figura 28 – Fotografia do depósito de agrotóxico da Faz. Canel, em 10/02/2009 ... 83 Figura 29 – Fotografia do interior do depósito de agrotóxico da Faz. Canel, em

10/02/2009 ... 83 Figura 30 – Fotografia do depósito de agrotóxico da Faz. Itália, em 05/02/2009 ... 83 Figura 31 – Fotografia do local para higienização de funcionários da Faz.

Canel, em 10/02/2009 ... 83 Figura 32 – Fotografia da estrada de Uruçuí para a faz. Brasil Agrícola e

Cimpar I, em 09/02/2009 ... 99 Figura 33– Fotografia da estrada de Uruçuí para a faz. Brasil Agrícola e Cimpar

II, em 09/02/2009 ... 99 Figura 34 – Fotografia da estrada de Uruçuí para a faz. Progresso , em

02/05/2009 ... 99 Figura 35 – Fotografia da estrada de Uruçuí para a faz. Progresso II, em

02/05/2009 ... 99 Figura 36 – Fotografia da estrada em frente a faz. Progresso, em 02/05/2009 ... 100 Figura 37 – Fotografia da estrada que passa pela comunidade do Sangue, em

(11)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Perfil das fazendas ... 26

Quadro 2 – Normas Regulamentadoras do ambiente laboral ... 63

Quadro 5 – Convenções Internacionais de prevenção do ambiente laboral .... 64

Quadro 4 – Tipos e fatores de riscos e suas consequências ... 70

Quadro 5 –EPIs e sua finalidade ... 84

Quadro 6 – Censo demográfico de Uruçuí ... 97

Quadro 7 – Produção agrícola do cerrado do Piauí em 2009 ... 97

Quadro 8 – Produção agrícola do município de Uruçuí em 2009 ... 97

Quadro 9 – Classificação dos/as trabalhadores/as sindicalizados ... 102

Quadro 10 – Instrução dos/as trabalhadores/as sindicalizados ... 102

Quadro 11 – funções dos/as trabalhadores/as e suas respectivas remunerações... 105

(12)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Escolaridade dos/as trabalhadores/as ... 103

Gráfico 02: Origem social dos/as trabalhadores/as ... 104

Gráfico 03: Função dos/as trabalhadores/as. ... 105

(13)

LISTA DE ANEXOS

Anexo I- Programa do seminário sobre agrotóxicos e normas gerais de

meio ambiente de trabalho ...

146 Anexo II Carta de Uruçuí... 148 Anexo III Convenção Coletiva de Trabalho do Setor Graneleiro do Piauí (2008-2009)...

152 Anexo IV NR 31 ... 160

(14)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social

SRTE – Superintendência Regional do Trabalho e do Emprego

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis IBGE – Instituto Brasileiro de geografia e estatística

INSS – Instituto Nacional da Seguridade Social MPT – Ministério Público do Trabalho

NRs – Normas Regulamentadoras

NRRs – Normas Regulamentadoras Rurais OIT – Organização Internacional do Trabalho OMS – Organização Mundial de Saúde SPR – Sindicato dos Produtores Rurais

SRT – Superintendência Regional do Trabalho

(15)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 17

2. Sobre a incorporação agrícola dos cerrados ... 29 2.1 No Brasil ... 2.2 No Nordeste ... 2.3 No Piauí ... 29 35 39 3. Meio ambiente de trabalho rural em empresas agropecuárias dos

cerrados piauienses... 3.1 Meio ambiente e meio ambiente de trabalho ...

3.1.1 Meio ambiente de trabalho rural, tecnologia e os desafios do equilíbrio ambiental laboral... 3.2 Sobre a proteção legal do meio ambiente de trabalho ... 3.2.1 NR 31 ... 3.3 Saúde e segurança como dimensões da dignidade de

trabalhadores/as ... 3.4 Do meio ambiente de trabalho rural em empresas agropecuárias do cerrado piauiense ... 3.4.1 Alojamentos... 3.4.2 Instalações sanitárias ... 3.4.3 Refeitório ... 3.4.4 Lazer ... 3.4.5 Manutenção das máquinas e equipamentos ... 3.4.6 Depósito de agrotóxicos ... 3.4.7 Equipamentos de proteção individual – EPIs ... 3.4.8 Transporte ... 3.4.9 Anotação na carteira de trabalho ... 3.4.10 Fiscalização ... 3.4.11 Treinamentos ... 3.4.12 Jornada de trabalho ... 3.4.13 Comissão Interna de Prevenção de Acidente de Trabalho – CIPA ... 3.4.14 Visão dos empregadores sobre a mão de obra local ... 3.4.15 Aspectos estruturais da região de Uruçuí que afetam o meio ambiente de trabalho rural ...

50 50 55 60 65 67 72 74 75 77 80 81 82 83 89 90 90 91 92 93 94 96

4. O meio ambiente de trabalho na visão de trabalhadores/as rurais...

4.1 Quem são esses/as trabalhadores/as ...

101 102

(16)

4.2 Meio ambiente de trabalho na visão dos/as trabalhadores/as rurais ...

4.2.1 Sobre jornada e ritmo de trabalho ... 4.2.2 O trabalho com agroquímicos: uso e (des) proteção ... 4.2.3 Sobre o uso de equipamentos de proteção individual – EPIs ... 4.2.4 Acidentes de trabalho e CIPA na visão de trabalhadores/as rurais ... 4.2.5 Dos mecanismos de controle do tempo e do corpo de trabalhadores/as rurais ... 5. CONCLUSÃO ... 106 107 114 114 125 128 137 6. REFERÊNCIAS ... 139

(17)

1. INTRODUÇÃO

Os amplos desdobramentos, sobretudo, tecnológicos, do processo de desenvolvimento do capitalismo, na segunda metade do século XX, fizeram com que a ciência e a tecnologia fossem, definitivamente, incorporadas ao sistema de produção, o qual passou por inúmeras transformações causadas, principalmente, pela ampliação das fontes de energia, aumento da produtividade do trabalho, novas tecnologias, utilização de novas matérias. Essas mudanças exigem, constantemente, novas formas de reestruturação e adaptação e provocam um uso intenso do meio ambiente natural, com sérias conseqüências para o meio ambiente de trabalho, diretamente para trabalhadores e trabalhadoras e indiretamente à sociedade. Põe-se, assim, a necessidade de estudar o meio ambiente de trabalho, porquanto o/a trabalhador/a permanece, ali, grande parte da sua vida, sofrendo os seus impactos.

Com efeito, a qualidade de vida do/a trabalhador/a está diretamente ligada à do seu meio ambiente de trabalho, o qual, para garantir-los a dignidade, saúde e segurança, deve ser sadio, adequado, e equilibrado. Convém lembrar que o meio ambiente de trabalho não se restringe ao espaço físico da empresa ou estabelecimento, sendo entendido como o local onde o/a trabalhador/a desenvolve a atividade. O meio ambiente de trabalho é um espaço onde todos os elementos, inter-relações e condições que influenciam o trabalhador/a em sua saúde física e mental, comportamento e valores estão reunidos. E não há como compreende-lo sem considerar o ponto de vista do/a trabalhador/a, figura essencial para se caracterizar um meio ambiente como de trabalho (ROCHA, 2002).

Assim, a característica fundamental que distingue o meio ambiente de trabalho dos outros ambientes é justamente a ação antrópica delimitadora e transformadora do espaço físico através do seu labor.

(18)

Em suma, o ambiente de trabalho constitui-se em esfera circundante do trabalho, espaço transformado pela ação antrópica. Por exemplo, uma lavoura, por mais que seja realizada em permanente contato com a terra, caracteriza-se como um meio ambiente do trabalho pela atuação humana. Em outras palavras, apesar de a natureza emprestar as condições para que o trabalho seja realizado, a mão semeia, cuida da planta e colhe os frutos da terra, implantando o elemento humano na área de produção (ROCHA, 2.002, p. 131) (grifo meu).

Convém lembrar que o meio ambiente de trabalho rural, via de regra, constitui-se de bens ambientais que necessitam de preservação, para que trabalhadores/as possam viver uma vida com qualidade, garantindo assim a dignidade da pessoa, protegida, no ordenamento jurídico brasileiro, pela Constituição Federal de 1988. Com efeito, o artigo 7º dispõe sobre direitos de trabalhadores e trabalhadoras urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social, como a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança (inciso XXII), o adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres e perigosas, na forma da lei (inciso XXIII), e seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa (inciso XXVIII).

Para maior compreensão do meio ambiente de trabalho rural, de que trata esta pesquisa, assente-se que a agricultura do Brasil, a partir de 1950, sofreu uma grande mudança em seu padrão tecnológico, em decorrência da introdução, no país, do pacote tecnológico da chamado Revolução Verde1 (agrotóxicos, insumos, financiamentos, introdução de maquinários, etc.), ocorrendo, como lembra Silva et al (2.005, p. 895), uma passagem do ―complexo rural‖ para o ―complexo agroindustrial‖2

.

1

Revolução Verde refere-se à invenção e disseminação de novas sementes e práticas agrícolas que permitiram um vasto aumento na produção em países ditos menos desenvolvidos durante as décadas de 1960 e 1970. O modelo se baseia na intensiva utilização de sementes melhoradas (particularmente híbridas), insumos industriais (fertilizantes e agrotóxicos), mecanização e diminuição do custo de manejo, além do uso extensivo de tecnologia no plantio, na irrigação e na colheita, assim como no gerenciamento de produção (BOURLAUG, 2009)

2

Complexo Rural, ligado ao capital comercial, encontrava-se atado ao comércio externo por um produto valorizado no mercado internacional, sendo as unidades produtoras (fazendas e engenhos/usinas) quase autos-suficientes. Para realizar a produção, voltada à exportação, elas se proviam, dentro de suas possibilidades, de artesanatos e manufaturas, e produziam equipamentos rudimentares para o trabalho, e insumos simples, além de transporte, um contexto no qual a divisão social do trabalho apresentava-se bastante incipiente. É interessante

(19)

A partir de 1975, com o I Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), houve a abertura do Brasil ao comercio internacional dos produtos agrícolas e, com isso, incentivam-se os produtores a usar enorme quantidade de agrotóxicos, inclusive com financiamentos para isso. Dessa forma tem-se uma grande expansão na produção agrícola, principalmente via médios e grandes proprietários, voltada ela para a exportação.

No Brasil, esse processo de modernização agrícola foi, em grande medida, ancorado na incorporação agrícola dos cerrados (MORAES, 2000) ,seja pela facilidade do cultivo com maquinários e facilidade de adubação e irrigação,seja pelo baixo custo da terra. Assim, o meio ambiente de trabalho rural, em especial nos cerrados, passou por intensas transformações.

Este processo, que se deslancha no Brasil na década de 19703, atinge o Estado do Piauí, sobretudo na região sudoeste

a incorporação dos cerrados piauienses ao agronegócio do complexo carnes/grãos é, como foi dito, caudatária do processo que incorporou as chapadas do Centro-Oeste brasileiro e do sul do Maranhão e oeste da Bahia. O fato de a incorporação do Piauí ter-se dado mais tardiamente (embora seja o Piauí, dos estados nordestinos, o que possui maior área de cerrados), vincula-se a certas questões de âmbito interno e externo ao estado (MORAES, 2000, p 206)

No caso do sudoeste do Piauí, há antecedentes importantes dessa expansão já na década de 1970 com a constituição de um mercado de terras estimulado pela Sudene, através do Finor agropecuário (MONTEIRO, 1993; MORAES, 2000). Na segunda metade dos anos 1990, esse processo se intensificou com a instalação, na região, de grandes projetos agropecuários.

Nesse sentido, a partir de meados da década de 70 o Cerrado Piauiense começa a despertar o interesse de diversas empresas agropecuárias e investidores individuais de outros Estados para a exploração da pecuária de corte e reflorestamento com caju – destaque para o Rio Grande do Sul, Pernambuco, São Paulo e Mato Grosso – que instalaram e desenvolveram extensos projetos agropecuários na região, em ressaltar que o desenvolvimento industrial brasileiro, indutor de mudanças no setor agropecuário, ocorreu, ao contrário dos países centrais, sem o substrato da revolução agrícola. Já o omplexo Agroindustrial – o processo histórico da passagem do denominado ―complexo agrário‖ ao ―complexo agroindustrial‖ encontra-se envolvido na substituição da economia ―natural‖ por atividades agrícolas integradas à moderna industrialização, a intensificação da divisão do trabalho e das trocas intersetoriais, a especialização da agricultura e a substituição das importações pelo mercado interno (ERTHAL, 2006)

3

(20)

decorrência das condições edafo-climáticas favoráveis ao plantio de culturas comerciais, pois permite a mecanização dos solos, conta com insumos básicos, motivados pelas jazidas de calcário e fosfato relativamente abundantes, o crédito rural, disponível por meio dos bancos oficiais (Banco do Brasil e Banco do Nordeste) e dos baixos preços das terras. Mais recentemente (início da década de 90), os investidores passaram a explorar a agricultura para a produção de grãos, arroz de sequeiro de terras altas, milho e, principalmente, soja, com a obtenção de elevada lucratividade (OLIMPIO, 2005, p. 5).

Atualmente, os grandes projetos agropecuários do complexo carnes-grãos instalados no sudoeste do Piauí voltam-se para o cultivo de grãos, dentre eles soja, milho e arroz, além do algodão, e utilizam tecnologias avançadas, destacando-se, entre outros, maquinários, adubos, agrotóxicos e sementes modificadas geneticamente, sem dizer da armazenagem da produção. O município de Uruçuí4 tem papel histórico nessa trajetória de incorporação dos cerrados piauienses, sendo, por isso, o local empírico desta pesquisa5.

Com toda essa inovação na produção agrícola, o meio ambiente de trabalho rural sofreu inúmeras mudanças, as quais atingiram diretamente a vida do/a trabalhador/a rural. Sem dúvida, o conjunto de transformações referidas trouxe avanços no trabalho agrícola, como a diminuição, em muitos casos, da penosidade do trabalho, em muitas tarefas. No entanto, a utilização indevida das tecnologias modernas da agricultura, a jornada de trabalho excessiva, a não observação das leis de proteção à saúde e segurança do/a trabalhador/a, a falta de infraestrutura da região, dentre outros, causam a degradação do meio ambiente de trabalho rural, pondo a vida desses/as trabalhadores/as em risco iminente, principalmente no que tange aos acidentes laborais, como os decorrentes de manuseio de ferramentas manuais, máquinas e implementos, contato com animais peçonhentos, exposição a agentes químicos, infecciosos e parasitários endêmicos, exposição às radiações solares por longos períodos, exposição a ruído e vibração excessivos, exposição a partículas de grãos

4

O município de Uruçuí foi sede dos primeiros testes de experimentos de pesquisa científica sobre soja adaptada iniciada em 1978 e lançada em 1980 pela Embrapa-UEPAE-Teresina, as quais foram divulgadas no I Seminário sobre Cerrado Piauiense, que ocorreu em 1985. Além disso, Uruçuí foi um dos municípios-base do chamado Pólo de Desenvolvimento Integrado Uruçuí-Gurguéia nos anos 1990 (MORAES, 2000).

5

Em termos de territórios de desenvolvimento e territórios de desenvolvimento e de cidadania, Uruçuí localiza-se no território Tabuleiros do Alto Parnaíba-PI

(21)

armazenados, exposição a fertilizantes, exposição a agrotóxicos e jornadas extensas (SILVA et al, 2005):

Como se vê, o meio ambiente de trabalho agrícola moderno é muito amplo e envolve vários aspectos do meio ambiente mais amplo.

A importância do estudo aprofundado do meio ambiente de trabalho, tema, ainda, tão pouco aclarado e discutido pela doutrina e jurisprudência pátria, deriva do fato de ser este o aspecto da interação do homem com o seu meio ambiente no qual se desenrola boa parte de sua vida, enquanto busca sua sobrevivência através do trabalho, cuja qualidade de vida está, por isso, em íntima dependência da qualidade desse ambiente.(PADILHA, 2002)

Com base no exposto, a presente pesquisa se propôs a verificar as condições ambientais de trabalho em empresas agropecuárias desse complexo, com ênfase no ponto de vista dos/as trabalhadores/as.

A problemática inicial da pesquisa pôde ser assim esboçada: diante da tecnologia utilizada na agricultura moderna, da falta de infraestrutura da região de Uruçuí no que tange a acesso a serviços governamentais básicos, do choque cultural entre produtores e trabalhadores/as rurais, o meio ambiente de trabalho rural em propriedades agrícolas do município de Uruçuí é adequado à garantir a saúde e segurança desses/as trabalhadores/as?

No andamento da pesquisa, o problema foi sendo reformulado na seguinte direção: quais são as condições ambientais de trabalho assalariado em empresas agropecuárias do município de Uruçuí-PI que utilizam tecnologias avançadas na produção?

Como pressupostos iniciais, delineou-se que o uso inadequado da tecnologia disponível na agricultura moderna, a falta de infraestrutura na região de Uruçuí a ponto de inibir o acesso à serviços básicos (saúde, educação, INSS, justiça, saneamento básico) e a não compreensão do universo cultural de trabalhadores/as comprometem as condições ambientais de trabalho, causando danos aos/as trabalhadores/as rurais e pondo em risco a sua dignidade, em especial a saúde e segurança do trabalho.

O objetivo geral da presente pesquisa foi analisar as condições ambientais de trabalho assalariado em propriedades agrícolas que utilizam tecnologia moderna na produção de grãos do cerrado piauiense, no município de Uruçuí.

(22)

Os objetivos específicos foram os seguintes:

Verificar a aplicação das normas de proteção ao/a trabalhador/a rural no que tange à saúde, segurança e dignidade.

Averiguar se há fiscalização adequada desse trabalho por meio dos órgãos públicos;

Compreender as práticas culturais dos/as trabalhadores/as rurais sobretudo no tocante a utilização por estes dos equipamentos de proteção individual (EPI);

Examinar a infra-estrutura do município de Uruçuí, no que tange a oferta de serviços básicos como saúde, educação, acesso a justiça, INSS;

Apreender a qualidade do meio ambiente de trabalho em propriedades agrícolas do cerrado piauiense, no município de Uruçuí, inclusive do ponto de vista dos/as trabalhadores/as.

Métodos de investigação

As primeiras sondagens no campo de estudo para a formulação do problema de pesquisa e dos pressupostos iniciais se deram em duas viagens.

A primeira sondagem ocorreu em abril de 2008, quando visitei duas fazendas, às quais tive acesso pela mediação do Sr. João Emanuel, que trabalhou em Uruçuí como gerente de uma revenda de máquinas e equipamentos para agricultura e, por essa razão, tem grande amizade com alguns empresários rurais. Nessa ocasião, conversei com alguns proprietários sobre os problemas de meio ambiente de trabalho da região e também com três auditores da Superintendência Regional do Trabalho (SRT), os quais contactei por meio da minha orientadora do mestrado, prof. Dione Morais, o que se revelou fundamental para reunir elementos para delimitar o objeto de estudo e reformular o desenho da pesquisa.

(23)

A segunda viagem ocorreu em novembro do mesmo ano, quando participei do Seminário sobre Agrotóxicos e Normas Gerais de Meio Ambiente de Trabalho, em Uruçuí, promovido pelo Ministério do Trabalho (anexo 1).

No período da manhã, o Seminário contou com três palestras: a primeira sobre ―Efeitos dos agrotóxicos no organismo humano e meio ambiente do trabalho‖, ministrada pelo Dr. Francisco Luis Lima, médico e auditor fiscal da SRT-PI; a segunda sobre ―Responsabilidades legais quanto à saúde e segurança no trabalho‖, ministrada pelo Dr. Edno Carvalho, procurador do Trabalho da 22ª Região, e a terceira sobre ―Manuseio correto dos agrotóxicos e aspectos legais do transporte, comercialização e destino final das embalagens‖, ministrada pela dra. Ana Telma Maria Soares, coordenadora regional de operações do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev). À tarde, foram realizadas três oficinas: ―Proteção dos trabalhadores no uso de agrotóxicos e destinação das embalagens‖; ―Direitos e deveres dos trabalhadores rurais quanto às normas de saúde e segurança no trabalho‖ e ―Receituário agronômico, prescrição e legislação‖.

O seminário ainda contou com debates sobre agrotóxicos e meio ambiente de trabalho, dos quais participaram representantes do Ministério Público do Trabalho (MPT), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), da Superintendência Regional do Trabalho, dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR’s) e do Sindicato dos Produtores Rurais. Nas discussões foi possível vislumbrar graves problemas enfrentados por trabalhadores/as e produtores rurais na região de Uruçuí como a ausência de posto do INSS e de representação local da Justiça do Trabalho, dificuldades de infraestrutura (estradas precárias, atendimento precário de saúde, falta de médicos capacitados para tratar de problemas de saúde relacionados ao trabalho rural), situações que permitiram uma melhor apreensão da situação do meio ambiente de trabalho rural na referida região.

Ao final do seminário elaborou-se a Carta de Uruçuí (Anexo 2), com compromissos firmados por representantes do MPT, IBAMA, SRT, STTR e SPR.

(24)

Após as sondagens iniciais de campo, deu-se a identificação de situações que influem no meio ambiente de trabalho rural, dentre estas, o choque cultural entre empresas e trabalhadores/as.

Na região de Uruçuí, os produtores agrícolas modernos, os chamados ―gaúchos‖6

, vieram em sua maioria do Centro-Oeste, Sudeste, e Sul do país. Por seu termo, a maioria dos/as trabalhadores/as rurais são da região, tem origem social na agricultura familiar camponesa local. Assim, se os produtores rurais chegam para a instalação de projetos voltados para a agricultura tecnificada, a mão de obra é constituída de trabalhadores/as que nasceram e cresceram no âmbito do campesinato, muitos/as dos quais sem o ensino fundamental completo e sem nenhum contato, até então, com tecnologias utilizadas no padrão de agricultura moderna que se instalou no cerrado do Sudoeste piauiense. Isso, em certa medida, acaba por dificultar a inserção desse/a trabalhador/a no processo produtivo da agricultura tecnificada.

Tal empecilho não pode ser vista como mera incompetência ou despreparo de trabalhadores/as locais. Na verdade trata-se de uma passagem de um campesinato, como diz Moraes (2000), de ―um modo de vida entre baixões e chapadas‖, para o trabalho assalariado em empresas agrícolas modernas. Esse campesinato que vivia, assim, nas marcas de uma agricultura de aprovisionamento nos baixões, associada ao uso da chapada, inclusive no que tange ao extrativismo, vê-se às voltas com o trabalho assalariado nas empresas agropecuárias de grande porte, instaladas nas chapadas. Mesmo sem negar a capacidade de aprendizado e de adaptação dessa população camponesa a novas situações, não há como ignorar diferenças importantes em termos de lógica produtiva (aprovisionamento X mercado); escala de produção (cultivo de tarefas X cultivo de milhares de hectares); tecnologia (agricultura de sequeiro no sistema roça-de-toco X agricultura moderna); uso de tempo (controle do tempo X tempo controlado); trabalho (familiar X assalariado);

6 O termo ―gaúchos‖ refere nos cerrados nordestinos, em especial, no Piauí, os novos produtores rurais, predominantemente do Sul do país, mas não apenas do Rio Grande do Sul. Os gaúchos, a partir da década de 1980 aportaram na região, atraídos pela abundância de terras, as quais comparadas às das suas regiões de origem e bem mais baratas (MORAES, 2000)

(25)

autoridade (do pai X do patrão, capataz); riscos (mais ou menos conhecidos e controlados X riscos desconhecidos e fora do controle), dentre outros.

Ante a complexidade do tema, convém assinalar que a interdisciplinaridade é fundamental para esta abordagem. De fato,

O estudo do meio ambiente do trabalho passa hoje a ter um caráter marcadamente interdisciplinar, não se recusando a colher os subsídios de outras disciplinas e ciências. (FIQUEIREDO, 2.007, p. 32)

Assim, necessário se fazem conhecimentos de outras áreas como direito, sociologia, antropologia, filosofia, economia, geografia, dentre outras como se verá ao longo do texto dissertativo.

Na configuração metodológica da pesquisa, foi realizado um estudo de caso (GOLDEMBERG, 2001; MAY, 2004) no município de Uruçuí-PI em empresas agropecuárias. Visando a uma descrição densa (GEERTZ, 1989), a abordagem da pesquisa teve cunho predominantemente qualitativo (ALVES-MAZZOTI, 2004; GOLDENBERG, 2001), o que não excluiu a utilização de informações e dados quantitativos. O conjunto de métodos empregados compreendeu pesquisa bibliográfica e documental (MAY, 2004; SPINK, 2000, RUIZ, 2006) e de campo (GOLDENBERG, 2001, COUTINHO, 2004).

No trabalho de campo, as técnicas utilizadas para a construção de inferências empíricas foram observação direta (COUTINHO, 2004); diário de campo (WITHAKER, 2008) conversas informais no cotidiano (MENEGON, 2000) e entrevistas semiestruturadas com tópicos-guia (GASKEL, 2003) com proprietário/as, administradores/as e trabalhadores/as agrícolas de empresas agropecuárias de Uruçuí, funcionário/as do STTR e da SRT. As entrevistas foram gravadas, transcritas e processadas visando à análise de seu conteúdo na perspectiva de construção de sentidos (APPOLINÁRIO, 2006), (SPINK, 2000).

O diário de campo, de suma importância para anotação de observações feitas no cotidiano de pesquisa, foi utilizado para registro das observações, conversas informais e entrevistas com gravações impossibilitadas por não consentimento da pessoa entrevistada.

As entrevistas com proprietários e administradores das empresas agropecuárias se realizaram nas próprias sedes locais das fazendas, oportunidade em que o processo de observação direta, no trabalho de campo,

(26)

pode ser registrado por imagens fotográficas, alem do diário de campo. Observaram-se, assim, as condições estruturais das fazendas, como alojamentos, banheiros, refeitórios, cozinhas, depósito de agrotóxicos, galpões de máquinas e espaços de lazer.

Foram visitadas seis empresas. Entrevistaram-se dois empresários rurais de duas delas e cinco administradores, sendo um de cada uma. Através das informações fornecidas pelos empresários e administradores, montou-se seguinte quadro com o perfil de cada uma (quadro 1):

Empresa Nº de funcio nários Nº de funcionários temporários1 Ha cultiva dos Produtos cultivados Ano de estabeleci-mento Origem dos produtores Brasil Agrícola

17 13 a 15 3.100 Soja, milho, arroz 2004 EUA Canel 102 30 a 40 12.000 Soja, milho, arroz 1988 SP

Cimpar 24 10 2.500 Soja, milho, arroz RS

Condomí nio União 2000

13 7 a 8 1.500 Soja, milho, arroz 2000 PR

Itália 30 30 9.200 Soja, milho, arroz, algodão

1994 MS

Progresso 70 10 a 20 22.000 Soja, milho, arroz, algodão

1992 MG

1. Os funcionários temporários são contratados nos períodos de plantio e colheita, com contratos de trabalho de 45 dias.

Quadro 1: Perfil das empresas do município de Uruçuí, 2009.

As entrevistas com trabalhadores/as foram feitas em suas residências, na sede do município, e no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais - STTR de Uruçuí. O acesso aos trabalhadores se deu via sindicato e através de um moto-taxista, o Sr. Sebastião, com ponto de trabalho na rua a trás do hotel em que me hospedei. O Sr. Sebastião conhecia vários/as trabalhadores/as e me levou às suas casas.

Na oportunidade, pude observar a infraestrutura da cidade, com praticamente todas as ruas sem nenhum tipo de calçamento e com buracos e valetas grandes decorrentes das chuvas. As casas dos/as trabalhadores/as entrevistados/as localizam-se em bairros perifericos e, embora simples, são construídas com alvenaria e com piso de cimento (somente uma era de taipa). São casas com aparelho de televisão, de digital vídeo disc - dvd, fogão, refrigerador doméstico, antena parabólica e móveis como sofá, cadeiras e estantes.

(27)

Foram entrevistados, ao todo, dezoito trabalhadores e duas trabalhadoras rurais de quatro empresas agropecuárias instaladas e operando no município de Uruçuí. A pedido dos/as entrevistados/as, eles/as não são identificados/as pelo nome, a fim de não sofrerem prejuízo na empresa onde trabalham.

Entrevistaram-se também o presidente do STTR de Uruçuí, o vice-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais - SPR de Uruçuí, dois auditores fiscais da SRT-PI, um agrônomo que atua como autônomo na região, um vendedor de produtos químicos utilizados na agricultura e o técnico de segurança do trabalho de cada uma das fazendas pesquisadas.

Foram realizados dois relatórios parciais de pesquisa solicitados pela orientadora no processo de orientação, acompanhamento e (re)direcionamento. Neste relatório final, a dissertação, a exposição textual se compõe, além da introdução, de três capítulos e conclusão e anexos.

O Capítulo I aborda elementos do processo de incorporação dos cerrados brasileiros pela agricultura moderna, tecnificada e intensiva. Refere a essa incorporação como o chamado ―celeiro do mundo‖, especificando o processo no Nordeste, em especial, no Sudoeste do Piauí, tido nas narrativas-mestras como ultima fronteira agrícola (MORAES, 2005).O Capítulo II enfoca teoricamente o tema ―meio ambiente de trabalho‖, em sua necessária relação com os temas teóricos meio ambiente, Direito ambiental e direito do trabalho, e os referentes à proteção legal, saúde e segurança do trabalhador e a busca de um meio ambiente laboral equilibrado. Nesse mesmo capítulo descreve-se o meio ambiente de trabalho rural em empresas agropecuárias do cerrado, tendo como base a pesquisa de campo realizada em 2009, e as condições estruturais da região de Uruçuí que nele interferem.O Capítulo III trata da visão que trabalhadores/as rurais das empresas agropecuárias pesquisadas têm sobre o seu meio ambiente de trabalho rural. Neste capítulo, privilegiam-se as vozes de trabalhadore/as, na perspectiva não apenas descritiva mas interpretativa dos sentidos por ele/as agenciados às relações que experienciam, no sentido que Thompson (1981) atribui ao termo experiência. Isto se escreve com base no trabalho de observação direta realizado na pesquisa de campo, e nas entrevistas e conversas com trabalhadores e trabalhadoras das empresas agropecuárias abordadas na pesquisa. Busca-se, assim, trazer à tona o

(28)

pensamento social (STROH, 2003) do grupo investigado, frente às condições ambientais laborais.

Por fim, na conclusão, apresentamos uma síntese do que foi averiguado e apontamos para outras possibilidades de investigação a partir desta pesquisa.

O presente estudo buscou realizar uma descrição densa do meio ambiente de trabalho rural em empresas agropecuárias do cerrado piauiense, tendo como lócus empírico o município de Uruçui, averiguando-se a partir da análise das condições laborais de trabalhadores/as, como está sendo utilizada a mão de obra assalariada nessas propriedades. Pretensão maior é contribuir para o debate público dos riscos à saúde e à segurança de trabalhadores/as rurais e da adequação do meio ambiente de trabalho rural a um padrão ideal.

(29)

2. SOBRE A INCORPORAÇÃO AGRÍCOLA DOS CERRADOS

O presente capítulo aborda o processo de incorporação agrícola dos cerrados brasileiros que, como afirma Moraes (2000), são tratados, nas narrativas-mestras de desenvolvimento, como uma passagem de um espaço vazio a outro, preenchido pela agricultura moderna, chamado de ―celeiro do mundo‖. Assim, será referida a incorporação dos cerrados no Centro-Sul e no Nordeste brasileiro e, especificamente, no sudoeste do Piauí7, tido nas mencionadas narrativas, como a ultima fronteira agrícola brasileira.

2.1 No Brasil

O bioma cerrados8 abriga pelo menos 6 mil espécies de plantas lenhosas, com elevado grau de endemismo, e mais de 800 espécies de aves, agregadas a uma variedade de peixes, abelhas e outros invertebrados. Gramíneas são mais de 5 centenas, na maioria endêmicas, perdendo espaço para os capins exóticos utilizados na formação de pastagens. A biodiversidade do cerrado representa 5% da do planeta (MMA, 2005) e 20% brasileira.

Os cerrados brasileiro localiza-se, predominantemente, no plano central do Brasil e constitui a segunda maior formação vegetal brasileira (fig. 1),

7

Os cerrados do sudoeste do piauiense se estendem pelos seguintes municípios: Ribeiro Golçalves, Santa Filomena, Uruçuí, Antônio Almeida, Bertolínea, Eliseu Martins, Manoel Emídio, Landri Sales, Marcos Parente, Floriano, Guadalupe, Itaueira, Jerumenha, Barreira do Piauí, Bom Jesus, Gilbués, Monte Alegre do Piauí, Santa Luz, Palmeira do Piauí, Corrente, Cristalândia do Piauí, Cristino Castro, Baixa Grande do Ribeiro e Currais. O Estado possui outras áreas de cerrados, mas nesta investigação se volta às referidas regiões.

8

Bioma semelhante recebe o nome de savanas que se caracteriza por uma vegetação com predominância de gramíneas, árvores esparsas e arbustos isolados ou em pequenos grupos. Normalmente, as savanas são zonas de transição entre bosques e prados, sento típicos das regiões de clima tropical com estação seca, sendo as da África o exemplo clássico e uma das mais famosas é o Serengueti, que fica na área leste do continente, próximo à Etiópia.

(30)

sendo a primeira a Floresta Amazônica. Com uma área de aproximadamente dois milhões de Km², o que equivale a 22% do território nacional, ocupando a totalidade do Distrito Federal, mais da metade dos estados de Goiás (97%), Maranhão (65%), Mato Grosso do Sul (61%), Minas Gerais (57%) e Tocantins (91%), além de outras unidades federativas, dentre eles o Piauí, onde corresponde a porções distribuídas nas regiões Centro-Oeste, Centro e Norte (MMA, 2005).

Figura 1: Distribuição geográfica dos biomas brasileiros Fonte: IBGE (2004)

Os cerrados são a segunda maior região biogeográfica do Brasil, englobando 12 estados (fig. 2). Sua área nuclear ocupa todo o Brasil central,

(31)

incluindo Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, a região sul de Mato Grosso, o oeste e norte de Minas Gerais, o oeste da Bahia e o Distrito Federal. Prolongações dessa área nuclear, denominadas áreas marginais, estendem-se em direção ao norte do país, alcançando o centro-sul do Maranhão e norte do Piauí, para oeste, até Rondônia. Existem ainda fragmentos desta vegetação e formam as áreas disjuntas do cerrado e ocupam 1/5 de São Paulo e os estados de Rondônia e Amapá. Além disso, podem ser encontradas manchas de cerrado incrustadas na região da caatinga, floresta atlântica e floresta amazônica (MMA, 2005).

Uma das particularidades desse bioma é que, apesar de apresentar uma vegetação de dossel mais baixo, dependendo de suas variações, com árvores tortas, troncos e galhos revestidos por uma camada mais grossa e seca, trata-se de região rica em água subterrânea, sendo a aparência das árvores e dos arbustos mais uma proteção contra as temperaturas mais elevadas e a baixa umidade relativa do ar que indicio de pobreza hídrica (MMA, 2005).

(32)

Figura 2: A região do cerrado brasileiro Fonte: EMBRAPA (2003)

O bioma cerrados se caracteriza, também, por suas diferentes paisagens, que vão desde o cerradão (árvores altas, densidade maior e composição distinta), passando pelo cerrado, este mais comum no Brasil central (árvores baixas e esparsas), até o campo cerrado, campo sujo e campo limpo (com progressiva redução da densidade arbórea). Ao longo dos rios há fisionomias florestais, conhecidas como florestas de galeria ou matas ciliares. Essa heterogeneidade abrange muitas comunidades de mamíferos e de invertebrados, além de uma importante diversidade de micro-organismos, como fungos, associados às plantas da região (MMA, 2005).

Os cerrados são cortados por três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul: Tocantins, São Francisco e Prata, isso favorece a manutenção de uma biodiversidade surpreendente. O clima é tropical, com

(33)

uma estação seca pronunciada9 e a topografia da região varia entre plana e suavemente ondulada, favorecendo a agricultura mecanizada e a irrigação. (WWF, 2008). Os cerrados são, assim, caracterizados cientificamente como região fitogeográfica e endafoclimática, ou seja, territórios mareados por tipos de vegetação, solos e climas específicos, favoráveis à agricultura, o que justifica sua decantada ―vocação agrícola‖ (MORAES, 2000).

Até os anos 1930, a extensa região hoje conhecida como cerrados eram sertões, caracterizados por autores do pensamento social brasileiro como interior (distante da costa), selvagem (etnicamente povoado por indígenas), pastoril e extensivo (sem a civilização da agricultura), agricolamente pobre (onde dificilmente se produz), ambientalmente árido (discurso da seca), anárquico (Estado está ausente e ordem privada), deserto desabitado (baixa densidade populacional). A partir da década de 1950 os cerrados começam a ser descobertos e construídos como um potencial celeiro do mundo, ocorrendo a inflexão semântica de sertão para cerrado sobretudo com base em pesquisas pioneiras da universidade de São Paulo - USP, que determinaram a presença de água como elemento diferenciador. No processo de modernização agrícola que se deslanchou a partir de 1970, os cerrados passaram a ser vistos como espaços a serem ocupados, domados, vencidos e modernizados pela moderna tecnologia (MORAES 2000).

No dos anos 1970, acenava-se, no Programa de Metas e Bases para a Ação do Governo com o propósito dessa incorporação que se concretizou na mesma década, com o Plano Nacional de Desenvolvimento (IIPNS). A base tecnológica foi a introdução, no Brasil, do pacote da Revolução Verde, nos anos 1960, que trouxe tecnologias para a agricultura capazes de corrigir as deficiências do solo (no caso dos cerrados, a acidez), controlar pragas, selecionar sementes e mudas e mecanizar todas as fases do processo produtivo (MORAES, 2000).

As políticas de incorporação dos cerrados, no Brasil, privilegiavam produtores dotados de conhecimento tecnológico e espírito empresarial, excluindo, assim, os ditos pequenos produtores Nesse processo, excluiram-se, inclusive, produtores locais, pois, ao contrário do que diziam as narrativas

9

Esta estação seca, no cerrado do Sudoeste piauiense, corresponde, em regra, aos meses de maio a outubros

(34)

mestras, os cerrados não eram espaços vazios, mas utilizados pelo extrativismo vegetal para a produção de carvão e pecuária extensiva (MORAES, 2000). Para suprir a falta de conhecimento técnico da região, o governo e empresas privadas investiram em pesquisas.

A expansão das atividades agropecuárias nos cerrados é fenômeno bastante recente na história brasileira. Ela se deu tanto pelo aumento da área plantada quanto pelos aumentos das produtividades viabilizados pela mecanização, adubação e calagem e pelo uso de cultivares melhorados e da irrigação (ALMEIDA, 2001, p. 25)

Assim, a incorporação agrícola dos cerrados se deu pela facilidade do cultivo com maquinários, de adubação e de irrigação e pelo baixo custo da terra. Nesse processo, ainda na década de 1970, Brasil e Japão deram início a um acordo de cooperação internacional para a exploração agrícola dos cerrados brasileiros, no qual os japoneses exportariam seu potencial econômico-tecnológico e importariam os produtos alimentares produzidos nesse espaço territorial. No âmbito do acordo, o desenvolvimento científico e tecnológico também foi fator determinante para alavancar a produção agrícola, de sorte que a agricultura praticada nos cerrados brasileiros foi, desde o início, voltada para a produção moderna, com utilização das mais novas tecnologias.

As pesquisas realizadas foram fundamentais para difundir a tecnologia na produção agrícola, pois proporcionaram um profundo conhecimento do ecossistema e dos solos dos cerrados e possibilitaram a correção de suas deficiências e o desenvolvimento de plantas adaptadas ao ambiente. Tais pesquisas foram encabeçadas pela Universidade de Brasília - UnB e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa que, em 1975 criou o Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados - Embrapa/CPAC. Além dessas, outros centros nacionais e internacionais de pesquisas se articularam a essa dinâmica. (MORAES, 2000).

Alguns programas e políticas foram definidas no processo de incorporação dos cerrados, principalmente criando infraestrutura, incentivos fiscais e crédito supervisionado. Destacam-se o Programa para o Desenvolvimento dos Cerrados – Polocentro10, que vigorou de 1975 a 1980 e

10

(35)

atuou no Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Minas Gerais; e o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados - Prodecer11, que vigorou de 1975 a 1980 e atuou no Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins (MORAES, 2000).

Os recursos destinados ao Polocentro abrangeram vários setores, como energia, assistência, pesquisa e agropecuária, transporte e crédito rural, além de outras medidas infraestruturais, como eletrificação rural, mecanização e utilização intensiva de corretivos do solo. Isso permitiu o aumento de produtividade média de áreas do cerrado acima da média nacional, e suas ações estimularam a criação do Prodecer, resultante do acordo de cooperação entre os governos brasileiro e japonês, estabelecido em 1976 pelo presidente Geisel. A Companhia de Promoção Agrícola - Campo, empresa mista de capital público e privado criada em 1979 por brasileiros e japoneses, para planejar, assistir e coordenar o Prodecer, foi a responsável por sua execução.(SILVA, 2000).

Outra política governamental de grande importância para a sustentação da agricultura nos cerrados foi a do preço mínimo, pela qual o governo passou a adquirir grande quantidade de produção, principalmente de arroz, soja e milho, a um preço unificado.

2.2 No Nordeste

A região de cerrados nordestinos incorporadas pela modernização agrícola, compreende, dos pontos de vistas socioeconômico e político, o oeste baiano, o sul do Maranhão e sudoeste do Piauí. Sua incorporação teve como e foi concebido para os pólos de crescimento (Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Minas Gerais). Alocou recursos para melhoria de infraestrutura já disponível e para um generoso programa de crédito subsidiado através de três linhas de crédito – fundiário, investimento e custeio – com juros baixos e sem correção monetária. Foi um programa de custo social elevado que, ao induzir a expansão da agricultura comercial nos cerrados, criou e sustentou alguns privilégios (MORAES, 2000)

11

O Prodecer também foi criado para desenvolver a agricultura nos cerrados via um acordo de de cooperação nipo-brasileiro para assentamento de colonos através de cooperativas credenciadas. Trata-se de um programa de colonização privada, com participação do Estado, promovido pelo governo japonês, com crédito supervisionado e taxas de juros reais positivas para investimento e custeio. A primeira etapa iniciou-se em 1980 em Minas Gerais, a segunda em 1987 e a terceira na década de 1990, com expansão para Tocantins, Maranhão e Piauí (MORAES, 2000)

(36)

causa as mudanças ocasionadas pelo processo de integração da economia regional à nacional nos anos 196012 e resulta no que veio a ser chamado nos anos de 1990 de novo nordeste dos cerrados (MORAES, 2000).

A área do Nordeste brasileiro é de aproximadamente 1.558.196 km², equivalente a 18% do território nacional. É a região que, apesar de possuir a maior costa litorânea, tem os estados com a maior e menor costa litorânea13, Bahia, com 932 km de litoral, e Piauí, com 60 km.

Uma das características importantes do relevo nordestino é a existência de dois antigos e extensos planaltos, o Planalto da Borborema e o Planalto da Bacia do Parnaíba14 e de algumas áreas altas e planas que formam as chamadas chapadas, como a Chapada Diamantina e a Chapada Araripe15. Entre essas regiões ficam algumas depressões, nas quais se localiza o sertão semiárido.

O Nordeste do Brasil apresenta temperaturas elevadas, com média anual entre 20° a 28°C. Nas áreas situadas acima de 200m e no litoral oriental, as temperaturas variam de 24° a 26°C. As médias anuais inferiores a 20°C encontram-se nas áreas mais elevadas da Chapada Diamantina e da Chapada da Borborema. O índice de precipitação anual fica entre 300 a 2.000 mm. Três dos quatros tipos de climas do Brasil estão presentes no Nordeste: equatorial úmido, litorâneo, tropical e tropical semiárido.

O Nordeste possui importantes bacias hidrográficas, dentre as quais destacam-se a Bacia do São Francisco, a do Parnaíba, a do Atlantico Nordeste Oriental, a do Atlantico Nordeste Ociental, a do Atlântico Leste. A região compreende as seguintes Zonas Geográficas:

Meio-norte: faixa de transição entre a Amazônia e o sertão que abrange os estados do Maranhão e Piauí, também chamada de Mata dos Cocais, devido às palmeiras de babaçu e carnaúba, com chuva no litoral de cerca de 2000 mm anuais, nível que mais para o leste e/ou para o interior cai

12

Sobre este processo de integração da economia regional à nacional, na década de 60, atividades urbano-industriais também ganham espaço no Nordeste (Petrobrás – Bahia, e Vale do rio Doce – Maranhão) (MORAES, 2000).

13

A região toda possui 3.338 km de praias. Está situado entre os paralelos de 01° 02' 30" de latitude norte e 18° 20' 07" de latitude sul e entre os meridianos de 34° 47' 30" e 48° 45' 24" a oeste do meridiano de Greenwich. Limita-se a norte e a leste com o Oceano Atlântico; ao sul com os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e a oeste com o Pará, Tocantins e Goiás 14

O Planalto da Borborema localiza-se de Alagoas ao Rio Grande do Norte e o Planalto da bacia do Parnaíba localiza-se no leste da Bahia e porção oriental do Tocantins.

15

A Chapada da Diamantina localiza-se na parte central da Bahia e a Chapada do Araripe na divisa do Ceará, Piauí e Maranhão.

(37)

para 1500 mm anuais. No Sudoeste do Piauí, uma região mais parecida com o sertão, só chove, em média, 700 mm por ano.

Sertão: localizado no interior da região, tem clima semiárido, chegando, em estados como Ceará e Rio Grande do Norte a alcançar o litoral, e, descendo mais ao sul, atinge o norte de Minas Gerais, estado da região Sudeste. As chuvas são irregulares e escassas, com constantes períodos de estiagem, sendo a vegetação típica a caatinga.

Agreste: faixa de transição entre a Zona da Mata e o Sertão, é, pela localização, no alto do Planalto da Borborema, um obstáculo natural à chegada das chuvas ao Sertão. Estende-se do sul da Bahia até o Rio Grande do Norte e tem como principal acidente geográfico o Planalto da Borborema. Do lado leste do planalto estão as terras mais úmidas (Zona da Mata) e do outro lado, para o interior, o clima vai ficando cada vez mais seco (Sertão).

Zona da Mata: localizada ao leste, entre o Planalto da Borborema e a costa, estende-se do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia, tendo chuvas abundantes. A zona recebeu esse nome pela cobertura da Mata Atlântica. Nela, os cultivos de cana-de-açúcar e cacau substituíram, gradativamente, as áreas de florestas, desde o povoamento do Brasil colonial (MMA, 2005).

A vegetação nordestina é bastante rica e diversificada, havendo da Mata Atlântica no litoral à Mata dos Cocais no Meio-Norte ecossistemas como manguezais, caatinga, cerrados, restingas, dentre outros, com fauna e flora exuberantes, variadas espécies endêmicas, uma boa parte da vida no planeta e animais ameaçados de extinção.

O processo histórico e sócio-econômico de ocupação do Nordeste contou com economia açucareira e pecuária (Rio Grande do Norte e Alagoas), um complexo gado-algodão-agricultura (Ceará); pólos e complexos industriais (Sergipe e Bahia) e zona de expansão recente das fronteiras agrícolas, os cerrados, do Oeste baiano, Sul do Maranhão e Sudoeste do Piauí (Moraes, 2000). Em décadas finais do século XX houve, porém, uma mudança das áreas de modernização, ancoradas pelos subsistemas regionais de fronteiras agropecuárias, para Polos de Desenvolvimento Integrado, contexto em que se insere, em 1998, o Polo de Desenvolvimento Integrado Uruçuí-Gurgueia que compreende o sul do Maranhão e o Sudoeste do Piauí.

(38)

Até os anos 1970 o Nordeste era tido como ―atrasado‖. Uma das medidas tomadas pelo governo federal para enfrentar a situação foi a criação de médias e grandes empresas rurais pelo Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste - Proterra, instituído em 1973, e o Programa de Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste – Polonordeste, estabelecido em 1974. A finalidade desses programas era transferir o modelo industrial para o campo e modernizá-lo (MORAES, 2000).

Com efeito, a produção agropecuária nordestina sofreu profundas mudanças a partir da década de 1970, com a introdução de culturas não tradicionais, destacando-se a soja nos anos 1980, que se expandiu nos 1990, destinada, em grande parte, a atender a demanda do mercado externo. Nesse processo, a incorporação dos cerrados nordestinos deu-se em duas etapas: a primeira a partir dos anos 1980, pela expansão da agricultura intensiva de grãos do Centro-Oeste do Brasil em direção ao Oeste Baiano. Ali expandiu-se rapidamente o cultivo de soja, com a participação de produtores oriundos do Sul do país; a segunda, nas chapadas do Sul do Maranhão e Sudoeste do Piauí, pelo cultivo de grãos, em especial da soja, atendendo os mercados do Centro Sul do país e internacionais (MORAES, 2000).

A cultura principal na incorporação dos cerrados foi a soja, tanto no oeste baiano, quanto no Maranhão e Piauí. Essa agricultura intensiva nos cerrados implica um número reduzido de mão de obra e grandes extensões de terras, além do uso de tecnologias para correção da acidez do solo, controle de pragas e aumento de produtividade.

O oeste baiano contou com dois momentos de ordenação territorial. O primeiro (década de 1950/60) se caracterizou por uma divisão de trabalho entre gerais (cerrados) e sertão (vale do São Francisco, semiárido), ambos voltados para a pecuária extensiva. O segundo momento ocorreu depois da construção da capital federal, Brasília, que contou com a abertura de grandes ferrovias e mudou o padrão de divisão de trabalho nos cerrados, que passou a ter sua incorporação destinada para a agricultura intensiva, tecnificada e mecanizada, que se deu especificamente no início dos anos 1980 (MORAES, 2000).

Essa onda modernizadora da agricultura não se preocupou com questões ambientais e, em decorrência disso, ocorreu uma destruição

(39)

desenfreada da biodiversidade local. Ademais, a mudança no padrão de trabalho na agricultura abarcou trabalhadores assalariados, expulsando, assim, pequenos e médios produtores da região. Na década de 1990 tinha-se, no Oeste baiano, um intenso processo de territorialização da capital, com a acelerada expansão da cultura da soja.

A incorporação dos cerrados maranhenses teve como incentivo o Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste - Proterra, criado em 1973 e, nos anos 1980, o Finor-Agropecuário, pelo BNDES. Essa incorporação deu-se através de gaúchos, que introduziram o cultivo do arroz, com vista a superar a forma de produção considerada atrasada: a chamada agricultura de toco16, praticada por camponeses (MORAES, 2000).

Na década de 1980, ocorre a introdução do cultivo de soja nos cerrados do sul do Maranhão, um processo que desencadeou problemas ambientais, fundiários, trabalhistas e danos à saúde e segurança dos trabalhadores rurais. Implantou-se o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento do Cerrado (Prodecer) através do projeto de Colonização Geral de Balsas (PC-GERAL), contribuindo para a atração de investidores o incremento na produção agrícola e o baixo preço das terras.

Da mesma forma que em outros lugares, a incorporação dos cerrados maranhenses também expulsou camponeses locais, sob a justificativa de que teriam baixa capacidade produtiva. Assim, a incorporação dos cerrados nordestinos se deu, principalmente, por sulistas, embora houvesse, no processo, empresas do Centro-Oeste, Sudeste e até do próprio Nordeste.

2.3 No Piauí

O Piauí é um dos nove estados da região Nordeste do Brasil, que forma com o Maranhão, o chamado Meio Norte ou Nordeste Ocidental.

16

Agricultura de toco é denominação corrente dado ao sistema de agricultura camponesa tradicionalmente praticada na região, no qual a vegetação baixa é cortada (ou roçada), as árvores maiores são derrubadas e após a queima, a madeira é aproveitada. Nesse sistema, planta-se um período de três a quatro anos numa mesma área, que então se deixa em

(40)

Ocupando 252.378 km2 (16,2 %) dos 1.548.672 km2 do Nordeste brasileiro, é o terceiro maior estado nordestino, com área inferior apenas à Bahia e ao Maranhão, e o décimo em tamanho, do país, com 2,9 % do território nacional. Ao Norte, limita-se com o Oceano Atlântico, na Barra das Canárias, na Ilha Grande de Santa Isabel, município de Parnaíba e ao Sul, com Tocantins e Bahia sendo a Chapada da Limpeza, no município de Cristalândia, o ponto extremo. A leste, esse ponto situa-se no município de Pio IX, na nascente do rio Marçal, na serra do Marçal com limites Ceará e Pernambuco. A oeste, limita-se com a curva do rio Parnaíba, no município de Santa Filomena, divisa com o Maranhão até o extremo norte. O limite com o Maranhão, o maior, é de 1492 km, e com o Tocantins, o menor, é de apenas 21 km, menos que com o Oceano Atlântico (66 km).

O Piauí se situa entre duas regiões climáticas bem distintas: o Sertão semiárido e a Amazônia quente e úmida, sendo uma autêntica faixa de transição. Dessa forma, pode-se dizer que a dinâmica climática do estado caracteriza-se por uma grande complexidade.

A classificação do relevo do Piauí agrupa cinco chapadas ou chapadões: 1.O Arco da Fronteira, que se divide em duas secções pela Chapada do Araripe, constituindo-se ao sul no divisor das bacias hidrográficas do Parnaíba e do São Francisco e ao Norte separando os vales piauienses dos cearenses; 2.Os Chapadões do Sul, que correspondem às escarpas do Arco da Fronteira, ―que vão perdendo altitude no sentido sul-norte‖; 3.As Cuestas do Centro, que apresentam mergulho das camadas de leste para oeste; 4.Os Contrafortes da Ibiapaba, que são identificados como cuestas do setor norte do Arco da Fronteira; 5.Os Morros Isolados, que apresentam as formas de pequenas altitudes que intercalam as de maior expressão espacial.

O Estado do Piauí é um dos mais ricos do Nordeste em acumulação de água natural de superfície, pois dispõe de cerca de 69 lagoas, com um volume aquifero da ordem de 584 milhões de metros cúbicos. Essas lagoas se distribuem por todo o estado, ocorrendo, com maior frequência, no Baixo Parnaíba.

Quanto à hidrografia fluvial, o principal rio perene é o Parnaíba, que separa/une Piauí e Maranhão e corre por 1.485 km até desembocar no Oceano Atlântico. Sua vazão, no período de cheias, é superior a 230 m3 por segundo,

(41)

em Luzilândia (Baixo Parnaíba). A Bacia do Parnaíba, que ocupa 72,7% do território piauiense, pode ser considerada a segunda, em importância, do Nordeste, levando-se em consideração três fatores: área drenada (338.000 km²), extensão (1.485 km²) e perenidade do rio principal. Integradas a ela, existem, no território piauiense, outros 140 rios, com mais de 5.000 Km de extensão, dos quais 2,6 mil são perenes. O Piauí é ainda o estado brasileiro com o maior potencial de águas subterrâneas, com reservas reguladoras de 2,5 bilhões de metros cúbicos, correspondentes aos volumes infiltrados anualmente. Cerca de 83% da superfície estadual encontra-se sobre terrenos sedimentares, onde se destacam os aquíferos.

A cobertura vegetal do Piauí é bastante diversificada. Dentre as formações vegetais existentes, destacam-se as seguintes: caatinga arbórea e arbustiva (no Leste e Sudeste do estado), cerrado e cerradão (Centro-Leste e Sudoeste), floresta decidual (vales do Baixo e Médio Parnaíba) e formação pioneira e mangue a aluvial (litoral). As formações vegetais são separadas por zonas de contato, nas quais ocorrem dois ou mais tipos de associações de plantas, constituindo agrupamentos de transição.

O Piauí possui, aproximadamente, 11,5 milhões de hectares de cerrados que representam 5,56% dos cerrados brasileiros, correspondendo a 46% da superfície do estado e localizados em vários pontos (ARAUJO, et al, 2007) (fig. 3). Estão agrupados nos seguintes sistemas geoambientais (MONTEIRO, 2002):

a) Vale do Gurgueia, limite leste e por isso zona de transição entre floresta e caatinga para cerrado;

b) Chapadas do Alto Parnaíba, planaltos entre os rios Gurgueia e Parnaíba;

c) Cabeceiras do Parnaíba, zona do alto curso do rio Parnaíba;

d) Chapada das Mangabeiras, região fronteiriça entre a Bahia e o Piauí, divisor de águas entre as bacias hidrográficas do São Francisco e Parnaíba.

Referências

Documentos relacionados

Além disso, o crescimento das vendas no varejo no Brasil já dão sinais de perda de fôlego nos últimos meses e o departamento econômico do Citi revisou para

Devido à idade de algumas das subestações da Eletrosul, uma avaliação da integridade de suas respectivas malhas de terra se fez necessário, pois as mesmas devem conservar

hampei são mais atraídas por voláteis de frutos cereja e secos do que por voláteis de frutos verdes e por voláteis de frutos infestados do que por voláteis de

A) As condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. C) Sempre

18.14.24.1.1 Para distanciamentos inferiores a 3m (três metros), a interferência deverá ser objeto de análise técnica, por profissional habilitado, dentro do plano de

Este cuidado contínuo com a qualidade de cada processo inerente à acção de formação é ainda reforçado com a garantia de repetição de qualquer acção de

A população escolar do Conservatório é, atualmente, de cerca de 500 alunos que frequentam em simultâneo o ensino regular e o ensino artístico da música, sendo que cerca de 300

a) “O velho dá um passo à frente, três passos atrás, dois passos à frente” _________________. b) O velho estava desorientado