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ECLI:PT:TRE:2009: E8

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ECLI:PT:TRE:2009:2548.08.3.E8

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRE:2009:2548.08.3.E8

Relator Nº do Documento

Almeida Simões

Apenso Data do Acordão

15/01/2009

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Apelação Cível confirmada a sentença

Indicações eventuais Área Temática

Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores

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Sumário:

I – O registo predial destina-se, essencialmente, a dar publicidade à situação jurídica dos prédios, tendo em vista a segurança do comércio jurídico imobiliário

II - A autorização de loteamento constitui facto, obrigatoriamente, sujeito a registo (cf. artigo 2° n° 1 al. d) do CRP), imposição que existe na ordem registral, pelo menos, a partir do Código do Registo Predial aprovado pelo Dec. Lei 224/84, de 6 de Julho, que entrou em vigor a 1 de Outubro do mesmo ano.

Decisão Integral:

*

PROCESSO Nº 2548/08-3 *

ACORDAM NO TRIBUNAL DA ELAÇÃO DE ÉVORA

* O Ministério Público intentou, no Tribunal da comarca de …, acção contra; “A”; “B”; “C”; “D”; “E”; “F” e “G” pedindo:

- que sejam declaradas nulas e inutilizadas as descrições nºs 00227 a 00268, freguesia de …, da Conservatória do Registo Predial de … e suas inscrições (caducadas);

- que seja declarada nula a escritura de hipoteca voluntária, de 13.12.1984, lavrada a fls. 90v. a 94 do Livro de Notas para Escrituras Diversas do 2° Cartório Notarial de …;

- que sejam declaradas nulas e inutilizadas as descrições e inscrições nºs 00014 a 00017, freguesia de …, da Conservatória do Registo Predial de …

Para tanto, alegou que a ré “A”, é proprietária, desde 2 de Outubro de 1974, do prédio rústico

descrito na Conservatória do Registo Predial de … sob o nº 65.316, freguesia de …, no Livro B 167, a fls. 992.

Com data de 17.10.1986, na dependência de inscrições de hipoteca provisória por natureza, a favor do réu Banco, requeridas pelas apresentações 1 e 2/171086, foram desanexados os 42 prédios descritos sob os nºs 00227 a 00268, freguesia de …, correspondentes a lotes para construção. No entanto, não existe, nem foi registado alvará de loteamento, pelo que as desanexações operadas, bem como as descrições dos lotes feitos na pendência e com base no pedido de inscrição de hipoteca provisória por natureza, são nulas.Tendo caducado a inscrição C-1 da hipoteca voluntária provisória por natureza, na pendência da qual haviam sido averbadas as desanexações e abertas as descrições impugnadas, pelo que não podem subsistir estes actos. Com data de 27.11.1984, na dependência de inscrições de hipoteca provisória por natureza, a favor do réu Banco, requeridas pelas apresentações nº 4/27.11.84, foram ainda desanexados do referido prédio rústico 4 prédios descritos sob os nºs 00014 a 00017, freguesia de …, correspondentes a lotes para construção.

No entanto, não existe, nem foi registado alvará de loteamento, pelo que tais descrições são também nulas, pelos motivos anteriormente apontados.

Contudo, as inscrições hipotecárias provisórias referentes às 4 descrições atrás indicadas foram convertidas em definitivas pela apresentação nº 4, de 14.01.1995 , que se fazia acompanhar de escritura pública de hipoteca em que intervieram todos os réus, datada de 13.12.1984, lavrada a fls. 90v. a 94 do Livro de Notas para Escrituras Diversas, do 2 ° Cartório Notarial de …

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em causa é nula, por força do disposto no artigo 27° do Dec. Lei 289/75 e das disposições combinadas dos artigos 57° n° 1 e 60° do Dec. Lei 400/84, de 31 de Dezembro e,

consequentemente, nulas as inscrições dos registos de hipoteca voluntária definitivas nºs 00014 a 00017 da freguesia do …

O réu “G contestou no sentido da improcedência da acção, salientando, no essencial:

Em relação às inscrições nºs 00227 a 00268, o registo da conversão em definitivo foi recusado pelo Conservador do Registo Predial de … e o Banco beneficiário não procedeu à apresentação de novo registo de conversão, pelo que as inscrições caducaram pelo decurso do tempo, tendo a

caducidade sido anotada em cada uma dessas inscrições, o que equivale à sua inutilidade. No entanto, a recusa do registo definitivo ficou apenas a dever-se à desconformidade entre o teor da inscrição provisória e o título oferecido, no que se refere aos sujeitos da relação jurídica, pelo que o Banco é alheio ao pedido do autor no que concerne às descrições 00227 a 00268.

No tocante às descrições 00014 a 00017, aceita que, em 27 de Novembro de 1984, foi requerido o registo provisório de uma hipoteca voluntária constituída a favor do Banco “G” e que, em 13 de Dezembro de 1984, foi constituída hipoteca voluntária sobre os prédios da mesma escritura identificados pelas descrições 14, 15, 16 e 17, da freguesia de …, da Conservatória do Registo Predial de …, sendo a inscrição hipotecária 1-C convertida em definitiva com base na mencionada escritura lavrada a 13 de Dezembro de 1984.

Para além disso, a apresentação a registo provisório da hipoteca voluntária não constitui uma operação de loteamento, nem o autor fez prova da inexistência de alvará de loteamento; também, na altura da outorga dessa escritura, não era exigível o registo do alvará, por ainda vigorar o Dec. Lei 289/73, de 6 de Junho, pelo que tal escritura não enferma de qualquer vício formal ou

substancial.

Entretanto, por falecimento dos réus “B”, “C” e “E”, foram habilitados, para prosseguirem os termos da acção, “D”, “H”, “I”, “J”, “K”, “L” e “F”.

No saneador, foi conhecido do mérito da causa, tendo sido proferida decisão, com o valor de sentença, a julgar a acção procedente, do seguinte teor:

1. declarar a nulidade das descrições n.ºs 00227 a 00268 freguesia de … da Conservatória do Registo Predial de … e ordenar a respectiva inutilização;

2. declarar a nulidade das descrições n.ºs 00014 a 00017 freguesia de … da Conservatória do Registo Predial de … e ordenar a respectiva inutilização;

3. declarar a nulidade da escritura de hipoteca voluntária de 13 de Dezembro de 1984, lavrada a fls. 90 v. ° a 94 do Livro de Notas para Escrituras Diversas do 2.° Cartório Notarial de … e ordenar o cancelamento da inscrição;

4. ordenar o cancelamento das inscrições hipotecárias relativas aos prédios descritos sob os n.ºs 00014 a 00017, freguesia de … da Conservatória do Registo Predial de …

Determinou-se ainda a condenação dos réus nas custas da acção.

Inconformado, o réu “G” apelou, tendo alegado e formulado as conclusões que se transcrevem: 1ª. O despacho saneador-sentença impugnado omite factos alegados pelo Banco apelante na contestação esvaziando desse modo os fundamentos da defesa do apelante.

2a. A matéria alegada na p.i, e na contestação do Banco apelante, sobre a desanexação em vários talhões do prédio descrito na Conservatória do Registo Predial de … sob o nº 65.316, freguesia de …, é matéria controvertida e por isso deveria ter sido levada à base instrutória pois o Tribunal não

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analisou quaisquer elementos de prova para concluir que não existia qualquer autorização de loteamento.

3a. Tratando-se de um facto negativo (a inexistência de qualquer autorização de loteamento) o ónus da prova incumbe ao autor conforme Jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça nº 07A4705, de 7 de Fevereiro de 2008.

4a. Quando não se entenda que a acção deve ser desde já julgada totalmente improcedente, a decisão recorrida deve ser revogada, sendo ordenado à 1ª Instância para que se proceda ao saneamento e condensação dos factos alegados na contestação, cujo ónus da prova incumbe ao Banco réu, nos termos do art. 342 n° 2 do C. Civil.

5a. A sentença recorrida é nula, nos termos do artº 668° n° 1 al. c) porque omitiu pronúncia sobre os factos alegados e considerou como assentes factos que se mostram impugnados

especificadamente como seja a questão da necessidade de alvará de loteamento.

6ª. O despacho saneador-sentença impugnado viola o artº 511 do CPC, porque impede a

discussão de factos essenciais à boa decisão da causa, pois não deu ao Banco réu oportunidade de ser averiguado se a operação de desanexação em vários talhões do prédio descrito na

Conservatória do Registo Predial de … sob o n° 65.316, freguesia de …, deveria ser sujeita a licenciamento municipal e à emissão de alvará de loteamento.

7ª. A sentença recorrida é nula, constituindo um verdadeiro non liquet, porque do teor literal da mesma resulta que os factos considerados em sede de decisão final, nomeadamente, a

necessidade de

existência de alvará de loteamento não se mostram provados, e desse modo, os fundamentos estão em contradição com a matéria dada por assente.

8ª. A decisão impugnada é nula porque omite a análise da totalidade dos factos alegados pelo Banco apelante, que são essenciais à boa decisão da causa, em violação do disposto no art. 342° n° 2 do CC, nomeadamente os factos alegados na p.i. pelo autor que se mostram impugnados nos artigos 29° a 38º, 39° e 58º da contestação do Banco réu e ora apelante.

9ª. A decisão recorrida viola o disposto no art. 511 ° do CPC, porque omite nos factos assentes os factos alegados nos artigos 17°, 18º, 19°, 22°, 23º, 29° e 63°, que se mostram provados por

documento autênticos solicitados pelo próprio Tribunal a fls. 255.

10ª. A decisão recorrida é nula porque não levou à base instrutória, os factos alegados em 43° e 44° (no que respeita à contraprova dos factos alegados na p.i.), 47°, 48º, 51°,53°,56° e 58º (no que respeita à contraprova dos factos alegados na p.i.), sendo ainda os restantes alegados na contestação fundamentais para compreender como se chegou à situação que motivou a instauração da presente acção e a inutilidade do pedido deduzido pelo autor, decorrente da caducidade das inscrições hipotecárias.

11ª. A sentença recorrida viola as regras do ónus da prova e o disposto no artº 4870 e 4900 do CPC ao concluir que não existiu sequer uma aprovação pela Câmara Municipal da operação de loteamento com base numa alegação do autor que se mostra especificadamente impugnada pelo réu em 58º da contestação.

12ª. A decisão recorrida viola o disposto no artº 687 do CC, porque consequências jurídicas de inscrições hipotecárias provisórias das descrições 227 a 268 não produziram quaisquer efeitos jurídicos porque caducaram pelo decurso do tempo o que resulta à inutilidade do pedido do autor. 13ª. E ilegal a condenação em custas do Banco apelante em relação ao pedido de nulidade das descrições Prediais 00014 a 00017 da freguesia de … da C.R. Predial de …, porque tal pedido é fundamentado no art. 54° do C. Registo Predial e respeita à 1ª ré.

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14ª. É ilegal a condenação em custas do Banco apelante em relação ao pedido de nulidade da escritura outorgada em 13 de Dezembro de 1984 e exarada a fls. 90 verso do Livro 102-A do 2° Cartório da Secretaria Notarial de …, porque o negócio jurídico plasmado na escritura não constituiu uma operação de loteamento, considerando as disposições conjugadas dos artigos 1° e 27° do Dec. Lei 289/73, de 6 de Junho, e artigo 8° do Dec. Lei 194/83, de 17 de Maio.

15ª. Na data da outorga da escritura pública, 13 de Dezembro de 1984, não era exigível a exibição do alvará de loteamento no acta da escritura.

16ª. A decisão de nulidade das inscrições hipotecárias respeitantes às descrições 14 a 17 da

freguesia de … da Conservatória do Registo Predial de … é inoponível ao Banco apelante, porque as mesmas foram convertidas em definitivo verificando-se, deste modo, os efeitos substantivos do

registo, quer entre as partes, quer em relação a terceiros.

17ª. Normas violadas: artigos 342° n° 2, 371 ° n° 1 e 687° do Código Civil; artigos 487º e 490°, 511° e 668° nº 1 alíneas b) e c) do Código de Processo Civil; artigos 5°, 54°, 69° n° 2, 70° e 96° do Código do Registo Predial (na redacção aprovada pelo Dec. Lei 224/84, de 6 de Julho, e Dec.Lei 400/84, de 31 de Dezembro); artigos 57° e 60° do Dec. Lei 400/84, de 31 de Dezembro, 1º, 27º e 84° do Dec. Lei 289/73, de 6 de Junho, 8° n° 1 do Dec. Lei 194/83, de 17 de Maio, Dec. Lei 448/91, de 29 de Novembro.

18ª. Termos em que deve ser concedido provimento recurso e, em consequência, ser revogado a decisão recorrida, sendo o Banco apelante absolvido dos pedidos.

19ª. Quando não se entenda que a acção deve ser, desde já julgada totalmente improcedente, a decisão recorrida deve ser revogada, sendo ordenado à 1ª instância para que se proceda ao saneamento e condensação dos factos alegados na contestação, cujo ónus da prova incumbe ao Banco réu, nos termos do artigo 342° n° 2 do Código Civil.

O Ministério Público contra-alegou a pugnar pela confirmação do saneador/sentença. Os Exmºs Desembargadores Adjuntos tiveram visto nos autos.

São os seguintes os factos que a 1ª instância considerou provados, com interesse para a decisão da causa:

1. O prédio rústico descrito na Conservatória do Registo Predial de … sob o n.º 65.316, freguesia de …, encontra-se inscrito em nome da Ré “A”;

2. Em 17 de Outubro de 1986, através das apresentações n.ºs 1 e 2, o Réu “G” requereu o registo provisório de hipotecas sobre talhos de terreno para construção urbana a destacar do prédio

descrito na Conservatória do Registo Predial de … sob o n.º 65.316 e a desanexar de parte (2/3) do artigo matricial rústico 218;

3. Na sequência das apresentações supra referidas foram desanexados os 42 prédios descritos sob os n.ºs 00227 a 00268, freguesia de …, correspondentes a lotes para construção;

4. Não foi registada qualquer autorização de loteamento para construção;

5. A inscrição C-1 relativa à hipoteca voluntária e provisória por natureza na dependência da qual foram desanexados os prédios descritos sob os n.ºs 00227 a 00268 caducou;

6. A caducidade foi anotada em cada uma das inscrições respeitantes às descrições 227 a 268 da freguesia de …;

7. Na dependência das inscrições de hipoteca provisória por natureza a favor do Banco “G” e através da apresentação n.º 4 de 27 de Novembro de 1984 foram desanexados do prédio referido em 1. quatro prédios descritos sob os n.ºs 00014 a 00017, freguesia de …, correspondentes a lotes

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para construção;

8. Não foi registada qualquer autorização de loteamento para construção;

9. As inscrições hipotecárias referidas em 7. foram convertidas em definitivas pela apresentação n.° 4 de 14.01.1995 e com base na escritura de hipoteca datada de 13 de Dezembro de 1984

lavrada a fls. 90 verso a 94 do Livro de Notas para Escrituras Diversas do 2.º Cartório Notarial de … *

* * Atentas as conclusões apresentadas pelo apelante, que delimitam, como e regra, o objecto do recurso, mostram-se enunciadas as questões que se deixam sintetizadas:

- Se há fundamento para o reenvio do processo à 1ª instância para a produção de prova sobre factos relevantes controvertidos;

- Se, indevidamente, a 1ª instância deu como provados factos que exigiam prova que não constava dos autos;

- Se a decisão recorrida enferma de nulidade;

- Se existe necessidade de tutela jurisdicional quanto ao pedido relativo à declaração de nulidade das descrições nºs 00227 a 00268, com reflexo na condenação em custas;

- Se as descrições 00227 a 00268 e 00014 a 00017 são nulas, bem como a escritura de hipoteca voluntária outorgada a 13 de Dezembro de 1984.

Vejamos, então:

A apelante entende, desde logo, que o Ministério Público, autor na acção, não fez prova da

inexistência de alvará de loteamento, como lhe cabia, e que tal facto é relevante para a boa decisão da causa.

Na verdade, a ausência de registo de autorização para loteamento constitui facto nuclear para a procedência da acção, uma vez que o pedido de nulidade funda-se, exactamente, na omissão de registo predial de alvará de loteamento que autorize a descrição dos vários lotes de terreno a que se procedeu na Conservatória do Registo Predial de …, mas o apelante não questionou, na contestação, a inexistência de registo, nem alegou que fora passado alvará ou, sequer, que este tenha sido pedido, defendendo antes que, à data, não era exigível o registo do alvará de

loteamento, como também o não era na vigência do Dec. Lei 400/84, de 31 de Dezembro, em relação aos pedidos de loteamento formulados até Março de 1985 (cf. art. 51 da contestação). Por outro lado, mostra-se provado através dos documentos juntos aos autos (maxime, as certidões da Conservatória), sem que o apelante os tenha impugnado, que não foi registada qualquer

autorização de loteamento para construção, na sequência da apresentação que levou à

desanexação dos 42 prédios descritos sob os nºs 00227 a 00268, como também não foi registada qualquer autorização de loteamento em relação à desanexação dos 4 prédios descritos sob os nºs 00014 a 00017 (cf. 4. e 8. supra).

Assim, haverá que considerar assente que não foi levada ao registo autorização para loteamento a suportar as descrições a que se procedeu na Conservatória do Registo Predial de …, relativas aos prédios desanexados.

Questão diferente, que é de direito, consiste em saber se a lei vigente ao tempo obrigava à existência de alvará de loteamento e ao seu registo, o que adiante se verá.

Entende também o apelante que deveria ter sido levada à base instrutória o alegado em diversos artigos da contestação (cf. conclusões 8ª, 9ª e 10ª).

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O alegado no art. 17 é meramente conclusivo; quanto ao alegado nos artigos 18 a 23, já se mostra dado como assente que as descrições nºs 00027 a 00028 caducaram, não importando, para o caso em apreço, o motivo aduzido pelo senhor Conservador para recusar a conversão em definitivo, pois o que releva é a caducidade; os artigos 29 a 39 são conclusivos e/ou contêm mera alegação de direito; quanto ao alegado nos artigos 43 e 44, já se deixou explicitado que se mostra

documentalmente comprovado que não foi registada qualquer autorização de loteamento para construção relativamente às desanexações requeridas, sendo que o réu apelante não alegou na contestação a existência de alvará de loteamento; o alegado nos artigos 47, 48, 51, 53 e 58 contém apenas matéria de direito, insusceptível de quesitação, sendo meramente conclusivo o que se alega no art. 56.

Assim sendo, não vem alegada, na contestação, matéria de facto com interesse para a boa decisão da causa que importe a anulação do saneador/sentença, para ampliação da matéria de facto, nos termos do nº 4 do artigo 712° do Código de Processo Civil.

Do mesmo modo, não merece censura a factualidade seleccionada na decisão recorrida, e dada como provada, por corresponder à que foi aceite pelas partes nos articulados e comprovada através de base documental não impugnada.

A decisão da 1ª instância não enferma, ainda, da nulidade prevista no artigo 668° n° 1 alínea c) do Código de Processo Civil uma vez que o segmento do dispositivo está conforme com os

fundamentos aduzidos na mesma decisão, sendo que o apelante não identifica, sequer, situação de eventual oposição entre a decisão e os fundamentos.

Assente a matéria de facto a atender e verificada a ausência de nulidade da decisão recorrida, importa agora considerar os demais temas do recurso.

Como se sabe, o registo predial destina-se, essencialmente, a dar publicidade à situação jurídica dos prédios, tendo em vista a segurança do comércio jurídico imobiliário; o registo compõe-se da descrição predial, da inscrição e respectivos averbamentos, bem como de anotações de certas circunstâncias, nos casos previstos na lei (cf. artigos 1 ° e 76° do CRP).

A descrição tem por fim a identificação física, económica e fiscal dos prédios, sendo feita na dependência de uma inscrição ou de um averbamento (cf. artigos 79° e 80° do CRP).

Assim, a descrição, que se baseia no prédio, é o suporte das inscrições, não havendo inscrição sem que, previamente, tenha sido aberta uma descrição, embora não possa abrir-se uma descrição autonomamente, ou seja, sem existir uma inscrição, averbamento ou anotação que a motive. No caso que agora importa, a autorização de loteamento constitui facto, obrigatoriamente, sujeito a registo (cf. artigo 2° n° 1 al. d) do CRP), imposição que existe na ordem registral, pelo menos, a partir do Código do Registo Predial aprovado pelo Dec. Lei 224/84, de 6 de Julho, que entrou em vigor a 1 de Outubro do mesmo ano.

Por outro lado, como determina o nº 3 do artigo 800 do Código do Registo Predial, o registo de autorização para loteamento dá lugar à descrição de todos os lotes de terreno destinados à construção.

Doutro passo, o loteamento consiste na divisão de um prédio rústico ou urbano, em várias fracções, que passam a ter autonomia própria, distinta autonomia jurídica, inconfundível com o prédio objecto do fraccionamento (prédio original) e que se destinam a construção, sendo cada uma das fracções autonomizadas designada lote.

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A divisão indiscriminada e indisciplinada de prédios com finalidade construtiva prende-se directamente com o adequado ordenamento do território e tem sido preocupação do legislador fazer depender de regras as operações de loteamento, sujeitando-as a licença e obrigando a que a autorização de loteamento seja levada ao registo predial.

O preâmbulo do Dec. Lei 289/73, de 6 de Junho, faz uma resenha da legislação anterior que teve em vista o planeamento urbanístico e a intervenção das autoridades administrativas nas operações de loteamento urbano, alargando o conceito de loteamento e da base de intervenção da

Administração, salientando que tal, como vinha sendo formulado, deixava à margem de qualquer disciplina uma série de situações que, não se concretizando através de contratos de venda ou locação, logravam, na prática, os mesmo efeitos.

Assim, veio estabelecer o artigo 1° do citado diploma que a operação que tenha por objecto ou simplesmente tenha como efeito a divisão em lotes de qualquer área de um ou vários prédios, situados em zonas urbanas ou rurais, e destinadas imediata ou subsequentemente à construção, depende de licença da câmara municipal da situação do prédio ou prédios.

Vindo o artigo 27º n° 2 dispor que as operações de loteamento referidas no artigo 1°, bem como a celebração de quaisquer negócios relativos a terrenos, com ou sem construção, abrangidas por tais operações, só poderão efectuar-se depois de obtido o respectivo alvará.

O regime do Dec.Lei 289/73, de 6 de Junho, foi mantido pelo Dec.Lei 400/84, de 31 de Dezembro, e pelo Dec. Lei 448/91, de 29 de Novembro, sujeitando a licenciamento municipal qualquer

operação que tenha por objecto ou simplesmente por efeito a divisão em lotes de qualquer área de um ou vários prédios destinados imediata ou subsequentemente à construção.

Em face do que fica expendido, resulta inequívoco que, ao tempo em que os factos ocorreram, a validade da operação de loteamento dependia de licença camarária, não podendo o

fraccionamento da propriedade assentar em simples acto ou negócio jurídico outorgado por

particulares, que era obrigatório o registo de autorização de loteamento e que apenas o registo de autorização para loteamento permitia a descrição dos lotes de terreno destinados à construção. Donde a nulidade de todas descrições a que se procedeu relativas ao fraccionamento do prédio em diversos lotes ou talhos, por insuficiência de título, nos termos do artigo 16° al. b) do Código do Registo Predial.

É certo que a inscrição C-1 relativa à hipoteca voluntária, provisória por natureza, na dependência da qual foram desanexados os prédios sob os números 00227 a 00268, já caducou, mas tal não obsta a que se mantenha o interesse de tutela jurisdicional, também neste segmento do pedido, na medida em que está em causa a apreciação da legalidade dos procedimentos registrais e a

determinação da consequência jurídica em relação à totalidades das descrições abertas, em razão do fraccionamento do prédio original na ausência de registo de alvará de loteamento.

Donde a indispensabilidade da actuação jurisdicional, através do meio processual adequado. Deste modo, sendo de considerar nulas todas as descrições abertas, como se viu, importa, por último, apurar da validade da escritura de hipoteca outorgada a 13 de Dezembro de 1984, no cartório notarial de …

A escritura em causa e a que se mostra junta aos autos a fls 114 e seguintes, através da qual é constituída hipoteca voluntária a favor do Banco “G” sobre os lotes de terreno descritos na

Conservatória do Registo Predial de … sob os números catorze, quinze, dezasseis e dezassete. Ora, conforme já se deixou explicitado, as descrições mencionadas na escritura de constituição de hipoteca voluntária são nulas, por não terem na sua génese loteamento registado.

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juridicamente inexistente: lotes de terreno que foram criados em claro afrontamento à lei, sendo nulas as respectivas descrições, como se viu, por não haver registo de autorização de loteamento. O que acarreta a nulidade do negócio , por força do disposto no nº 1 do artigo 280° do Código Civil, bem como o cancelamento dos registos a que se procedeu na dependência da escritura de

hipoteca voluntária, de acordo com o artigo 13° do Código do Registo Predial.

Ante todo o exposto, julgando improcedente a apelação, acorda-se em confirmar a sentença recorrida.

Custas pelo apelante. Évora, 15 Jan. 2009

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