• Nenhum resultado encontrado

A Avó veio Trabalhar

No documento Processos de design e inovação social (páginas 173-177)

CASOS DE DESIGN E INOVAÇÃO SOCIAL

PROCESSO DO CASO OFICINAS DE INOVAÇÃO SOCIAL

6. A Avó veio Trabalhar

PREÂMBULO

O caso A Avó veio Trabalhar é o quinto caso em estudo (fig. 29). O projeto é idealizado pela Fermenta, iniciativa social liderada por uma designer, e procura usar a criatividade para promover novas atividades de lazer e convívio ao público idoso (elemento A). O projeto foi submetido ao Programa BIP/ZIP Lisboa em 2016 (seta 1), uma ação promovida pela Câmara Municipal de Lisboa, o principal apoiador que o projeto já teve (elemento B). O projeto teve o financiamento total da proposta (seta 2) para o desenvolvimento de quatro atividades centrais (elemento 3). Embora a parte conceitual da iniciativa exista há mais de 10 anos, a sustentabilidade do projeto ainda não foi atingida e, por isso atualmente conta com outros apoiadores. O caso Avó veio Trabalhar tem ganho destaque em Portugal como exemplo de Inovação Social. Nas mídias sociais assume uma linguagem própria e reposiciona o público sénior de modo diferenciado do habitual. Acerca dos resultados, proporciona passeios ao público idoso feminino e troca de saberes intergeracional (seta 4). Algumas oposições surgem à esta iniciativa porquê adotou uma estratégia similar ao caso Vintage for a Cause, que teve começo na cidade do Porto (Portugal); não remunera os idosos pelas tarefas de confecção de costura desenvolvidas no âmbito do projeto; a comunicação publicitária que incita hábitos não saudáveis como o tabagismo e ingestão de álcool; e a comercialização de peças únicas e de alto custo para o consumidor.

Figura 29

Contextualização do caso A Avó veio Trabalhar

PORQUÊ?

— Os objectivos do projecto

O objetivo central da iniciativa segundo consta na ficha de candidatura ao Grupo de Trabalho dos Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária de Lisboa é promover a aprendizagem, a partilha e o empowerment através dos lavores domésticos e do Design, visando reforçar o papel dos seniores na sociedade. Na ficha de candidatura são delineados três objetivos específicos:

a) promover o envelhecimento activo, através de metodologias de co- participação e de experiências transformadoras, com o intuito de capacitar e impulsionar a qualidade de vida dos idosos, impulsionando o espírito comunitário entre pares;

b) proporcionar o acesso a experiências transformadoras, em que a tradição, a cultura e a arte funcionem como ferramentas de transformação, de crescimento pessoal e social;

c) possibilitar o acesso ao mundo tecnológico, especificamente o Youtube, de modo a despertar o interesse nas transformações, na aquisição de novos conhecimentos e competências, no contacto com uma sociedade dinâmica e, por conseguinte, na sua autoconfiança e melhor qualidade de vida.

O QUE É?

— O desafio social

Na ficha de candidatura a justificativa da iniciativa é fundamentada no fato de habitarem 1,2 milhões de idosos em Lisboa e a população idosa ocupar um papel fundamental na estrutura da sociedade, tornando-se premente fomentar meios para que os idosos estejam capacitados a adaptarem-se ao novo conceito de um envelhecimento focado no bem-estar.

PARA QUEM?

— Grupos beneficiados

O grupo beneficiados pela iniciativa são os idosos residentes na região histórica de Lisboa, dos 50 aos 90 anos de idade. Pelas atividades direcionadas orientadas à costura, identifica-se que a iniciativa é destinada ao público feminino sénior, embora formalmente não conste essa distinção no projeto.

Em entrevista, a líder de Design informou que os estudantes de Design de Moda também são beneficiados na troca de conhecimentos intergeracional.

QUEM FAZ?

— Equipa do projecto

A equipa do projeto é composta por dois profissionais, um da área de Design e outro da área da Psicologia.

— Parceiros e instrumentos políticos

A entidade promotora é a Fermenta, criada pela própria designer entrevistada com o intuito de viabilizar a iniciativa. As entidades parceiras são: Fundação Portuguesa das Comunicações; Instituto de Artes e Ofícios da Universidade Autónoma de Lisboa; Centro Social e Paroquial de São Paulo; Órgão Autárquico.

No ano 2015 o projeto foi financiado pelo Programa BIP/ZIP Lisboa no valor de €32.000,00 (R$ 138.000,00) e no ano 2016 recebeu o valor de €50.000,00 (R$ 215.805,00) pelo mesmo programa. Segundo a designer, esse financiamento permitiu o crescimento sólido e estruturado da iniciativa, embora ainda seja necessário pensar em mecanismos de sustentabilidade do negócio. É informado pela equipa que a Fundação Gulbenkian fez um donativo no valor de €10.000,00 (R$ 43.161,00) para dois anos de rendimentos do imóvel onde desenvolvem-se as principais atividades com o público. Em contrapartida, a iniciativa é monitorizada trimestralmente e divulga o logotipo da Fundação como apoiador em todas as ações.

A designer conta com o suporte de um programa de mentoring destinada às mulheres empreendedoras.

Embora não conste nos documentos de planeamento de projeto, em entrevista foi confirmada a parceria com professores do curso de Licenciatura de Design de Moda da Universidade de Lisboa.

COMO?

— O processo de Design

Durante a entrevista com a designer foi informado o desenvolvimento de atividades externas com os sêniores. As visitas aos museus, as viagens, idas a espetáculos e outras atividades do género tem como objetivo ampliar o repertório de referências visuais e de experiências para, por um lado servir de inspiração à criação de novas peças, e por outro propiciar momentos de entretenimento aos sêniores (fig. 30). Foi narrado que quando surgem novas ideias, estas são executadas em pequena escala e, se resultam positivamente voltam a repeti-la por um período mais prolongado.

Em conversas informais com antigos alunos do curso de Licenciatura em Moda da Universidade de Lisboa, um dos parceiros da iniciativa, foi observado que o processo criativo é conduzido inteiramente pela designer, e os produtos criados devem seguir um padrão de produção para garantir a comercialização dos artefatos. Apresentada essa questão, a conduta da iniciativa é questionável.

Figura 30

Local de trabalho do projeto A Avó veio Trabalhar

A iniciativa é centrada em quatro principais atividades essencialmente de conteúdo prático. Entre as quatro atividades anunciadas no planeamento do projeto, duas foram comentadas durante a entrevista pela equipa de líderes, sendo estas caracterizadas pelo envolvimento e interatividade entre a designer e as idosas. A actividade 1, Laboratório A Avó veio trabalhar, é orientada fundamentalmente à criação de peças customizadas a partir de técnicas de costura. A receita obtida a partir da comercialização dos produtos é revertida em passeios para as próprias idosas. Quando questionada sobre as técnicas utilizadas para o estímulo da criatividade entre o público, uma vez que este é um dos objetivos centrais do projeto, a designer respondeu utilizar a procura de referências visuais na internet e em revistas especializadas. A actividade 2, Residências ao lanche, que procura proporcionar momentos de interação entre agentes criativos e as idosas, foi identificado até o momento a execução com estudantes do curso de Design de Moda da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, que participam não de forma voluntária mas como atividade do conteúdo programático de determinada disciplina. As actividades 3 e 4, respectivamente Ideias para a troca e A Avó de barriga cheia, não foram comentadas durante a entrevista. A última atividade está diretamente relacionada com a primeira atividade, que procura proporcionar momentos de entretenimento para as idosas. Já a terceira atividade apresenta potencial para dinamizar os agentes locais (tab. 47).

Tabela 47

No documento Processos de design e inovação social (páginas 173-177)