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Processos de design e inovação social

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Academic year: 2021

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PROCESSOS DE DESIGN E INOVAÇÃO SOCIAL

Expectativas, Êxitos e Desvios em Projetos Financiados

Doutoramento em Design

Candidata Renata Gastal Porto

Orientação Científica Doutora Ana Margarida Thudichum de Serpa Vasconcelos

Professora Auxiliar, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa Doutora Rita Assoreira Almendra

Professora Associada com Agregação, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa

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PROCESSOS DE DESIGN E INOVAÇÃO SOCIAL

Expectativas, Êxitos e Desvios em Projetos Financiados

Doutoramento em Design

Candidata Renata Gastal Porto

Orientação Científica Doutora Ana Margarida Thudichum de Serpa Vasconcelos

Professora Auxiliar, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa Doutora Rita Assoreira Almendra

Professora Associada com Agregação, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa Presidente Doutora Maria Manuela Ferreira Mendes

Professora Auxiliar, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa Vogais Doutora Teresa Cláudio Magalhães Franqueira Baptista

Professora Associada, Universidade de Aveiro Doutor Gabriel Henrique Torres do Patrocínio

Professor Adjunto, Universidade do Estado do Rio de Janeiro Doutora Ana Margarida Thudichum de Serpa Vasconcelos

Professora Auxiliar, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa Doutor João Paulo do Rosário Martins

Professora Auxiliar, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa Doutor André Galhardo Lopes de Castro

Professor Auxiliar Convidado, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor

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Programa Ciências Sem Fronteiras, que possibilitou aos estudantes e investigadores brasileiros estudarem no exterior.

À CAPES por ter financiado integralmente este estudo.

À Faculdade de Arquitetura por ter acolhido minha proposta de trabalho. Às minhas orientadoras Ana Thudichum Vasconcelos por compartilhar dos mesmos ideais, por acreditar na minha pessoa, e pelas oportunidades oferecidas de grande aprendizado em âmbito académico; e Rita Assoreira Almendra pelos ensinamentos profundos sobre como investigar em Design, pelo seu alto grau de exigência e pela atenção dedicada aos meus escritos. Ao professor João Paulo Martins da Faculdade de Arquitetura pelas sugestões à esta investigação durante o curso de Doutoramento. E ao professor Gabriel Patrocínio da Universidade Estadual do Rio de Janeiro pelos debates por skype durante a reformulação do projeto de tese.

Aos colegas do curso de Doutoramento em Design Denis Hickel, António Pinto, Filipa Pias e Inês Veiga. Agradeço em especial à Isabel Bieger, à Aline Teixeira, ao Kelenson da Silva e ao Reginaldo Schiavinni pelo convívio próximo. Aos colegas de mestrado Fabrício e Mariana que incentivaram a minha candidatura ao doutoramento no exterior.

Aos amigos e familiares Vanda, Adelaide, Daniela, João e Gabriela que receberam-me em Lisboa.

Às novos amigos Euzeny Bayma, Mariana Lopes, Augusto Pires, Priscila Zavadil, Paulo Marinheiro, Patricia Maia, Leslie Balbino, Élmano Ricarte e Guilherme Vieira. Ao psicólogo e amigo Paulo Mourinha pelo apoio emocional durante o período que estive a viver em Portugal.

Aos amigos do coração sempre presentes Fabiana Heinrich, Daniela Brisolara, Chris Ramil, Jorgea Pradiee e Cristiano Gastal.

À minha família Victor Hugo, Maria Clara e Rafael pelo amor transcendental. Ao Alex por aceitar este desafio.


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Social. O foco do estudo está nos processos de iniciativas subsidiadas por instrumentos políticos. Este estudo representa um novo foco na investigação de Design e Inovação Social, pois é considerado o designer e a estrutura política que favorece a Inovação Social. A investigação destaca a necessidade de usar instrumentos políticos adequados às etapas do processo de Design assim como planear os desafios sociais e os desafios de Design em cada projeto.

Três perspectivas teóricas orientam o estudo dos processos em Inovação Social. A primeira é centrada no agente e difundida nos estudos de Design. A segunda é estruturalista e é estudada pelas teorias organizacionais. A terceira proposta estuda os agentes e as estruturas sociais e sugere a institucionalização das práticas. O presente estudo assume a terceira perspectiva teórica para descrever os processos de Design em casos de Inovação Social.

A metodologia seguida é de carácter exploratório e adota a abordagem qualitativa. O método central da investigação é o estudo de caso. Os casos estudados, portugueses e brasileiros, são organizados em três tipologias: casos profissionais, casos de investigação e casos de ensino. Para a triangulação de dados foram utilizados métodos qualitativos. A recolha dos dados de fonte primária ocorreu por: a) entrevistas com os líderes de Design dos projetos; b) análise dos documentos de planeamento do projeto; c) análise de fontes não intrusivas.

O estudo resulta num modelo conceitual que relaciona instrumentos políticos específicos com cada etapa do processo de Design. As conclusões apontam que os casos de Design em Inovação social acedem aos instrumentos políticos de investimento apenas na fase inicial do processo; a duração dos projetos está relacionada com o tempo estipulado pelos instrumentos políticos; os investimentos não correspondem às necessidades da Inovação Social na totalidade, pois são aplicáveis até a fase de implementação do protótipo; a sustentabilidade dos projetos não é prevista; as iniciativas propõem respostas aos desafios sociais atuais e não procuram responder aos desafios sociais conjecturados.

Palavras-chave

Processos de design, Inovação social no Brasil, Inovação social em Portugal, Políticas de inovação social, Casos de design

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represents a new focus in the investigation of Design and Social Innovation, since it is considered the designer and the political structure that favors Social Innovation. The research highlights the need to use policy tools appropriate to the stages of the Design process as well as to plan the social challenges and the Design challenges for each project.

Three main theoretical perspectives guide the study of Social Innovation processes. The first is agent-centered and widespread in Design studies. The second is structuralist and is studied by organizational theories. The third proposal studies the agents and the social structures and suggests the institutionalization of the practices. This study assumes the third theoretical perspective to describe the processes of Design in Social Innovation cases. The methodology used is exploratory and adopts the qualitative approach. The central method of investigation is the case study. The cases selected, Portuguese and Brazilian, are organized into three typologies: professional cases, research cases and education cases. Qualitative methods were used for the triangulation of data. The collection of the primary source data occurred by: a) interviews with the designers leaders of the cases; b) analysis of project planning documents; c) analysis of non-intrusive sources.

The study results in a conceptual model that relates the appropriate policy tools to each stage of the Design process. Conclusions point to the fact that Design in Social Innovation cases access the policy tools only in the initial phase of the process; the duration of the projects is related to the time stipulated by the policy tools; the investments do not correspond to the needs of Social Innovation, since they are applicable until the implementation phase of prototype; the sustainability of the projects is not foreseen; the initiatives propose responses to the current social challenges and do not seek to respond to the social challenges conjectured.

Keywords

Design processes, social innovation in Brazil, social innovation in Portugal, social innovation policies, design cases

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CAPÍTULO 1: Introdução 1. Contextualização da investigação 2. Problemática da investigação 3. Objectivos 4. Questão de investigação 5. Premissa 6. Metodologia da investigação 7. Estrutura do documento

CAPÍTULO 2: Enquadramento Teórico 1. Praxeologia do Design

1.1 Os paradigmas do Design

1.2 Design Ativista, Design Social, Transition Design e Design para Inovação Social e Sustentabilidade

2. Design e Inovação Social

2.1 Atribuições dos designers em Inovação Social 2.2 Processos de Design em Inovação Social

2.2.1 Modelos teóricos de Processo de Design para Inovação Social 2.2.1.1 Design Thinking na Inovação Social

2.2.2 Modelos de Design Social

2.2.3 Modelos organizacionais para o impacto social 3. Inovação Social

3.1 Definições e conceito da Inovação Social 3.1.1 A problemática das definições

3.1.2 Análise das definições de Inovação Social 3.2 Processos da Inovação Social

3.2.1 Perspectivas teóricas do processo de Inovação Social 3.2.2 Modelos de processos: perspectiva individualista 3.2.3 Métodos, ferramentas e técnicas criativas

3.2.4 Observações sobre os processos de Inovação Social 4. Políticas de Inovação Social

4.1 Contextualização das políticas de Inovação Social

1 1 9 10 11 11 12 13 15 15 15 18 24 24 28 29 32 33 36 39 39 39 45 55 55 56 66 67 70 70

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5. Hipótese

CAPÍTULO 3: Procedimentos metodológicos 1. Procedimentos introdutórios ao estudo de caso 1.1 Inquérito por questionário

1.1.1 Estrutura e conteúdo do questionário 1.1.2 Técnica amostral e universo da amostragem 1.1.3 Dados obtidos

1.1.4 Análise dos dados 1.1.5 Considerações 1.2 Desk research 1.2.1 Dados obtidos 1.2.2 Considerações

1.3 Grelha para seleção dos casos 1.3.1 Casos selecionados

2. Estudos de caso 2.1 Entrevistas

2.1.1 Matriz e guião da entrevista 2.1.2 Amostra qualitativa da entrevista 2.1.3 Análise de conteúdo

2.2 Análise de documentos 2.3 Medidas não intrusivas

2.4 Grelha de triangulação dos dados

CAPÍTULO 4: Casos de Design e Inovação Social 1. Introdução aos casos de Design e Inovação Social

2. Programa de Educação Sócio Ambiental para as Escolas Municipais de Canoas

3. Comunidades Criativas das Geraes: Oficinas Processos Criativos e Estratégias de Mercado

4. A Gente Transforma: Várzea Queimada

80 82 82 82 83 86 87 93 103 104 104 107 108 110 113 113 113 115 117 117 118 120 123 123 124 133 143

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APÊNDICE A, APÊNDICE B, APÊNDICE C, APÊNDICE D, APÊNDICE E, APÊNDICE F, APÊNDICE G, APÊNDICE H, APÊNDICE I, APÊNDICE J, APÊNDICE K, APÊNDICE L, APÊNDICE M, APÊNDICE N, APÊNDICE O, APÊNDICE P, APÊNDICE Q, APÊNDICE R, APÊNDICE S, APÊNDICE T, APÊNDICE U, APÊNDICE V, APÊNDICE W, APÊNDICE X, APÊNDICE Y, APÊNDICE Z, APÊNDICE AA, APÊNDICE BB, APÊNDICE CC, APÊNDICE DD, APÊNDICE EE, APÊNDICE FF, APÊNDICE GG, APÊNDICE HH, APÊNDICE II, APÊNDICE JJ, APÊNDICE KK

7. 2 de Maio Todos os Dias

8. Performance dos processos de Design em Inovação Social 8.1 Casos de ensino

8.2 Casos de investigação 8.3 Casos profissionais CAPÍTULO 5: Discussão

1. Teoria e prática do Design e Inovação Social 2. Processos de Design e Inovação Social 2.1 Dificuldades nos processos

2.1.1 Processos dos projetos de ensino 2.1.2 Processos dos projetos de investigação 2.1.3 Processos dos projetos profissionais 3. Acessos aos instrumentos políticos CAPÍTULO 6: Conclusões

1. Processos de Design e Inovação Social 2. Recomendações para futuros estudos Referências bibliográficas 164 172 172 178 184 190 190 197 197 198 203 206 210 216 216 220 221

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Figura 1

Problemática da investigação Figura 2

Metodologia de investigação do estudo Figura 3

Modelo Curva-S desenvolvido por Rogers (1962) Figura 4

Modelo Social Innovation Journey desenvolvido por Meroni et al. (2013) Figura 5

Modelo Social desenvolvido por Margolin & Margolin (2002) Figura 6

Modelo Human-Centered Design desenvolvido por IDEO.org (2015) Figura 7

Modelo de inovação aberta desenvolvido por OpenIDEO Figura 8

Categorias de análise desenvolvidas por Dedijer (1984), Cloutier (2003) e Tardif (2005)

Figura 9

Oportunidades de Design na Inovação Social Figura 10

Perspectivas teóricas da Inovação Social segundo Cajaiba-Santana (2014)

Figura 11

Modelo do processo de Inovação Social desenvolvido por Mulgan (2006)

Figura 12

Modelo do processo de Inovação Social desenvolvido por Young Foundation

Figura 13

Modelo do processo de Inovação Social desenvolvido por Adams & Arnkil (2013)

Figura 14

Modelo do processo de Inovação Social desenvolvido por SIX (Pulford, 2018)

Figura 15

Grelha de seleção dos casos

10 13 29 31 34 36 37 49 55 56 59 62 63 64 111

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Contextualização do caso Programa de Educação Sócio Ambiental para as Escolas Municipais de Canoas

Figura 18

Kit de ferramentas utilizadas nas oficinas Figura 19

Sketch do jogo para séries iniciais Figura 20

Protótipos dos jogos desenvolvidos pela equipa de Design Figura 21

Contextualização do caso Programa Comunidades Criativas das Geraes

Figura 22

Resultado da Oficina Processos Criativos Figura 23

Contextualização do processo do caso A Gente Transforma Figura 24

Atividade artesã conduzida pelos designers Figura 25

Cesto em palha de carnaúba Figura 26

Contextualização do caso Oportunidades para a Inovação Social e Empreendedorismo na Região de Aveiro

Figura 27

Ferramenta OX criada para a segunda etapa da oficina Figura 28

Construção de cenários durante a oficina Figura 29

Contextualização do caso A Avó veio Trabalhar Figura 30

Local de trabalho do projeto A Avó veio Trabalhar Figura 31

Contextualização do caso 2 de Maio Todos os Dias Figura 32

Workshop de construção de balizas com crianças do bairro 2 de Maio

Figura 33

Modelo de processo dos casos educacionais

124 128 129 130 133 137 143 146 147 150 153 154 157 160 164 170 173

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Figura 35

Performance do processo do caso 2 de Maio Todos Dias Figura 36

Modelo de processo dos casos de investigação Figura 37

Performance do caso Comunidades Criativas das Geraes Figura 38

Performance do caso Oportunidades para a Inovação Social e Empreendedorismo na Região de Aveiro

Figura 39

Modelo de visualização do processo dos casos para fins profissionais de Design e Inovação Social

Figura 40

Performance do caso A Avó veio Trabalhar Figura 41

Performance do caso A Gente Transforma Figura 42

Pontos críticos no processo de projetos financiados Figura 43

Modelo de processo dos casos de ensino em Design e Inovação Social Figura 44

Modelo de processo dos casos de investigação em Design e Inovação Social

Figura 45

Modelo de processo dos casos profissionais de Design e Inovação Social

Figura 46

Processo e instrumentos políticos para o Design e Inovação Social Figura 47

Processo e instrumentos políticos para casos de ensino em Design e Inovação Social

Figura 48

Processo e instrumentos políticos para casos de investigação em Design e Inovação Social

Figura 49

Processo e instrumentos políticos para casos profissionais em Design e Inovação Social 177 179 181 183 185 187 189 197 198 204 206 211 213 214 214

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Tabela 1

Distinção entre Design Ativista e Design Social segundo Fuad-Luke (2015)

Tabela 2

Definições de Inovação Social (ordenação sincrónica) Tabela 3

Categorias de análise de Dedijer (1984) Tabela 4

Categorias de análise DE Cloutier (2003) Tabela 5

Categorias de análise de Tardif (2005) Tabela 6

Categorias para análise das definições de Inovação Social Tabela 7

Análise das definições de Inovação Social Tabela 8

Processos da Inovação Social Tabela 9

Ferramentas e técnicas de Criatividade e de Design utilizadas na Inovação Social (perspectiva individualista)

Tabela 10

Tipologia das políticas de Inovação Social segundo Reynolds et al. (2016) Tabela 11

Instrumentos políticos para promover a inovação social na União Europeia (Adaptado de Reynolds et al., 2016)

Tabela 12

Etapas da Inovação Social e respectivas políticas Tabela 13

Vantagens e desvantagens do inquérito por questionário (Adaptado de Gerhardt & Silveira, 2009, p.75)

Tabela 14

Estrutura e conteúdo do questionário eletrónico Tabela 15

Constituição da amostra por conveniência Tabela 16

Idiomas selecionados no inquérito Tabela 17

Instituição de origem dos inquiridos

23 41 46 46 47 50 51 57 66 72 73 74 83 85 86 87 88

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Respostas à questão n°.2 do inquérito: título do projeto Tabela 20

Respostas à questão n°.3 do inquérito: temática social Tabela 21

Respostas à questão n°.4 do inquérito: porquê a iniciativa é considerada boa prática

Tabela 22

Respostas à questão n°.5 do inquérito: presença do Design Tabela 23

Respostas à questão n°.6 do inquérito: referência para outros casos Tabela 24

Respostas à questão n°.7 do inquérito: ponto de situação Tabela 25

Localização das iniciativas Tabela 26

Títulos atualizados Tabela 27

Instituição de origem dos participantes Tabela 28

Temáticas sociais abordadas nas iniciativas Tabela 29

Justificativas para as boas práticas Tabela 30

Análise da frequência da atividade de Design Tabela 31

Relação entre iniciativa-modelo e frequência da atividade de Design Tabela 32

Iniciativas em curso consideras exemplos de boa prática Tabela 33

Relação entre boa prática e a frequência da atividade de Design Tabela 34

Relação entre local da iniciativa e localização do inquirido Tabela 35

Casos em Portugal identificados por meio da desk research Tabela 36

Matriz do guião da entrevista

90 91 92 92 93 93 94 95 96 97 98 98 99 100 101 102 106 114

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Unidade de amostragem das entrevistas Tabela 39

Fontes procedentes de métodos não intrusivos (adaptado de Kellehear, 1993, p.4)

Tabela 40

Vantagens e desvantagens do uso de métodos não intrusivos (adaptado de Kellehear, 1993, p.7-8).

Tabela 41

Relação entre os dados recolhidos e os objetivos da investigação Tabela 42

Triangulação dos dados Tabela 43

Processo do caso Programa de Educação Sócio Ambiental para as Escolas Municipais de Canoas

Tabela 44

Processo do caso Comunidades Criativas das Geraes: Oficinas Processos Criativos

Tabela 45

Processo do caso A Gente Transforma Tabela 46

Processo do caso Oficinas de Inovação Social Tabela 47

Processo do caso A Avó veio Trabalhar Tabela 48

Processo do caso 2 de Maio Todos os Dias: ações 1 a 5 Tabela 49

Processo do caso 2 de Maio Todos os Dias: ações 6 a 10

116 119 119 121 122 131 139 148 155 161 168 169

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Quadro 1

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1. Contextualização da investigação

O tema central do presente estudo doutoral são os processos de Design em iniciativas orientadas para a Inovação Social, especificamente as contempladas com instrumentos políticos. A um conjunto de casos concedemos a denominação de iniciativas promissoras pelo fato de acederem a ferramentas políticas, e serem propícias a completarem o ciclo da Inovação Social.

No contexto da cultura da disciplina de Design, toda a investigação deve desenvolver, articular e comunicar o conhecimento próprio de Design. Esse conhecimento está centrado no estudo das pessoas, dos processos e dos produtos (Cross, 2007). O estudo dos processos e das estratégias de Design é denominado por Cross (2007) como a praxeologia do Design. Assim, podemos afirmar que esta é uma investigação sobre a prática de Design (Archer, 1995). Esta investigação é de base qualitativa e de carácter exploratório. Trata do cruzamento entre duas áreas recentes: por um lado o Design para Inovação Social, emergente na agenda específica de Design; e por outro lado, a Inovação Social que cresce na agenda política de países de economia avançada e em países de economia em desenvolvimento.

Devido ao fato da discussão acerca da Inovação Social no campo de Design ser recente e restrita, a problemática deste estudo é formulada em base empírica.

É definido o cruzamento dos campos de estudo Design e Inovação Social porque se reconhece que:

i) Em Inovação Social, o Design, especialmente o Design Thinking e o Design de Serviços, é reconhecido como uma ferramenta valiosa, embora sejam poucos os casos que comprovam a participação do Design e o uso da abordagem de

Design Thinking; e são escassos os estudos que demonstram o valor de Design

em Inovação Social, o que pode demonstrar dificuldade estratégica dos designers em aplicar o conhecimento, os métodos, as ferramentas e as técnicas específicas de Design;

ii) Nas poucas publicações científicas que abordam o cruzamento entre as temáticas Design e Inovação Social, é mais evidente a exposição de casos do que a sistematização de dados e a proposição de teorias, o que revela ser este um campo vasto a ser investigado na ótica do Design;

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iii) Nas publicações científicas e não científicas sobre exemplos de Design em Inovação Social não são explícitos os procedimentos de Design e as mudanças sociais derivadas de tais práticas, o que inviabiliza a comprovação destes casos como exemplos de Inovação Social;

iv) O Design compreende que o seu papel na Inovação Social é o de agente de mudança social em direção à sustentabilidade, enquanto que o público externo visualiza o Design como uma ferramenta importante nas etapas de prototipagem de ideias e soluções;

v) A maior parte das iniciativas de Design para Inovação Social realizadas em regiões economicamente desenvolvidas demonstram ter soluções de Design mais estruturadas se comparadas com as executadas em países de economia em desenvolvimento, o que deve ser investigado com profundidade procurando perceber quais os fatores que corroboram esta perceção;

vi) A baixa adesão do Design nos maiores programas políticos de apoio e incentivo da Inovação Social, tanto nas regiões economicamente desenvolvidas como nos países de economia em desenvolvimento;

vii) Empiricamente percebe-se a dificuldade dos próprios designers em distinguir os conceitos Design Social e Design para Inovação Social;

viii) A Inovação Social como a mais nova onda de inovação, necessária para o crescimento significativo e para a reestruturação social diante dos desafios sociais da contemporaneidade;

ix) A emergência da Inovação Social nas agendas políticas em escala internacional, sendo inicialmente presente nos países de economia avançada e posteriormente incorporada nas agendas das nações de economia em desenvolvimento;

x) Com o fracasso das instituições públicas e privadas em prover respostas aos desafios sociais contemporâneos despontam políticas de Inovação Social, e respetivos instrumentos políticos como estratégias, programas, ações, atividades em geral no formato de competições, observatórios, incubadoras para fomentar a Inovação Social nos diferentes setores da sociedade.

No contexto inicial do estudo entendemos que:

— Países de economia desenvolvida ou avançada são as nações 1

pertencentes à União Europeia (UE) que recebem esta designação segundo a classificação do WESP (United Nations, 2015). 2

Os países de economia avançada localizados na Europa são: Áustria, Bélgica, Dinamarca,

1

Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Portugal, Espanha, Suécia, Reino Unido, Bulgária, Croácia, República Checa, Estónia, Hungria, Latvia, Lituânia, Malta, Polónia, Roménia, Eslováquia, Eslovénia.

WESP é o acrónimo de World Economic Situation and Prospects. WESP é o relatório anual redigido

2

pelas Nações Unidas sobre a economia mundial. Para fins analíticos, o relatório WESP classifica todos os países do mundo em três categorias principais: economias desenvolvidas, economias em transição e economias em desenvolvimento.

(19)

— Países de economia em desenvolvimento são as nações situadas em 3

território sul americano que se enquadram na classificação do WESP (United Nations, 2015).

— Iniciativas promissoras são os casos que foram contemplados com instrumentos políticos de Inovação Social oriundos de organizações de natureza distinta, com a finalidade de desenvolver uma proposta de Inovação Social. A ideia de iniciativa promissora é melhor caracterizada no segundo capítulo do presente documento, intitulado Enquadramento Teórico.

— Infraestrutura refere-se às políticas, organizações e atividades que dão suporte para o florescimento da Inovação Social.

Na sequência da introdução da investigação, para melhor assinalar as lacunas entre os campos Design e Inovação Social e as respetivas oportunidades de estudo que se proporcionam, optamos começar por abordar o Design na Inovação Social.

O Design na Inovação Social

O Design é uma das disciplinas criativas presente na Inovação Social (Ehn, Nilsoon, & Topgaard, 2014). No estudo bibliométrico de Pacheco, Santos, & Silva (2015), os autores identificaram que o Design e a Criatividade compõem o quadro das áreas fundamentais para investigar a Inovação Social, acrescido dos campos do Empreendedorismo Social, da Governância e das Políticas. O Design é reconhecido como uma ferramenta valiosa no processo de Inovação Social por parte das organizações The Young Foundation, The

Rockefeller Foundation e Waterloo Institute for Social Innovation and Resilience

pela cultura específica e própria de projetar — o Design Thinking. No relatório da Rockfeller Foundation (Shroff, Jersild, & Martin, 2012) que avalia casos de estudo para acelerar a Inovação Social é dedicada uma seção integral para discutir a validade do Design Thinking como modelo para o desenvolvimento da inovação. A União Europeia também reconhece o papel relevante do Design de Serviços na Inovação Social, especialmente no campo da experimentação de políticas sociais (European Union, 2014).

Nesse sentido, é evidente que o Design é recomendado na literatura científica como um campo de conhecimento primordial para o fortalecimento das práticas de Inovação Social e, por sua vez, os mecanismos de fomento da Inovação Social pelos governos e corporações são oportunidades para a práxis de Design.

Os primeiros núcleos de ensino de Design para a Inovação Social surgem nos Estados Unidos nos centros Designmatters, Stanford d.school e Center for Social

Design, respetivamente nos anos 2002, 2005 e 2007. O procedimento comum

nos centros educativos é o ensino de Design pela prática e a elaboração de

Os países de economia em desenvolvido situados na América do Sul são: Argentina, Bolivia, Brasil,

3

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projetos educacionais em parceria com organizações públicas, privadas e setores sociais. Em 2008 surge a primeira rede internacional na internet, a DESIS Network Design for Social Innovation and Sustainability liderada pelo professor Ezio Manzini que acredita as escolas de Design terem competências suficientes para acelerar o processo de Inovação Social em direção a realidades sustentáveis.

Em contrapartida, a literatura aponta os obstáculos que os designers enfrentam nas iniciativas de Inovação Social, tais como: a escolha de métodos de Design adequados para as etapas da Inovação Social (Mulgan, 2014); a formalização e a demonstração de resultados, de modo a tornar evidente o que realmente funciona e o valor da transformação pelo Design (Mulgan, 2014; Mortati & Villari, 2014); e ainda, a ausência de uma linguagem concisa para avaliar a qualidade dos resultados de Design para Inovação Social, diferentemente do que ocorre com a avaliação dos produtos manufaturados de Design (Manzini, 2011).

O género de estudo mais frequente em Inovação Social é o mapeamento de casos de sucesso, sendo o mais atual o Atlas of Social Innovation (Howard, Kaletka, Schröder, & Zirngiebl, 2018) desenvolvido em escala global. Nesta última compilação, o campo de Design está representado pelas investigadoras brasileiras Cipolla & Afonso (2018). Não obstante, no discurso das autoras não se encontra a formação de um pensamento crítico sobre a atividade prática de Design. Na nossa investigação observamos que os autores Cipolla, Melo, & Manzini (2015) e Brown & Wyatt (2010) analisam pela perspetiva do Design casos genéricos em que não está aplicado o processo e a cultura específica de Design.

Se os estudos desenvolvidos em Inovação Social são maioritariamente orientados para mapear projetos de sucesso (Mulgan, Tucker, Ali, & Sanders, 2007), em Design o esforço é similar no sentido de localizar casos (nem todos incorporam atividades de Design) e analisa-los pela perspetiva de Design, como é visível nas iniciativas Creative Communities, Amplifying Creative

Communities in NYC e Collaborative Services, Social Innovation and Design for Sustainability. Identificamos propostas similares a essas nos países Brasil e

Chile, coordenadas por professores universitários membros da rede DESIS. Por exemplo, na Universidade Federal do Rio de Janeiro esteve em desenvolvimento um projeto similar ao Coltivando, inicialmente experimentado na Polimi DESIS Lab e posteriormente replicado na cidade do Rio de Janeiro, o que segue a ideia de Manzini (2008) acerca de replicar casos desenvolvidos em comunidades em outras localidades.

Consideramos que os casos mapeados pelos membros da DESIS Network podem conduzir à interpretação distorcida sobre o fenómeno da prática de Design para a Inovação Social. Os exemplos que recebem a denominação de casos de Design para Inovação Social maioritariamente estão relacionados com a DESIS Network, e muitas vezes não é visível a cultura de Design, seja no conjunto de atividades desenvolvidas ou nos resultados alcançados. Ainda os

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casos tratam de alternativas às atividades da vida diária, o que foge numa primeira leitura à definição de Inovação Social. Nesse sentido, parece haver uma lacuna entre o conceito de Inovação Social e a interpretação de Manzini, a principal referência atual nos estudos de Design e Inovação Social.

Meroni, Fassi, & Simeone (2013) ao discutirem os resultados dos projetos

Coltivando e Nutrire Milano apontam que os processos foram conduzidos

através da aplicação de ferramentas de Design Estratégico e de Design de Serviços de forma experimental. As lições aprendidas a partir dos projetos não tratam sobre o modo como os métodos e ferramentas de Design foram utilizados, mas abordam a forma como os designers lidam com os

stakeholders e a comunidade. Outra lição decorrente de ambos os projetos é

sobre a importância de compreender em quais fases da inovação social deve ser considerado o apoio dos designers e por quanto tempo, de modo a tornar as iniciativas autossuficientes (Meroni et al., 2013).

Nos nossos estudos empíricos observamos fragilidade na reflexão e na formação do pensamento crítico, assim como na execução de estudos sistematizados em Design para Inovação Social. Nos casos comumente expostos é difícil identificar as estratégias de Design, os resultados de Design, as avaliações dos próprios procedimentos e o impacto social proporcionado pelo Design. Nos principais programas na Europa e na América do Sul que incentivam a Inovação Social, respetivamente EUSIC e EUSILAC, não é visível a premiação de projetos assinados por designers ou que tenham explicitamente a ação de Design. Verificamos ainda a ausência de referências que demonstrem a colaboração entre as principais organizações que incentivam e investem em Inovação Social e as instituições de Design atuantes na área e, este é outro ponto a ser investigado.

A emergência da Inovação Social

Neste estudo a Inovação Social é considerada a nova onda de macro inovações, tão impactante como as antecessoras baseadas em avanços tecnológicos (Nicholls & Murdock, 2012). Não assumimos a Inovação Social como oposição à inovação tecnológica conforme sugerido nos estudos da TEPSIE (2014), mas distingui-mo-la da inovação empresarial conforme apontam os autores Pol & Ville (2009).

Na contemporaneidade a Inovação Social é amplamente declarada como uma resposta aos problemas sociais não solucionados pelas competências públicas e organizações privadas. Nos países da América do Sul há o esforço contínuo para combater a pobreza e desenvolver a coesão social (Bernal & Cecchini, 2018). Nos países de economia avançada na Europa a crise agrava-se com desafios estruturais relacionados com a globalização, as alterações climáticas, o envelhecimento da população e, nos últimos anos acrescenta-se a crise económica e a crescente instalação de imigrantes. Todavia, as inovações sociais são realizadas desde o século XIX por empreendedores

(22)

sociais, fazendo deste não um tema inédito, porém com muita recetividade e com limitadas inferências.

Nas últimas duas décadas a Inovação Social tem sido debatida em escala internacional (BEPA, 2011) em altos níveis políticos.

A OCDE no ano 2000 foi a primeira organização internacional a constituir um 4

fórum sobre a temática, o Forum on Social Innovation . Nos países da América 5

do Sul a Inovação Social ganha destaque a partir do programa desenvolvido pela CEPAL no ano 2004. 6

No contexto de crise global, as políticas de Inovação Social têm sido objeto de interesse de formuladores de políticas de diversos países. Desde o Forum on

Social Innovation organizado pela OCDE há o aumento do fomento da

Inovação Social por parte dos governos e organizações privadas. Estudos recentes relacionam instrumentos políticos específicos destinados a cada fase da Inovação Social.

As políticas de Inovação Social

No contexto de crise europeia foi criado o programa estratégico Europe 2020:

Strategy for Smart Sustainable and Inclusive Growth (2010-2020) no âmbito da 7

gestão da Presidência Portuguesa na Comissão Europeia entre os anos 2004-2014. Nas palavras de Durão Barroso, o Presidente da Comissão Europeia à época, as soluções criativas elaboradas pelos cidadãos "contribuem para gerar crescimento económico e ter um impacto positivo em todas as partes interessadas” (Barroso, 2011). Na perspetiva do Presidente, a Inovação Social deveria estar no centro da economia social de mercado e contribuir para o aumento da competitividade. Nesse sentido, o Programa Europa 2020 vem desde então desenhando um conjunto de ferramentas políticas para promover a Inovação Social, entre elas a competição European

Social Innovation Competition (EUSIC) com a finalidade de observar as OCDE é a sigla de Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico. OCDE é um

4

fórum internacional que atua no âmbito intergovernamental entre os países mais industrializados do mundo e alguns países emergentes. A organização visa potencializar o desenvolvimento e a expansão económica das nações integrantes.

O Fórum teve como objetivos principais: identificar as inovações sociais mais bem sucedidas;

5

explorar os pontos fortes e fracos e o potencial de transferência das melhores políticas e práticas em Inovação Social entre os Países-Membros do OCDE; facilitar a disseminação internacional da Inovação Social; e criar redes internacionais de agentes políticos e especialistas na área (Noya, 2011).

CEPAL é o acrónimo de Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe. A CEPAL é uma

6

das cinco comissões regionais das Nações Unidas fundada para contribuir com o desenvolvimento econômico e social da América Latina.

Europa 2020 é uma estratégia que funciona como um quadro de referência para as atividades da

7

União Européia a nível nacional e regional no período de 2010 a 2020. Os governos de cada país estabelecem metas nacionais para atingir as metas gerais desenhadas na Estratégia. As metas estão relacionadas com os desafios: Emprego, Investigação e Desenvolvimento, Alterações Climáticas e Energia, Educação, Pobreza e Exclusão social.

(23)

inovações sociais — projetos, produtos, serviços, modelos de negócios e colaborações — desenvolvidas por cidadãos, organizações sem fins lucrativos e empresas privadas.

Nos países da América do Sul entre os anos 2004-2010 a Inovação Social começou a ser objeto de observação a partir do programa Experiences in

Social Innovation in Latin America and Caribbean (ESILAC) . A ação elaborada 8

pela CEPAL teve como objectivo criar um banco de práticas inovadoras através de uma competição internacional, uma iniciativa similar à instaurada pela Comissão Europeia por meio do EUSIC. As melhores práticas serviram de inspiração para o desenho e a gestão de políticas públicas. Um ponto crucial da Inovação Social na América do Sul é a transformação de iniciativas bem-sucedidas em políticas públicas que visam combater a pobreza e desenvolver a coesão social (Bernal & Cecchini, 2018), como aconteceu no Brasil com o caso Programa Fome Zero.

Se compararmos ambas as macro estratégias de suporte à Inovação Social fomentadas na América do Sul e na União Europeia, a primeira é caracterizada pela ausência de participação ativa dos governos nacionais, diferentemente do que ocorre na estratégia europeia. Por outro lado, os elementos em comum são: i) o uso de instrumento político fundamentado em competições anuais em escala internacional; ii) o reconhecimento das capacidades dos cidadãos em encontrar meios inovadores para enfrentar as problemáticas sociais; iii) o número expressivo de iniciativas participantes nas competições. O programa ESILAC contabilizou ao longo dos cinco anos de duração as inscrições de 4.800 experiências em território sul americano (ECLAC, 2010); e nas cinco edições do programa EUSIC foram enumeradas 5.149 propostas. O programa EUSIC parte da Comissão Europeia e conta com o apoio de ampla rede de organizações privadas, nomeadamente Nesta,

Kennisland, European Network of Living Labs, Ashoka e Scholz & Friends;

enquanto o programa CEPAL é desenvolvido inicialmente com o apoio de uma única organização filantrópica internacional, a Fundação W. K. Kellogg. Este cenário destaca que os programas são formados por uma ampla rede de entidades parceiras, e demonstra o papel relevante das corporações privadas no financiamento da Inovação Social.

Em relação às dificuldades diagnosticadas no campo da Inovação Social o estudo dos autores Domanski, Howaldt, Villalobos, & Huenchuleo (2015) apontam que as limitações no contexto sul americano permanecem na ampliação e na replicação criativa de experiências bem sucedidas. Quando lançado o programa de investimento europeu em Inovação Social pelo Presidente Barroso foram anunciados os quatro fatores principais que dificultam a Inovação Social na Europa:

A premiação ESILAC contou com o apoio da Fundação W. K. Kellogg. Foram estabelecidas seis

8

temáticas para a competição: Saúde Comunitária, Educação Básica, Juventude, Segurança Alimentar e Nutricional em Regiões Agrícola e Rural, Responsabilidade Social Corporativa e Voluntariado e, Geração de Rendimentos.

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"i) o conhecimento insuficiente das necessidades dos utilizadores, desde os civis e as ONG’s até o setor público e os empreendedores sociais; ii) a fragmentação de esforços e recursos, como financiamento e capacidades; iii) a má difusão e baixa expansão das boas práticas; e iv) a pobre avaliação de ações e políticas.” (Barroso, 2011).

Por esses motivos se faz ímpar a existência de políticas orientadas a superar os desafios da Inovação Social.

As iniciativas de Design e Inovação Social no Brasil e em Portugal

Para o estudo minucioso dos procedimentos de Design em iniciativas orientadas para a Inovação Social, nesta investigação doutoral é dedicada atenção as iniciativas ocorridas nos países Brasil e Portugal, classificadas respetivamente como nações de economia em desenvolvimento e de economia desenvolvida, segundo dados do WESP (United Nations, 2015). Visto o Brasil ser o país que financia na integralidade a presente investigação, é primordial que se verifique a realidade do contexto brasileiro referente ao tema da investigação. As iniciativas de Inovação Social no Brasil estão relacionadas com a geração de rendimentos para grupos de baixo rendimento e ao empreendedorismo de novos produtos ou serviços (Cipolla & Afonso, 2018). É nas iniciativas de Inovação Social que geram produtos e serviços que se encontram maior ocorrência de intervenções por parte do Design. Além disso, no campo da Inovação Social, o Brasil detém dois casos de sucesso que tiveram início em pequena escala e progressivamente foram estendidos a todo território nacional, tornando-se programas governamentais, nomeadamente os casos Bolsa Família e Mãe Social.

Já Portugal é o país onde o atual estudo doutoral é realizado na sua integralidade. Ainda que nenhuma proposta de origem portuguesa tenha sido premiada nas competições EUSIC, damos enfoque às iniciativas portuguesas porque no contexto da Europa, Portugal é pioneiro em canalizar fundos estruturais europeus para promover a Inovação Social; e apresenta nítida 9

integração entre a esfera pública e a privada para a promoção da Inovação Social. Esses são sinalizadores da formação de uma infraestrutura que proporciona o surgimento de iniciativas de Inovação Social.

Recentemente, a Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa Maria Manuel Marques afirmou que as iniciativas nacionais são respostas que inspiram novas políticas públicas e revelam a co-responsabilização da sociedade portuguesa na resolução dos desafios sociais. Nesse sentido, o Estado reconhece como exemplos de êxito as iniciativas Orquestra Geração, Ópera na Prisão, Academia de Código, Mezze, Fruta Feia e SPEAK (Botelho, Sapage, 2017); as iniciativas Color Add e Patiente Innovation por alcançarem

Portugal dirigiu cerca de 150 milhões de euros dos fundos estruturais europeus para investir em

9

Inovação Social. Trata-se do acordo de parceira Portugal 2020, onde é definido o programa de atividades para o período 2014-2020.

(25)

notoriedade internacional; e a Academia de Código Junior por ser o primeiro título de impacto europeu.

2. Problemática da investigação

Na última década surgem políticas de incentivo à Inovação Social — são programas que reúnem os interesses de governos, instituições públicas e organizações privadas. As políticas adotam instrumentos e estratégias como comissões, competições, premiações, financiamentos e regulamentações que revelam elevada procura por parte dos inovadores. Para os formuladores de políticas, as competições são meios de identificar e investir em propostas promissoras, acompanhar a evolução e observar os resultados. Em situações raras, os casos de Inovação Social bem sucedidos tornam-se políticas públicas para o amplo uso da população.

As iniciativas de Inovação Social desenvolvidas pelos cidadãos são soluções criativas para os desafios sociais. Tais iniciativas têm sido reconhecidas como relevantes no combate à pobreza, em proporcionar melhores condições de vida nos países de economia em desenvolvimento e, no aumento da competitividade social nas nações desenvolvidas.

No âmago desta investigação estão os casos de Design e Inovação Social, nomeadamente aqueles que procuram por apoio de instrumentos políticos e são contemplados com tais recursos, sejam de origem pública ou privada. A figura 1 resume a problemática da investigação. O círculo à esquerda na figura representa as iniciativas de Design e Inovação Social na fase inicial de geração de ideias. A seta 1 significa a procura das iniciativas, no papel de designers e inovadores sociais, por políticas de Inovação Social com o objetivo de viabilizar o desenvolvimento da ideia embrionária. O número 2 representa os instrumentos políticos de Inovação Social, o processo interno de seleção e avaliação dos casos candidatos à obtenção de apoio. A seta 3 indica o apoio recebido das iniciativas por parte dos programas, que desse modo têm a oportunidade de desenvolver a proposta e difundir a solução em contextos mais abrangentes, representado pelo número 4.

(26)

Figura 1

Problemática da investigação

Pela literatura inicial e pelas nossas observações empíricas apontamos que os pontos críticos desse modelo acontecem no decorrer das ações 3 e 4, isto é, após as iniciativas receberem o apoio oficial, apresentando na sequência dificuldades na gestão dos recursos e das atividades de Design, o que pode debilitar a qualidade dos resultados, enfraquecer o potencial de expansão das práticas e, posteriormente, fazer decair o grau de satisfação das partes interessadas.

Nesse sentido, apontamos a importância para o estudo dos processos de Design após a admissão de apoio externo oriundo de programas que promovem a Inovação Social. O enfoque deste estudo configura-se nas iniciativas brasileiras e portuguesas de Design e Inovação Social contempladas por instrumentos políticos.

3. Objectivos

Os objetivos gerais desta investigação são:

— Descrever um modelo conceitual de processo que relacione os instrumentos políticos de apoio à Inovação Social adequados às diferentes fases do processo de Design e Inovação Social;

— Desenvolver um novo conceito teórico de Design e Inovação Social que amplie a percepção do contributo do Design e das competências dos designers em Inovação Social;

— Debater as definições e as características da Inovação Social para promover futuramente melhores respostas de Design em Inovação Social.

Na sucessão, os objetivos específicos delineados tratam de:

i) Caracterizar os processos de Design em Inovação Social, de modo a identificar os pontos fortes e fracos das ações de Design;

ii) Apreciar a qualidade das respostas inovadoras de Design apresentadas aos parceiros, investidores e público-alvo;

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iii) Relacionar as entregas de Design com as expectativas anunciadas na teoria de Inovação Social.

4. Questão de investigação

A pergunta de investigação pode ser estruturada em dois formatos (Phillips & Pugh, 1994) e cada uma implica distintos modos de conduzir o estudo. Quando a questão assume o formato O Quê, a investigação descreve o cenário do objeto de estudo, determina os termos em uso e os dados recebem tratamento estatístico. Quando a questão é do género Porquê, é realizado estudo analítico para compreender o tema a partir de comparações, relacionando fatores e estabelecendo prognósticos.

A questão de investigação em estudo qualitativo pode ser causal, relacional ou descritiva. Neste trabalho a pergunta de investigação revela a necessidade de explicar a natureza das ações de Design em projetos de Inovação Social. Logo, a questão central adota a estrutura Porquê, caracterizando-se como do tipo descritiva, pois busca explicações para o fenómeno em vigor.

É crescente a existência de estudos que relacionam o Design com a Inovação Social, tanto na literatura geral de Inovação Social quanto na literatura específica de Design. Do ponto de vista da práxis, pela observação dos projetos contemplados por programas políticos que promovem a Inovação Social identificamos que a participação ativa do Design tem sido restrita, sendo escassos os depoimentos de sucesso e a demonstração de resultados específicos da cultura de Design. Nesse sentido, a presente investigação procura explicações para a seguinte questão:

— Por que os projetos de Design e Inovação Social financiados por instrumentos políticos apontam dificuldades no processo de Design?

As perguntas necessárias para sustentar à questão central são:

— Como são desenvolvidos os processos de Design para a Inovação Social? — Quais são os resultados inovadores de Design e os benefícios gerados por tais práticas?

5. Premissa

A premissa do estudo situa-se nas dificuldades na condução dos processos de Design financiados por instrumentos políticos de Inovação Social, possivelmente causadas por falhas no planeamento estratégico de Design, o que leva à exibição de resultados modestos ou inadequados e, na credibilidade diminuta do contributo do Design para a expansão de práticas de Inovação Social.

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6. Metodologia da investigação

O estudo é de base qualitativa e suprime as demais abordagens metodológicas quantitativa e mista. Os pontos fortes desta abordagem revelam que é adequada para compreender em profundidade múltiplos casos complexos para descrever o processo dinâmico de determinado fenómeno. É apropriada para fazer comparações e análises cruzadas com dados fundamentados nas categorias de significados dos participantes. Pelo carácter exploratório da investigação de base qualitativa o investigador pode alterar o foco do estudo tal como incorporar outras questões como parte do processo e dos resultados. Os pontos fracos da abordagem qualitativa atentam para a possibilidade dos resultados serem alterados pela experiência, visão e valores do investigador. Também pode acontecer do conhecimento gerado limitar-se ao contexto analisado, não podendo este saber ser replicado. Tais características da abordagem qualitativa fazem desta ser difícil de realizar previsões e testar teorias.

O método central desta investigação exploratória é o estudo de caso múltiplo, acionado para explicar o fenómeno em causa. O estudo de caso múltiplo é um estudo instrumental estendidos a vários casos  (Stake, 2005), úteis para compreender em profundidade o fenómeno através da comparação de experiências e descrição das informações  (Martin & Hanington, 2012; Yin, 2010).

Devido a natureza de base qualitativa deste método e visando validar a confiabilidade do estudo de caso múltiplo é aplicada a triangulação de dados, ou seja, utilizar múltiplas fontes de evidência (Martin & Hanington, 2012; Yin, 2010). A triangulação de dados é amplamente utilizada para dilatar a interpretação do fenómeno, aprofundar e cruzar os dados sobre os casos em estudo.

Neste trabalho as fontes de evidência reunidas para dar credibilidade ao estudo são fundamentalmente originárias dos seguintes métodos: i) análise documental das propostas iniciais dos projetos; ii) entrevistas semi estruturadas aos líderes e designers das equipas; iii) medidas não intrusivas, como relatórios, papers científicos que descrevem os processos e os resultados das iniciativas e as mídias que noticiam o desenvolvimento do projetos. Por meio dos documentos submetidos aos editais, concursos e premiações é possível identificar os objetivos, expectativas e previsões de entregas de Design. No discurso dos designers e líderes de projeto identificam-se as frustrações, adaptações e conflitos ocorridos nos projetos que não são relatados em documentos oficiais. A partir dos relatórios oficiais é possível identificar as entregas apoiadas pelos instrumentos políticos. As mídias constituem ferramentas de divulgação dos projetos à comunidade. Anterior a definição dos casos que compõe o estudo de caso múltiplo, para a construção da amostragem de casos são articulados outros dois métodos de

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base qualitativa: i) questionário de amostragem não probabilística e de amostra por conveniência; e ii) desk research. O primeiro método é usado para identificar casos de Design e Inovação Social desenvolvidos no Brasil, enquanto o segundo é usado para identificar os casos realizados em Portugal (fig. 2).

Figura 2

Metodologia de investigação do estudo

7. Estrutura do documento

O documento inicia-se com os elementos pré textuais: Dedicatória Agradecimentos, Resumo, Abstract, Índice, Lista de Figuras, Lista de Tabelas e Lista de Quadro.

O Capítulo 1 intitulado Introdução, contém a contextualização da investigação, a problemática, os objetivos gerais e específicos, a questão de investigação, a premissa do estudo e a metodologia da investigação.

No Capítulo 2 intitulado Enquadramento Teórico são discutidos temas centrais da investigação como: i) a Praxeologia do Design a partir de dois paradigmas centrais de Design, e posteriormente diferenciadas as principais abordagens sociais em Design; ii) o Design e Inovação Social, em que se

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verifica a perspetiva teórica do Design sobre a Inovação Social, os processos de Design e as competências específicas dos designers no desenvolvimento da Inovação Social; iii) a Inovação Social, em que a partir de outros campos de conhecimento caracteriza-se a proposta central da Inovação Social e apontam-se os instrumentos políticos de Inovação Social para as etapas do processo de inovação social. Após a revisão de literatura é formulada a hipótese de investigação.

No Capítulo 3, Procedimentos Metodológicos, são apresentados os dados levantados nos inquéritos, entrevistas e documentos necessários para a construção dos casos de estudo. São definidos os casos de estudo e classificados em três tipologias.

No Capítulo 4, Casos de Design e Inovação Social, são apresentados os seis casos de estudo. Neste capítulo os processos de Design dos casos são analisados individualmente e posteriormente comparados segundo as tipologias desenvolvidas especificamente para este estudo doutoral.

No Capítulo 5, Discussão, são confrontados os dados dos casos com a fundamentação teórica. Ao término deste capítulo apontam-se as respostas à questão de investigação.

No Capítulo 6 intitulado Conclusões são feitas as considerações finais do estudo doutoral e as recomendações para futuras práticas e investigações de Design em Inovação Social.

Por último, constam os elementos pós textuais da tese: Referências Bibliográficas, Apêndices e Anexos.

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CAPÍTULO 2

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1. Praxeologia do Design

1.1 Os paradigmas do Design

O paradigma dominante no campo do Design têm sido o Design para o mercado segundo os autores Margolin & Margolin (2002) e Morelli (2007). A partir do lançamento do livro Design for the Real World de Papanek (1971) que ressalta a necessidade de uma agenda social de Design, observa-se o surgimento de uma alternativa ao paradigma dominante de Design e a construção ininterrupta da nova agenda social de Design em escala internacional.

O pensamento central do novo paradigma social critica a tradição da atividade de Design e o respectivo impacto no ambiente natural e construído. Fundamentalmente o paradigma social propõe a prática de Design fundamentada em um modelo social orientado à solução de problemas sociais. Esse campo de ação têm recebido diferentes designações — Design Social, Design Ativista, Design para a Sociedade, Design Socialmente Responsável, Design Socialmente Responsivo e Design para Inovação Social —, e todos requerem conceitos próprios.

No presente estudo consideramos que o paradigma do Design Business é antagónico às abordagens sociais de Design. Enquanto o Design Social tem como objetivo final gerar mudança e impacto social por meio da ação de Design, a abordagem Design Business é orientada a aplicar os princípios e

práticas de Design para as organizações criarem novos valores e novas formas de vantagem competitiva, e adota a inovação centrada no ser humano.

No contexto das instituições europeias o campo do Design Business é representado pelas organizações Finnish Association of Designers (ORNAMO),

Association of Dutch Designers (BNO), Association of Industrial Designers in Poland (SPFP),  CLICKNL,  Danish Design Centre,  Design Business Association (DBA), e Flanders DC.

Os programas europeus que reconhecem o papel do Design na inovação industrial e no fortalecimento da competitividade nacional são inúmeros. Como exemplo citamos o Danish Design Centre existente desde 1978, que procura melhorar o valor das empresas dinamarquesas e aumentar a competitividade da nação por meio do Design. Para o Design Business

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tem como meta elevar os padrões profissionais em toda a indústria do Reino Unido e tornar visível o potencial do Design — comercial, estratégico e económico — por meio dos negócios.

As organizações supracitadas convergem no grupo Design Business Models, que está inserido no Bureau of European Design Associations (BEDA). O grupo 10

Design Business Models tem como objetivo aumentar a rentabilidade de

diferentes negócios de Design em toda a Europa. No contexto do BEDA (2017) o Design é compreendido do seguinte modo:

"O Design abrange uma variedade de aplicações dentro das empresas, fornecendo um meio de integrar funcionalidade, aparência e experiência do utilizador, para bens ou serviços. O Design também pode fornecer um meio de construir identidade corporativa e reconhecimento de marca” (BEDA, 2017, p.3). 11 No Programa Estratégia Europa 2020 o Design é sinalizado como uma atividade importante para trazer soluções para o crescimento da União Europeia. O Programa tem investido em Design por meio da iniciativa

European Design Innovation Initiative (BEDA, 2015) e dos projetos Integrating Design for All in Living Labs, Measuring Design Value - EuroDesign, Design in European Policies, SEE Platform: Sharing Experience Europe - Policy Innovation Design, European House of Design Management, When Regions support Entrepreneurs and Designers to Innovate.

Contudo, a instituição Design Council estabelecida no Reino Unido desde 1944 assume um entendimento diferenciado sobre o Design. A abordagem de Design pelo Design Council é centrada nas pessoas e é possível a entrega de mudanças sociais, ambientais e económicas positivas. Para a instituição, o Design é:

"uma ferramenta estratégica para enfrentar os principais desafios sociais, impulsionar o crescimento económico e a inovação e melhorar a qualidade do ambiente construído” (Design Council, 2018a). 12

Em síntese, a organização BEDA representa e agrega as associações de Design orientadas à aplicação do Design dentro das empresas; já o Design Council tem desenvolvido estratégias de Design para melhorar aspectos sociais da população inglesa. Deve-se ressaltar que a Inovação Social passou a ser um programa centra do Design Council (Design Council, 2018b).

A prática do Design na vertente social vêm ganhando notoriedade na sociedade e no campo de Design. A atribuição da categoria intervenção social

The Bureau of European Design Associations foi fundado em 1969 quando havia pouco

10

conhecimento sobre o impacto dos designers nos negócios. A iniciativa ajudou a promover o Design nos Negócios e atualmente está envolvida na formulação de políticas para a Europa. Tradução livre.

11

Tradução livre.

(33)

nos prêmios Index em 2005 e Core77 Design Award em 2011 indicam o reconhecimento das práticas sociais pelo próprio campo profissional. As exposições Design for the Other 90% nos anos 2007 e 2011 na cidade de Nova Iorque representam um marco significativo do Design no âmbito civil.

No campo teórico, os discursos pioneiros para uma agenda de Design Social emergem com Garland (1964), Papanek (1971), Maldonado (1971) Bicknell & McQuiston (1976), Bonsiepe (1983), Fry (1992) e Whiteley (1993). As proposições posteriores de Frascara (1997), Margolin & Margolin (2002), Thackara (2005) e Fuad-Luke (2009) consolidam a vertente social.

O designer Victor Papanek difundiu uma ideia polarizada sobre a produção nos países de diferentes níveis de desenvolvimento. Enquanto nos países desenvolvidos a produção é industrial, nos países em desenvolvimento a produção deveria ser com recursos locais ausente de transferência de tecnologias (Papanek, 1971). Os autores Morelli (2007) e Margolin & Margolin (2002) opõem-se à polarização de Papanek (1971). Para Margolin & Margolin (2002) ao repelir a economia de mercado, o designer Papanek limita a ação dos designers sociais. Para Morelli (2007) a polarização não auxilia o campo de Design, pois continua a vincular o Design à produção industrial, e por consequência perpetua a ideia de que o Design não é adequado à implementação de políticas de desenvolvimento. Nesse sentido Morelli (2007) propõe que a nova agenda de Design seja desenvolvida a partir da utilização da lógica industrial na solução dos problemas sociais. A industrialização de soluções responsáveis (Morelli, 2007) exige a capacidade dos designers contribuirem com soluções de problemas locais utilizando e adaptando modelos de processo e critérios estabelecidos na produção industrial.

Para Morelli (2007), na nova agenda de Design Social deveria ser questionado: a) por que os designers devem observar os problemas sociais por diferentes perspectivas; b) o que é suposto os designers fazerem no novo sistema social; c) como é suposto os designers trabalharem no novo contexto social.

Para os autores Margolin & Margolin (2002) outras questões são apresentadas, tais como: a) qual o papel que o Design desenvolve no processo colaborativo de uma intervenção social; b) qual o género de produtos que atendem as necessidades das populações vulneráveis; c) como alterar a percepção do público em relação ao designer socialmente responsável; d) como as agências que financiam projetos e investigações sociais percebem a consistência da atividade de Design como socialmente responsável. Compreendemos que encontrar respostas à última questão é de extrema relevância para o campo de Design obter credibilidade entre as políticas sociais. Esta questão demonstra o compromisso do profissional de Design em entregar resultados consistentes não apenas ao público consumidor, mas também resultados tangíveis e intangíveis às agências públicas e privadas de investimento no campo social.

Em síntese, para responder as questões da agenda de Design Social, Morelli (2007) propõe a conciliação do conhecimento da lógica industrial na solução

(34)

dos problemas sociais enquanto que Margolin & Margolin (2002) sugerem o uso de métodos advindos das Ciências Sociais como entrevistas, survey

research, observação participante, o desenvolvimento e a avaliação de

produtos socialmente responsáveis.

Na visão de Margolin & Margolin (2002), se comparado ao modelo de mercado, há pouca teoria sobre modelos de Design para gerar respostas às necessidades sociais. Todavia, para os autores ambas as teorias não devem ser compreendidas como oposições. Explicam que a vasta literatura do Design

Business têm contribuído para o sucesso e adaptação de produtos às novas

tecnologias, políticas e circunstâncias sociais, estruturas organizacionais e processos; em oposição, pouco conhecimento se tem desenvolvido sobre o suporte do Design para as iniciativas sociais e como essas são implementadas. Os autores argumentam ainda que muitos produtos desenhados para o mercado atendem às necessidades sociais, porém o mercado não supre as necessidades das populações que não constituem-se como uma classe de consumidores.

Um exemplo que demonstra a confluência das posições de Morelli (2007) e Margolin & Margolin (2002) é o caso da organização IDEO.org que aponta para uma terceira direção na prática de Design antagónica ao Design Business. A

IDEO.org é um exemplo por conciliar o conhecimento de Design adquirido no

desenvolvimento de produtos e serviços dentro da lógica industrial e os métodos de campos de conhecimento como as Ciências Sociais com tradição no desenvolvimento de projetos sociais.

A IDEO.org é uma extensão sem fins lucrativos da IDEO, empresa orientada a projetar produtos, serviços e experiências para melhorar as condições de vida das pessoas em situação de pobreza material (Kelley & Kelley, 2014). A IDEO transfere conhecimento para a IDEO.org criar ferramentas de Design adaptadas a sua demanda. A ferramenta The Field Guide to Human-Centered

Design (IDEO.org, 2015) configura-se como um guia de inovação e Design para

projetar soluções para populações que vivem com menos de dois dólares por dia. A adoção da abordagem de Design Social pela IDEO resulta não apenas na criação da fundação IDEO.org. Também reflete na fundação da d.school fundada por Tom Kelley, designer e um dos idealizadores da IDEO. A filosofia da escola de Design d.school sustenta-se nos seguintes princípios: o Design é aplicado a todos os tipos de problemas e todas as pessoas têm a capacidade de serem criativas.

1.2 Design Ativista, Design Social, Transition Design e Design para Inovação Social e Sustentabilidade

O paradigma de Design orientado a solucionar problemas sociais é sustentado por diversos autores. As terminologias mais recorrentes na literatura são Design Social (Garland, 1964; Papanek, 1971; Maldonado, 1971; Bicknell & McQuiston, 1976; Bonsiepe, 1983; Fry, 1992; Whiteley, 1993;

Referências

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